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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS AULA 6 Prof.ª Aline Andrade Barbosa da Silva CONVERSA INICIAL Cumprimentos acadêmicos, caros alunos! Como vocês estão? Nesta aula, dispomo-nos a demonstrar os modelos estatísticos de previsão de insolvência e a eficiência dos referidos modelos. Também serão apresentadas as análises da Demonstração dos Fluxos de Caixa, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e Demonstração do Valor Adicionado. Finalizaremos com conceitos e normativos de parecer das análises econômico-financeiras. E, lembrem-se: “quanto maior sua dedicação, menor a distância entre você e seus sonhos”. Boa aquisição de conhecimento! CONTEXTUALIZANDO Os modelos estatísticos de previsão de insolvência conferem uma probabilidade de não cumprimento das dívidas adquiridas em um certo período. Os modelos de insolvência são relevantes para os administradores que precisam analisar a saúde econômico-financeira de suas companhias e assim realizarem ações eficazes para evitar maiores problemas. Além disso, a análise dos demonstrativos financeiros constitui uma ferramenta fundamental para todos os interessados no conhecimento da realidade econômica das sociedades empresariais. Por meio dos indicadores extraídos de cada demonstrativo contábil, os usuários podem tomar decisões melhores para seus projetos. A análise da demonstração dos fluxos de caixa, bem como as de outras demonstrações, serve de base para análise mediante indicadores financeiros. Os empresários, investidores e outros usuários podem utilizar-se dessas avaliações para mensurar o real desempenho da entidade. Dessa maneira, surgem os indicadores obtidos da Demonstração dos Fluxos de Caixa, tais como indicadores de cobertura de caixa; quociente de qualidade do resultado; quociente de dispêndios de capital e retornos do fluxo de caixa. A análise da demonstração das mutações do patrimônio líquido, que tem como principal alvo mostrar todas as alterações ocorridas nas contas que compõem o Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial de certa organização, também é de suma importância. Nesse caso, aplicam-se as Análises Vertical e Horizontal, já estudadas em aulas anteriores. A análise da demonstração do valor adicionado compreende indicadores elaborados com base nos itens que a compõe. Os indicadores são: i) potencial de gerar riqueza do ativo; ii) retenção da receita; e iii) valor adicionado per capita. Por último, temos o parecer das análises econômico-financeiras, o qual é construído com base na metodologia e raciocínio científico, como resultado da análise que utiliza um relatório para descrever a realidade econômica da organização. Vamos iniciar nosso aprofundamento com a apresentação dos modelos estatísticos de previsão de insolvência. TEMA 1 – MODELOS ESTATÍSTICOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA (ANÁLISE DISCRIMINANTE, MODELO DE ALTMAN, MODELO DE KANITZ, MODELO DE ELIZABETSKY, MODELO DE MATIAS E MODELO DE PEREIRA DA SILVA) E EFICIÊNCIA DOS MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA A insolvência de uma empresa pode ser conceituada como falta de capacidade em honrar suas obrigações financeiras no prazo de vencimento, assim como quando seus ativos forem menores que o valor dos seus passivos. De forma a fundamentar o processo decisório de concessão de crédito ou medidas estratégicas, certos modelos têm sido adotados, e quando combinados com outras técnicas de análise, tornam-se ferramentas relevantes para viabilizar a realidade do estado econômico das organizações. Tais modelos se dispõem a identificar, por meio de técnicas estatísticas, a relação entre os índices financeiros e o caso de solvência (lucros, fluxos de caixa e rentabilidade ou de insolvência (falência, falta de capacidade de realizar as obrigações) de uma empresa, tendo em vista que a base da utilização dos índices de solvência, rentabilidade e lucratividade deve ser apropriada aos atributos de organizações de um mesmo segmento. Nos Estados Unidos, Bellovary, Giacomino e Akers (2007) constataram que os estudos desenvolvidos desde a década de 1930 acerca da previsão de insolvência, descreveram a prática dos seguintes métodos: análise discriminante multivariada, redes neurais e modelos lineares de probabilidades. O primeiro ensaio de previsão de insolvência foi realizado por Paul J. Fitz Patrick em 1932. Foram confrontados 13 indicadores