Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE 01. Definir doenças desmielinizantes e seus tipos. A mielina é feita de camadas de membrana que cobrem um axônio. Isso é semelhante à ideia de um fio elétrico com revestimento para proteger o metal por baixo.nA mielina permite que um sinal nervoso viaje mais rápido. Em neurônios não mielinizados, um sinal pode viajar ao longo dos nervos a cerca de 1 metro por segundo. Em um neurônio mielinizado, o sinal pode viajar 100 metros por segundo. A bainha de mielina recobre muitas fibras nervosas no sistema nervoso central e sistema nervoso periférico, acelerando a transmissão axônica dos impulsos nervosos. Doenças que afetam a mielina interrompem a transmissão nervosa; os sintomas podem refletir deficits em qualquer parte do sistema nervoso. A mielina formada pela oligodendróglia no sistema nervoso central difere química e imunologicamente da mielina formada perifericamente pelas células de Schwann. Assim, alguns distúrbios da mielina (p. ex., síndrome de Guillain-Barré, polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica e algumas outras polineuropatias de nervo periférico) tendem a afetar principalmente os nervos periféricos, enquanto outras afetam primariamente o SNC. A desmielinização retarda as mensagens enviadas ao longo dos axônios e faz com que o axônio se deteriore. A desmielinização costuma ser secundária a doenças infecciosas, isquêmicas, metabólicas ou hereditárias ou a uma toxina (álcool, etambutol). Nas doenças desmielinizantes primárias, a causa é desconhecida, mas suspeita- se de um mecanismo autoimune, porque a doença algumas vezes ocorre após uma infecção viral ou vacinação viral. A desmielinização tende a ser segmentada ou localizada, afetando múltiplas áreas de forma simultânea ou sequencial. Em geral, ocorre remielinização, com reparo, regeneração e recuperação completa da função neural. Entretanto, a perda extensa de mielina costuma ser seguida por degeneração axônica e, em geral, degeneração do corpo celular; ambas podem ser irreversíveis. A desmielinização deve ser considerada em qualquer paciente com deficits neurológicos inexplicáveis. Os transtornos desmielinizantes primários são sugeridos pelos seguintes fatores: • Deficits difusos ou multifocais • Início súbito ou subagudo, particularmente em adultos jovens • Início dentro de semanas após uma infecção ou vacinação • Deficits que surgem e desaparecem • Sintomas que sugerem uma doença desmielinizante específica (p. ex., neurite óptica inexplicável ou oftalmoplegia intranuclear, sugerindo esclerose múltipla) Tipos de desmielinização Existem diferentes tipos de desmielinização. Estes incluem desmielinização inflamatória e desmielinização viral. ➢ Desmielinização inflamatória A desmielinização inflamatória acontece quando o sistema imunológico do corpo ataca a mielina. Tipos de desmielinização como EM, neurite óptica e encefalomielite disseminada aguda são causados por inflamação no cérebro e na medula espinhal. GBS envolve desmielinização inflamatória de nervos periféricos em outras partes do corpo. ➢ Desmielinização viral A desmielinização viral ocorre com a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). A PML é causada pelo vírus JC. Os danos da mielina também podem ocorrer com: • alcoolismo https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/s%C3%ADndrome-de-guillain-barr%C3%A9 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/polirradiculoneuropatia-desmielinizante-inflamat%C3%B3ria-cr%C3%B4nica-pdic https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/polirradiculoneuropatia-desmielinizante-inflamat%C3%B3ria-cr%C3%B4nica-pdic https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-do-sistema-nervoso-perif%C3%A9rico-e-da-unidade-motora/polineuropatia https://www.healthline.com/health/optic-neuritis https://www.healthline.com/health/adem https://www.healthline.com/health/adem https://www.healthline.com/health/plm-virus 2 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE • danos no fígado • desequilíbrios eletrolíticos A desmielinização hipóxico-isquêmica ocorre devido a doença vascular ou falta de oxigênio no cérebro. As principais doenças desmielinizantes: • Esclerose múltipla; • Neuromielite Óptica (NMO); • Encefalomielite aguda disseminada (ADEM); • Doença Associada ao Anticorpo Anti-MOG: o Neurite óptica recorrente; o Neurite óptica bilateral; o Mielites; o ADEM; o Síndromes de tronco encefálico; o Encefalites. 02. Descrever a etiopatogenia das principais doenças desmielinizantes e a importância dos exames complementares para o diagnóstico (esclerose múltipla, mielite óptica, mielite transversa). Esclerose múltipla Etiopatogenia Um vírus, uma bactéria ou outra toxina ambiental poderia ativar uma resposta imune nos indivíduos geneticamente predispostos. As células apresentadoras de antígenos (CAA) levam os antígenos relevantes aos linfócitos T auxiliares (CD4+) na periferia e isto provoca sua ativação com geração subsequente dos linfócitos T auxiliares (Th) pró-inflamatórios autorreativos dos subtipos 1 e 17. Linfócitos B e monócitos também são ativados. Esses linfócitos T autorreativos interagem com moléculas de adesão existentes na superfície endotelial das vênulas do SNC e, com os anticorpos e os monócitos, atravessam a barreira hematencefálica danificada com a ajuda de proteases (p. ex., metaloproteases matriciais) e quimiocinas. Dentro do SNC, os antígenos-alvo são reconhecidos (os supostos antígenos são a proteína básica da mielina, a glicoproteína associada à mielina, a glicoproteína da mielina- oligodendrócito, a proteína proteolipídica [PLL], a αB-cristalina, as fosfodiesterase e a proteína S-100). Os linfócitos T são reativados e a resposta imune é amplificada. As células T auxiliares proinflamatórias proliferam e os linfócitos B continuam sua maturação em plasmócitos secretores de anticorpos, enquanto os monócitos transformam-se em macrófagos ativados. Em conjunto, essas células imunes produzem citocinas inflamatórias (p. ex., interleucinas 12 [IL-12] e 23 [IL-23], gamainterferona, fator alfa de necrose tumoral [TNF-α]), proteases, radicais livres, anticorpos, óxido nítrico, glutamato e outros fatores de estresse que, coletivamente, causam danos à mielina e aos oligodendrócitos. Em um meio com citocinas apropriadas, as células Th2 CD4+ proliferam e secretam citocinas anti- inflamatórias (p. ex., IL-4, IL-5, IL-13 e fator beta transformador do crescimento), que suprimem a resposta imune. Dependendo da localização e da extensão dos danos, a desmielinização pode dificultar ou impedir a condução neural e causar sinais e sintomas neurológicos. Com a perda do suporte trófico dos oligodendrócitos, os axônios podem degenerar e isto causa déficits neurológicos irreversíveis. A melhora espontânea dos sintomas é atribuída à regressão da inflamação, aos mecanismos adaptativos (p. ex., reorganização dos canais de sódio) ou à remielinização. 3 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Durante muito tempo, acreditou-se que os subtipos de linfócitos Th1 e Th2 fossem originados da diferenciação terminal das células T CD4+. Contudo, pesquisadores descreveram um terceiro subtipo induzido pela IL-1, IL-6 e fator beta transformador do crescimento que, em seguida, é expandido e mantido pela IL-23 secretada pelas CAAs. Esse terceiro subtipo – um linfócito T auxiliar pró-inflamatório – é conhecido como Th17 porque produz IL-17. As células Th17 secretam algumas citocinas, inclusive TNF-α e GM-CSF (fator de estimulação das colônias de macrófagos), que são essenciais ao desenvolvimento da EAE.Os pacientes com EM têm células dendríticas derivadas dos monócitos, que secretam quantidades maiores de IL-23 que os controles normais. No soro dos pacientes com EM e recidivas, as contagens de células mononucleares portadoras de mRNA da IL-17 são maiores que as dos pacientes em remissão. Embora a EM geralmente seja considerada uma doença mediada pelos linfócitos T, existem evidências crescentes a favor da participação patogenética dos linfócitos B, inclusive a observação frequente da produção intratecal de imunoglobulina nos pacientes com EM; a descrição de anticorpos que reagem com antígenos específicos da mielina dentro das lesões da EM; um padrão patológico de EM caracterizada por desmielinização associada aos anticorpos (ver seção subsequente); e a descoberta de folículos com linfócitos B nas meninges dos pacientes com EM progressiva secundária. Estudos patológicos demonstraram que os clones de linfócitos B são compartilhados pelas meninges e pelo parênquima dos pacientes com EM. Além disso, os linfócitos B são CAA eficientes e a depleção das células B é uma abordagem terapêutica promissora para os pacientes com EM. As placas de desmielinização crônica parecem translúcidas e nitidamente demarcadas e, na maioria dos casos, são encontradas na substância branca periventricular, no tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinal. As lesões caracterizamse por desmielinização extensiva, gliose, destruição axonal variável e infiltrado inflamatório mínimo composto de linfócitos T e macrófagos. Nas lesões desmielinizantes em atividade, a anormalidade típica é desmielinização acompanhada de infiltrado perivascular constituído basicamente por linfócitos T, macrófagos abarrotados de lipídios e astrócitos reativos proeminentes. Embora a desmielinização com preservação relativa dos axônios geralmente seja considerada a alteração patológica típica da EM, é comum encontrar transecção dos axônios, especialmente nas áreas com inflamação e desmielinização ativas. Em resumo, a doença se inicia a partir da ativação desregulada do sistema imune com linfócitos T na