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1 PMSUS 5 1- Definir a etiologia, fatores de risco, modos de transmissão e epidemiologia das doenças citadas (hepatites, HIV, cancro mole, sífilis, uretrites) HEPATITES Tipos Os diferentes tipos de hepatite são: A, B, C, D, E, F, G, hepatite autoimune, hepatite medicamentosa e hepatite crônica. Hepatite A É uma infecção causada pelo vírus A da hepatite (HAV), também conhecida como “hepatite infecciosa”. Na maioria dos casos, a hepatite A é uma doença de caráter benigno; contudo, o curso sintomático e a letalidade aumentam com a idade. Etiologia A hepatite A é causada por um vírus RNA de fita simples positiva, que pertence à família Picornaviridae, denominado vírus da hepatite A (HAV), que se replica no fígado, é excretado na bile e eliminado nas fezes, resultando na transmissão pela via fecal-oral. O HAV interfere na função hepática, desencadeando uma resposta imune que leva à inflamação no fígado. Fatores de risco • Viajar para regiões com altos índices de contaminação por hepatite A • Ingerir água não filtrada • Comer frutos do mar crus ou mal cozidos • Ser HIV positivo com sistema imunológico comprometido. Modo de transmissão A transmissão da hepatite A é fecal-oral (contato de fezes com a boca). A doença tem grande relação com alimentos ou água não seguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal (OMS, 2019). Outras formas de transmissão são os contatos pessoais próximos (intradomiciliares, pessoas em situação de rua ou entre crianças em creches) e os contatos sexuais (especialmente em homens que fazem sexo com homens – HSH). A estabilidade do HAV no meio ambiente e a grande quantidade de vírus presente nas fezes dos indivíduos infectados contribuem para a transmissão. Crianças podem manter a eliminação viral até cinco meses após a resolução clínica da doença. No Brasil e no mundo, há também relatos de casos e surtos que ocorrem em populações com prática sexual anal, principalmente a que propicia o contato fecal-oral (sexo oral-anal). Epidemiologia Em países de renda média, com a economia em transição e condições sanitárias variáveis – situação atual do Brasil –, há uma redução no número de pessoas que têm contato com o vírus da hepatite A na infância e, consequentemente, um aumento no número de pessoas que estão sujeitas a terem a infecção mais tarde. A ausência de contato com o vírus na infância pode levar a um aumento da possibilidade de surtos na comunidade (OMS, 2018; LEMON et al., 2018). No Brasil, https://www.minhavida.com.br/saude/temas/hiv 2 PMSUS 5 os casos de hepatite A concentram-se, em sua maioria, nas regiões Norte e Nordeste, que juntas reúnem 55,7% de todos os casos confirmados no período de 1999 a 2018. As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste abrangem 17,7%, 15,4% e 11,2% dos casos do país, respectivamente. Hepatite B É uma doença infecciosa que agride o fígado, sendo causada pelo vírus B da hepatite (HBV). O HBV está presente no sangue e secreções, e a hepatite B é também classificada como uma infecção sexualmente transmissível. Inicialmente, ocorre uma infecção aguda e, na maior parte dos casos, a infecção se resolve espontaneamente até seis meses após os primeiros sintomas, sendo considerada de curta duração. Essa resolução é evidenciada pela presença de anticorpos chamados anti-Hbs. Contudo, algumas infecções permanecem após esse período, mantendo a presença do marcador HBsAg no sangue. Nesses casos, a infecção é considerada crônica. O risco de a infeção tornar-se crônica depende da idade do indivíduo. As crianças, por exemplo, têm maior chance de desenvolver a forma crônica. Naquelas com menos de um ano, esse risco chega a 90%; entre um e cinco anos, varia entre 20% e 50%. Por essa razão, é extremamente importante realizar a testagem de gestantes durante o pré-natal e, caso necessário, realizar a profilaxia para a prevenção da transmissão vertical. Em adultos, cerca de 20% a 30% das pessoas adultas infectadas cronicamente pelo vírus B da hepatite desenvolverão cirrose e/ou câncer de fígado. Etiologia A hepatite viral B é causada por um vírus pertencente à família Hepadnaviridae, o vírus da hepatite B (HBV). É um DNA-vírus envelopado, com fita de DNA dupla incompleta e replicação do genoma viral por enzima transcriptase reversa. Fatores de risco • Ter relações sexuais desprotegidas com vários parceiros, pois tem maior chance de algum ser portador do vírus sem saber • Ter sido diagnosticado com outra doença sexualmente transmissível, como gonorreia e clamídia • Compartilhar seringas durante aplicação de drogas injetáveis • Trabalhar em áreas de saúde, com exposição a sangue • Viajar para regiões em que há altos índices de infecção por HBV, como África, sudoeste e região central da Ásia e Leste Europeu Modo de transmissão A epidemiologia da hepatite B não é homogênea no cenário nacional (LOPES; SCHINORI, 2011). Essa infecção apresenta uma concentração dos casos na região Amazônica, e em alguns pontos da região Sul. Além disso, alguns grupos são considerados mais vulneráveis à infecção pelo aumento de sua exposição ao vírus, a saber: trabalhadores do sexo, pessoas que usam drogas, pessoas privadas de liberdade e pessoas em situação de rua. No período de 1999 a 2018, foram https://www.minhavida.com.br/saude/temas/gonorreia https://www.minhavida.com.br/saude/temas/clamidia 3 PMSUS 5 notificados 233.027 casos confirmados de hepatite B no Brasil, período com poucas variações na taxa de detecção, atingindo 6,7 casos para cada 100 mil habitantes no país em 2018. As taxas de detecção das regiões Sul e Norte têm se mostrado superiores à taxa nacional. Epidemiologia O HBV pode sobreviver por períodos prolongados fora do corpo (BOND et al., 1981), e tem maior potencial de infecção que os vírus da hepatite C (HCV) e da imunodeficiência humana (HIV), em indivíduos suscetíveis. As principais formas de transmissão são: • Relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada; • Da mãe infectada para o filho, durante a gestação e o parto; • Compartilhamento de material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos); • Compartilhamento de materiais de higiene pessoal (lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam); • Na confecção de tatuagem e colocação de piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos que não atendam às normas de biossegurança; • Por contato próximo de pessoa a pessoa (presumivelmente por cortes, feridas e soluções de continuidade); • Transfusão de sangue (mais relacionadas ao período anterior a 1993). Hepatite C É um processo infeccioso e inflamatório, causado pelo vírus C da hepatite (HCV) e que pode se manifestar na forma aguda ou crônica, sendo esta segunda a forma mais comum. A hepatite crônica pelo HCV é uma doença de caráter silencioso, que evolui sorrateiramente e se caracteriza por um processo inflamatório persistente no fígado. Aproximadamente 60% a 85% dos casos se tronam crônicos e, em média, 20% evoluem para cirrose ao longo do tempo. Uma vez estabelecido o diagnóstico de cirrose hepática, o risco anual para o surgimento de carcinoma hepatocelular (CHC) é de 1% a 5% (WESTBROOK; DUSHEIKO, 2014). O risco anual de descompensação hepática é de 3% a 6%. Após um primeiro episódio de descompensação hepática, o risco de óbito, nos 12 meses seguintes, é de 15% a 20% (WESTBROOK; DUSHEIKO, 2014). Etiologia O vírus da hepatite C (HCV) pertence ao gênero Hepacivirus, família Flaviviridae. É um RNA vírus, de fita simples e polaridade positiva. Fatores de risco • Estar em diálise renal por muito tempo • Ter contato regular com sangue (profissionais da área de saúde, por exemplo) • Compartilhar seringas, lâminas, agulhas e outros objetos suscetíveis à contaminação de sangue de alguém que tenha hepatite C • Receber transfusão de sangueantes de julho de 199 4 PMSUS 5 • Receberam sangue ou órgãos de um doador