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Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 DIREITO ADMINISTRATIVO III Prof. Luciano Chaves RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO 1.1 Considerações Gerais - Estudo das possibilidades que o cidadão possui de exigir e ter direito a uma reparação pelo Estado - O Estado, por ato lícito ou ilícito, pode provocar danos no exercício das suas múltiplas atividades - Quando os cidadãos sofrem algum tipo de dano, e esse dano possa ser atribuído de certa forma ao Estado, estes possuirão o direito a uma indenização/reparação - Estudo apenas na esfera civil à reparação patrimonial - Temática que não apresenta um arcabouço normativo específico, temática mais doutrinária e jurisprudencial 1.2 Responsabilidade Contratual X Responsabilidade Extracontratual - O tema em questão diz respeito à Responsabilidade Extracontratual do Estado, a chamada Responsabilidade Aquiliana, é aquela que decorre da lógica sistêmica-normativa - No Brasil, a Responsabilidade Extracontratual do Estado decorre da própria Constituição Federal à Art. 37, §6º, da CF/88 - A Responsabilidade Contratual não será objeto de estudo, pois essa é específica, ela decorre especificamente de descumprimento contratual. Ou seja, o Estado também celebra diversos contratos, e esses contratos administrativos possuem cláusulas penais, direitos e deveres recíprocos, então se o Contratante (Poder Público) descumpre alguma cláusula contratual será responsabilizado. 1.3 Definição da Responsabilidade Extracontratual do Estado - É a obrigação que tem o Estado de indenizar os danos lesivos a terceiros, causados por seus agentes públicos, em comportamentos lícitos e ilícitos, comissivos ou omissivos Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 Ex. de dano ilícito: policial que algemou indevidamente um cidadão Ex. de dano lícito: construção do BRT - A CF/88 sedimentou a ideia de que o dano possui duas facetas, o dano patrimonial e o dano moral, e eles são indiferentes e cumulativos, ambos passíveis de reparação - O dano patrimonial se divide três esferas: dano emergente, lucros cessantes e perda de uma chance ➢ Dano emergente: o que de fato se teve como prejuízo (ex.: carro da SAMU colide com táxi que é danificado, por culpa do primeiro à valor do conserto do carro é o dano emergente) ➢ Lucros cessantes: o que se deixa de auferir com o patrimônio lesado (ex.: carro da SAMU colide com táxi que é danificado, por culpa do primeiro à valor que o taxista deixou de receber nos dias que não pode rodar com táxi é o lucro cessante) ➢ Perda de uma chance (ex.: cidadão que passa em concurso público, mas não pode tomar posse, porque os Correios extraviaram a documentação enviada por ele) 1.4 Evolução da Responsabilidade do Estado a) Irresponsabilidade do Estado - A responsabilização do Estado não é algo que sempre se concebeu, apesar de atualmente ser uma regra nos Estados Democráticos de Direito - Durante o período marcado pelo Absolutismo, entre o séc. XV / XVI até o séc. XVIII, o Estado não se responsabilizava pelos atos lesivos aos particulares. Isso porque o monarca possuía incontestável poder e autoridade sob os súditos, considerando-se que o rei – Estado – nunca errava. b) Responsabilidade com culpa civil do Estado - A partir do século XIX, iniciou-se uma nova fase, considerada teoria intermediária ou mista, por se encontrar entre a teoria da irresponsabilidade do Estado e as teorias publicistas - A responsabilização do Estado surge com um viés especificamente civilista, porque, para o Estado ser responsabilizado, a vítima precisaria demonstrar a culpa ampla do agente público que lhe causou o dano - Ou seja, se não ficasse configurado quem deu causa ao dano, quem foi o agente público, e como deu causa, a vítima não conseguia indenização/reparação Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Avanço tímido em relação a primeira fase, pois a vítima ainda possuía um trabalho árduo, e por vezes inviável, de identificar e provar a culpa individual, ou culpa civil, do agente público que causou o dano - Ficando provada a culpa individual do agente público, o Estado se responsabilizava e reparava a vítima - Culpa no sentido amplo, que envolve o dolo (vontade de produzir o dano) ou a culpa no sentido estrito (negligência, imprudência e imperícia) - Mesma lógica civilista, semelhante ao dano causado por um particular, já que é pautada na culpa individual do agente c) Teoria da culpa administrativa – ou culpa do serviço - No final do séc. XIX, houve uma evolução efetiva em prol da vítima, da máxima proteção ao cidadão, com as chamadas Teorias Publicistas (teoria da culpa adm. e teoria do risco) que formam a terceira fase - A primeira teoria publicista que surgiu, com base no direito francês, foi a teoria da culpa administrativa ou culpa do serviço – falha do serviço público - A lógica deixou de ser civilista e exclusivamente pessoal, em que se era necessário comprovar a culpa individual do agente, passando a considerar a responsabilidade do Estado quando se comprovasse a culpa administrativa, ou seja, uma falha na