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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SITUAÇÃO PROBLEMA 5: Vamos viver o presente ALBERT MYULLER FERREIRA COIMBRA BRENDA SEABRA YACOUB GABRIELA DE LIMA REZENDE GIOVANNA CASAGRANDE MORELI HÉLIO SOUZA CORTEZ HENRIQUE POLIZELLI PINTO NETO JOÃO OTÁVIO LEAL FARINA KÉSSIA GOMES PINTO LUIZ FERNANDO YABUMOTO MARIA JOSE ALVES MACEDO MATHEUS CARNEIRO PARANHOS MINEIROS-GO 2021 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA RELATÓRIO SP5 Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade II, do 7º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação do Professor Dr Geraldo Eustáquio da Costa Junior. MINEIROS-GO 2021 SUMÁRIO OBJETIVOS.................................................................................................................4 INTRODUÇÃO ............................................................................................... ............5 DISCUSSÃO ...............................................................................................................6 CONCLUSÃO ............................................................................................................16 REFERÊNCIAS...................................................................................................... .....17 1. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1.1 Objetivo Geral: Identificar os distúrbios motores e sensitivos decorrentes de doenças desmielinizantes, tomando como modelo a esclerose múltipla. 1.2 Objetivos específicos: Definir doenças desmielinizantes. Descrever a etiologia e a fisiopatologia das doenças desmielinizantes. Citar a epidemiologia das doenças desmielinizantes. Caracterizar os mecanismos pelos quais as doenças desmielinizantes levam a alterações motoras e sensitivas. Sistematizar a abordagem clínica dos casos de paralisia ascendente. Caracterizar a importância dos exames complementares no diagnóstico diferencial das doenças desmielinizantes. Reconhecer os tratamentos disponíveis para as doenças desmielinizantes, bem como os novos medicamentos e tratamentos para esclerose múltipla. Caracterizar a importância da abordagem integral nos casos de distúrbios sensoriais, motores e da consciência. Descrever a etiofisiopatologia da esclerose múltipla. Citar outras doenças desmielinizantes. Discutir a finalidade da análise laboratorial do líquor (LCR) no diagnóstico auxiliar de esclerose múltipla. 2. INTRODUÇÃO O presente relatório irá abordar sobre a patologia de Anna, jovem solteira com 22 anos, que procurou atendimento, por estar sentindo parestesias em membros e fadiga, de forma insidiosa, porém progressiva nos últimos 6 meses. Apresentou também, alterações visuais, tremores, marcha lentificada, redução da força muscular e está deprimida. Foram pedidos exames complementares, como ressonância magnética e dosagem de anticorpos, firmando o diagnóstico de Esclerose Múltipla, o qual procedeu com tratamento adequado. Diante disso, iremos abordar sobre as principais doenças desmielinizantes, entendendo os seus processos etiofisiopatólogicos, identificando a epidemiologia e os sintomas clínicos dos pacientes com essas patologias. Ademais, será contemplado também os principais exames complementares firmam o diagnóstico, e também a abordagem terapêutica com medicamentos, e programas de reabilitação. 3. DISCUSSÃO As doenças desmielinizantes são disfunções imunologicamente mediadas que equivalem à destruição da mielina do sistema nervoso central (SNC). Uma das doenças mais comuns dessa categoria é a esclerose múltipla, ficando atrás apenas dos traumas. Causa incapacidade neurológica no início ou durante a vida adulta. A bainha de mielina cobre fibras nervosas do SNC E SNP, ela tem a função de acelerar os impulsos nervosos pelo axônio. Doenças que causam a destruição dessas bainhas interrompem a transmissão nervosa, provocando incapacidade neurológica. Existem dois tipos diferentes de mielina, a formada pela oligodendroglia no SNC e a formada perifericamente pelas células de Schwann. Elas se diferenciam quimicamente e imunologicamente e devido a isso algumas