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CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES CADERNO DE DIREITO ADMINISTRATIVO III POR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES BIBLIOGRAFIA . NETO, Felipe Braga. Manual de Responsabilidade Civil do Estado. Editora JuspoDVM. LEITURAS COMPLEMENTARES https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade- civil/336797/responsabilidade-civil-do-estado-por-omissao--entre-mitos-e-verdades https://www.conjur.com.br/2021-set-05/publico-pragmatico-covid-19- irresponsabilidade-civil-estado-brasil RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO (RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO) 1) Considerações gerais: . As raízes dessa temática são extraídas do Direito Civil. . Há quem chame esse tema de “Direito dos danos”. . Obrigação do dever de indenização do Estado para conosco. – ANÁLISE DO ASPECTO PATRIMONIAL DA RESPONSABILIDADE ESTATAL (aqui não estamos analisando responsabilidade penal). . O Estado p/ cumprir suas obrigações realiza múltiplas atividades. E isso, inevitavelmente, acaba causando danos ao particular. O Estado tem o dever então de reparar os danos ocasionados? SIM. https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/336797/responsabilidade-civil-do-estado-por-omissao--entre-mitos-e-verdades https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/336797/responsabilidade-civil-do-estado-por-omissao--entre-mitos-e-verdades https://www.conjur.com.br/2021-set-05/publico-pragmatico-covid-19-irresponsabilidade-civil-estado-brasil https://www.conjur.com.br/2021-set-05/publico-pragmatico-covid-19-irresponsabilidade-civil-estado-brasil CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . O Estado provoca esses danos a partir de comportamentos tanto lícitos quanto ilícitos. . Responsabilidade estatal não é fruto apenas de atos comissivos (violência policial etc.), mas também por omissão. . OBS: As concessionárias respondem pelos danos provocados por suas ações em seus respectivos serviços? Sim. E o Estado responde subsidiariamente. . Só temos um único dispositivo na CF que trata da responsabilidade do Estado no Direito brasileiro, e é a partir deste dispositivo que interpretamos todo o tema. – NÃO EXISTE UMA LEI DE RESPONSABILIDADE ESTATAL (o que deixa o tema instigante, pois é algo que vai se transformando = é um edifício em construção). – É UMA TEMÁTICA JURISPRUDENCIAL. 2) Responsabilidade contratual x Responsabilidade Extracontratual: . Responsabilidade contratual: oriunda de um contrato celebrado com o Estado, onde existirão cláusulas contratuais que implicarão em consequências de responsabilização diante do descumprimento. . Responsabilidade extracontratual: também chamada de responsabilidade Aquiliana. . Decorre da inobservância de norma jurídica, por aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. 3) Definição de responsabilidade extracontratual do Estado: . É a obrigação que tem o Estado de indenizar os danos lesivos a terceiros, causados por seus agentes públicos, em comportamentos lícitos e ilícitos, comissivos ou omissivos. . Em termo de responsabilização estatal não há, em rigor, relevância na classificação desses atos como lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos. – PORÉM, ISSO IRÁ IMPLICAR NA QUANTIFICAÇÃO DO DANO NO MOMENTO DA INDENIZAÇÃO. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . O comportamento administrativo é o que gera a responsabilidade extracontratual, mas os poderes legislativo e judiciário também podem ensejar isso (muito embora se tratem de exceções, casos específicos). . Danos patrimoniais: (i) emergentes e (ii) cessantes. . Danos emergentes: alguém bate no carro do outro. Pode haver uma responsabilização neste caso, e o dano patrimonial vai se configurar no pagamento do serviço necessário para reparo. . Lucros cessantes: Natália dirigindo bate em um táxi. O rapaz vai ficar com o carro parado, sem rodar = terá que ser indenizado por isso. . Por exemplo, um taxista sofre uma colisão, na qual o outro motorista é o culpado pelo acidente. O dano emergente é o prejuízo direto, ou seja, o valor do conserto do carro e eventuais despesas de hospital. Já os lucros cessantes representam os valores que o taxista deixou de receber enquanto seu carro, que é seu instrumento de trabalho, estava sendo reparado. 4) Evolução da responsabilidade do Estado: A) Irresponsabilidade do Estado: . Primariamente o Estado não se responsabilizava, então para se chegar nesse patamar foi necessário um processo evolutivo. . A administração pública não se responsabilizava pelos danos que seus agentes pudessem ocasionar para os particulares. – IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO. . Somente se aplicou no período dos estados absolutistas. . É incompatível a ideia da irresponsabilidade estatal frente aos estados democráticos = essa teoria da irresponsabilidade ficou incoerente. – Mas, enquanto perdurou o regime despótico e autoritário dos estados absolutistas essa teoria foi largamente aceita. . “The king can’t do wrong” = o rei não pode errar (e tampouco seus agentes). . Essa expressão em inglês traduz-se na máxima do rei francês Luís XIV: “O ESTADO ERA O REI”. . Aqui no Brasil com Dr. Pedro I/ D. Pedro II houve também a aplicação dessa teoria. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES B) Responsabilidade com culpa civil do Estado: . Consolidação dos valores da democracia fez com que a teoria da irresponsabilidade estatal ficou anacrônica, e houve a primeira ideia de responsabilidade do Estado. . Século XIX. . Se confunde com a culpa civil. – Doutrina civilista da culpa. - Pois, a primeira teoria de responsabilidade estatal surge com os mesmos ideais de culpa civil da esfera civilista/privada. . A VÍTIMA DEVE: identificar o agente causador do dano, e, posteriormente provar a culpa daquele agente. – Muitas vezes uma tarefa difícil e impossível (pois, nem sempre se saberá dizer quem deu causa ao dano, por exemplo), mas já foi um avanço frente a fase teórica anterior (saímos da impossibilidade da responsabilidade estatal para a possibilidade). . Culpa civil resolve-se no ambiente do dolo ou culpa estrita (negligência, imprudência ou imperícia). . Final do século XIX, começa a se consolidar a matéria de Direito Administrativo como essencial e obrigatória, e então os princípios do Direito Público começam a influenciar positivamente. – INICIA-SE A FASE PUBLICISTA (ASSIM CHAMADA PELA DOUTRINA) SENDO UM MOMENTO QUE ENGLOBA AS DUAS PRÓXIMAS FASES (Teoria da culpa administrativa E Teoria do Risco). C) Teoria da culpa administrativa – ou Teoria da culpa do serviço: . Nasce na França. – “Faute do service” (falha do serviço). . Houve aqui uma total desvinculação da responsabilidade estatal com a figura do agente público (relembra-se que anteriormente necessitava-se provar culpa individual do agente público). . O estado passou a ser responsabilizado quando houvesse uma culpa administrativa, e não mais uma culpa do agente público causador do dano. – Bastava-lhe comprovar o CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES mau funcionamento do serviço público, mesmo que fosse impossível apontar o agente que o provocou. . Vítima demonstrar que o serviço não funcionou, funcionou mau ou de forma atrasada. . Mas, ainda é preciso provar a culpa. Logo, ainda se está em um ambiente de responsabilidade SUBJETIVA. D) Teoria do Risco (o caso “Agnes Blanco” – 1873): . Serviu de fundamento para se consolidar a responsabilização objetiva do Estado (a qual vige até hoje). . Carvalho Filho: “Esses fundamentos vieram à tona na medida em que se tornou plenamente perceptível que o Estado tem maior poder e mais sensíveis prerrogativas do que o administrado. É realmenteo sujeito jurídica, política e economicamente mais poderoso. O indivíduo, ao contrário, tem posição de subordinação, mesmo que protegido por inúmeras normas do ordenamento jurídico. Sendo assim, não seria justo que, diante de prejuízos oriundos da atividade estatal, tivesse ele que se empenhar demasiadamente para conquistar o direito à reparação dos danos”. . O nome já nos sugere que possamos compreender a responsabilização objetiva a partir da existência/atuação de risco. – LEVAR EM CONSIDERAÇÃO O RISCO DA ATIVIDADE REALIZADA. . O Estado deveria arcar com um risco natural decorrente de suas numerosas atividades: à maior quantidade de poderes haveria de corresponder um risco maior.. . Ideia de culpa é substituída pela ideia de nexo causal. . Em vez da vítima precisar demonstrar a ocorrência de 4 elementos, ela precisa de apenas 3: conduta, dano e nexo causal. . OBS: Caso “Agnes Blanco” – ocorreu na França no ano de 1873. Agnes Blanco era uma criança de 7 anos, e caminhando com outras garotas para escola quando estavam passando por uma fábrica de manufatura de cigarro (que era uma fábrica estatal), e um vagonete de trilho de trem descarrilhou e passou por cima de Agnes Blanco, que perdeu CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES uma perna. – A família de Agnes entrou com uma ação contra o Estado Francês. – Primeiro caso que se tem