prestação do serviço público - Desvinculação da responsabilidade estatal com a responsabilidade individual do agente público à o Estado passou a ser responsabilizado quando o serviço público não funcionasse, sem a necessidade de identificar, tampouco comprovar, o agente público causador do dano - Ainda não há responsabilidade objetiva, nessa teoria a responsabilização é apenas subjetiva, pois ainda é necessário comprovar o elemento culpa - Para que a vítima demonstrasse a culpa anônima/administrativa deveria ser observado algum dos três aspectos: comprovar que o serviço público não funcionou ou funcionou mal ou funcionou atrasado ❖ Os 4 elementos da responsabilização civil – responsabilidade subjetiva: a conduta/o comportamento, o dano, o nexo causal (relação do comportamento com o dano) e a culpa d) Teoria do Risco (o caso “Agnes Blanco” - 1873) - Com essa teoria é implantada a responsabilidade objetiva do Estado, pois a partir dela não se discute mais o elemento culpa Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - A responsabilidade objetiva, portanto, é formada por apenas três elementos: a conduta, o dano e o nexo causal - Na esfera civil existem alguns casos específicos em que se aplica a teoria do risco (ex.: direito do consumidor), ou seja, o agente é responsabilizado, mesmo sem comprovação de culpa, por ter assumido um risco. Mas, na administração pública a teoria do risco é a regra, porque o serviço público por si só é uma atividade de risco, de grande responsabilidade - Teoria que gerou um grande avanço nessa questão da responsabilização do Estado, tendo em vista que a vítima, para ser ressarcida, não precisa comprovar nenhuma culpa - A partir do emblemático caso “Agnes Blanco”, em 1873, na França, é que foi construída a teoria do risco - Teoria vigente no Brasil, presente na Constituição Federal - A doutrina brasileira divide esse risco em dois tipos: ➢ Risco Administrativo - Leva em conta a possibilidade de o Estado arguir causas excludentes de responsabilidade (ex.: terremoto) * No Brasil, essa é a regra geral ➢ Risco Integral - Não admite causas excludentes de responsabilidade, ou seja, o Poder Público vai responder sempre * No Brasil, apesar de não ser a regra geral, pode ser adotada em casos específicos e) Estado como garantidor dos Direitos Fundamentais - Teoria que surge atualmente, defendida por alguns doutrinadores, como sendo a quarta fase da responsabilização do Estado, mas ainda não há um entendimento geral, está em construção - Nessa teoria o Estado se coloca como garantidor dos direitos fundamentais (eficácia horizontal dos DF) - No caso específico de não ser efetivado um direito fundamental do cidadão, pode haver um dano indenizável a ser reparado pelo Estado 1.5 Responsabilidade do Estado no Direito brasileiro Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 a) Estado Responsável - O Direito pátrio sempre concebeu um Estado responsável, mas, inicialmente, apenasdo ponto de vista de responsabilizar o agente público causador do dano, e não do Estado brasileiro em si - Apenas com a segunda Constituição republicana, de 1934, é que o Estado começa de fato a se responsabilizar, com base na teoria da culpa administrativa - Já com a CF/1946, foi que o Estado passou a se responsabilizar de acordo com a teoria do risco e a responsabilidade objetiva foi consagrada b) Responsabilidade Objetiva (art. 37, § 6º) - Também na CF/88 é instituída a responsabilidade objetiva do Estado perante a vítima - Assegura ao Estado o direito de reaver do seu agente o que pagou, nos casos de dolo ou culpa à responsabilidade subjetiva, apenas entre o agente e o Estado Art. 37, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. c) Entidades privadas prestadoras de serviços públicos - Avanço da CF/88 em incluir a responsabilidade objetiva de entidades privadas prestadoras de serviços públicos, essas também se responsabilizadas pelos danos que são causados a terceiros no exercício das suas atividades - Exemplo de entidade privada prestadora de serviço público: Coelba - Houve uma evolução jurisprudencial nesse sentido, visto que antes as entidades privadas prestadoras de serviços públicos só responderiam objetivamente pelos danos que fossem causados dentro das relações usuário e prestador do serviço público, se o dano fosse causado fora dessa relação não seria mais responsabilidade objetiva Ex.: carro da Coelba bate no carro de terceiro à antigamente ela só se responsabilizava subjetivamente por esse dano causado d) Agente no exercício de suas funções - Não se cogita de responsabilidade da Administração nos casos em que a atuação do causador for independente de sua condição de agente público Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Ou seja, se o agente público não tiver no exercício pleno de suas atividades, ou se não agir em nome ou em razão dela, não vai gerar responsabilidade estatal e) A CF criou duas relações de responsabilidade - Relação do Estado perante os cidadãos (vítimas): responsabilidade objetiva - Relação do agente causador do dano perante o Estado: responsabilidade subjetiva - Identificado que o agente causador do dano agiu com dolo ou com negligência, imprudência ou imperícia, o Estado vai agir regressivamente entrando com ação indenizatória para com o agente público ❖ Um dos elementos da responsabilidade (objetiva ou subjetiva) é o comportamento danoso. Nesse sentido, o comportamento danoso do Estado pode ser de dois tipos - comissivo ou omissivo, dependendo de qual seja, acarretará responsabilização diferente. 