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AUGUSTO FERREIRA DE MORAES RESENHA CRÍTICA DE FILME – CORINGA (2019) Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Psicologia Corporal do 5º período do Curso Superior de Psicologia do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Professor (a): PONTA GROSSA - PR 2022 Durante o filme Coringa, de 2019, vemos a história do homem de meia idade chamado de Arthur Fleck. Sua história é extremamente complexa e aprofundada, tendo nuances sutis, mas que causam um grande impacto ao longo de todo o filme, desde a atuação até a história propriamente dita, e o lado psicológico dos problemas que Arthur Fleck enfrenta ao longo da sua vida. Ele possui uma doença que faz com que seus sentimentos sejam incompatíveis com seu comportamento, um exemplo disso é quando está triste, em vez de chorar ele dá risadas descontroladas, indicando uma disfunção nos aspectos psíquicos da saúde. Além de um possível quadro de transtorno de personalidade antissocial, mesmo que não tenha sido explicito na obra. É notável que o protagonista possui problemas somáticos, visto que, seu andar é corcunda e lento, seu corpo é mole, sua respiração afobada e sua voz não é clara, havendo problemas de pronuncia e eloquência. Um destaque para a cena em que Arthur está escrevendo uma de suas piadas em seu caderno, nas primeiras linhas vemos uma ortografia coerente e compreensiva, escrita de forma manuscrita, porém, aproximando-se do fim, nota-se que as letras ficam maiores, em caixa alta, com espaçamento e tamanhos desiguais entre elas, totalmente diferente do que era no início. Essa mudança pode indicar, além da sanidade do protagonista ao se aproximar do fim da sua piada sombria, um problema de coordenação motora, indicando uma rivalidade e ambivalência entre o seu mundo interno e o externo. Percebe-se que a conexão entre corpo e mente não é realizada de forma saudável. A dança é outro fator muito presente no filme, vemos que Arthur está sempre dançando quando está feliz ou em algum de seus surtos, talvez, pelo fato de estar totalmente conectado consigo mesmo. Algumas cenas de dança mostram que Arthur está fantasiando algo bom e bonito, mostrando seu lado emocional, em outra cena mostra ele dançando com sua mãe, despertando o lado familiar. Porém, a dança também se mostra presente nos momentos de crise e de surto, após ele assassinar os três homens no metrô, ele entra em um banheiro público e começa a dançar de forma evidentemente prazerosa, indicando a sanidade do protagonista e o seu bem- estar em ter matado os homens. Nessa cena ele está completamente sozinho, em um banheiro cheio de espelhos só com ele mesmo, com seu lado sombrio. Outro momento onde há a presença da dança é quando está prestes a entrar no Talk show, ele se movimenta erguendo os braços e posicionando os pés de forma específica e sistematizada, indicando sua preparação para realizar determinado ato. As danças, durante o filme, que representam algo interior de forma não-verbal, mostram um alivio e desafogamento com seu lado corporal desajustado e travado, parece que, nesses momentos, sua somatização quase que desaparece, ou então, se mostra como uma forma que Arthur encontrou para se acalmar diante dos momentos de estresse. A dança, dentro da perspectiva psicomotora, se mostra com grande importância para intensificar as potências do corpo, essa dança é realizada em um ambiente externo e interno do indivíduo, podendo contribuir significativamente para a sua compreensão de indivíduo enquanto um corpo em relação ao mundo. Além disso, a dança, que se mostra em uma perspectiva artística, faz com que o indivíduo transcenda sua interioridade por meio dos movimentos corporais. A infância de Arthur foi muito conturbada, não apenas pelo fato de sua mãe possuir uma personalidade psicótica e narcisista, mas também por ser agredido constantemente – algo que continuou ocorrendo mesmo depois de adulto – pelos namorados de sua mãe, chegando ao ponto de ficar amarrado durante dias e ter um traumatismo craniano, algo que evidentemente contribuiu para sua desordem psicológica, desde os aspectos somáticos até os espirituais. A violência física – e em todos os tipos – impacta diretamente o psiquismo, e consequentemente, a ligação entre corpo-mente-espirito. No corpo no sentido que pode provocar alguma deficiência motora, dificuldade de respiração, fala, tensão, etc. Na mente ocasionando incapacidade de se relacionar, medo excessivo, fobias, ansiedade, etc. No espirito no sentido de provocar uma desconexão com seus valores e sentidos pessoais e subjetivos, a falta de força para lidar com situações de crise, o sentimento de culpa, etc. No caso de Arthur, além do que já foi mencionado anteriormente sobre a precarização dos seus aspectos somáticos e psíquicos, nota-se também no aspecto espiritual, onde ele não encontra um sentido e proposito na sua vida, em uma cena do filme onde ele está conversando com sua psiquiatra, diz que não sabia que existia. Além disso, várias de suas piadas são relacionadas a morte, o que pode se traduzir em um sentimento inconsciente de não estar vivo. Outro fato importante é a dificuldade em lidar com situações de crise, se desesperando e partindo para a agressão. Na cena em que Arthur mata os três homens no filme, notamos que ele não conseguiu lidar com mais uma agressão, relembrando da sua infância onde ele era agredido, dessa forma, em um desespero e surto para se ver longe daquela situação, atirou nos três homens. Outra cena onde vemos a disfunção do seu lado espiritual é durante o Talk Show, onde ele mata o apresentador Murray, após pronunciar a frase ‘’O que você consegue quando cruza um doente mental solitário, com a sociedade que o abandona e o trata como um lixo?’’, nota-se que, mais uma vez, não houve uma remediação entre seus atos e seus valores (que já não se mostram presentes), ele culpa alguém externo, e até mesmo a sociedade, sobre a sua doença e seus atos. O corpo é uma via de acesso ao inconsciente para que seja possível acessar e ressignificar algumas coisas da vida. Alguém que teve muita raiva internalizada e reprimida durante a vida, pode apresentar tensão muscular, assim como vemos no caso de Arthur. A partir de exercícios corporais é possível que sejam acessadas essas emoções reprimidas, permitindo, de alguma forma, que essa emoção seja expressada. A confiança no próprio corpo é uma ferramenta fundamental para expressão desses sentimentos, visto que, durante essas terapias o corpo pode apresentar alguns tremores, tensões e fluxos involuntários, então, é necessário que haja uma confiança nesses pontos para que exista uma melhora. Além disso, é importante entender a tamanha eficiência do corpo em acessar os conteúdos do indivíduo, porém, não deixando os outros aspectos (mente e espirito) fora disso, visto que o indivíduo é um ser de várias dimensões.
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