periferia, ou seja, no sangue periférico e linfonodos. Com isso, há consequente ativação de linfócitos B e monócitos que atravessam a barreira hematoencefálica e chegam ao SNC gerando reações inflamatórias indesejadas com a produção de citocinas e anticorpos. Tal reação de maneira continua ocasiona a desmielinização, com áreas espaçadas que formam os focos cicatriciais – gliose. A perda de função durante um surto da doença ocorre tanto pelo processo inflamatório agudo, quanto pelos efeitos diretos da desmielinização que geram bloqueio da condução dos impulsos nervosos. É possível que o processo inflamatório inicial seja autolimitado e com a resolução do processo agudo exista recuperação de funções durante as fases de remissão da doença. Contudo, com a progressão, recorrência de eventos autoimunes e consequente morte neuronal há formação de placas cicatriciais que variam em diâmetro e localização, determinando as manifestações clínicas em cada fase da doença. Fatores de risco genéticos Dentre os fatores genéticos que afetam reconhecidamente a suscetibilidade à EM, o mais potente é o haplótipo DRB1*1501 dos antígenos leucocitários humanos (HLA-DRB1*1501). Entretanto, ele não é essencial ao desenvolvimento da EM, embora aumente o risco em duas a quatro vezes e esteja presente em 20 a 30% dos indivíduos normais. Análises de ligação 4 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE e associação genética em 931 trios familiares (pacientes com EM e seus dois pais) rastrearam a existência 300.000 polimorfismos de nucleotídios únicos e identificaram dois geres situados fora da região HLA – o gene do receptor alfa de interleucina 2 (IL2RA) e o gene do receptor alfa da interleucina 7 (IL7RA) – que também aumentam o risco de desenvolver EM. O gene IL2RA codifica a cadeia alfa do receptor de IL-2, que é essencial à regulação das respostas dos linfócitos T e foi implicado na patogenia de outras doenças autoimunes, inclusive doença de Graves e diabetes melito tipo 1. O gene IL7RA codifica a cadeia alfa do receptor de IL-7. Essa interleucina atua na homeostasia dos linfócitos T de memória e pode desempenhar um papel importante na geração de células T autorreativas dos pacientes com EM. O efeito dessas variantes alélicas no risco global de desenvolver EM é pequeno, embora seja estatisticamente significativo. Outros estudos de associação genética do genoma completo identificaram 110 variantes de risco para EM em 103 loci, que não estavam na região do complexo de histocompatibilidade principal. Outras evidências de uma predisposição genética são o risco mais elevado observado em alguns grupos étnicos (p. ex., caucasoides descentes do norte europeu) e o risco reduzido em outros (p. ex., índios americanos); os índices de prevalência variáveis entre os diversos grupos raciais da mesma região geográfica; aumento de 20 a 40% do risco de EM entre os parentes de primeiro grau, enquanto os filhos adotados de pacientes com EM têm risco semelhante ao da população geral; concordância de 25 a 30% entre os gêmeos monozigóticos, em comparação com 5% dos gêmeos dizigóticos. No entanto, 70% dos gêmeos univitelinos são discordantes quanto à ocorrência de EM, de forma que fatores ambientais e outras influências desconhecidas devem contribuir para a suscetibilidade à doença. Influências ambientais Em geral, há um gradiente latitudinal com aumento da prevalência da EM à medida que se afasta do equador nos dois hemisférios. Diferenças marcantes na frequência da doença são observadas em algumas populações homogêneas que vivem em latitudes diferentes. Várias regiões com latitudes semelhantes têm índices de prevalência de EM muito diferentes que, em alguns casos, podem ser explicados pelas diferenças de suscetibilidade étnica (p. ex., ingleses e japoneses vivem na mesma latitude, mas a prevalência da doença na Grã- Bretanha é cerca de 60 vezes maior que no Japão). Outras evidências do efeito ambiental provêm dos estudos das migrações e das epidemias e concentrações aparentes da doença. Em geral, os imigrantes que se mudam de uma região para outra antes da idade de 15 anos adquirem o índice de prevalência da EM na região em que passam a viver. A modificação do risco ocorre gradativamente e pode ser imperceptível nos imigrantes propriamente ditos, mas fica evidente nos seus filhos. Exceções notáveis incluem as crianças nascidas em Israel de imigrantes europeus e americanos, que apresentam uma frequência de EM semelhante à dos seus pais. Por essa razão, em algumas situações, a genética pode ser mais importante que a influência ambiental. A imigração depois da idade de 15 anos não altera o risco de desenvolver EM. Epidemias aparentes de EM ocorreram na Islândia e nas Ilhas Faroe depois da II Guerra Mundial, sugerindo um fator infeccioso ou outra influência ambiental. A chegada das tropas britânicas às Ilhas Faroe em 1940 também trouxe o primeiro neurologista para as ilhas, de forma que a conscientização mais ampla acerca da doença e a confirmação mais segura dos casos podem ter produzido essa “epidemia” aparente. Contudo, a doença começou depois de 1942 em todos os casos diagnosticados, exceto em alguns pacientes que passaram algum tempo fora das ilhas. Números de casos de EM maiores que os esperados foram relatados em várias regiões, inclusive Key West, Flórida; Orange County, Califórnia; Los Alamos County, Novo México; Hordaland, Noruega; e Colchester County, Nova Escócia; isto sugere a possibilidade de uma exposição ambiental compartilhada como causa da doença. Efeitos tóxicos do mercúrio e do zinco, vírus e outras toxinas foram sugeridos, mas nenhuma evidência aceitável explicava 5 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE esses casos aglomerados, cuja ocorrência pode ter sido aleatória. Diversos fatores ambientaispodem influenciar o risco de desenvolver EM, inclusive a vitamina D, que se evidenciou como uma possibilidade convincente. A forma ativa da vitamina D (1,25-di- hidroxivitamina D3) tem propriedades imunomoduladoras e pode evitar ou atenuar a encefalomielite alérgica experimental (EAE), que é um modelo da EM nos camundongos. Vários estudos demonstraram uma correlação inversa entre exposição à luz solar (fonte mais comum de vitamina D) e ingestão dietética de vitamina D e risco de desenvolver EM. A relação com a exposição à luz solar pode ajudar a explicar a variação latitudinal da prevalência da doença. Além disso, um estudo realizado com militares americanos mostrou que os níveis séricos mais altos de 25-hidroxivitamina D3 (25[OH]D3) estavam associados a um risco menor de desenvolver EM. Pesquisadores publicaram resultados semelhantes na Holanda, mas apenas entre as mulheres, assim como uma correlação negativa entre os níveis de 25(OH)D3 e o grau de limitação física. Entretanto, ainda não está claro se a suplementação de vitamina D modifica a doença dos pacientes que já foram diagnosticados. Dieta rica em sal também aumenta a gravidade da EAE e induz a formação de células TH17 patogênicas nos seres humanos e nos camundongos in vitro. Essa relação foi sugerida como hipótese para explicar em parte a incidência crescente da EM e outras doenças autoimunes nos países que adotam uma “dieta ocidental”. Entre as causas infecciosas possíveis, o caso do vírus Epstein-Barr (VEB) é interessante. A prevalência da EM é pequena nos indivíduos soronegativos para esse vírus, mas o risco aumenta nos que tiveram mononucleose infecciosa. As evidências acerca de outros agentes microbianos são menos convincentes, mas é possível que alguns vírus ou bactérias atuem como “gatilhos” inespecíficos da EM nos indivíduos geneticamente predispostos. Traumatismo físico ou estresse psicológico podem preceder o início ou as exacerbações da EM. Embora seja comum demonstrar associações temporais, não há uma relação causal nítida. O Subcomitê de Avaliação de Tecnologia e Terapêutica da American Academy of Neurology concluiu que não existe qualquer relação significativa entre traumatismo e início ou agravação da EM. Além disso, essa comissão concluiu que, embora seja possível, não há qualquer relação inequívoca entre estresse psicológico pregresso e início ou exacerbações da doença. Contudo, um estudo realizado em Israel concluiu que o estresse associado à guerra de 2006 entre o Líbano e este país aumentou as exacerbações entre pacientes civis com EM. Mielite óptica Etiopatogenia A IgG dirigida contra a aquaporina-4 é um autoanticorpo sérico sensível e altamente específico e está presente em cerca de 70% dos pacientes com DENMO, seja no soro ou no LCR. A patogenicidade desse anticorpo foi demonstrada por transferência passiva em modelos experimentais de animais. As lesões agudas da DENMO caracterizam-se por desmielinização e destruição axonial extensivas e contêm infiltrados inflamatórios formados principalmente de macrófagos, linfócitos B, eosinófilos e granulócitos. Os linfócitos T são escassos. A imunoglobulina e os produtos da ativação do complemento são depositados com um padrão típico de roseta e halos perivasculares. Nos casos típicos, as lesões intramedulares estendem-se ao longo de vários segmentos espinais, afetam as substâncias branca e cinzenta e comumente são necróticas. Gliose, degeneração cística, formação de cavidades e atrofia são alterações crônicas típicas da medula espinal, do nervo óptico e do quiasma óptico. A aquaporina-4 (AQP-4) é o canal de água principal do SNC e funciona como antígeno-alvo na DEMNO. A AQP-4 está localizada principalmente nos processos pediformes dos astrócitos perivasculares e subpiais e é expressa em níveis altos dentro dos nervos ópticos, hipotálamo, tronco encefálico, regiões periventriculares e substância cinzenta da 6 