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M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Jessica Anastácio Perícia, mediação e arbitragem Anastácio, Jessica Perícia, mediação e arbitragem / Jessica Anastácio. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2020. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-85-396-3167-4 (ePub/2020) e-ISBN 978-85-396-3168-1 (PDF/2020) 1. Contabilidade : Perícia Contábil 2. Mediação de conflitos 3. Termo de diligência I. Título. II. Série. 20-1092t CDD – 657.45 BISAC BUS001000 Índice para catálogo sistemático 1. Contabilidade : Perícia Contábil 657.45 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Jeane Passos de Souza – CRB 8a/6189) M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. PERÍCIA, MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM Jessica Anastácio M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Jeane Passos de Souza Gerente/Publisher Jeane Passos de Souza (jpassos@sp.senac.br) Coordenação Editorial/Prospecção Luís Américo Tousi Botelho (luis.tbotelho@sp.senac.br) Márcia Cavalheiro Rodrigues de Almeida (mcavalhe@sp.senac.br) Administrativo João Almeida Santos (joao.santos@sp.senac.br) Comercial Marcos Telmo da Costa (mtcosta@sp.senac.br) Acompanhamento Pedagógico Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka Otacilia da Paz Pereira Designer Educacional Diogo Maxwell Santos Felizardo Revisão Técnica Priscilla Silva Silvestrin Coordenação de Preparação e Revisão de Texto Luiza Elena Luchini Preparação de Texto Carolina Hidalgo Castelani Karinna A. C. Taddeo Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Correa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Stephanie dos Reis Baldin Ilustrações Stephanie dos Reis Baldin Imagens iStock Photos E-pub Ricardo Diana Proibida a reprodução sem autorização expressa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac São Paulo Rua 24 de Maio, 208 – 3o andar Centro – CEP 01041-000 – São Paulo – SP Caixa Postal 1120 – CEP 01032-970 – São Paulo – SP Tel. (11) 2187-4450 – Fax (11) 2187-4486 E-mail: editora@sp.senac.br Home page: http://www.livrariasenac.com.br © Editora Senac São Paulo, 2020 5 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Sumário Capítulo 1 Solução pacífica de conflitos: meios e métodos, 9 1 Solução por autocomposição, 10 2 Solução por heterocomposição, 16 3 Diferença entre juiz, árbitro, mediador, conciliador, 19 4 Perícia contábil judicial e extrajudicial, 23 Considerações finais, 25 Referências, 26 Capítulo 2 Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro, 29 1 A hierarquia das leis, 30 2 A Constituição Federal, 37 3 Ramos do direito, 38 4 Direito processual, 43 Considerações finais, 47 Referências, 48 Capítulo 3 Prova pericial, 51 1 A perícia no Código de Processo Civil, 52 2 Casos de deferimento ou indeferimento da prova pericial, 57 3 Nomeação de perito, 59 4 Presença de assistente técnico, 62 Considerações finais, 65 Referências, 66 Capítulo 4 O perito contábil, 69 1 Conceito de perito contábil, 70 2 Predicados do perito contábil, 72 3 Legislação específica relativa ao perito contábil, 74 4 Responsabilidades do perito, 75 5 Zelo profissional, 78 Considerações finais, 80 Referências, 81 Capítulo 5 A perícia contábil, 83 1 Conceito de perícia contábil, 84 2 Objetivo da perícia contábil, 85 3 Execução da perícia contábil, 86 4 Procedimentos de perícia contábil, 90 Considerações finais, 93 Referências, 93 Capítulo 6 Honorários periciais, 95 1 Conceito de honorários, 96 2 Critérios técnicos de elaboração de uma proposta de honorários periciais, 101 3 Honorários complementares, 105 Considerações finais, 106 Referências, 107 6 Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Capítulo 7 Planejamento em perícia contábil, 109 1 O planejamento da perícia contábil e sua relevância, 110 2 Cronograma do planejamento da perícia contábil, 115 3 Exemplos de planejamento em perícia contábil, 116 Considerações finais, 123 Referências, 123 Capítulo 8 Quesitos em perícia contábil, 125 1 Conceito e função dos quesitos, 126 2 Quesitos suplementares, 129 3 Exemplos de quesitos em sede de perícia contábil, 132 Considerações finais, 138 Referências, 139 Capítulo 9 Impedimento e suspeição do perito contábil, 141 1 Necessária imparcialidade do perito, 142 2 Renúncia à prestação de serviço pericial, 143 3 Exemplo de escusas em processo judicial, 147 Considerações finais, 150 Referências, 151 Capítulo 10 Termo de diligência, 153 1 Conceito do termo de diligência, 154 2 A importância do termo de diligência, 155 3 Exemplo do termo de diligência em sede de perícia contábil, 158 Considerações finais, 164 Referências, 165 Capítulo 11 Laudo pericial contábil e parecer técnico-contábil, 167 1 Diferenças entre laudo e parecer, 169 2 Função do laudo pericial contábil, 171 3 Estrutura do laudo pericial contábil, 172 4 Exemplo de laudo pericial contábil, 173 5 Laudo pericial contábil conjunto: conceito e particularidades, 176 Considerações finais, 177 Referências, 178 Capítulo 12 Perícia multidisciplinar, 181 1 A necessidade de utilização de trabalho de especialista, 182 2 Responsabilidade do perito com relação ao trabalho de especialista, 183 3 Exemplos em que é necessária a perícia multidisciplinar, 183 Considerações finais, 189 Referências, 190 Capítulo 13 Apuração de haveres em pequenas e médias empresas, 191 1 Apuração de haveres, 192 2 Definição do período, 194 3 Apuração do valor do patrimônio líquido, 195 4 Apuração da matéria intangível – goodwill ou fundo de comércio, 198 5 Balanço ajustado, 200 Considerações finais, 203 Referências, 204 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 14 Perícia contábil judicial, 207 1 Perícia judicial na fase instrutória cível, 208 2 Perícia judicial na fase instrutória trabalhista,212 3 Perícia judicial na liquidação de sentença, 215 Considerações finais, 219 Referências, 220 Capítulo 15 Perícia contábil em métodos alternativos de solução de conflitos, 221 1 Autocomposição: soluções pacíficas de conflitos, 223 2 Perícia na mediação, 226 3 Perícia na arbitragem, 229 Considerações finais, 235 Referências, 236 Capítulo 16 Exame de qualificação técnica, 239 1 Função do EQT, 240 2 Particularidades do EQT, 242 3 Forma do exame, periodicidade e critérios, 246 4 Exemplos de matéria exigida, 248 Considerações finais, 251 Referências, 252 Sobre a autora, 255 9 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Composição, no contexto jurídico, significa a concordância, a solu- ção de uma desavença. Existem duas maneiras de se realizar a compo- sição de um conflito: autocomposição e heterocomposição. A singularidade de cada indivíduo produz interesses contrastantes e divergentes, por isso, os conflitos são diferentes entre si e podem – e devem – ser tratados por mecanismos distintos. As disputas e, por conseguinte, os confrontos advindos delas poderão ser solucionados por meio do consenso atingido pelas próprias partes envolvidas; com auxílio de um terceiro, imparcial; ou por intermédio de uma decisão im- positiva deste. Capítulo 1 Solução pacífica de conflitos: meios e métodos 10 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Para tanto, serão apresentadas neste capítulo as noções gerais so- bre as formas de soluções pela ação consensual, que são a mediação e a conciliação, e também os conceitos sobre as soluções mediante a análise e o julgamento de um terceiro, a saber, arbitragem e jurisdição. Além disso, serão apresentadas as diferenças de cada uma das ter- ceiras figuras, que são alheias às partes que contribuem para as resolu- ções de conflitos atualmente, e as perícias contábeis judiciais e extrajudi- ciais como um auxílio na composição dos litígios. 