de empresas em processo de falência e bem-sucedidas entre 1920 e 1929. Os resultados encontrados demonstraram que as companhias bem-sucedidas apresentaram indicadores favoráveis. Além disso, o autor recomendou que menos ênfase deveria ser empregada sobre os índices de liquidez nos casos de empresas com endividamento no longo prazo. Ademais, o modelo de previsão de insolvência de maior visibilidade foi desenvolvido por Altman, por meio da publicação de 1968, de maneira a estrear uma variedade de estudos sobre a capacidade de predizer a partir dos indicadores de balanços em diversos territórios nacionais da Europa, América Central e Oceania. No Brasil, Lopes de Sá (1950) estudou sobre a definição do equilíbrio de capital. O enunciado foi realizado posteriormente ao estudo de mais de 7 mil balanços, de maneira a abranger 1953 a 1957, a partir do qual foi possível expor índices de situações normais, de empresas em equilíbrio e expansão, de modo a demonstrar a importância de índices-padrão para setores. O ponto inicial da investigação consistiu na participação de capital próprio e capital de terceiros. Os achados da pesquisa admitiram que não é possível fornecer o mesmo procedimento para o demonstrativo de empresas de atividades diferentes. Dessa forma, o autor demonstra a efetividade do ponto de equilíbrio, não sendo uma medida de utilidade apenas teórica, mas prática, a qual permite à companhia obter uma remuneração do capital, dentro de uma base que lhe viabilize a liquidação normal das suas dívidas, de forma a garantir sua sobrevivência no mercado. Em seguida, em 1974, Kanitz empregou a técnica de análise discriminante, analisando 5 mil demonstrações financeiras de companhias brasileiras, de modo a chegar no que se conhece como Termômetro de Insolvência. Assim, a utilização dos modelos de previsão de falência consiste em uma variação dos modelos de análise de padrões setoriais, com alvo na avaliação da capacidade da empresa em liquidar suas dívidas com terceiros. Em vista do exposto, seguimos para um breve relato do que seja cada modelo, conforme adiante. 1.1 ANÁLISE DISCRIMINANTE A análise discriminante consiste em uma técnica estatística relevante capaz de identificar se a organização pertence ao grupo dos solventes ou ao grupo dos insolventes. Por meio dela, pode-se encontrar as interações existentes entre a qualidade e a quantidade de fatores explicativos e, sobretudo, realizar uma previsão, por meio de modelo, das modalidades a serem justificadas a partir dos valores dos fatores explicativos. A metodologia estatística de análise discriminante leva em conta um conjunto de indivíduos, no qual se observa uma característica qualitativa que utiliza duas ou mais modalidades. Cada indivíduo é apontado por uma única modalidade característica, definindo-se uma divisão dos conjuntos de indivíduos em classes diferentes. Além disso, mensura-se duas ou mais características quantitativas nos mesmos indivíduos. Inúmeras pesquisas foram realizadas no Brasil sobre a previsão de falência em empresas com base na análise discriminante. Dentre os modelos que empregam a análise, podemos listar Kanitz, Elizabetsky, Matias e Silva. 1.2 MODELO DE ALTMAN O Modelo de Altman (1968) foi desenvolvido com um grupo de organizações que tiveram problemas financeiros e outras que não tiveram, fundamentando-se na análise de balanços de três períodos. Esses valores são combinados e ajustados com ponderações para produzir uma medida que melhor represente as sociedades que falem e as que não falem. Em 1979, um estudo de Altman, Baidya e Dias propôs um modelo quantitativopara classificação e previsão de problemas financeiros em empresas, ajustando-se as condições brasileiras às variáveis financeiras adotadas no modelo original de Altman. O modelo propôs a utilização da técnica da análise discriminante multivariada para prever a falência de organizações empresariais. O autor teve como objetivo identificar variáveis (índices) com maior poder de previsão. 