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE medula espinal. A destruição da AQP-4 pode prejudicar a homeostasia da água e o transporte de glutamato e, consequentemente, causar destruição dos oligodendrócitos, desmielinização e lesão axonal. Os órgãos periventriculares localizados em torno do terceiro e quarto ventrículos contêm grandes quantidades de AQP-4 e isto pode explicar as manifestações clínicas de náuseas, vômitos ou soluços incontroláveis, além da disfunção hipotalâmica. Em todas as lesões desmielinizantes da NMO, observa-se perda acentuada da imunorreatividade à AQP-4, independentemente da localização, do estágio ou da gravidade da necrose, e ocorre nas regiões em que há deposição vasculocêntrica profusa de imunoglobulina e complemento. Mielite transversa Etiopatogenia A mielite transversa (MT) aguda é uma doença neuroimune adquirida rara da medula espinhal que pode se manifestar com o início rápido de fraqueza, alterações sensitivas e disfunção intestinal e vesical. Ela pode ocorrer como uma doença independente, geralmente como uma complicação pós-infecciosa, mas também faz parte de um continuum de distúrbios neuroinflamatórios. A causa exata da mielite transversa é desconhecida em muitos casos. Podendo ser inflamatória, vascular, paraneoplásica, relacionada ao tratamento com a radiação, e idiopática. Nesse contexto, a descoberta de anticorpos circulantes para as proteínas aquaporina-4 e oligodendrócitos anti-mielina aponta para uma causa definida em alguns indivíduos com mielite transversa. A aquaporina-4 é uma proteína essencial que transporta água através da membrana celular das células neurais. A glicoproteína dos oligodendrócitos da mielina fica na camada externa da mielina. Distúrbios imunológicos como a neuromielite óptica associada ao autoanticorpo aquaporina-4, esclerose múltipla, fenômeno autoimune pós-infeccioso, uma resposta imune anormal a um câncer subjacente que danifica o sistema nervoso ou outras condições mediadas por anticorpos que ainda estão sendo descobertas. • Infecções virais: Muitas vezes é difícil saber se a infecção viral direta ou uma resposta pós- infecciosa à infecção causa a mielite transversa. Os vírus associados incluem varicela zoster, herpes simples, citomegalovírus e Epstein-Barr; flavivírus como o Nilo Ocidental e o zika; gripe, echovírus, hepatite B, caxumba, sarampo e rubéola. • Infecções bacterianas: Sífilis, tuberculose, coqueluche, tétano, difteria e doença de Lyme. Infecções bacterianas da pele, infecções do ouvido médio, gastroenterite por Campylobacter jejuni e pneumonia bacteriana por micoplasma também foram associadas à doença. • Infecções fúngicas: Aspergillus, Blastomyces, Coccidioides e Cryptococcus. • Parasitoses: Toxoplasmose, cisticercose, esquistossomose e angiostrongilóides. • Outros distúrbios inflamatórios que podem afetar a medula espinhal, como sarcoidose, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjogren, doença mista do tecido conjuntivo, esclerodermia e síndrome de Behcet. • Distúrbios vasculares como malformação arteriovenosa, fístula arteriovenosa dural, malformações cavernosas intra-espinhais ou embolia do disco. Em algumas pessoas, a mielite transversa representa o primeiro sintoma de uma doença autoimune ou imunomediada, como esclerose múltipla ou neuromielite óptica. 7 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Obs 1: A esclerose múltipla, ou EM, é uma doença que causa lesões distintas, ou placas, que afetam principalmente partes do cérebro, medula espinhal e nervo óptico – o nervo que transporta informações do olho para o cérebro. Obs 2: Neuromielite óptica ou NMO, é uma doença auto-imune do sistema nervoso central que afeta predominantemente os nervos ópticos e a medula espinhal. A mielite “parcial” – afetando apenas uma parte da seção transversal da medula – é mais característica da esclerose múltipla. A neuromielite óptica é muito mais provável como uma condição subjacente quando a mielite está “completa”(causando paralisia grave e parestesia nos dois lados da medula espinhal). Importância dos exames complementares Os métodos complementares de imagens ofereceram a melhor oportunidade de avaliação não-invasiva do encéfalo e sem dúvidas a sua aplicação em grande escala mudou as perspectivas do diagnóstico neurológico e também do acompanhamento das diversas afecções do encéfalo. Isto também é verdadeiro para as doenças da substância branca e principalmente para o acompanhamento evolutivo e do tratamento. A TC apesar de ser o método mais disponível e menos caro de demonstração não-invasiva do tecido encefálico, não tem aplicação prática no contexto das desmielinizações. A RM é o método de maior conspicuidade e que permite a melhor caracterização dos danos secundários na substância branca. Na EM, a confirmação do quadro depende basicamente de duas ferramentas paraclínicas, segundo os critérios do Painel Internacional para o Diagnóstico da Esclerose Múltipla: a ressonância magnética (RM) e a pesquisa de bandas oligoclonais no liquor. Feita com contraste, a RM demonstra lesões desmielinizantes fundamentais para a identificação segura da doença e ainda torna possível o acompanhamento clínico e terapêutico do paciente. Por sua vez, a pesquisa de bandas oligoclonais no liquor por meio de isoeletrofocalização de proteínas, comparada com a análise simultânea do soro, é a técnica mais sensível para demonstrar a síntese intratecal ou mesmo o aumento de imunoglobulinas. É possível o diagnóstico diferencial pela imagem entre as principais causas das doenças desmielinizantes. Exames laboratoriais são importantes também para o diagnóstico diferencial, pois antes, a neuromielite óptica (NMO), também conhecida como doença de Devic, era tida como uma variante da esclerose múltipla (EM), mas estudos provaram ter características distintas. Do ponto de vista laboratorial, 80% dos portadores da NMO possuem autoanticorpos contra a aquaporina 4, os quais estão presentes em menos de 10% dos portadores de EM. A diferença também é marcante na pesquisa de bandas oligoclonais, que aparecem em mais de 85% dos casos de esclerose múltipla e não ultrapassam 15-30% dos pacientes com neuromielite óptica. 03. Abordar o diagnóstico diferencial e abordagem das principais paralisias ascendentes (ELA, Guillain-Barré). Paralisias ascendentes A fraqueza muscular ou a paralisia que na maioria dos casos, começa nas pernas e depois se propaga para os braços. ELA 8 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Esclerose é um termo muito usado em várias situações em medicina, não apenas em doenças, mas também em tratamentos (por exemplo, esclerose devarizes). No que diz respeito a doenças, o termo "esclerose" é utilizado em muitos casos, que geralmente não são relacionados entre si. Esclerose múltipla é uma doença restrita ao sistema nervoso central (encéfalo e medula); já a esclerose lateral amiotrófica é outra doença com causa, sintomas e evolução completamente diferentes. Talvez a confusão mais comum ocorra com a expressão popular "ficar esclerosado", que se refere às pessoas, geralmente mais idosas, que começam a apresentar progressivamente perda de memória e capacidade de se cuidar sozinho. Essa "esclerose" é derivada do termo médico aterosclerose, que é uma doença das artérias, e não tem nada a ver com esclerose múltipla ou esclerose lateral amiotrófica. Enquanto a esclerose lateral amiotrófica é classificada como uma doença neuromuscular, por acometer os neurônios alfa, a esclerose múltipla trata-se de uma doença desmielinizante e inflamatória, tendo a desmielinização como a sua base. Apesar de as doenças do neurônio motor serem também caracterizadas por degeneração de neurônios motores da medula espinal e reposição das células destruídas por gliose (alteração na substância branca), a doença do neurônio motor, no singular, refere-se especificamente à ELA, em que os neurônios motores tanto superiores quanto inferiores são afetados. Assim, esta distingue- se, por exemplo, da atrofia muscular progressiva (AMP), a qual afeta unicamente os neurônios inferiores, e da esclerose lateral primária, a qual afeta unicamente os neurônios superiores. Com isso, a separação clínica dos sinais da doença entre superiores e inferiores é de grande importância, a fim de garantir a eficácia diagnóstica. Reflexo de Babinski, reflexo de Hoffmann, reflexos tendíneos hiperativos, espasticidade e clônus apontam para o acometimento dos neurônios superiores. Já fraqueza, atrofia e fasciculações apontam para o acometimento dos neurônios inferiores. Abordagem Desde 2009, o Ministério da Saúde oferece assistência e medicamentos gratuitos aos pacientes com essa doença, com base no que está cientificamente comprovado. Em 2014, o Ministério da Saúde ampliou o cuidado a pessoas com doenças raras, instituindo a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, incluindo a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas dessa doença foi atualizado em novembro de 2015. Para confirmar o diagnóstico, o médico especialista pode solicitar os seguintes exames: • Exames de sangue, para descartar outras doenças. • Teste respiratório, para verificar se os músculos do pulmão foram afetados. • Tomografia computadorizada ou ressonância magnética da coluna cervical, para garantir que não exista uma doença ou lesão no pescoço, que pode ser semelhante à ELA. • Eletromiografia, para ver quais nervos não funcionam corretamente. • Teste genético, se houver um histórico familiar de ELA. • Tomografia computadorizada ou ressonância magnética da cabeça, para excluir outras doenças. • Estudos de condução nervosa. • Testes de deglutição • Punção lombar. O tratamento para