1.6 Responsabilidade por Ação (ou por atos comissivos) a) Responsabilidade Objetiva - Se o Estado causar, provocar, o dano, ou seja, se o dano decorreu de um comportamento comissivo seu, ele responde independentemente de dolo ou culpa à responderá objetivamente Exemplo: quando um agente policial algema indevidamente um cidadão à ação do Estado b) Decorre de comportamentos lícitos e ilícitos - A ação comissiva do Estado que causa dano gera uma responsabilização objetiva, independente do comportamento ser lícito ou ilícito. Ou seja, comportamentos lícitos que causam danos também geram responsabilização pelo Estado. - Independe se o comportamento é lícito ou ilícito, porque não há discussão de culpa nesses casos de responsabilização objetiva Ex. comportamento ilícito: quando um agente policial algema indevidamente um cidadão Ex. comportamento lícito: obra pública que causa danos à particulares c) Obra pública executada por terceiros Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Mesmo que a obra pública seja realizada por empreiteiros, a responsabilidade pelos danos oriundos da obra é sempre do Estado, que ordena a sua execução e é o dono do serviço - A vítima pode ingressar com ação indenizatória contra o Estado ou contra a própria empresa contratada para realização da obra, já que há uma responsabilidade solidária. Mas, o Estado não pode se eximir da responsabilidade caso seja demandado. - Caso a vítima entre com ação contra o Estado, o Estado deve ressarcir a vítima. Mas, se for comprovado que a construtora agiu com culpa, foi negligente, imprudente ou imperita, o Estado pode cobrar da construtora posteriormente – mesma lógica da ação regressiva - Quando a obra já está finalizada a responsabilidade é inteiramente do Estado 1.7 Responsabilidade por Omissão (ou por atos omissivos) a) Responsabilidade Subjetiva - Nos casos de comportamentos omissivos do Estado, em que se tinha o dever jurídico de agir e não agiu, a responsabilidade será subjetiva, pois acrescenta-se um novo elemento: a culpa (administrativa) - Nem toda omissão do Estado pode ser responsabilizada, o Estado não pode ser uma espécie de segurador universal - Para que o Estado seja responsabilizado, a vítima precisa provar que houve culpa, ou seja, necessário demonstrar que o serviço não funcionou, ou funcionou mal, ou funcionou atrasado b) Culpa da Administração - Elemento necessário para a responsabilização do Estado: culpa da administração c) Omissão Genérica e Omissão Específica - Omissão específica é quando o Estado deixa de cumprir um dever específico de tutela. Nesses casos, quando há omissão por parte do Estado, este será responsabilizado objetivamente. Ex.: aluno que é maltratado dentro da escola pública à Estado tem a responsabilidade de zelar pelos alunos dentro da instituição - Omissão genérica é o descumprimento do dever geral de agir Ex.: o Estado deixar de prestar bons serviços na área da saúde Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Na omissão genérica o Estado também será responsabilizado por sua omissão, mas nesses casos a omissão deverá ser provada, a vítima deve demonstrar a culpa administrativa para ser ressarcida. - Omissão Genérica à responsabilidade subjetiva - Omissão Específica à responsabilidade objetiva ❖ No Direito brasileiro há dois tipos de danos que são ressarcidos com base na teoria do risco integral, ou seja, que não cabe excludente de responsabilidade d) Danos nucleares - A União responde, independentemente de culpa, pelos danos nucleares, tanto por comportamentos comissivos ou omissivos à Art. 21, XXIII, alínea d da CF e) Danos provocados por atentados terroristas (Lei n.º 10.744/2003) - Responsabilidade objetiva baseada no risco 1.8 O Dano Indenizável - O dano para ser indenizável precisa ser jurídico, ou seja, precisa haver lesão há um direito do cidadão. - Assim, para ser indenizável, não basta ser apenas um dano econômico Ex.: empresário que abriu um restaurante ao lado da UFBA, e contava com os estudantes da universidade como clientela, mas que acabou sofrendo uma lesão econômica com a mudança do PAF para outra localidade à empresário não poderá ser ressarcido por esse dano 1.9 Causas Excludentes da Responsabilidade - Como a responsabilidade objetiva está fundada na relação entre o comportamento estatal e o dano, é evidente que se houver uma outra causa que concorra ou que seja a única causadora do dano, ela quebrará o nexo de causalidade e excluirá a responsabilidade do Estado a) Espécies ➢ Culpa exclusiva da vítima - O dano causado foi oriundo de comportamento exclusivo da própria vítima Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - A culpa deverá ser exclusiva da vítima para