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Africanidades no ensino de Geo2

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O LUGAR DA ÁFRICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA 
 RAQUEL ALMEIDA MENDES1 
ALEX RATTS2 
Resumo 
Estabelecer diálogos sobre África e seus desdobramentos no âmbito acadêmico é discutir sobre uma 
realidade incipiente, tendo em vista que as bases teórico-metodológicas da ciência em sua grande 
maioria se estruturaram numa perspectiva eurocentrada e colonial. Dessa forma as demais 
concepções são subjugadas, gerando hierarquizações no que tange aos saberes científicos. A 
Geografia e suas escolas clássicas de pensamento, tais como inglesa, alemã ou francesa, também 
não destoa da perspectiva colonial supracitada, sendo necessária uma ressignificação científica de 
viés decolonial. Disciplinas como Geografia da África, além de evidenciar sobre aspectos físicos, 
políticos ou sociais sobre o continente, também contribuem na superação de imagens distorcidas e 
pré-concebidas estruturalmente no imaginário social. A presente pesquisa em andamento pretende 
debater a relevância do ensino de Geografia da África na formação de uma ciência mais plural, numa 
educação geográfica que contemple a cultura africana e afro-brasileira como constituinte na formação 
do território nacional, rompendo com as invisibilidades ainda persistentes. O caminho metodológico 
adotado consiste na construção de um panorama crítico dos cursos de licenciatura em Geografia no 
Brasil, em instituições públicas de ensino superior, que ofertem em suas grades curriculares 
disciplinas voltadas para a perspectiva de África, História/Cultura Afro-brasileira e Relações Raciais, 
visando compreender por meio de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, em que patamar 
ao ensino de Geografia se encontra nas discussões sobre africanidades e consequentemente como 
tem sido a formação de Geógrafos Brasileiros, tendo em vista que de forma macro essas temáticas 
costumam ser trabalhadas de maneira pontual, no máximo em datas históricas relacionadas aos 
conteúdos obrigatórios. Levantamento de dados, análise de ementas e observações referentes ao 
estágio docência na disciplina de Geografia da África na Universidade Federal do Goiás – Campus 
Samambaia, também faz parte do caminhar metodológico desta pesquisa, sobretudo no que tange 
uma melhor perspectiva didática e metodológica da Geografia, atrelando as noções de currículo do 
ensino superior e lei nº 10.639/03 quanto à obrigatoriedade de um ensino que contemple as 
potencialidades raciais e étnicas na educação básica e superior. O contato com redes de diálogos e 
ativismo tais como “Rede Espaço e Diferença” e “GeógrafxsPretxs”, bem como o levantamento de 
informações referentes às disciplinas sobre África, o perfil dxs docentes e a análise dos planos de 
ensino, nos levam a refletir sobre uma Geografia que ainda precisa englobar mais destas discussões 
nos componentes curriculares, ou seja, superar o ideário de um conhecimento meramente optativo na 
formação de geógrafxs e buscar meios de evidenciamento desse campo do conhecimento nas 
universidades como uma pauta formativa exigida em consonância com a legislação. 
Palavras - chave: Geografia da África; Ensino de Geografia; Relações Raciais. 
Resumen 
Establecer diálogos sobre África y sus implicaciones en el campo académico es discutir una realidad 
incipiente, considerando que las bases teórico-metodológicas de la ciencia se han estructura do 
 