a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) começa com um medicamento chamado riluzol, que é distribuído gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O riluzol reduz a velocidade de progressão da doença e prolonga a vida do paciente. Fisioterapia, reabilitação, uso de órteses, de uma cadeira de rodas ou outras medidas 9 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE ortopédicas podem ser necessárias para maximizar a função muscular e o estado de saúde geral, conforme cada caso e de acordo com a evolução da doença. A participação de um nutricionista é muito importante, pois os pacientes com ELA tendem a perder peso. A própria doença aumenta a necessidade de ingestão de alimentos e calorias. Ao mesmo tempo, os problemas de deglutição podem fazer com que seja difícil comer o suficiente. Os dispositivos respiratórios incluem máquinas usadas somente durante a noite e ventilação mecânica constante. O Ministério da Saúde oferece ainda Práticas Integrativas e Complementares, como cuidados paliativos terapêuticos, ajudando na promoção, prevenção e tratamento de doenças crônicas ou raras, como ELA. Essas práticas possuem recursos tecnológicos simplificados e potentes, que podem contribuir ao longo de todo o tratamento, tanto para o paciente quanto para os familiares. Os cuidados paliativos são uma abordagem de tratamento que promove a qualidade de vida de pacientes que enfrentam doenças que ameacem a continuidade de vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento. Estão previstos nos cuidados paliativos tratamentos para dor e outros problemas de natureza física, psíquica, espiritual e social. No âmbito da reabilitação, a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) pode englobar medidas relacionadas à dor, prevenção de contraturas musculares e articulares fixas com uso de órteses, tratamento das dificuldades da fala, da deglutição, dificuldades respiratórias e suporte familiar. Esses tratamentos podem ser feitos nos Centros Especializados em Reabilitação do SUS. O acompanhamento na reabilitação é baseado em avaliações multidisciplinares das necessidades e capacidades das pessoas com deficiência,incluindo dispositivos e tecnologias assistivas, e com foco na produção da autonomia e o máximo de independência em diferentes aspectos da vida. O processo de reabilitação tem o objetivo de melhorar a funcionalidade e promover a inclusão social das pessoas com deficiência em seu ambiente social, por meio de medidas de prevenção da perda funcional, de redução do ritmo da perda funcional, da melhora ou recuperação da função; da compensação da função perdida; e da manutenção da função atual. Guillain-Barré A síndrome de Guillain-Barré é uma doença inflamatória do SNP e é a causa mais comum de paralisia flácida aguda, com incidência global anual de aproximadamente 1-2 por 100.000 pessoas-ano. A SGB ocorre mais frequentemente em homens do que em mulheres e a incidência aumenta com a idade, embora todas as faixas etárias possam ser afetadas. O diagnóstico de SGB é baseado na história do paciente e nos exames neurológicos, eletrofisiológicos e do líquido cefalorraquidiano (LCR). A EM prejudica o sistema nervoso central: cérebro e a medula espinhal. Já a SGB danifica o sistema nervoso periférico. São os nervos fora do cérebro e da medula espinhal. Eles ajudam o sistema nervoso central a se comunicar com o resto do corpo, incluindo a pele, o coração e os músculos. A polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica está estreitamente relacionada a SGB com muitos dos mesmos sintomas. É muito raro que alguém tenha EM e SGB ao mesmo tempo, mas pode acontecer. Além disso, muitas pessoas com EM são diagnosticadas erroneamente com SGB ou o contrário. A SGB é normalmente detectada após uma infecção como o resfriado ou a gripe. Os sintomas da SGB e da EM que são semelhantes são: • Fraqueza • Entorpecimento (insensibilidade, torpor) • Dormência (formigamento) nos braços e pernas 10 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Os sintomas da SGB geralmente começam dentro de um dia e se espalham das pernas para a parte superior do corpo. Ao contrário da SGB, onde os sintomas eventualmente aliviam e os pacientes podem se recuperar, a polineuropatia decorrente dela progride e os pacientes podem ter incapacidades permanentes. Já a EM geralmente começa em alguns dias, mas às vezes os sintomas não aparecem por um tempo. É importante ter um diagnóstico correto tanto para EM quanto para SGB porque os tratamentos para ambas as condições são diferentes, e, quanto mais cedo começar o tratamento, melhores são os prognósticos e menos sequelas os pacientes irão experimentar. Abordagem O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de tratamento para a síndrome de Guillain Barré, incluindo procedimentos, diagnósticos clínicos, de reabilitação e medicamentos. A Guillain Barré é uma doença rara e não é de notificação compulsória. O Brasil conta hoje com 136 Centros Especializados em Reabilitação, que atendem pacientes com a Síndrome de Guillain Barré pela rede pública de saúde. Além disso, a maior parte dos pacientes com Guillain Barré é acolhida em estabelecimentos hospitalares. O tratamento visa acelerar o processo de recuperação, diminuindo as complicações associadas à fase aguda e reduzindo os déficits neurológicos residuais em longo prazo. O SUS dispõe de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a Síndrome de Guillain Barré, que prevê entre outros tratamentos, a disponibilidade do medicamento imunoglobolina intravenosa (IgIV) e do procedimento plasmaférese, que é uma técnica de transfusão que permite reitrar plasma sanguíneo de um doador ou de um doente. O médico é o profissional responsável por indicar o melhor tratamento para o paciente, conforme cada caso. Não há necessidade de tratamento de manutenção fora da fase aguda da doença. O Ministério da Saúde oferece no SUS o medicamento imunoglobina humana 5g para o tratamento de inúmeras doenças e situações clínicas, incluindo a Guillain Barré. Entre os procedimentos oferecidos estão: • Tratamento intensivo em reabilitação; • Atendimento Fisioterapêutico em pacientes no pré e pós-operatório; • Atendimento Fisioterapêutico nas alterações motoras; • Atendimento Fisioterapêutico em pacientes com distúrbios neuro-cinético; • Tratamento de Polineuropatias; • Tratamento de Polirradiculoneurite Desmielinizante Aguda; • Neurotomia Percutanea de Nervos Periféricos por Agentes Químicos; • Tratamento Odontológico para pacientes com necessidades especiais; • Adaptação de Órteses e Próteses auxiliares de locomoção; • Cadeira de Rodas Monobloco; • Cadeira de Rodas para banho com encosto reclinável; • Cadeira de Rodas para Banho com Aro de Propulsão; • Adaptação de Assento para Deformidades de Quadril; • Adaptação de encosto para deformidades de tronco; • Adaptação do apoio de pés da cadeira de rodas; • Apoios laterais do tronco em 3 ou 4 pontos; • Apoios laterais de quadril para cadeira de rodas; • Apoio para estabilização da cabeça na cadeira de rodas; • Adaptação abdutor tipo cavalo para cadeira de rodas; • Adaptação de Opm ortopédica; Manutenção de Opm ortopédica; • Tábua (prancha) para transferência; • Cinta para transferências; 11 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE • Almofada de assento para prevenção de úlceras de pressão em células; • Almofada de assento para cadeira de rodas para prevenção de úlceras. 04. Estudar a epidemiologia, fatores de risco, quadro clínico e diagnóstico da esclerose múltipla. A Esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune que acomete o sistema nervoso central (SNC), mais especificamente a substância branca, causando desmielinização e inflamação. Epidemiologia Incidência da EM é baixa na infância, aumenta após os 18 anos e atinge um pico entre 25 e 35 anos (cerca de 2 anos mais cedo em mulheres do que homens), e depois declina, sendo rara acima dos 50 anos de idade. No Brasil, sua taxa de prevalência é de aproximadamente 15 casos por cada 100.000 habitantes. Em geral, o início da doença ocorre entre 20 e 40 anos. Sua incidência é mais comum no sexo feminino, numa razão de aproximadamente 2 para 1, em indivíduos de cor branca e em áreas de clima temperado. A EM é mais rara nos continentes localizados nos trópicos e subtrópicos. Nas regiões de clima temperado, a incidência e prevalência da EM aumentam com a latitude, tanto ao norte quanto ao sul do equador. Estudos de prevalência da EM no Brasil, realizados nas cidades de São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG), revelaram taxas de 15 a 18/100.000 habitantes. Fatores de risco Entre os fatores de risco da esclerose múltipla, existem alguns que são genéticos e que podem estar relacionados à causa da doença. Mas há fatores de risco que são ambientais, tais como: • Infecções virais (herpesvírus ou retrovírus); • Exposição ao sol insuficiente, o que leva a ter níveis baixos de vitamina D por tempo prolongado; • Exposição a solventes orgânicos; • Tabagismo; • Obesidade. Atenção: a fase da adolescência é considerada um período de maior vulnerabilidade a estes fatores ambientais. Quadro clínico A definição de episódio clínico típico ou “surto” de EM inclui a comprovação objetiva de novo acometimento neurológico, com duração de pelo menos 24 horas, não atribuível a infecção ou distúrbios metabólicos. Os principais sinais e sintomas da EM são déficits motores (piramidais, como fraqueza em um hemicorpo, sinal de Babinski e reflexos profundos exaltados), sensitivos (hipoestesia superficial ou profunda, parestesias), cerebelares (ataxia, desequilíbrio), visuais (diminuição da acuidade visual, diplopia) e de tronco encefálico (oftalmoplegia internuclear – paresia do olho adutor no olhar conjugado lateral com nistagmo horizontal do olho abdutor) e, após algum tempo de doença, neurovegetativos (principalmente urgência urinária, com ou sem incontinência). Alguns sinais e sintomas são bastante sugestivos de EM, como neurite óptica, sinal de Lhermitte (flexão do pescoço leva à sensação de eletricidadepercorrendo a coluna), https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/oftalmoplegia_internuclear.