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Mariane Rauber 1 1- estudar os indicadores mortalidade infantil na primeira infância 2- conhecer o AIDPI e outros programas voltadas para a redução de doenças infecto contagiosas 3- explicar o manejo diarreia e desidratação quanto a possíveis causas, sinais e sintomas, classificação e plano de ação 4- estudar as principais doenças infecciosas respiratória prevalentes na infância 5- estudar as principais doenças exantemáticas prevalentes na infância 5.1 definir os tipos de exantemas 5.2 estudar as principais doenças Indicadores de Mortalidade Infantil Taxa de mortalidade neonatal: número de óbitos de residentes até 27 dias de idade por mil nascidos vivos de mães residentes. Taxa de mortalidade neonatal precoce: número de óbitos de residentes de 0 a 6 dias de idade por mil nascidos vivos de mães residentes. Taxa de mortalidade neonatal tardia: número de óbitos de residentes de 7 a 27 dias de idade por mil nascidos vivos de mães residentes. Taxa de mortalidade pós-neonatal: número de óbitos de residentes de 28 a 364 dias de idade por mil nascidos vivos de mães residentes. Taxa de mortalidade perinatal: soma do número de óbitos de residentes de 0 a 6 dias de idade e de óbitos fetais com 22 semanas ou mais de gestação pela soma de nascidos vivos e de óbitos fetais com 22 semanas ou mais de gestação. Taxa de mortalidade infantil: número de óbitos de residentes com menos de 1 ano de idade por mil nascidos vivos de mães residentes. A mortalidade infantil é um importante indicador de saúde e condiçõesde vida de uma população. Com o cálculo da sua taxa, estima-se o risco de um nascido vivo morrer antes de chegar a um ano de vida. Valores elevados refletem precárias condições de vida e saúde e baixo nível de desenvolvimento social e econômico. A maior parte dos óbitos na infância concentra-se no primeiro ano de vida, sobretudo no primeiro mês. Existe uma elevada relação das causas perinatais como a prematuridade, o que evidencia a importância dos cuidados durante a gestação, o parto e o pós-parto, em geral preveníveis por meio de assistência à saúde de qualidade. No Brasil, vem-se observando um declínio na taxa de mortalidade nesse grupo, com uma diminuição de 5,5% ao ano nas décadas de 1980 e 1990, e 4,4% ao ano desde 20002. Alguns autores atribuem essa queda, especialmente, a mudanças nas condições de saúde e vida da população. Melhoria nos serviços de atenção primária à saúde, que proporcionou maior acesso ao pré-natal e promoção do aleitamento materno, aumento da cobertura vacinal e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança no primeiro ano de vida; aliados a uma melhoria na distribuição de renda, no nível de escolaridade da mãe, nas condições de habitação e alimentação são alguns pontos destacados nesse processo3-5. Apesar da redução da taxa de mortalidade em todas as Regiões do País, as desigualdades intra e inter-regionais ainda subsistem. Em 2010, o Brasil registrou uma Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) de 16,0 por mil nascidos vivos (NV); nas Regiões Norte e Nordeste eram, respectivamente, 21,0 e 19,1 por mil NV. Um estudo realizado em uma região do Nordeste mostrou que, embora tenha ocorrido uma redução da TMI em todos os estratos populacionais do município, a desigualdade no risco de morte infantil aumentou nos bairros com piores condições de vida em relação àqueles de melhores condições. Em 2010, o Ministério da Saúde publicou a portaria n.o 72 estabelecendo que a vigilância do óbito infantil e fetal é obrigatória nos serviços de saúde (públicos e privados) que integram o Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, espera-se que os resultados encontrados com a investigação possam subsidiar o planejamento de ações voltadas para prevenção de novas ocorrências. Estado Nutricional de Crianças A infância é um período em que se desenvolve grande parte das potencialidades humanas. Os distúrbios que incidem nessa época são responsáveis por graves consequências para indivíduos e comunidades. O estado nutricional de crianças consiste em importante instrumento na aferição das condições de saúde e qualidade de vida de uma população. Considerando o seu complexo caráter multifatorial, o estado nutricional infantil é conhecidamente determinado pelas condições de vida da população, principalmente no que concerne aos aspectos sociais e econômicos. Nos primeiros meses de vida, o aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade. Se a manutenção do aleitamento materno é vital, a introdução de alimentos seguros, acessíveis e culturalmente aceitos na dieta da criança, em época oportuna e de forma adequada, é de notória importância para o desenvolvimento sustentável e equitativo de uma nação, para a promoção da alimentação saudável em consonância com os direitos humanos fundamentais e para a prevenção de distúrbios nutricionais de grande impacto em Saúde Pública. Mariane Rauber 2 Porém, a implementação das ações de proteção e promoção do aleitamento materno e da adequada alimentação complementar depende de esforços coletivos intersetoriais e constitui enorme desafio para o sistema de saúde e para toda a sociedade, numa perspectiva de abordagem integral e humanizada. Daí a importância de se priorizar políticas governamentais e ações no sentido de incentivar práticas alimentares saudáveis, sendo este um direito da criança (receber o melhor alimento), capaz de proporcionar-lhe adequado desenvolvimento. Para tanto, poder público, instituições e empregadores devem propiciar condições adequadas ao aleitamento materno (ECA – art. 9º) e à alimentação de qualidade (ECA – art. 4º). Óbitos infantis No Brasil, nos anos de 2000 e 2019, foram notificados 68.199 e 35.293 óbitos infantis ao SIM, respectivamente. Porém, após aplicação dos fatores de correção para óbito infantil utilizando a metodologia da Busca Ativa, estima-se que ocorreram 90.116 e 38.619 óbitos infantis no Brasil (Figura 1). No período analisado, a taxa de cobertura de óbito infantil passou de 75,7% em 2000 para 91,4% em 2019. Taxa de mortalidade infantil A TMI do Brasil apresenta declínio no período de 1990 a 2015, passando de 47,1 para 13,3 óbitos infantis por mil NV. Em 2016, observou-se um aumento da TMI, passando para 14,0. De 2017 a 2019, voltou ao patamar de 2015, de 13,3 óbitos por mil NV (Figura 2). A Região Norte também apresenta declínio na TMI no período entre 1990 e 2019, passando de 45,9 óbitos infantis por mil nascidos vivos (NV) para 16,6, respectivamente. Na Região Nordeste, o declínio foi de 75,8 para 15,2, respectivamente. No Sudeste, o declínio foi de 32,6 para 11,9. Na Região Centro-Oeste, o declínio foi de 34,3 para 13,0. Em todas essas regiões, houve um pequeno aumento da TMI em 2016. Na Região Sul, o declínio foi de 28,3 para 10,2 (Figura 3). Em anos mais recentes, de 2017 a 2019, a TMI do período se assemelha a TMI de 2019. Assim, a TMI de 2019 do Brasil e a TMI média do triênio para o Brasil ficou em 13,3 óbitos para cada mil NV. As Regiões Norte e Nordeste possuem as maiores médias de TMI, com 16,9 e 15,3 óbitos para cada mil NV, respectivamente para o período de 2017 a 2019. As menores médias da TMI são observadas nas Regiões Sudeste e Sul, com 11,7 e 10,1 óbitos para cada mil NV, respectivamente. Na Região Centro-Oeste, a média da TMI se manteve constante no período, com 13,0 óbitos para cada mil NV. Principais causas As principais causas da mortalidade infantil englobam algumas afecções originadas no período perinatal, malformações congênitas, doenças infecciosase parasitárias e doenças do aparelho respiratório, que, em conjunto, concentraram 88% dos óbitos em 2020 e 90% em 2019. Entre esses dois anos foram observadas duas tendências: redução na participação das afecções perinatais, doenças infecciosas e do aparelho respiratório; e aumento na proporção das malformações congênitas e demais causas de morte. AIDPI A Estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (Aidpi Criança) tem por objetivo diminuir a morbidade e a mortalidade de crianças entre 2 meses a 5 anos de idade, por meio da melhoria da qualidade da atenção prestada à criança por profissionais de saúde, em especial na Atenção Básica à Saúde. Trata-se de uma abordagem da atenção à saúde da criança, desenvolvida originalmente pela Organização Pan-americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que teve início no Brasil em 1996. Caracteriza-se pela consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na infância, em vez de o enfoque tradicional que busca abordar cada doença isoladamente, como se ela fosse independente das demais doenças que atingem a criança e do contexto em que ela está inserida. Propõe-se melhor organização dos serviços de saúde, ações de prevenção de agravos e promoção da saúde, além da melhora do acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Estes são primordiais para criarmos condições que visam garantir futuras gerações de adultos e idosos mais saudáveis. Graças à conjunção de avanços de uma série de políticas públicas universais – como a ampliação do acesso à Atenção Básica à Saúde; a praticamente extinção de doenças imunopreveníveis pelo Programa Nacional de Imunização (PNI); a melhoria das taxas de aleitamento materno com o amplo leque de ações do Programa Nacional de Aleitamento Materno; e, mais recentemente, a redução da pobreza obtida pelo Programa Bolsa Família – nosso país obteve melhora significativa na taxa de mortalidade infantil e na infância1. Essa estratégia se alicerça em três pilares básicos: o primeiro é a capacitação de recursos humanos no nível