1 Solução por autocomposição A solução por autocomposição caracteriza-se por uma decisão con- sensual atingida pelos próprios envolvidos, isto é, as partes em conflito têm o poder da decisão de sua solução. Figura 1 – Significado de autocomposição autocomposição por si mesmo solução Por tratar-se de uma concordância atingida pelas partes, a auto- composição assume-se como a maneira mais adequada para a so- lução de disputas, pois, dessa forma, deixará de assumir dois polos antagônicos, quando, além das opiniões divergentes, haveria ainda um “vencedor” e um “perdedor”. Diante disso, a Lei no 13.105 (BRASIL, 2015a), que ordena, disciplina e interpreta a condução do processo civil, o chamado Código de Processo Civil, valoriza e indica a autocomposição como primeira tentativa de des- fecho dos processos. A Lei emana em seu artigo 2o, incisos 2 e 3: 11Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consen- sual dos conflitos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução con- sensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advoga- dos, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusi- ve no curso do processo judicial. (BRASIL, 2015a). Sendo assim, a autocomposição torna-se possível à qualquer mo- mento, antes ou depois de um processo judicial, diante de uma renúncia parcial ou total do interesse de uma ou mais partes em favor da parte oponente. Segundo Cahali (2011, p. 55), tem como principal efeito fa- zer desaparecer o litígio: “se judicial, dá causa ao fim do processo; se preventiva, evita-o”. A autocomposição pode ser, conforme a Lei no 13.140, sobre “di- reitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam tran- sação” (BRASIL, 2015c), isto é, são direitos disponíveis aqueles que o indivíduo pode negociar ou abrir mão de desfrutar; em contrapartida, os direitos indisponíveis são todos aqueles dos quais o sujeito não pode abrir mão, por exemplo, o direito à vida, à liberdade, à saúde, à imagem e à dignidade. No que se refere à transação, significa a possibilidade de as partes prevenirem ou terminarem o conflito mediante concessões mútuas. Quando a Lei cita que são possíveis os “direitos indisponíveis que admitam transação” (BRASIL, 2015c), remete-se àqueles em que, apesar de indispensáveis, possa haver uma concessão de uma ou mais partes envolvidas para se chegar ao final do conflito, por exem- plo, questões de alimentos ou guarda de filhos. Além disso, para qualquer um dos métodos de autocomposição é ne- cessária a aceitação das partes, uma vez que ninguém é obrigado a man- ter-se em um processo de mediação ou conciliação (BRASIL, 2015a). 12 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Dessa forma, existem duas categorias de autocomposição: a nego- ciação direta, ou primária, e a negociação indireta. A negociação direta, muitas vezes, ocorre antes da entrada de um processo judicial, entre as partes ou os representantes, sem a presença de um terceiro. Por exem- plo, uma negociação que ocorre entre os representantes das partes que dialogam para entrar em um senso comum, podendo ser um advogado, um funcionário ou uma pessoa autorizada para falar em nome de uma das partes. Esses representantes são chamados prepostos. NA PRÁTICA Uma autocomposição primária pode ser uma “negociação trabalhista, em que se tem como integrantes o sindicato de determinada categoria profissional e o sindicato da categoria econômica respectiva ou uma empresa” (BARROS, 2007, p. 2). A negociação indireta é aquela em que a conversa entre os envolvi- dos é coordenada por um terceiro que está de fora da disputa e pode auxiliar para uma comunicação despolemizada também na busca de um acordo de ganhos mútuos, como a mediação e a conciliação, que serão abordadas nos próximos tópicos. 1.1 Solução por mediação Quando a negociação direta fica impedida, seja pelos motivos do impasse, seja pelo grau de envolvimento emocional das partes, a me- diação aparece como uma possibilidade para facilitar o diálogo, com o auxílio de um terceiro, que tem como objetivo tornar mais fácil a comu- nicação entre as partes, de modo a elaborar juntamente a solução para a controvérsia. 13Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O mediador permanece imparcial e apenas aproxima os envolvidos, de modo que, diante do diálogo, exista um melhor entendimento “das circunstâncias do problema, aliviando as pressões irracionais e dimi- nuindo a carga emocional que permeia o conflito e que está impossibi- litando uma análise equilibrada e afastando a possibilidade do acordo” (POSSATO;MAILLART, 2013, p. 466). Figura 2 – Objetivos do mediador Facilitar a comunicação Aliviar as pressões emocionais Proporcionar maior harmonia no relacionamento das partes Mais passivo na intervenção quanto ao mérito do conflito F A P M Fonte: adaptado de Barros (2007, p. 4). A mediação deve-se caracterizar pela independência do mediador de todas as partes, de modo que se assegure a imparcialidade, pela dispo- sição das partes em aceitar esse auxílio, pelo aspecto privado, “pelas ha- bilidades do mediador, pelas reuniões programadas, pela informalidade, pelo acordo mútuo e pela ausência de sentimento de vitória ou derrota” (POSSATO; MAILLART, 2013, p. 467). 14 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .IMPORTANTE A mediação contempla um método consensual de reso- lução de conflitos que conta com a ação imparcial de um terceiro que auxilia as partes opostas a construírem juntas uma solução para o impasse em que se encontram, pro- curando neutralizar as emoções, apresentando opções e facilitando a negociação de acordos de forma a superar o conflito antecedente, fortalecendo a relação anterior e pre- venindo o surgimento de controvérsias futuras. (POSSATO; MAILLART, 2013, p. 467). 1.2 Solução por conciliação A conciliação é um modelo de mediação com a intenção do acordo em si, com a diferença de que o conciliador exerce certa autoridade, participa do diálogo, propõe caminhos, recomenda, adverte, com o ob- jetivo de conciliar as partes (VASCONCELOS, 2008). Figura 3 – Objetivos do conciliador Aconselhar e induzir as partes a chegarem num acordo Receber as propostas de cada uma das partes e tentar aproximar tais propostas Mais ativo na intervenção quanto ao mérito do conflito A R M Fonte: adaptado de Barros (2007, p. 4). 15Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Pode-se notar que a diferença está na figura desse terceiro (media- dor ou conciliador), na maneira como conduz o processo. Porém, mui- tas vezes, em um processo de conciliação, o conciliador pode utilizar técnicas do mediador e vice-versa. O novo Código de Processo Civil (CPC), instituído pela Lei no 13.105/2015, prescreve que “a conciliação e a mediação são in- formadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia, da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da infor- malidade e da decisão informada” (BRASIL, 2015a). A confidencialidade é um aspecto valorizado nesse processo. O artigo 166 do CPC dedica 2 incisos para tratar desse ponto: § 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações pro- duzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utili- zado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes. § 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conci- liador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação. (BRASIL, 2015a). O objetivo desse princípio é criar um ambiente de franqueza nas negociações e discussões; não pode haver debate franco e acerta- mento de interesse caso o julgamento baseie-se no que for dito. De outro modo, a discussão seria falseada pela estratégia jurídica tra- çada para a vitória na fase litigiosa, impedindo a negociação, não se estabelecendo um mínimo de franqueza entre as partes (CUNHA; AZEVEDO NETO, 2014). Com o intuito de promover a autocomposição, os tribunais possuem centros que realizam sessões e audiências de conciliação e mediação e desenvolvem programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a 16 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .solução consensual de conflitos, sendo que, diante de um acordo nesse âmbito, a decisão é homologada pelo juiz e toma a mesma força judicial de uma sentença no cumprimento de seus termos. 