que tem hepatite C. Modo de transmissão A transmissão do HCV pode acontecer por: • Contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas (cachimbos); • Reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos; • Falha de esterilização de equipamentos de manicure; • Reutilização de material para realização de tatuagem; • Procedimentos invasivos (ex.: hemodiálise, cirurgias, transfusão) sem os devidos cuidados de biossegurança; • Uso de sangue e seus derivados contaminados; • Relações sexuais sem o uso de preservativos (menos comum); • Transmissão da mãe para o filho durante a gestação ou parto (menos comum). A hepatite C não é transmitida pelo leite materno, comida, água ou contato casual, como abraçar, beijar e compartilhar alimentos ou bebidas com uma pessoa infectada. Epidemiologia A hepatite C é considerada uma epidemia mundial. No Brasil, um modelo matemático desenvolvido em 2016 estimava que cerca de 657 mil pessoas tinham infecção ativa pelo HCV e, portanto, indicação de tratamento. Entre os anos de 1999 a 2018, foram notificados 359.673 casos de hepatite C no Brasil. A maior parte dos indivíduos infectados pelo HCV desconhece seu diagnóstico. A maior prevalência de hepatite C está entre pessoas que têm idade superior a 40 anos, sendo mais frequentemente encontrada nas regiões Sul e Sudeste do país. Pessoas submetidas a hemodiálise, privados de liberdade, usuários de drogas e pessoas vivendo com HIV são exemplos de populações mais vulneráveis à infecção pelo HCV. Atualmente, são conhecidos seis genótipos do vírus C da hepatite. O genótipo 1 é o mais prevalente no mundo, sendo responsável por 46% de todas as infecções pelo HCV, seguido pelo genótipo 3 (30%) (MESSINA et al., 2015; OMS, 2016). O mesmo se observa no Brasil, com pequenas variações na proporção de prevalência desses genótipos. Hepatite D É uma infecção causada pelo vírus D da hepatite (HDV). A hepatite D, também chamada de Delta, está associada com a presença do vírus B da hepatite (HBV) para causar a infecção e inflamação das células do fígado. Existem duas formas de infecção pelo HDV: coinfecção simultânea com o HBV e superinfecção pelo HDV em um indivíduo com infecção crônica pelo HBV. A hepatite D crônica é considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, carcinoma hepatocelular (CHC) e morte (FATTOVICH et al., 2000; MALLET et al., 2017). 5 PMSUS 5 Etiologia O vírus da hepatite D (HDV) é um RNA subvírus pequeno, esférico e incompleto, que precisa do antígeno de superfície HBsAg para se replicar, sendo o causador da hepatite D ou Delta. Fatores de risco Para que aconteça a infecção pelo vírus da hepatite D, o paciente tem que possuir hepatite B. Estima-se que aproximadamente 5% dos pacientes com hepatite B, possuem também infecção pelo vírus D. A transmissão não é visível, e se dá através das mucosas e contato. A transmissão entre membros da mesma família é comum, e é facilitada pela falta de higiene. Países em desenvolvimento e com níveis socioeconômicos mais baixos são mais afetados. Também é transmitida da mesma forma que o vírus da hepatite B, ou seja, durante sexo sem camisinha, durante o parto, em compartilhamento de seringas ou por sangue não tratado em transfusões. Modo de transmissão As formas de transmissão são idênticas às da hepatite B, sendo: • Por relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada; • Da mãe infectada para o filho, durante a gestação e parto; • Compartilhamento de material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos); • Compartilhamento de materiais de higiene pessoal (lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam); • Na confecção de tatuagem e colocação de piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos que não atendam às normas de biossegurança; • Por contato próximo de pessoa a pessoa (presumivelmente por cortes, feridas e soluções de continuidade); • Transfusões de sangue (mais relacionadas ao período anterior a 1993). Epidemiologia Estima-se que 15 a 20 milhões de pessoas no mundo sejam acometidas pelo HDV (CIANCIO; RIZZETTO, 2014). No Brasil, a hepatite D (Delta) apresenta taxas de prevalência elevadas na Bacia Amazônica (BRAGA et al., 2013). Atualmente, 41% e 27% dos casos notificados concentram-se nos estados do Amazonas e Acre, respectivamente. Entre 1999 e 2018, foram notificados 3.984 casos confirmados de hepatite D no Brasil. A maior ocorrência se deu na região Norte, com 74,9% dos casos notificados. As regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste abrangeram 10,3%, 5,9%, 5,5% e 3,4% dos casos, respectivamente. Em 2018, foram notificados 145 casos no país, sendo 104 (71,7%) na região Norte. Hepatite E A hepatite E é uma infecção causada pelo vírus E da hepatite (HEV). O vírus causa hepatite aguda de curta duração e autolimitada. Na maioria dos casos, é uma doença 6 PMSUS 5 de caráter benigno. Porém, a hepatite E pode ser grave na gestante e, raramente, causar infecções crônicas em pessoas que tenham algum tipo de imunodeficiência. Etiologia O vírus da hepatite E (HEV) pertence ao gênero Hepevirus, família Hepeviridae. O HEV é um vírus pequeno, não envelopado, formado por uma fita simples de RNA positiva. Fatores de risco Esta doença geralmente ocorre em surtos devido à má higiene ou falta de saneamento básico. Modo de transmissão O vírus da hepatite E é transmitido principalmente pela via fecal-oral e pelo consumo de água contaminada, em locais com infraestrutura sanitária deficiente. Outras formas de transmissão incluem: ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados (por exemplo, fígado de porco); transfusão de produtos sanguíneos infectados; e transmissão vertical de uma mulher grávida para seu bebê. Epidemiologia Estima-se que ocorram cerca de 20 milhões de casos anuais pelo HEV no mundo, com 3,3 milhões de casos sintomáticos (REIN et al., 2012). A hepatite E não tem dados de prevalência significativos no Brasil, mas é muito comum na Ásia e África. A transmissão fecal-oral favorece a disseminação da infecção nos países em desenvolvimento, nos quais a contaminação dos reservatórios de água mantém a cadeia de transmissão da doença. Os genótipos 1 e 2 do vírus acometem apenas humanos, com transmissão fecal-oral via água contaminada e casos em locais com infraestrutura sanitária frágil. Os genótipos 3 e 4 do HEV causam zoonose, que tem como hospedeiro primário o porco. Esses genótipos predominam em países desenvolvidos e em alguns países em desenvolvimento, como os da América do Sul (genótipo 3). Hepatite F e G São considerados subgrupos da hepatite C, identificados no início de 1996. São raras. Hepatite Autoimune A hepatite autoimune é uma doença que causa inflamação crônica no fígado que acontece devido a alterações do sistema imunológico, que em o sistema imune passa a reconhecer as suas próprias células como estranhas e as ataca, provocando diminuição do funcionamento do fígado e levando ao aparecimento de sintomas como dor abdominal, pele amarelada e fortes náuseas. Etiologia De acordo com o resultado dos exames de anticorpos, a hepatite autoimune pode ser classificada em alguns grupos principais, como: 7 PMSUS 5 • Hepatite autoimune tipo 1: mais comum entre os 16 e os 30 anos, sendo caracterizada pela presença de anticorpos FAN e AML no exame de sangue, e pode estar associada ao surgimento de outras doenças autoimunes, como tireoidite, doença celíaca, sinovite e colite ulcerativa; • Hepatite autoimune tipo 2: surge normalmente em crianças com idade entre os 2 e os 14anos, o anticorpo característico é o Anti-LKM1, e pode surgir em conjunto com diabetes tipo 1, vitiligo e tireoidite autoimune; • Hepatite autoimune tipo 3: parecida com a hepatite autoimune do tipo 1, com anticorpo anti-SLA/LP positivo, porém possivelmente mais grave que a tipo 1. Fatores de risco • Sexo feminino: embora homens também possam desenvolver hepatite autoimune, a doença