doenças afetam nervos periféricos e outras nervos do SNC (principalmente encéfalo, medula espinhal e nervos ópticos). Essa desmielinização ocorre devido a doenças isquêmicas, metabólicas, infecciosas, hereditárias ou alguma toxina. Nas doenças desmielinizantes primárias, é difícil reconhecer a causa, por vir algumas vezes após uma infecção viral ou vacinação viral então se suspeita de um mecanismo autoimune. A degradação da mielina costuma ser segmentada ou localizada e afeta área de modo simultâneo ou sequencial. Em geral, ocorre remielinização, com reparo, regeneração e recuperação completa da função neural. Entretanto, a perda extensa de mielina costuma ser seguida por degeneração axônica e, em geral, degeneração do corpo celular; ambas podem ser irreversíveis. Os transtornos desmielinizantes primários são sugeridos pelos déficits difusos ou multifocais, início semanas após infecção ou vacinação, início súbito ou subagudo, sintomas que sugerem uma doença desmielinizante específica (p. ex., neurite óptica inexplicável ou oftalmoplegia intranuclear, sugerindo esclerose múltipla). Falando um pouco mais especificamente a etiofisiopatologia das principais doenças desmielinizantes: A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune, de caráter desmielinizante, crônica e evolutiva que atinge a substância branca do sistema nervoso central (SNC). A autoimunidade representa o processo de agressão à bainha de mielina do SNC por uma resposta inflamatória exacerbada e contínua. Tal elemento é essencial para o curso das alterações progressivas ao indivíduo acometido por essa patologia. Em geral, o curso clínico da doença ocorre com eventos recorrentes e períodos de remissões, fato que determina o padrão sintomatológico e grau de incapacitação dos pacientes acometidos. Em associação, outro determinante é a fase da doença em que o indivíduo se encontra. A EM, junto a outras doenças como encefalomielite disseminada aguda e encefalomielite necrotizante hemorrágica aguda, compõe o grupo das doenças denominadas desmielinizantes do SNC. As lesões macroscópicas são identificadas pela presença de placas desmielinizadas dispostas de forma difusa no SNC, acometendo regiões do encéfalo e medula espinhal. As placas têm diâmetro e localização diversificadas, podendo variar de alguns milímetros a centímetros a depender da evolução e curso da doença. As localizações preferenciais são periventricular, periaquedutal (no tronco do encéfalo) e junto ao assoalho do IV ventrículo, além de regiões como cerebelo, nervo óptico, medula espinhal e pedúnculos cerebelares. Na fase inicial e aguda da doença há presença de células inflamatórias abundantes culminando na maior agressão tecidual, sendo evidentes seus aglomerados principalmente em torno das pequenas veias. Dentre as principais células encontram-se os linfócitos e macrófagos. A doença se inicia a partir da ativação desregulada do sistema imune com linfócitos T na periferia, ou seja, no sangue periférico e linfonodos. Com isso, há consequente ativação de linfócitos B e monócitos que atravessam a barreira hematoencefálica e chegam ao SNC gerando reações inflamatórias indesejadas com a produção de citocinas e anticorpos. Tal reação de maneira contínua ocasiona a desmielinização, com áreas espaçadas que formam os focoscicatriciais - gliose. A perda de função durante um surto da doença ocorre tanto pelo processo inflamatório agudo, quanto pelos efeitos diretos da desmielinização que geram bloqueio da condução dos impulsos nervosos. A encefalomielite pós-infecciosa é um distúrbio desmielinizante que costuma ocorrer dentro de 1 mês após infecção bacteriana ou viral ou vacinação. As características clínicas incluem confusão ou coma, e déficits neurológicos focais. São reconhecidas 3 formas de encefalomielite pós-infecciosa: encefalomielite aguda disseminada, encefalite de tronco encefálico tipo Bickerstaff (lesões desmielinizantes de ambos os hemisférios, associadas com hemorragia e edema) e leucoencefalite hemorrágica. A encefalomielite disseminada aguda é o tipo mais comum de encefalomielite pós-infecciosa, ocorre como um episódio