1.3 MODELO DE KANITZ Em 1976, Kanitz propôs um estudo que considera a capacidade de previsão da insolvência que possui a vantagem imediata de reduzir os prejuízos decorrentes de financiamentos que não poderão ser pagos, e que a relativa falta de capacidade de previsão de falência de pessoas físicas e jurídicas causava desfavor na formação de preços, ao passo que os custos com clientes ruins já eram integrados aos preços de venda como um dos custos indispensáveis no cenário dos negócios. O modelo Kanitz é baseado na análise do fator de falência das companhias, a partir de pesos de alguns índices de liquidez, de endividamento e de rentabilidade. Além disso, o modelo foi construído por meio de uma relação linear múltipla de indicadores financeiros (variáveis independentes) e a variável dependente – fator de falência. Foram realizados testes de significância estatística, denominada análise discriminante, para igualdade de médias entre índices financeiros de companhias economicamente saudáveis e empresas insolventes, de modo a listar cinco variáveis discriminantes: i) lucro líquido/patrimônio líquido; ii) liquidez geral; iii) liquidez seca; iv) liquidez corrente; e v) exigível total/patrimônio líquido. Kanitz adotou mais de 80 indicadores do grupo de empresas investigadas. A partir delas, foi construído um modelo de regressão linear múltipla, de maneira a obter os seguintes coeficientes padronizados, que são adotados em sua fórmula de determinação do fator de falência. Pode-se afirmar que o fator de insolvência que se enquadre entre 0 e 7 está em situação de solvência. Quanto mais próximo de 7, melhor a situação da entidade. Se o fator de insolvência estiver entre 0 e -3, a empresa está sob sérios riscos de falência. E se estiver entre -7 e -3, ela estará insolvente. 1.4 MODELO DE ELIZABETSKY Em 1976, foi desenvolvido um modelo matemático que emprega a análise discriminante para um grupo de empresas, do mesmo segmento (no caso, confecções), de forma a propor uma categoria de empresas boas ou ruins economicamente. 1.5 MODELO DE MATIAS O modelo de Matias foi desenvolvido no ano de 1978 empregando a análise discriminante, com companhias de diferentes segmentos de atividades, de maneira a sugerir uma classificação de sociedades empresariais como solventes e insolventes. 1.6 MODELO DE PEREIRA DA SILVA O modelo de Pereira da Silva assume características típicas para setores diferentes. Classifica a companhia para o próximo ano ou para os dois anos posteriores e considera as características locais, haja vista que o modelo pode demonstrar-se adequado para determinado local e inadequado para outro, e testa indicadores tradicionais e outros que necessitam mensurar aspectos dinâmicos da companhia. O modelo foi desenvolvido em 1982, e o ponto de separação entre organizações boas e ruins é nulo. Apuram-se os índices que integram o modelo e seus respectivos pesos. Se a soma final dos produtos dos pesos pelos índices for superior a zero, a sociedade empresarial será categorizada como boa; se for menor que zero, será categorizada como insolvente. TEMA 2 – ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA A análise da demonstração dos fluxos de caixa compreende sete fluxos de caixa, conforme a imagem a seguir. Quadro 1 – Modelo de fluxo de caixa para análise Itens Receita recebida (-) Caixa despendido na produção A. .......................................................... Caixa Bruto obtido nas operações ........................................................... (-) Despesas operacionais pagas - Vendas - Administrativas - despesas antecipadas B. ........................................................... Caixa gerado nos negócios ........................................................... Não operacionais (+) Outras receitas (diversas) recebidas (-) Outras despesas pagas C. ........................................................... Caixa Líquido após os fatos não operacionais (+) Receitas financeiras recebidas (-) Despesas financeiras pagas (-) Dividendos D. ........................................................... Caixa Líquido após operações financeiras (-) Amortização de empréstimos E. ........................................................... Caixa após a amortização de empréstimos ............................................................. (+) Novos financiamentos - Curto prazo - Longo prazo (+) Aumento de capital em dinheiro (+) Outras entradas F. ........................................................... Caixa após novas fontes de recursos ........................................................ (-) Aquisição de Permanente G. ........................................................... Caixa Líquido final Fonte: Elaborado com base em Marion, 2019. O caixa bruto obtido nas operações, conforme o item a, quando dividido pela receita recebida em dois períodos, indica algumas conclusões relevantes. Quadro 2 – Modelo de fluxo de caixa para análise Período 1 Período 2 I. Receita recebida II. (-) Caixa despendido na produção III. Caixa bruto % III/I 10.000 (6.000) 4.000 40% 20.000 (13.000) 7.000 35% Fonte: Elaborado com base em Marion, 2019. Isso aponta que, para cada real recebido, pode estar existindo um maior desembolso de caixa com a produção. Assim, é possível interpretar que o crescimento das receitas com vendas repercutiu no desequilíbrio no caixa da companhia (ao qual denominamos cronograma financeiro), visto que o crescimento de contas a receber ou estoque foi o maior responsável pela geração interna do caixa. A relevância desse índice consiste em verificar se a entidade conseguirá cobertura para todas as outras obrigações ou, caso contrário, buscará melhorar seu déficit de caixa. O Caixa gerado no negócio é gerado durante o ciclo operacional da empresa, enquanto que o caixa líquido após os fatos não operacionais considera acontecimentos extraordinários, como venda de ativo permanente com lucro ou prejuízo, ganhos e perdas e casos que não tenha nenhuma relação com a atividade da companhia, como dividendos recebidos, aluguéis recebidos, dentre outros. O caixa líquido após operações financeiras verifica se a companhia tem coberto os custos com juros de recursos gerados após suas atividades operacionais mais as receitas financeiras conseguidas no exercício. Assim, é arriscado contar com esses recursos para cobertura de juros, por exemplo, pois a ideia é a de que a empresa tenha caixa suficiente para pagamento de juros dos empréstimos obtidos. Por outro lado, o caixa após amortização dos empréstimos leva em consideração uma situação ideal, em que a companhia pudesse fazer a cobertura de empréstimos e ainda sobrar dinheiro. Já o caixa após novas fontes de recursos indica que a situação ideal é a de que a entidade tenha gerado internamente alguns recursos para pagamento de novos itens do imobilizado, sem precisar de financiamentos. Por fim, temos o caixa líquido final, que deve ser igual ao valor disponível no ativo circulante. TEMA 3 – ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Em geral, as técnicas de análise da demonstração das mutações do patrimônio líquido são compostas pelas análises vertical e horizontal dos saldos das contas e do montante de alterações, associadas a um conjunto de indicadores conforme modelo de Maroni Neto e Costa (2006). De acordo com os autores, os resultados na aplicação do método podem facilitar a evolução do capital próprio em certo período, da distribuição do resultado do exercício, do estado das reservas obrigatórias,assim como medir a rentabilidade dos investidores. Figura 1 - Demonstração das mutações do patrimônio líquido BRF 2020 Fonte: BRF, 2021. Como vimos em aulas anteriores, a análise vertical é um processo de análise que visa verificar a participação de cada conta ou grupos de contas em um mesmo período. Nessa análise, é constatada a variação de cada conta em relação a outra conta-base no mesmo ano. Basta dividir o valor total de cada conta pelo total verificado como alteração do patrimônio líquido. Em 2018, a análise vertical das contas da DMPL indica que o capital social realizado corresponde a 178,91% do total do patrimônio líquido, a reserva de capital a 1,65%, ações em tesouraria a 0,81%, ajustes acumulados de conversão de moeda estrangeira a 10,81%, ajustes de aplicações financeiras a 1,41%, ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa a 5,68%, ganhos (perdas) atuariais a 0,40% e prejuízos acumulados a 61,44%. Em 2019, a análise vertical das contas da DMPL indica que o capital social realizado corresponde a 157,81% do total do patrimônio líquido, a reserva de capital a 2,44%, ações em tesouraria a 0,48%, ajustes acumulados de conversão de moeda estrangeira a 2,45%, ajustes de aplicações financeiras a 0,005%, ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa a 4,51%, ganhos (perdas) atuariais a 2,23% e prejuízos acumulados a 50,62%. Em 2020, a análise vertical das contas da DMPL indica que o capital social realizado corresponde a 145,12% do total do patrimônio líquido, a reserva de capital a 1,65%, ações em tesouraria a 1,44%, ajustes acumulados de conversão de moeda estrangeira a 7,91%, ajustes de aplicações financeiras a 0,008%, ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa a 5,10%, ganhos (perdas) atuariais a 2,19% e prejuízos acumulados a 30,21%. Como vimos em aulas anteriores, a análise horizontal consiste em um