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DOR FISIOLÓGICA DO CRESCIMENTO As queixas de dores em membros são comuns em 10 a 20 % das crianças e, na maioria das vezes, são benignas, de evolução crônica e curso autolimitado. As mais frequentes são as dores noturnas recorrentes em membros que são benignas e receberam o nome de “dor de crescimento”. Na realidade, não existe relação com nenhuma fase do crescimento físico (estirão). Obrigatoriamente, deve ser diferenciada de outras causas de dor presentes em doenças mais sérias. - Tumor ósseo - Infecção óssea Quadro clínico: Importante definir: Localização, característica, duração, irradiação, fatores de melhora e piora, histórico de trauma, infecções ou tumores. Fatores de benignidade: dor bilateral, sem associação com sintomas sistêmicos (febre, inapetência, desânimo, perda de peso), geralmente ao fim do dia e após brincar e sem deformidades evidentes nos membros acometidos Fatores que fazem suspeitar de malignidade: dor unilateral, com sintomas sistêmicos, com deformidade no membro acometido. As dores surgem à noite ou de madrugada, às vezes tão intensas que levam ao choro. Na manhã seguinte, a criança está totalmente assintomática e não apresenta nenhuma limitação física. É rara a ocorrência diária e o intervalo entre as crises varia de alguns dias, semanas ou meses. Há casos em que os pais notam uma relação entre o aumento de atividade física e a dor, mas isso não é constante. Exame físico: O exame físico da criança com dor de crescimento é normal. Ela caminha normalmente, a coluna e as extremidades não apresentam deformidades, nem restrição de movimentos. Não existe fraqueza muscular, nem alteração dos reflexos. Exames complementares: Nas dores de crescimento, os exames de laboratório são normais. Alterações no hemograma e aumento de valores nos marcadores de inflamação, tais como a velocidade de hemossedimentação e a proteína C reativa, são úteis em detectar inflamação e/ou infecção, afastando o diagnóstico de dor de crescimento. Os exames de imagem nos casos de dor de crescimento são comuns. Radiografias são úteis para investigar neoplasias, infecções e causas traumáticas. Às vezes, a ressonância magnética poderá mostrar uma lesão não detectada na radiografia simples, como a doença de Legg-Perthes-Calvé, fase inicial da osteomielite e neoplasias. Cintilografia óssea pode ser necessária em casos de doença óssea difusa, como a osteomielite crônica multifocal ou metástases de câncer. Diagnóstico: O diagnóstico de dor de crescimento se baseia em critérios clínicos. O início das crises tem início geralmente em idade compreendida entre 3 e 6 anos, em ambos os sexos. A história detalhada, obtida com a cooperação da família e da criança, é tipicamente bilateral em 80% dos casos, localizada na parte anterior das coxas, canelas, panturrilhas e atrás dos joelhos, sendo raro o envolvimento dos membros superiores. Podem ser solicitados exames para exclusão diagnóstica: - Exames laboratoriais - Exames de triagem: radiografia de membros - coxa e pernas em AP - Hemograma - VHS e PCR Tratamento: - Paracetamol - Compressas mornas - Massagem manual - Apoio psicológico OSTEOCONDRITE A osteocondrite é uma patologia que acomete a cartilagem de crescimento – epífise. É mais frequente durante a infância e a adolescência, pois são as fases de construção e consolidação do sistema esquelético. Esse distúrbio pode afetar qualquer articulação e têm seu nome definido de acordo com a região atingida. O tipo de osteocondrite mais comum é a Doença de Osgood-Schlatter, que afeta o joelho e pode levar ao desenvolvimento de uma protuberância óssea abaixo da patela. Quando a cartilagem de crescimento é lesionada, seja por tração exagerada, traumas ou outros fatores desconhecidos, há uma falha no seu funcionamento e o crescimento ósseo fica prejudicado, o que pode causar o desenvolvimento de uma proeminência na região acometida. Em casos extremos, pode haver o desprendimento de partes da cartilagem e a migração para o lado de dentro da articulação, levando à ocorrência de dores e limitação de movimento (osteocondrite dissecante). Doença de Freiberg: É a osteocondrite da cabeça do 2º metatarso (osso longo do pé, anterior aos dedos). Pode causar artrose e levar a degeneração da articulação com a falange, causando dificuldade e limitação de movimento. Doença de Sever: Menino de 6 a 7 anos. Atinge o calcanhar e está diretamente relacionado ao aumento de exercícios físicos. Pode causar fragmentação do calcâneo, resultando no alargamento do osso e surgimento de uma protuberância. Doença de Scheuermann: Também conhecida