notícia em que houve uma condenação da responsabilização estatal sem precisar discutir culpa. . O caso Blanco No ano de 1872, a menina Agnes Blanco foi atropelada pelo vagonete da Companhia Nacional de Manufatura do Fumo (o fumo era explorado pelo Estado). Em razão disso, o pai de Agnes entrou com uma ação pedindo uma indenização para o Estado Francês e nesta ação, o pai falava que queria uma indenização porque o dano tinha decorrido de um serviço público prestado pelo Estado. Houve um conflito de competências que foi resolvido pelo Tribunal de Conflitos Francês. A questão era a seguinte: a ação deveria ser julgada pela justiça comum francesa ou ela deveria ser julgada pelo contencioso administrativo? O Tribunal de Conflitos se pronunciou nos seguintes termos “Em razão dessa responsabilidade decorrer de uma prestação de serviço público, esta responsabilidade é uma responsabilidade especial, diferente daquela constante do código civil”. Então pela primeira vez se ouve falar de uma responsabilidade civil do Estado diferenciada daquela prevista no código civil francês. . OBS: há autores que ramificam a teoria do risco em duas partes – RISCO ADMINISTRATIVO (comporta as causas de excludente de responsabilidade) e o RISCO INTEGRAL (o Estado não pode tentar se esquivar e dizer que existe uma causa de excludente de responsabilidade). – A diferença entre eles é a possibilidade ou não de arguição do estado das chamadas causas excludentes de responsabilidade. . Risco administrativo: se houver participação total ou parcial do lesado para o dano, o Estado não será responsável OU terá atenuação no que concerne a sua obrigação de indenizar. . Brasil adota a teoria do risco administrativa. Porém, existem algumas situações específicas em que entendeu o legislador que se aplica a teoria do risco integral (como por exemplo os danos nucleares – Segundo interpretação do dispositivo constitucional, os danos nucleares provocados são responsabilizados pela União, de forma INTEGRAL). http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . A regra geral é a teoria do risco administrativo. . OBS: Hoje já se começa a falar no âmbito da administração na teoria do ESTADO COMO GARANTIDOR DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. – Felipe Braga Neto é quem fala sobre isso, alicerçado em ideais de Helena Pinto. – Não é suficiente o Estado somente “não dar causa”, “cumpridor de regras”, É NECESSÁRIO QUE O ESTADO ATUE DE MANEIRA PROATIVA = O ESTADO PRECISA ATUAR DE MODO A CUMPRIR OS DIVERSOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSAGRADOS. – Teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais = se estão lá na CF é porque o Estado tem dever de concretude destes direitos. . Felipe Braga Neto: “Há, porém, atualmente, nesta segunda década do século XXI, uma nova fase, que é o Estado como garantidor dos direitos fundamentais. Não basta, portanto, uma postura de abstenção estatal, no sentido - hoje insuficiente - de não causar danos. Isso ficou no passado, no museu das ideias. Hoje é imprescindível que o Estado assuma uma postura ativa no sentido de resguardar os cidadãos de agressões de terceiros. Desde o clássico caso Lüth, leadind case julgado pela Corte Constitucional Alemã em 1958, discute-se a questão da aplicação horizontal dos direitos fundamentais. A influência desse célebre julgado não se limitou à esfera do direito público, mas alcança todos os campos do direito, incluindo o civil. Esse julgado não foi, naturalmente, o fim, mas o início de uma linha jurisprudencial e doutrinária extremamente fecunda”. . Felipe Braga Neto: “O reconhecimento de uma dimensão positiva dos direitos fundamentais significa que o Estado não deve apenas respeitá-los, mas também protegê-los (Schutzpflicht des Staats)”. . Felipe Braga Neto: “O sistema conceitual-normativo de responsabilidade civil, no Brasil, está em processo de clara mudança, de notória reformulação. Temos dito que se trata de um edifício em construção. Nota-se o conflito entre velhas fórmulas e novas necessidades sociais. O desafio é abordar a responsabilidade civil com os olhos das sociedades plurais e complexas. O direito dos nossos dias é o direito da ponderação, da reflexão contextualizada, do percurso argumentativo. Vivemos numa CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES república de razões e as democracias constitucionais atuais precisam continuamente se legitimar, de modo contínuo, transparente e dinâmico. A teoria dos direitos fundamentais, a força normativa dos princípios, a funcionalização dos conceitos e categorias, a priorização das situações existenciais em relação às patrimoniais, a repulsa ao abuso de direito, a progressiva consagração da boa-fé objetiva são algumas das ferramentas teóricas que ajudam a construir a teoria da responsabilidade civil do Estado no século XXI”. 5) Responsabilidade do Estado no Direito Brasileiro: A) Estado Responsável (o Direito pátrio sempre concebeu um Estado responsável. Entretanto, a responsabilidade objetiva só foi consagrada com a CF/1946): . Se costuma dizer que o Brasil é um Estado responsável. – Direito pátrio que sempre abraçou as teorias da responsabilização. PORÉM, HOUVERAM SIM EPISÓDIOS DE IRRESPONSABILIZAÇÃO ESTATAL. . O Brasil Império era um Estado Irresponsável. . A primeira Constituição que tivemos em 1824 foi sob a égide do Brasil Imperial, pautado na irresponsabilidade Estatal. . A Constituição de 1891 não deixava claro se quem se responsabilizava era o agente ou o Estado. . Na Constituição de 1934 já começa a responsabilização do Estado. – O que foi consagrado tal qual temos hoje na Constituição de 1946. . Desde 1946 o Estado Brasileiro já adota a Teoria do Risco (serve de fundamento para responsabilidade objetiva do Estado). . Tema constitucionalizado há mais de 70 anos. – A responsabilização estatal não deveria ser tratada apenas em leis infraconstitucionais, mas sim no próprio texto constitucional. B) Responsabilidade Objetiva (art. 37, § 6º - institui a responsabilidade objetiva, mas assegura ao Estado o direito de reaver do seu agente o que pagou, nos casos de dolo ou culpa – responsabilidade subjetiva): . A Constituição atual repetiu praticamente textos que já vinham sido consagrados desde a Constituição de 1946, isto é, mantendo a responsabilização do Estado brasileiro como base na Teoria do Risco. – Mas, existiu algumas inovações. CADERNODE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Brasil = teoria da responsabilidade objetiva = teoria do risco. . O dispositivo prevê e ratifica a responsabilização do Estado Brasileiro – ART. 37, §6º. § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. . Esse dispositivo estendeu a responsabilidade estatal para as concessionárias/permissionárias de serviço público (responderão de maneira objetiva) + possibilidade-direito do estado de agir regressivamente contra o agente que agiu com dolo ou culpa provocando o dano (relação subjetiva porque discute culpa). . Ação regressiva é cabível na sua integralidade e desde que se prove dolo ou culpa do agente causador do dano. C) Entidades privadas prestadoras de serviços públicos: . Concessionárias e permissionárias de serviço público. . Exemplo: Coelba é uma concessionária do serviço público de energia na Bahia. . A CF estendeu para eles a possibilidade de responsabilização objetiva. . Durante muito tempo a jurisprudência se posicionava de maneira restritiva quanto à responsabilização objetiva das entidades privadas prestadoras de serviço público, criticando porque o texto constitucional não fazia a referida restrição. – A responsabilização estaria limitada as relações jurídicas entre o prestador e os usuários do serviço público. . Exemplo: a COELBA se responsabilizaria, independente de culpa, de forma objetiva, no caso de queda abrupta de energia que danificou equipamentos na casa de uma pessoa X (discute dano e nexo causal) = relação usuário e fornecedor. – PORÉM, se a ação ao invés de ser nesses fatos abordados, se fosse: uma pessoa x entrou com ação CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES contra Coelba, por ter um motorista oficial da Coelba ter batido em seu carro = a responsabilização seria de forma SUBJETIVA, PRA DEMONSTRAR CULPA OU NÃO DA COELBA, JÁ QUE NÃO SE TRATAVA DE RELAÇÃO ENTRE USUÁRIO X FORNECEDOR. . Até que houve uma mudança de entendimento jurisprudencial, em 2009 no STF, Recurso Extraordinário nº 591874, em que foi tratada a seguinte situação: “Um ciclista foi atropelado por um ônibus de uma empresa permissionária de serviço público, e este veio à óbito. A família entrou com uma ação contra a empresa permissionária de serviço público. Os advogados da empresa alegaram que se enquadrava o entendimento jurisprudencial, já que o ciclista não era usuário do serviço público (os usuários eram os passageiros), logo deveria se discutir culpa (responsabilidade subjetiva). – O STF COM BASE NO PRINCÍPIO DA IGUALDADE E ISONOMIA, DIANTE DESSA SITUAÇÃO, MUDOU O ENTENDIMENTO ATÉ ENTÃO PREDOMINANTE, já que a CF não queria fazer distinção entre usuário ou não usuário, PONTUANDO QUE AMBAS deveriam ter o mesmo tratamento. . HOJE AS EMPRESAS PRIVADAS PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO RESPONDEM DE IGUAL FORMA, NÃO HÁ DISTINÇÃO ENTRE USUÁRIO E NÃO USUÁRIO. D) Agente no exercício de suas funções (Não se cogitará de responsabilidade da Administração nos casos em que a atuação do causador for independente de sua condição de agente público): . A responsabilização do Estado brasileiro só será configurada quando o agente público estiver no pleno exercício de suas funções públicas. § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. . OBS - QUESTÃO DE PROVA: CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES E) A CF criou duas relações de responsabilidade: . Esse dispositivo impõe duas relações de responsabilização: . 