2 Solução por heterocomposição A solução por heterocomposição caracteriza-se por uma decisão por parte de um terceiro, alheio ao conflito, que tem o poder para tal. Figura 4 – Significado de heterocomposição heterocomposição outro solução Pode-se dizer que a heterocomposição é necessária quando a auto- composição não pôde ser bem-sucedida, necessitando, então, da atua- ção também imparcial de um terceiro de nível superior – um árbitro ou um juiz – que age como representante do Estado para garantir a solução mais justa e adequada possível àquela controvérsia. Nessa modalidade de composição, há a arbitragem e a jurisdição. 2.1 Solução por arbitragem Diferentemente do que ocorre na mediação ou na conciliação, o ob- jetivo da arbitragem não será mais o de atingir o consenso – embora na dinâmica de qualquer processo, inclusive o arbitral, isso seja sempre possível e o mais recomendável –, mas o de levantar os fatos e tomar uma decisão da qual não se poderá recorrer. A arbitragem representa um processo que possui todas as garantias do procedimento judicial. Ela tem como intuito fazer com que as partes 17Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. envolvidas se sujeitem a um ou mais árbitros particulares, alheios às partes, porém indicados por elas mesmas para solucionar um conflito específico, compromissando-se antecipadamente a aceitar o resultado. NA PRÁTICA Um exemplo de cláusula de compromisso arbitral poderia ser a seguin- te (REZENDES, 2018): As partes [QUALIFICAÇÃO DAS PARTES] neste documento estabelecem que todas as controvérsias e conflitos rela- cionados ao presente contrato serão dirimidas por meio da arbitragem, conforme a Lei Federal no 9.307/96, e elegem a [INDICAR INSTITUIÇÃO], inscrita no CNPJ [INSERIR], matri- culada no Diário Oficial sob o no [INSERIR], situada no en- dereço comercial [INSERIR], e nomeiam o(s) árbitro único/ árbitros [QUALIFICAÇÃO DO(S) ÁRBITRO(S)], que deverá(ão) proferir a sentença arbitral [INSERIR LOCAL]. As Leis no 9.307/1996 e no 13.129/2015 dispõem sobre a arbitragem e deixam como direito e critério das partes a escolha das regras jurídi- cas que serão aplicadas, como os princípios gerais, usos e costumes, bem como as regras internacionais de comércio, desde que não haja descumprimento da ordem pública (BRASIL, 1996; 2015b). Portanto, trata-se de alternativa processual à disposição dos cida- dãos, com a prerrogativa de que as partes podem escolher os árbitros especialistas no tema da controvérsia. Podem, inclusive, escolher mais de um árbitro, desde que em número ímpar – comumente ocorre a se- leção de um ou três. Esse aspecto, aliado à rapidez de um procedimento que não com- porta recursos para outras instâncias, possibilita soluções rápidas, que se adequam mais à agilidade das relações modernas (VASCONCELOS, 18 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e alun o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .2008). Além disso, a arbitragem proporciona uma solução com tem- po determinado, aliviando o “afogamento” pelo qual o Poder Judiciário passa em virtude da quantidade e da morosidade dos processos. O acordo é denominado convenção de arbitragem, porém, só poderá ocorrer se tiver sido previsto em um contrato inicial que faça referência a compromisso arbitral ou cláusula compromissória. IMPORTANTE No processo de arbitragem, não existe mais a comunicação entre as partes. Desse modo, não há diálogo. Portanto, é preciso que um tercei- ro direcione as ações (ALVES et al., 2017, p. 263). 2.2 Solução por jurisdição A solução judicial ou por jurisdição caracteriza-se pela composição da disputa exercida pelos juízes e tribunais provenientes do Estado, que fazem as vezes do terceiro, alheio e substituto às partes, para decidir definitivamente e impor a solução. A sentença da ação judicial é a forma definitiva da resolução do con- flito de interesses trazida pelo Poder Judiciário, a qual sempre estará sob as determinações e interpretações das leis vigentes que serão apli- cadas de acordo com os fatos. Nesse processo, não há a tentativa de resolução por benefícios mútuos, já que o juiz determinará, de acordo com os fatos apresentados e a lei concernente, as atribuições de cada parte na solução do conflito julgado. É importante lembrar que, mesmo que o destino da causa esteja em uma terceira pessoa que fará valer tão somente o que abrangem os fatos e as leis, sempre existirá a intenção de criar um espaço construtivo de re- solução de conflitos, e não apenas de julgamento. Por isso, em qualquer 19Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. fase do processo, é possível a mediação ou a conciliação, pois o interes- se de autocomposição é sempre maior do que a sentença, uma vez que o consenso é atingido pelas partes, com a possibilidade de benefícios mútuos e sem a imposição de um terceiro. PARA SABER MAIS A mediação, conciliação e arbitragem são métodos extrajudiciais de resolução de conflitos, enquanto somente a jurisdição é considerada a forma judicial de composição. 3 Diferença entre juiz, árbitro, mediador, conciliador Conforme apresentado anteriormente, a figura do juiz, do árbitro, do mediador e do conciliador representa uma terceira pessoa, indepen- dente das partes, desinteressada com o resultado da ação em si, porém interessada na solução do conflito estabelecido. Entretanto, esses qua- tro papéis são distintos em vários outros pontos, pois cada um deles tem uma atuação específica dentro da composição de um conflito e/ou de um processo judicial. 3.1 Juiz O juiz é o representante do Estado para fazer valer as decisões da esfera judicial com a aplicação das normas e das leis estabelecidas, após a análise dos fatos e dos documentos. Para assumir a carreira de juiz, necessariamente deve-se ser aprovado em “concurso público de provas e títulos, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica”, conforme artigo 93 da Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 93). 20 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .O juiz é um amplo conhecedor das leis e da dinâmica do Estado, por isso analisa os fatos e as petições das partes conflitantes, ouve as par- tes e as testemunhas e ordena o detalhamento de provas, bem como de laudos periciais e outros documentos técnicos necessários. Diante de todas as evidências, estabelece as providências que devem ser toma- das pelas partes do processo. A postura do juiz também garante a imparcialidade à causa, estan- do ele totalmente alheio às partes, e o total desinteresse pessoal nos resultados da sentença, mas com o intuito de assegurar a convivência social e a ordem pública por meio da neutralização do conflito com a imposição de uma decisão. 3.2 Árbitro O árbitro é indicado quando as partes envolvidas estão em conflito em razão de divergências contratuais ou direitos patrimoniais e neces- sitam de um recurso rápido e determinante para o dissenso. O objetivo do árbitro é buscar informações técnicas sobre um as- sunto específico para a sua tomada de decisão. Portanto, ele ouve a narrativa das partes, dos advogados e das testemunhas, analisa docu- mentos e pode solicitar o auxílio de peritos também. O árbitro poderá decidir o litígio fundamentado nas regras do direito. IMPORTANTE O árbitro de uma ação é como um juiz de fato e de direito, e é permitido que ele articule a sentença arbitral que será irrevogável, porém, isso não lhe confere o poder jurisdicional (ALVES et al., 2017). 21Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. De acordo com as Leis no 9.307/1996 e no 13.129/2015, o árbitro pode ser qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes, além de possuir as seguintes características: “imparcialidade, indepen- dência, competência, diligência e discrição” (BRASIL, 1996). Apesar de a lei não exigir formação específica, é ideal que o árbitro tenha experiência no tema de natureza do conflito para o qual foi nome- ado, para facilitar o seu julgamento dos fatos controversos, além de ter noções de direito e conhecer o Regulamento de Arbitragem e o Código de Ética para Árbitro. Essa atividade é possível, por exemplo, ao contador, uma vez que ob- jetiva resolver questões contratuais ou relativas a direitos patrimoniais, sendo esses aspectos estudados pelo profissional da contabilidade. 