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/neurite_optica.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/neurite_optica.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/sinal_de_lhermitte.htm 12 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE oftalmoplegia internuclear e a piora dos sintomas com elevação da temperatura corpórea (fenômeno de Uhthoff), principalmente após exposição ao sol, após tomar um banho quente, ficar em frente a um forno aceso ou em ambientes fechados muito aquecidos. Há quatro formas de evolução clínica: remitente-recorrente (EM-RR), primariamente progressiva (EM-PP), primariamente progressiva com surto (EM-PP com surto) e secundariamente progressiva (EM-SP). A forma mais comum é a EM-RR, representando 85% de todos os casos no início de sua apresentação. A forma EM-SP é uma evolução natural da forma EM-RR em 50% dos casos após 10 anos do diagnóstico (em casos sem tratamento – história natural). As formas EM-PP e EM-PP com surto perfazem 10%-15% de todos os casos. EM Recorrente-remitente (ou Surto-remissão) Como o próprio nome sugere, os sintomas surgem e desaparecem com total recuperação ou deixando mínima seqüela. Entre a recorrência (surto) dos sintomas, não há qualquer progressão da doença. Esse é o padrão de apresentação mais comum da EM, acometendo 85% dos portadores. EM Primariamente Progressiva Doença progride lentamente desde a sua instalação, sem a ocorrência de sinais e sintomas de surgimento abrupto (surto). Essa forma representa 15 a 20% dos casos de EM e, diferentemente da forma recorrente-remitente, tende a acometer indivíduos com mais de 40 anos de idade e é mais comum em homens. O quadro clínico clássico é o de paraparesia espástica progressiva associada a sintomas neurovegetativos (bexiga neurogênica com urgência/urge-incontinência ou, mais raramente, retenção urinária). EM Secundariamente Progressiva Após o início da doença sob curso recorrente-remitente, existe progressão da doença, com agravamento da incapacidade. Nesse período, pode ou não haver a ocorrência de surtos. Esse padrão acometerá cerca de 50% dos pacientes após 10 anos do início da doença. EM Progressiva Primária com Recorrências (Surtos) Doença progressiva desde o início associada à ocorrência de períodos agudos de piora (surto), com total recuperação ou permanência de sequelas; há progressão da doença entre os surtos. É a forma menos frequente de apresentação. Diagnóstico Exame de ressonância magnética (RM) do encéfalo demonstrará lesões características de desmielinização; devem ser realizados alguns exames laboratoriais (exames de anti-HIV e VDRL e dosagem sérica de vitamina B12) no sentido de excluir outras doenças de apresentação semelhante à EM. Deficiência de vitamina B12, neurolues ou infecção pelo HIV (o vírus HIV pode causar uma encefalopatia com imagens à RM semelhantes às que ocorrem na EM) apresentam quadros radiológicos semelhantes aos de EM, em alguns casos. O exame do líquor será exigido apenas no sentido de afastar outras doenças quando houver dúvida diagnóstica (por exemplo, suspeita de neurolues, ou seja, VDRL positivo no sangue e manifestação neurológica). O Potencial Evocado Visual também será exigido apenas quando houver dúvidas quanto ao envolvimento do nervo óptico pela doença. Uma lesão desmielinizante medular à RM de coluna pode ser considerada equivalente a uma lesão infratentorial para fins diagnósticos de EM; uma lesão impregnada pelo gadolínio deve ser considerada equivalente a uma lesão impregnada pelo contraste no encéfalo; lesões medulares podem ser associadas às lesões encefálicas para totalizar o número https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/fenomeno_de_uhthoff.htm 13 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE mínimo de lesões em T2 definido pelos Critérios de Barkhoff. A necessidade de o paciente apresentar dois surtos para o diagnóstico atualmente pode ser substituída por um surto associado à progressão de lesões à RM (novas lesões ou surgimento de impregnação pelo gadolínio em lesões anteriormente não impregnadas, ou aumento do tamanho de lesões prévias), após o primeiro surto. Após o estabelecimento do diagnóstico, deve-se estadiar a doença, ou seja, estabelecer seu estágio ou nível de acometimento por meio da Escala Expandida do Estado de Incapacidade (Expanded Disability Status Scale - EDSS). O EDSS é a escala mais difundida para avaliação de EM. Possui vinte itens com escores que variam de 0 a 10, com pontuação que aumenta meio ponto conforme o grau de incapacidade do paciente. É utilizada para o estadiamento da doença e para monitorizar o seguimento do paciente. 14 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE 15 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE 16 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Diagnóstico diferencial Entre as infecções que podem ser semelhantes à EM estão neuroborreliose, neurossífilis e, raramente, leucoencefalopatia multifocal progressiva. As infecções pelo vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV-1) e pelo HIV devem ser consideradas nos pacientes com mielopatia progressiva. Depois do primeiro episódio agudo de EM, pode ser impossível diferenciá-la da encefalomielite disseminada aguda. Contudo, é mais provável que essa última doença ocorra depois de uma infecção ou vacinação e é mais comum nas crianças e, em geral, inclui encefalopatia (manifestação rara da EM). Embora os pacientes com sarcoidose possam apresentar sintomas neurológicos nos estágios iniciais, a avaliação clínica geralmente demonstra evidência de sarcoidose sistêmica. Outras doenças autoimunes que devem ser consideradas são síndrome de Behçet, síndrome de Sjögren, LES, vasculites e síndrome do anticorpo antifosfolipídico. A síndrome de Susac é uma endoteliopatia microangiopática autoimune, que afeta o cérebro, a retina e a cóclea e causa encefalopatia, surdez e obstruções dos ramos das artérias retinianas. Essa síndrome pode ser confundida com a EM, porque a RM cerebral mostra lesões proeminentes na substância branca. A desmielinização induzida por fármacos é uma possibilidade bastante provável nos pacientes com doença de Crohn ou artrite reumatoide ou psoriática tratados com anticorpos voltados ao fator de necrose tumoral. Também pode ser difícil diferenciar a EM da NMO e o espectro de distúrbios relacionados, especialmente nos estágios iniciais da doença, nos pacientes com neurite óptica recidivante e anormalidades mínimas na RM cerebral, ou nos indivíduos com anormalidades mais típicas de EM na ressonância magnética. Na NMO, a soropositividade para IgG pode ajudar a diferenciar essas doenças. Em alguns casos, neoplasias malignas (principalmente linfoma primário do SNC e gliomas) são incluídas no diagnóstico diferencial. Sintomas com início abrupto sugerem acidente vascular encefálico (AVE). A esclerose lateral primária pode ser semelhante à EM progressiva, mas não recidiva e é monossintomática. Em geral, a RM e as análises do LCR ajudam a diferenciar essas duas doenças. A paraparesia espástica hereditária deve ser considerada nos pacientes com uma forma progressiva desta doença, especialmente quando há história familiar de uma doença semelhante. Outras causas de mielopatia progressiva, que deve ser considerada nos pacientes supostamente portadores de EM, são adrenomieloneuropatia, deficiência de vitamina B12, deficiência de cobre, mielopatia espondilótica, tumores da medula espinal e fístula arteriovenosa da dura-máter espinal. Casos especiais 17 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Síndrome clínica isolada de alto risco de conversão para EM: Esta condição se refere a pacientes com o primeiro surto sugestivo de EM, sem fechar todos os critérios diagnósticos atuais da doença, mas que possuem ao menos 2 lesões típicas de EM à RM cerebral. Estas lesões são desmielinizantes,com pelo menos 1 ovalada, periventricular ou infratentorial, medindo ao menos 3 mm de diâmetro. Nesta situação, o paciente deverá ser investigado para os diversos diagnósticos diferenciais, incluindo outras doenças autoimunes que acometem o sistema nervoso central (SNC), doenças paraneoplásicas e infecções crônicas do SNC. O preenchimento dos critérios deve ser feito de acordo com o previsto pelos Critérios de McDonald revisados e adaptados, em que há necessidade de demonstrar disseminação no espaço e no tempo. Entende-se por disseminação no espaço RM preenchendo os Critérios de Barkhoff ou RM com pelo menos duas lesões sugestivas de EM e líquido cefalorraquidiano (LCR) positivo (presença de bandas oligoclonais pelo método qualitativo ou aumento do índice de IgG pelo método quantitativo). Entende- se por disseminação no tempo a presença de um segundo surto (pelo menos 30 dias após o surto inicial) ou RM com nova lesão em T2 (pelo menos 30 dias após a RM anterior) ou nova impregnação pelo gadolínio em lesão situada em topografia diferente da do surto anterior (após pelo menos 3 meses da RM anterior). Quatro estudos sugerem redução da taxa de conversão para EM nos pacientes tratados com glatirâmer ou betainterferona em relação ao placebo que receberam medicamento imediatamente após o surto inicial. Tal redução da taxa de conversão para