processo que visa constatar a evolução das contas e, de igual forma, dos grupos de contas mediante a apuração de índices. Podemos ajustar a estrutura da DMPL da seguinte forma para fins didáticos: Quadro 3 – DMPL BRF 2020 ajustada para análise horizontal Conta 2018 AH 2019 AH 2020 AH Capital Social 12.460.471 100,0 12.460.471 100,0 12.460.471 100,0 Reserva de Capital 115.354 100,0 192.845 167,17 142.080 123,16 Ações em Tesouraria (56.676) 100,0 (38.239) (67,46) (123.938) 2,18 Ajustes Acumulados de Conversão de Moeda Estrangeira (752.815) 100,0 (193.379) (25,68) (678.969) 90,19 Ajustes de Aplicações Financeiras (98.451) 100,0 4.454 (4,52) 7.016 7,12 Ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa (396.165) 100,0 (356.721) 90,04 (438.221) 110,61 Ganhos (perdas) atuariais (28.088) 100,0 (176.823) 629,53 (188.627) 671,55 Prejuízos Acumulados (4.279.003) 100,0 (3.996.985) 93,40 (2.594.028) 60,62 Fonte: Silva, 2021. Tomando-se por base o período de 2018, temos, em 2019, a análise horizontal das contas da DMPL indica que o capital social realizado corresponde a 100,00% do total do patrimônio líquido, a reserva de capital a 167,17%, ações em tesouraria a (67,46%), ajustes acumulados de conversão de moeda estrangeira a (25,68%), ajustes de aplicações financeiras a (4,52%), ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa a 90,04%, ganhos (perdas) atuariais a 629,53% e prejuízos acumulados a 93,40%. Em 2020, a análise horizontal das contas da DMPL indica que o capital social realizado corresponde a 100,00% do total do patrimônio líquido, a reserva de capital a 123,16%, ações em tesouraria a 2,18%, ajustes acumulados de conversão de moeda estrangeira a 90,19%, ajustes de aplicações financeiras a 7,12%, ganhos (perdas) sobre hedge de fluxo de caixa a 110,61%, ganhos (perdas) atuariais a 671,55% e prejuízos acumulados a 60,52%. TEMA 4 – ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Como sabemos, a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) tornou-se de divulgação obrigatória por meio da Lei n. 11.638/2007, a qual alterou a Lei Societária (Lei n. 6.404/1976). A ideia por trás desse demonstrativo é apurar para quem a empresa está distribuindo a renda conseguida. Quando deduzida das vendas todas as compras, tem-se o montante que a companhia utiliza para remunerar itens como salários, juros, impostos etc. Assim, tais recursos apurados considera o valor que a empresa está adicionando como efeito de sua operação. Os indicadores gerados pela DVA são: i) potencial de gerar riqueza do ativo; ii) retenção da receita; e iii) valor adicionado per capita, os quais são índices cujo valor adicionado aparece no numerador, e os índices cujo valor adicionado aparece no denominador. Esses índices serão vistos com mais detalhes adiante. 4.1 INDICADORES COM VALOR ADICIONADO NO NUMERADOR 4.1.1 Potencial de gerar riqueza do ativo O potencial de gerar riqueza do ativo mede o valor que cada real aplicado no ativo gera de riqueza (valor adicionado), a ser distribuído por vários departamentos que integram a empresa. O cálculo desse índice é feito por meio da seguinte equação: Assim, o ativo, custeado por capital próprio e de terceiros é o responsável por gerar riqueza, que também gerará riqueza para a empresa. Vejamos um exemplo. Figura 2 – Demonstração do valor adicionado BRF 2020 Fonte: BRF, 2021. Figura 3 – Balanço Patrimonial BRF 2020 Fonte: BRF, 2021. Figura 4 – Demonstração do resultado do exercício A interpretação desse indicador é de que se o retorno econômico não foi relevante, e o resultado em termos de contribuição social ultrapassou a expectativa. Nesse caso, podemos entender como a empresa impacta economicamente a sociedade a partir da remuneração do quadro de funcionários, diretores, pagamento de impostos, acionistas. 4.1.2 Retenção da receita A retenção da receita demonstra quanto fica retido na empresa, de maneira a acrescentar valor ou benefício para colaboradores, investidores, governo, financiadores e lucro retido. Observe exemplos de indicadores de retenção no quadro a seguir. Quadro 4 – Indicadores de retenção da receita do valor adicionado Fonte: Viesi, 2010. Retomando o exemplo anterior da BRF, temos a apuração dos seguintes índices: A interpretação da taxa de retenção é de que a receita total agrega 26,69% do valor adicionado. E a taxa de retenção de riqueza demonstra que a contribuição do lucro líquido no valor adicionado é de 4,7%. 