primário de atenção, com a consequente melhoria da qualidade da assistência prestada; o segundo é a reorganização dos serviços de saúde; e o último é a educação em saúde, na família e na comunidade, de modo que haja participação de todos na identificação, na condução e na resolução dos problemas de saúde dessa família, especialmente dos menores de 5 anos de idade. Mariane Rauber 3 As condutas preconizadas pela Aidpi incorporam todas as normas do Ministério da Saúde relativas à promoção, à prevenção e ao tratamento dos problemas infantis mais frequentes, como aqueles relacionados ao aleitamento materno, à promoção de alimentação saudável, ao crescimento e desenvolvimento, à imunização, assim como o controle dos agravos à saúde, tais como: desnutrição, doenças diarreicas, infecções respiratórias agudas e malária, entre outros. A operacionalização dessa estratégia vem sendo efetivada principalmente pelas equipes de Saúde da Família (eSF) e capilarizada em todo território nacional. O objetivo da estratégia Aidpi não é estabelecer diagnóstico específico de uma determinada doença, mas identificar sinais clínicos que permitam a avaliação e a classificação adequada do quadro e fazer triagem rápida quanto à natureza da atenção requerida pela criança: encaminhamento urgente a um hospital, tratamento ambulatorial ou orientação para cuidados e vigilância no domicílio. Manejo Diarreia e Desidratação A diarreia é caracterizada por perda de fluidos e eletrólitos nas fezes. Diarreia é geralmente definida como a ocorrência de três ou mais dejeções amolecidas ou líquidas em um período de 24 horas. A doença diarreica aguda é uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil no Brasil, especialmente nas crianças menores de 6 meses que não estão em aleitamento materno exclusivo. Nas regiões Norte e Nordeste, onde o problema assume maior magnitude, o risco de morte por diarreia em crianças menores de 5 anos é cerca de quatro a cinco vezes maior do que na Região Sul, representando cerca de 30% do total das mortes após o período neonatal, durante o primeiro ano de vida. No Brasil, segundo publicação oficial do Datasus, a proporção de óbitos por diarreia aguda em menores de 5 anos caiu de 10,8% em 1990 para 1,6% em 2011. As regiões Norte e Nordeste ainda concentram os maiores índices de mortalidade. Apesar da queda na taxa de mortalidade por doença diarreica aguda entre crianças menores de 5 anos, a morbidade tem se mantido constante nas duas últimas décadas, tanto em países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos, consumindo recursos substanciais da saúde. Diarreia aguda é a eliminação anormal de fezes amolecidas ou líquidas com uma frequência igual ou maior a três vezes por dia e duração de até 14 dias. Entretanto, neonatos e lactentes, em aleitamento materno exclusivo, podem apresentar esse padrão de evacuação sem que seja considerado diarreia aguda. A maioria dos episódios de diarreia aguda é provocada por um agente infeccioso viral e dura menos de duas semanas, mas uma pequena proporção de todas as diarreias agudas está relacionada à cólera. A diarreia aguda pode causar desidratação e contribuir para a desnutrição. A morte de uma criança com diarreia aguda se deve geralmente à desidratação. Disenteria é a diarreia com a presença de sangue e/ou leucócitos nas fezes. A causa mais comum da disenteria é Shigella. A disenteria amebiana não é comum nas crianças pequenas, e a maioria das amebas encontradas no Brasil não é patogênica (Entamoeba Dispar), embora sejam morfologicamente indistinguíveis no microscópio da Entamoeba Histolytica. Uma criança pode ter diarreia líquida e disenteria associada. Diarreia persistente quando o quadro diarreico se estende além de 14 dias. Até 10% dos episódios de diarreia são persistentes, causam problemas nutricionais e contribuem para mortalidade na infância. Diarreia crônica: quando o processo em curso ultrapassa 14 dias. A diarreia crônica é definida como perda entérica fecal de pelo menos 10 g/kg/dia em lactentes e 200 g/dia para crianças maiores, pelo prazo superior a 14 dias de duração. A frequência evacuatória, em geral, é superior a 3 dejeções/dia, sendo o volume fecal difícil de ser mensurado em crianças. O espectro etiológico da diarreia crônica é extremamente amplo e variável, dependendo da idade de início, estado nutricional, condições ambientais e doenças associadas. A Tabela 1 relaciona as principais causas de diarreia crônica. Diarreia Aguda - Etiologia A diarreia aguda pode ter causas infecciosas e não infecciosas. Mundialmente, as causas infecciosas apresentam uma maior prevalência e impacto na saúde das crianças, principalmente nas menores de 5 anos. Alergias, intolerâncias e erros alimentares, além de certos medicamentos, estão entre as causas não infecciosas mais frequentes. Mariane Rauber 4 As diarreias agudas de origem infecciosa têm como principais agentes os vírus, as bactérias e os protozoários. No mundo inteiro, os vírus são os principais causadores das diarreias infecciosas, sendo os mais prevalentes os rotavírus, os calicivírus, os astrovírus e os adenovírus entéricos. Os vírus são altamente infectantes e necessitam de baixa carga viral para causar doença. Os rotavírus têm ocorrência universal, sendo os principais responsáveis por episódios de diarreia aguda, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, representando 40% dos casos graves com hospitalização. A infecção por rotavírus é autolimitada, com pico de incidência na faixa etária de 6 a 24 meses. Os norovírus são os principais agentes de surtosepidêmicos de gastroenterites virais transmitidos por água ou alimentos, ocorrendo em todas as faixas etárias. Também podem ser encontrados em quadros esporádicos, e 30% dos casos são assintomáticos. Os adenovírus causam, com mais frequência, infecção do aparelho respiratório, mas, dependendo do sorotipo, podem causar quadros de gastroenterite. Os astrovírus são menos prevalentes. Apesar de poder ocorrer em adultos e crianças, os lactentes são os mais acometidos. A transmissão é de pessoa a pessoa e geralmente provoca casos de diarreia leve e autolimitada. As diarreias agudas de causa bacteriana e parasitária são mais prevalentes nos países em desenvolvimento e têm pico de incidência nas estações chuvosas e quentes. O Quadro 1 resume as características dos principais agentes bacterianos. A transmissão da maioria dos patógenos que causam diarreia é fecal-oral, podendo ocorrer de várias maneiras, como mostra o esquema da Figura 1. O quadro clínico caracteriza-se por: febre, mal-estar, vômitos, dor abdominal do tipo cólica diarreia disentérica, com fezes contendo sangue, muco e leucócitos. Os sintomas sistêmicos serão tão mais intensos quanto maior for o potencial invasivo do patógeno. Em algumas situações, os microrganismos podem atingir a circulação sistêmica, afetando órgãos a distância como articulações, fígado, baço e sistema nervoso central. A principal complicação da diarreia aguda é a desidratação, que nos casos de maior gravidade pode levar a distúrbio hidroeletrolítico e acidobásico, choque hipovolêmico e até morte. As crianças menores de 1 ano são as mais vulneráveis. Nas populações mais carentes, a diarreia aguda pode ser um fator determinante ou agravante da desnutrição, que por sua vez aumenta predisposição à infecção, além de uso prévio recente de antibióticos. Classificar a diarreia Há três formas de classificação para a diarreia: Todas as crianças com diarreia são classificadas quanto ao estado de hidratação. Caso a criança tenha tido diarreia por 14 dias ou mais, classifique como diarreia persistente. Caso a criança apresente sangue nas fezes, classifique como disenteria. Classificar o estado de hidratação Há três tipos de classificação possíveis quanto ao estado de hidratação em uma criança com diarreia: DESIDRATAÇÃO GRAVE. DESIDRATAÇÃO. SEM DESIDRATAÇÃO. Para classificar o estado de hidratação da criança, comece com a faixa de cor vermelha (a primeira). Se dois ou mais sinais da faixa vermelha estão presentes, classifique a criança como DESIDRATAÇÃO GRAVE. Se dois ou mais sinais não estão presentes na faixa vermelha, olhe a faixa amarela (a segunda). Caso dois ou mais dos sinais estejam presentes na faixa amarela, classifique a criança como DESIDRATAÇÃO. Se dois ou mais dos sinais da coluna amarela não estão presentes, classifique a criança como SEM DESIDRATAÇÃO. A criança não tem sinais suficientes para ser classificada como DESIDRATAÇÃO. As perdas de líquidos iniciais podem ocorrer sem ser acompanhadas de sinais de desidratação. Mariane Rauber 5 Classificar a diarreia persistente Depois de classificar o estado de hidratação da criança, classifique como diarreia persistente, caso a criança tenha tido diarreia por 14 dias ou mais. Há duas classificações para a diarreia persistente: Caso uma criança tenha diarreia por 14 dias ou mais e esteja desidratada, classifique a doença da criança como DIARREIA PERSISTENTE GRAVE. Uma criança que tenha diarreia por 14 a 28 dias, e que não apresente sinais de desidratação, classifica-se como DIARREIA PERSISTENTE Classificar a criança com diarreia e sangue nas fezes como tendo DISENTERIA. Planos de Ações SEM DESIDRATAÇÃO => Plano A: tratar a diarreia em casa. DESIDRATAÇÃO => Plano B: tratar a desidratação com solução de SRO. DESIDRATAÇÃO GRAVE => Plano C: tratar rapidamente a desidratação grave. Os três planos proporcionam líquidos para repor água e sais minerais perdidos por causa da diarreia. Uma forma excelente, tanto de reidratar como para prevenir a desidratação, é dar à criança uma solução à base de sais de reidratação oral (solução