3.3 Mediador Atua como facilitador da comunicação para que as próprias partes consigam chegar a um acordo. O mediador não tem como principal objetivo a solução do conflito puramente, mas o reestabelecimento da relação existente entre os polos em disputa. A atuação do mediador é mais adequada aos casos em que houve vínculo anterior entre as partes, a exemplo do que ocorre em matéria so- cietária e de direito de família. O mediador não sugere qualquer solução para o conflito. Sua função é a de auxiliar as partes a compreenderem as razões da discórdia, de maneira que elas possam reestabelecer a comunicação e identificar, por si próprias, soluções que atendam mutu- amente aos interesses. Para tanto, o mediador vale-se de técnicas pró- prias, com diálogo, paciência, simplicidade e constante esclarecimento. O mediador pode ser designado pelo tribunal ou escolhido pelas par- tes. Segundo a Lei no 13.140 (BRASIL, 2015c), que dispõe sobre mediação: 22 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Art. 9o Poderáfuncionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capaci- tada para fazer mediação, independentemente de integrar qual- quer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. [...] Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, gra- duada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de me- diadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aper- feiçoamento de Magistrados – Enfam ou pelos tribunais, observa- dos os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. Isto é, faz-se necessário que, para atuar como mediador de confli- tos, haja capacitação para lidar com as dinâmicas das relações e da comunicação. Também exigem-se conhecimentos multidisciplinares em aspectos sociológicos, psicológicos, de comunicação e de direito. A prática da mediação tem sido bastante explorada pelo campo da psicologia, pois os psicólogos estão aptos para lidar com aspectos psi- cológicos e emocionais e, atuando como mediadores, são capazes de perceberem e considerarem não só os elementos objetivos requeridos, mas também os afetivos e inconscientes dos conflitos, ultrapassando as questões jurídicas. Assim, podem proporcionar a adequada solução e o reestabelecimento da relação. Seguindo essa linha de pensamento, o Conselho Federal de Psicologia incentiva e disponibiliza centros especializados na promo- ção da comunicação entre as partes, de modo a prevenir ou solucionar os conflitos, por exemplo, na mediação familiar que envolvem aspectos complexos e para os quais são mais indicados a figura do mediador. 23Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3.4 Conciliador O conciliador é o sujeito que tem interesse na pura solução do con- flito e é mais indicado quando não houve nem haverá vínculo entre as partes, ou seja, quando a intenção dos conflitantes é apenas encontrar um desfecho para a causa em disputa. O conciliador pode sugerir soluções para o litígio, sendo, porém, proi- bido que haja constrangimento ou imposição de caminhos para que as partes conciliem. O profissional ouve as partes e propõe acordos que possam beneficiar a todos os envolvidos. Muitas vezes, essas propos- tas vão sendo modificadas com a ajuda do próprio conciliador até que se chegue ao acordo mais satisfatório para as partes. Por ser o conciliador uma espécie de mediador, as mesmas regras e competências aplicam-se aos dois profissionais, e são exigidos os conhecimentos interdisciplinares, acrescentando ao profissional conci- liador: exercer certa autoridade, tomar iniciativas, fazer recomendações e advertências e apresentar sugestões, com vistas à conciliação. 4 Perícia contábil judicial e extrajudicial Conforme a NBC TP 01 (CFC, 2015), define-se perícia contábil como: O conjunto de procedimentos técnicos e científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Isso indica que, durante a composição do litígio, o árbitro ou o juiz podem necessitar de um parecer profissional especializado, do qual o sentenciador não tenha o conhecimento indicado, ou que necessite de 24 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .maiores informações para se chegar à justa solução. O perito contábil também atua como meio para a solução pacífica de conflitos. Existem dois tipos de perícia contábil: a judicial e a extrajudicial. Na perícia contábil judicial, o juiz nomeia um perito-contador in- dependente e de sua confiança, dentro da tutela do Poder Judiciário, para atuar na sentença, averiguar os fatos levantados e apresentar seu laudo por escrito, inclusive respondendo aos quesitos (perguntas técnicas) determinados. PARA SABER MAIS Além do perito contábil, que é nomeado pelo juiz, as partes do processo podem nomear assistentes técnicos, que têm a mesma especialização contábil que o perito, porém agem em favor das partes, auxiliando na elaboração das perguntas técnicas que serão enviadas ao perito do juiz e emitindo o parecer técnico. Já na perícia contábil extrajudicial, acontece o oposto da judicial, pois ela ocorre fora da tutela do Poder Judiciário. Pode ser contratada por uma das partes interessadas ou por consenso de todos os requisi- tantes, com o objetivo de atuar no levantamento e na averiguação dos fatos e também como procedimento preparatório para uma eventual ação judicial. Isso demonstra que a perícia contábil é um meio de auxílio para a solução de conflitos, podendo ser aplicada na esfera judicial ou extraju- dicial, além de que o perito também pode atuar como árbitro ou, quando necessário, como perito arbitral. 25Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Considerações finais Este capítulo teve por objetivo apresentar noções gerais de soluções pacíficas de conflitos e diferenciar os métodos de solução de conflitos entre judiciais e extrajudiciais. Para isso, foram apresentados os con- ceitos de autocomposição e heterocomposição. A autocomposição é a resolução consensual entre as partes, poden- do ser direta, quando se entendem por si só ou por intermédio de um representante, ou indireta, quando conta com o auxílio de um terceiro, seja um mediador, seja um conciliador. O mediador tem por interesse principal o reestabelecimento da re- lação existente e da comunicação perdida, para que as partes consi- gam expor suas necessidades e opiniões de modo a chegar em um acordo e permanecer com a relação que foi anteriormente abalada. Já a conciliação é um processo mais simples e, por vezes, mais rápido, uma vez que o conciliador propõe soluções de acordo com as infor- mações das partes e não há a preocupação primordial em continui- dade da relação. Quanto à heterocomposição e seus meios, trata-se de que a decisão não parte dos litigantes mas de um terceiro, alheio às partes envolvidas, as quais se submeterão à decisão tomada por essa figura, que pode ser o árbitro ou o juiz. O árbitro é um profissional de confiança das partes e nomeado por elas para prover um julgamento de acordo com a análise dos fatos e dos documentos e mediante o contrato assinado entre os participan- tes, que já estabeleceram previamente a presença de uma conven- ção de arbitragem em caso de controvérsia e que estarão sujeitos às decisões desta. 26 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .O juiz, por sua vez, é o profissional nomeado pelo Estadopara re- solver o litígio, impondo a decisão a todas as partes; também o fará de acordo com a análise dos fatos, dos documentos e das testemunhas, porém no intuito de retomar a ordem pública, por meio do cumprimento das leis vigentes e concernentes ao caso. Mediação, conciliação e arbitragem são meios extrajudiciais para a resolução de conflitos; jurisdição é um meio judicial de composição de conflitos, em que o Estado usa sua força para manter a pacificação social e dar solução justa. Nesse caso, a perícia judicial auxilia o juiz na tomada de decisão quanto ao conflito estabelecido. Destaca-se que os conflitos são inerentes à existência humana porque as relações são plurais, peculiares entre si e também confli- tuosas. Uma vez que não há como eliminar a ocorrência do conflito da vida humana, não se deve suprimi-lo; pelo contrário, o conflito, quan- do adequadamente administrado, pode gerar resultados positivos (VASCONCELOS, 2008). Referências ALVES, A. et al. Perícia contábil I. Porto Alegre: Sagah, 2017. BARROS, Veronica Altef. Mediação: forma de solução de conflito e harmonia social. Uberlândia, 2007. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/ 79070160.pdf. Acesso em: 5 dez. 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm. Acesso em: 13 jan. 2019. BRASIL. Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996. Diário Oficial da União: Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307. htm. Acesso em: 9 jan. 2019. 27Solução pacífica de conflitos: meios e métodos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. BRASIL. Lei no 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União: Brasília, 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm. Acesso em: 9 jan. 2019. BRASIL. Lei no 13.129, de 26 de maio de 2015. Diário Oficial da União: Brasília, 2015b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/ 2015/Lei/L13129.htm. Acesso em: 9 jan. 2019. BRASIL. Lei no 13.140, de 26 de junho de 2015. Diário Oficial da União: Brasília, 2015c. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/Lei/L13140.htm. Acesso em: 2 fev. 2019. CAHALI, Francisco José. Curso de arbitragem: mediação, conciliação, Resolução CNJ 125/2010. São Paulo: RT, 2011. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC). CFC NBC TP 01. Brasília, 2015. Disponível em: https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_ TP_01.pdf. Acesso em: 15 jan. 2019. CUNHA, Leonardo Carneiro da; AZEVEDO NETO, João Luiz Lessa de. A media- ção e a conciliação no projeto do novo CPC: meios integrados de resolução de disputas. Revista de Direito, Santa Cruz do Sul, n. 5, out. 2014. POSSATO, Fabio Antunes; MAILLART, Adriana Silva. Os meios autocomposi- tivos de solução de conflitos e as comunidades de baixa renda: um enfoque sobre a efetividade na busca pela pacificação social e a prevenção da violência. Prisma Jurídico, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 447-478, jul./dez. 2013. REZENDES, Amanda Cristina de. Modelo de cláusulas e compromisso arbi- tral. Solucionar – Mediação e arbitragem, 2018. Disponível em: https://www. mediacaoearbitragem.com/modelo-de-clausulas-e-compromisso-arbitral/. Acesso em: 2 fev. 2019. VASCONCELOS, Carlos Eduardo de Oliveira. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São Paulo: Método, 2008. 29 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro Entender a formação do ordenamento jurídico brasileiro é importan- te para compreender o funcionamento das leis e da justiça no Brasil. A Constituição Federal (BRASIL, 1988) é considerada a maior lei do orde- namento jurídico nacional, composta por várias normas. A hierarquia entre as leis é essencial para compor uma ordem e também para as- segurar o controle da validade e a abrangência das normas, ou para solucionar eventual divergência entre elas. Neste capítulo, serão apresentadas a hierarquia das leis, a diferença entre direito público e direito privado, as leis incidentes, a sua interpreta- ção e a sua aplicação para que seja possível identificar a aplicação das legislações incidentais e específicas da perícia contábil. 30 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 1 A hierarquia das leis O sistema legislativo brasileiro tem 4 planos normativos instalados a serem respeitados (figura 1): Figura 1 – Planos normativos do sistema legislativo brasileiro Sistema legislativo nacional Sistema legislativo federal Sistema legislativo estadual Leis editadas no exercício de competência dos estados Engloba a Constituição Federal e suas emendas e leis complementares Leis editadas no exercício de competência dos municípios Engloba as leis federais: ordinárias, delegadas, medidas provisórias e decretos legislativos Sistema legislativo municipal A figura 1 demonstra que apenas o sistema legislativo nacional está em nível superior aos três demais, os quais são iguais hierarquicamente entre si, uma vez que todas as leis devem buscar seu fundamento de validade na Constituição Federal, a qual estabelece suas diretrizes, po- dendo entregar a competência para que os estados ou os municípios legislem suas matérias específicas. Portanto, eventuais conflitos entre essas normas são sanados de acordo com a competência do ente fe- derado para o tratamento da matéria e não pelo critério hierárquico. Além disso, cada sistema legislativo deve-se atentar também para o ordenamento jurídico a ser seguido para cada uma de suas normas. As leis não têm todas a mesma ordenação e alcance, apresentando dife- renças em essência e força, para que, diante de uma divergência entre determinações sobre o mesmo assunto, a lei de maior dimensão afaste os efeitos de uma lei de grau inferior. 31Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Essa ordenação parte do filósofo e jurista austríaco Hans Kelsen em seu livro Teoria pura do direito, cuja primeira edição data de 1934. O au- tor considerou o direito como um sistema de normas organizado, sob o fundamento de objetividade e validade da norma jurídica que somente passa a ser obrigatória e válida em virtude do comando de uma norma superior. Para isso, o autor instituiu que o direito se assemelha a uma pirâmide normativa, considerando que, uma vez que no decorrer do tempo as nor- mas são atualizadas ou completadas para melhor solucionar às neces- sidades de um povo, deve-se considerar que esses regulamentos só po- dem ser revogados ou alterados por outro de igual ou superior hierarquia. Figura 2 – Pirâmide normativa de Kelsen Leis constitucionais Leis complementares Leis ordinárias e leis delegadas Medidas provisórias Decretos legislativos Resoluções e atos administrativos A B C D E F Fonte: adaptado de Kelsen (1999). 1.1 Leis constitucionais Ponto mais elevado do ordenamento são as leis presentesna Constituição Federal, a que todas as demais normas devem estar su- bordinadas. Carvalho (2018, p. 78) diz que elas sobrepõem as demais 32 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .normas e “abriga, em grande parte, regras de estrutura, quer dizer, nor- mas que prescrevem como outras normas devem ser produzidas, mo- dificadas ou extintas”. Além de constar as permissões para os demais sistemas legislativos agirem. PARA SABER MAIS A atual Constituição Federal é a sétima na história do Brasil. Veja a seguir a estrutura da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988): • Título I – Princípios fundamentais. • Título II – Direitos e garantias fundamentais. • Título III – Organização do Estado. • Título IV – Organização dos Poderes. • Título V – Defesa do Estado e das instituições. • Título VI – Tributação e orçamento. • Título VII – Ordem econômica e financeira. • Título VIII – Ordem social. • Título IX – Disposições gerais. 1.1.1 Emendas à Constituição Processo legislativo que promove modificação pontual à Consti- tuição. Apesar de o texto constitucional ser considerado rígido – quando apenas por meio de processo especial é possível alterá-lo –, é também passível de reformas e atualizações em face da dinâmica da própria vida social. Uma vez promulgadas, as emendas são incorporadas à Constituição, integrando-a, ficando com o mesmo valor hierárquico. Cabe ressaltar, porém, que não são sobre todos os temas que as emendas à Constituição podem ser adotadas. A própria Lei Consti- tucional, em seu artigo 60, inciso 4o (BRASIL, 1988), protege algumas 33Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. matérias, chamadas de cláusulas pétreas, das quais as emendas não podem versar, sendo elas: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. (BRASIL, 1988, § 4o). 