o Estado não ser responsabilizado, mas se há uma culpa concorrente, se o Estado contribuiu para o dano, haverá uma responsabilização mitigada do Estado ➢ Caso fortuito - São eventos imprevisíveis e inevitáveis oriundos de comportamentos humanos (ex.: revolta popular incontrolável, guerra, greve) ➢ Força maior - São eventos irresistíveis e inevitáveis oriundos da natureza (ex.: terremoto, tempestade) * Há uma discussão se caso fortuito e força maior seriam espécies realmentediferentes ➢ Fato de terceiro - Em tese, não cabe a responsabilização do Estado quando o dano foi causado por terceiros b) As concausas atribuídas ao Estado desqualificam as causas excludentes - Causas paralelas atribuídas ao Estado que desqualificam as causas excludentes, excluindo a responsabilidade do Estado - Ou seja, se houver uma causa paralela atribuída ao Estado (concausas), mesmo que haja força maior, etc., não mais pode-se falar em excludentes Ex.: houve uma tempestade (forma maior), mas o alagamento que causou danos se deu por conta dos bueiros que estavam entupidos (concausa), nesse caso o Estado será responsabilizado pelos danos causados 1.10 Direito de Regresso - O art. 37, § 6º, assegurou ao Estado o direito de agir regressivamente contra o agente culpado para cobrar dele o que pagou à vítima - Houve um dano provocado contra terceiro → o terceiro cobra do Estado objetivamente (sem discutir culpa) → o Estado vai pagar → se o Estado identificar que o agente público agiu com dolo ou culpa, o Estado tem o direito de cobrar aquilo que pagou a) Pressupostos Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 1. A culpa ampla, ou seja, o Estado só pode cobrar do agente público causador do dano se ele agiu com dolo ou culpa ampla (vontade de causar o dano ou negligência, imprudência e imperícia) 2. Ter efetivamente pago, se de fato a vítima foi ressarcida pelo Estado b) (im)Possibilidade de acionar diretamente o agente causador do dano - Historicamente a vítima sempre pode acionar diretamente o agente causador do dano, tradicionalmente sempre foi possível, a doutrina e jurisprudência aceitavam e a vítima caberia o direito de escolha - Em 2006, o STF começou a modificar esse entendimento, a partir do voto do ex-ministro Carlos Ayres Britto que trouxe a teoria da dupla garantia - Essa teoria adveio da interpretação do art. 37, §6º, da CF/88, segundo o ex-ministro, esse dispositivo traz a garantia aos cidadãos de poderem entrar com ação de responsabilização contra o Estado, sem ter que provar culpa administrativa, bem como o mesmo dispositivo traz a garantia ao agente público causador do dano, na medida em que afirma que esse só vai responder nos casos de dolo ou culpa e apenas perante o Estado - Assim, a partir dessa teoria, a doutrina e jurisprudência passou a não aceitar mais a possibilidade da vítima acionar diretamente o agente causador do dano, ou seja, a vítima deve acionar apenas o Estado c) (im)Possibilidade de denunciação da lide - A denunciação da lide é uma forma de intervenção de terceiro, é uma figura processual em que o réu do processo afirma que não deveria estar no polo passivo e aponta outrem como verdadeiro réu - Historicamente o Estado, quando acionado por terceiro para responsabilização por um dano, teria a possibilidade de denunciação da lide, ou seja, apontar que o agente público causador do dano é quem deveria ser o réu da ação, em razão de uma maior celeridade processual - Entretanto, a partir da teoria da dupla garantia, passou a não ser mais possível a denunciação da lide d) Prazo de prescrição - Os ilícitos prescrevem, ou seja, passado um determinado período o Estado não poderá mais punir o agente público causador do dano, não poderá mais suspender, demitir, advertir Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Entretanto, o direito de regresso - a cobrança do que foi pago (ação de ressarcimento do Estado) é imprescritível (art. 37, §5º) e) Obrigatoriedade na propositura - O direito de regresso é um poder/dever, pelo princípio da indisponibilidade do interesse público, de forma que o Estado não pode deixar de propor a ação regressiva contra o agente público causador do dano 1.11 Responsabilidade do Estado por atos legislativos - Até então, o estudo feito sobre a responsabilidade estatal dizia respeito aos danos causados aos cidadãos por atos (comissivos e omissivos) da Administração Pública na prestação de serviços à população - comportamentos administrativos - Entretanto, o Estado brasileiro também irá se responsabilizar pelos atos legislativos e judiciais que causarem danos aos particulares - Cabe destacar que a responsabilização estatal por esses atos lesivos legislativos e judiciais é minoritária e excepcional - Via de regra, o Estado não se responsabiliza por sua produção legislativa, até pela autonomia do Poder Legislativo, encontrando-se no exercício pleno da sua soberania quando exerce suas funções típicas - Mas, essa autonomia e soberania do Legislativo não são absolutas, de forma que precisam observar os limites dispostos no ordenamento jurídico - Sendo assim, se um ato legislativo foi editado sem a