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ENDOCARDITE INFECCIOSA CASO CLÍNICO Paciente feminina, 19 anos, branca, solteira, estudante de direito, natural e procedente do Conde-PB. Há 2 meses iniciou um quadro progressivo de astenia, anorexia, palidez e sonolência, tendo sido feito um diagnóstico de anemia, na sua cidade de origem, e instituído tratamento clínico. O quadro evoluiu com náuseas, vômitos, edema em membros inferiores, febre alta, dispneia aos mínimos esforços e manchas hemorrágicas subungueais, digitais e palmares sendo internada para tratamento de suporte e posteriormente encaminhada ao serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) com as seguintes constatações: submeteu-se à extração dentária, em condições inadequadas, dois meses antes do início dos sintomas; sem antecedentes de infecção frequente de vias aéreas, cardiopatias ou febre reumática; possuía boas condições de vias aéreas, cardiopatias ou febre reumática; possuía boas condições de moradia e alimentação; negava tabagismo etilismo e uso de drogas ilícitas; referia vida sexual ativa; ciclo menstrual regular e sem perdas sanguíneas. CASO CLÍNICO EXAME FÍSICO ● Estado geral regular, anictérico, acianótico, hipocorada (++/4+), afebril (36,5°C) e toxemiada. ● PA 100×40 mmHg; FC 110 bpm; FR 34 irpm; SatO2 96%. ● Ritmo cardíaco irregular e taquicárdico em dois tempos, com bulhas cardíacas hipofonéticas, com sopro sistólico mais audível em foco mitral, ictus cordis palpável (três polpas digitais) e turgência jugular a 45°. ● Tórax simétrico, com expansibilidade diminuída à direita. Estertores bolhosos em bases pulmonares, macicez à percussão e murmúrio vesicular diminuído à direita ● Abdome plano, tenso e doloroso, notavelmente em hipocôndrio direito, com fígado palpável, sem outras visceromegalias ● Pulsos palpáveis e simétricos. Edema em membros inferiores (++/+4). Extremidades normais. CASO CLÍNICO - EXAMES CASO CLÍNICO - EXAMES CASO CLÍNICO - EXAMES INTRODUÇÃO Endocardite infecciosa (EI) é uma infecção da superfície endotelial do coração. As valvas cardíacas são as estruturas mais comumente afetadas. Várias espécies de bactérias, fungos, micobactérias, riquétsias, clamídias e micoplasma causam endocardite, na maioria das vezes causada por estreptococos, estafilococos, enterococos e alguns cocobacilos Gram-negativos. CLASSIFICAÇÃO ● Endocardite infecciosa aguda. ● Endocardite infecciosa subadguda. CLASSIFICAÇÃO A classificação ainda deve enfocar: ● Se é o primeiro episódio ou se é recorrente. ● Atividade: ativa ou cicatrizada. ● Terminologia diagnóstica: Endocardite definitiva. Endocardite possível. ● Doença: Endocardite em valva nativa. Endocardite em valva protética: precoce ou tardia. Endocardite em usuários de drogas injetáveis. ● Sítio anatômico: mitral, aórtica, tricúspide, mural etc. ● Microbiologia: Com hemocultura positiva: por estreptococo ou enterococo; por estafilococos. Culturas negativas. EPIDEMIOLOGIA De 55% a 75% dos doentes com EI de valva nativa têm fatores predisponentes: ● Doença reumática. ● Cardiopatias congênitas. ● Prolapso de valva mitral. ● Doença cardíaca degenerativa. ● Hipertrofia septal assimétrica. ● Uso de drogas intravenosas. PATOGÊNESE O endotélio valvular normal é naturalmente resistente à colonização por bactérias. A lesão inicial endotelial gera aderência de plaquetas e fibrinas e posteriormente ocorre a colonização do endotélio valvular danificado por bactérias circulantes com propriedades de adesão específicas, ocorrendo depois a formação de vegetações. Diferentes etiologias causam manifestações específicas. ACHADOS CLÍNICOS Os sinais e sintomas mais frequentes são: ● Febre (> 90%). ● Sopros cardíacos (80%-85%). ● Esplenomegalia (15%-50%). ● Manifestações periféricas: petéquias (10-40%), hemorragias subungueais, nódulos de Osler (nódulos dolorosos violáceos na porção terminal das falanges), manchas de Janeway (máculas em regiões tenares e hipotenares) e manchas de Roth (representam hemorragias ovaladas retinianas) devem ser