Buscar

Prévia do material em texto

PROCESSOS BIOLÓGICOS E ANATOMIA GERAL DO SISTEMA URINÁRIO
29/08/2019
	O sistema urinário é formado pelos dois rins, os dois ureteres, a bexiga e a uretra. A urina é produzida nos rins, passa pelos ureteres até a bexiga e é lançada ao exterior pela uretra.
	O sistema urinário contribui para a manutenção da homeostase do corpo, produzindo a urina, por meio da qual são eliminados água, eletrólitos, pequenas moléculas e diversos resíduos do metabolismo. Essas funções se realizam nos túbulos uriníferos, por meio de um processo complexo que envolve filtração, absorção ativa, absorção passiva e secreção.
	Além da função reguladora da composição do meio interno, os rins secretam hormônios, como a renina, que participa da regulação da pressão sanguínea, e a eritropoetina, uma glicoproteína formada por 165 aminoácidos, que estimula a produção de eritrócitos. Os rins também participam, junto com outros órgãos (fígado, pele), da ativação da vitamina D3 na sua forma de hormônio ativo. A cada 24 horas se formam cerca de 1.500 ml de urina no ser humano.
Rim
	O rim tem o formato de um grão de feijão, com uma borda convexa e outra côncava, na qual se situa o hilo renal, onde entram e saem vasos sanguíneos, entram nervos e sai o ureter. O hilo contém também tecido adiposo.
	A porção central do rim, adjacente ao hilo e à região côncava e delimitada pela medula renal é denominada seio renal. De maneira geral, a região central do rim é de cor mais clara e é chamada de porção medular. Já a região periférica é mais escura e se chama porção cortical.
	Além disso, o rim possui uma camada de fibra colágeno que o reveste. Não é comum a presença de nódulos linfáticos no rim.
Estrutura geral do rim
	O rim é envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, e seu parênquima é constituído pela zona cortical e pela zona medular.
	A zona medular é formada por 10 a 18 pirâmides medulares (pirâmides de Malpighi). Da base de cada pirâmide partem os raios medulares, grupos de túbulos que penetram a cortical.
Parênquima renal
	Denomina-se túbulo urinífero do rim o conjunto formado por dois componentes funcionais e embriologicamente distintos, o néfron e o túbulo coletor. Em cada rim há cerca de 600 a 800 mil néfrons. O néfron é formado por uma parte dilatada, o corpúsculo renal ou de Malpighi, e por uma sequência de túbulos: o túbulo contorcido proximal, as partes delgadas e espessas da alça de Henle e o túbulo contorcido distal. 
	O túbulo coletor conecta o túbulo contorcido distal aos segmentos corticais ou medulares dos ductos coletores. Cada túbulo urinífero é revestido por uma lâmina basal, a qual é envolvida pelo escasso tecido conjuntivo do interior do rim que forma o componente denominado interstício renal.
Corpúsculos renais e filtração do sangue
	O corpúsculo renal é formado por um tufo de capilares, o glomérulo renal, que é envolvido pela cápsula de Bowman. A cápsula é formada por dois folhetos, um interno, ou visceral, disposto em torno dos capilares glomerulares, e outro externo, ou parietal, que reveste internamente o corpúsculo renal. Entre os dois folhetos da cápsula de Bowman, existe o espaço capsular, que recebe o líquido filtrado através da parede dos capilares e do folheto visceral da cápsula de Bowman.
	Cada corpúsculo renal tem dois polos: o polo vascular, pelo qual penetra a arteríola aferente e sai a arteríola eferente, e o polo urinário, no qual tem início o túbulo contorcido proximal.
	Ao penetrar no corpúsculo renal, a arteríola aferente divide-se em vários capilares, que têm formato de alças. Além disso, há conexões diretas entre o vaso aferente e o eferente, pelas quais o sangue pode circular mesmo sem passar pelas alças do glomérulo.
	Nos capilares glomerulares circula sangue arterial, cuja pressão hidrostática é regulada principalmente pela arteríola eferente, que tem maior quantidade de músculo liso em sua parede do que a aferente.
	O folheto externo ou parietal da cápsula de Bowman é constituído por um epitélio simples pavimentoso, que se apoia na lâmina basal e em uma fina camada de fibras reticulares. 
	Enquanto o folheto externo mantém sua morfologia epitelial, as células do folheto interno ou visceral modificam-se durante o desenvolvimento embrionário, adquirindo características muito peculiares. Essas células são chamadas de podócitos e formadas por um corpo celular, de onde partem diversos prolongamentos primários que dão origem aos prolongamentos secundários. Os podócitos contêm actina, apresentam mobilidade e se apoiam sobre a lâmina basal dos capilares glomerulares. Seus prolongamentos envolvem completamente o capilar. Sua principal função é restringir a passagem de proteínas do sangue para a urina.
	Os glomérulos são formados por capilares arteriais, cuja pressão hidrostática é muito elevada em comparação com outros capilares do corpo. O filtrado glomerular forma-se pela pressão hidrostática do sangue.
