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TÉCNICAS DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA Técnicas de Higiene Brônquica A abordagem fisioterapêutica na pediatria e neonatologia difere de forma substancial das práticas utilizadas no adulto, devendo ser continuamente adaptada a esses pacientes em constante crescimento e desenvolvimento. Drenagem Postural: Nessa técnica a ação da gravidade atua auxiliando o deslocamento de secreções periféricas para regiões proximais do pulmão. O uso do posicionamento como forma de drenagem baseia-se na anatomia da árvore brônquica. Adotando-se a postura invertida do segmento pulmonar acometido, a secreção é encaminhada para uma porção mais central, em que será removida por meio de tosse ou aspiração. Vibrocompressão: A vibrocompressão associa essa vibração com compressão torácica. O fundamento da vibração está vinculado à propriedade do muco de liquefazer-se durante a agitação, portanto, o emprego desse recurso facilita a depuração da secreção. Aceleração Fluxo Expiratório (AFE): Consiste em um movimento toracoabdominal sincronizado. O fisioterapeuta posiciona-se em pé ao lado do paciente, coloca uma mão sobre o tórax da criança (entre a fúrcula esternal e a linha intermamária) e a outra sobre o abdome (em cima do umbigo) e faz um movimento sincrônico aproximando as duas mãos do inicio ao fim da expiração. Pode ser dividida em AFE rápido (durante a expiração realiza-se a aceleração do fluxo, sendo muito utilizado na presença de roncos para deslocar secreções de médio a grande calibre) ou AFE lento (mobiliza secreções dos pequenos brônquios até as vias aéreas periféricas, sendo realizado principalmente quando a ausculta pulmonar indicar estertores crepitantes ou sibilos, afim de evitar o colabamento alveolar). Expiração Lenta e Prolongada (ELPr): É uma técnica de expiração lenta prolongada com a glote aberta que visa carrear secreções de vias brônquicas de médio calibre. A manobra é passiva e realizada em decúbito dorsal, uma mão do fisioterapeuta fica na região abdominal e outra mão na região torácica, faz-se uma pressão simétrica toracoabdominal lenta no final de uma expiração espontânea, prolongando o movimento de 2 a 3 tentativas inspiratórias, promovendo um aumento do tempo expiratório e uma melhor desinsuflação pulmonar, o que evita o colapso dinâmico ou estreitamento das vias aéreas. Hiperinsuflação Pulmonar com Compressão Torácica (Bag Squeezing): Trata-se de uma série de excursões respiratórias amplas, profundas, com uma pausa inspiratória de 2 a 3 segundos, seguida de rápida expiração simulando a tosse. A técnica consiste na utilização de uma bolsa de hiperinsuflação manual (Ambu) em associação com manobras de vibração e pressão torácica. Deve ser realizada por 2 fisioterapeutas em uma atuação em conjunta. O primeiro administrara o ambu, fornecendo um volume maior que o volume corrente (VC) utilizado pelo paciente e o segundo sincronizará a manobra de vibrocompressão após a hiperinsuflação. Desse modo, provoca-se a aceleração do fluxo expiratório, o que gera um fluxo turbulento e estimula o mecanismo de tosse, levando a um deslocamento das secreções da periferia pulmonar e carreando-as para a região de vias aéreas de maior calibre. ** Geralmente essa técnica é mais utilizada em adultos e crianças, devendo-se ter cautela na utilização em RN, devido à alteração do fluxo cerebral. Glossopulsão Retrógrada: É uma manobra aplicada na tentativa de compensar sua incapacidade de expectorar. Ela conduz as secreções eliminadas do fundo da cavidade bucal até a comissura labial para que sejam expelidas. Depois que as secreções forem projetadas para o fundo da cavidade bucal, o fisioterapeuta segura, com uma das mãos, a cabeça do paciente, o polegar deve ser apoiado sob o maxilar, na base da língua, impedindo a deglutição. Os outros quatro dedos são suavemente apoiados sobre o crânio, sustentando a cabeça. Durante o tempo expiratório, o estreitamento provocado pelo apoio do polegar aumenta a velocidade do ar expirado impulsionando a secreção até a comissura labial. O muco poderá então ser coletado, sendo assim indicada para exame macroscópico de secreção. Drenagem Rinofaríngea Retrógrada: Manobra inspiratória forçada indicada para a remoção de secreções da rinofaringe. É realizada de forma passiva em lactentes e crianças pequenas, ou ativa nas acima de 4 a 5 anos. A técnica aproveita o reflexo inspiratório originado pelo choro ou após uma manobra de ELPr, AFE ou tosse provocada. Para aplicação da técnica na forma passiva, a criança deve estar posicionada em decúbito dorsal, elevado a aproximadamente 30°. O fisioterapeuta com uma das mãos, eleva a mandíbula, apoiando o dedo indicador na base da língua, ao final do tempo expiratório, obrigando a criança a inspirar profundamente pelo nariz. Nessa técnica poderá ser associada também com a instilação de soro fisiológico a 0,9%. Indicada para infecções aéreas