obediência aos parâmetros constitucionais e normativos, esse pode vir a ser inconstitucional - Nos casos em que forem editadas leis que posteriormente são consideradas inconstitucionais, além de elas serem excluídas e perderem sua validade, a doutrina e jurisprudência entendem que, por ela ter entrado em vigor por um período, haverá possibilidade de responsabilização estatal - Ou seja, é na vigência temporária de uma lei inconstitucional que se é possível o Estado ser responsabilizado 1.12 Responsabilidade do Estado por atos judiciais a) Hipótese de responsabilização (CF - art. 5º, LXXV) Art. 5º, LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; b) Só alcança a esfera penal Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 c) Não se aplica às prisões provisórias BENS PÚBLICOS 2.1 Conceito - O novo Código Civil de 2002 inovou em positivar a figura dos bens públicos, recebendo certas críticas, em razão de se tratar de um tema administrativo regulado no âmbito civil - No direito positivo brasileiro, o conceito de bens públicos é dado pelo CC, que, no seu art. 98, diz que “são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.” - Antes do novo CC não havia um conceito definido para os bens públicos - A fim de tentar preencher essa lacuna, os doutrinadores administrativistas conceituavam os bens públicos, de forma que existiam três correntes doutrinárias que traziam conceitos diferentes: ➔ A primeira linha caminhava de acordo com o conceito positivado no CC, acreditando que bens públicos eram apenas os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno → só são bens públicos os da administração pública direta, o bens das autarquias e das fundações públicas *Relembrando: a organização administrativa é dividida em administração pública direta (tem seu núcleo na União, DF, estados, municípios e seus órgãos, como pessoas jurídicas de direito público interno) e administração pública indireta *Para essa corrente os bens da Caixa Econômica, dos Correios (empresas públicas) e da Petrobras (sociedade de economia mista) não são bens públicos ➔ Já a segunda linha conceitua de maneira mais ampla, os bens públicos seriam todos aqueles bens pertencentes aos órgãos e entidades da Administração Pública, ou seja, não interessa a personalidade jurídica de cada uma das entidades Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 → englobam tudo o que foi indicado pela primeira corrente + empresas públicas, sociedades de economia mista e as fundações públicas de direito privado *Para essa corrente os bens da Caixa Econômica, dos Correios (empresas públicas) e da Petrobras (sociedade de economia mista) são bens públicos ➔ Já a terceira corrente (Celso Bandeira de Mello), que começou a ser recepcionada pela jurisprudência antes do CC, inovou no entendimento de que, em relação às empresas públicas, sociedades de economia mista e as fundações de direito privado, seus bens só serão considerados bens públicos se estiverem vinculados ao exercício das suas funções típicas e administrativas, bens fundamentais para o exercício das atividades administrativas - Relevância de considerar um bem como público, pois o tratamentoé totalmente diferente do bem privado - Em suma, a primeira corrente é que foi positivada pelo Código Civil e se encontra vigente - Há alguns julgados que caminham na linha da terceira corrente, mas a regra é o conceito seguido pela primeira linha 2.2 Classificação dos Bens Públicos a) Quanto à titularidade - Bens federais, bens estaduais e bens municipais, dependendo do titular do bem (União, estado ou município) b) Quanto à Natureza c) Quanto à Destinação ➢ Bens de uso comum do povo - Destinados à utilização geral dos indivíduos. São destinados a toda a coletividade, independentemente de consentimento do Poder Público (Art. 99, I, CC) Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 Art. 99. São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; * Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. ➢ Bens de uso especial - Aqueles destinados à prestação dos serviços públicos (Art. 99, II, CC) II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; ➢ Bens dominicais – ou dominiais - São os que constituem o patrimônio disponível das pessoas jurídicas de direito público (Art. 99, III, CC) III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 2.3 Afetação e Desafetação - Entende-se que o bem público está afetado quando esse possui uma destinação útil - Já os bens públicos desafetados são aqueles que não possuem destinação no momento a) Relação com a inalienabilidade - Os institutos são de suma importância para a caracterização do bem como alienável e inalienável, o CC deixa bem clara essa relação nos seus arts. 100 e 101 b) Podem acontecer por um ato ou por um fato 2.4 Características dos Bens Públicos a) Inalienabilidade Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - A regra geral é que os bens públicos sirvam a sociedade, ou seja, que possuam uma destinação útil - Por isso, a priori, os bens públicos são inalienáveis - A partir do momento em que o bem público perde a sua destinação, tornando-se um bem