	O filtrado glomerular tem concentrações de cloreto, glicose, ureia e fosfato semelhantes às do plasma sanguíneo, porém quase não contem proteínas, pois as macromoléculas não atravessam a barreira de filtração glomerular.
Células mesangiais
	Além das células endoteliais e dos podócitos, os glomérulos contêm as células mesangiais internas, mergulhadas em matriz mesangial. Há locais do glomérulo em que a lâmina basal não envolve toda a circunferência de um só capilar, constituindo uma membrana comum a duas ou mais alças capilares que se localizam as células mesangiais, as quais podem também ser encontradas na parede dos capilares glomerulares, entre as células endoteliais e a lâmina basal.
	As células mesangiais são contráteis e têm receptores para angiotensina II. A ativação desses receptores reduz o fluxo sanguíneo glomerular. Contêm ainda receptores para o fator natriurético atrial, produzido pelas células musculares do átrio do coração. Esse hormônio é um vasodilatador e relaxa as células mesangiais, aumentando o volume de sangue que passa pelos capilares e a área disponível para filtração. As células mesangiais têm ainda outras funções: garantir suporte estrutural ao glomérulo, sintetizar a matriz extracelular, fagocitar e digerir substâncias normais e patológicas retidas pela barreira de filtração e produzir moléculas biologicamente ativas, como prostaglandinas e endotelinas. As endotelinas causam contração da musculatura lisa das arteríolas aferentes e eferentes do glomérulo.
Túbulo contorcido proximal
	No polo urinário do corpúsculo renal, o folheto parietal da cápsula de Bowman se continua com o epitélio cuboide ou colunar baixo do túbulo contorcido proximal. Esse túbulo é mais longo que o distal.
	As células do túbulo proximal têm o citoplasma bastante acidófilo, especialmente no seu polo basal, em razão de numerosas mitocôndrias alongadas presentes nessa região.
	A superfície apical das células dos túbulos proximais apresenta grande quantidade de microvilos, que formam a orla em escova. Nesta superfície, há grande atividade de endocitose de material presente no lúmen dos túbulos; dessa maneira, são reabsorvidas pelas células dos túbulos macromoléculas que atravessaram a barreira de filtração glomerular.
	No túbulo contorcido proximal, inicia-se o processo de reabsorção do filtrado glomerular e excreção de substâncias no lúmen tubular. Esse segmento do néfron reabsorve a totalidade da glicose e dos aminoácidos contidos no filtrado glomerular, e mais de 70% da água, bicarbonato e cloreto de sódio, além dos íons cálcio e fosfato. A glicose, os aminoácidos e os íons são reabsorvidos por proteínas transportadoras e por transporte ativo, sendo que a água acompanha passivamente o transporte dessas substâncias. Desse modo, a osmolaridade do conteúdo do túbulo é mantida ao longo do tubo. Quando a quantidade de glicose no filtrado excede a capacidade de reabsorção dos túbulos proximais, a urina se torna mais abundante e contém glicose.
Alça de Henle
	A alça de Henle é uma estrutura em forma de U que consiste em um segmento delgado interposto a dois segmentos espessos. Estestêm estrutura muito semelhante à do túbulo contorcido distal. O lúmen desse segmento do néfron é relativamente amplo, porque a parede da alça é formada por epitélio simples pavimentoso.
	A alça de Henle participa da retenção de água. Apenas animais com essa alça são capazes de produzir urina hipertônica e, assim, poupar a água do corpo, evitando a necessidade de beber água continuamente. A alça de Henle cria um gradiente de hipertonicidade no interstício medular, que influencia a concentração da urina à medida que ela passa pelos ductos coletores.
	Embora o segmento delgado descendente da alça de Henle seja completamente permeável à água, o segmento ascendente inteiro é impermeável. No segmento espesso ascendente, o cloreto de sódio é transportado ativamente para fora da alça, a fim de estabelecer o gradiente medular já mencionado e que é necessário para concentrar a urina. A osmolaridade do interstício renal nas extremidades das pirâmides (medula renal) é aproximadamente 4 vezes maior do que a do sangue.
Túbulo contorcido distal
	A parte espessa da alça de Henle penetra na região cortical e, após curto trajeto, torna-se tortuosa e passa a se chamar túbulo contorcido distal, revestido por epitélio cúbico simples.
	No túbulo contorcido distal existe uma troca iônica, desde que haja quantidade suficiente de aldosterona circulante. Ocorre ainda absorção de sódio, e potássio é excretado. Esse mecanismo influencia o conteúdo de sais e água no organismo. O túbulo distal também secreta os íons hidrogênio e amônia para a urina, atividade essencial para o equilíbrio acidobásico do sangue.