de SRO). Deve-se administrar uma solução por via IV exclusivamente nos casos de desidratação grave. O Plano A é um plano de tratamento importante. As crianças com diarreia que chegam ao profissional de saúde com a classificação sem desidratação são tratadas com o Plano A. As crianças com desidratação precisam ser reidratadas com o Plano B ou com o Plano C, e, posteriormente, tratadas com o Plano A. Ao final, todas as crianças com diarreia receberão o Plano A. O Plano A consiste em recomendar a mãe sobre as três regras de tratamento em casa. Plano B para o tratamento de uma criança quando tem diarreia com desidratação. O Plano B inclui um período inicial de tratamento no serviço de saúde, que dura quatro horas. Durante esse período, a mãe dá lentamente uma quantidade recomendada de solução de sro. A mãe oferece a solução de SRO em colheradas ou goles. É conveniente ter um lugar para Terapia de Reidratação Oral em seu serviço de saúde. Agora estude o Plano B. Uma criança com classificação grave e DESIDRATAÇÃO necessita ser enviada urgentemente ao hospital*. Não reidrate a criança antes de ser referida. Dê rapidamente à mãe um pouco de solução de SRO. Mostre-lhe como dar goles frequentes à criança no trajeto para o hospital. Caso uma criança que tenha DESIDRATAÇÃO necessite de tratamento para outros problemas, você deverá tratar primeiro a desidratação. Depois de quatro horas, reavalie e classifique a criança usando o quadro AVALIAR E CLASSIFICAR. Caso não tenha sinais de desidratação, administre o Plano A. Todavia, se ainda houver desidratação, repita o Plano B. Mariane Rauber 6 A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef preconizam o uso da solução de reidratação oral (SRO) hiposmolar, que, comparado com a SRO padrão antigo (Quadro 3), mostrou-se mais eficaz, diminuindo os episódios de vômitos, o volume e a duração da diarreia em lactentes e também a probabilidade de hipernatremia. A criança com diarreia aguda sem desidratação pode ser tratada no domicílio. Orienta-se aumentar a oferta de líquidos e após cada evacuação diarreica oferecer a SRO, de 50 a 100 mL para menores de 2 anos, 100 a 200 mL para crianças de 2 a 10 anos, e, para aquelas acima de 10 anos, o quanto aceitar. Orientar aos familiares a observação de sinais de desidratação e gravidade. Sucos, refrigerantes, energéticos e outros não substituem a SRO, uma vez que são hiperosmolares. Caso a criança agora tenha DESIDRATAÇÃO GRAVE, deve-se administrar o Plano C. O tratamento de reidratação mediante líquidos por via IV, ou usando uma sonda nasogástrica, é recomendado apenas para as crianças com desidratação grave. O tratamento das crianças com desidratação grave depende: Do tipo de equipamento disponível na sua unidade de saúde, no centro de saúde ou no hospital próximo. Da capacitação que você está recebendo. Se a criança é capaz de beber. Prevenção da diarreia O aleitamento materno exclusivo durante os 6 primeiros meses e após esta idade, acompanhado de alimentação complementar adequada para a idade, o uso de água tratada, de alimentos adequadamente preparados e acondicionados e esgotamento sanitário apropriado previnem a incidência de diarreia. Uma metanálise de 30 estudos revelou que o hábito de lavar as mãos reduziu a incidência de doença diarreica em até 31%, mas outro estudo mostrou pouco efeito quanto à transmissão do rotavírus. A vacinação é a melhor maneira de prevenir a infecção por rotavírus. A OMS recomenda duas vacinas: a vacina humana monovalente de vírus vivo atenuado RV-A (Rotarix®) e a vacina pentavalente bovino-humana (RotaTeq®).Doenças infecciosas respiratórias Otites A otite média aguda (OMA) é uma infecção com desenvolvimento rápido de sinais e sintomas de inflamação aguda na cavidade da orelha média. É uma das razões mais frequentes de visitas aos médicos em crianças menores de 15 anos de idade, entretanto, mesmo com alta prevalência, é uma entidade autolimitada e com baixa incidência de complicações e mortalidade. Definição A OMA é definida como a presença de líquido (efusão) preenchendo a cavidade da orelha média sob pressão, com início abrupto dos sinais e sintomas causados pela inflamação dessa região. Fatores de risco Mariane Rauber 7 Os fatores de risco para OMA podem depender do hospedeiro (da própria criança) ou decorrer de fatores ambientais. Fatores relacionados ao hospedeiro Com relação à idade, a ocorrência do primeiro episódio de OMA antes dos 6 meses é um fator de risco importante para a recorrência das OMA. Crianças com fenda palatina, síndrome de Down, malformações craniofaciais, imunodeficiência e discinesia ciliar primária apresentam risco aumentado para OMA. A suscetibilidade genética é importante na otite média, sendo determinada, em parte, pela contribuição de genes em regiões cromossomais distintas: 10q e 19q. As diferenças raciais na tuba auditiva (TA) tornam a otite média mais prevalente em grupos étnicos como esquimós, aborígenes e índios americanos. Outros fatores, como alergia, doença do refluxo gastroesofágico, etnia e sexo, apresentam dados discordantes quanto ao seu risco real. Fatores ambientais Evidências epidemiológicas mostram que a OMA costuma decorrer de infecções das vias aéreas superiores (IVAS), e que tanto IVAS quanto OMA apresentam maior incidência nos meses mais frios (inverno). As creches e os berçários representam um fator de risco considerável no desenvolvimento da OMA, em especial pela alta prevalência de infecções respiratórias, facilitando a contaminação viral entre as crianças. Outro fator de risco de reconhecida importância é o tabagismo passivo. Por outro lado, o aleitamento materno é um fator de proteção; estudos demonstram que amamentar por 3 meses diminui o risco de OMA em 13% e amamentar por mais de 6 meses protege a criança das recorrências das otites até o 3º ano de vida. No caso de crianças que tomam mamadeira, os pais devem cuidar para que não a tomem deitadas, sugerindo-se que a cabeça fique elevada. O uso de chupetas e de mamadeiras com bico com cápsula tipo “empurra e puxa” também é considerado fator de risco na recorrência das OMA. Patogênese A OMA é mais prevalente no lactente e na criança pequena. Essa predisposição decorre de fatores anatômicos e imunológicos, característicos dessa faixa etária. A TA ventila a orelha média. Durante o repouso, encontra‑-se fechada. Sua luz é virtual e abre-se de forma intermitente pela contração do músculo tensor do véu palatino durante a deglutição ou o bocejo. Existem diferenças importantes entre a TA da criança e do adulto. As diferenças mais relevantes são a TA mais curta e mais horizontalizada na criança, o que facilita a progressão de microrganismos (vírus e bactérias) da rinofaringe para a orelha média.3 Ao nascimento, o sistema imunológico da criança é imaturo. O recém-nascido apresenta altos níveis de IgG materna, que vão progressivamente diminuindo, tornando-se pouco efetivos por volta dos 5 a 6 meses de idade. Por outro lado, a criança produz gradualmente mais IgG, IgA e IgM próprias, atingindo um platô quando a criança está maior. É interessante notar que essas fases coincidem com a época de início e de desaparecimento dos episódios de OMA na maioria das crianças. A OMA geralmente é desencadeada por um processo infeccioso (IVAS em geral), associado a um determinado grau de disfunção da TA e do sistema imunológico. É comum a OMA ser precedida por IVAS. Os vírus agiriam como copatógenos, predispondo à infecção bacteriana. Essa seria a explicação para a sazonalidade da OMA, mais comum nos meses de inverno, quando as infecções virais são mais frequentes. Microbiologia A OMA é causada por vírus respiratórios e/ou infecção bacteriana no espaço da orelha média, como resultado da resposta do hospedeiro à infecção. A OMA ocorre mais frequentemente como consequência de uma IVAS que causa inflamação/disfunção da TA, à pressão negativa da orelha média e ao movimento de secreções, contendo os vírus causadores da IVAS e as bactérias patogênicas, para a cavidade da orelha média. Vírus respiratórios e adenovírus, coronavírus e vírus respiratório sincicial (VRS) relacionados com a OMA.5 O VRS e o adenovírus estão entre os vírus mais comumente associados à OMA. O padrão-ouro para determinar a etiologia bacteriana da OMA é a cultura do fluido da orelha média por meio da timpanocentese, da drenagem através dos tubos de ventilação ou pela otorreia espontânea. Bactérias são encontradas em 50 a 90% dos casos de OMA com ou sem otorreia. O Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus influenzae não tipável e a Moraxella catarrhalis são os principais otopatógenos bacterianos e frequentemente colonizam a nasofaringe. O Streptococcus pyogenes do grupo A é responsável por menos de 5% dos casos de OMA. Sinais e sintomas São sintomas constantes a otalgia (criança que manipula muito a orelha), o choro excessivo, a febre, as alterações de comportamento e do padrão do sono, a irritabilidade, a diminuição do apetite e até a diarreia. Como sinais de OMA, os achados da MT (membrana timpânica) na otoscopia e na pneumotoscopia representam, de maneira mais característica, os sinais da OMA. MT com hiperemia ou opacidade, abaulamento, diminuição da mobilidade e otorreia aguda são sinais típicos. A idade da criança (< 24 meses), a gravidade dos sintomas, a presença de otorreia aguda e a bilateralidade direcionam o tratamento da OMA de maneira mais incisiva. A otorreia define o diagnóstico, pois é necessária a presença de efusão ou líquido na cavidade da orelha média para estabelecer o diagnóstico de OMA. Portanto, atualmente, a bilateralidade é um marco que indica uma