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Maria Clara Cavalcante ENDOCARDITE INFECCIOSA Resumo direcionado INTRODUÇÃO É um desafio para o clínico, pois pode se apresentar como doença infecciosa aguda, subaguda ou não apresentar características clássicas da doença CONCEITUAÇÃO É uma infecção do ENDOTÉLIO CARDÍACO Lesão fundamental: Formação de vegetações – Estruturas compostas de plaquetas, fibrina e microrganismos infecciosos Não existe endocardite sem infecção – O fenômeno primordial para a doença é uma LESÃO DO ENDOTÉLIO Normalmente se desenvolvem nas valvas cardíacas, eventualmente no endotélio não-valvar ou em uma grande artéria (vasos da base: raiz da aorta) O ECO é fundamental para a visualização e confirmação da doença Logo, a sequência fundamental é a seguinte: Lesão endotelial -> Microrganismos com capacidade de adesão -> Endocardite infecciosa OBS: Acomete tanto a valva biológica quanto a mecânica CLASSIFICAÇÃO Aguda – 2 semanas (período de latência entre a bacteremia e o início dos sintomas), decorrente de patógenos com grande capacidade de lesar tecidos cardíacos e extra- cardíacos, quadro clínico exuberante e complicações precoces (precisa de diagnóstico imediato), normalmente causado por S. aureus (manifestação + forte e diagnóstico + fácil), afeta uma válvula cardíaca normal Subaguda – 6 semanas devido à baixa virulência do infectante, normalmente é causada por S.viridans e afeta válvulas lesadas A bactéria das duas é diferente EPIDEMIOLOGIA Incidência relativamente baixa, mas com alta morbidade (50-60% e mortalidade de 12-30%) – Afeta mais homens 60-80% dos pacientes já têm uma lesão cardíaca predisponente – maioria por S. viridans e febre reumática (maioria subaguda) S. viridans como principal agente causador – porém, ascensão de estafilococos como principal agente causador Outras formas: uso de drogas endovenosas, cateter de diálise... Em pacientes com doença cardíaca reumática, a endocardite ocorre mais frequentemente na valva aórtica FATORES DE RISCO • Febre reumática – ainda o principal fator de risco • Doença renal crônica em hemodiálise • Diabetes mellitus • Próteses valvares • Dispositivos intracardíacos • Causas mais comuns em países desenvolvidos: alterações valvulares degenerativas e próteses • Causas mais comuns em países em desenvolvimentos: febre reumática e cardiopatias congênitas (válvula aórtica bicúspide e defeito do septo interventricular não entram). FISIOPATOLOGIA Lesão endotelial (lesões valvares, cateteres intravasculares, drogas injetáveis) -> Deposição de fibrina e plaquetas -> Vegetação trombótica não-bacteriana -> Bacteremia -> Colonização da infecção -> Proliferação da vegetação bacteriana MICROBIOLOGIA Casos com hemoculturas positivas - 85% dos casos - Os agentes mais comuns são os Estafilococos, Estreptococos e Enterococos Casos com hemoculturas negativas devido uso prévio de antibiótico - As hemoculturas podem ficar negativas por vários dias - A maior parte é causada por Estreptococos da flora bucal e por Estafilococus coagulase Casos que frequentemente cursam com hemoculturas negativas - Causados por agentes fastidiosos dentre os quais se destacam: Fungos, brucella Casos que sempre cursam com hemoculturas negativas - Causados por bactérias intracelulares, as quais não crescem em meio de culturas: Bartonella, chlamydia, tropheryma whipplei MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A FEBRE é o sintoma mais comum (80-85%) Sintomas inespecíficos: cefaleia, mialgia, perda de peso, anorexia, mal-estar, calafrios, sudorese, anorexia Sinais periféricos: petéquias, hemorragias subungueais, nódulos de Osler, lesões de Janeway, manchas de Roth – São mais TÍPICOS Sopros cardíacos novos, sinais de ICC, embolias periféricas sem etiologia definida, esplenomegalia, alterações neurológicas, bloqueio