4.1.3 Valor adicionado per capita O valor adicionado per capita é uma forma de analisar quanto cada colaborador contribui para a formação da riqueza da companhia e da sua, consequente, contribuição de retorno à sociedade. Consiste em um indicador de produtividade que indica a representação de cada empregado na riqueza gerada na entidade. A fórmula utilizada para esse índice é: Para o exemplo da companhia BRF, que tem em média 90 mil funcionários, o índice de valor adicionado per capita é de: O indicador sinaliza que para 2021 e 2020, a companhia BRF obteve um valor adicionado por funcionário de 112,41 e 104,31, respectivamente. 4.2 INDICADORES COM VALOR ADICIONADO NO DENOMINADOR Os índices da demonstração do valor adicionado com o valor adicionado como denominador se referem à distribuição da riqueza gerada na entidade. Figura 5 – Indicadores com valor adicionado no denominador na BRF Fonte: Silva, 2021. Pode-se afirmar que esse tipo de índice facilita a análise horizontal das demonstrações do valor adicionado das empresas. Isso é importante para avaliar a tendência de distribuição de riqueza. Vejamos um exemplo que organiza a estrutura da DVA da companhia BRF. Quadro 6 – Indicadores com valor adicionado no denominador Distribuição 2021 2020 Empregados 31% 44% Juros 27% 16% Dividendos 0,7% 0,1% Impostos 37% 34,9% Lucro Reinvestido 4,3% 5% Total 100% 100% Fonte: Silva, 2021. Em 2020, a análise horizontal das contas da DVA indica que os empregados correspondem a 31% e 44% do valor adicionado, os juros correspondem a 27% e 16%, os dividendos a 0,7% e 0,1%, os impostos a 37% e 34,9% e o lucro reinvestido corresponde a 4,3% e 5%, todos os índices calculadospara os períodos de 2021 e 2020, respectivamente. Do ponto de vista analítico, a distribuição a empregados demonstra que a entidade contribui diretamente para o desenvolvimento socioeconômico do local em que ela se insere. Os juros sinalizam que a remuneração de capital de terceiros diminuiu e contribuiu na geração de riqueza. Os dividendos apontam que a parcela distribuída dentro da própria empresa diminuiu, de modo a indicar uma absorção negativa do patrimônio dela. Por outro lado, o lucro reinvestido indica uma remuneração de capital próprio contributiva ao valor adicionado da organização empresarial. TEMA 5 – CONCEITOS E NORMATIVOS DE PARECER DAS ANÁLISES ECONÔMICO-FINANCEIRAS Na análise de demonstrações, o analista deve fazer sua avaliação com base em um método e raciocínio científico, uma vez que o resultado da análise deve ser a produção de um relatório que demonstre a situação econômico-financeira da companhia. A tomada de decisão segue o seguinte processo, como pode ser observado na figura a seguir. Figura 5 – Etapas do processo decisório Fonte: Silva, 2017. A análise das demonstrações adota a mesma construção científica apresentada na figura, quando o analista desempenha as seguintes ações: i) conseguir os demonstrativos financeiros; ii) escolher os índices a serem adotados; iii) extrair os indicadores; iv) confrontar com índices-padrões; v) analisar as diferentes informações para diagnóstico ou conclusão; e vi) tomar decisões. O relatório ou parecer de opinião quanto à situação econômica, financeira e patrimonial da empresa constitui o ponto máximo da análise das demonstrações contábeis. Nele são juntadas todas as interpretações recolhidas durante o processo de análise. Ademais, cada um dos índices calculados não poderá ser analisado sozinho, tendo em vista que todos estão integrados. Os efeitos da rentabilidade da organização empresarial podem ser percebidos no índice de liquidez corrente e a eficiência da administração de ativos repercutirá diretamente na captação de recursos com as entidades de financiamento e, consequentemente, no custo financeiro. As considerações finais do analista serão afetadas pelas finalidades básicas estabelecidas no princípio do processo de análise das demonstrações contábeis. Um bom relatório de análise não pode se basear somente na apresentação dos indicadores e coeficientes. Para evitar a falta de precisão na elaboração de um relatório, Matarazzo (2010) indica que ele deve apresentar linguagem simples que possa ser compreendida por qualquer usuário de informação da entidade. Dessa maneira, o relatório retrata uma espécie “tradução” dos componentes extraídos dos demonstrativos financeiros. Além disso, o autor apresenta a estrutura do relatório: i) situação financeira; ii) situação econômica; iii) desempenho; iv) eficiência