procuradas, embora sejam raras. ● Manifestações musculoesqueléticas: artralgias, mialgias e artrite. ACHADOS CLÍNICOS No caso de endocardite subaguda, o processo é em geral indolente, com sintomas como febre, fadiga, anorexia, lombalgia e perda de peso e muitas vezes a suspeita diagnóstica aparece no contexto da avaliação de um paciente com febre de origem indeterminada. Assim, todos os pacientes febris devem ter como hipótese diagnóstica endocardite infecciosa. EXAMES COMPLEMENTARES Hemograma, eletrólitos, função renal, VHS, exames de coagulação, urina tipo 1, eletrocardiograma e radiografia de tórax devem ser solicitados em todos os doentes com suspeita de EI. As alterações mais frequentes são: ● Velocidade de hemossedimentação aumentada: > 90%. ● Anemia: 70%-90%. a Leucocitose: 20%-30%. ● Hematúria: 30%-50%. ● Fator reumatoide: 50%. ● Complexos imunes circulantes: 65%-100%. ● Consumo do complemento: 5%-40%. EXAMES COMPLEMENTARES Hemoculturas: recomenda-se a obtenção de 2 ou 3 amostras de com intervalo de 30 min entre elas e em locais diferentes. Ecocardiografia: documentar a presença de vegetação que é útil na avaliação das complicações da doença (Ex: abscesso no anel valvar). ● Transtorácica (convencional). ● Trans-esofágica (superior). TRATAMENTO Envolve a erradicação do organismo causados e tratamento das manifestações hemodinâmica e embólicas. Uso de antibioticoterapia, mas alguns caso há necessidade de cirurgia. Tempo de tratamento varia de 4 a 6 semana, de acordo com a antibioticoterapia e agente infeccioso. TRATAMENTO TRATAMENTO TRATAMENTO TRATAMENTO INDICAÇÃO DE CIRURGIA Doentes com El de valva protética, com exceção feita aos casos de EI de início tardio. O tratamento cirúrgico também é apropriado para a El causada por alguns tipos de microrganismos, como Pseudomonas aeruginosa, Brucella, Coxiella burnetti, Cândida e possivelmente enterococos que não possuam esquema sinergístico bactericida. A cirurgia também é indicada no segundo episódio de embolização ou no primeiro episódio se houver grandes vegetações residuais COMPLICAÇÕES Cardíacas: ● Insuficiência cardíaca em geral ocorre por dano valvular pela infecção. Neurológicas: ● Embolias - diminui a frequência conforme uso de antibiótico. ● Aneurisma micóticos - ocorrem mais nas ramificações arteriais. COMPLICAÇÕES Embolia Sistêmica e Abscesso Esplênico. Febre Prolongada - as causas são variáveis: ● Abscessos perivalvulares. ● Miocárdico. ● Infecção metastática: abscesso esplênico, renal, SNC, músculos, articulações etc. ● Hipersensibilidade a drogas. ● Infecções nosocomiais (urinária, relacionada ao cateter, flebite, pneumonia). COMPLICAÇÕES Doenças Renais - causas variáveis: ● Glomerulonefrite por vasculite ou imunocomplexos. ● Infarto renal. ● Alterações hemodinâmicas. ● Toxicidade pelos antibióticos. ● Procedimentos com contraste. Doenças Reumatológicas ● Artrite periférica - mais comum. ● Espondilocistite. ● Artralgia. ● Mialgia. PROFILAXIA Recomendada para pacientes: ● EI prévia. ● Próteses valvares. ● Cardiopatias congênita cianogênica. ● Valvulopatias reumáticas (ou não). ● Procedimentos dentários que envolvam manipulação do tecido gengival e da região periapical ou perfuração de mucosa oral. ● Paciente de alto risco cardíaco e infecção de TGI ou genitourinário e que serão submetidos a procedimentos diagnósticos ou terapêuticas desse sistema. PROFILAXIA TRATAMENTO CASO CLÍNICO No caso em questão foi estabelecido a antibioticoterapia empírica (gentamicina e ceftriaxona), em virtude da hemocultura não evidenciar um crescimento bacteriano, optando-se pela utilização de antibiótico específico (vancomicina) após a cultura do material cirúrgico. Sabe-se que a paciente apresentou disfunção valvar com insuficiência cardíaca grave, sendo indicado o tratamento cirúrgico com troca de valva aórtica por prótesebiológica, além disso o germe encontrado na cultura do material cirúrgico foi o S. cohnii: microrganismo raro e resistente a uma gama de antibióticos.
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