doença mais grave, e a presença de otorreia espontânea indica a certeza da patologia. Eventualmente, a OMA pode ter como complicações as mastoidites e evoluir para um colesteatoma. Otite média com efusão A otite média com efusão (OME) é uma inflamação da orelha média com uma coleção de líquido ou efusão retrotimpânica, sem sinais ou sintomas de infecção aguda e sem perfuração da membrana Mariane Rauber 8 timpânica. A otite média com efusão crônica (OMEC) é aquela em que a efusão permanece por < 3 meses sem sinais inflamatórios agudos. A OME pode ser considerada um continuum da otite média aguda (OMA), uma vez que, após um episódio de OMA bem conduzido, até 70% das crianças podem apresentar efusão na orelha média (EOM) ao final de 2 semanas, 40% ao final de 1 mês e cerca de 10% ao final de 3 meses, levando à OMEC. Essa efusão, serosa ou mucoide, pode causar dificuldade auditiva (hipoacusia) condutiva de leve a moderada, flutuante ou persistente, com repercussões potenciais para impactar no desenvolvimento da fala, da linguagem e das habilidades cognitivas. A incidência ou a prevalência da OME é aparentemente assintomática e pode não ser identificada pelos pais (e, por isso, muitas vezes não chama a atenção do médico). Faringoamigdalite As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) têm prevalência elevada e são causas comuns de consultas médicas. Dor de garganta é a 3ª maior queixa entre pacientes que procuram serviços de emergência, e as tonsilites e faringites agudas são responsáveis por aproximadamente 5% das consultas médicas. Tonsilites e faringites são IVAS de ocorrência frequente e autolimitadas. Na maioria das vezes, as crianças e os adultos recuperam-se rapidamente(3 a 4 dias), mas, ocasionalmente, podem desenvolver complicações.1-3 As infecções em tonsilas palatinas e faringe são mais frequentemente de origem viral, mas podem ser causadas por bactérias, sobretudo o estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBHGA), responsável pela única infecção bacteriana na garganta cujo tratamento com antibióticos está definitivamente indicado, com o objetivo de prevenir sequelas supurativas e não supurativas.1,4 Apesar da necessidade de tratamento com antibacterianos não estar presente na maioria das vezes, tonsilites e faringites são exemplos antigos de prescrição inadequada de antibióticos. A possibilidade de iatrogenias, os custos mais elevados do tratamento e, principalmente, o surgimento de cepas bacterianas resistentes aos antimicrobianos são consequências óbvias do emprego desnecessário desses medicamentos.3,5 Função das tonsilas palatinas As principais funções das tonsilas palatinas são: atuar como tecido imunocompetente local, secretando imunoglobulinas nas criptas (são capazes de produzir as 5 classes de imunoglobulinas IgA, IgG, IgM, IgD e IgE) e produzindo cadeias J que completarão a estrutura molecular das imunoglobulinas A. Com isso, impedem a replicação bacteriana e viral no trato respiratório superior, representando a primeira linha de defesa contra doenças infecciosas na região; posteriormente, migram para outras áreas do trato respiratório superior.6 As complicações sistêmicas das infecções tonsilares pelo EBHGA diminuíram consideravelmente após o advento da antibioticoterapia.7 Desde então, também se reduziram as tonsilectomias por tonsilites recorrentes e crônicas. Por outro lado, aumentaram as indicações de tonsilectomia por obstrução da via aérea superior secundária à hipertrofia tonsilar. Etiologia Vários vírus, bactérias e alguns fungos podem causar tonsilites e faringites. Entre os vírus, os agentes mais comuns são adenovírus, influenza, parainfluenza, coxsackie, vírus sincicial respiratório, herpes e vírus de Epstein-Barr (EBV). EBHGA (20 a 30 % das etiologias bacterianas), Haemophillus (15%), Moraxella (15%), Staphylococcus aureus (20%), pneumococo (1%), germes anaeróbios, clamídia e micoplasma são as bactérias envolvidas na gênese das infecções faringotonsilares. Com exceção de situações individuais, parece não haver necessidade de diagnóstico e tratamento de tonsilites e faringites causadas por bactérias que não o EBHGA. Laringites a Pneumonia Introdução A maioria das crianças tem de 4 a 6 infecções respiratórias agudas (IRA) por ano, principalmente nas áreas urbanas. As IRA correspondem a 1/4 de todas as doenças e mortes entre crianças nos países em desenvolvimento. Cerca de 2 a 3% das IRA evoluem para infecção do parênquima pulmonar, das quais 10 a 20% evoluem para óbito, contabilizando 1,2 milhão de óbitos por ano. No início da década de 2000, o Brasil concentrava grande parte dos casos de pneumonia adquirida na comunidade (PAC) em menores de 5 anos de idade em todo o mundo. Em países desenvolvidos, a incidência de PAC é de 10 a 15/1.000 crianças/ano, e a taxa de internação é de 1 a 4/1.000 crianças/ano, ocorrendo sobretudo em menores de 5 anos. Os principais fatores de risco para PAC são: desnutrição, baixa idade, comorbidades e gravidade da doença, que podem concorrer para o óbito. Outros fatores, como baixo peso ao nascer, permanência em creche, episódios prévios de sibilos e pneumonia, ausência de aleitamento materno, vacinação incompleta, variáveis Mariane Rauber 9 socioeconômicas e variáveis ambientais, também contribuem para a morbidade e a mortalidade. Etiologia É difícil estabelecer o diagnóstico etiológico das PAC. Seu curso clínico costuma ser muito semelhante para os diversos agentes, as técnicas diagnósticas são, em geral, de baixa sensibilidade ou de custo elevado e de difícil acesso à maioria dos serviços. Dependendo do número de testes diagnósticos utilizados, o diagnóstico etiológico das PAC pode ser identificado em cerca de 24 a 85% dos casos. Vários estudos apontam os vírus como os principais agentes de PAC em crianças até 5 anos em países desenvolvidos. Quanto mais jovem a criança, excluindo-se os primeiros 2 Meses de vida, maior a chance de ocorrência de doença de etiologia viral. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o mais frequentemente encontrado, seguido dos vírus influenza, parainfluenza, adenovírus e rinovírus. Menos frequentemente, outros vírus podem causar PAC, como varicela-zóster, coronavírus, enterovírus, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, herpes simples, vírus da caxumba e do sarampo e hantavírus. Mais recentemente, o metapneumovírus humano (HMPV), o bocavírus e um coronavírus mutante – associado à síndrome respiratória aguda grave (SARS) – têm sido associados à PAC. Os vírus podem ser responsáveis por até 90% das pneumonias no 1º ano de vida e por 50% dos casos na idade escolar. Os agentes bacterianos, por outro lado, são os principais responsáveis pela maior gravidade e mortalidade por PAC na infância. O Streptococcus pneumoniae ou pneumococo é o principal agente bacteriano de PAC. Os agentes etiológicos mais comumente isolados em crianças com PAC nos países em desenvolvimento são as bactérias pneumococo, Haemophilus influenzae e Staphylococcus aureus. A frequência de coinfecção vírus-bactéria em pacientes com PAC tem variado de 23 a 32%. Algumas crianças apresentam alto risco para infecção pelo pneumococo: infectadas pelo vírus HIV, com imunodeficiências congênitas ou adquiridas, cardiopatas, nefropatas e pneumopatas crônicas, incluindo a asma grave, com diabete melito, com hemoglobinopatias, principalmente anemia falciforme, asplenia congênita ou adquirida, fístula liquórica, cirrose hepática ou contactantes de doentes crônicos.1,4 A Tabela 1 relaciona os principais agentes etiológicos e as faixas etárias. Avaliação clínica e diagnóstico. O quadro clínico da PAC pode variar com a idade da criança, o estado nutricional, a presença de doença de base e o agente etiológico, podendo ser mais grave nas crianças mais jovens, desnutridas ou que apresentam comorbidades. Os principais sinais e sintomas da PAC são febre, tosse, frequência respiratória elevada (taquipneia) e dispneia, de intensidades variáveis. Sintomas gripais são comuns, bem como otite média. Algumas crianças apresentam dor abdominal, principalmente quando há envolvimento dos lobos pulmonares inferiores. Nas crianças pequenas, dificilmente se encontram alterações localizadas à ausculta respiratória. A sibilância ocorre com maior frequência nas crianças com infecções virais ou por M. pneumoniae ou C. pneumoniae. Na criança com IRA, a frequência respiratória (FR) deve sempre ser pesquisada visando ao diagnóstico de PAC. Na ausência de sibilância, as crianças com tosse e FR elevada (taquipneia) devem ser classificadas como tendo PAC. Os seguintes pontos de corte para taquipneia são utilizados: < 2 meses: FR ≥ 60 irpm; 2 a 11 meses: FR ≥ 50 irpm; 1 a 4 anos: FR ≥ 40 irpm. Segundo revisões sistemáticas, os “sinais de perigo” apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há cerca de três décadas indicam internação hospitalar imediata do paciente. Esses sinais em crianças menores de 2 meses são: FR ≥60 irpm, tiragem subcostal, febre alta, recusa do seio materno por mais de 3 mamadas, sibilância, estridor em repouso, sensório alterado com letargia, sonolência anormal ou irritabilidade excessiva. Entre as maiores de 2 meses de vida, os sinais são: tiragem subcostal, estridor em repouso, recusa de líquidos, convulsão, alteração do sensório e vômito de tudo que lhe é oferecido. Segundo a OMS, crianças com PAC e tiragem subcostal são classificadas como portadoras de pneumonia grave, e aquelas com outros sinais de gravidade (recusa de líquidos,convulsões, sonolência excessiva, estridor em repouso, desnutrição grave, batimento de asa do nariz e cianose) são classificadas