isolado de sinais e sintomas neurológicos, associado a uma infecção viral inespecífica, incluindo sarampo, varicela, ou após vacinações. Patologicamente, observam-se áreas perivasculares de desmielinização disseminadas pelo cérebro e pela medula espinal, associadas a uma reação inflamatória. Também podem ser acometidos nervos ópticos ou nervos cranianos, hemisférios cerebrais, tronco cerebral ou cerebelo. Apresenta déficits neurológicos multifocais acompanhados de encefalopatia. As características clínicas são febre, dor de cabeça, vômito, sinais meníngeos, convulsões, paralisias do nervo craniano, entre outros. A leucoencefalite hemorrágica é um distúrbio desmielinizante e hemorrágico que, caracteristicamente, segue uma infecção respiratória e tem uma evolução fulminante, resultando em óbito depois de alguns dias. Pequenas hemorragias múltiplas são encontradas no cérebro, e hemácias podem ser observadas no LCS. A neuromielite óptica é um distúrbio autoimune recorrente e está associado com um marcador de anticorpo específico, NMO-IgG, que tem como alvo o canal de água aquaporina-4. Acredita-se que as lesões aos astrócitos levem à desmielinização. O distúrbio é caracterizado por neurite óptica e mielite associada com alterações da RM que se estendem ao longo de pelo menos três segmentos da medula espinal. A soropositividade sugere um resultado visual pobre. A RM não mostra envolvimento da substância branca nos casos típicos, embora tais alterações não excluam o diagnóstico. Em algumas pessoas com transtorno do espectro de neuromielite óptica, o sistema imunológico tem como alvo outra proteína denominada glicoproteína mielínica de oligodendrócitos, que está presente na camada externa de mielina. Na neurite óptica desmielinizante aguda, a acuidade visual, em geral, mas não invariavelmente, melhora em 2 a 3 semanas, com eventual retorno ao normal ou à visão próxima do normal. Síndrome de Guillan Barré: é uma polineuropatia inflamatória aguda, autolimitada, na maioria das vezes do tipo desmielinizante, de mecanismo autoimune pós-infeccioso. É uma condição que provoca fraqueza ascendente, flácida e reflexa, podendo estar associada a sintomas sensitivos, sinais de desautonomia e paresia de nervos cranianos, geralmente os sintomas ocorrem de uma a dias semanas após alguma infecção Fisiopatologia: fenômeno autoimune desencadeado por uma infecção respiratória ou gastrointestinal. Os agentes infecciosos mais relacionados são o Campylobacter jejuni (intestinal), EBV (respiratórios), infecções de vias aéreas, infecções virais como herpes Epsten-Barr, zika vírus histórico de vacinação, principalmente H1N1, tendo como principal o citomegalovírus. Em cerca de 75% dos casos, pode-se detectar a infecção 1-3 semanas precedendo a doença. A patogênese provavelmente depende da imunidade humoral, já que em até 50% dos casos podem ser detectados autoanticorpos anti-GM1 (glicofosfolipídeo 1). Na síndrome de MillerFisher (uma variante da SGB), mais de 90% dos casos têm autoanticorpos/ anti-GQ1b. A epidemiologia das principais doenças desmielinizantes é a seguinte: A Esclerose Múltipla (EM) afeta aproximadamente 400.000 pessoas nos EUA e 2.5 milhões em todo o mundo. É uma importante causa de incapacidade não traumática em adultos jovens. A prevalência da EM varia com a latitude, sendo mais prevalente em regiões do hemisfério norte, como EUA, Canadá e Europa. Estima-se que 2,5 milhões de pessoas sejam afetadas pela doença. O Brasil é considerado um país de baixa/média prevalência, e escudos conduzidos em diferentes cidades brasileiras demonstraram uma distribuição heterogênea da EM no território nacional, com taxas que variam de 5 a 20/100.000 habitantes. A EM é mais comum em pacientes de origem caucasiana, e no sexo feminino, exceto nos indivíduos que apresentam a forma progressiva primária da doença, em que não há a preponderância de um dos gêneros. A faixa etária de início dos sintomas é entre 20 e 40 anos, sendo rara acima de 60 anos. Síndrome de GuillainBarré: é a maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo, com incidência anual de 1 a 4 casos por 100.000 habitantes