EM variou de 37% - 44% na análise dos estudos após 2 anos de seguimento. Contudo, meta- análise publicada pela Cochrane mostrou haver necessidade de mais estudos para recomendar tal indicação. Assim, este Protocolo preconiza que todo paciente que apresentar um único surto da doença deva primeiro ser acompanhado com RM de crânio a cada 3-6 meses, com o objetivo de identificar o surgimento de novas lesões desmielinizantes ou lesões impregnadas pelo contraste que não apresentavam esta característica antes ou, ainda, aumento das dimensões de lesões previamente existentes. Qualquer das alterações configura quadro evolutivo, permitindo o diagnóstico de EM de forma antecipada. Crianças e adolescentes: A EM pode acometer crianças e adolescentes. Nestes casos, recomenda-se que o neurologista solicite uma avaliação para afastar leucodistrofias. Confirmada a doença, pode-se tratar com betainterferonas (qualquer representante) ou glatirâmer. Inexistem ensaios clínicos para esta faixa etária, sendo os melhores estudos de segurança do tratamento em crianças e adolescentes séries de casos em que se demonstra bom perfil de segurança. Quanto à escolha do medicamento, qualquer uma das opções - betainterferonas ou glatirâmer - pode ser utilizada. A teriflunomida, o fumarato de dimetila, o fingolimode e o natalizumabe não estão aprovados para uso em menores de 18 anos, não havendo ensaios clínicos com crianças e adolescentes, razões pelas quais não são preconizados neste Protocolo para essa faixa etária. Gestantes: Na gestação, a doença fica mais branda, com redução de até 80% da taxa de surtos. Contudo, no primeiro trimestre, pode voltar a ficar muito ativa, com risco de surtos mais graves. Em casos de evolução favorável da doença (EDSS estável e baixo, baixa taxa de surtos), recomenda-se não usar imunomoduladores nem imunossupressores por possuírem perfil de segurança desfavorável na gestação. Seu uso deve ser oferecido para casos em que a evolução clínica da doença vem sendo desfavorável. De qualquer forma, esta decisão é do médico assistente. Caso o fingolimode venha a ser indicado, recomenda- se o uso de método anticoncepcional eficaz durante e até dois meses após o término do tratamento com este medicamento conforme orientação do fabricante, pois é o tempo que o medicamento leva para ser completamente eliminado do organismo. Há dúvidas acerca dos riscos de amamentar, e não há dados na literatura para apoiar qualquer decisão. Assim, recomenda-se não amamentar. 05. Entender o tratamento e o manejo da esclerose múltipla (linha de cuidado). 18 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE CENTRO DE REFERÊNCIA Recomenda-se o atendimento dos pacientes em serviços especializados para avaliação diagnóstica por médicos neurologistas e prescrição dos medicamentos. O fingolimode deve ter a sua primeira dose administrada em serviços especializados, com infraestrutura adequada ao monitoramento dos pacientes que utilizarem o medicamento – emergências dos hospitais, enfermarias dos hospitais, clínicas de cardiologia com recursos humanos e equipamentos adequados para atendimento de urgências e emergências cardiológicas, clínicas de neurologia com recursos humanos e equipamentos adequados para atendimento de urgências e emergências cardiológicas ou consultórios médicos com possibilidade de realizar Eletrocardiograma basal e após 6 horas e médico monitorando os sinais vitais a cada hora durante 6 horas. TRATAMENTO O tratamento de EM é baseado em ensaios clínicos da década de 1990, em que quatro fármacos foram testados contra placebo, todos com resultados favoráveis. Atualmente, há novos estudos head-to-head e também meta-análises de diferentes tratamentos. A betainterferona foi o primeiro medicamento a demonstrar eficácia, independentemente de sexo, e é o fármaco de referência no tratamento da EM. Sua utilização foi testada até mesmo em pacientes sem o diagnóstico completo de EM, mas que apresentavam síndrome clínica isolada com elevado risco para o seu desenvolvimento. Observaram redução da taxa de relapso, mas sem benefício em taxa de incapacidade ou de alterações na RNM. Comparação de apresentações diferentes de betainterferonas também não demonstrou diferenças de efetividade e tolerância entre as apresentações testadas. O acetato de glatirâmer na dose de 40 mg administrado 3 vezes por semana foi avaliado em um ensaio clínico randomizado comparativamente com placebo, que incluiu 1.404 pacientes. Esse esquema demonstrou eficácia (34% de redução de relapso e 34,7% de redução de novas lesões na ressonância) bem como foi bem tolerada. Após análise de recente e extensa revisão sistemática da literatura, observou- se que nenhuma das opções terapêuticas é superior a betainterferona em todos os desfechos avaliados: ausência de surto, ausência de progressão clínica e ausência de progressão na ressonância magnética. O uso de imunossupressores não é a primeira opção, mas a azatioprina mostrou-se eficaz, como demonstrado em alguns ensaios clínicos e em meta-análise recente, sendo seu uso orientado neste Protocolo. O uso de mitoxantrona, que parecia promissor, atualmente vem sendo evitado, pois diversas séries de casos demonstraram baixo perfil de segurança. O uso de corticosteroides a longo prazo não é recomendado no tratamento de EM, tampouco a associação de medicamentos devido à falta de evidências de benefício terapêutico. Meta- análise que objetivou comparar o uso de corticoide intravenoso com o oral incluiu 5 estudos e 215 pacientes e não observou diferença entre as duas vias no escore de EDSS. Em casos de EM-RR refratários a betainterferona, preconiza-se trocá-la por glatirâmer, pois há elevada taxa de anticorpos neutralizantes que reduzem a eficácia das interferonas. A associação de betainterferona com glatirâmer não demonstrou benefício em ensaio clínico que incluiu 1.008 pacientes seguidos por 3 anos. A adição de estatinas à terapia com betainterferona não demonstrou benefício em relação à monoterapia com betainterferona conforme observado em meta-análise e ensaios clínicos. A associação de colecalciferol ao tratamento com betainterferona foi avaliada em ensaio clínico que não demonstrou diferença entre os grupos (colecalciferol ou placebo) exceto por ter apresentado menor números lesões nas raízes nervosas (T1). Também não demonstraram benefício os estudos que avaliaram o uso de ômega-3 em monoterapia ou associado a betainterferona e ginkgobiloba. 19 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Em 2017, foram incorporadospara o tratamento de EM-RR a teriflunomida e o fumarato de dimetila. A teriflunomida foi incorporada como opção na primeira linha de tratamento, como o são também a betainterferona e o glatirâmer. Trata-se de um agente imunomodulador e anti-inflamatório que atua no bloqueio da proliferação de linfócitos ativados, diminuindo a inflamação e dano à mielina no sistema nervoso central. Os benefícios com uso deste medicamento são, por exemplo, via de administração oral, maior adesão ao tratamento, facilidade de administração, tolerabilidade, maior eficácia, possibilidade de washoute facilidade de armazenamento. Em suma, glatirâmer, betainterferonas e teriflunomida são os fármacos de primeira escolha indicados neste Protocolo. A escolha muitas vezes é definida pela via de administração, por intervalo ou por perfil de efeitos adversos. A azatioprina deve ser utilizada em casos de pouca adesão às formas parenterais (intramuscular, subcutânea ou endovenosa), sendo uma opção menos eficaz. O fumarato de dimetila foi incorporado como opção terapêutica após falha de algum dos medicamentos da primeira linha de tratamento. Este medicamento atua regulando positivamente os genes antioxidantes dependentes de Nrf2. Duas revisões sistemáticas com meta-análise e comparação indireta apontaram melhores resultados de eficácia para desfechos clínicos relevantes, quando comparado o fumarato de dimetila com os medicamentos da primeira linha de tratamento. Todavia, apresentou menor eficácia e melhor perfil de segurança quando comparado ao fingolimode e natalizumabe. Ainda em 2017, foi aprovado o uso de fingolimode para o tratamento de pacientes adultos com EM- RR após falha terapêutica ou resposta sub-ótima aos medicamentos da primeira linha de tratamento. Se trata de um modulador do receptor esfingosina-1-fosfato que atua no bloqueio de receptores nas células T (esfingosina-1-fosfato). Ele está associado a reduções significativas apresenta benefícios na redução da incidência de surtos, da taxa anualizada de surtos e da progressão de incapacidade. O fingolimode foi avaliado em dois ensaios clínicos randomizados, um comparado com placebo e outro a betainterferona 1a. Os dois estudos incluíram pacientes com EM-RR que haviam apresentado pelo menos dois surtos durante os dois anos antes da randomização ou pelo menos um surto no ano anterior à randomização, e que tinham obtido um escore na EDSS entre 0 e 5,5. A taxa de surtos foi significativamente menor para os grupos que utilizaram o fingolimode em relação à betainterferona (0,16 versus 0,33) e ao placebo (0,18 versus 0,40). A porcentagem de pacientes que não apresentaram surtos foi de 83% versus 69% quando comparado à betainterferona e de 70% versus 46% quando comparado ao placebo, sendo a diferença estatisticamente significativa em ambos os estudos. Nos dois estudos foram comparadas duas doses de fingolimode (0,5 mg e 1,25 mg), sendo que a dose menor mostrou- se igualmente eficaz e mais segura. Outros estudos que também avaliaram o fingolimode apontaram também redução da incidência de novos surtos, da taxa anual destes, da progressão da incapacidade, além de se mostrar seguro, com maior