como portadoras de pneumonia muito grave. Em menores de 2 meses, são considerados sinais de doença muito grave: recusa alimentar, convulsões, sonolência excessiva, estridor em repouso, febre ou hipotermia, além da tiragem subcostal grave. Quadros de pneumonia afebril podem ocorrer em lactentes e em maiores de 5 anos. Em lactentes, podem cursar com antecedentes de conjuntivite e parto vaginal, e sugerem infecção por C. trachomatis. Em crianças maiores, é comum tosse coqueluchoide e história de contato com pacientes com quadro semelhante. Sugere PAC por Mycoplasma pneumoniae. Por outro lado, piodermites e/ou lesões osteoarticulares antecedendo PAC grave, que muitas vezes cursa com empiema pleural, podem ocorrer na pneumonia estafilocócica. Mariane Rauber 10 Bronquiolite A bronquiolite viral aguda (BVA) é a infecção do trato respiratório inferior mais comum em crianças pequenas. A doença resulta da obstrução inflamatória das pequenas vias aéreas, possui gravidade variável, manifestando-se mais frequentemente por formas leves, que podem evoluir para apresentações graves, em casos mais incomuns. Ocorre mais durante os primeiros 2 anos de idade, com uma incidência maior em lactentes menores de 6 meses. É uma das causas mais frequentes de internação hospitalar nessa faixa etária. Entretanto, embora seja reconhecida como uma entidade associada a grande morbidade, possui dificuldades intrínsecas até na padronização de sua definição. As características anatômicas e fisiológicas do aparelho respiratório do lactente são determinantes no quadro clínico apresentado da BVA. A superfície de troca gasosa nos pulmões ainda não está plenamente desenvolvida e a resistência aérea é alta nos primeiros meses de vida, determinando uma frequência respiratória mais elevada. Além disso, os anticorpos adquiridos passivamente da mãe durante a vida intrauterina e que protegem contra uma variedade de patógenos caem bruscamente nos primeiros meses após o nascimento, expondo o bebê a diversas doenças. O pulmão da criança de baixa idade é relativamente mal adaptado a suportar agressões e desenvolvem enfermidades mais facilmente.2 Crianças com BVA produzem uma doença heterogênea que se estende além das lesões citopatogênicas diretas do vírus no epitélio bronquiolar. Os danos causados pelo agressor contribuem para a resposta imune e inflamatória do hospedeiro, podendo comprometer o desenvolvimento normal das pequenas vias aéreas. O conhecimento da história natural da infecção viral, especialmente sobre o vírus sincicial respiratório (VSR), principal agente etiológico, é útil para as estratégias de prevenção e no auxílio das necessidades de recursos que devem ser disponibilizados para o adequado tratamento. Epidemiologia O VSR é um paramixovírus de RNA, envelopado sem as glicoproteínas de superfície, hemaglutinina e neuraminidase. Existem dois grandes subtipos (A e B), que muitas vezes circulam concomitantemente. O significado clínico e epidemiológico da variação das cepas não foi determinado, mas evidências sugerem que as diferenças antigênicas podem afetar a suscetibilidade à infecção, e algumas cepas podem ser mais virulentas do que outras. A fonte de infecção é geralmente um membro da família ou colega da creche ou escola, com enfermidade respiratória aparentemente benigna. O homem é a única fonte de infecção na natureza. As crianças maiores e os adultos podem tolerar melhor situações de edema bronquiolar quando comparados aos lactentes e, assim, são capazes de expressar manifestações clínicas menos exuberantes, mesmo quando infectados pelos vírus. A transmissão ocorre normalmente por contato direto ou próximo a secreções contaminadas, que podem envolver gotículas ou fômites. O período de incubação é de 2 a 8 dias, com uma média de 4 a 6 dias. O período de disseminação viral é normalmente de 3 a 8 dias, mas pode prolongar-se, especialmente em lactentes mais novos, nos quais a disseminação pode continuar até por 3 ou 4 semanas. As infecções pelo VSR não conferem imunidade completa, sendo comuns as reinfecções durante a vida. Outros agentes causais da BVA também estão bem determinados, como influenza, rinovírus, parainfluenza (tipos 1 e 3), adenovírus, metapneumovírus, bocavírus humano, entre outros. Bronquite A bronquite acontece quando se inflamam os brônquios, uma rede complexa que une a traqueia aos pulmões: subdividindo-se como os ramos de uma árvore, os brônquios vão-se tornando cada vez mais finos até se converterem em finos canais, chamados bronquíolos, nos quais se dá a troca do ar rico em oxigénio pelo dióxido de carbono. Sintomas da bronquite - O sintoma mais evidente é a tosse persistente, acompanhada de dificuldade em respirar, um mal-estar generalizado e, por vezes, febre. - A criança pode ou não ter febre, mas tem sempre um aspeto cansado, respira com dificuldade e está muito fraca. - O diagnóstico da bronquite deve ser sempre feito pelo pediatra, porque requer auscultação dos brônquios. Em geral, dá-se um broncospasmo, causado por um estreitamento dos brônquios: a criança respira com dificuldade e tem uma tosse seca e persistente, que por vezes lhe causa vómitos. Causas para a bronquite A bronquite aguda Geralmente é causada por um vírus e como resultado de um simples resfriado, ou uma gripe, que se complica. Ao fim de alguns dias, surge a tosse, seca e constante, a princípio, para depois se tornar profunda e com uma secreção de muco abundante, primeiro líquida e, mais tarde, densa. Devido à inflamação, a mucosa dos brônquios engrossa e produz muco e pus, que são expelidos sob a forma de um líquido espesso, de cor amarela esverdeada. Frequentemente é acompanhada de dor na parte de trás do esterno. Por vezes, a criança tem febre e respira com dificuldade, emitindo silvos e espasmos. A Mariane Rauber 11 doença aparece de súbito e cura-se em poucos dias, a menos que surjam complicações. A bronquite subaguda ou prolongada Quase sempre provocada por uma infeção bacteriana, esta variante é acompanhada de sinusite. Por vezes, uma bronquite de tipo bacteriano sobrepõe-se a uma bronquite de origem viral, o que complica a sua evolução. A bronquite crónica ou frequente Ocorre quando os episódios de bronquite aguda, causados por vírus ou bactérias, se produzem quatro ou cinco vezes ao longo do ano. Habitualmente, a repetição destes episódios deve-se a uma constituição alérgica ou a problemas imunológicos. Nesta variante de bronquite, como consequência da inflamação, os brônquios estreitam- se ou permanecem obstruídos e produzem muco continuamente (asma). A bronquite perpétua Nas crianças, só se manifesta nos casos de fibrose quística, uma doença congénita que afeta brônquios e outros órgãos. Resfriado comum Uma infecção viral autolimitada da mucosa do nariz, seios paranasais e faringe, com manifestações como rinorreia e obstrução nasal. É uma infecção muito frequente nos primeiros anos de vida, geralmente com 6 a 8 casos por ano até os 5 anos de idade. Crianças que frequentam creches apresentam até 50% a mais de episódios do que as que ficam apenas em casa. Etiologia: rinovírus, da família Picornaviridae, são os principais causadores do resfriado comum. A infecção pelo rinovírus é um dos principais gatilhos infecciosos para exacerbação da asma. Outros agentes etiológicos são o coronavírus, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), o metapneumovírus humano, a influenza, o parainfluenza, o adenovírus, o enterovírus e o bocavírus. Nas infecções pelo VSR, parainfluenza e coronavírus, podem ocorrer diversas infecções pelo menos sorotipo, já que não conferem imunidade duradoura.Transmissão: pode acontecer por aerossóis (pequenas partículas eliminadas pela tosse do indivíduo infectado, que percorrem distâncias maiores pois ficam em suspensão no ar, e causam infecção ao serem inaladas), por gotículas (grandes partículas que são geradas durante o espirro do paciente infectado, e são transmitidas por distâncias menores, se depositando na mucosa nasal ou conjuntival do contactante), ou por contato direto (contato com o indivíduo infectado ou com alguma superfície contaminada, inoculando o vírus em sua própria mucosa nasal e/ou conjuntival), que é a principal via de transmissão. Patogenicidade: com a infecção da mucosa nasal, haverá uma inflamação aguda, devido à liberação de citocinas inflamatórias e infiltração de células inflamatórias, coincidindo com o início das manifestações clínicas e de secreção nasal amarelada. Com a atividade enzimática dessas células, a secreção se tornará esverdeada (por isso a secreção esverdeada isoladamente não significa complicação bacteriana). Clínica: entre 1 a 3 dias após a infecção, o paciente poderá apresentar odinofagia (geralmente é a primeira manifestação), tosse (pode ser pelo gotejamento pós-nasal, e é a manifestação que persiste por mais tempo após a melhora do quadro), espirros, coriza abundante e obstrução nasal (estão sempre presentes na rinossinusite). Não haverá taquipneia nem estridor. Lactentes e pré- escolares podem apresentam febre e linfadenomegalia cervical. No exame físico podem apresentar edema e hiperemia dos cornetos, e presença de roncos devido à obstrução nasal. Tem duração aproximada de 1 semana, podendo, na minoria das vezes, perdurar até 2 semanas. Como diagnóstico diferencial, temos a rinite alérgica e a presença de corpo estranho nasal. Prevenção: a lavagem frequente das mãos, principalmente após contato direto com indivíduos resfriados. A vacina anti-influenza previne o resfriado contra esse vírus. Complicações: geralmente é uma doença benigna e autolimitada, mas também pode haver uma complicação bacteriana. Cinco