atrioventricular de 1º grau Maria Clara Cavalcante ENDOCARDITE INFECCIOSA QUANDO PENSAR EM ENDOCARDITE? Sempre que o paciente tiver uma febre de origem indetermidada, deve-se pensar em endocardite infecciosa Febre +: • Novo sopro regurgitante • Doença cardíaca estrutural • Prótese valvar ou dispositivo intracraniano • História prévia de endocardite • Uso de drogas endovenosas • Imunocomprometidos • Histórico de procedimento associado a bacteremia • ICC • Hemoculturas + • Embolização periférica • Sinais neurológicos focais DIAGNÓSTICO Exames laboratoriais: Podem mostrar alterações renais (pielonefrite) • Hemograma: anemia normocítica e normocrômica • Leucograma: leucocitose com neutrofilia e aumento dos bastonetes (formas agudas) • EAS: hematúria microscópica, proteinúria discreta • Fator reumatóide positivo • Marcadores inflamatórios elevados: VHS, proteína C-reativa • Hemoculturas - Colher 3 pares de hemoculturas, colher cada par de hemoculturas de veias diferentes, aguardar 30 min entre cada coleta. Não há necessidade de aguardar período febril e deve- se desconfiar de contaminação se apenas uma amostra vier positiva Na suspeita clínica de endocardite, deve-se solicitar 2 exames fundamentais: • 1º) Ecocardiograma transitório: Indicado em pacientes com prótese nativa – Pode não evidenciar endocardite - Nos casos de evidência não clara de vegetação, deve-se avaliar a disponibilidade de realização de ECOCARDIOGRAMA TRANSESOFÁGICO • 2º) Ecocardiograma transesofágico: Indicado em pacientes com prótese valvar Casos com ecocardiograma transtorácico normal e probabilidade baixa de endocardite podemos optar pela não realização de ecocardiograma transesofágico CRITÉRIOS DE DUKE Critérios MAIORES Critérios MENORES Hemoculturas +: • Agentes típicos de endocardite em duas amostras separadas: • Streptococc us viridans • Streptococc us bovis • Grupo HACEK • Staphylococ cus aureus • Enterococcu s • Agentes que podem causar endocardite isolados de forma persistente nas hemoculturas Febre > 38 graus Evidência de acometimento cardíaco: • Ecocardiograma revelando vegetação, abcesso ou nova deiscência parcial de prótese valvar • Exame físico revelando novo sopro de regurgitação Fatores predisponentes: • Uso de drogas intravenosas ou cardiopatia predisponente Fenômenos vasculares: • Manchas de Janeway Fenômenos imunológicos: • Glomerulonefr ite • Nódulos de Osler • Manchas de Roth Fenômenos microbiológicos: • Hemoculturas positivas que não preencham critérios maiores Se tiver embolia e manchas de Janeway só pontua um. Confirmação: 2 MAIORES ou 1 MAIOR e 3 MENORES ou 5 MENORES Maria Clara Cavalcante ENDOCARDITE INFECCIOSA NÓDULOS DE OSLER - IMUNOLÓGICO Manchas efêmeras de um eritema nodular doloroso na pele das mãos e dos pés. Quando presentes, são mais comuns na ponta dos dedos, que se apresentam ligeiramente edemaciados. MANCHAS DE ROTH – IMUNOLÓGICO Manchas retinianas hemorrágicas, de aspecto esbranquiçado ou algodoado, constituídas por coleções perivasculares de linfócitos na camada nervosa da retina, circundadas por hemorragias. É um sinal característico da endocardite infecciosa (5% dos casos). Baixa sensibilidade e alta especificidade. Pode estar presente em doenças do colágeno MANCHAS DE JANEWAY – VASCULAR Placas ou máculas pouco dolorosas, hemorrágicas, com predileção pelas palmas das mãos e plantas dos pés. Podem permanecer por vários dias e são mais frequentes nas endocardites estafilocócicas. Não são patognomônicas de endocardite infecciosa, mas são muito sugestivas desse quadro – Sangramentos PADRÃO OURO PARA O DIAGNÓSTICO Avaliação patológica da valva acometida - Investigação de possíveis focos de infecção: Cavidade oral - Radiografia panorâmica da mandíbula – pesquisa de focos dentários ocultos COMPLICAÇÕES • Glomerulonefrite • IRA – Devido a formaçãode imunocomplexos • Eventos embólicos (embolia pulmonar/ cerebral – AVCI) • ICC ( lesão valvar) • BAV 1o grau • IAM ( embolia) • Disfunção de prótese • Persistência de bacteremia e fungemia • Aneurisma micótico • Abscesso perivalvar TRATAMENTO ➔ Medicamentoso Associação é melhor que monoterapia - Antibiótico nunca deve ser postergado: Não pode fazer antes da hemocultura, pois pode alterar o resultado dela – aconselhado fazer após ela - O tratamento para endocardite causada por S. aureus é diferente da causada por S. viridans Duração de 2 a 6 semanas em valva nativa e 6 semanas em prótese - Manter esquema mesmo após troca valvar O tratamento é complexo e demorado e individualizado para cada bactéria ➔ Cirúrgico Metade dos pacientes com endocardite necessita de abordagem cirúrgica - Motivos: Insuficiência cardíaca refratária, infecção não controlada apenas por antibióticos, extensão perivalvar da infecção, prevenção de tromboembolismo (vegetações muoto grandes > 2cm tem maiores riscos de embolizar) Só operar em sinais de complicação Indicações cirúrgicas: EMERGÊNCIA • Regurgitação ou obstrução das valvas mitral ou aórtica, levando a edema ou choque • Fístula para uma das câmaras cardíacas ou para espaço pericárdio URGÊNCIA • Regurgitação ou obstrução das valvas mitral ou aórtica, levando a ICC ou alteração hemodinâmica • Febre persistente com hemoculturas positivas após 7-10 dias de tto • Complicação local (abscesso, fistula, vegetação) • Grandes vegetações • Infecções fúngicas ELETIVA • Acometimento de valva mitral ou aórtica, levando a regurgitação importante, mas sem sinal de ICC PARTICULARIDADES ➔ Endocardites de câmaras direitas Principal fator de risco – uso de drogas endovenosas Valva tricúspide Embolia séptica para os pulmões Melhor prognóstico – Não causa choque e nem edema agudo de pulmão Tratamento com antibiótico pensando no S. aureus Maria Clara Cavalcante ENDOCARDITE INFECCIOSA Tratamento cirúrgico: • Bacteremia persistente • Grandes vegetações (> 20 mm) • Insuficiência cardíaca direita refratária ➔ Endocardite de prótese valvar Afeta igualmente prótese biológica e mecânica Infecções mais precoces (< 1 ano após a cirurgia) frequentemente se localizam na região de implante do anel da prótese Os critérios de Duke perdem sensibilidade no diagnóstico de endocardite de prótese O ETE ocupa lugar de destaque no diagnóstico Tratamento clínico e indicações cirúrgicas semelhantes ao da valva nativa PROFILAXIA ➔ Pacientes de alto risco: • Prótese valvar cardíaca • Passado de endocardite infecciosa • Valvopatia adquirida em transplantado cardíaco • Cardiopatia congênita cianogênica não corrigida / Cardiopatia congênita cianogênica corrigida com lesão residual • Cardiopatia corrigida com material protético ➔ Procedimentos de risco: Procedimentos que envolvam a mucosa – Necessitam de profilaxia • Dentários • Esofagianos • Geniturinários • Gastrointestinais • Respiratórios ➔ Não fazer profilaxia se: • Comunicação Interatrial • Comunicação interventricular • Cirurgia de Revascularização do Miocárdio • Prolapso de valva mitral • Angioplastia com implante de stent • Sopros inocentes • Marcapasso ou CDI • Doença de Kawasaki • Febre reumática sem sequela valvar • Procedimentos dentários sem envolvimento de gengiva ANTIBIOTICOTERAPIA NA PROFILAXIA Antes de procedimentos dentários, esofagianos ou trato respiratório: • 1ª escolha: Amoxicilina 2g, VO, 30 a 60 minutos antes do procedimento • Em casos de alergia a amoxicilina: Clindamicina 600 mg ou Azitromicina 500 mg ou Claritromicina 500 mg Antes de procedimentos gastrointestinais ou genitourinários: • Ampicinina 2g, EV, + Gentamicina 1,5 mg/kg, EV, 30 min antes do procedimento e após 6 horas do procedimento reforço com Ampicilina 1g, EV Maria Clara Cavalcante ENDOCARDITE INFECCIOSA
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