é mais comum em mulheres. • Relato de infecções pregressas do tipo: sarampo, herpes simples, vírus Epstein-Barr, hepatite A, B ou C. • Hereditariedade: Pode ocorrer predisposição genética para hepatite autoimune. • Associação com outra doença autoimune, como a doença celíaca, artrite reumatóide ou hipertiroidismo (doença de Graves ou tireoidite de Hashimoto) não é incomum. Epidemiologia Hepatite autoimune pode ser diagnosticada em pacientes de todas as idades e em ambos os sexos, esta é cada vez mais reconhecida como uma doença global. A incidência anual média na Europa varia de 1,5 a 2 casos a cada 1000.000 pessoas, com uma prevalência pontual de 16,9 casos a cada 100.000 pessoas. Os primeiros relatórios sugerem que a hepatite autoimune tem uma distribuição etária bimodal, com o primeiro pico entre as idades de 10 e 30 anos, e um segundo entre 40 e 50 anos; no entanto a proporção do sexo feminino para masculino é de 4/1 na hepatite autoimune tipo 1 e 10/1 na tipo 2. No entanto, pacientes do sexo masculino podem ter uma chance maior de sobrevivência, apesar de ter um início da doença mais precoce que em mulheres. As manifestações clínicas, gravidade e desfechos variam substancialmente de acordo com a região e origem étnica. A cirrose é identificada com mais frequência na apresentação inicial em negros em comparação com caucasianos. Um estudo brasileiro mostrou que em nossa população a evolução parecia ser pior e a resposta ao tratamento menor em comparação com a população norte-americana. Hepatite Medicamentosa Etiologia Estas hepatites podem ser provocadas por dois mecanismos: toxicidade ou idiossincrasia. No primeiro caso, o produto ingerido lesa directamente as células hepáticas, pelo que qualquer indivíduo exposto contrai hepatite, de maior ou menor gravidade consoante a dose ingerida (é o caso de alguns solventes, como o tetracloreto de carbono e de medicamentos como o paracetamol, quando tomado 8 PMSUS 5 em doses excessivas). Na idiossincrasia a lesão depende do próprio indivíduo, só acontecendo em pessoas susceptíveis e não depende da quantidade de medicamento tomada (é o caso da maioria das hepatites medicamentosas). Por vezes a idiossincrasia traduz-se por hipersensibilidade (reacção de tipo alérgico), podendo a hepatite acompanhar-se doutras manifestações, por exemplo cutâneas. Fatores de risco Pessoas com idade avançada são as mais propensas a desenvolverem a hepatite medicamentosa por, na maioria das vezes, fazerem uso de outras medicações, ingerirem álcool, além da possível existência de doença hepática prévia. Gravidez, consumo de álcool e obesidade também são considerados fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Epidemiologia Os dados epidemiológicos de hepatopatia medicamentosa são certamente subestimados uma vez que a maioria dos casos é assintomático e não necessita de tratamento. Estima-se que lesões mais significativas correspondem a menos de 10% dos casos. Por exemplo, na Inglaterra se observa cerca de 22 casos por 1 milhão de habitantes, com maior prevalência no sexo feminino. Há poucos dados disponíveis em países menos desenvolvidos. Hepatite Crônica As causas mais comuns da hepatite crônica são • Vírus da hepatite B • Vírus da hepatite C • Esteatose hepática não alcoólica (ENA) • Doença hepática alcoólica O HBV e o HCV são causas comuns de hepatite crônica; 5 a 10% dos casos de HBV com ou sem coinfecção por hepatite D (HDV) e cerca de 75% dos casos de HCV tornam-se crônicos. As taxas de desenvolvimento de infecção crônica por HBV são mais altas em crianças (p. ex., até 90% dos recém-nascidos infectados e 25 a 50% das crianças pequenas). Apesar de o mecanismo de cronificação ser incerto, o dano ao tecido hepático é causado principalmente pela reação imunitária do paciente à infecção. Raramente, o genótipo 3 do vírus da hepatite E foi envolvido na hepatite crônica. O vírus da hepatite A não causa hepatite crônica. A esteatose hepática não alcoólica é mais frequente em pacientes com pelo menos um dos seguintes fatores de risco: • Obesidade • Dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/hepatite-b-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/hepatite-c-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/esteato-hepatite-n%C3%A3o-alco%C3%B3lica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/hepatite-d 9 PMSUS 5 • Resistência à insulina A esteato-hepatite não alcoólica é a forma progressiva da esteatose hepática não alcoólica que causa hepatite crônica. Doença hepática alcoólica (uma combinação de esteatose hepática, inflamação hepática difusa e necrose hepática) resulta do consumo excessivo de álcool. Causas menos comuns A hepatite autoimune (lesão hepatocelular de mediação imunitária) responde por uma alta proporção de hepatite não causada por vírus ou esteatose hepática; as características da hepatite autoimune são: • A presença de marcadores sorológicos autoimunes (p. ex., anticorpos antinucleares, anticorpos antimúsculo liso, anticorpos microssomais hepatorrenais) • A associação com haplótipos de histocompatibilidade comum nas doenças autoimunes (p. ex., HLA-B1, HLA-B8, HLA-DR3, HLA-DR4) • Predominância de linfócitos T e células plasmáticas nas lesões histológicas hepáticas • Defeitos complexos in vitro de imunidade celular e de funções imunorregulatórias. • A associação com outras doenças autoimunes (p. ex., artrite reumatoide, anemia hemolítica autoimune, glomerulonefrite proliferativa) • A resposta ao tratamento com corticoides ou imunossupressores. Colangite biliar primária (anteriormente chamada de cirrose biliar primária) é um processo imunomediado que resulta em lesão do ducto colédoco. Em geral, os pacientes apresentam teste positivo para anticorpos antimitocondriais (AMA) e elevação da fosfatase alcalina. A maioria dos pacientes com colangite biliar primária é do sexo feminino. Os sintomas incluem fadiga, dor articular e prurido. Algumas vezes, a hepatite crônica apresenta características tanto de hepatite autoimune como de outra doença hepática crônica imunomediada (p. ex., colangite biliar primária, colangite esclerosante primária). Essas condições são chamadas de síndromes de sobreposição. Muitos fármacos, incluindo isoniazida, metotrexato, metildopa, nitrofurantoína, tamoxifeno, amiodarona e, raramente, o paracetamol, podem causar hepatopatia crônica. O mecanismo varia de acordo com o fármaco e pode envolver respostas imunes alteradas, desenvolvimento de esteatose hepática, metabólitos intermediários citotóxicos ou defeitos metabólicos geneticamente determinados. De forma menos frequente, a hepatite crônica pode resultar da deficiência de alfa- 1-antitripsina, doença celíaca, distúrbio da tireoide, hemocromatose hereditária ou doença de Wilson. HIV Etiologia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/fibrose-e-cirrose/colangite-biliar-prim%C3%A1ria-cbp https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-e-doen%C3%A7as-relacionadas/defici%C3%AAncia-de-alfa-1-antitripsina https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/s%C3%ADndromes-de-m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/doen%C3%A7a-cel%C3%ADacahttps://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/sobrecarga-de-ferro/hemocromatose-heredit%C3%A1ria https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/sobrecarga-de-ferro/hemocromatose-heredit%C3%A1ria https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/defici%C3%AAncia-e-toxicidade-minerais/doen%C3%A7a-de-wilson 10 PMSUS 5 Vírus RNA. Retrovírus atualmente denominado como Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), com 2 tipos conhecidos: o HIV-1 e o HIV-2. Antes de 1986, era denominado como HTLV-III/LAV. HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção. Fatores de risco Os fatores de risco para o HIV mais prevalentes entre Homens que fazem Sexo com Homens são: múltiplos parceiros