1.2 Leis complementares São integradoras das normas constitucionais, tendo como propó- sito regular pontos da Constituição que não estejam suficientemen- te explicitados. Portanto, são prescritas para complementar, explicar, adicionar algo à Constituição, conforme uma previsão expressa no próprio texto. A lei complementar não altera a Constituição ou cria novas regras, apenas regula as leis que já estão presentes no texto constitucional. Um exemplo de lei complementar muito utilizada na área contábil é o Código Tributário Nacional (CTN), que “dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário apli- cáveis à União, Estados e Municípios” (BRASIL, 1966). Foi acolhido pela Constituição de 1988 por meio de seu artigo 146, como status de lei complementar. Art. 146. Cabe à lei complementar: I – dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária. (BRASIL, 1988). 34 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .IMPORTANTE A lei complementar não altera a Constituição ou cria novas regras, ape- nas regula as leis que já estão presentes no texto constitucional. 1.3 Leis ordinárias São as leis produzidas pelo Poder Legislativo da União, pelos esta- dos e pelos municípios no campo de suas competências constitucio- nais. Essas matérias seguem o seguinte fluxo: proposição do projeto de lei; discussão e análise em plenário; votação e aprovação por de- putados ou senadores e, posteriormente, sanção pelo chefe do Poder Executivo, o presidente da República. Na prática, a lei ordinária costuma ser denominada simplesmen- te “lei”, sem qualquer adjetivação. São leis ordinárias: o Código Civil, o Código de Processo Civil e os Códigos em geral, a lei eleitoral, a de so- ciedade anônima, a do trabalho, a de defesa do consumidor, etc. 1.4 Leis delegadas Têm a mesma hierarquia das leis ordinárias, porém, são elaboradas e editadas pelo presidente da República, em razão de permissão do Poder Legislativo, por delegação expressa por meio de uma resolução do Congresso Nacional, que deverá especificar seus conteúdos e os termos de seus exercícios. São utilizadas para casos chamados de “relevância e urgência”, quando, por exemplo, a construção e aprovação de uma lei ordinária levaria muito tempo para poder agir em determinado fato. 35Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. NA PRÁTICA A última Lei Delegada instituída no Brasil foi no ano de 1992, pelo até então presidente Fernando Collor. Veja: Lei Delegada no 13, de 27 de agosto de 1992. Institui Gratificações de Atividade para os servidores civis do Poder Executivo, revê vantagens e dá outras providências. O presidente da República, faço saber que, no uso da dele- gação constante da Resolução no 1, de 1992-CN, decreto a seguinte lei: [...] Brasília, 27 de agosto de 1992; 171o da Independência e 104o da República. Fernando Collor. (BRASIL, 1992). 1.5 Medidas provisórias São atos normativos, com força de lei, que podem ser praticados pelo presidente da República em caso de urgência e relevância. Apesar de produzirem efeitos imediatos, as medidas provisórias (MPs) preci- sam da apreciação pelo Congresso Nacional (Câmara e Senado) e da aprovação para se converter definitivamente em lei ordinária. O prazo inicial de sua vigência é de sessenta dias, prorrogado auto- maticamente por igual período, caso não tenha sua votação concluída. Porém, se não for aprovada no prazo de 45 dias, a contar da sua pu- blicação pelo presidente, a medida impede todas as outras votações legislativas que estiverem tramitando em qualquer uma das Casas (Câmara ou Senado) até que seja votada. Se for ultrapassado o prazo de sessenta dias e a MP não for aprovada, ela perde a sua validade. 36 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Figura 3 – Esquematização de vigência e regime de urgência da medida provisória Presidente da República Lei Decreto legislativo Publicação da medida provisória Congresso Nacional Sanção ou veto 45 dias Regime de urgência 6045 Prazo: 60 dias 600 Prorrogação + 60 dias 120 Durante o período de sua vigência, a MP deve ser examinada pelo Congresso Nacional, que a sancionará, transformando-a em lei ordi- nária, ou a vetará, tendo, portanto, que publicar um decreto legislativopara coordenar os efeitos jurídicos gerados durante a vigência da MP. Destaca-se que caso o Congresso Nacional não edite o decreto le- gislativo para versar as relações sobre a perda do efeito da MP após o veto, em vez de perder a eficácia, as ordenações e as relações pratica- das durante sua vigência serão mantidas, por considerar essa ação do Poder Legislativo como uma omissão. PARA SABER MAIS As MPs são uma inovação da Constituição Federal de 1988. Anterior- mente a elas, eram praticados os decretos-leis, prescritos pela Cons- tituição Federal de 1937, que eram atos expedidos pelo presidente da República em período de exceção ou de transição (quando não existe o Poder Legislativo regular, modificando ou revogando leis em vigor). Eram editados em caso de urgência e publicados no Diário Oficial da União, remetidos ao Congresso Nacional para serem apreciados no prazo de sessenta dias e, caso não fossem examinados nesse período, eram aprovados por decurso de prazo. 37Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 1.6 Decretos legislativos São atos de competência exclusiva do Congresso Nacional para versar sobre as matérias previstas no art. 49 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e regulamentá-las, por exemplo: • tratados e acordos internacionais; • aprovar o estado de defesa e a intervenção federal; • julgar as contas prestadas pelo presidente da República. 1.7 Resoluções São atos do Congresso Nacional, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados que, geralmente, discutem e editam matérias de suas competências e interesses específicos em âmbito interno, como questões concernentes à licença ou à perda de cargo por deputados ou senadores. Existem também as resoluções editadas pelos poderes executivo e judiciário no intuito de regulamentar leis sobre determinados assun- tos, também específicos, como as resoluções editadas pelo Conselho Nacional de Justiça. 2 A Constituição Federal De acordo com o dicionário Michaelis, o termo “constituição” significa: o conjunto das leis fundamentais que regulam a organização po- lítica de uma nação, geralmente proposto e votado por um con- gresso constituído por representantes do povo, impondo regras de ação inflexíveis quanto aos limites das atividades e competências dos poderes públicos e estabelecendo direitos, deveres e garantias individuais de seus cidadãos, buscando assegurar a ordem social, a paz e a justiça para todos. (MICHAELIS, 2019). 38 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Segundo Martins (2015, p. 55), “a Constituição é o conjunto normati- vo disciplinador de um país”, sendo que na sociedade moderna é dever do Estado ou Governo assegurar direitos e garantias fundamentais à sua população. A Constituição Federal (CF) de 1988 é considerada uma das mais modernas e extensas do mundo e especifica os direitos individuais e coletivos dos brasileiros. Em seu preâmbulo: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, des- tinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igual- dade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fra- terna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solu- ção pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 1988). A Constituição divide os direitos em concepções. A primeira preten- de valorizar o homem, assegurar liberdade a fim de formar a sociedade civil, isto é, direitos à liberdade e igualdade. A segunda concepção es- tabelece direitos econômicos, sociais, culturais e coletivos. A terceira concepção pretende proteger o meio ambiente, o patrimônio comum da humanidade, a comunicação e a paz. Para garantir o cumprimento de cada uma dessas concepções, o texto constitucional divide os direitos em ramos, trata de leis para cada um deles e hierarquiza as leis e o Poder Judiciário. 