	Uma propriedade muito importante dos túbulos distais é o fato de um segmento desses túbulos aproximar-se do corpúsculo renal do mesmo néfron, local onde a parede do túbulo se modifica. Suas células tornam-se cilíndricas, altas e com núcleos alongados e muito próximos uns dos outros. Esse segmento modificado da parede do túbulo distal, que aparece mais escuro nos cortes corados, devido à proximidade dos núcleos de suas células, chama-se mácula densa. A mácula densa é sensível ao conteúdo iônico e ao volume de água no fluído tubular, produzindo moléculas sinalizadoras que promovem a liberação da enzima renina na circulação.
Túbulos e ductos coletores
	O conteúdo dos túbulos distais passa para os túbulos coletores, que desembocam em tubos mais calibrosos, os ductos coletores, que se dirigem para as papilas renais. Tanto os túbulos como os ductos coletores seguem um trajeto retilíneo.
	Os ductos coletores da medula participam dos mecanismos de concentração da urina por meio de retenção de água, sob influência do hormônio antidiurético liberado na pars nervosa da hipófise.
Aparelho justaglomerular
	Próximo ao corpúsculo renal, a arteríola aferente (às vezes também a eferente) não tem membrana elástica interna e suas células musculares apresentam-se modificadas. Essas células são chamadas justaglomerulares ou célula JG e têm núcleos esféricos e citoplasma contendo grânulos de secreção. A secreção desses grânulos participa da regulação da pressão sanguínea.
	A mácula densa do túbulo distal geralmente se localiza próximo às células justaglomerulares, formando com elas um conjunto chamado aparelho justaglomerular.
	Ao microscópio eletrônico, as células justaglomerulares apresentam características de células secretoras de proteínas, tais como retículo endoplasmático rugoso abundante e complexo de Golgi desenvolvido.
	As células justaglomerulares produzem a enzima renina, mas ela não atua diretamente. A renina aumenta a pressão arterial e a secreção de aldosterona (um hormônio da cortical da glândula adrenal), por intermédio do angiotensinogênio (uma globulina do plasma). Atuando sobre o angiotensinogênio, a renina libera a angiotensina I. Uma enzima do plasma remove dois aminoácidos da angiotensina I, formando a angiotensina II.
	Os principais efeitos fisiológicos da angiotensina II são: aumentar a pressão sanguínea e induzir a secreção de aldosterona (hormônio que inibe a excreção do sódio pelos rins) pela glândula adrenal. A deficiência em sódio é um estímulo para a liberação da renina, que acelera a secreção de aldosterona. Inversamente, o excesso de sódio no sangue deprime a secreção de renina, que inibe a produção de aldosterona, aumentando, então, a excreção de sódio pela urina.
	O aparelho justaglomerular exerce, portanto, um importante papel no controle do balanço hídrico (já que água é retida ou eliminada junto com o sódio) e do equilíbrio iônico do meio interno.
Interstício renal
	O espaço entre os componentes dos néfrons e os vasos sanguíneos e linfáticos se chama interstício renal. Ele é muito escasso na cortical, mas aumenta na medular. Além disso, contém pequena quantidade de tecido conjuntivo, com fibroblastos, algumas fibras colágenas e, principalmente na medula, uma substância fundamental muito hidratada e rica em proteoglicanos. 
	As células do interstício da cortical renal produzem 85% da eritropoetina do organismo, um hormônio glicoproteico que estimula a produção de eritrócitos pelas células da medula óssea. O fígado sintetiza os 15% restantes da eritropoetina necessária para o bom funcionamento do erítron. Doenças renais podem levar a uma profunda anemia decorrente da deficiência de produção de eritropoetina, pois o fígado não tem capacidade de suprir, sozinho, as necessidades do organismo.
Bexiga e vias urinárias
	A bexiga armazena a urina formada pelos rins por algum tempo e a conduz para o exterior pelas vias urinárias. Os cálices, a pélvis, o ureter e a bexiga têm a mesma estrutura básica, embora suas paredes se tornem gradualmente mais espessas na direção da bexiga.
	A mucosa dessas estruturas é formada por um epitélio de transição e por uma lâmina própria de tecido conjuntivo, que varia do frouxo ao denso. Em torno da mucosa, há feixes de tecido muscular liso.
	A células mais superficiais do epitélio de transição são responsáveis pela barreira osmótica entre a urina e os fluídos teciduais.
	O ureter atravessa a parede da bexiga obliquamente, de modo que se forma uma válvula que impede o refluxo de urina. A parte do ureter colocada na parede da bexiga mostra apenas músculo longitudinal, cuja contração abre a válvula e facilita a passagem de urina do ureter para a bexiga.
	As vias urinárias são envolvidas externamente por uma membrana adventícia, exceto a parte superior da bexiga, que é coberta por um folheto peritoneal.
Uretra
	É um tubo que transporta a urina da bexiga para o exterior no ato da micção. No sexo masculino, a uretra dá passagem ao esperma durante a ejaculação; no sexo feminino, é um órgão exclusivamente do sistema urinário.

Mais conteúdos dessa disciplina