a 30% dos resfriados podem complicar com otite média aguda, e cinco a 13% pode complicar com sinusite. Há também a possibilidade de o resfriado comum exacerbar um quadro de asma brônquica pela infecção das vias aéreas superiores. O uso equivocado de antibióticos para tratamento do resfriado comum contribui para a resistência bacteriana. Rinossinusite A rinossinusite ocorre com frequência na criança, sendo uma das causas mais frequentes de consulta ao médico ou de absenteísmo escolar. Embora a sua incidência e prevalência não sejam bem definidas, acredita-se que afete quase 31 milhões de pessoas a cada ano.1 Está associada a vários fatores predisponentes, que podem variar dependendo da idade. Estudos prospectivos mostraram uma incidência de 6 episódios por ano de infecções virais de vias aéreas superiores (IVAS) em crianças entre 6 meses e 3 anos de idade, sendo que 8% apresentaram evolução para rinossinusite aguda bacteriana (RSAB).2 Aproximadamente 50% dos casos de rinossinusite aguda (RSA) não tratados melhoram espontaneamente, em geral, até 4 semanas do início do quadro. Definição A rinossinusite é definida como uma inflamação da mucosa nasossinusal, podendo ser classificada, de acordo com a duração dos sintomas, em aguda (até 12 semanas), recorrente (6 ou mais episódios agudos ao ano, sem sintomas nas intercrises) e crônica (mais de 12 semanas). Aspectos anatômicos No recém-nascido, os seios maxilares, os seios esfenoidais e 2 a 3 células etmoidais já estão presentes, entretanto, apenas os maxilares e etmoidais têm tamanho suficiente para apresentarem rinossinusite. Aos 4 anos de idade, o seio etmoidal já está formado. O assoalho do Mariane Rauber 12 seio maxilar atinge o mesmo nível do assoalho da fossa nasal em torno de 7 a 8 anos de idade. Os seios frontais não estão presentes ao nascimento, mas, com o crescimento de células etmoidais anteriores em direção cranial, estarão formados em torno dos 5 anos. Os seios esfenoidais estão completamente desenvolvidos aos 15 anos.6 Sinais e sintomas A rinossinusite na criança é caracterizada pela presença de 2 ou mais sintomas, sendo que um deles deve ser a obstrução/congestão nasal ou secreção nasal anterior/posterior. Tosse e dor/pressão facial podem estar associados. Ao exame endoscópico nasal, os sinais presentes devem ser: secreção mucopurulenta do meato médio e/ou edema de mucosa no meato médio e/ou pólipos nasais. Ao exame tomográfico dos seios paranasais, alterações de mucosa nasal no complexo ostiomeatal e/ou seios paranasais podem ser visualizados. Classificação De acordo com a European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps,6 pode ser classificada em RSA viral (resfriado ou gripe), cujos sintomas duram até 10 dias, RSA pós-viral, em que há piora dos sintomas após 5 dias ou persistência dos sintomas após 10 dias e com menos de 12 semanas de evolução; e RSAB, que é um pequeno grupo da RSA pós-viral em que são observados pelo menos 3 dos seguintes sintomas/sinais: secreção mucopurulenta nasal e retronasal, febre (>8°C), dor facial ou piora dos sintomas após fase inicial da evolução (Tabela 1). Diagnóstico diferencial 1. Corpos estranhos nasais e atresia de coana unilateral: sintomas geralmente unilaterais, facilmente diferenciados por meio da história clínica e do exame endoscópico nasal. 2. Rinite alérgica: em geral, não apresenta rinorreia purulenta ou febre. coqueluche. A coqueluche é causada por uma infecção do epitélio ciliado do trato respiratório por uma bactéria, a Bordetella pertussis. É um importante causa de tosse prolongada e uma doença infectocontagiosa de alta transmissibilidade, com uma taxa de ataque secundário de 90% entre os contatos domiciliares não imunes. Os sintomas da coqueluche podem variar de uma tosse prolongada inespecífica até a sua forma característica, com acessos súbitos de tossidas rápidas, curtas e em uma única expiração. O acesso de tosse pode ser seguido de vômitos e/ou por uma inspiração profunda que dá origem ao “guincho” característico. Pode ser uma doença grave entre os menores de 1 ano de idade, sendo uma das dez mais comuns causas de óbito nessa faixa etária. Cerca de 50% das notificações dos casos de coqueluche no Brasil são de menores de 1 ano de idade. Etiologia: a Bordetella pertussis é um cocobacilo Gram-negativo, aeróbico e encapsulado, sendo isolada apenas em seres humanos. Tem tropismo pelo epitélio ciliado respiratório. A transmissão da doença ocorre durante os acessos de tosse, quando as gotículas eliminadas pelo doente são inspiradas pelos contatos suscetíveis. Nos indivíduos que não fazem uso de antibiótico, período de transmissão inicia-se 5 dias após o contato e prolonga-se por 3 semanas após o início da tosse paroxística; pode chegar a 6 semanas nos menores de 6 meses. Patogenia: B. pertussis possui a hemaglutinina filamentosa que adere às células do epitélio ciliado do trato respiratório. A seguir, uma série de fatores de virulência produzidos pela B. pertussis, como a toxina pertussis, adenilato ciclase, pertactina e citotoxina traqueal, atua no hospedeiro e é responsável pelos sintomas e a resposta imune. As toxinas paralisam e destroem os cílios do epitélio respiratório, dificultando a eliminação das secreções respiratórias. É considerada uma bactéria não invasiva, mas já foi isolada em macrófagos nos alvéolos. Lesões do epitélio respiratório com destruição dos cílios, infiltrado peribrônquico, broncopneumonia, edema pulmonar, hemorragias focais, trombos de leucócitos em veias pulmonares, bronquite, bronquiolite necrotizante e áreas de atelectasias foram observadas em exames anatomopatológicos post--mortem. Hemorragias, petéquias e atrofia cortical foram observadas nosistema nervoso central. Quadro clínico: Os sintomas da coqueluche podem variar com a idade, início precoce de antibiótico, presença de comorbidades e exposição prévia à vacina ou à doença que não conferem imunidade permanente. Um caso de coqueluche em crianças menores de 1 ano é indicador de casos não detectados na comunidade. Tem um período de incubação que varia de 7 a 21 dias, quando surgem a tosse e outros sintomas que são semelhantes aos sintomas de resfriado comum. Ocasionalmente, febre baixa a moderada pode ser referida. Em um período de 7 a 10 dias após o início dos sintomas, o paciente apresenta a tosse paroxística característica da coqueluche, que pode persistir por várias semanas. O acesso de tosse é súbito, as tossidas são rápidas, curtas, em uma única expiração e seguidas por uma inspiração profunda que dá origem ao “guincho” característico, e/ou vômito pós- tosse. Durante os acessos de tosse, podem ser observadas congestão facial, cianose e, algumas vezes, apneia, principalmente entre os menores de 3 meses de vida. A tosse pode permanecer durante meses, podendo piorar após um período de melhora, caso o paciente adquira uma infecção respiratória inespecífica nesse período. Em crianças vacinadas, adolescentes adultos, esses sintomas característicos podem estar ausentes, fato que torna o diagnóstico de coqueluche pouco lembrado. Mariane Rauber 13 Em adolescentes e adultos com tosse por mais de 14 dias, sem outra causa aparente, a infecção por B. pertussis tem sido evidenciada em 5 a 25% dos casos, mesmo em período interepidêmico. Em menores de 1 ano, particularmente entre os menores de 6 meses, os acessos de tosse podem ser acompanhados de cianose, apneia e convulsão. Nessa faixa etária, a coqueluche pode ser mais grave, com maior incidência de complicações, necessidade de hospitalização e maior letalidade. Virus Influenza (capítulo 12) No Brasil, a sazonalidade do vírus influenza é bem conhecida nas regiões Sul e Sudeste, ocorrendo no outono e no inverno, especialmente de maio a julho; no entanto, casos esporádicos podem ser detectados em outros meses do ano. O vírus é altamente contagioso, transmitido de pessoa a pessoa por meio de gotículas ou contato direto com objetos contaminados recentemente por secreções nasofaríngeas. O paciente é mais infectante durante as 24 horas anteriores ao início dos sintomas e durante o período mais sintomático, com o pico da disseminação viral ocorrendo após 3 dias do início dos sintomas e terminando no sétimo dia, podendo ser mais prolongado em imunodeprimidos. O período de incubação é geralmente de 1 a 4 dias, sendo característico o adoecimento de várias pessoas ao mesmo tempo, especialmente em famílias nas quais há crianças em idade escolar.7,8 As crianças não têm apenas papel importante na propagação da epidemia de influenza. Atualmente, sabe-se que as crianças menores de 2 anos de idade apresentam morbidade semelhante à observada nos grupos de risco para infecção grave por influenza, caracterizada por elevada taxa de hospitalização, aumento do número de consultas médicas e complicações por infecção secundária. Vírus Os vírus influenza pertencem à família Orthomyxoviridae, Gênero Influenzavirus. São subdivididos em tipos A, B e C. O envelope do vírus é uma dupla camada lipídica, que contém projeções proeminentes formadas pelas glicoproteínas hemaglutinina (HA), neuraminidase (NA) e proteína M2. Esse envelope cobre a proteína M1 (Figura 1). Quadro clínico A influenza pode apresentar-se de várias formas clínicas, dependendo principalmente da idade do hospedeiro. Em crianças, a doença pode apresentar desde uma forma subclínica até uma doença complicada, afetando múltiplos órgãos. Nos primeiros meses de vida pode ocorrer quadro de bronquiolite, laringite e até quadro semelhante à sepse bacteriana. Após os primeiros meses de vida, uma pequena porcentagem de crianças pode ter infecção assintomática. Entretanto, a