e pico entre 20 e 40 anos de idade. Inexistem dados epidemiológicos específicos para o Brasil, apenas a distribuição dos subtipos da doença. Aproximadamente 60% a 70% dos pacientes com SGB apresentam alguma doença aguda precedente, sendo a infecção por Campilobacterjejuni a mais frequente (32%), seguida por citomegalovírus (13%), vírus Epstein Barr (10%) e outras infecções virais, tais como hepatite por vírus tipo A, B e C, influenza e vírus da imunodeficiência humana. Neuromielite Óptica (NMO) não se conhece a incidência e a prevalência efetivas da NMO. De maneira geral, inicia-se tardiamente, na quarta década, mas o inicio pode ocorrer também durante a infância ou depois da idade de 70 anos. As mulheres são afetadas em frequência pelo menos quatro vezes maior que a dos homens, e no maior grupo de NMO até aqui publicado 39% dos pacientes eram não brancos. A NMO parece ser menos frequente do que a EM, mas, em algumas regiões onde ela é mais comum. Encefalomielite disseminada aguda: ADEM é uma doença incomum cuja epidemiologia não é bem conhecida. Um estudo no Japão no período de 1998 a 2003 em população de crianças até 15 anos relatou incidência de 0,64/100.000 casos por ano. Outros estudos reportaram incidência de ADEM pós-sarampo 1:1.000, pós-varicela 1:10.000 e pós-rubéola 1:20.000. A incidência para outros vírus não é conhecida. Estudo recente sobre campanha vacinai contra sarampo na província de Sichuan na China relatou um caso de ADEM entre 14,2 milhões de vacinações. A maior incidência de casos de ADEM pós-vacinai foi relacionada ao uso de vacina antitetânica não purificada, contaminada com antígenos mielínicos de tecido cerebral animal, utilizada em países subdesenvolvidos. As doenças desmielizantes tem como sintomatologia alterações sensitivas e motoras: Alterações Sensitivas No exame, os achados sensitivos mais comuns são a perda da percepção de vibração, mais proeminentes nos pés, e níveis incompletos na medula espinal à estimulação com alfinete ou vibratória, os quais são frequentemente mais observados como algo mal definido do que em um nível nítido. Esses níveis sensitivos podem ser assimétricos e diferir por modalidade sensitiva em virtude da desmielinização isolada nas colunas dorsais em comparação com os tratos espinotalâmicos. Áreas focais irregulares ou aparentemente não anatômicas de sensibilidade prejudicada podem ocorrer, e alguns pacientes descrevem sensações bizarras como água pingando ou insetos andando sobre uma área do corpo. Alterações Motoras Os sintomas motores mais comuns na EM e em outras doenças desmielinizantes são fraqueza e coordenação prejudicada em um membro, com comprometimento ascendente de distal a proximal e comumente se alastrando ao membro contralateral ou ipsilateral. A lesão que causa estes sintomas é mais comumente sediada na medula espinal cervical que na medulaespinal torácica, mesmo quando o primeiro sinal é a queda parcial do pé. Fadiga e fraqueza induzidas pelo calor, como manifestado por sintomas focais (batida de um pé ou arrastar de uma perna) ocorrendo depois de 15 a 20 minutos de exercício e se resolvendo com repouso, são características de doença dismielinizante inicial. Na EM instalada há vários anos, os sinais clássicos de tratos corticoespinais são muitas vezes evidentes e se manifestam clinicamente com marcha espástica (hemiparética ou paraparética), espasmos musculares, e clônus, às vezes ocorrendo com alterações de posição e considerados erroneamente como tremor cerebelar. Ataxia pode ocorrer como resultado da transmissão prejudicada de informação sensitiva pela medula espinal para vias ascendentes ou por desmielinização de vias cerebelares no tronco cerebral ou cerebelo. Dismetria apendicular resultando em tremor para alcançar um objeto é uma causa comum de incoordenação e destreza prejudicadas. A ataxia dos membros inferiores e tronco pode resultar em uma marcha de base larga (marcha ebriosa). Mioquimia (movimentos musculares vermiformes) sob a pele, especialmente em torno da face, no entanto, é bastante comum. Pseudoatetose e distonia podem ser vistas em casos em que predomina a lesão