sexuais, relação sexual desprotegida, sífilis, uso de álcool e outras drogas, e sexo anal receptivo. Modo de transmissão • Sexo vaginal sem camisinha; • Sexo anal sem camisinha; • Sexo oral sem camisinha; • Uso de seringa por mais de uma pessoa; • Transfusão de sangue contaminado; • Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação; • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados. Assim não pega: • Sexo desde que se use corretamente a camisinha; • Masturbação a dois; • Beijo no rosto ou na boca; • Suor e lágrima; • Picada de inseto; • Aperto de mão ou abraço; • Sabonete/toalha/lençóis; • Talheres/copos; • Assento de ônibus; • Piscina; • Banheiro; • Doação de sangue; • Pelo ar. Epidemiologia 11 PMSUS 5 No Brasil, o número de casos registrados supera os 700.000, sendo 65% sexo masculino e 35% feminino, porém a epidemia vem se estabilizando com o tempo. A maioria dos casos está entre 25 a 39 anos, mais vista na região Sudeste. A incidência e taxa de mortalidade vem caindo na última década, mas isso representa uma média nacional, já que nas regiões Norte e Nordeste a mortalidade continuou aumentando, e esse aumento é visto, atualmente, principalmente no sexo masculino na faixa etária de 15 a 19 anos, ressaltando a importância de uma contínua estratégia de educação em saúde, informando sobre a necessidade das relações sexuais de forma segura, evitar compartilhamento de agulhas, entre outros. Dos pacientes brasileiros, estima-se que 83% dos portadores de HIV estejam diagnosticados e 52% recebem terapia antirretroviral (TARV). Vale ressaltar que a notificação de infecção pelo HIV é compulsória no Brasil, mesmo que não haja manifestação clínica da AIDS. No cenário mundial, o HIV está presente em cerca de 33,3 milhões de pessoas e mais de 95% dos acometidos residem em áreas de média e baixa renda, e 2/3 estão na África Subsaariana, onde a incidência é maior em mulheres. Mesmo com um cenário ainda negativo, existe uma tendência mundial à queda da mortalidade, principalmente com as estratégias preventivas e terapêuticas bem-sucedidas, além da atenção global sobre o tema, que ganhou ajuda de diversas instituições humanitárias. CANCRO MOLE Etiologia É causado pela bactéria Haemophilus ducreyi, bastonete gram negativo. Fatores de risco • Manter relações sexuais desprotegidas com uma ou mais pessoas. • Estar infectado com o vírus do HIV, causador da Aids. Modo de transmissão Transmite-se pela relação sexual com uma pessoa infectada sem o uso da camisinha masculina ou feminina. Epidemiologia Ocorre principalmente nas regiões tropicais, em comunidades com hábitos precários de higiene. SÍFILES Etiologia É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. Fatores de risco • Início precoce da atividade sexual. • Utilização não adequada dos métodos de barreira. • Ter múltiplos parceiros sexuais. 12 PMSUS 5 Modo de transmissão A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada, ou ser transmitida para a criança durante a gestação ou parto. Epidemiologia De acordo com o Boletim Epidemiológico de Sífilis, em 2019 foram notificados 152.915 casos de sífilis adquirida em todo o país, com taxa de detecção de 72,8 casos por 100 mil habitantes. A maior parte das notificações ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos (36,2%). Houve redução de 4,5% na taxa de detecção nacional em relação a 2018, que apresentou taxa de 76,2 por 100 mil habitantes. Em gestantes, foram 61.127 casos em 2019, com redução de 3,3% em relação ao ano anterior (63.182 casos). Em 2019 foram registrados 24.130 casos de sífilis congênita, quando a gestante passa a doença para o bebê. No Brasil, em geral, nos últimos 10 anos, houve um progressivo aumento na taxa de incidência de sífilis congênita: em 2009, a taxa era de 2,1 casos/1.000 nascidos vivos e em 2018 chegou a 9,0 casos/1.000 nascidos vivos, reduzindo para 8,2 casos/1.000 nascidos vivos em 2019. A identificação da doença nos três primeiros meses da gestação e o tratamento adequado impedem a transmissão da sífilis da mãe para o bebê. Quanto aos óbitos, em 2019 foram registradas 173 notificações por sífilis congênita (em menores de um ano). No Brasil, nos últimos 10 anos, houve aumento no coeficiente de mortalidade infantil por sífilis que passou de 2,2 por 100 mil nascidos vivos em 2009, para 5,9 por 100 mil nascidos vivos em 2019. Em 2018, o coeficiente de mortalidade infantil por sífilis foi de 8,9 por 100 mil nascidos vivos. URETERITES Etiologia São divididas entre causadoras de UG e UNG. • UG: N. gonorrhoeae. • UNG: C. trachomatis (15 a 50%), Mycoplasma genitalium (6 a 20%), T. vaginalis, leveduras, HSV, adenovírus, outras bactérias (estreptococos, micobactérias e anaeróbios). Fatores de risco • Fortes: idade entre 15 e 24 anos, sexo feminino, homens homossexuais, condições socioeconômicas precárias, IST prévia ou atual, uso irregular de preservativo. • Fracos: circuncisão. Modo de transmissão A uretrite não é uma IST, mas pode ser causada por agentes transmitidos via contato sexual (vaginal, anal e oral). Epidemiologia 13 PMSUS 5 É doença comum. Estima-se que, no mundo, há cerca de 78 milhões de casos por gonorreia e 131 milhões de casos por clamídia ao ano, apresentando-se comumente como uretrite nos homens e cervicite nas mulheres. A UNG decorrente de clamídia é 3 vezes mais frequente que UG. 2- Entender o funcionamento da linha de cuidado para ISTS na ATB? (seguimento terapêutico) 14 PMSUS 5 3- Explanar o diagnóstico, seu quadro clinico e rastreio das ISTS? (sífilis, hepatites sexualmente transmissíveis e HIV) SÍFILIS Quadro clínico A sífilis é dividida em estágios que orientam o tratamento e monitoramento: • Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): até um ano de evolução; • Sífilis tardia (latente tardia e terciária): mais de um ano de evolução. Sífilis primária: o tempo de incubação é de dez a 90 dias (média de três semanas). A primeira manifestação é caracterizada por uma úlcera rica em treponemas, geralmente única e indolor, com borda bem definida e regular, base endurecida e fundo limpo, que ocorre no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais do tegumento), sendo denominada “cancro duro”. A lesão primária é acompanhada de linfadenopatiaregional (acometendo linfonodos localizados próximos ao cancro duro). Sua duração pode variar muito, em 15 PMSUS 5 geral de três a oito semanas, e seu desaparecimento independe de tratamento. Pode não ser notada ou não ser valorizada pelo paciente. Embora menos frequente, em alguns casos a lesão primária pode ser múltipla. Sífilis secundária: ocorre em média entre seis semanas a seis meses após a cicatrização do cancro, ainda que manifestações iniciais, recorrentes ou subentrantes do secundarismo possam ocorrer em um período de até um ano. Excepcionalmente, as lesões podem ocorrer em concomitância com a manifestação primária. As manifestações são muito variáveis, mas tendem a seguir uma cronologia própria. Inicialmente, apresenta-se uma erupção macular eritematosa pouco visível (roséola), principalmente no tronco e raiz dos membros. Nessa fase, são comuns as placas mucosas, assim como lesões acinzentadas e pouco visíveis nas mucosas. As lesões cutâneas progridem para lesões mais evidentes, papulosas eritematoacastanhadas, que podem atingir todo o tegumento, sendo frequentes nos genitais. Habitualmente, atingem a região plantar e palmar, com um colarinho de escamação característico, em geral não pruriginosa. Mais adiante, podem ser identificados condilomas planos nas dobras mucosas, especialmente na área anogenital. Estas são lesões úmidas e vegetantes que frequentemente são confundidas com as verrugas anogenitais causadas pelo HPV. Alopecia em clareiras e madarose são achados eventuais. O secundarismo é acompanhado de micropoliadenopatia, sendo característica a identificação dos gânglios epitrocleares. São comuns sintomas inespecíficos como