como osteocondrose juvenil, é uma doença rara que causa deformidade da curvatura da coluna vertebral, produzindo um arqueamento das costas. Ocorre em meninos de 14 anos com cifose à faz uma osteocondrite na parte anterior da fise torácica, tornando a vértebra trapezoidal, levando a uma curvatura da coluna vertebral encurvada. Doença de Osgood-Schlatter: É o tipo mais comum de osteocondrite e acomete a tuberosidade da tíbia (localizada próxima ao joelho, abaixo da patela). Sofre alta influência dos desalinhamentos do joelho. Mais comum em meninos de 14 anos. Sinais e sintomas: - Vermelhidão; - Possível presença de uma proeminência óssea; - Dor, que é intensificada com a prática de esportes; - Edema (acúmulo de líquido que provoca o inchaço da região acometida); - Bloqueio articular (como por exemplo, pessoas com a doença de Osgood-Schlatter podem sofrer episódios onde o joelho “trava”). Diagnóstico: história clínica, exame físico, exames de imagem (RX, TC, RM). Tratamento: analgésicos, anti-inflamatórios, compressas térmicas ou frias, TENS, acupuntura, exercícios de alongamento, fisioterapia, repouso e cirurgia. O tratamento varia de acordo com o estágio de fragmentação do osso, a dimensão da fratura e o grau de dor do paciente, e algumas medidas podem ser indicadas, como: - Redução de carga na área (com possível uso de muletas); - Diminuição da prática de atividades físicas e/ou de alto impacto; - Possível imobilização temporária da região; - Medicação; - Uso de palmilhas e sapatos anatômicos; Cirurgias somente serão indicadas em casos onde o tratamento conservador não surtir efeitos. OSTEOMIELITE A osteomielite é uma infecção bacteriana óssea que causa destruição e pode ocorrer por meio de uma variedade de mecanismos. Ocorre principalmente em crianças, sendo mais comum no fêmur distal e na tíbia proximal (topografia do joelho). A osteomielite dos ossos do pé em pacientes adultos com diabetes, neuropatia e insuficiência arterial é muito comum. A semeadura hematogênica de coluna também ocorre, mas com menos frequência. A incidência de osteomielite decorrente de trauma e cirurgia está aumentando. CLASSIFICAÇÃO Aguda: infecção óssea diagnosticada nas 4 primeiras semanas. Subaguda: entre 2 a 6 semanas. Crônica: infecção permanece ativa por mais de 6 semanas. ETIOLOGIA Principal agente: Staphylococcus aureus QUADRO CLÍNICO Dor localizada nos ossos afetados é uma característica de osteomielite. Edema e eritema devidos à infecção de tecidos moles ou abscesso podem estar presentes na osteomielite decorrente de infecção contígua. Sintomas constitucionais, incluindo febre, estão presentes em uma minoria de casos e, mais frequentemente, na osteomielite hematogênica. Se estruturas neurológicas estiverem envolvidas, sinais e sintomas neurológicos podem ocorrer. Sinais e sintomas devidos a uma infecção coexistente que causou osteomielite hematogênica podem também estar presentes. O diagnóstico diferencial da osteomielite inclui doenças que podem causar dor óssea aguda e crônica em adultos, incluindo osteoartrite, câncer metastático, fraturas e a síndrome SAPHO (sinovite, acne, pustulose, hiperostose e osteíte), bem como dor pós-operatória e infecção de tecidos moles sem osteomielite concomitante. - Febre - Dor intensa, geralmente pontual. Sinal do “one finger point” (muita dor ao pressionar o local). - Dificuldade em tolerar carga no membro afetado. - Sinais flogísticos locais com edema, calor e hiperemia;FISIOPATOLOGIA Inicialmente a bactéria se instala na região metafisária dos ossos, onde há maior vascularização. Com o consequente alentecimento do fluxo, inicia-se então a reação inflamatória com exsudato, redução do pH e aumento da pressão local, podendo formar abscessos ósseos. Após 48hs já haverá formação de pus, que sob pressão percorre os canais de Havers e Volkman, podendo atingir o espaço medular e o espaço subperiosteal, com posterior periostite. Em seguida, se houver progressão da doença, haverá necrose avascular, formando o sequestro ósseo (crônica), podendo até surgir fístulas. - Sequestro ósseo = região de osso cortical ou metafisário necrosado, circundado por reação óssea, avascularizada, ou seja, produzirá uma imagem radiográfica de hipotransparência circundada por uma área de esclerose. Vias de infecção 1. Disseminação hematogênica: é a via mais comum (70%-80%). Ocorre por uma bacteremia, surgida por um foco distante, seja pele, orofaringe ou qualquer outro. 2. Disseminação por contiguidade: uma infecção próxima ao tecido ósseo. Na articulação, a artrite séptica, estando em contato com a porção de osso metafisário, poderá permitir a passagem de bactérias. Ou ainda, infecções cutâneas como a celulite, em topografia próxima ao tecido ósseo. 