dominical, ele se torna alienável - A inalienabilidade vai depender da destinação, da vinculação do bem (arts. 100 e 101 do CC) b) Impenhorabilidade - Os bens públicos são impenhoráveis, ou seja, não pode ser objeto de penhora - A penhora é um instituto de natureza constritiva, na qual recai sobre o patrimônio do devedor para satisfazer um crédito - A penhora é instituto de natureza constritiva que recai sobre o patrimônio do devedor para propiciar a satisfação do credor na hipótese do não-pagamento da obrigação c) Imprescritibilidade - Os bens públicos, de qualquer categoria, são absolutamente imprescritíveis. Isso significa dizer que são insuscetíveis de aquisição por meio de usucapião, que é denominada de prescrição aquisitiva do direito de propriedade INTERVENÇÕES ESTATAIS NA PROPRIEDADE PRIVADA - Poder Público possui a prerrogativa de intervir na propriedade para preservar o interesse público 3.1 A Publicização da Propriedade Privada - Direito de propriedade é o direito de primeira geração, sendo que esse direito de propriedade hoje se encontra publicizado Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Acabou aquela lógica do antigo Código Civil de que trata do direito de propriedade como um direito meramente individual, para entender atualmente que a propriedade privada não deve atender apenas ao indivíduo, mas também à coletividade 3.2 A Função Social como base da Propriedade - O Estado brasileiro passou a condicionar o uso e o gozo da propriedade ao cumprimento de uma função social - Antes da CF/88 a propriedade era vista como exclusivamente individual, mas com a carta magna ela passa a ser entendida como um direito social 3.3 Fundamentação Constitucional - Art. 5º, inciso 2 e 23 3.4 Pressupostos da Intervenção 1. Função Social da Propriedade: o Poder Público pode intervir na propriedade justamente por se tratar de um direito social, lastreado no interesse público 2. Princípio basilar do direito administrativo e reitor da administração pública: supremacia do interesse público sobre o interesse privado 3.5 Formas de Intervenção Estatal: a) Ordenar socialmente o uso da propriedade: limitações e servidões administrativas - Utilizadas como política urbana para ordenar e organizar socialmente as cidades b) Utilizar transitoriamente o bem particular: ocupação temporária e requisição administrativa - Exemplo de ocupação temporária: bem particular para eleições - Exemplo de requisição adm.: solicita o bem particular para fornecer álcool em gel, máscaras, etc Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 c) Restringir propriedades em razão do seu valor histórico e cultural: tombamento d) Tomar a propriedade: desapropriação - PP toma para si uma propriedade em nome do interesse público devidamente fundamentado e, geralmente, fornecendo indenização 3.6 Limitações Administrativas a) Conceito - São restrições gerais e abstratas do Estado sobre a propriedade privada - Gerais e abstratas porque não se sabe quais e quantas propriedade serão afetadas pelas limitações - Exemplos: 1. Quando o Poder Público estabelece recuos das propriedades privadas; 2. Proibição de construir propriedade privada acima de determinada altura - Utilizado como política urbana com a finalidade de organizar a cidade b) Atinge o caráter absoluto - Direito absoluto de usar, gozar e dispor é atingido com as limitações administrativas c) Obrigação Genérica de não fazer - Geralmente a obrigação é de não fazer d) Não gera direito à indenização - Única modalidade que não prevê indenização 3.7 Servidão Administrativa a) Conceito - São restrições parciais e concretas do Estado sobre a propriedade privada Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - As servidões alcançam um número determinado de propriedades, o PP já sabe previamente quais são as propriedades que serão atingidas pela restrição - Exemplos: 1. Servidão de energia elétrica (usa parte da propriedade privada para passar o cabo de energia); 2. Colocar placa com nome da rua (usa parcela da propriedade privada para cumprir o dever de informação); 3. Servidão de passagem - Utilizado como política urbana com a finalidade de organizar a cidade b) Atinge o caráter exclusivo - O proprietário deixa de ter o uso exclusivo daquela propriedade - Passa a dividir o uso da propriedade com o Poder Público c) Obrigação de deixar de fazer - Geralmente a obrigação é de deixar fazer, ou seja, o proprietário deixa que o Poder Público faça o que precisa ser feito - Não é o proprietário que vai fazer, é o Poder Público, ele tem a obrigação de apenas deixar que o PP faça d) Tem natureza de direito real - É um direito real de gozo instituído pelo Poder Público - Coisa serviente → propriedade privada / Coisa dominante → Poder Público e) Caráter permanente - Enquanto houver o interesse público no gozo de parcela daquela propriedade, a servidão administrativa irá permanecer f) Pode gerar direito à indenização - Caso a servidão administrativa afete a propriedade, pode gerar o direito à indenização - Se gerar uma desvalorização do imóvel, haverá indenização a depender do grau de desvalorização Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 