1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/IESA/UFG) e integrante do 
Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Sócio-
Ambientais da Universidade Federal de Goiás (LaGENTE/IESA/UFG). E-mail de contato: 
almeidamendesraquel@gmail.com 
2Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/IESA/UFG) e integrante do 
Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Sócio-
Ambientais da Universidade Federal de Goiás (LaGENTE/IESA/UFG). E-mail de contato: 
alex.ratts@gmail.com 
mailto:almeidamendesraquel@gmail.com
mailto:alex.ratts@gmail.com
 
 
principal mente desde una perspectiva eurocéntrica y colonial. De esta manera, las otras 
concepciones están subyugadas, generando jerarquizaciones en lo que concierne al conocimiento 
científico. La geografía y sus escuelas de pensamiento clásicas, como el inglés, el alemán o el 
francés, tampoco se desvían de la perspectiva colonial antes mencionada, y es necesaria una 
resignificación científica del enfoque decolonial. Disciplinas como la Geografía de África, así como la 
evidencia de los aspectos físicos, políticos o sociales del continente, también contribuyen a la 
superación de imágenes distorsionadas y estructuralmente preconcebidas en el imaginario social. 
Esta investigación actual pretende discutir la relevancia de la enseñanza de la Geografía de África en 
la formación de una ciencia más plural, en una educación geográfica que contemple la cultura 
africana y afro-brasileña como parte de la formación del territorio nacional, rompiendo con las 
invisibilidades aún persistentes. El enfoque metodológico adoptado consiste en la construcción de un 
panorama crítico de los cursos de pregrado en Geografía en Brasil, en instituciones públicas de 
educación superior, que ofrecen en sus planes de estudio asignaturas dirigidas a la perspectiva de 
África, Historia Afro-Brasileña, Cultura y Relaciones Raciales, con el objetivo de comprender 
mediante una investigación cualitativa, de carácter exploratorio, en qué nivel de enseñanza de la 
geografía se encuentra en las discusiones sobre africanidades y, por consiguiente, como ha sido la 
formación de geógrafos brasileños, considerando que en su forma macro estos temas se suelen 
trabajar. De manera oportuna, como máximo en fechas históricas relacionadas con los contenidos 
obligatorios. La recopilación de datos, el análisis de menús y las observaciones relacionadas con la 
etapa de enseñanza en la disciplina de Geografía de África en la Universidad Federal de Goiás - 
Campus Samambaia, también forman parte del enfoque metodológico de esta investigación, 
especialmente con respecto a una mejor perspectiva didáctica y metodológica de la geografía. 
Relacionar las nociones de currículo de educación superior y la ley nº 10.639 / 03 sobre la educación 
obligatoria que contempla las potencialidades raciales y étnicas en la educación básica y superior. El 
contacto con redes de diálogos y activismo como "Red Espacio Y Diferencia” y "Geografxs Pretxs", 
así como la recopilación de información sobre temas africanos, el perfil de los docentes y el análisis 
de los planes de enseñanza, nos llevan a reflexionar. Sobre una Geografía que aún necesita incluir 
más de estas discusiones en los componentes curriculares, es decir, superar el ideario de un 
conocimiento meramente opcional en la formación de geógrafos y buscar medios de evidencia de 
este campo de conocimiento en las universidades como una agenda formativa requerida de acuerdo 
con la legislación. 
Palabras clave: Geografía de África; Enseñanza de Geografía; Relaciones raciales. 
1- Introdução 
Esta comunicação é fruto de uma pesquisa em andamento que tem como 
objetivo discutir o lugar da África no ensino de Geografia, bem como as 
potencialidades da ciência geográfica no tocante ao ensino de África e cultura Afro-
Brasileira. 
O continente africano é, em sua complexidade, detentor das primeiras 
civilizações e o primeiro berço da espécie humana. Compreendemos, a partir dessas 
inferências, a relevância da África como intróito da humanidade (WEDDERBURN, 
2005) e de como estudar esse continente consiste, sobretudo em um estudo de 
 