3. Disseminação por inoculação direta: como pode ocorrer principalmente nos traumas com fratura exposta, ou após o tratamento cirúrgico. DIAGNÓSTICO - Radiografia - Hemograma - VHS (geralmente muito alto - 90 a 100) e PCR - Hemocultura, cultura, antibiograma e pesquisa de Gram; - Ecografia; - Cintilografia óssea - TC e RM. TRATAMENTO Antibiótico + drenagem cirúrgica Abordagem cirúrgica: quando pus franco é obtido após aspiração subperiosteal ou metafisária, ou há suspeita com base nos achados de RM, um procedimento de drenagem cirúrgica geralmente é indicado. Recomenda-se iniciar a antibioticoterapia de amplo espectro até aguardar o resultado de culturas. Caso o quadro seja inicial, 12 a 48 horas, o tratamento é incruento, somente com o antibiótico. Porém, se já está formado o abscesso ósseo, é necessária a drenagem cirúrgica, associada à antibioticoterapia. Na suspeita de S. aureus resistente à Meticilina (MRSA), utilizar Vancomicina (60 mg/kg/dia EV de 6/6 horas) no lugar da Oxacilina. Em S. aureus suscetíveis a Meticilina, Cefazolina (100 mg/kg/dia EV de 8/8 horas) é o antibiótico de escolha. Quando a terapêutica for passada para VO, utilizar: Cefalexina (100 mg/kg/dia EV de 6/6 horas. Dose máxima: 4 g/dia. COMPLICAÇÕES - Sepse - Osteomielite crônica (transição da criança para o adulto). - Artropatia de Charcot (adulto: lesão nervosa e arterial pela neuropatia do DM). INDICAÇÕES DE ENXERTO ÓSSEO Raras exceções utiliza-se enxerto em crianças, ex: tumores. A utilização de enxerto ósseo autólogo esponjoso como ad ju vante no tratamento de fraturas fechadas mul ti fragmen tá rias é amplamente defendido em todo o mundo, com ex ce len tes resultados comprovados na literatura; porém, sua uti lização em fraturas expostas ainda é controversa em alguns aspec tos. Ainda que satisfatório em alguns casos, o uso imediato do en xerto está associado a alto índice de infecção, absorção e fa lha na consolidação das fraturas. Demonstrou-se que a utilização do enxerto é melhor de quatro a seis semanas após a cobertura cutânea estabelecida, com di minuição acentuada na incidência de complicações, mas ain da não há critério estabelecido/confirmado cientificamente quanto ao prazo ideal para a enxertia óssea. A princípio, o enxerto ósseo autólogo esponjoso deve ser aplicado em pacientes com vascularização local adequada capaz de incorporar o enxerto, sem infecção e com estabilidade óssea mantida. Nesses casos, o cirurgião precisa estar familia rizado com os acessos cirúrgicos para cada área afetada, para não agravar a vascularização local e também não co locar o enxerto em áreas com vascularização comprometi da. Se houver grande perda óssea, técnicas microcirúrgicas po dem ser necessárias, assim como métodos de reconstrução ós sea com transporte ósseo tipo Ilizarov. O uso clínico da proteína óssea morfogenética re cebeu recente autorização da Food and Drug Administration (FDA) para uso em fraturas ex postas após os resultados publicados a partir de um estudo multi cên trico, pois demonstrou estimular a consoli da ção em fraturas expostas quando comparado com um grupo de controle sem sua utilização. Existe consenso de que o enxerto ósseo autólogo continua sendo o padrão-ouro e sobre o melhor momento para a aplica ção de enxerto ós seo, ou seja, na restauração do envelope de partes moles e na presença de vascularização local. EXAMES DE IMAGENS ÚTEIS EM INFECÇÕES ÓSSEAS Osteomielite aguda As ramificações da artéria nutriente se estendem para a metáfise, onde se dobram e entram nas grandes veias sinusoidais. A lentidão do fluxo sanguíneo nessas veias sinusoidais permite que as colônias bacterianas cresçam e se alastrem para a medula adjacente, onde os pequenos abscessos se formam. A partir do foco inicial da metáfise, o processo inflamatório supurativo agudo pode se estender por toda a cavidade medular. O edema e a coleta de pus aumentam a pressão dentro do espaço fechado da cavidade medular, levando à diminuição do fluxo sanguíneo, à trombose e à necrose. Sob pressão, o pus sofre exsudação por meio do córtex no espaço subperiosteal. O periósteo se torna elevado pelo pus, eliminando o suprimento sanguíneo periosteal e levando à osteonecrose cortical. A infecção pode penetrar o periósteo e se estender para dentro dos tecidos moles. Como as artérias metafisárias não penetram a placa de crescimento, a epífise é inicialmente poupada, mas a infecção pode se estender contiguamente para dentro da epífise, danificando no processo a placa de crescimento. Uma