3 Ramos do direito Segundo Martins (2015, p. 4), “o Direito é um conjunto de princí- pios, de regras e de instituições destinado a regular a vida humana em sociedade”, ou seja, é um conjunto, pois é formado por várias par- tes organizadas em um sistema, com princípios próprios, como os da 39Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. boa-fé, por exemplo, com regras que são compreendidas em códigos em geral ou nas inúmeras leis, além de instituições que criam, exe- cutam e organizam essas regulações, como os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Em razão das várias partes do sistema do direito, ele costuma ser segregado, perfazendo os ramos do direito. A primeira ramificação tra- ta-se do direito natural e do direito positivo. De maneira diagramada, os ramos do direito podem ser ilustrados da seguinte forma: Figura 4 – Organograma do direito Direito Natural Positivo Nacional Constitucional Administrativo Financeiro Processual Econômico Penal Tributário Seguridade Público Privado Público Privado Internacional EmpresarialCivil Trabalho O direito natural é aquele inerente à própria raça humana em contato com o ambiente ao seu redor, em que as regras são estabelecidas pela natureza e não pelo homem. Cabe somente ao homem adaptar-se às leis imutáveis e preservá-las para garantir a sobrevivência e a conti- nuidade de sua própria espécie, para que assim se utilize dos demais ramos do direito. Por não ser possível interferência humana, o direito natural não possui subdivisões. 40 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Já o direito positivo é a regra estabelecida pelo homem, enquanto regulador de suas atividades em sociedade, é a norma legal proveniente dos órgãos que têm por intuito principal assegurar a convivência so- cial e a ordem pública, geralmente representadas pela figura do Estado. Para o direito positivo existe uma subdivisão entre: direito internacional e direito nacional. Estes, por sua vez, são novamente subclassificados em direito público e direito privado. O direito internacional público pretende regular questões internacio- nais de ordem pública e envolvem todas as nações, garantindo a relação entre elas, a partir de uma visão da humanidade como um todo. Alguns exemplos são os tratados internacionais, a Organização das Nações Unidas (ONU), as declarações e as convenções referentes à guerra e à paz, entre outros. O direito internacional privado objetiva regular a relação das pesso- as entre as divisões territoriais em que existam normas diferentes para cada território sobre um mesmo assunto, por exemplo, leis de imigração, casamento entre diferentes nacionalidades, leis de trabalhoou qualquer outra em que o sujeito esteja sob diferentes normas jurídicas em razão do espaço territorial que ocupa em determinado momento. Por conseguinte, os direitos nacionais público e privado são seme- lhantes às características de classificações do direito internacional, en- tretanto versam sobre as relações dentro da nação específica a que se referem. Portanto, o direito nacional público envolve os processos regulatórios de manutenção do bem comum do Estado e das pessoas à mercê dele (MARTINS, 2015). Fazem parte do direito nacional público: • o constitucional – são os princípios e as regras de estrutura do Estado que garantem os direitos individuais; por ser uma norma hierárquica superior, prevalece sobre todas as outras; 41Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. • o econômico – trata-se do conjunto de princípios, de regras e de instituições que visam à intervenção do Estado no domínio econômico, a fim de garantir uma organização da ordem econô- mica com relação à soberania de autogestão pelo Estado, à pro- priedade privada, à livre concorrência, à defesa do consumidor, do meio ambiente e do trabalho e à redução das desigualdades regionais e sociais; • o administrativo – regula a atividade das pessoas jurídicas públicas, das instituições e dos órgãos públicos, podendo ser todos os ministérios e as secretarias ou empresas públicas que exploram atividade econômica; • o penal – o conjunto de normas jurídicas que trata de delitos e crimes, tendo em vista que os indivíduos podem infringem as leis estabelecidas e atingir natureza criminal em seus atos, necessi- tando de medidas aplicáveis a quem pratica tais atos, além de tipificar os crimes e as penas para eles; • o financeiro – disciplina a despesa, a receita, o orçamento e o crédito públicos para garantir o funcionamento das atividades do Estado; • o tributário – rege o poder fiscal do Estado e suas relações; trata sobre uma das receitas públicas que é o tributo e se baseia nos princípios da legalidade, da anterioridade, da igualdade, da veda- ção do confisco e da uniformidade; • o processual, a saber, civil, penal e trabalhista – diz respeito ao Poder Judiciário e ao juiz, bem como sobre o desenvolvimento do processo, pois entende-se que cabe ao Estado julgar as questões que lhe forem submetidas, tornando o direito aplicável; • o da seguridade social (previdência social, assistência social e saúde) – são os princípios que estabelecem um sistema de 42 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .proteção social aos indivíduos contra circunstâncias que os im- peçam de prover suas necessidades pessoais básicas e, por isso, dependem do Poder Público, que visará assegurar seus direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social. O direito nacional privado responsabiliza-se pelos interesses indivi- duais das pessoas, pelas normas contratuais estabelecidas de modo particular entre as partes de uma negociação, pela necessidade e von- tade em estabelecer e manter relações individuais entre os sujeitos da sociedade (MARTINS, 2015). Portanto, engloba: • direito civil – trata-se dos princípios e das regras que instituem as relações entre pessoas, fatos, atos jurídicos, família e suces- sões, e entre pessoas e bens de que se utilizam, obrigações e contratos; • direito empresarial (antigo direito comercial) – regula os atos empresariais por meio de um conjunto de normas disciplina- res sobre os direitos e as obrigações dos empresários, sobre as sociedades, as propriedades industriais, etc.; • direito do trabalho – objetiva proteger o empregado contra pos- síveis abusos praticados pelo empregador e assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com medidas de proteção estabelecidas pelo Estado, de modo a com- pensar a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, dando ao último, portanto, superioridade jurídica. PARA PENSAR João foi contratado como funcionário da empresa ABC. Seu contrato de trabalho é regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), uma nor- ma de ordem pública que incide sobre a relação de emprego. Em sua opi- nião, o direito do trabalho poderia pertencer ao direito público? Por quê? 43Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. As ramificações do direito são critérios utilizados para clarificar o sistema complexo que envolve a ciência do direito, porém, é importante ressaltar que todas as classificações se relacionam entre si e se com- plementam, principalmente o direito público e o privado, uma vez que o público não se encerra no estatal, assim como também não há um interesse privado que seja completamente autônomo, independente, isolado do interesse público. PARA PENSAR Como as atividades de perícia podem atuar em cada ramo do direito? E qual seria o seu papel em cada um deles? 4 Direito processual O ramo do direito de maior atuação das perícias em geral, ou espe- cificamente da perícia contábil, é o direito processual em qualquer uma das três áreas – civil, penal ou trabalhista –, pois um processo judicial tem como intuito levar ao juiz os elementos de prova necessários para assegurar uma solução justa à ação. As pessoas, como componentes essenciais da sociedade, são do- tadas de direitos e obrigações para com o Estado e para com outras pessoas com que se relacionam. São consideradas pessoas tanto as físicas quanto as jurídicas. Pessoas físicas são todas aquelas com personalidade civil, iniciada quando do nascimento, e com capacidade jurídica, podendo ser de di- reito ou de fato. A capacidade de direito é adquirida no nascimento com vida, e a de fato caracteriza-se pelo discernimento para a prática de seus atos, expressão de suas vontades e consciência plena. 