incidência apenas de cefaleia e fadiga. O início do tratamento com fingolimode está associado à ocorrência de atrasos na condução atrioventricular, geralmente bloqueios atrioventriculares de primeiro grau (intervalo PR prolongado no eletrocardiograma). Bloqueios atrioventriculares de segundo grau, geralmente Mobitz tipo I (Wenckebach), foram observados em menos de 0,2% dos pacientes. Casos raros de síndrome de encefalopatia posterior reversível, caracterizados por início repentino de cefaleia grave, náusea, vômitos, alteração do estado mental, distúrbios visuais e convulsões, foram relatados na dose de 0,5 mg em estudos clínicos e na pós- comercialização. O fingolimode leva à redução da contagem de linfócitos periféricos, que é dependente da dose, para 20%–30% dos valores basais, devido ao sequestro reversível de linfócitos em tecidos linfoides. As reações adversas mais frequentes (incidência igual ou 20 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE acima de 10%) na dose de 0,5 mg foram cefaleia, aumento das enzimas hepáticas, diarreia, tosse, gripe e dor nas costas. O natalizumabe, anticorpo monoclonal que reduz a taxa de surtos e a progressão da incapacidade é o medicamento indicado para casos de falha terapêutica ao fingolimode, tendo seu benefício definido em ensaios clínicos e meta-análise. Reações adversas graves, como a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) foi relatada com natalizumabe, principalmente quando usado em associação com betainterferona. Em função dos casos de LEMP, preconiza-se o uso do natalizumabe sem qualquer associação com outro imunomodulador ou imunossupressor, sendo esta uma condição indispensável para sua administração. Neste sentido, preconiza-se o uso de natalizumabe em caso de falha terapêutica ou história de alergia ao fingolimode. Portanto, tendo o paciente iniciado o tratamento para EM-RR com algum dos medicamentos da primeira linha (glatirâmer, betainterferona ou teriflunomida) e, por toxicidade (intolerância, hipersensibilidade ou outro evento adverso) ou falta de adesão ao tratamento, o medicamento deve ser substituído por outro da primeira linha ou pelo fumarato de dimetila. Já para os casos de falha terapêutica ou resposta sub-ótima a qualquer um dos medicamentos de primeira linha, este pode ser substituído por outro da primeira linha, fumarato de dimetila ou fingolimode. Apenas nos casos de falha terapêutica com fingolimode ou contraindicação a este, deve-se prescrever o natalizumabe. A metilprednisolona é indicada para o tratamento de surto de EM durante 3-5 dias, devendo- se suspender nesse período o uso de outros medicamentos. Recorda-se que o alentuzumabe não foi incorporado pela SCTIE do Ministério da Saúde, seguindo recomendação da CONITEC, conforme publicado na Portaria SCTIE/MS n° 87, de 24 de dezembro de 2018. ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA São os seguintes os passos terapêuticos da esclerose múltipla, que se encontram resumidos no Fluxograma (Figura 1): PRIMEIRA LINHA (betainterferona, glatirâmer ou teriflunomida) Betainterferona, glatirâmer e teriflunomida são os fármacos de primeira escolha terapêutica. A azatioprina é considerada uma opção menos eficaz e só deve ser utilizada em casos de pouca adesão às formas parenterais (intramuscular, subcutânea ou endovenosa). SEGUNDA LINHA (betainterferona, glatirâmer, teriflunomida, fumarato de dimetila ou fingolimode) a) Em casos de toxicidade (intolerância, hipersensibilidade ou outro evento adverso) ou falta de adesão a qualquer medicamento da primeira linha de tratamento, é permitida a troca por qualquer outro medicamento entre os de primeira linha (betainterferonas, glatirâmer ou teriflunomida) ou por fumarato de dimetila. b) Em casos de falha terapêutica ou resposta sub-ótima a qualquer medicamento da primeira linha de tratamento, é permitida a troca por qualquer outro medicamento entre os de primeira linha (betainterferonas, glatirâmer ou teriflunomida) ou por fumarato de dimetila ou por finglimode. TERCEIRA LINHA (fingolimode) Em casos de falha terapêutica após tratamento preconizado na segunda linha de tratamento, preconiza-se o uso do fingolimode, caso não tenha sido utilizado em segunda linha. 21 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE QUARTA LINHA (natalizumabe) Em casos de falha terapêutica ao tratamento da terceira linha ou contraindicação ao fingolimode após falha terapêutica ao tratamento preconizado, indica-se o natalizumabe. O tempo de tratamento ou a troca de medicamento são determinados pela falha terapêutica ou pelo surgimento de efeitos adversos intoleráveis, após considerar todas as medidas para sua atenuação. Consideram-se falha terapêutica dois ou mais surtos num períodode 12 meses, de caráter moderado ou grave (com sequelas ou limitações significantes, pouco responsivas à pulsoterapia) ou evolução do EDSS em 1 ponto, ou progressão significativa de lesões em atividade da doença. Tais critérios são válidos para qualquer dos tratamentos preconizados, inclusive com fingolimode e natalizumabe. 22 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE MONITORIZAÇÃO Betainterferonas A monitorização dos pacientes é clinico-laboratorial. Devem ser observados taxa e gravidade dos surtos, escala de incapacidade (EDSS), efeitos adversos e perfil laboratorial (hemograma, TGO/AST, TGP/ALT, gama-GT, fosfatase alcalina, bilirrubinas, TSH). Os parâmetros clínicos (taxa e gravidade dos surtos, bem como EDSS) e o perfil laboratorial deverão ser observados. Os efeitos adversos devem ser monitorizados com a avaliação do perfil laboratorial em 30, 60 e 180 dias do início do uso do medicamento, seguida por monitorização a cada 6 meses. O TSH deverá ser realizado antes do início do tratamento, devido à concomitância de EM e doença da tireoide em aproximadamente 8% dos casos. Alterações da disfunção tireoideana deverão ser monitorizados anualmente. Em caso de efeitos adversos clínicos ou alteração laboratorial, a conduta médica deve seguir as recomendações a seguir. Alterações de provas hepáticas Para valores de TGO/AST, TGP/ALT, gama-GT e fosfatase alcalina, deve-se seguir a classificação de gravidade em grau 1 (1- 2,5 vezes acima do limite superior da normalidade), grau 2 (2,5-5 vezes acima do limite superior da normalidade), grau 3 (5-20 vezes acima do limite superior da normalidade) e grau 4 (mais de 20 vezes acima do limite superior da normalidade). Para valores de bilirrubinas, deve-se seguir a classificação de gravidade em grau 1 (1-1,5 vezes acima do limite superior), grau 2 (1,5-3 vezes acima do limite superior), grau 3 (3-10 vezes acima do limite superior) e grau 4 (mais de 10 vezes acima do limite superior). As seguintes condutas são preconizadas, de acordo com a classificação de gravidade: • Grau 4 ou icterícia - suspender a betainterferona definitivamente; • Grau 3 - interromper a betainterferona, reiniciando seu uso quando as enzimas hepáticas estiverem menos de 2,5 vezes acima do limite superior; • Grau 3 “de forma recorrente” - suspender a betainterferona definitivamente; 23 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE • Grau 2 - interromper a betainterferona, reiniciando seu uso quando as enzimas hepáticas estiverem menos de 2,5 vezes acima do limite superior. Alterações de hemograma - reduzir a dose pela metade ou suspender, frente a qualquer uma das seguintes alterações: • hemoglobina menor de 10g/dl; • leucócitos abaixo de 3.000/mm3; • neutrófilos abaixo de 1.500/mm3; • linfócitos abaixo de 1.000/mm3; • plaquetas abaixo de 75.000/mm3. Alguns eventos adversos, como depressão, alterações menstruais, inflamação ou necrose de pele nos locais de injeção subcutânea e sintomas gripais, devem ser monitorizados durante o tratamento. Glatirâmer A monitorização é clínica (taxa de surtos, EDSS e efeitos adversos). Alterações hepáticas não são frequentes. Os efeitos adversos mais comuns são as reações de pele (lipoatrofia) em 45% dos pacientes. Podem ocorrer desde quadros leves até mais graves. Os pacientes devem ter os locais de aplicação frequentemente examinados por inspeção visual e palpação. Outras reações menos comuns são dor torácica (21%), dispneia (19%), ansiedade (23%) e linfadenopatia (12%). Quando qualquer uma destas reações ocorrer, as doses subsequentes do glatirâmer devem ser reduzidas para 25% da dose preconizada por alguns dias; recomenda-se aumento de 25% da dose de forma progressiva até que seja atingida a dose usual. Devido ao risco de linfadenopatia, os pacientes devem ter os linfonodos cervicais, axilares e inguinais palpados periodicamente. Não são exigidos testes laboratoriais. Teriflunomida A monitorização é clínico-laboratorial (pressão sanguínea, sintomas de infecção e hemograma antes de iniciar o tratamento e durante a terapia). Dentre as reações adversas mais frequentes destacam-se a cefaleia, diarreia, náusea, alopecia e aumento da enzima alanina aminotransferase (ALT/TGP). As condutas preconizadas são as mesmas dadas relativamente às betainterferonas. Azatioprina A monitorização é clinico-laboratorial (taxa de surtos, EDSS, efeitos adversos, TGO/AST, TGP/ALT, bilirrubinas, fosfatase alcalina, gama-GT e hemograma), realizada 30-60 dias após o início e depois de 6/6 meses. As mesmas condutas de monitorização para o uso de betainterferonas devem ser seguidas. Fumarato de dimetila Exame de hemograma completo com contagem de linfócitos recente (até 6 meses) deve ser solicitado antes de iniciar o tratamento e a cada 6 meses. Entre os eventos adversos foi relatada a de ocorrência de leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP) em situação de linfopenia prolongada, moderada a grave, após a administração deste