lesão óssea solitária, que atravessa a placa epifisária a partir do lado metafisário, é geralmente a osteomielite.. As mudanças radiográficas ocorrem relativamente tarde na osteomielite aguda. O edema do tecido mole com obliteração dos planos de gordura pode ser observado três dias após o início, momento no qual o pus já penetrou o córtex. A reação periosteal e a osteólise podem não ser evidentes nas radiografias dentro de até 5 a 7 dias nas crianças e de 10 a 14 dias nos adultos. Se o local suspeito contiver medula gordurosa, os exames de TC revelam infiltração de líquido e pus na medula cedo no curso da osteomielite, antes que a destruição óssea seja detectável. A RM é altamente sensível e específica na distinção entre osteomielite e infecção do tecido mole adjacente, mesmo na presença de cirurgia prévia, fratura ou osteomielite crônica. O edema prematuro à medula é evidente bem antes que outros estudos de imagem se tornem anormais, e as coleções subperiosteais ou de tecido mole de pus podem ser identificadas cedo. A intensificação geralmente é observada após a injeção de contraste gadolínio. A: Imagem coronal do úmero esquerdo mostra edema da medula óssea (seta contínua), bem como coleção de líquido periosteal (seta tracejada) consistente com abscesso periosteal; B: Imagem axial pós-contraste mostra tanto realce da medula óssea (seta sólida) como extensa formação de abscesso periosteal e de tecido mole (setas tracejadas). O exame ósseo por radionuclídeo é tipicamente positivo dentro de 24 horas a partir do início, e um exame ósseo normal nesse momento elimina a osteomielite como uma possibilidade diagnóstica. Focos de osteomielite aguda aparecem como áreas de atividade intensa por causa da hiperemia e da atividade osteoblástica reativa. Exames nucleares com leucócitos marcados ou com gálio são ferramentas de imagem para resolução de problemas adicionais na suspeita de osteomielite. Esses dois radiofarmacêuticos se situam em locais de agregados de leucócitos, como coleções de pus, mas ambos podem requerer um atraso na imagem de 24 a 72 horas após a injeção. O exame de gálio pode ser particularmente útil no prolongamento do curso do tratamento para confirmar a cura e a óbvia preocupação com umapossível osteomielite crônica. Osteomielite crônica A osteomielite crônica pode ocorrer muitos anos após a osteomielite aguda. Os antibióticos sistêmicos são ineficazes contra organismos sequestrados no osso com necrose. As culturas sanguíneas são quase sempre negativas, e as culturas da lesão também são muitas vezes negativas. Na osteomielite crônica, focos de bactérias persistem dentro das cavidades ósseas que são preenchidas com tecido de granulação. O osso denso circunda o local, e o córtex pode ficar engrossado como resultado da deposição de longo prazo do osso medular reativo e do osso periosteal. Abscessos, tratos sinusoidais e sequestros podem ser obscurecidos pelo osso reativo denso, de modo que a TC ou a RM podem ser requeridas. O exame ósseo por radionuclídeo também é útil, por demonstrar áreas de captação aumentada. A: Imagem do joelho direito mostra uma cavidade de abscesso na patela (seta sólida) com um foco central de baixa densidade consistente com um sequestro (seta tracejada). Também ocorre ruptura do córtex anterior com disseminação da infecção para a bolsa pré-patelar (ponta de seta); B: Imagem com supressão de gordura mostra novamente o abscesso intraósseo (seta longa contínua) com sequestro hipointenso em T2 central (seta tracejada) e extensão da infecção para os tecidos moles pré-patelares (cabeça de seta). Um derrame na articulação do joelho é mais aparente nesta imagem (seta curta sólida); C: Imagem sagital pós-contraste mostra realce da sinóvia (seta curta sólida) indicativo de sinovite, provavelmente devido à extensão intra-articular da infecção. Abscesso de Brodie É um abscesso ósseo local, subagudo que é uma causa extremamente comum de uma lesão óssea solitária. Os sintomas de dor recorrente e sensibilidade local com edema e eritema podem estar presentes de meses a anos. A maioria dos casos ocorre em adolescentes e adultos jovens, mas a variação de idade registrada é de 6 a 61 anos. Os homens são afetados com mais frequência do que as mulheres (razão de 2:1). A localização típica é a metáfise ou a diáfise do fêmur ou da tíbia. O S. aureus parece ser o organismo ofensivo. Aparece como uma área luminosa bem definida no osso esponjoso com margens geográficas suaves, redondas, em uma crosta esclerótica espessa que pode se fundir imperceptivelmente com o osso circundante.
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