3.8 Ocupação Temporária e Requisição Administrativa a) Conceito - É a forma de intervenção mediante a qual o Estado utiliza temporariamente bens móveis, imóveis e serviços particulares - Embora com nomes distintos, os institutos são praticamente idênticos - A diferença entre eles vai residir justamente no objeto, meramente objetiva, ou seja, no tipo de bem que o Estado irá intervir - Os bens móveis são equipamentos que possam ter algum tipo de mobilidade, de consumo(automóveis, máscaras, álcool gel…) - Os bens imóveis são prédios, casas... - Os serviços particulares como serviço de transporte, de advocacia… - Se a intervenção estatal recair sobre bens imóveis o instituto será a ocupação temporária - Se a intervenção estatal recair sobre bens móveis ou serviços particulares será o instituto da requisição administrativa - Exemplo de ocupação temporária: utilizar o bem imóvel para realizar eleições, vestibulares e concursos públicos - Exemplo de requisição administrativa: bens imóveis → policiais requisitam a utilização do veículo de algum cidadão na rua para alguma urgência (levar alguém baleado para o hospital ou para perseguir algum contraventor); serviços particulares → requisitar um advogado no tribunal para advogar no lugar de um defensor público que faltou a audiência - O instituto da requisição administrativa foi muito utilizado durante a pandemia, sendo instituída inclusive uma lei específica nesse sentido, apesar de não ser necessária nenhuma lei para o Estado requisitar → Lei 13.979 para regulamentar b) Pode ser gratuita ou onerosa - Via de regra são gratuitas, mas podem ser onerosas - Vai depender do grau de afetação do bem - Durante a pandemia, o Poder Público requisitou leitos de UTI a hospitais particulares, mas indenizou posteriormente (claramente há um alto grau de afetação, já que esse equipamentos são essenciais para o funcionamento do hospital, não podendo ficar no prejuízo) c) Respaldo constitucional - Art. 5, inciso XXV, da CF/88 Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 Art. 5º, XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; d) Independe da aquiescência do particular - O particular não pode se opor a requisição ou a ocupação temporária, ou seja, independe do interesse privado - Entretanto, o particular pode recusar, caso haja uma justificativa plausível para tanto (ex.: mulher foi requisitada para ser mesária nas eleições, mas não tinha condições de ir por estar grávida de 9 meses) e) Incide sobre bens imóveis, móveis e serviços f) Caráter temporário - Sempre é temporariamente, mas o tempo não é exato, vai depender da necessidade do caso concreto g) Indenização posterior - Tem direito a indenização apenas se tiver algum dano, mas sempre posteriormente 3.9 Tombamento a) Conceito - Restrição estatal na propriedade privada que se destina especificamente à proteção do patrimônio cultural, histórico e artístico nacional - O proprietário não perde o imóvel, ele continua gozando da propriedade, mas vai ter que adotar/respeitar algumas restrições impostas à preservação do bem para usufruto das futuras gerações - Para ser alvo do tombamento, o bem precisa ter um valor artístico, ou histórico, ou cultural, pelo menos um desses três valores b) Autorização constitucional Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Art. 216, §1º, da CF/88 → previsto o tombamento como meio de proteção à cultura brasileira c) Depende de procedimento administrativo - O tombamento é uma sucessão de atos administrativos - O poder público precisa abrir um processo administrativo para verificar o valor daquele bem, sendo verificado o valor são adotados alguns procedimentos - O proprietário não pode resistir a esse procedimento administrativo que poderá resultar no tombamento, mas, quando chamado aos autos, o proprietário só pode se esquivar dessa modalidade de intervenção se demonstrar que o suposto valor do imóvel não existe - No final haverá um registro público daquele bem - Tombamento → nomenclatura que advém do local que era feito o registro (Livro do Tombo) - Em nível federal, o registro é feito através da entidade IPHAN (autarquia) - Em nível estadual, aqui na Bahia, o registro é feito através da entidade IPAC (autarquia) d) Pode gerar direito à indenização - O dano, o prejuízo ao proprietário, é o que vai definir se vai resultar ou não em indenização ao proprietário - O dano precisa ser real, ou seja, o prejuízo precisa ter se concretizado, não pode ser um potencial prejuízo, é necessário demonstrar o dano - É raro, pois o tombamento geralmente valoriza o imóvel e) Objeto - O que pode ser tombado: qualquer tipo de bem, bens de qualquer natureza, seja móvel ou imóvel, material ou imaterial - Ex.: o acarajé foi tombado como um bem imaterial, pois o que é preservado é a cultura em torno dele (a receita, o modo de se fazer, o modo de se comercializar…) f) Modalidades: Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 ➢ Quanto à constituição (de ofício, voluntário ou compulsório) - Tombamento de ofício é quando o próprio poder público que enxerga o valor do bem → recai sobre