1ª relação: responsabilização objetiva - Estado perante as vítimas. . 2ª relação: responsabilização subjetiva (necessário provar culpa no sentido amplo do agente causador do dano) - agente causador do dano perante o Estado. 6) Responsabilidade por ação (ou por atos comissivos): CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES A) Responsabilidade Objetiva (Se o Estado causar o dano, ou seja, se o dano decorreu de um comportamento comissivo seu, ele responde independentemente de dolo ou culpa): . A doutrina passou a dividir (e assim a jurisprudência passou a adotar) a responsabilidade do Estado por ação x da responsabilidade do Estado por omissão. – A depender do tipo de comportamento, o Estado pode responder de formas diferentes. – SEMPRE A LUZ DO ART. 37, §6º DA CF, ENTENDERAM A NECESSIDADE DE DIFERENCIAÇÃO. – Firmou-se que o art. 37, §6°, trata dos atos por comissivos. . Se o dano foi decorrente de uma ação estatal, de um comportamento comissivo, o Estado responde independente do elemento culpa (não é preciso provar culpa). . E quando o Estado se omite? Não iremos responsabilizar o Estado? Aqui muda para outro tipo de responsabilidade que iremos trabalhar em seguida. . O comportamento estatal, o comissivo, pode ser lícito ou ilícito. B) Decorre de comportamentos lícitos e ilícitos: . Essa diferenciação da ilicitude é irrelevante = O ESTADO VAI SE RESPONSABILIZAR DE IGUAL FORMA. – CAUSOU DANO = VAI RESPONDER. . Esse ato comissivo pode ser lícito ou ilícito. - A RESPONSABILIDADE É A MESMA, O QUE IMPORTA É O DANO (comportamento – dano – nexo causal). . Exemplo 1: quando uma autoridade policial espanca um preso, o espancamento é ilícito. – O preso irá responsabilizar o estado por essa ilicitude de um agente público no exercício de suas atribuições. . Exemplo 2: Estado de SP constrói um elevado (minhocão em SP), e ao final da obra, aquelas residências que ficavam no Costa e Silva tiveram uma desvalorização imobiliária, causando danos à moradores dos prédios das redondezas, que perderam a privacidade, e quando venderam o imóvel venderam por valor bem inferior. . Não gera quantum indenizatório superior ou inferior. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Os administrados que tiveram o prejuízo, precisam demonstrar o dano concreto (só assim o Estado irá indenizar). . Exemplo: Mariana tem uma casa que foi tombada no bairro da Graça. Quando ela for vender o imóvel, poderá demandar contra o Estado por essa perda de valor, já que até então as construtoras estavam querendo dar um valor bastante considerável pelo imóvel, mas após ter sido tombado perdeu-se o valor econômico (já que não poderão derrubar a casa para construir prédios). C) Obra pública executada por terceiros (mesmo que a obra seja realizada por empreiteiros, a responsabilidade pelos danos oriundos da obra é sempre do Estado, que ordena a sua execução e é o dono do serviço): . A União, Estados, Municípios, não tem subsídios para realizar diretamente uma obra. – Então fazem uma contratação. Mas, sabemos que essas obras geram danos. . Dano decorrente da execução da obra x Dano decorrente do resultado da obra. . Minhocão uma empresa foi contratada para construir, tudo adequado pela construtora, que recebeu o valor e tudo ok. MAS, O RESULTADO QUE GEROU DANO = ESSA CONTA FOI DO ESTADO. . Os danos decorrentes da execução da obra, existe uma responsabilização solidária. – NÓS CIDADÃOS PODEMOS OPTAR por A QUEM RESPONSABILIZAR. – Podemos responsabilizar a empresa executora da obra OU o dono do serviço que ordenou sua execução (sempre o Estado). . Se o dano for oriundo da execução ou má execução podemos optar por responsabilizar empresa ou Estado. – Ou até os dois, num litisconsórcio passivo. . Desmoronamento da ciclovia Tim Maia, feita na época das Olímpiadas, na Avenida Oscar Niemayer. Houve um erro na execução do projeto básico estrutural (conformeauditoria realizada), e eles não previram a maré do mês de março, que vinham de baixo para cima, desmoronou e na ocasião ensejou a morte de 2 ciclistas. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Posteriormente, é possível ação regressiva de forma integral do Estado em face da empresa, desde que comprovada negligência, imperícia ou imprudência da construtora. . Obras públicas são comportamentos comissivos do Estado, o qual assume a responsabilidade pela teoria do risco. Pois, independentemente de ser uma empresa realizando a obra, é o Estado que está ali personificado realizando-as. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES 7) Responsabilidade por omissão (ou por atos omissivos): A) Responsabilidade subjetiva: . Cidadãos não podem ficar no prejuízo, então a responsabilização continua acontecendo, mas aqui de forma subjetiva. . Responsabilidade subjetiva comporta o quarto elemento: A CULPA. . Culpa administrativa. . Cidadão para responsabilizar o Estado precisa demonstrar a culpa. . Exemplos: alguém morre porque não teve atendimento no hospital público a tempo; pessoa atropelada na rua que chama o SAMU, que demora a chegar, e a pessoa morre pelo atraso no atendimento. – TUDO ISSO DEPENDE DA SITUAÇÃO CONCRETA, POIS É PRECISO PROVAR A CULPA DO ESTADO (ANALISAR NEGLICÊNCIA, IMPRUDÊNCIA OU IMPERÍCIA DO ESTADO). CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . O Estado não pode segurar a dor universal. – Não podemos esquecer que o Estado somos nós, e quem paga essa conta somos nós também (exemplo: vai aumentar a carga tributária etc.). . Exemplo: um cidadão sai à noite dirigindo, bêbado, se envolve em um acidente e mata 3 pessoas. – Não tem como controlar todo bêbado, muito embora se tenha a lei que proíbe beber e dirigir. . Exemplo: uma blitz que libera uma pessoa embriagada, e após a liberação ele mata 3 pessoas. – Responsabilidade subjetiva do Estado, pois resta comprovada a culpa da administração. . Acidente em Capitólio/MG: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de- responsabilidade-civil/358924/sobre-a-tragedia-de-capitolio-e-outras--ate-quando B) Culpa da administração: . A omissão precisa ser relevante para ficar evidente a culpa da administração. . Exemplo: uma árvore cai em cima de seu carro. Tem como responsabilizar o Estado? Sim. Mas, para isso preciso ter um aparato probatório da culpa da administração. – NÃO É TODA ÁRVORE QUE CAI NA CIDADE QUE SE TERÁ RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO. C) Omissão genérica e omissão específica: . Guilherme Couto de Castro começou a criar o movimento de que responsabilidade por omissão também poderiam gerar responsabilização objetiva, MAS PARA ISSO A OMISSÃO PRECISAVA SER ESPECÍFICA. . Omissão genérica: são todas as que falamos acima: dever do estado de atuar nas encostas, tapar bueiro, segurança pública, transporte, mobilidade etc. – SE ELE SE OMITIR GENERICAMENTE NO DEVER, PODERÁ SER RESPONSABILIZADO. – Inação do Estado quando deixa de cumprir suas obrigações gerais, acarretando em responsabilidade subjetiva. . Omissão específica: descumprimento de um dever específico de tutela. https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/358924/sobre-a-tragedia-de-capitolio-e-outras--ate-quando https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/358924/sobre-a-tragedia-de-capitolio-e-outras--ate-quando CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Exemplo: quando uma criança entre numa escola pública, o Estado assume para si o dever específico de tutela. Então se acontece algo com essa criança, houve omissão específica. Assim também quando acontece com alguém internado no hospital; um preso na penitenciária. . Exemplo: quando alguém invade a escola e mata alunos; quando há motins e o preso morre. – TUDO ISSO NÃO PRECISO PROVAR CULPA, ENTÃO TEM-SE UMA RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA TAMBÉM AQUI (NOTADAMENTE SE HOUVER UMA OMISSÃO ESPECÍFICA). . Por isso que é muito difícil a pessoa conseguir ingressar na escola pública; no HGE etc. . Questão sobre o assunto: CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES D) Danos nucleares (a União responde, independentemente de culpa, pelos danos nucleares, tanto por comportamentos comissivos ou omissivos. Art. 21, XXIII, alínea d da CF): . Dano nuclear provocado no cidadão ou oriundos de atentados terroristas à aeronaves brasileiras: a União sempre responde de forma objetiva (não precisa demonstrar culpa), com base na Teoria do Risco Integral. – NÃO CABE INVOCAR EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. . Comportamentos podem ser comissivos ou omissivos. . É permitido ter usina nuclear no país, mas a União é responsável por gerir, regulamentar etc. – Qualquer dano provocado, é ela que responde de forma objetiva, sem poder invocar causa excludente de responsabilidade. . Em regra, a administração pública é regida pela teoria do risco administrativo, cabendo, portanto, causas excludentes de responsabilidade. TODAVIA, essas duas hipóteses de danos nucleares e danos provocados por atentados terroristas à aeronaves brasileiras se valem da teoria da reparação integral, devendo o Estado ressarcir os danos independentemente de culpa. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES E) Danos provocados por atentados terroristas contra aeronaves de matrícula brasileira (Lei n.º 10.744/2003): . Responsabilidade civil perante terceiro da União diante de danos provocados por atentados terroristas contra aeronaves brasileiras. 8) O dano Indenizável (O dano para ser indenizável precisa ser jurídico): . O dano para ser indenizável precisa ser jurídico. – E o que é um dano jurídico? Aquele que gera uma violação a um direito da vítima. 9) Causas Excludentes da Responsabilidade (Como a responsabilidade objetiva está fundada na relação entre o comportamento estatal e o dano, é evidente que se houver uma outra causa que concorra ou que seja a única causadora do dano, ela quebrará o nexo de causalidade e excluirá a responsabilidade do Estado): . Causas excludentes da responsabilidade: existem situações que provocam o dano, e quando acontecem a administração pública pode invoca-las para excluir a responsabilidade. A) Espécies: . Culpa exclusiva da vítima: . Exemplo: sujeito que quando o metrô chega na estação, se joga no trilho, porque queria se matar. – Culpa exclusiva da vítima. . Contudo, se nesse caso concreto, fica demostrado que na estação de metrô havia, por exemplo, uma poça de água no local que ele ia se jogar, e ele no início de sua trajetória para se jogar, ele escorrega na poça caindo direto nos trilhos, e as filmagens mostram isso claramente, o Estado tem responsabilidade concorrente (reduz o valor da indenização). – O suicida poderia querer desistir, mas com a queda na poça de água, não pôde. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Caso fortuito: . Eventos imprevisíveis e inevitáveis, decorrentes de comportamentos humanos. . Exemplos: greves (não tinha como se prever, por exemplo, com um mês de antecedência a greve de hoje para se organizar); guerras; revoltas populares incontroláveis; motins em penitenciárias (Estado pode alegar superlotação de presídio e número insuficiente de presidiários) etc. . Força maior: . Eventos irresistíveis e inevitáveis oriundos da natureza. . Vulcão, terremotos, tempestades, tsunamis. . Fatos de terceiros: . Exemplo: povo na rua fazendo manifestações, com um grupo de black blocks praticando atos de vandalismo, que acabam quebrando carros, pichando fachadas etc. – O Estado não pode se responsabilizar, porque nesse caso a polícia está lá, mas é impossível conter tudo. . Muitos doutrinadores entendem que fatos de terceiros está dentro de casos fortuitos.B) As concausas atribuídas ao Estado desqualificam as causas excludentes (ou seja, se houver uma causa paralela atribuída ao Estado, mesmo que haja força maior, não mais pode se falar em excludentes): . Concausas atribuídas ao Estado desqualificam as causas excludentes, e mantém a responsabilidade estatal. . Exemplo: enchentes numa avenida x, em que se descobre depois que todos bueiros estavam entupidos = responsabilidade do estado, pois embora tenha havido força maior, existiram concausas. . O que contribuiu para o evento danoso? Tem que ponderar isso na hora para quantificar a indenização. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES 10) Direito de Regresso (o art. 37, § 6º, assegurou ao Estado o direito de agir regressivamente contra o agente culpado para cobrar dele o que pagou à vítima): A) Pressupostos: . Dois são os pressupostos para que o Estado possa exercer esse direito de agir regressivamente em face do agente que causou o dano: . Dolo ou culpa do agente causador do dano. . Efetivo pagamento – o Estado tem que já ter desembolsado em favor da vítima aquela indenização. B) (im)Possibilidade de acionar diretamente o agente causador do dano: . Nesse caso, caberia a tese da dupla garantia, segundo a qual há a proteção do terceiro prejudicado, pela responsabilidade objetiva do Estado, e a proteção do servidor exercente da função pública, que somente pode ser responsabilizado em regresso pelo Estado, mediante demonstração de culpa ou dolo. C) (im)Possibilidade de denunciação da lide: . Denunciação da lide: cicrano é provocado em uma ação como réu, e você aponta que na verdade a parte requeria deveria ser beltrano. . Predomina a teoria da impossibilidade: o estado sempre paga primeiro, para agir regressivamente depois. D) Prazo de prescrição: . Imprescritibilidade do direito de regresso do Estado. . Art. 37, §5° da CF dirá exatamente isso. . Ilícitos prescrevem no máximo em 5 anos. – Se o estado não o responsabilizar pelo ponto de vista administrativo (suspensão, demissão etc.) antes de findado o prazo prescricional, não poderá depois fazer isso. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Ressalvadas as ações de ressarcimento – QUE NÃO PRESCREVEM. – PRAZO NÃO EXISTE PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE REGRESSO. § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. E) Obrigatoriedade na propositura: . Direito vinculado de exercício obrigatório. – O Estado não pode decidir se irá ou não entrar com ação indenizatória, ELE TEM O DEVER DISSO. – Princípio da indisponibilidade do interesse público, o que não poderá ser ressalvado de forma alguma (não se pode dispor de algo que não é seu). . Configurado o dolo ou culpa do agente, o estado ter pago pelo dano à vítima = obrigatoriedade do Estado de entrar com ação de regresso em face do agente. 11) Responsabilidade do Estado por atos legislativos: . Estado também se responsabiliza, de maneira excepcional, por comportamentos legislativos e/ou judiciários. . A regra geral é que os atos legislativos não acarretem responsabilidade para o Estado. – Pois, o poder legislativo possui autonomia e soberania no exercício de produção da norma. – Estado não será responsabilizado por eventuais leis que as casas legislativas venham a editar, uma vez que para isso existe um controle de constitucionalidade dessas normas. . Ocorre que, se o Poder Legislativo não exerce sua função típica de maneira regular, pode sim haver responsabilização estatal. Em outras palavras, se o Poder Legislativo edita uma lei flagrantemente inconstitucional, a qual é declarada inconstitucional em sede de controle concentrado (dito pelo órgão competente, STF ou TJ), mas esta vigeu por um determinado período, tem-se aqui a única possibilidade de responsabilização do estado. - Se você cidadão cumpriu essa lei inconstitucional, e teve um dano = cabe ao Estado se responsabilizar. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Uma vez promulgada a lei, ela já inicia a produzir seus efeitos (salvo se houver prazo determinado pelo legislador de vacatio legis). . Exemplo: lei estabelecendo que os veículos automotores têm que tem um extintor de incêndio com X características. Se o Supremo posteriormente entender que houve ali tão somente privilégio de alguma empresa, e essa lei é inconstitucional, quem comprou e teve esse prejuízo, irá poder cobrar do Estado. . Essa exceção aqui é jurisprudencial e doutrinária. 12) Responsabilidade do Estado por atos judiciais: A) Hipótese de responsabilização (CF - art. 5º, LXXV): . A regra geral é a mesma: via de regra, o Estado brasileiro não responde por atos judiciais (pois, este é um órgão autônomo e dotado de soberania). . Com exceção dessa situação, tem-se previsão constitucional que: LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. . Isso acontece com MUITA frequência. . Caso emblemático - Marcos Mariano da Silva. – Passou 6 anos na cadeia injustamente. B) Só alcança a esfera penal: . Não alcança outras esferas. C) Não se aplica às prisões provisórias: . Em tese, não se aplica às prisões provisórias (aqueles que são presos por um curto período, o qual ocorre a investigação). – Faz-se isso prezando pela segurança pública de um modo geral em relação àquele que representa perigo se liberto em fase de investigação. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES BENS PÚBLICOS 1) Conceito: . No direito positivo brasileiro, o conceito de bens públicos é dado pelo CC, que, no seu art. 98, diz que: “São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. . Definição dada pelo Código Civil de 2002. . Antes de 2002, quem trazia esse conceito era a doutrina, que não trazia uma uniformidade na conceituação de bens públicos. - Havia três correntes doutrinárias. – Uma delas, dava uma conotação mais ampla aos bens públicos. . OBS: Administração Pública direta (órgãos) + Administração Pública indireta (entidades de direito privado (exemplo da PETROBRAS) e entidades de direito público). . Em uma questão objetiva, a resposta correta será aquela que indicar que segundo Código Civil, os bens públicos são apenas aqueles das pessoas jurídicas de direito público, sendo todos os outros pertencentes a particulares. TODAVIA, em uma questão discursiva, há que se ressaltar que hoje na prática prevalece doutrinalmente (embora se tenham discordâncias) que os bens dos particulares assumirão caráter de bens públicos quando afetados ao exercício/execução da função pública (o que é aceito na doutrina por conta de sua razoabilidade). 2) Classificação dos bens públicos: A) Quanto à titularidade: . Bem federal, estadual, municipal, de autarquia etc. – É saber quem é o titular desse bem. B) Quanto à natureza: . Bens públicos móveis (exemplo: carro oficial) ou imóveis (exemplo: prédio público). . Bens materiais e imateriais (exemplo: hino nacional, patente etc.). CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Corpóreos e incorpóreos. . Fungíveis ou infungíveis. C) Quanto à destinação: . O CC definiu os bens públicos com base na utilização/destinação desses bens. . Bens de uso comum do povo: destinados à utilização geral dos indivíduos. - São destinados a toda a coletividade, independentemente de consentimento do Poder Público. . Art. 99, I, CC. – “Os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças”. . Exemplo: rios, mares, estradas, ruas, praças etc. . OBS: ouso desse bem independe do consentimento/autorização do Poder Público como, por exemplo, quando me junto com colegas e marco um piquenique na Praça Nossa Senhora da Luz na Pituba (não preciso ligar para prefeitura e agendar). . OBS: embora o Poder Público não precise consentir para que nós usemos esses bens, o Poder Público regulamentar esse tipo de bem. – Exemplo: quando fecha o Campo Grande todos os dias às 20 horas da noite e só abre às 05 do dia seguinte. . OBS: praias de nudismo é um exemplo. – Tem regulamentação para restringir acesso com roupa lá, o que é regulamentado pelo município. . Exemplo: pedágio nas vias públicas, que cobra através de lei específica. . Art. 103: “O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem”. . Bens de uso especial: são aqueles destinados à prestação dos serviços públicos. . Art. 99, II, CC. – “Os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias”. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Bens dominicais – ou dominiais: são os que constituem o patrimônio disponível das pessoas jurídicas de direito público. . Art. 99, III, CC. – “Os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades”. D) Afetação e desafetação: . Relação com a inalienabilidade - os institutos são de suma importância para a caracterização do bem como alienável e inalienável. . O CC deixa bem clara essa relação nos seus artigos 100 e 101. Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. . Podem acontecer por um ato ou por um fato. . Ato: manifestação volitiva de alguém. . Fato: uma situação fática que ensejará tal caracterização. . Um bem público pode estar afetado ou desafetado. – ESSA É UMA CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA PARA EXPLICAR MELHOR A MUDANÇA DE UM BEM PÚBLICO DE UMA CATEGORIA PARA OUTRA (bens de uso comum, dominical, uso especial), uma vez que isso não se encontra no Código expressamente. . Bens afetados: bens de uso comum do povo e bens de uso especial são AFETADO (estão destinados à uma função). . Bens desafetados: são aqueles sem destinação, tais quais os bens dominicais/dominiais. 3) Características dos bens públicos: . Inalienabilidade: a inalienabilidade vai depender da destinação, da vinculação do bem. . Artigos 100 e 101 do CC. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . É uma característica relativa, pois o bem público poderá ser alienado desde que seja dominical. . Se o bem for imóvel o administrador precisa de autorização legislativa. . Impenhorabilidade: a penhora é instituto de natureza constritiva que recai sobre o patrimônio do devedor para propiciar a satisfação do credor na hipótese do não- pagamento da obrigação. . O credor não tem como pedir algum órgão do Estado para garantir a obrigação. – Credores do estado só tem uma via de execução que é o precatório. . Existe só uma exceção à impenhorabilidade: § 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. . Imprescritibilidade: os bens públicos, de qualquer categoria, são absolutamente imprescritíveis. Isso significa dizer que são insuscetíveis de aquisição por meio de usucapião, que é denominada de prescrição aquisitiva do direito de propriedade. . Não-onerabilidade: onerar significa deixar um bem em garantia para o credor no caso de inadimplemento da obrigação. São os direitos reais de garantia sobre coisa alheia, cujas espécies são o penhor, a anticrese e a hipoteca. Os bens públicos não podem ser gravados com esse tipo de garantia. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES PUBLICIZAÇÃO E INTERVENÇÕES ESTATAIS NA PROPRIEDADE PRIVADA . Estudaremos como o Estado intervém na propriedade privada, visando sempre o bem comum. 1) A publicização da propriedade privada: . Hoje, o direito de propriedade não é mais absoluto. Não é mais um direito clássico, de primeira geração, de cunho exclusivamente individual. . Hoje, qualquer um que possua propriedade no estado brasileiro, precisa exercer seu direito com responsabilidade, de modo a cumprir uma função social. – Em nome dessa função social, o Estado por intervir, e assim faz o tempo todo. Quer seja por intervenções administrativas (exemplo: a calçada é propriedade privada, mas cumprem então uma função social importante de locomoção nas ruas) ou de outra forma. . O direito de propriedade pós CF/88, deixou de ser individual, e passou a ter uma dimensão coletiva/social (alguns autores chamam essa dimensão então de PUBLICIZAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA). . Não posso ter propriedade que eu não faça nada nela, que eu abandone etc. – É preciso cumprir a função social da propriedade. 2) A função social como base da propriedade: . O elemento norteador da propriedade passou a ser a função social, e com base nela o poder público está autorizado a intervir nestas propriedades. 3) Fundamentação Constitucional: . O art. 5° da CF traz que: XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; 4) Pressupostos da intervenção: . O que irá autoriza o Poder Público a intervir na propriedade privada? CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Primeiro, a função social. Então, em nome dela o Poder Público intervém na propriedade. . Supremacia do interesse público sobre o interesse privado. 5) Formas de intervenção estatal: . Ordenar socialmente o uso da propriedade: limitações e servidões administrativas. . Limitações administrativas. . Servidões administrativas. . Ambas são formas de intervenções pelas quais o Poder Público ordena/estrutura as propriedades privadas em seu planejamento urbanístico. . Utilizar transitoriamente o bem particular: ocupação temporária e requisição administrativa. . Poder Público pode utilizar transitoriamente um bem particular. – Ocupação temporária (eleições – exemplo: zona que funciona na associação atlética baiana, que é propriedade particular) e requisição administrativa (exemplo: requisição de álcool na época da pandemia, o que não podia esperar processo licitatório em face da situação da calamidade pública). . Ocupação temporária são bens imóveis. . Restringir propriedades em razão do seu valor histórico e cultural: tombamento. . Tombamento visa preservar. – Exemplo: Elevador Lacerda, Dique do Tororó, Pelourinho etc. . Tomar a propriedade: desapropriação. . O Estado toma para si algo de alguém. Nas hipóteses anteriores, o proprietário continua exercendo seu direito de propriedade. Aqui nessa hipótese não, o bem passa integrar o patrimônio público. . Exemplo: retirada dos postos de gasolina para construção da linha metroviária de Salvador. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES 6) Limitações administrativas: . Exemplo: o recuo da calçada obrigatórios pela propriedade privada nas suas construções (isto é, espaço de passeio na frente da propriedade), o que é estabelecido pelo Poder Público. . Exemplo:aqui em Salvador existem determinados locais de orla que não se pode construir prédios acima de x andares. – Isso é uma limitação administrativa. . Conceito: são restrições gerais e abstratas do Estado sobre a propriedade privada. . O poder público quando estabelece, por exemplo, o limite x da calçada, tem-se ali uma restrição geral e abstrata. Por quê? Pois, não sei quem irá construir, mas quem for terá que se submeter a essa regra. . De quem é a atribuição de fazer os calçamentos? A prefeitura. O particular deixa o espaço lá, e o poder público faz. Mas, ela também pode exigir que o próprio particular faça, com base em parâmetros pré-estabelecidos. . Atinge o caráter absoluto. . Afeta o caráter absoluto do direito de propriedade. . Obrigação genérica de não fazer. . Mas, existem algumas limitações administrativas que também impõem obrigações positivas. Mas, via de regra, são obrigações negativas. . Não gera direito à indenização. . Exemplo: a constuturora do Costa Espanha que não pôde construir o prédio verticalmente, em observância a determinação que proíbe a construção de prédios com andares superiores ao limite pré-determinado, não terá direito a indenização. 