extratorácicas e contra-indicadas na ausência de tosse reflexa/eficaz ou estridor laríngeo. Tosse: A tosse é um mecanismo de defesa para remoção de secreções brônquicas e de corpos estranhos das vias aéreas. Ela pode ser dirigida ou provocada. A tosse dirigida trata-se de um esforço de tosse voluntária que o fisioterapeuta obtém quando solicita à criança/adulto cooperante. A tosse provocada trata-se de uma tosse reflexa aplicada na criança pequena incapaz de cooperar e, portanto, de realizar uma tosse ativa. A criança é colocada em decúbito dorsal e, preferencialmente ao final da inspiração ou no inicio da expiração, realizar uma breve pressão do polegar sobre a fúrcula esternal (não realizar esse estímulo em neonatos). Aspiração Traqueal: É realizada quando há evidência de secreção pulmonar, como roncos e estertores na ausculta pulmonar, presença de secreção na cânula orotraqueal (COT), déficit nos mecanismos depurativos, queda de saturação com comprometimento do trabalho respiratório e após manobras de deslocamento de secreção. Instrumentos de Oscilação de Alta Frequência: Nessa modalidade utiliza-se como instrumentos o Flutter (força da gravidade), o Shaker (força da gravidade) e o Acapella (força de atuação magnética). Ilustração 1 - Flutter A terapia com esses dispositivos pode ser iniciada a partir da compreensão dos pacientes para sua realização efetiva. Técnica de expiração forçada (TEF): Também chamada de “huffing”, consiste de uma inspiração seguida de expirações forçadas, com a glote aberta (com sons de “huff”), acompanhada de tosse – alto volume pulmonar, para expectoração da secreção e um período de relaxamento com respiração Ilustração 2 - Acapella Ilustração 3 - Shaker diafragmática controlada. Enquanto um “huff” de baixo volume pulmonar move secreções periféricas, um “huff” de alto volume remove muco das vias aéreas superiores. A última etapa da TEF, em que o paciente realiza respiração diafragmática controlada, é essencial para evitar broncoespasmo e queda na saturação. Ciclo ativo da respiração (CAR): são ciclos repetidos de controle respiratório, expansão e TEF. É composto pelas seguintes fases: 1. Controle respiratório: exercícios diafragmáticos suaves, onde a criança posiciona as mãos no tórax para evitar a movimentação desta região, focando na respiração diafragmática. Desloca secreções de VA de pequeno calibre para proximais; 2. Exercícios de expansão pulmonar: destinados a auxiliar o deslocamento de secreções de VA de grande calibre, melhorar a distribuição da ventilação e fornecer o volume necessário para a TEF. 3. TEF/Huff; 4. Repetir relaxamento e controle da respiração. Exige compreensão e colaboração ativa do paciente; portanto, érecomendada a partir dos cinco anos de idade. Drenagem Autógena (DA): É uma técnica que visa o aumento do fluxo aéreo com o objetivo de promover oscilações brônquicas e consequentemente, mobilizar secreções das vias áreas mais distais para as centrais. Exige compreensão, por isso é indicada para maiores de oito anos de idade. A DA, em lactentes e crianças pequenas, foi adaptada e é conhecida como drenagem autógena assistida (DAA). A postura da técnica, geralmente, é realizada na posição sentada, mas, também, pode ser realizada em uma posição de drenagem postural (DP). A DA é dividida em 3 etapas principais, cada qual com um objetivo diferente: Alterações do volume pulmonar durante os ciclos da DA Drenagem Autógena Assistida (DAA): geralmente realizada em lactentes, onde o fisioterapeuta posiciona as mãos na lateral do tórax do paciente e aumenta o fluxo lentamente até atingir o VR durante a expiração. Mantém a pressão até perceber esforço inspiratório do paciente, retirando as mãos em seguida. Automaticamente a criança irá tentar realizar um maior VC. Expiração lenta total com a glote aberta em decúbito infralateral (ELTGOL): o paciente deve estar em DL, com o lado acometido para baixo, e o terapeuta deve posicionar-se atrás do paciente, exercendo uma pressão abdominal infralateral e com a outra mão, realizar o apoio no gradio costar supralateral. Esse movimento deve ser feito na expiração, Deslocamento • Mobilizar a secreção das porções periféricas do pulmão por meio de respirações de baixo volume corrente. Coleta do muco • Objetiva coletar as secreções por meio de respirações de médio volume Remoção do muco •Tem por finalidade expectorar o muco realizando respirações de alto volume pulmonar seguida de TEF. lentamente, com a glote aberta. Isso caracteriza um aumento da desinsuflação pulmonar durante o tempo expiratório e acentua a mobilidade do diafragma do lado apoiado. Indicada para remoção de secreções localizadas em brônquios de médio calibre. A técnica pode ser utilizada com um bocal ou com a língua para fora. Indicada a partir de 8 anos de idade. Técnicas de Reexpansão Pulmonar Cinesioterapia Respiratória: Utilizada para aumentar a expansibilidade toracopulmonar, a complacência, a ventilação, os