 
relevância histórico-geográfica quanto ao marco inicial da vida e da nossa origem 
como habitantes desse planeta. 
O caminho metodológico adotado consistiu primeiramente na revisão de 
bibliografias sobre as temáticas em evidência no trabalho: Ensino de Geografia, Lei 
nº 10.639/03, Políticas Curriculares,Geografia da África, Relações Étnico-Raciais, 
dentre outros vieses. No segundo momento, por meio da Rede Espaço e Diferença e 
da articulação de Geógrafxs Pretxs, foi realizado um levantamento parcial de 
disciplinas sobre Geografia da África em instituições públicas de ensino superior, 
bem como investigações e análises das ementas e planos de ensino destas 
disciplinas, visando endossar o debate sobre continente africano, educação 
geográfica e as abordagens adotadas em alguns cursos de formação de 
professores/professoras em Geografia no Brasil. 
A estrutura do presente trabalho está pautada em duas partes. O primeiro 
diálogo intitulado: “Desafios para uma Educação Geográfica Decolonial”, discutirá 
sobre os obstáculos ainda persistentes na constituição de um ensino de Geografia 
antirracista. No segundo momento caracterizado como “O ensino de Geografia da 
África em Instituições Públicas de Ensino Superior” debatemos as abordagens 
geográficas sobre o continente africano em algumas instituições do país, 
especificamente nos cursos de licenciatura e bacharelado em Geografia. 
 
2- Desafios para uma educação geográfica decolonial 
 
Vivemos em uma sociedade que de forma estrutural reproduz, nos mais 
diversos espaços e nas mais diversas vertentes, o pensamento colonial. Sendo 
assim, não há de forma espontânea o anseio pela mudança dessa lógica 
marginalizante, tendo em vista que o colonialismo e suas ressignificações minorizam 
enquanto permanece a colonialidade. Há, sobretudo, um processo de silenciamento 
dessas problemáticas, algo que os movimentos sociais objetivam superar, 
principalmente pelo viés da educação. 
No que concerne a educação formal, temos por meio das políticas 
curriculares a luta pela inserção de conteúdos que anteriormente não eram 
 
 
contemplados na instituição escolar, sequer nas instituições de ensino superior. O 
ensino sobre África e relações raciais passam a serem conteúdos obrigatórios em 
sala de aula a partir da lei nº 10.639/03, fruto de reivindicações e articulações de 
ativistas negrxs no Brasil visando uma ampliação de saberes africanos e 
afrodescendentes que foram e ainda são parte fundamental da História dessa 
nação, bem como uma reflexão do lugar de subalternidade destinado a esse 
grupo(GOMES, 2006). 
Segundo o pesquisador Renato Emerson dos Santos, no que tange a 
legislação supracitada: 
A Lei reposiciona o negro e as relações raciais na educação – 
transformando em denúncia e problematização o que é silenciado (como, p. 
ex., o racismo no cotidiano escolar), chamando a atenção para como 
conhecimentos aparentemente “neutros” contribuem para a reprodução de 
estereótipos e estigmas raciais e para o racismo. A 10.639 nos coloca o 
desafio de construir uma educação para a igualdade racial, uma formação 
humana que promova valores não racistas (2011, p.05). 
 
O texto da lei 10.639/03 consiste na obrigatoriedade do ensino sobre História 
da África e Cultura Afro-brasileira no âmbito de todo o currículo escolar, dessa 
forma, inserido nesse escopo, tem-se na Geografia uma disciplina também 
responsável pela construção de uma perspectiva educacional antirracista e 
decolonial. 
Tendo em vista que a formação social dxs indivíduos está diretamente ligada 
à formação espacial destes, podemos discutir sobre categorias geográficas tais 
como território e lugar. Dentre as inúmeras aproximações que podemos fazer destas 
categorias na educação geográfica fica em evidência o Lugar como dimensão 
espacial do cotidiano, daquilo que é vivido/percebido e o Território como dimensão 
política do espaço conectada com outras óticas, principalmente a ótica econômica e 
simbólica (SANTOS 1999). 
O ensino de Geografia por meio das categorias geográficas nos permite 
recortes precisos da realidade, inclusive da realidade racial brasileira, dando 
significados e sentidos para os saberes e metodologias adotadas em sala de aula e 
a partir dessas inferências podemos discutir sobre dois principais questionamentos 
que orientarão essa parte do trabalho: Qual é o lugar das pautas marginalizadas no 
 