medicamento. Recomenda-se a interrupção do tratamento diante do primeiro sinal ou sintoma sugestivo da doença, seguida da investigação diagnóstica. Fingolimode 24 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE Antes de iniciar o tratamento, deve ser solicitado contagem de leucócitos e após dois meses de finalizado o tratamento. Nos casos de pacientes com infecção ativa grave, o início do tratamento deve ser adiado até a sua resolução. Devido ao risco de LMP, emcaso de sintomas clínicos ou resultados de imagem de ressonância magnética sugestivos da doença, o tratamento deve ser suspenso até que o diagnóstico tenha sido totalmente excluído. Durante o tratamento e até os dois meses subsequentes, as vacinações podem ser menos eficazes. Deve-se solicitar AST/TGO, ALT/TGP e bilirrubinas antes de iniciar o tratamento; caso haja sintomas sugestivos de disfunção hepática (náusea, vômito, dor abdominal, fadiga, anorexia ou icterícia inexplicados ou urina escura), repetir essas dosagens. Em caso de hepatotoxicidade grave (aumento de 5 vezes o valor basal de aminotransferases/transaminases) o tratamento com fingolimode deve ser suspensos. Devido ao risco de edema macular, caso pacientes relatem distúrbios visuais a qualquer momento durante a terapia com fingolimode, uma avaliação de fundo dos olhos, incluindo a mácula, deve ser realizada. Pacientes com esclerose múltipla e diabete melito ou com histórico de uveíte devem ser submetidos a uma avaliação oftálmica antes do início da terapia com fingolimode e ter avaliações de acompanhamento enquanto recebem esse medicamento. Deve-se estar atento para sintomas sugestivos de encefalopatia e carcinoma basocelular; caso ocorram, o fingolimode deve ser suspenso. Recomenda-se a realização de eletrocardiograma de repouso antes e após seis horas do término da administração do medicamento. A primeira dose de fingolimode deve ser realizada sob supervisão médica, com aferição da pressão arterial e do pulso a cada hora durante um período de seis horas. Caso sintomas relacionados à bradiarritmia ocorram, ações apropriadas devem ser iniciadas conforme necessário, e o paciente deve ser observado até que os sintomas tenham sido resolvidos. Se o paciente necessitar de intervenção farmacológica durante o período de observação da primeira dose aplicada, deve ser instituído monitoramento durante a noite, em um centro médico, e a conduta de vigilância da primeira dose deve ser repetida na segunda dose. Todos os cuidados que se deve ter com a primeira dose do fingolimode também devem ser tomados à reintrodução do tratamento se houver interrupção de uso superior a duas semanas, pois os efeitos adversos sobre a frequência cardíaca e a condução atrioventricular poderão ocorrer após a reintrodução. Da a mesma forma, os mesmos cuidados deverão ser aplicados se houver interrupção de um ou mais dias nas duas primeiras semanas do tratamentoe de sete ou mais dias nas terceira e quarta semanas. Em centro médico especializado (urgências e emergências de hospitais e clínicas cardiológicas com atendimento 24 horas) até a resolução dos eventos adversos também é requerida: - Se o ritmo cardíaco em seis horas após a aplicação da dose for abaixo de 45 batimentos por minuto ou for o menor valor pós- dose aplicada (sugerindo que o efeito farmacodinâmico máximo sobre o coração ainda não foi manifestado); neste caso pode- se estender o período de observação por mais duas horas antes de encaminhar o paciente a algum centro médico. - Se o ECG de seis horas após a aplicação da primeira dose mostrar novo início de bloqueio atrioventricular de segundo grau ou maior; - Se o ECG mostrar um intervalo QT igual ou acima de 500 milissegundos na sexta hora após a primeira dose, os pacientes devem ser monitorados por toda a noite. Antes de se iniciar o tratamento, uma contagem recente (menos de seis meses) de leucócitos deve estar disponível. O início do tratamento com fingolimode deve ser postergado em pacientes com infecção grave. Natalizumabe 25 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE A monitorização é clinico-laboratorial. As reavaliações deverão ser semestrais, necessitando de laudo que informe sobre a evolução do paciente (taxa de surtos e EDSS realizado a cada 3 meses), efeitos adversos e hemograma. Hemograma deve serrealizado mensalmente antes de cada infusão. Em caso de alteração, deve-se repetir o exame a cada 15-30 dias até a melhora das contagens. Se não houver melhora, o medicamento não deve ser utilizado até que haja normalização das contagens. A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) é uma infecção oportunista causada pelo vírus JC (vírus John Cunningham ou vírus polioma), que acomete tipicamente pacientes imunocomprometidos, e que pode ser fatal ou resultar em incapacidade grave. O vírus é amplamente difundido na população, de modo que o teste para o vírus JC positivo não determina necessariamente o desenvolvimento de LEMP. A positividade do teste isoladamente não deve ser critério para contraindicar o uso do natalizumabe, pois são os exames periódicos de imagem (ressonância magnética) que evidenciam precocemente a LEMP e contribuem para a redução dos possíveis danos a ela relacionados. Devido ao aumento do risco de desenvolver LEMP, os benefícios e riscos do tratamento com natalizumabe devem ser considerados individualmente pelo médico especialista e pelo paciente: Pacientes que tenham todos os três fatores de risco para desenvolver LEMP (resultado positivo para anticorpo anti-VJC, mais de 2 anos de tratamento com natalizumabe e terapia anterior com imunossupressor) apresentam um risco significativamente maior de desenvolver LEMP. Para pacientes que tenham todos os três fatores de risco, o tratamento com natalizumabe deve ser continuado somente se os benefícios superarem os riscos. 26 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE 27 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE 06. Elucidar as políticas públicas e a importância da equipe multidisciplinar nas doenças desmielinizantes. O SUS conta com a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica para atender pacientes com esclerose múltipla e demais doenças neurológicas. Ao todo, a rede pública oferta 44 procedimentos (clínicos e de reabilitação) para a doença, de forma integral e gratuita. Também há um conjunto de medicamentos ofertados especificamente para tratamento de esclerose múltipla aos pacientes cadastrados no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. São pacientes que se enquadram nos critérios clínicos e nas diretrizes terapêuticas determinadas pelo PCDT. A EM é uma doença do SNC com sintomas variáveis em múltiplos outros sistemas. Entre as principais manifestações da EM estão déficits cognitivos e de memória, disfunção intestinal, tremores, ataxia, espasticidade (que engloba rigidez e espasmos musculares), mobilidade reduzida (a qual pode ocorrer com o declínio gradual da função, devido à fraqueza muscular, espasticidade, alterações de equilíbrio, coordenação e déficits visuais) e fadiga. O tratamento da EM envolve intervenções não medicamentosas que visam à redução da incapacidade e a melhoria da qualidade de vida, o que, em geral, requer uma equipe multiprofissional e multidisciplinar que inclua fisioterapeuta, enfermeiros, psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e médicos de diferentes especialidades. A qualidade da evidência para as intervenções é insuficiente, não sendo possível preconizar condutas terapêuticas específicas para a maioria desses sintomas. A avaliação e o acompanhamento multiprofissional e multidisciplinar incluem consultas com psicólogo e psiquiatra para tratar depressão e outras manifestações psíquicas; com fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, incluindo o aconselhamento sobre a postura corporal; e com fonoaudiólogo, para distúrbios da fala e complicações afins. Os profissionais da saúde devem incentivar os pacientes a se exercitarem continuamente para obter benefícios a longo prazo, alertando que exercícios não supervisionados e treinamento de resistência de alta intensidade apresentam risco de lesões. Mas programas de exercícios supervisionados, envolvendo treinamento de resistência progressivo moderado, exercícios aeróbicos em pacientes com mobilidade reduzida ou fadiga e reabilitação vestibular para aqueles com desordem do equilíbrio, além de alongamento e ioga, podem ser medidas benéficas. As necessidades das pacientes com EM e o tipo de reabilitação apropriada variam. Os fatores que influenciam o cenário apropriado da reabilitação incluem a disponibilidade de assistência para as pessoas em casa, a localização geográfica, as metas dos indivíduos e o tipo de reabilitação necessária. Porém, não se sabe até o momento qual tipo de reabilitação apresenta maior eficácia. 28 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE ESCALA DE EDSS 29 QUARTA E ÚLTIMA TUTORIA DO SEMESTRE VER http://www.saude.ba.gov.br/patologia/http-www-saude-ba-gov-br-wp-content-uploads- 2021-06-portaria-conjunta_pcdt_esclerose_multipla-pdf/ http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/08/Fluxo-de-Esclerose-Multipla- Guia-de-Orientacao.pdf http://www.saude.ba.gov.br/patologia/http-www-saude-ba-gov-br-wp-content-uploads-2021-06-portaria-conjunta_pcdt_esclerose_multipla-pdf/ http://www.saude.ba.gov.br/patologia/http-www-saude-ba-gov-br-wp-content-uploads-2021-06-portaria-conjunta_pcdt_esclerose_multipla-pdf/ http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/08/Fluxo-de-Esclerose-Multipla-Guia-de-Orientacao.pdf http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/08/Fluxo-de-Esclerose-Multipla-Guia-de-Orientacao.pdf
Compartilhar