volumes, as capacidades pulmonares, melhorar as trocas gasosas, a oxigenação, a força muscular respiratória, reverter atelectasias e auxiliar na remoção das secreções brônquicas (devido ao aumento do fluxo aéreo). Dessa forma, é considerada parte da reabilitação do sistema respiratório. É importante avaliar as condições clínicas do paciente e assim direcionar na escolha do exercício respiratório adequado que são: 1. Exercícios diafragmáticos; 2. Inspiração profunda; 3. Inspiração máxima sustentada; 4. Inspirações fracionadas; 5. Inspirações em tempos (soluço insp); 6. Expiração abreviada; 7. Freno labial; Descompressão Torácica Abrupta Localizada (bloqueio torácico): consiste em pressionar a região torácica correspondente à área pulmonar comprometida durante a expiração. Em seguida, na inspiração o fisioterapeuta retira a compressão bruscamente, o que direciona o fluxo ventilatório para a região dependente e promove a expansibilidade da região. Descompressão bilateral: mãos sobre a região das bases pulmonares fazendo o bloqueio da expansão torácica durante alguns ciclos respiratórios. Em seguida, deve ser realizada uma descompressão abrupta na inspiração. Exemplo: bases hipoventiladas (MV diminuído) → realizar a descompressão bilateral para aumentar a ventilação. Máscara de Pressão Positiva nas Vias Aéreas (EPAP): Aparelho que consiste no uso de uma máscara facial acoplada a uma válvula unidirecional que realiza uma resistência durante a expiração, com a função de manter pressão positiva em toda a fase expiratória, aumentando assim a oxigenação, capacidade residual funcional, complacência pulmonar, diminuindo o shunt pulmonar e auxiliando na higiene brônquica. O fisioterapeuta pode solicitar 3 séries de 10 a 15 respirações utilizando a máscara (varia). * Não é utilizada na neonatologia. Técnica Insuflatória para resolução de atelectasias (TIRA/TILA): bloquear as áreas pulmonares saudáveis manualmente durante a expiração, mantendo se esse bloqueio durante os ciclos subsequentes, enquanto a zona comprometida é deixada livre e sem apoio manual torácico. Em suma fazemos um bloqueio torácico no lado sadio, associado à pressão positiva, propondo 3 séries de 5 minutos de bloqueio. Técnicas de Desinsuflação Pulmonar Técnica Expiratória Manual Passiva (TEMP) ou Pressão Manual Torácica e Abdominal (PMTA): É uma força exercida manualmente sobre uma parte do tórax e/ou abdômen, sobretudo na fase final da expiração, com objetivo de aumentar o fluxo respiratório. A mão do terapeuta é colocada de forma plana sobre o tórax respeitando-se a mobilidade costal. No abdômen a mão apoia no sentido cranial para a elevação do diafragma ou no sentido descendente para reter a massa abdominal. Aplicar a técnica com cautela, respeitando o ciclo respiratório para não modificá-lo. Pode ser realizada com o paciente em decúbito dorsal, lateral ou sentado. O objetivo principal da pressão expiratória é desinsuflar os pulmões. Fisiologicamente ocorre uma diminuição do espaço morto e, consequentemente, do volume residual (VR); aumento do volume corrente (VC) e maior ventilação pulmonar, que, por sua vez, oxigenará melhor o sangue. Objetiva-se também com esta manobra um ganho de mobilidade da caixa torácica, bem como um auxílio na mobilização de secreções. Contraindicações: pacientes com fraturas de costelas; osteoporose, sobre costelas flutuantes ou pneumotórax espontâneo não controlado; edema agudo de pulmão; cardiopatias valvulares; extravasamento de líquidos nos espaços pleurais e em estado de crise respiratória. Freno Labial: Paciente realiza inspiração nasal lenta e expiração contra a resistência dos lábios franzidos e dentes semifechados, prolongando a expiração a fim de deslocar o ponto de igual pressão mais proximalmente e evitar que haja um fechamento precoce das VA de pequeno calibre. Esse movimento ocorre espontaneamente em pacientes hiperinsuflados crônicos (ex. DPOC), sendo estes caracterizados como sopradores. Objetivo: reexpansão das áreas colapsadas, melhora da relação V/Q, diminuição do trabalho respiratório Cinesioterapia respiratória: fortalecimento dos músculos expiratórios focando a musculatura expiratória (MM Abdominais), alongamento dos músculos inspiratórios (diafragma, Intercostais, Escalenos e musculatura acessória – Peitoral Maior e Menor, Trapézio, Serrátil Anterior e Esternocleidomastóideo). Referências POP: Técnicas de Fisioterapia Respiratória no RN e na Criança - Unidade de Reabilitação do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – Uberaba: EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, 2015. 14p. SANTOS, Júlia Gianjoppe dos. Fisioterapia cardiopulmonar na saúde do adulto. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 208p. DE OLIVEIRA RIBEIRO, Maria Ângela Gonçalves. Parte 2. Técnicas de remoção de secreção das vias aéreas. ASSOBRAFIR Ciência, v. 10, n. Supl 1, p. 61-98, 2019.
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