maioria das crianças menores de 5 anos apresenta febre e sinais de infecção de vias aéreas superiores (IVAS); em 10 a 50% ocorre também envolvimento do trato respiratório inferior. Infecções por vírus influenza são mais graves em crianças menores de 2 anos de idade, em decorrência da falta de imunidade e, provavelmente, do pequeno calibre das vias aéreas. Mais de 1% das infecções por vírus influenza em crianças menores de 1 ano de idade resulta em hospitalização. A maioria delas acontece em crianças com menos de 6 meses de idade, ou naqueles portadores de doenças crônicas. A mortalidade varia de 1 a 8%. Crianças maiores e adultos jovens apresentam mais frequentemente um quadro com início abrupto, com febre alta, calafrios, cefaleia, mialgia, fadiga, anorexia e tosse seca. Em seguida, congestão nasal, rinite, dor de garganta e tosse tornam-se proeminentes. Sintomas gastrointestinais podem ocorrer, incluindo vômitos, dor abdominal, diarreia. A frequência é maior em crianças. Os sinais e sintomas da infecção por influenza em crianças são semelhantes aos de outras infecções virais, sendo difícil diferenciá-las clinicamente. São pontos-chave para diagnóstico de influenza em crianças: • período de circulação viral (sazonalidade); • febre, tosse e rinorreia. Influenza e resfriado comum São pontos-chave para diagnóstico diferencial de influenza e resfriado comum (Tabela 1): • influenza: período de circulação viral (sazonalidade) e quadro de início súbito, com febre alta acompanhado de dor muscular e/ou tosse e/ou fadiga; • resfriado comum: ocorre o ano todo, com quadro clínico de início lento, acompanhado de dor de garganta, espirros e coriza. Vacina contra influenza Nas últimas décadas, a imunização anual contra influenza tem sido a principal medida para a profilaxia da doença e redução da morbimortalidade. Existem dois tipos de vacina: vacina inativada e vacina de vírus vivos atenuados. As vacinas inativadas contra influenza são imunogênicas e apresentam efeitos adversos mínimos. A vacina trivalente de vírus vivos atenuados, adaptados ao frio (LAIVT), disponível apenas nos EUA, foi liberada para o uso em crianças e adultos saudáveis na faixa etária de 5 a 49 anos de idade.8 Mariane Rauber 14 As vacinas são reformuladas anualmente, com base nas recomendações da OMS. Elas contêm três cepas de vírus, sendo uma influenza A H3N2, uma influenza A H1N1 e uma influenza B. A vacina da estação de 2012-2013, para o hemisfério norte, contém as cepas: A/California/7/2009 (H1N1), A/Victoria/ 361/2011 (H3N2) e B/Wisconsin/1/2010 (linhagem Yamagata). A vacina inativada contra o vírus influenza deve ser aplicada anualmente, sempre nos meses de outono, antes do período epidêmico do vírus, que geralmente ocorre no inverno. É aprovada acima dos 6 meses de vida. O esquema de imunização é apresentado na Tabela 2.8 Esse esquema de dose padronizado nos EUA tem como base a imunogenicidade e a reatogenicidade da vacina, de acordo com a faixa etária. Em crianças menores de 8 anos de idade, a resposta imunológica à vacina é inferior quando comparada à de adultos, provavelmente porque as crianças ainda não tiveram contato prévio com o vírus. Assim, na primeira imunização, o esquema de duas doses é recomendado. O intervalo entre as doses deve ser de, no mínimo, 1 mês. Doenças Exantemáticas Viroses exantemáticas são moléstias infecciosas nas quais a erupção cutânea é a característica dominante. A análise do tipo da lesão, dos sinais e dos sintomas concomitantes e a epidemiologia, algumas vezes, permitem inferir o diagnóstico etiológico, sem a necessidade de exames laboratoriais complementares. Essas reações aparecem na pele como lesões distintas. mácula é uma lesão plana, não palpável; pápulas são lesões pequenas perceptíveis ao tato que, quando maiores, sãochamadas de nódulos; vesículas são pequenas lesões que contêm líquido e, quando maiores, são chamadas de bolhas. Quando o líquido é purulento, tornam-se pústulas. Placas são lesões planas, mas elevadas, perceptíveis ao tato e grandes. As lesões podem ter cor eritematosa – que, quando desaparece com a vitropressão, é decorrente de uma vasodilatação e, quando não, de extravasamento de sangue do vaso, sendo, então, chamadas de purpúricas –, podem ser pequenas, petequiais, ou maiores, equimóticas. Podem, ainda, ser divididas em morbiliformes, quando existem áreas de pele sã entre as lesões e escarlatiniformes, quando o acometimento é difuso. Os exantemas podem ser subdivididos segundo o tipo de apresentação e a etiologia viral ou outras etiologias. Uma síntese está apresentada na Tabela 1. Mariane Rauber 15 Sarampo É uma doença quase erradicada em nosso meio, graças às campanhas de vacinação, mas até um passado recente provocava grandes epidemias; etiologia: paramixovírus; mecanismo de transmissão: via aérea, por meio de aerossol; tempo de incubação: 8 a 12 dias; tempo de contágio: desde 2 dias antes do início do pródromo até 4 dias após o aparecimento do exantema; cuidados com os contactantes: aplicar a vacina contra o sarampo até 72 horas após o contágio; após esse período, até 6 dias, aplicar a imunoglobulina humana normal. Para crianças normais, a dose é de 0,25 mL/kg; nos imunodeprimidos, é 0,5 mL/kg; isolamento: respiratório (uso de máscara) até 4 dias após o início do exantema; quadro clínico: a doença começa com pródromos que duram de 3 a 4 dias, com febre, tosse, cefaleia, mal-estar, prostração intensa, incomum em doenças virais. A febre é elevada, atingindo o auge na época do aparecimento do exantema, o que difere também da maioria das viroses, e cai em lise no terceiro ou quarto dia do exantema. A tosse é seca, intensa (incomoda o paciente), está sempre presente e é acompanhada de uma coriza abundante, hialina no início e purulenta nos dias subsequentes. Os olhos ficam hiperemiados, com lacrimejamento e fotofobia e, nos casos mais graves, ocorre edema bipalpebral. A prostração pode ser intensa, denotando comprometimento sistêmico. O enantema é a primeira manifestação mucocutânea a aparecer e é característico. A orofaringe fica hiperemiada e na região oposta aos dentes molares aparecem manchas branco-azuladas, pequenas, de cerca de 1 mm de diâmetro, chamadas de manchas de Koplik; as manchas aparecem 1 ou 2 dias antes do exantema e desaparecem 2 ou 3 dias depois. O exantema inicia-se atrás do pavilhão auricular, disseminando-se rapidamente para o pescoço, face e o tronco e atinge a extremidade dos membros por volta do terceiro dia. Ele é maculopapular eritematoso, morbiliforme como regra, mas, em determinadas áreas, pode confluir. Na fase do exantema, a doença atinge o seu auge, ficando o paciente toxêmico, febril, com os olhos hiperemiados, queixando-se da claridade, com intensa rinorreia e tosse implacável. Para os não familiarizados, a aparência é a de uma doença grave. O exantema começa a esmaecer em torno do terceiro ou quarto dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. Rubéola Etiologia: togavírus; transmissão: via aérea, por meio de perdigotos; tempo de incubação: 14 a 21 dias; tempo de contágio: de poucos dias antes até 5 a 7 dias depois da erupção; cuidados com os contactantes: observação; isolamento: respiratório e de contato para os casos adquiridos pós-parto, até 7 dias após o exantema. As crianças com infecção congênita são consideradas infectantes até 1 ano de idade ou até que a pesquisa de vírus na nasofaringe e na urina se negative; quadro clínico: principalmente em crianças não se observa pródromo, mas em adolescentes e em adultos podem aparecer sintomas gerais brandos antecedendo 1 a 2 dias o exantema que se inicia na face, espalhando-se rapidamente para o pescoço e o tronco e atingindo os membros já em 24 horas. O exantema é maculopapular róseo, pode, eventualmente, coalescer no tronco e tem curta duração, de 3 ou menos dias. Em alguns casos, observam-se, no palato mole, lesões petequeais, conhecidas como sinal de Forscheimer, que não é patognomônico dessa doença. Um achado marcante, entretanto, é a adenomegalia, que pode anteceder em até 7 dias o exantema. São acometidos, principalmente, os gânglios da cadeia cervical e retroauricular. Metade dos casos apresenta esplenomegalia discreta. As complicações na criança são raras, citando-se a púrpura trombocitopênica, a encefalite e, em mulheres, a artralgia. A grande importância da rubéola é na gestação em consequência da possibilidade de promover dano fetal; a vacinação em crianças visa fundamentalmente a proteger as mulheres suscetíveis do seu convívio; diagnóstico: isolamento do vírus do material de nasofaringe ou da urina. Pesquisa de anticorpos da classe IgM e de IgG contra rubéola no soro; prevenção: é realizada com a vacina de vírus vivo e atenuado, que é aplicada após os 12 meses de idade. Mariane Rauber 16 Eritema infeccioso Etiologia: parvovírus humano B19; transmissão: via aérea, por perdigotos; tempo de incubação: 4 a 14 dias; tempo de contágio: desconhecido; cuidados com os contactantes: observação, principalmente das pessoas que tenham hemoglobinopatia; isolamento: desnecessário; quadro clínico: em geral, não há pródromos. O primeiro sinal costuma ser o exantema, que se inicia na face como maculopápulas que confluem, tornando-se uma placa vermelho-rubra, concentrada, principalmente, na região das bochechas. Poupa a região perioral, a testa e o nariz, conferindo um aspecto de “asa de borboleta”, semelhante ao observado no lúpus eritematoso. Dá às crianças aspecto de “cara esbofeteada”. Depois de 1 a 4 dias, o exantema evolui, acometendo os membros superiores e inferiores, inicialmente em sua face extensora e, mais tarde, na