medular. A abordagem clínica dos pacientes com paralisia ascendente é feita após erradicação da poliomielite, as duas causas mais comuns de paralisia flácida agudam no PS são GBS e mielite transversa aguda, já mencionada anteriormente. A fraqueza, muito relata nos pacientes, é definida como a incapacidade de gerar força voluntária normal em um músculo ou torque voluntário normal sobre uma articulação. A fraqueza aguda pode apresentar deficiência localizada ou difusa. Uma descrição precisa do déficit motor - sua forma de início, duração e progressão - é essencial para possibilitar um diagnóstico diferenciado completo. Nesse sentido, um histórico detalhado e um exame físico completo, inclusive um exame neurológico objetivo, fornecerão as melhores oportunidades para agilizar a identificação da etiologia. Histórico: Questões como a frequência, forma de início, ritmo, fatores de melhora e piora, fatores precipitantes, forma de progressão (ascendente ou descendente), sintomas associados de infecção (febre, dor de cabeça, vômito, diarreia) ou doença recorrente, sintomas sensoriais anteriores ou concomitantes, como dor/sensibilidade, disestesias, dormência, dor de cabeça ou alterações visuais, mudanças nos hábitos de micção e intestinais, mudanças no estado mental, histórico de infecções recentes, outras comorbidades e medicamentos em uso devem ser abordadas. Exame físico e neurológicos: Deve abordar os sinais vitais do paciente, perímetro cefálico, rigidez nucal e outros sinais meníngeos, sinais de insuficiência respiratória, estado mental, sistemas cardiovascular e respiratório e exame do abdômen, resposta pupilar, exame motor, (tônus muscular e força, reflexos do tendão profundo, clônus do tornozelo, teste de pronação), marcha, sinais de doença muscular crônica, por exemplo, atrofia muscular, fasciculações, miotomia, sinal de Gowers. O uso de exames complementares é essencial no diagnóstico das doenças desmienilizantes, por isso, deve ser pedido hemograma completo, glicemia para descarte de doenças infecciosas e hipoglicemia, os principais exames utilizados para firmar o diagnóstico de EM são: Ressonância Magnética (RM) é o método de maior conspicuidade e que permite a melhor caracterização dos danos secundários na substância branca. Através deste método podemos caracterizar o número e a distribuição das lesões desmielinizantes. As lesões de ressonância magnética sugestivas de EM são tipicamente encontradas na região periventricular, corpo caloso, centro semioval e, em menor escala, estruturas profundas de substância branca e gânglios da base. Líquido Cefalorraquidiano/Líquor (LCR): elevação protéica após a primeira semana do início dos sintomas e contagem de células mononucleares inferior a 10/mm3. A punção lombar NÃO é um requisito para o diagnóstico de EM - Pode ser usada para aumentar a confiança diagnóstica nas seguintes configurações: 1. Quando os pacientes apresentam uma síndrome clinicamente isolada sugestiva de EM que atenda aos critérios radiológicos de disseminação no espaço, mas não de tempo, os critérios de McDonald aceitam o achado de bandas oligoclonais específicas do líquido cefalorraquidiano como um substituto para a disseminação no tempo. 2. Para os pacientes com uma síndrome clinicamente isolada que têm resultados de RNM que não cumprem os critérios de McDonald para a disseminação no espaço (ou seja, uma ressonância magnética do cérebro que não mostra nenhuma ou poucas lesões), com a avaliação do líquido cefalorraquidiano para bandas oligoclonais pode ajudar a refinar a estimativa do risco de progressão para esclerose múltipla. 3. Com apresentações que não sejam uma síndrome clinicamente isolada típica, incluindo um curso progressivo de início (sugestivo de EM progressiva primária). 