na utilização dos recursos; v) pontos fortes e fracos; vi) tendências e perspectivas; vii) quadros evolutivos; viii) adequação das fontes às aplicações de recursos; ix) causas das alterações na situação financeira; x) causas das alterações na rentabilidade; xi) evidência de erros da administração; xii) providências que deveriam ser tomadas e não foram; e xiii) avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras. Por sua vez, Silva (2012) discute que diversas informações extraídas não são apenas da contabilidade. Por conta disso, uma boa análise deve começar por levantamentos sobre a concorrência, percepções dos elementos macroeconômicos, identificação do nível de tecnologia adotado pela entidade, qual sua estrutura orgânica, e outros componentes que sejam importantes no contexto. Também deve ser apresentado na elaboração do parecer o objetivo ao qual está vinculado a análise. Isso porque uma mesma companhia avaliada por analistas diferentes pode ter estruturas de pareceres diferentes. O analista das demonstrações deve indicar as respostas das perguntas, previamente elaboradas, que servirão de apoio para formar um parecer sobre a análise dos índices calculados e outras informações coletadas durante o processo. As perguntas que podem ser feitas durante o processo de análise das demonstrações contábeis podem ser visualizadas no quadro a seguir. Quadro 7 – Detalhamento do processo de análise das demonstrações contábeis 1. O que faz a empresa? 8. É sólida ou corre o risco de quebrar em pouco tempo? 2. Quem são os proprietários? 9. Está muito endividada? 3. Quem tem o poder de mando? 10. Que tipo de público consome seus produtos? 4. Quem são os administradores? 11. Quem são seus principais concorrentes? 5. Que padrão de tecnologia apresenta? 12. A empresa é tão forte quanto seus concorrentes? 6. Quais são os planos de investimento? 13. Qual é a tendência da empresa de potencialidade de geração de lucro? 7. É lucrativa e próspera? Fonte: Elaborado com base em Silva, 2017. O detalhamento do relatório deve observar algumas regras fundamentais na escrita do relatório ou parecer de análise das demonstrações contábeis. Segundo Hale (citado por Silva, 2012, p. 320- 322) são elas: 1. ser um analista e não um escritor, com foco nos fatos mais relevantes; 2. fazer com que os quadros e gráficos falem por si, sem poluir o texto; 3. usar palavras simples, utilizar uma linguagem técnica, evitando, porém, as palavras que não sejam de uso comum; 4. omitir palavras desnecessárias, tendo em mente que não será por muito escrever que se terá um bom relatório; 5. apresentar primeiro o sumário e a conclusão para atender à expectativa do leitor, ficando as explicações, justificativas e detalhes para a parte seguinte, sendo que essa regra dependerá do público-alvo do relatório ou parecer. Os elementos indispensáveis citados por Silva (2017) na construção do relatório de análise podem ser visualizados no quadro a seguir. Quadro 8 – Elementos indispensáveis na construção de análise Análise do cenário Discorrer sobre a empresa, sobre o segmento econômico no qual ela está inserida, citando também seus maiores concorrentes. Mencionar as políticas governamentais que afetam o segmento, bem como fazer uma avaliação global da performance da empresa, indicando o valor total dos ativos e do patrimônio líquido, com os percentuais de crescimento do faturamento da empresa, comparando este com a média do seu segmento. Eventos subsequentes à data de levantamento das demonstrações contábeis que possam afetar positiva ou negativamente nos negócios da empresa devem ser citados nessa parte do relatório. Análise econômica Nessa parte, o analista deverá abordar a situação do patrimônio líquido, já que a existência ou não de PL é o ponto de partida para a análise econômica. Cabe, portanto, a exposição dos fatores que determinaram as variações no patrimônio líquido da empresa, citando inclusive a política dela para distribuição ou retenção de lucros, bem como da constituição de reservas. Devem ser descritos ainda o grau de imobilização e o seu nível de endividamento, citando a origem e o destino dos recursos captados com terceiros, mencionando ainda as garantias oferecidas aos credores. Análise financeira Determinada empresa pode apresentar excelente situação econômica e, no entanto, não ter dinheiro suficiente para liquidar seus compromissos. Portanto, o analista deve estar atento à capacidade de