febre baixa, mal-estar, cefaleia e adinamia. A sintomatologia desaparece em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa impressão de cura. Atualmente, têm-se tornado mais frequentes os quadros oculares, especialmente uveítes. A neurossífilis meningovascular, com acometimento dos pares cranianos, quadros meníngeos e isquêmicos, pode acompanhar essa fase, contrariando a ideia de que a doença neurológica é exclusiva de sífilis tardia. Há que se considerar esse diagnóstico especialmente, mas não exclusivamente, em pacientes com imunodepressão. Sífilis latente: período em que não se observa nenhum sinal ou sintoma. O diagnóstico faz-se exclusivamente pela reatividade dos testes treponêmicos e não treponêmicos. A maioria dos diagnósticos ocorre nesse estágio. A sífilis latente é dividida em latente recente (até um ano de infecção) e latente tardia (mais de um ano de infecção). Aproximadamente 25% dos pacientes não tratados intercalam lesões de secundarismo com os períodos de latência. Sífilis terciária: ocorre aproximadamente em 15% a 25% das infecções não tratadas, após um período variável de latência, podendo surgir entre 1 e 40 anos depois do início da infecção. A inflamação causada pela sífilis nesse estágio provoca destruição tecidual. É comum o acometimento do sistema nervoso e do sistema cardiovascular. Além disso, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. As lesões podem causar desfiguração, incapacidade e até morte. 16 PMSUS 5 Diagnóstico Exames diretos de sífilis Os exames diretos são aqueles em que se realiza a pesquisa ou detecção do T. pallidum em amostras coletadas diretamente das lesões. Testes imunológicos 17 PMSUS 5 Os testes imunológicos são, certamente, os mais utilizados na prática clínica. Caracterizam-se pela realização de pesquisa de anticorpos em amostras de sangue total, soro ou plasma. Esses testes são subdivididos em duas classes, os treponêmicos e os não treponêmicos (Quadro 13). Testes treponêmicos: são testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos de T. pallidum. São os primeiros a se tornarem reagentes, podendo ser utilizados como primeiro teste ou teste complementar. Em 85% dos casos, permanecem reagentes por toda vida, mesmo após o tratamento e, por isso, não são indicados para o monitoramento da resposta ao tratamento. Existem vários tipos de testes treponêmicos: • Os testes rápidos (TR) utilizam principalmente a metodologia de imunocromatografia de fluxo lateral ou de plataforma de duplo percurso (DPP). São distribuídos pelo Ministério da Saúde para estados e Distrito Federal, sendo os mais indicados para início de diagnóstico; • Testes de hemaglutinação (TPHA, do inglês T. Pallidum Haemagglutination Test) e de aglutinação de partículas (TPPA, do inglês T. Pallidum Particle Agglutination Assay); ensaios de micro-hemaglutinação (MHA-TP, do inglês Micro- Haemagglutination Assay); • Teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs, do inglês Fluorescent Treponemal Antibody-Absorption); • Ensaios imunoenzimáticos (como os testes ELISA, do inglês EnzymeLinked Immunossorbent Assay) e suas variações, como os ensaios de quimiluminescência (CMIA). A vantagem desses ensaios é sua elevada sensibilidade e capacidade de automação. Testes não treponêmicos: esses testes detectam anticorpos anticardiolipina não específicos para os antígenos do T. pallidum. Permitem a análise qualitativa e quantitativa. Sempre que um teste não treponêmico é realizado, é imprescindível analisar a amostra pura e diluída, em virtude do fenômeno prozona2 . Uma vez observada reatividade no teste, a amostra deve ser diluída em um fator dois de diluição, até a última diluição em que não haja mais reatividade no teste. O resultado final dos testes reagentes, portanto, deve ser expresso em títulos (1:2, 1:4, 1:8, etc.). Os testes não treponêmicos são utilizados para o diagnóstico (como primeiro teste ou teste complementar) e também para o monitoramento da resposta ao tratamento e controle de cura. A queda adequada dos títulos é o indicativo de sucesso do tratamento. Os testes não treponêmicos mais comumente utilizados no Brasil são o VDRL (do inglês Venereal Disease Research Laboratory), o RPR (do inglês Rapid Plasma Reagin) e o USR (do inglês Unheated-Serum Reagin). Resultados falso- reagentes, ainda que raros, podem ocorrer. Anticorpos anticardiolipinas podem estar presentes em outras doenças. Por isso, é sempre importante realizar testes treponêmicos e não treponêmicos para a definição laboratorial do diagnóstico. Os testes não treponêmicos tornam-se reagentes cerca de uma a três semanas após o aparecimento do cancro duro. Se a infecção for detectada nas fases tardias da doença, são esperados títulos baixos nesses testes. Títulos baixos (</= 1:4) podem persistir por meses ou anos. Pessoas com títulos baixos em testes não treponêmicos, 18 PMSUS 5 sem registro de tratamento e sem data de infecção conhecida, são consideradas como portadoras de sífilis latente tardia, devendo ser tratadas. O diagnóstico de sífilis exige uma correlação entre dados clínicos, resultados de testes laboratoriais, histórico de infecções passadas e investigação de exposição recente. Apenas o conjunto de todas essas informações permitirá a correta avaliação diagnóstica de cada caso e, consequentemente, o tratamento adequado. A presença de sinais e sintomas compatíveis com sífilis (primária, secundária e terciária) favorecem a suspeição clínica. Entretanto, não há sinal ou sintoma patognomônico da doença. Portanto, para a confirmação do diagnóstico é necessária a solicitação de testes diagnósticos. Nas fases sintomáticas, é possível a realização de exames diretos, enquanto os testes imunológicos podem ser utilizados tanto na fase sintomática quanto na fase de latência. Considerando a sensibilidade dos fluxos diagnósticos, recomenda-se, sempre que possível, iniciar a investigação por um teste treponêmico, preferencialmente o teste rápido. A combinação de testes sequenciais tem por objetivo aumentar o valor preditivo positivo(VPP) de um resultado reagente no teste inicial. O fluxograma em série é custoefetivo e está apresentado na Figura 4. HEPATITES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (B e C) 19 PMSUS 5 Quadro clínico da B A história natural da infecção é marcada por evolução silenciosa, geralmente com diagnóstico após décadas da infecção. Os sinais e sintomas, quando presentes, são comuns às demais doenças crônicas do fígado e costumam manifestar-se apenas em fases mais avançadas da doença, na forma de cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre e dor abdominal. A ocorrência de pele e olhos amarelados é observada em menos de um terço dos pacientes com hepatite B. Quadro clínico da C O surgimento de sintomas em pessoas com hepatite C é muito raro; cerca de 80% delas não apresentam qualquer manifestação. Por isso, a testagem espontânea da população prioritária é muito importante no combate a esse agravo. Diagnóstico da B A presença do HBsAg na amostra de sangue do paciente estabelece o diagnóstico de hepatite B. A infecção crônica é definida pela presença do HBsAg reagente por pelo menos seis meses. O Ministério da Saúde distribui testes rápidos (TR) na rede pública de saúde desde 2011. Todas as pessoas não vacinadas adequadamente e com idade superior a 20 anos devem procurar uma unidade básica de saúde para fazer o teste rápido para hepatite B. Esse fluxograma é indicado para uso em serviços de saúde e assistência, permitindo a investigação inicial da infecção pelo HBV. 20 PMSUS 5 O Fluxograma 2 deve ser utilizado quando houver uma solicitação para “sorologia da hepatite B” ou “diagnóstico de HBV”, ou mesmo “sorologia de hepatite”. O Fluxograma 3 deve ser utilizado quando houver uma solicitação para “sorologia da hepatite B” ou “diagnóstico de HBV”, ou mesmo “sorologia de hepatite” Diagnóstico da C Em