44 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .As pessoas jurídicas são as entidades constituídas por pessoas ou bens que possuam vida, direitos, obrigações e patrimônios próprios, podendo ser essas públicas (União, estados, municípios, autarquias) ou privadas (associações, sociedades, fundações privadas, organizações religiosas, partidos políticos). PARA SABER MAIS A pessoa jurídica possui personalidade jurídica própria e foi criada para garantir a distinção entre a pessoa jurídica e os seus membros, que são as pessoas físicas, principalmente nas relações entre os patrimônios e as responsabilidades para com eles. Sendo o patrimônio objeto da contabilidade, o princípio da entidade é aplicado nesse caso, quando reconhece que o patrimônio da instituição não se confunde com o patrimônio dos seus sócios. Essas pessoas estabelecem entre si fatos e atos jurídicos, que são os acontecimentos a partir dos quais as relações jurídicas se formam, se modificamou se extinguem, provenientes da ação humana que pre- tende adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. Dos atos jurídicos, surge o negócio jurídico, que se trata da vontade de uma pessoa em adquirir, modificar, alterar ou extinguir uma relação jurídica. A pessoa adquire quando compra um bem; modifica quando cede direitos, altera quando faz renovação; extingue quando faz o pa- gamento ou desfaz uma sociedade. Os defeitos dos negócios jurídicos, provenientes de erro, dolo, coa- ção, estado de perigo, lesão, fraude e conflitos, são abordados dentro das ações processuais, colocando em exercício a tutela do Estado para solução das controvérsias existentes entre as partes, dentro de termos e procedimentos coordenados. As ações judiciais em geral, sejam elas de qualquer área do direito processual (civil, penal ou trabalhista), têm como elementos os sujeitos, 45Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. que são autor e réu; o objeto, que se trata do pedido de um pronuncia- mento judicial; e a causa, que presume a existência de um direito asse- gurado ao autor, o qual gerou a necessidade de garanti-lo. Além disso, todas as causas estão sujeitas a procedimentos co- muns a elas, por exemplo, indicar, na petição inicial, todos os elementos das ações (sujeitos, objeto e causa); o fato com as suas especificações; o pedido e os fundamentos jurídicos dele; e as provas com que pretende demonstrar serem verdadeiros os fatos por ele levantados. Em um método de heterocomposição de conflitos – como no pro- cesso jurisdicional –, as provas merecem destaque, pois são elas que levam o julgador à convicção em relação à veracidade ou não dos fatos apresentados pelas partes, dando a ele subsídios para decidir de manei- ra mais justa possível o litígio por meio da comprovação fundamentada. Nesse ponto, a perícia assume, de acordo com o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), a posição de um dos meios de provas admitidas, que consistem em exame, avaliação e vistoria de uma ou mais pro- vas das quais seja necessário obter informações técnicas ou melhor qualificação sobre determinado assunto, com o objetivo de confirmar a veracidade dos fatos e instaurar a convicção do juiz. 4.1 Direito processual civil O ramo do direito de maior atuação das perícias em geral, ou es- pecificamente da perícia contábil, é o direito processual em qualquer uma das três áreas – civil, penal ou trabalhista –, pois, em um processo judicial, a perícia tem como intuito levar ao juiz os elementos de prova necessários para assegurar uma solução justa à ação. A maior parte das regras do direito processual civil está no Código de Processo Civil – Lei no 13.105/2015 (BRASIL, 2015) –, que ordena, disciplina e interpreta a condução do processo civil. 46 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4.2 Direito processual penal O direito processual penal trata a condução de um processo de na- tureza criminal sob o conjunto de normas jurídicas que regula o poder punitivo do Estado, o direito penal. A sua principal fonte é a Constituição Federal, na qual, principalmente no artigo 5o, estão presentes os direitos e as garantias fundamentais, bem como os direitos e os deveres indivi- duais e coletivos (BRASIL, 1988). O texto constitucional apresenta alguns crimes no artigo 5o (incisos XLI, XLII, XLIII e XLIV). Define também os princípios que devem regular todos os processos penais: legalidade, ampla defesa e irretroatividade. Quadro 1 – Os três princípios que regulam os processos penais LEGALIDADE AMPLA DEFESA IRRETROATIVIDADE A Constituição Federal emana que não há crime sem nenhuma lei anterior definindo-o como tal ou que ninguém será processado ou sentenciado senão pela autoridade competente, nem privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, e até então não poderá ser submetido à identificação de criminoso ou se admitir, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Além disso, aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e os recursos a ela inerentes. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu, sendo que ele não pode ser considerado culpado de um ato que não era crime no momento cometido. Fonte: adaptado de Brasil (1988). Além disso, prescreve as punições a serem adotadas quando com- provado o crime, podendo ser: privação da liberdade, perda dos bens, multas, prestações de serviços sociais, suspensão ou interdição de di- reitos. E, por fim, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) define os limites de aplicações das penas e os direitos dos réus (incisos XLVII, XLVIII, XLIX, LI, LXI, LXIII, LXV, LXVI e LXVII). 47Estrutura do ordenamento jurídico brasileiro M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, chamado Código Penal, estabelece de maneira mais completa as penas e os crimes, sendo a segunda fonte de regulamentação do direito proces- sual penal. Apesar de antigo, o Código possui várias alterações pos- teriores para compreender a maioria dos crimes e das penas, estando sempre, porém, sujeito aos crimes, princípios e limites impostos pela Constituição Federal. 4.3 Direito processual trabalhista O direito brasileiro não possui um Código de Processo do Trabalho. Em razão disso, a maior parte das normas de processos trabalhistas está entre os artigos 643 e 910 da CLT; ela também possui normas que regulam a atuação e os limites entre empregadores e empregados. O direito processual civil também é uma fonte subsidiária do direito processual trabalhista, no caso de não haver na CLT regras para de- terminados casos e desde que não seja incompatível com a própria Consolidação. Por isso, os processos trabalhistas são conduzidos sob os mesmos princípios do direito processual em geral e do Código de Processo Civil. PARA SABER MAIS Consulte na Constituição Federal e na CLT os artigos e os incisos cita- dos no capítulo para conhecer os textos originais da legislação. Vale uma conferida! Considerações finais Este capítulo teve como objetivo elucidar conceitos sobre a hierar- quia das leis e sua relevância, apontando também as normatizações possíveis para garantir ao Estado sua função regulamentadora e man- tenedora da ordem pública. 48 Perícia, mediação e arbitragem Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Foram apresentados os ramos do direito, sendo que partem dele os direitos natural e positivo. Do direito positivo derivam o internacional e o nacional, ambos com subdivisões de público e privado. No campo do direito nacional público estão o constitucional, o econômico, o adminis- trativo, o penal, o financeiro, o tributário, o processual e o da seguridade social;
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