pagamento da empresa, ou seja, à disponibilidade para saldar as obrigações. Nessa abordagem financeira, uma atenção especial deve ser dedicada para os índices de liquidez, rentabilidade, ciclo financeiro, necessidade de capital de giro (NCG) e/ou saldo de tesouraria. Ou seja, deve-se estar atendo para a dinâmica do capital de giro. Conclusão A conclusão deve abranger a situação da empresa no mercado comparando seu desempenho com o das suas principais concorrentes, opinando ainda sobre o seu desempenho econômico e financeiro. Devem ser emitidas recomendações sobre as possíveis diretrizes que a empresa pode tomar para manter o desempenho verificado ou para reverter a situação atual, se esta for desfavorável.Mencionar ainda se houve algum tipo de limitação durante os trabalhos, quer seja na coleta de dados, quer seja na qualidade dos demonstrativos contábeis e demais informações complementares, como as possíveis ressalvas emitidas em parecer pelos auditores independentes. Anexos Ao final do relatório poderão ser anexados tabelas, gráficos ou planilhas não inseridos ao longo dele. O uso de gráficos e tabelas pode auxiliar na visualização das tendências dos negócios da empresa ou empresas sob análise, além de permitir a redução do elemento textual, facilitando a leitura e a compreensão do texto. É importante também fazer constar informações quanto à metodologia utilizada para a coleta dos dados, o detalhamento dos ajustes e reclassificações de contas efetuadas, fórmulas utilizadas, outras empresas analisadas para efeito comparativo, referência bibliográfica utilizada, sites consultados e, se julgar necessário, os softwares utilizados para os cálculos. Fonte: Elaborado com base em Silva, 2017. TROCANDO IDEIAS Nesta aula foi possível perceber que os modelos de previsão de insolvência sinalizam o estado de falência de uma empresa. Dessa maneira, apresente as diferenças e as semelhanças entre os modelos de Altman, Kanitz, Elizabetsky, Matias e Pereira da Silva. Depois, descreva os passos para a elaboração do parecer de análise das demonstrações. Entre no fórum da disciplina e registre sua participação. NA PRÁTICA Sobre as taxas de retorno e dos indicadores de estrutura de capital e solvência, julgue o item a seguir. Segundo o termômetro de Kanitz, o fator de insolvência superior a zero indica que a empresa possui maior possibilidade de vir a falir, ou seja, quanto mais alto e positivo for o fator de insolvência maior será o risco de falência da empresa. ( ) Certo ( ) Errado FINALIZANDO Nesta aula estudamos os modelos de previsão de insolvência, análise da demonstração do patrimônio líquido, demonstração do valor adicionado e demonstração do fluxo de caixa. Notamos que a maior parte dos modelos adota a metodologia da análise discriminante para seu cálculo. Estudamos também sobre o detalhamento do parecer de análise das demonstrações contábeis, de modo a explicar o nível de detalhamento presente na literatura. Ufa! Pensou que não iria acabar?! Com esta aula finalizamos nossos estudos. Esperamos que você possa ter aprendido os principais aspectos da disciplina de Análise das Demonstrações Contábeis para a graduação. REFERÊNCIAS ANDRADE, J. P.; LUCENA, W. G. L. Análise de desempenho dos modelos de previsão de insolvência e a implementação das normas internacionais de contabilidade. Revista Ciências Administrativas, v. 24, n. 2, 2018. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MARTINS, E.; DINIZ, J. A.; MIRANDA, G. J. Análise didática das demonstrações contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020. ______. Análise avançada das demonstrações contábeis: uma abordagem crítica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020. SOARES, C. S. et al. Aplicação de modelos de previsão de insolvência nas empresas do setor aéreo brasileiro. Revista Contabilidade e Controladoria, v. 13, n. 2, 2021. SILVA, A. A. da. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações contábeis. 5. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2019. GABARITO Comentário: de acordo com as explicações fornecidas nesta aula, temos a seguinte situação: de 0 a 7 = solvente; de -3 a 0 = risco de falência; de -7 a -3 = insolvente. Nesse caso, o erro da questão está em dizer que quanto mais alto e positivo maior será o risco. Na verdade, menor será o risco de falência, pois a empresa estará na região de solvência. Gabarito: correto.
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