 
contexto eurocentrado e colonial do pensamento geográfico? E quais as 
territorialidades produzidas por meio da educação geográfica a fim de visibilizar 
esses saberes? 
Obter a resposta das perguntas supracitadas nos parece um trabalho 
bastante árduo. Todavia representa um grande avanço na tentativa de uma 
Geografia cada vez mais plural, por uma renovação e por novos olhares desta 
ciência que, sobretudo, reconheça as suas potencialidades no que concerne ao 
ensino de temáticas limítrofes tais como África, africanidades e relações étnico-
raciais. 
Trata-se de uma produção de conhecimento contra-hegemônica, o exercício 
constante de um movimento negro organizado que reivindica um lugar de 
evidenciamento, a superação de estereótipos racistas que de forma errônea 
redundam em imagens de uma África atrelada unicamente aos ideários de pobreza, 
miséria, selvageria ou atraso que constrói uma perspectiva da população negra 
brasileira distanciada das heranças africanas por meio da negação dessa herança, 
dessa ancestralidade, dessa história nacional que mascara as matrizes africanas e 
indígenas do processo de formação desse território. 
Propor uma educação que não exclua as temáticas sobre África e cultura 
afro-brasileira é propor uma luta contra o racismo presente nas instituições de 
ensino, entendendo que o racismo, um processo atrelado a hierarquias de raça e 
etnia, tem ganhado novos arranjos para além de fatores unicamente ligados a 
corporeidade e fenótipos (GROSFOGUEL, 2012), ou seja, temos nesse processo de 
subjugação da produção de conhecimento de/para/sobre África o então chamado 
racismo epistêmico que “[...] destrói formas de conhecimento de ancestralidades 
africanas e usurpa modos de ver, sentir fazer e ser-estar no mundo” (OLIVEIRA, 
2018, p.10). 
Sendo assim, o dispositivo racial atrelado ao continente africano e as 
africanidades constroem relações de poder no espaço geográfico, sendo a raça um 
fator regulador das experiências dos sujeitos com os espaços vividos, experiências 
 
 
de pertencimento ou repulsa desses corpos espacializados, bem como suas 
subjetividades e especificidades geo-grafadas. 
No que tange a tríade “relações de poder, raça e educação”, cabe discutirmos 
acerca deum espaço de grandes disputas: o currículo. Quer seja o currículo da 
educação básica ou o projeto pedagógico dos cursos de ensino superior (PPC’s), 
tem-se um campo extensivo de análises e investigações quanto às intencionalidades 
no processo de construção desse currículo que, sobretudo refletirá os lugares 
sociais de cada abordagem representada. 
Segundo o pesquisador Tomaz Tadeu da Silva em seus estudos sobre teorias 
curriculares: 
 
O processo de fabricação do currículo não é um processo lógico, mas um 
processo social, no qual convivem, lado a lado com fatores lógicos, 
epistemológicos, intelectuais, determinantes sociais menos “nobres” e 
menos “formais”, tais como interesses, rituais, conflitos simbólicos e 
culturais, necessidades de legitimação e de controle, propósitos de 
dominação dirigidos por fatores ligados à classe, raça, ou gênero (SILVA, 
1996, p.79). 
 
Partindo desse pressuposto podemos compreender que a construção do 
currículo não se dá exclusivamente por uma ordem lógica impremeditada, nesse 
processo, questões de dominação são reafirmadas, preconceitos tais como os 
atrelados à racialidade são reproduzidos por meio do apagamento das narrativas 
históricas de grupos subalternizados (SILVA, 2010), sendo este o caso da população 
africana e afro-brasileira em nosso país. 
As abordagens quanto ao currículo sempre apontam a sua relevância no 
âmbito das relações políticas e históricas. É notório que aquilo que estudamos e 
discutimos nas unidades de ensino não são resultantes de um mero acaso, é, 
todavia uma imposição daqueles que detêmo poder, ou seja, todo o conhecimento 
produzido não é dotado de plena liberdade em relação a quem o produz, mas em 
relação ao que deve ser transmitido, em consonância com as imposições de 
segmentos hegemônicos. Partindo dessa ideia podemos compreender que 
determinados grupos sociais são tidos como visíveis em detrimento de outros que 
são excluídos de possíveis abordagens na educação básica (GOMES, 2006). 
 