geral, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica. Normalmente, o diagnóstico ocorre após teste rápido de rotina ou por doação de sangue. Esse fato reitera a importância da realização dos testes rápidos ou sorológicos, que apontam a presença dos anticorpos anti-HCV. Se o teste de anti-HCV for positivo, é necessário 21 PMSUS 5 realizar um exame de carga viral (HCV-RNA) para confirmar a infecção ativa pelo vírus. Após esses exames, o paciente poderá ser encaminhado para o tratamento, ofertado gratuitamente pelo SUS, com medicamentos capazes de curar a infecção e impedir a progressão da doença. Esse fluxograma é indicado para uso em serviços de saúde e assistência, permitindo a investigação inicial da infecção pelo HCV. 22 PMSUS 5 O Fluxograma 5 deve ser utilizado quando houver uma solicitação para “sorologia da hepatite C” ou “diagnóstico de HCV”, ou mesmo “sorologia de hepatite” HIV Quadro clínico Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal- estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida; Depois disso a pessoa infectada pelo vírus pode permanecer sem sintomas, e mais uma vez deixa a infecção passar sem perceber; Na fase seguinte aparecem sintomas como: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento; Logo após um tempo começam a aparecer doenças associadas ao enfraquecimento do organismo pela infecção. Esse estágio dá-se o nome de AIDS. Hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer são algumas das doenças que podem aparecer nesse período. Diagnóstico Os testes para detecção da infecção pelo HIV são principalmente empregados em três situações: para triagem sorológica do sangue doado e garantia da segurança transfusional, dos hemoderivados e dos órgãos para transplante; para os estudos de vigilância epidemiológica; e para realizar o diagnóstico da infecção pelo HIV. Imunoensaio Logo após a descoberta do HIV, foram desenvolvidos imunoensaios (IE) para o diagnóstico da infecção. Nas últimas décadas, sucederam-se quatro gerações de IE. O ensaio de primeira geração tem o formato indireto, ou seja, a presença de anticorpos específicos é detectada por um conjugado constituído por um anticorpo anti-IgG humana. Na fase sólida, os antígenos são originados de um lisado viral de HIV. O ensaio de segunda geração também tem formato indireto; porém, utiliza antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV. A utilização de antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos no diagnóstico da infecção pelo HIV decorre do conhecimento de que existem regiões antigênicas em determinadas proteínas do HIV – epítopos imunodominantes – que são alvos preferenciais da resposta imune humoral. Quanto maior a quantidade de epítopos imunodominantes no ensaio, mais sensível esse ensaio se torna. O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunométrico). A característica desse ensaio é utilizar antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos tanto na fase sólida quanto sob a forma de conjugado. Esse formato permite a detecção simultânea de anticorpos anti-HIV IgM e IgG. O ensaio de quarta geração detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. O componente de detecção de anticorpo tem o formato de “sanduíche”; portanto, detecta todas as classes de imunoglobulinas contra proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados das glicoproteínas gp41 e gp120/160. Testes rápidos (TR) Os testes rápidosG (TR) são imunoensaios (IE) simples, com resultados em até 30 minutos, realizados preferencialmente de forma presencial (teste realizado na 23 PMSUS 5 presença do indivíduo ou presencialG) em ambiente não laboratorial com amostra de sangue total obtida por punção digital ou amostra de fluido oralG. Por essas características, serão tratados neste manual pela denominação de testes rápidos. Como consequência do desenvolvimento e da disponibilidade de TR, a testagem para a infecção pelo HIV atualmente pode ser realizada em ambientes laboratoriais e não laboratoriais, permitindo ampliar o acesso ao diagnóstico. Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras) de imunocromatografia de fluxo lateral, imunocromatografia de duplo percurso (DPP) e imunoconcentração. Tendo em vista que os TR são desenvolvidos para detectar anticorpos anti-HIV em até 30 minutos, em comparação com os IE utilizados em laboratórios, cujo resultado pode levar até quatro horas, os dispositivos são otimizados para acelerar a interação antígeno/anticorpo. Outros TR foram desenvolvidos utilizando como amostra o fluido oral (FO) coletado por meio de um dispositivo específico. O FO contém menor quantidade de anticorpos do que amostras de sangue total, soro ou plasma, mas ainda em quantidade suficiente para permitir o diagnóstico seguro da infecção pelo HIV, excetuando-se os casos de exposição recente. Com o intuito de ampliar as possibilidades de testagem, de acordo com a política pública de acesso ao diagnóstico para toda a população, os testes rápidos devem, prioritariamente, ser utilizados fora do ambiente laboratorial, ou seja, em serviços de saúde. Estão disponíveis testes rápidos que empregam amostras de fluido crevicular gengival – mais conhecido como fluido oral (FO) – soro, plasma ou sangue total (ST). Esse último permite o uso de amostras obtidas por punção digital. Os testes rápidos de punção digital devem ser realizados, preferencialmente, no âmbito dos serviços de saúde, sejam eles da Atenção Básica, Maternidades, Rede de Urgência e Emergência ou de outras unidades que compõem a Rede de Atenção à Saúde identificadas como prioritárias para essa oferta. Já os testes rápidos com amostra de fluido oral não são invasivos e devem ser utilizados fora do ambiente do serviço de saúde. Esse tipo de teste é um importante recurso para as abordagens e cuidados passíveis de realização por Agentes Comunitários de Saúde, redutores de danos, educadoressociais e demais trabalhadores que atuam em ações extramuros para a identificação de possíveis casos de HIV de forma oportuna, voluntária, sigilosa e gratuita nos espaços de sociabilidade das populações-chave e prioritárias. Esse processo de testagem é considerado como triagem. Portanto, há a necessidade de encaminhar os indivíduos com resultado reagente aos serviços de saúde para conclusão do diagnóstico e inserção no cuidado contínuo. Os autotestes também são testes rápidos, que podem ser realizados por punção digital ou com amostras de fluido oral, pelo próprio indivíduo a ser testado. Esse teste é considerado como triagem e, portanto, há a necessidade de o indivíduo com resultado reagente procurar um serviço de saúde para conclusão do diagnóstico e inserção no cuidado contínuo. 24 PMSUS 5 Os testes complementares Utilizam diferentes formatos e princípios. Estão incluídos nessa categoria: western blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês line immunoassay), incluindo o imunoblot rápido (IBR) e imunofluorescência indireta (IFI). Mais recentemente, os testes moleculares (TM) também foram incluídos como testes complementares, uma vez que auxiliam no esclarecimento dos resultados da infeção aguda pelo HIV, como nos casos de reatividade no teste de 4ª geração por detecção do antígeno (p24) e ausência de anticorpos circulantes. Diagnóstico por detecção direta do HIV A infecção pelo HIV pode ser diagnosticada por meio da detecção direta de componentes do vírus, como o antígeno p24, ou com testes moleculares (TM) que detectam RNA ou DNA pró-viral. A detecção do antígeno p24 do HIV-1, de RNA ou DNA, desempenha um papel importante quando a detecção de anticorpos não é possível. Esses testes são especialmente úteis para o diagnóstico em crianças com idade inferior a 18 meses e na infecção aguda em adultos. É importante ressaltar que a maioria das pessoas com infecção aguda apresenta carga viral elevada e, consequentemente, maior risco de transmitir a infecção aos seus