flexora. A lesão da pele inicia-se como uma mácula que vai aumentando de tamanho, deixando a região central mais pálida, conferindo um aspecto tipicamente rendilhado. Nessa fase, o tronco pode ficar acometido. O exantema pode persistir por um período longo, até mais de 10 dias, e exacerbar- se ou reaparecer quando a criança é exposta ao sol, faz exercício ou quando há alterações de temperatura. Recorrência das lesões, mesmo após 1 a 2 semanas do desaparecimento, é descrita. A evolução é, em geral, afebril, podendo ser acompanhada de artralgias e de artrites. O hemograma é normal ou com discreta leucocitose e eosinofilia. Apesar de, na maioria dos casos, ter evolução benigna, nos adolescentes e nos adultos os sintomas são mais proeminentes, principalmente o comprometimento articular. Dentre as complicações conhecidas, a mais grave é a morte fetal, quando o vírus acomete mulheres grávidas. O parvovírus humano B19 é um vírus emergente em importância. Anteriormente responsável apenas pelo eritema infeccioso, hoje várias apresentações clínicas lhe são creditadas. Esse vírus tem como célula-alvo o eritroblasto do hospedeiro. Em geral, os pacientes apresentam anemia, que pode ser profunda em pessoas com hemoglobinopatias. Caso acometa grávidas suscetíveis, provoca dano fetal, como aborto, parto prematuro e hidropsia. A síndrome das luvas e meias é também atribuída ao parvovírus. Essa apresentação incomum ocorre em crianças e adultos jovens e é caracterizada por lesões purpúricas simétricas e eritematosas indolores nas mãos e nos pés. Mais eventualmente, acomete bochecha, cotovelo, joelho e nádega. Pode ser acompanhada por sintomas gerais, porém é autolimitada, melhorando em 1 a 2 semanas. Outros agentes infecciosos podem estar relacionados a essa síndrome. Exantema súbito (Roséola – herpesviridae)Etiologia: herpes-vírus humano 6 (HVH6) e 7 (HVH7); transmissão: provavelmente por perdigotos; tempo de incubação: 5 a 15 dias; tempo de contágio: durante a fase de viremia, sobretudo no período febril; cuidados com os contactantes: observação; isolamento: desnecessário; quadro clínico: acomete, virtualmente, apenas as crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, predominando nas menores de 2 anos. Isso sugere que haja certa proteção pelos anticorpos maternos e que o vírus seja altamente predominante na comunidade, uma vez que na idade pré- escolar quase todas as crianças já estão imunes. O início da doença é súbito, com febre alta e contínua (a criança fica extremamente irritada e anorética) e é considerada uma das causas mais comuns de convulsão febril. Não há toxemia, apesar da magnitude da febre. Linfonodomegalia cervical é achado muito frequente, assim como a hiperemia de cavum. Após 3 a 4 dias de febre, quando esta cessa bruscamente, aparece o exantema, também de modo súbito, constituído por lesões maculopapulares rosadas que se iniciam no tronco e se disseminam para a cabeça e as extremidades. A erupção é de curta duração, de algumas horas a 2 ou 3 dias, desaparecendo sem deixar descamação ou hiperpigmentação. O exantema pode passar despercebido. Diagnóstico: apenas a presença do herpes-vírus humano 6 ou 7 no sangue periférico fornece o diagnóstico de infecção primária. Podem ser realizados testes para detecção de anticorpos, mas o seu resultado deve ser analisado com cuidado, em razão da possibilidade de haver infecções crônicas (como todo herpes-vírus) com reativações. Prevenção: não existe. Mononucleose (Herpes vírus) A mononucleose infecciosa é considerada uma síndrome; o vírus Epstein-Barr é o responsável por cerca de 80% dos casos. A ocorrência de erupção cutânea não ultrapassa os 10 a 15% dos casos, exceto quando se administra penicilina ou ampicilina ao paciente. Os sintomas prevalentes nessa doença são febre, linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia e faringoamigdalite. O tipo de exantema é variável, sendo, na maioria das vezes, maculopapular, mas podem ocorrer erupções petequiais, papulovesiculares, escarlatiniformes e urticariformes. As erupções são mais evidentes na presença dos antibióticos citados. Outros agentes a serem considerados são o citomegalovírus, o vírus da imunodeficiência adquirida, o vírus da hepatite B e, dentre os não virais, o Toxoplasma gondii. Varicela Etiologia: vírus da varicela-zóster, do grupo herpes; transmissão: por aerossol, contágio direto e pela transmissão vertical; Mariane Rauber 17 tempo de incubação: 10 a 21 dias; tempo de contágio: do décimo dia após o contato até a formação de crostas de todas as lesões; isolamento: respiratório e de contato; cuidados com os contactantes: a imunoglobulina humanaantivírus varicela-zóster (VZIG) deve ser indicada nas seguintes situações: crianças imunocomprometidas, sem história prévia de catapora; gestantes suscetíveis; recém-nascidos cuja mãe tenha tido catapora dentro de 5 dias antes ou 48 horas após o parto; prematuros (gestação com 28 semanas) cuja mãe não tenha tido varicela; e prematuros (gestação com menos de 28 semanas) independentemente da história materna. A dose indicada é de 125 U para cada 10 kg e deve ser aplicada em 48 horas (até no máximo 96 horas) após a exposição. O uso de aciclovir como profilaxia em comunicantes é discutível, mas quando este for um adulto ou um paciente imunodeprimido e para o qual não se disponha da VZIG, talvez seja de interesse, pois nessas situações as manifestações da doença podem ser mais intensas e graves; quadro clínico: principalmente em crianças, o exantema é o primeiro sinal da doença, mas, eventualmente, podem-se notar febre baixa e mal-estar, os quais são mais proeminentes em adolescentes e em adultos. A erupção inicia-se na face, como máculas eritematosas que rapidamente se tornam pápulas, vesículas, pústulas e, finalmente, crostas. Essas lesões aparecem em surtos, geralmente por 3 a 5 dias, antecedidas por febre (viremia), promovendo um aspecto polimórfico do exantema. O envolvimento do couro cabeludo e das mucosas orais e genitais é frequente. As crostas permanecem por 5 a 7 dias e depois caem, deixando uma mácula branca, que não é permanente. Quando a pele foi anteriormente traumatizada ou sofreu abrasão, como cirurgias, radioterapia, queimadura, presença de eczema, ermatite de fraldas, etc., as lesões costumam ser mais numerosas nessa região. Coxsackie vírus (pé-mão-boca) Enterovirose Etiologia: RNA-vírus. Os não pólio-enterovírus são classificados em 23 coxsackie A (A-1 a A-24, exceto A-23), 6 coxsackie B (B-1 a B-6), 31 ECHO (1 a 33, exceto 10 e 28) e 4 enterovírus (68 a 71); transmissão: via fecal-oral; tempo de incubação: 3 a 6 dias; tempo de contágio: variável; cuidados com os contactantes: observação; isolamento: precauções entéricas durante hospitalização; quadro clínico: os enterovírus são causa frequente de exantemas, já tendo sido identificados mais de 30 deles como responsáveis por erupções cutâneas. Elas podem ser virtualmente de qualquer tipo descrito, desde o clássico aculopapular, até vesicular, petequial e mesmo urticariforme. A doença mãos-pés-boca pode ser considerada bastante característica de enterovírus, sendo os responsáveis os coxsackie A16, A5, A7, A9, A10, B2, B3, B5 e o enterovírus 71. Nessa doença, após um período prodrômico de febre baixa, irritabilidade e anorexia, aparecem lesões vesiculares na boca, que rapidamente se rompem, transformando-se em úlceras dolorosas de tamanhos variáveis. As lesões nas extremidades são constituídas por papulovesículas de 3 a 7 mm de diâmetro; acometem, principalmente, dedos, dorso e palma das mãos e planta dos pés. Em lactentes, é frequente ocorrer acometimento perineal. As lesões desaparecem sem deixar cicatrizes. O exantema de Boston, causado pelo ECHO 16, é outra doença bem característica dos enterovírus e apresenta-se acompanhada por lesões ulceradas nas amígdalas e no palato mole, semelhantes àquelas encontradas na herpangina. 1. Isolamento do vírus nas fezes e detecção de elevação de anticorpos no soro em duas titulagens, espaçadas de 3 a 4 semanas. 2. Prevenção: cuidados higiênicos. Dengue Doença febril exantemática aguda causada por um vírus de genoma RNA, de fita simples, do gênero Flavivirus, família Flaviviridae, que compreende 4 sorotipos conhecidos como [DENV] 1, 2, 3 e 4. As partículas virais são constituídas por um centro de ribonucleoproteínas e um envelope com glicoproteínas que compreendem 3 proteínas estruturais e 7 não estruturais. A transmissão: ocorre por meio de picadas de mosquitos fêmeas do gênero Aedes com o A. aegypti, principal vetor no Brasil; mais recentemente, o A. albopictus vem se adaptando às regiões tropicais e emerge como potencial transmissor em áreas urbanas. Outras formas de transmissão já foram descritas, como a vertical e por transfusão sanguínea. A infecção pelo vírus da dengue apresenta amplo espectro clínico, variando desde formas oligossintomáticas até quadros graves, podendo evoluir para o óbito. Na evolução do quadro clínico, podem ocorrer 3 fases clínicas: febril, crítica e de recuperação. Após curto período de incubação, surge a febre de início abrupto geralmente alta (39 a 40°C) com duração de 2 a 7 dias, associada a sintomas dolorosos, como cefaleia, mialgias, artralgias e dor retro orbitária, que, na criança, se expressam como choro frequente. O exantema do tipo maculopapular está presente em 50% dos casos e atinge predominantemente face, tronco e membros, não poupando plantas dos pés e palmas das mãos. Pode ocorrer com ou sem prurido e tem aparecimento mais tardio, coincidindo com o desaparecimento da febre. Manifestações
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