4. Em populações em que EM seja menos comum (crianças e adultos mais velhos). CRITÉRIOS – MCDONALD: Outros exames que podem ser solicitados: Potencial evocado: avalia a função das vias aferentes (visuais, auditivas e somatossensoriais) ou eferentes (motoras) do SNC, baseado no cálculo computadorizado de médias para medir os potenciais elétricos do SNC evocados por estimulação repetitiva de determinados nervos periféricos ou do encéfalo. Anormalidades em uma ou mais modalidades de PE ocorrem em 80 a 90% dos pacientes com EM. As anormalidades dos PE não são específicas da EM, porém o retardo acentuado na latência de um componente específico dos PE (em oposição à redução da amplitude ou distorção do formato de onda) é sugestivo de desmielinização. Eletroneuromiografia: na condução neural motora, os marcos eletrofisiológicos de desmielinização incluem latências distais prolongadas, lentificação de velocidades de condução, dispersão temporal, bloqueio de condução e latências da Onda-F prolongadas, todos esses parâmetros geralmente simétricos e multifocais. Há controvérsias a respeito da precocidade dos achados eletrofisiológicos. Alguns autores sugerem que o bloqueio de condução seja a alteração mais precoce, enquanto outros autores relatam que as latências motoras distais prolongadas e o prolongamento ou a ausência da Onda-F e da Onda-H são os achados mais precoces. Na condução neural sensitiva, de 40% a 60% dos pacientes demonstrarão anormalidades tanto na velocidade de condução quanto na amplitude (mais frequente) de vários potenciais desse tipo de condução; tais achados podem estar ausentes durante as primeiras semanas da doença. O tratamento da EM é dividido em tratamento dos episódios agudos, uso de agentes modificadores da doença que reduzem a atividade biológica da EM e terapia sintomática. Não há tratamentos que causem a remielinização ou reparo neural, mas há diversos estudos sobre o tema. Corticoide: O tratamento com glicocorticoides geralmente é feito com metilprednisolona intravenosa, 500 a 1.000 mg/dia durante 3 a 5 dias, sem redução gradual ou seguida por um ciclo de prednisona oral com dose inicial de 60 a 80 mg/dia e redução gradual ao longo de duas semanas. Pode ser substituído por metilprednisolona ou a dexametasona (em doses equivalentes) administradas por via oral. Os efeitos colaterais da terapia com glicocorticoides incluem retenção hídrica, perda de potássio, ganho ponderal, distúrbios gástricos, acne e labilidade emocional. Aconselha-se o uso concomitante de dieta pobre em sal e rica em potássio, bem como evitar diuréticos excretores de potássio. O carbonato de lítio (300 mg por via oral, 2×/dia) ajuda a controlar a labilidade emocional e a insônia associadas à terapia com glicocorticoides. Os pacientes comhistória de doença ulcerosa péptica podem necessitar de cimetidina (400 mg, 2×/dia) ou ranitidina (150 mg, 2×/dia). Os inibidores da bomba de prótons, como o pantoprazol (40 mg por via oral, 2×/ dia) reduzem a probabilidade de gastrite. A plasmaférese (cinco a sete trocas: 40 a 60 mL/kg por sessão, em dias alternados, por 14 dias) pode beneficiar pacientes com ataques fulminantes de desmielinização que não tenham respondido aos glicocorticoides. Interferon: O IFN-β é um interferon da classe I originalmente identificado por suas propriedades antivirais. Sua eficácia na EM provavelmente resulta das propriedades imunomoduladoras, incluindo: Infrarregulação da expressão das moléculas do MHC nas células apresentadoras de antígenos; redução dos níveis de citocinas pró- inflamatórias e aumento dos níveis de citocinas reguladoras, inibição da proliferação das células T e limitação do trânsito das células inflamatórias no SNC. Os efeitos colaterais incluem sintomas da síndrome gripal e anormalidades leves nos exames laboratoriais de rotina. Em geral, os efeitos colaterais podem ser tratados com anti-inflamatórios não esteroides concomitantes. Foi relatada a ocorrência de depressão, aumento da espasticidade e alterações cognitivas, porém esses sintomas também podem ser causados pela doença subjacente. O natalizumabe (Tysabri®) é um anticorpo monoclonal contra o VLA-4, uma molécula de adesão leucocitária que facilita a entrada de leucócitos autorreativos no SNC. É a droga mais eficaz para o controle da doença (66% de redução nas recidivas), porém, recomenda-se que o natalizumabe seja reservado aos casos refratários à terapia convencional. A mitoxantrona (Novantrone®) é um quimioterápico com propriedades