7) Servidão administrativa: . Exemplo: servidão de energia elétrica. . Exemplo: casas de esquina têm placa azul com nome da rua. – Aqui você tolera que bote, mas não é você quem faz. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Atinge um número determinado de propriedades. . Conceito: são restrições parciais e concretas do Estado sobre a propriedade privada. . Atinge o caráter exclusivo. . Exemplo: eu como proprietária cedo uma parcela do meu terreno para o Poder Público passar x portes de linhas de transmissão de energia elétrica. . Obrigação de deixar fazer. – OU TOLERAR QUE SE FAÇA. . Não é você que irá ter que comprar uma placa e colocar na porta de sua casa com o nome da rua. É a prefeitura que faz isso. VOCÊ APENAS TOLERA. . Tem natureza de direito real. . Direito real de gozo instituído pelo Poder Público, pois temos relação concreta entre coisa dominante (poder público) e a coisa serviente (propriedade). . Caráter permanente. . Exemplo: a placa com sinalização para rua ficará lá para sempre; os postes dentro das fazendas ficarão lá para sempre; tubulações da EMBASA etc. . Pode gerar direito à indenização. . Não é regra geral. Mas, pode gerar direito à indenização do proprietário. . Exemplo: perda de pasto em face da colocação de postes na propriedade particular, já que os animais não podem encostar nos portes por conta das descargas elétricas. – Aqui gera indenização. – Na justiça federal, a indenização vai de 10 a 30% do valor do imóvel, consoante estudo de Dirley da Cunha. . Não gera indenização no caso da placa na esquina da casa, pois não gerou desvalorização imobiliária. 8) Ocupação temporária e requisição administrativa: . Conceito (é a forma de intervenção mediante a qual o Estado utiliza temporariamente bens móveis, imóveis e serviços particulares). CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . O poder público utiliza-se dessas duas figuras por uma prerrogativa que o estado tem para se apropriar temporariamente de bens privados. O estado se apropria temporariamente da propriedade, a única forma que o estado adquire a propriedade do particular é por desapropriação. . Essas duas figuras possuem as mesmas características, mas qual a diferença delas? Existe uma divergência da doutrina quanto ao enquadramento de uma e de outra. Para o professor, a diferença de uma e de outra está no objeto, ou seja, o que vai diferenciar a Ocupação Temporária e a Requisição Administrativa é o objeto em que elas incidem. A ocupação temporária sempre vai incidir sobre bens imóveis, ex: terrenos. Por sua vez, se o poder público incidir sobre bens moveis e serviços particulares, trataremos de requisição administrativa. . Exemplo de Ocupação Temporária: o poder público se utiliza temporariamente daquela propriedade privada para utiliza-la como uma seção de votação nas eleições. Não é aluguel, não é arrendamento, o poder público não paga e tampouco precisa ligar com 5 meses de antecedência para negociar, é certo que com uma certa antecedência ele irá programar, mas ele apenas comunica. Exemplo 2: durante a pandemia algumas propriedades privadas foram utilizadas como hospitais de campanha. . Exemplo de Requisição Administrativa: um indivíduo foi fazer caminhada, estacionou seu carro na barra, estava fazendo o alongamento e dois policiais o abordaram explicando que havia um civil ferido e que eles estavam sem carro e a ambulância não chegava, por isso precisariam pegar o carro dele para levar o civil até o HGE. Exemplo 2: pegaram na pandemia respiradores de hospitais privados. Exemplo 3: motorista de van escolar é requisitado quando o ônibus escolar quebra. . Pode ser gratuita ou onerosa. . Essa ocupação temporária pode ser gratuita ou onerosa, ou seja, a depender da forma de ocupação o poder público precisa pagar (exemplo: uso de estádios privados), a depender da contundência, mas via de regra é gratuita. O que vai determinar a onerosidade do poder público é o tempo em que será utilizado o bem, bem como numa situação contundente, exemplo: um único hospital restou-se “eficiente” em Petrópolis e o estado decide usá-lo temporariamente. Não temos balizas legislativas para CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES direcionar isso, é algo deliberado pelo poder público, não se pode, por exemplo querer entrar com uma ação em juízo por isso. . A requisição administrativa, bem como a ocupação temporária em tese é gratuita, mas a depender da situação em que aquele particular irá permanecer com o uso do seu bem, é necessário um pagamento. Então, depende da contundência. . Respaldo constitucional. . Art. 5°, XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; - CF/88 . Há um respaldo constitucional que regula o poder público a se utilizar de bens imóveis, móveis e serviços particulares. . Independe da aquiescência do particular. . Não é negociável, não depende da concordância do proprietário. Exemplo: quero usar a baiana dia 7, não importa se vai ter provão, desmarca, adia. . Incide sobre bens imóveis, móveis e serviços. . Ocupação Temporária – bens imóveis . Requisição administrativa – bens móveis e serviços. . Caráter temporário. . Não é uma ocupação ou requisição eterna. . Muitas vezes o município acaba fazendo uma requisição administrativa onerosa para burlar a licitação para ajudar algum amigo. . Indenização posterior. . Temos indenização apenas se houver dano e sempre após a cessação da ocupação ou requisição. A priori, uma ocupação ou uma requisição por si só já pode gerar um dano, gastos com energia, com gasolina, por exemplo. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . A depender do valor, nem sempre a melhor opção é entrar com a ação de indenização por causa do longo processo administrativo que acaba configurando outros gastos. 9) Tombamento: A) Conceito: . Restrição estatal na propriedade privada que se destina especificamente à proteção do patrimônio cultural, histórico e artístico nacional (não precisa ter os 3, apenas um desses valores já basta). . Objetivo do poder público é então fazer com que gerações futuras venham a usufruir daquele bem (que tem valor artístico, histórico e cultural à nível nacional). . O tombamento não retira do proprietário o pleno direito de propriedade (usar, gozar e dispor), de tal forma que ele pode, inclusive, vender (anteriormente ao NCPC exigia- se que a venda fosse feita respeitando-se o direito de preferência. Mas, o NCPC revogouesse direito de preferência). . Quando tomba uma propriedade tem que delimitar o que tem valor artístico/cultural/histórico nacional. – Exemplo: no corredor da vitória, o Vitória Tower tombou a casa da frente apenas. . Pode gerar indenização quando o proprietário originário vier a vender em caso de ser constatado o dano que o tombamento acarretou (exemplo: desvalorização do valor da venda do imóvel pós tombamento). . Autorização constitucional específico para esse tombamento. – Art. 216, §6° da CF. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. . É um ato vinculado, quando se constata o valor histórico, artístico e cultural, o poder público pode e deve determinar o tombamento. . Depende de procedimento administrativo prévio, pelo qual será auferido o valor histórico, cultural e artístico que porventura aquele bem venha a ter. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Tombamento terá registro na matrícula do imóvel tombado no Cartório de Registro de Imóveis. – Já os demais bens, são feitos em Cartório de Registro Público. . Proprietário será notificado e terá direito a contraditório e ampla defesa, MAS OBVIAMENTE ELE NÃO TEM COMO SE ESQUIVAR DESSE TOMBAMENTO (é vinculado/compulsório = não se discute = supremacia estatal e cumprimento de função social). . O proprietário só consegue se esquivar se conseguir provar que o bem não possui o valor histórico/cultural e artístico que o poder público aponta que existe. – Exemplo: se o proprietário conseguisse provar que a casa de Castro Alves não era a dele, que a casa dele era apenas o quintal de criação de galinhas. . Existem alguns órgãos no Estado brasileiro, responsáveis por realizar esse procedimento administrativo de tombamento. . Pode acontecer no âmbito das 3 esferas estatais: União, Estados e DF, Municípios podem e devem realizar essa modalidade de intervenção nas propriedades privadas. . No âmbito federal, existe uma entidade chamada IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). . No âmbito estadual, existe o IPAC (Instituo do Patrimônio Artístico e Cultura) – Bahia. . No âmbito municipal, a título exemplificativo, temos em Salvador a Fundação Gregório de Matos. . Qualquer tipo de bem pode ser tombado. – Basta que ele tenha algum tipo de valor artístico, histórico ou cultural. . Não importa sua natureza: pode ser incorpóreo ou corpóreo; material ou imaterial (exemplo: acarajé, capoeira) etc. . Quem tem que fazer a manutenção? A rigor, o proprietário do bem, que continua dispondo do direito de propriedade (usar, gozar e dispor daquele bem), mas subsidiariamente o poder público passa a ter uma corresponsabilidade pelo bem. . Quem precisa assumir os custos da manutenção de um bem tombado? A priori, o próprio proprietário, pois ele inclusive continua exercendo o pleno direito de propriedade (usar, gozar e dispor). – Ocorre que a partir do tombamento, já entra o endereço público em jogo, então cabe supletivamente ao Estado prover a manutenção do bem tombado em caso de ser constatado que o proprietário não possui condições. E CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES mais, se ficar constatado que se precisa de uma intervenção urgente (exemplo: imóvel está prestes a cair) o poder público deverá arcar com os custos imediatamente, independente da condição financeira do proprietário. B) Modalidades: . Quanto à constituição: . Voluntário: o próprio proprietário provoca ou concorda com o tombamento (não há resistência). . De ofício: o processo de tombamento é iniciado de ofícios pelos próprios órgãos da administração pública e esse bem é público. – Exemplo: Elevador Lacerda, Lagoa do Abaeté, Dique do Tororó. . Compulsório: qualquer tipo de tombamento em que haja resistência do proprietário. . Quanto à eficácia: . Provisório: lapso entre a abertura e finalização do procedimento para tombamento do bem, tendo-se aqui um tombamento provisório. . Definitivo: quando se tem o registro do bem como tombado, com o consequente encerramento do procedimento administrativo. – Aqui o tombamento é definitivo. . Quanto aos destinatários: . Geral: exemplo do centro histórico de salvador = tudo que está naquele raio foi tombado (não precisou se fazer tombamento individualizado). . Individual: exemplo da capoeira. C) Efeitos: . Desde o tombamento provisório que os efeitos do tombamento já entram em vigência. . Não podem ser mutilados, demolidos, destruídos e nem mesmo reparados sem a prévia anuência do poder público (obviamente da entidade que tombou o bem). . Não podem sofrer restrição de sua visibilidade. – Não podem ter seu aspecto visual prejudicado. . Quem precisa assumir os custos da manutenção de um bem tombado? A priori, o próprio proprietário, pois ele inclusive continua exercendo o pleno direito de propriedade (usar, gozar e dispor). – Ocorre que a partir do tombamento, já entra o CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES endereço público em jogo, então cabe supletivamente ao Estado prover a manutenção do bem tombado em caso de ser constatado que o proprietário não possui condições. E mais, se ficar constatado que se precisa de uma intervenção urgente (exemplo: imóvel está prestes a cair) o poder público deverá arcar com os custos imediatamente, independente da condição financeira do proprietário. . Imóvel tombado se submete à vigilância constante/permanente do Poder Público. – Exemplo: constante visita técnica de servidores do IPHAN na casa de Mariana na Graça (que é um bem tombado). . O direito de preferência. – O proprietário continua exercendo plenamente seu direito de propriedade. Tem, portanto, o pleno direito de alienar o bem. Ocorre que, o Decreto- Lei 25 de 1937 previu a necessidade de o proprietário respeitar o direito de preferência: “você vai vender, mas tem que oferecer a venda primeiro para o Poder Público. Se o Poder Público não quiser, você pode vender para outra pessoa”. – TODAVIA, O CÓDIGO O NCPC DE 2015 EXPRESSAMENTE REVOGOU O ARTIGO DO DECRETO LEI 25 DE 1937 QUE PREVIA O DIREITO DE PREFERÊNCIA. Então, esse dispositivo continua revogado = hoje não há mais direito de preferência nos bens tombados. Isso está sendo contestado, mas até o STF se manifestar é o que continuará valendo (revogação do direito de preferência). . OBS: Decreto Lei 25 de 1937: é a chamada lei de tombamento. – Ainda se encontra em vigência, pois foi totalmente recepcionado pelo ordenamento constitucional. 10) Desapropriação: A) Conceito: . Procedimento administrativo por meio do qual o PP subtrai do particular algum bem, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social e pagamento de justa indenização. . O Estado toma para si um bem privado, e este bem passa a ser incorporado no patrimônio público. – É A MODALIDADE MAIS RADICAL, POIS SE TEM A TRANSFERÊNCIA DO BEM (DIFERENTE DE TODAS AS OUTRAS MODALIDADES QUE VIMOS ANTERIORMENTE). CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Se houver resistência do desapropriado, o poder público precisa ingressar com uma ação específica de desapropriação. . A desapropriação por ser algo mais grave, a administração exige a judicialização dessa situação pelo poder público. Mas, a priori, é uma situação administrativa. . Afeta o caráter perpétuo e irrevogável do direito depropriedade. . Forma originária de aquisição da propriedade. . Respaldo Constitucional (Art. 5º, XXIV CF): . XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; . Cidadão brasileiro somente perderá sua propriedade, se o poder público lhe compensar com justa e prévia indenização em dinheiro. – Poder público tem que pagar o que EFETIVAMENTE vale o seu bem. . Forma de pagamento da indenização: . Pagamento JUSTO, PRÉVIO e EM DINHEIRO (“transferência bancária”). . Como o Poder Público afere o valor de mercado (valor venal)? . Existe um tributo que incide sobre propriedade territorial urbana, o IPTU. E este é calculado em cima de um valor venal, que via de regra é abaixo do que efetivamente vale o seu bem. B) Modalidades de desapropriação: . Desapropriação por Necessidade ou Utilidade Pública ou por Interesse Social. . É a comum, a desapropriação do dia-a-dia. – Exemplo: desapropriação p/ passar a via de passar o trecho do metrô. – Modalidade prevista no art. 5°, inciso XXIV da CF. – Tem também o Decreto Lei 3365 de 1941 que é a LEI DE DESAPROPRIAÇÃO. – Quando o Estado precisa desapropriar, é essa a utilizada. . É A DESAPROPRIAÇÃO ORDINÁRIA. . Desapropriação por Interesse Social para Fins de Reforma Agrária. . É desapropriação extraordinária (pois, não é usual, são excepcionais com incidência extraordinária em situações específicas) CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Incide sobre imóveis rurais. . Previsão no art. 184 da CF. . Desapropriação por Descumprimento da Função Social da Propriedade Urbana. . É desapropriação extraordinária (pois, não é usual, são excepcionais com incidência extraordinária em situações específicas) . Art. 182, §4° da CF. . Desapropriação Especial – Expropriação. . É desapropriação extraordinária (pois, não é usual, são excepcionais com incidência extraordinária em situações específicas) . Art. 243 da CF. . OBS: Por óbvio, o poder público está punindo os proprietários que fazem um péssimo uso de sua propriedade, seja para fomentar o tráfico de drogas, seja para fomentar o trabalho escravo. – Além de 0 indenização, ainda vai responder penalmente etc. – ARTIGO COM INCIDÊNCIA ESPECÍFICA. Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. . AQUI OS BENS CONFISCADOS SERÃO UTILIZADOS PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA E PROGRAMAS DE HABITAÇÃO POPULAR. C) Procedimento da Desapropriação Ordinária: . Procedimento ordinário administrativo que acontece em 2 fases: (i) fase declaratória e (ii) fase executória. . Fase declaratória (inicial) = poder público emite a intenção, dando início a todo procedimento. Essa fase declaratória é o pressuposto de um regular procedimento administrativo, isto é, o procedimento deve sempre iniciar com essa fase sob pena do processo poder ser anulado em face de vícios. – NÃO HÁ TRANSFERÊNCIA DO BEM AQUI. . Estado declara sua intenção de tomar algo de alguém. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Indicação do sujeito passivo, do motivo (é utilidade pública, interesse público etc.), destinação específica do bem, identificação do bem. . Competência para declarar: (i) entes estatais (União, Estados e Municípios, pelo chefe do poder executivo); ii) as autarquias federais: DNIT (departamento internacional de infraestrutura terrestre; ANEEL (agência nacional de energia elétrica) – competência restrita aos fins da entidade. . Forma livre. – Geralmente em Decreto, mas pode ser por Lei etc. . Uma vez declarado o bem para desapropriação, quais são os efeitos? (i) sujeitar o imóvel à força expropriatória do Estado; (ii) fixação do estado do bem, ou seja, o bem se encontrava como no dia da fixação da fase declaratória? Quais benfeitorias? O que tinha? Etc., pois é nessa fase que o poder público irá começar a fixar o valor que vale aquele bem; (iii) atribuir ao estado o direito de adentrar o imóvel, obviamente para fiscalizar; (iv) fixação do termo inicial para o prazo de caducidade, que será de 5 anos (mas, se o motivo for interesse social, esse prazo cai para 2 anos). . A partir da declaração, inicia-se a contagem inicial do prazo decadencial. – Estado tem um prazo para executar aquele bem. E, caso não faça dentro do prazo de 5 anos (se o motivo for interesse social, esse prazo cai para 2 anos), a declaração CADUCA/DECAI (o Estado não mais poderá ser feito). . A perda do bem só é consagrada com a fase executória. . Fase executória: . Nessa fase ocorre a efetiva incorporação do bem ao patrimônio público. – O bem deixará de ser do privado e será incorporado ao patrimônio público. . Competência: quem tem competência para declarar, também tem para executar (entes estatais (União, Estados e Municípios, pelo chefe do poder executivo); as autarquias federais: DNIT (departamento internacional de infraestrutura terrestre; ANEEL (agência nacional de energia elétrica) – competência restrita aos fins das entidades.) – MAS, ESSA COMPETÊNCIA TAMBÉM PODE SER DELEGADA PELOS SUJEITOS ATIVOS DESSA EXECUÇÃO PARA TERCEIROS (OBVIAMENTE TERCEIROS QUE REPRESENTEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO ESTATAIS, AUTURQUIAS, FUNDAÇÕES, CONCESSIONÁRIAS (exemplo da Coelba), PERMISSIONÁRIAS etc. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Fase de execução é meramente procedimental (ir em cartório; pagar indenização justa, prévia e em dinheiro etc.). . Essa fase pode ser administrativa ou judicial: . A fase administrativa ocorre quando houver concordância na desapropriação com relação ao valor pago. . A fase judicial ocorre quando o proprietário resiste a desapropriação, e o Estado então tem que judicializar a desapropriação, seguindo o rito do Decreto-Lei 3.365/1941. . Exemplo: desapropriação dos postos de gasolina na Av. Paralela para passar a linha de metrô. O posto 1 e 2 resolveu fazer desapropriação administrativa (proprietário aceitaram tranquilamente o valor arbitrado pelo poder público). Porém, o proprietário do posto 3 não aceitou, entendendo que o valor era injusto. Assim, foi necessário o Estado entrar com ação judicial de desapropriação, que tem rito específico estabelecido no Decreto Lei 3.365/1941. . Na desapropriação judicial, por óbvio, na contestação do processo o proprietário só pode contestar o preço do quantum indenizatório, mas não pode questionar o interesse público (supremacia do interesse público). – PROPRIETÁRIO NÃO PODE DISCUTIR MÉRITO EM HIPÓTESE ALGUMA, SÓ QUESTIONA O PREÇO. . É plenamente possível a desistência da desapropriação, constando já precedente no STJ, inclusive. – Exemplo: Estado declarou, então se inicia a execução, mas pode ser que no curso dessa última fase o Estado desista (“ah, esse proprietário está me dando muito trabalho, vamos procurar outro”). D) Desapropriação para fins de reforma agrária: . É o mecanismo de penalidade OU desapropriação sanção (incide justamente sobre o imóvel rural que esteja descumprimento a função social). . Previsão na Constituição Federal: art. 184. . Só imóvel rural aqui. Não se fala em imóvel urbanoaqui (ainda que esteja também descumprindo a função social). CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . É a que incide sobre um imóvel rural que esteja descumprindo função social, feita pela autarquia federal INCRA. . COMPETÊNCIA: Somente a UNIÃO pode fazer reforma agrária no Brasil (art. 184, I, CF/88). – Competência PRIVATIVA DA UNIÃO. . Existe competência para declarar (mais importante, pois é dela que o imóvel vai ser de fato sujeito à força desapropriatória do Estado) e para declarar. – Aqui, então, a competência para declarar é da UNIÃO (portanto, do Governo Federal). Mas, a execução (fase meramente procedimental/cartorial, com transferência de documento, pagamento de valor, imissão de posse etc.), PODE SER DELEGADA, e aqui já houve delegação por lei, em que se criou uma autarquia federal chamada INCRA (que é, portanto, quem executa essa modalidade). . INDENIZAÇÃO: será prévia (antes da imissão na posse), justa, MAS NÃO EM DINHEIRO, E SIM EM TÍTULO DA DÍVIDA AGRÁRIA (art. 184, §1°). . Por estabelecermos uma desapropriação-sanção, a qual incide sobre o imóvel rural descumpridor de função social, a indenização será justa (valor correspondente ao que a propriedade vale), prévia (antes da imissão na posse), mas NÃO EM DINHEIRO, E SIM EM TÍTULO DA DÍVIDA AGRÁRIA. . Esse Título da Dívida Agrária é um crédito resgatável em até 20 anos. – Ele recebe o valor em PARCELAS, nesse prazo de 20 anos. . Como, então, o proprietário rural irá cumprir a função social da propriedade? O art. 186 da CF diz que: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. . Se ele atende cumulativamente esses incisos, irá estar cumprindo a função social. Por outro lado, aqueles que descumprem (quando, por exemplo, utiliza o leito de um rio para lavar roupa, isto é, poluindo os rios) estão sujeitos à esse tipo de desapropriação. CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . O art. 185 da CF, estabeleceu a cláusula de inexpropriabilidade: algumas propriedades rurais não podem estar sujeitas a esta desapropriação para fins de reforma agrária. Sendo elas: Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; - VISA PRESERVAR O BEM DE FAMÍLIA. II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. . UNIÃO AQUI NECESSARIAMENTE FARÁ COM ESSE TERRENO REFORMA AGRÁRIA. . PEGADINHA: um município pode desapropriar um imóvel rural para construir uma creche? Não se falou em momento algum se esse imóvel está descumprindo função social, logo seria possível desapropriar sim por desapropriação ordinária (só não poderia se falar de desapropriação para fins de reforma agrária, pois aí seria só a União, em caso do imóvel estar descumprindo a função social). E) Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade urbana: . Também é aqui um mecanismo de penalidade utilizado pelo Poder Público. . Aqui o objeto é PROPRIEDADE URBANA SEM FUNÇÃO SOCIAL. . Art. 182, § 4°, III da CF. . Competência privativa aqui é do MUNICÍPIO. . Utilizada para fins de política urbana. . É a última medida a ser utilizada. – Ou seja, existem 2 outras medidas anteriores que o Município precisa tentar impor antes de se chegar a desapropriação. . Exemplo: informado ao município que uma propriedade urbana está descumprindo sua função social. Nesse caso, inicialmente irá se exigir o PARCELAMENTO OU EDIFICAÇÃO COMPULSÓRIOS. O que é isso? Imaginemos na prática um terreno baldio (proprietário não constrói e não faz nada). O poder público irá notificar para pessoa construir ou fazer um loteamento. Se ainda assim o proprietário não acata, irá para segunda fase, irá começar a se cobrar IPTU progressivo para aquele imóvel. Em caso dele não pagar (sonegar), aí sim se chega na hipótese 3 de desapropriação. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. . Indenização: JUSTA, PRÉVIA (ANTES DA IMISSÃO DE POSSE) E PAGA EM TÍTULO DA DÍVIDA PÚBLICA (RESGATÁVEL EM ATÉ 10 ANOS COM VALOR ANUAL SUCESSIVOS E IGUAIS). . Como se cumprir a função social urbana? Para isso a CF não avançou, então quem estipula esses parâmetros são os Estatutos da Cidade, Leis Municipais, Os Planos Diretores dos Municípios. . Analisar isso aí é MUITO subjetivo. Pois, as vezes pensamos que aquele terreno descumpre a função social, mas em verdade para prefeitura o terreno cumpre sim. – Exemplo: terreno em frente ao Sartre da Graça, que fica fechado, mas em situações específicas serve, por exemplo, para feirinha da cidade, para guardar trios no carnaval etc. . Aqui a propriedade confiscada tomará o “rumo” que o plano diretor do município definir. F) Resumo geral das características da desapropriação: . Sujeito ativo da desapropriação: . Depende da modalidade. . União, Estado, Município, DF, DNIT, Aneel. Isso pode variar de acordo com a modalidade de desapropriação. . Sujeito passivo: . Proprietário. . Pressupostos: . Na modalidade ordinária: utilidade pública (conveniência) necessidade pública (urgência) e interesse social (atingir camadas necessitadas da população). . Na modalidade extraordinária, depende de ser I- expropriação (plantação de drogas ou escravidão) II – descumprimento da função social, na propriedade urbana ou rural. . Objeto: CADERNO DE DIREITO ADMNISTRATIVO III – PROF. LUCIANO CHAVES . Qualquer propriedade pode ser objeto de desapropriação, logo todos bens podem ser desapropriados (corpóreos, incorpóreos, móveis ou imóveis, públicos ou privados etc.). . União pode desapropriar bens públicos do Estado e dos Municípios. . Estados podem desapropriar bens públicos dos Municípios. . Municípios não podem desapropriar bens públicos. . Indenização: . Depende da modalidade. . Via de regra, na ordinária, é justa, prévia e em dinheiro. . Na extraordinária, não tem indenização. . Para reforma agrária, será justa, prévia e em Título de Dívida Agrária. . Para desapropriação por descumprimento da função social na propriedade urbana será justa, prévia e em Título da Dívida Pública. G) Desapropriação indireta ou apossamento administrativo: . Ocorre quando o Estado realiza a desapropriação sem cumprir as formalidades constitucionais e legais. – Exemplo: não declara, não publica o ato declaratório, não paga indenização, não diz o motivo, não diz a finalidade, não observa a cláusula de inexpropriabilidade etc. . É um esbulho estatal. . Por se tratar de ilicitude, vai gerar para o proprietário as possibilidades de resistência para manter
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