bens públicos - Tombamento voluntário é quando o poder público é provocado por alguém para tombar o bem - Tombamento compulsório é aquele que o poder público vai tombar, mas que o proprietário não aceita, o que resulta na necessidade de tombar o bem compulsoriamente ➢ Quanto à eficácia (provisório ou definitivo) - Tombamento provisório é aquele que o poder público ainda não fez o registro, mas já abriu o processo administrativo com a notificação do proprietário, o que resulta no tombamento provisório (pode ser que não se concretize) - Tombamento definitivo é quando o bem já foi registrado ➢ Quanto aos destinatários (geral ou individual) - Tombamento geral é quando recai sobre uma série de propriedades (ex.: Pelourinho) - Tombamento individual é quando recai sobre uma propriedade g) Efeitos - O bem tombado não pode ser demolido, destruído, mutilado, danificado, pintado ou reformado sem autorização prévia do poder público - O bem tombado não pode sofrer redução da sua visibilidade - O bem tombado está sujeito sempre a vigilância do poder público - O bem tombado gera o direito de preferência do poder público, ou seja, na venda da propriedade antes precisa oferecer ao Estado (nas três esferas: federal, estadual e municipal) - Desde a notificação do proprietário, do tombamento provisório, começam a correr todos os efeitos do tombamento sobre o bem, não precisa do tombamento definitivo 3.10 Desapropriação Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 a) Conceito - Procedimento administrativo por meio do qual o PP subtrai do particular algum bem, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social e pagamento de justa indenização - Não existe desapropriação sem o prévio e devido processo administrativo com todos os ritos dispostos nas normas - Desapropriação deve ser sempre respaldada no interesse público, que poderá estar revestido de necessidade pública, utilidade ou interesse social (três vertentes) - A desapropriação é um acréscimo de patrimônio público, ou seja, é pela desapropriação que o Estado toma para si uma propriedade privada, eventualmente até do próprio PP b) Afeta o caráter perpétuo e irrevogável do direito de propriedade - O proprietário vai perder o seu bem, consequentemente, vai perder um direito que lhe fora garantido - A regra geral é que o proprietário tem o direito de usar, gozar e dispor do bem, de forma perpétua e irrevogável - Entretanto, a desapropriação afeta a essência do direito de propriedade c) Forma originária de aquisição da propriedade - Existem duas formas de aquisição propriedade: pela forma derivada ou pela originária - A forma derivada é aquela decorrente do acordo de vontades, por exemplo a aquisição de propriedade pela compra e venda - A forma originária é aquela que deriva de um fato jurídico, por exemplo a usucapião que deriva do decurso do tempo, nessa a aquisição da propriedade será sem ônus e sem encargos daquele imóvel, sem recolher tributos - A doutrina afirma que a desapropriação também seria um exemplo da forma originária, já que essa decorre de um fato jurídico, qual seja o interesse público d) Respaldo Constitucional (Art. 5º, XXIV CF) Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 - Esse dispositivotraz a autorização constitucional para a desapropriação e) Forma de Pagamento da Indenização - Segundo dispositivo constitucional, a indenização precisa ser justa, prévia e em dinheiro - Em dinheiro, ou seja, o valor precisa estar na conta do proprietário - Prévia, ou seja, antes da emissão da posse - Justa, ou seja, o que vale efetivamente o bem, valor de mercado - A propriedade só será transferida ao Estado após a indenização ao proprietário - Em regra o pagamento é assim, mas uma das modalidades de intervenção não é paga em dinheiro, e sim em títulos públicos, título da dívida agrária, título da dívida pública, que são títulos de créditos que o proprietário vai passar a ser credor e vai resgatar em alguns anos f) Modalidades de Desapropriação: ❖ Desapropriação Ordinária ➔ Desapropriação por Necessidade ou Utilidade Pública ou por Interesse Social - A desapropriação mais comum que está disposta no art. 5º, XXIV, da CF/88 ❖ Desapropriações Extraordinárias - São assim chamadas, pois são consequência de eventos específicos - A doutrina encara como desapropriação-sanção, pois são utilizadas como mecanismos de penalidade ao antigo proprietário - Nesses casos, as indenizações terão outras facetas ➔ Desapropriação por Interesse Social para Fins de Reforma Agrária - Prevista constitucionalmente no art. 184 - Indenização justa, prévia, mas não em dinheiro, será em título, nesse caso em título da dívida agrária Faculdade Baiana de Direito Thais Lamarca 2021.2 ➔ Desapropriação por Descumprimento da Função Social da Propriedade Urbana - Prevista constitucionalmente no art. 182, §4º - Indenização justa, prévia, mas não em dinheiro, será em título, nesse caso em título da dívida pública ➔ Desapropriação Especial - Expropriação - Prevista constitucionalmente no art. 243: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.”
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