imunossupressoras, utilizado como primeira escolha no tratamento da forma progressiva da EM. Pacientes que recebem essa droga devem ser monitorizados periodicamente com ecocardiograma, pois trata-se de uma substância extremamente cardiotóxica. Como alternativas aos tratamentos citados dispomos de: metotrexato, azatioprina, ciclofosfamida e imunoglobulina intravenosa, os quais são menos eficazes. Já pra a síndrome de guillain-barré (SGB) os corticoides não têm benefício nessa doença. O paciente deve estar internado, de preferência no CTI, fazer a profilaxia do tromboembolismo venoso e manter cuidados gerais com a pele (evitar escaras), além de suporte nutricional enteral e fisioterapia motora para evitar contraturas. A causa mais comum de óbito são as complicações pulmonares secundárias (pneumonia nosocomial, por causa do longo tempo de ventilação mecânica). As arritmias podem levar à morte súbita. O tratamento específico deve ser iniciado com uma das seguintes opções: (1) imunoglobulina IV; (2) plasmaférese. A mortalidade gira em torno de 5%. Cerca de 80% dos pacientes apresenta boa recuperação durante os próximos meses. Os corticoides não têm benefício nessa doença. Aliado ao tratamento medicamentoso, o tratamento reabilitacional é fundamental para reduzir a espasticidade, espasmo, fadiga, depressão entre diversos outros sintomas, alem da neurorreabilitação que colabora na adaptação e recuperação, quando possível, e prevenção ao longo do tempo de complicações como as deformidades ósseas. Dentre as terapias neurorreabilitação podemos detacar: psicologia, neuropsicologia, fisioterapia, arteterapia, fonoaudiologia, fisioterapia, neurovisão e terapia ocupacional. Não podemos esquecer-nos de mencionar outras terapias como a neurologia, psiquiatria, medicina preventiva e urologia e as terapias complementares que promovem a harmonia física e espiritual, contribuindo com o paciente diagnosticado com esclerose múltipla no aspecto psicológico, melhorando a autoestima, autoconfiança e aceitação. Já no aspecto físico, ajuda a aliviar as dores, melhorando a força e a flexibilidade. 4. CONCLUSÃO Após conhecimento da bainha de mielina e na sua importância de propagação dos impulsos nervosos, vimos o quão complicado são as doenças desmielinizantes, essas que em sua maioria se iniciam, após um processo infeccioso, ou vacina, que desencadeia um processo autoimune. Faz-se importante saber também a epidemiologia, e etiofisiopatologia das principais doenças desmielinizantes, sendo mais prevalentes em pessoas jovens com média de acometimento na idade entre 20 e 40 anos, as mais frequentes são Esclerose Múltipla (EM) e Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Após compreender isso, é importante conhecer os sintomas sensitivos e motores que acometem os pacientes, firmando o diagnóstico com exames complementares, como ressonância magnética, exame do líquor, eletromiografia, e potenciais evocados. Para diagnóstico da EM, usa-se os critérios de MCDONALD. O tratamento da EM é multidisciplinar, com abordagem de profissionais como psicólogos, fisioterapeutas, neurologista e até mesmo psiquiatras, além do uso de medicamentos corticosteroide em fase aguda, e principalmente intérferon em fase de manutenção. Já a SGB, não se faz uso de corticosteroide pois são ineficazes, tratando com suporte e internação, imunoglobulina IV e plasmaferese. 5. REFERÊNCIAS Brasil, Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Múltipla. 2019. GOLDMAN, Lee. Goldman-Cecil Medicina. 25. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. 2 v. HARRISON T.R. et al. Harrison: Medicina Interna. 17ª ed. Rio de Janeiro: AMGH Editora Limitada, 2008. Vol I e II. HARRISON T.R. et al. Harrison: Medicina Interna. 20ª ed. Rio de Janeiro: AMGH Editora AMGH, 2019. Vol I e II. LOUIS, E. D.; MAYER, S. A.; ROWLAND, L. P. Merritt -Tratado de Neurologia. 13a. Edição, Editora Guanabara Koogan, 2018. TILBERY, Charles Peter. Esclerose Múltipla e Outras Doenças Desmielinizantes. In: LOPES, Antônio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016. Cap. 179.
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