parceiros. Outra aplicação importante para os TM é o diagnóstico precoce da infecção pelo HIV em crianças com exposição perinatal. Crianças nascidas de mães soropositivas adquirem anticorpos anti-HIV passivamente e, dessa forma, ensaios baseados em anticorpos não podem ser utilizados para confirmar ou descartar a infecção pelo HIV em crianças com idade inferior a 18 meses. Diagnóstico utilizando amostras de sangue seco em papel-filtro As amostras de sangue seco em papel-filtro (DBS; do inglês dried blood spots) oferecem mais uma alternativa para a obtenção e transporte de amostras para o diagnóstico da infecção pelo HIV em locais em que a coleta por punção digital ou venosa ou a cadeia de frio para conservação e transporte de amostras não estiverem disponíveis. O fluxograma 1 possui população alvo e indicações de utilização para testes rápidos. O fluxograma 3 é o que representa hoje a melhor utilização de ferramentas diagnósticas no laboratório, porque os testes moleculares auxiliam no diagnóstico da fase aguda e evitam o resultado indeterminado do WB. O fluxograma 5 não traz ganhos adicionais, no entanto pode ser complementado com os testes moleculares 25 PMSUS 5 em todas as situações indeterminadas. Na fase crônica, a maioria dos casos pode ser diagnosticada com ensaios de 3º ou 4º geração e testes do tipo IB ou WB. Algumas diretrizes para os laudos são: o limite mínimo de 5.000 cópias/mL nos ensaios moleculares para definição de reagente, a necessidade do blot na suspeita do HIV 1, os critérios de bandas e descrição das mesmas para reportar laudos como “Amostra Reagente para HIV”. Resultados falso positivos com testes moleculares podem ocorrer quando o número de cópias é limítrofe. Sobre os fluxogramas é importante lembrar que resultados indeterminados ou inconclusivos, falso-positivos ou falso-negativos, ocorrem em qualquer método e dependem também da resposta sorológica. Rastreio de ISTs O rastreamento é a realização de testes diagnósticos em pessoas assintomáticas a fim de estabelecer o diagnóstico precoce (prevenção secundária), com o objetivo de reduzir a morbimortalidade do agravo. Diferentemente de outros rastreamentos, como a mamografia para câncer de mama, o rastreamento das IST não identifica apenas uma pessoa; ao contrário, estará sempre ligado a uma rede de transmissão. Quando não identificado e tratado o agravo na(s) parceria(s), este se perpetua na comunidade e expõe o indivíduo à reinfecção, caso não se estabeleça a adesão ao uso de preservativos. O Quadro 5 descreve o rastreamento de IST recomendado por subgrupo populacional, respeitando o limite estabelecido pela prevenção quaternária. Os dois principais fatores de risco para IST são práticas sexuais sem uso de preservativos e idade mais baixa. Em relação à sífilis, por exemplo, as notificações no Brasil vêm apresentando tendência de aumento na população mais jovem, de 13 a 29 anos. Por esse motivo, foram incluídas no rastreamento anual as pessoas de até 30 anos de idade com vida sexualmente ativa. Caso a pessoa de 30 anos ou mais pertença a algum outro subgrupo populacional, deve-se optar pelo que for mais representativo. Para o restante da população, a testagem para sífilis e demais IST não inclusa no Quadro 5 dependerá da avaliação de risco, devendo fazer parte da abordagem de gerenciamento de risco. 26 PMSUS 5 4- Conhecer a prevenção primária e secundária das ISTS A Prevenção Combinada associa diferentes métodos (ações) de prevenção ao HIV, mostrando a importância da prevenção das IST e das hepatites virais tanto para a prevenção do HIV, quanto para a saúde integral das pessoas. Essas ações podem estar combinadas de acordo com as características individuais e o momento de vida de cada pessoa. Entre os métodos (ações) que podem ser combinados(as), estão: a 27 PMSUS 5 testagem regular para o HIV, que pode ser realizada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS); a prevenção da transmissão vertical (quando a gestante é soropositiva e pode haver a transmissão do vírus para o bebê); o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; a imunização para as hepatites A e B; a redução de danos para usuários de álcool e outras drogas; a profilaxia pré-exposição (PrEP); a profilaxia pós-exposição (PEP); e o tratamento para todas as pessoas que já vivem com HIV. É bom lembrar que uma pessoa com boa adesão ao tratamento atinge níveis de carga viral tão baixos que é praticamente nula a chance de transmitir o vírus. Além disso, quem toma o medicamento corretamente não adoece e garante a sua qualidade de vida. Todos esses métodos podem ser utilizados pela pessoa isoladamente ou combinados. O método mais eficaz para evitar a transmissão das IST é uso da camisinha (masculina ou feminina) durante relações sexuais. Ela pode ser retirada gratuitamente nas unidades de saúde. Valer-se da prevenção combinada aumenta a eficácia preventiva, porque abrange o uso da camisinha masculina ou feminina, ações de prevenção, diagnóstico e tratamento das IST, testagem para HIV, sífilis e hepatites virais B e C, profilaxia pósexposição ao HIV, imunização para HPV e hepatite B, prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B, tratamento antirretroviral para todas as PVHIV, redução de danos, entre outros. Há diferentes abordagens voltadas para a redução do risco de expsição e exemplos incluem a Profilaxia Pós-Exposição – PEP; e a Profilaxia Pré-Exposição – PrEP, que são intervenções biomédicas baseadas no uso de antirretrovirais (ARV). 28 PMSUS 5 5- Elencar as políticas públicas de combate as ISTS Criado em 1986, o Departamento de HIV/Aids e Sexualmente Transmissíveis (DIHV/AIDS) tornou-se referência mundial no tratamento e atenção à aids e outras infecções sexualmente transmissíveis.Destaca-se a publicação, no ano de 2015, do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Atenção Integral às Pessoas com IST, aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Entre 2015 e 2016, a parceria do Ministério da Saúde com a Universidade Federal de Santa Catarina e sítios sentinelas, para o desenvolvimento de estudo sobre resistência do gonococo (Projeto SenGono), viabilizou o primeiro programa nacional de vigilância de susceptibilidade do gonococo aos antimicrobianos Considerando-se o desabastecimento mundial e nacional de penicilina e a dificuldade para sua aquisição pelos estados e municípios no período entre 2014 e 2016, a publicação da ‘Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis no Brasil’ em 2016. A partir da incorporação da vacinação contra o HPV no SUS, observou-se a necessidade de monitorar o impacto dessa imunização na população específica. A partir do Decreto nº 9795, de 17 de maio de 2019, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério da Saúde e dá outras providências, o Departamento de DST/HIV/Aids e Hepatites virais (DIHV) passa a integrar outros agravos tais como, Tuberculose e Hanseníase e a ser reconhecido como Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis-DCCI. Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) - Projeto EDUCA CIM é uma publicação mensal do CIM/UFPB. 6- Aprender os direitos voltados para PVHIV Direitos das PVHIV Pela Constituição brasileira, as pessoas vivendo com HIV, assim como todo e qualquer cidadão brasileiro, têm obrigações e direitos garantidos; entre eles, estão a dignidade humana e o acesso à saúde pública e, por isso, são amparadas pela lei. O Brasil possui legislação específica quanto aos grupos mais vulneráveis ao preconceito e à discriminação, 29 PMSUS 5 como homossexuais, mulheres, negros, crianças, idosos, portadores de doenças crônicas infecciosas e de deficiência. Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids Em 1989, profissionais da saúde e membros da sociedade civil criaram, com o apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids. O documento foi aprovado no Encontro Nacional de ONG que Trabalham com Aids (ENONG), em Porto Alegre (RS): I - Todas as pessoas têm direito à informação clara, exata, sobre a aids. II – Os portadores do vírus têm direito a informações específicas sobre sua condição. III - Todo portador do vírus da aids tem direito à assistência e ao tratamento, dados sem qualquer restrição, garantindo sua melhor qualidade de vida. IV - Nenhum portador do vírus será submetido a isolamento, quarentena ou qualquer tipo de discriminação. V - Ninguém tem o direito de restringir a liberdade ou os direitos das pessoas pelo único motivo de serem portadoras do HIV/aids, qualquer que seja sua raça, nacionalidade, religião, sexo ou orientação sexual. VI - Todo portador do vírus da aids tem direito à participação em todos os aspectos da vida social. Toda ação que visar a recusar aos portadores do HIV/aids um emprego, um alojamento, uma assistência ou a privá-los disso, ou que tenda a restringi-los à participação em atividades coletivas, escolares e militares, deve ser considerada discriminatória e ser punida por lei. VII - Todas as pessoas têm direito de receber sangue e hemoderivados, órgãos ou tecidos que tenham sido rigorosamente testados para o HIV. VIII - Ninguém poderá fazer referência à doença de alguém, passada ou futura, ou ao resultado de seus testes para o HIV/aids, sem o consentimento da pessoa envolvida. A privacidade do portador do vírus deverá ser assegurada por todos os serviços médicos e assistenciais. IX - Ninguém será submetido aos testes de HIV/aids compulsoriamente, em caso algum. Os testes de aids deverão ser usados exclusivamente para fins diagnósticos, controle de transfusões e transplantes, estudos epidemiológicos e nunca qualquer tipo de controle de pessoas ou populações. Em todos os casos de testes, os interessados deverão ser informados. Os resultados deverão ser transmitidos por um profissional competente. X - Todo portador do vírus tem direito a comunicar apenas às pessoas que deseja seu estado de saúde e o resultado dos seus testes. XI - Toda pessoa com HIV/aids tem direito à continuação de sua vida civil, profissional, sexual e afetiva. Nenhuma ação poderá restringir seus direitos completos à cidadania. Lei antidiscriminação Em 2014, foi publicada a Lei nº 12.984, de 2 de junho de 2014, que define o crime de discriminação aos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e doentes de aids. Legislação: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12984.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12984.htm 30 PMSUS 5 AUXÍLIO DOENÇA E APOSENTADORIA POR INVALIDEZ A Lei nº 7.670/1988, estende aos portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA/AIDS benefícios previdenciários, estabelecendo a concessão de auxílio-doença ou aposentadoria, independentemente do período de carência, para o segurado que, após filiação à Previdência Social, vier a manifestá-la, bem como a pensão por morte aos seus dependentes e o levantamento dos valores correspondentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, independentemente de rescisão do contrato individual de trabalho ou de qualquer outro tipo de pecúlio a que o paciente tenha direito. - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7670.htm O direito ao auxílio doença e a aposentadoria por invalidez também estão previstos na Instrução Normativa INSS/PRES nº 45, de 6 de agosto de 2010, revogada pela Instrução Normativa INSS Nº 77 DE 21/01/2015, que foi alterada pela Instrução Normativa INSS nº 117/2021. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 77, DE 21 DE JANEIRO DE 2015: Estabelece rotinas para agilizar e uniformizar o reconhecimento de direitos dos segurados e beneficiários da Previdência Social, com observância dos princípios estabelecidos no art. 37 da Constituição Federal de 1988. https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/... Auxílio-doença Esse benefício é concedido a qualquer cidadão brasileiro que seja segurado (pague o seguro em dia) e que não possa trabalhar em razão de doença ou acidente por mais de 15 dias consecutivos. A pessoa que vive com Aids ou com hepatopatia grave terá direito ao benefício sem a necessidade de cumprir o prazo mínimo de contribuição e desde que tenha qualidade de segurado, conforme o artigo 26, II, e artigo 151, ambos da lei 8.213/91 e Instrução Normativa INSS/PRES nº 45, de 6 de agosto de 2010, revogada pela Instrução Normativa INSS Nº 77 DE 21/01/2015, sendo esta alterada pela Instrução Normativa INSS nº 117/2021. - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm Todo o procedimento administrativo relativo ao benefício está regulado pelos artigos 300 a 317 da Instrução Normativa INSS Nº 77 DE 21/01/2015, alterada pela Instrução Normativa INSS nº 117/2021 Aposentadoria por invalidez As pessoas que vivem com HIV/aids têm direito a aposentadoria por invalidez. A Lei de Benefícios da Previdência Social (Lei nº 8.213/91) permite que o segurado aposentado por invalidez seja convocado para avaliação das condições que motivaram a aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente. Porém, a Lei nº Lei nº 13.847, de 19 de junho de 2019, dispensa de reavaliação pericial a pessoa com HIV/aids aposentada por invalidez, alterando a Lei nº Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13847.htm Sigilo no trabalho e Sigilo médico: A pessoa vivendo com HIV tem odireito de manter em sigilo a sua condição sorológica no ambiente de trabalho. Isso inclui testes de admissão, testes periódicos ou de demissão. O médico tem a obrigação de somente averiguar a capacidade laborativa do trabalhador nos exames legais (Art.168 da CLT), sem referência a seu estado sorológico. Em caso de violação, deve-se registrar o ocorrido na Delegacia do Trabalho mais próxima. Testagem obrigatória na relação de emprego: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7670.htm https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/32120879/do1-2015-01-22-instrucao-normativa-n-77-de-21-de-janeiro-de-2015-32120750 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13847.htm 31 PMSUS 5 A testagem obrigatória é vedada por meio de dispositivos infraconstitucionais, trabalhistas, administrativos e éticos profissionais, além de instrumentos internacionais da Organização Mundial de Saúde e da Organização Internacional do Trabalho. A Portaria nº 1.246/2010 do então Ministério do Trabalho e Emprego, hoje Secretaria do Trabalho, em seu art. 2º estabelece: “Não será permitida, de forma direta ou indireta, nos exames médicos por ocasião da admissão, mudança de função, avaliação periódica, retorno, demissão ou outros ligados à relação de emprego, a testagem do trabalhador quanto ao HIV. http://acesso.mte.gov.br/legislacao/2010.htm Imposto de Renda: Pessoas com HIV têm assegurado o direito à isenção do Imposto de Renda e, inclusive, o ressarcimento de valores retroativos a 5 anos a partir da comprovação da infecção. Tal previsão está prevista no artigo 6º, inciso XIV, da Lei n° 7.713/88. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7713.htm Benefício de Prestação Continuada É a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa incapacitada para a vida independente e para o trabalho, bem como ao idoso com 65 anos ou mais, que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família. Esse benefício independe de contribuições para a Previdência Social. Para recebê-lo, a pessoa deve dirigir-se ao posto do INSS mais próximo e comprovar sua situação. Essa comprovação pode ser feita com apresentação de Laudo de Avaliação (perícia médica do INSS ou equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde). A renda familiar e o não exercício de atividade remunerada deverão ser declarados pela pessoa que requer o benefício. http://acesso.mte.gov.br/legislacao/2010.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7713.htm
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