 
O processo de descolonização do currículo torna-se um fator de extrema 
importância para a ruptura desse processo de silenciamento no meio educacional. 
Sendo assim, devemos por meio das políticas curriculares reivindicadas pelo 
movimento negro brasileiro, inserir de forma diligente os conteúdos sobre África e 
Cultura Afro-brasileira nas instituições de ensino, haja vista que estas devem 
dialogar com a realidade do país que apresenta historicamente em suas matrizes de 
formação territorial a herança africana (GOMES, 2012). 
É possível reafirmar através das proposições da autora que: 
[...] a descolonização do currículo implica conflito, confronto, negociações e 
produz algo novo. Ela se insere em outros processos de descolonização 
maiores e mais profundos, ou seja, do poder e do saber. Estamos diante de 
confrontos entre distintas experiências históricas, econômicas e visões de 
mundo (GOMES, 2012, p.107). 
 
Um currículo descolonizado de Geografia contemplará outros enunciadores, 
outras narrativas, outrxs agentes de produção do espaço advindos de povos que 
foram deixados à margem desse processo de construção do pensamento 
geográfico, tais como africanos e afrodescendentes, permitindo uma nova roupagem 
a ciência que contemple a diversidade cultural e étnico-racial, ampliando uma 
formação de conhecimento não eurocentrada, onde o que lemos, pesquisamos e 
escrevemos é questionado pela ótica de outros conhecimentos e do que tem sido 
evidenciado ou silenciado no âmbito científico, sendo de extrema relevância para 
uma epistemologia da pluriversalidade. 
 
3- O ensino de Geografia da África em instituições públicas de ensino superior 
A presente discussão encontra-se fundamentada pela Lei Federal nº 10.639, 
promulgada no ano de 2003, lei esta que consiste na obrigatoriedade do ensino da 
História da África e Cultura Afro-brasileira nos currículos das instituições de ensino, 
desde a educação básica até os cursos de formação de professorxs. O marco legal 
objetiva a desconstrução de um conhecimento na ótica colonizante por outros 
saberes que também fazem parte do contexto Histórico-geográfico brasileiro. 
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 
 
 
quanto ao processo de implementação da lei e sua relevância para a população 
afro-brasileira: 
 
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o 
objetivo de educação das relações étnico/raciais positivas têm como 
objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a 
consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e 
segurança para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos, 
poderão permitir que identifiquem as influências, a contribuição, a 
participação e a importância da história e da cultura dos negros no seu jeito 
de ser, viver, de se relacionar com as outras pessoas, notadamente as 
negras. Também farão parte de um processo de reconhecimento, por parte 
do Estado, da sociedade e da escola, da dívida social que têm em relação 
ao segmento negro da população, possibilitando uma tomada de posição 
explícita contra o racismo e a discriminação racial e a construção de ações 
afirmativas nos diferentes níveis de ensino da educação brasileira (BRASIL, 
2004, p.16). 
 
Cabe destacar que a lei supracitada não propõe a construção de disciplinas 
específicas sobre África e Afro-Brasil. Isto implica da inserção dessas temáticas em 
todo o currículo, englobando, dessa maneira, a ciência geográfica como parte 
importante nesse processo de descolonização dos saberes (BRASIL, 2004). 
Os conteúdos sobre África são de extrema abrangência, afinal estes 
contemplam o marco inicial da espécie humana, as primeiras civilizações e as 
primeiras formas de organização no espaço, algo já comprovado em pesquisas 
científicas: A humanidade tem seu berço localizado no continente africano 
(WEDDERBURN, 2005). 
Segundo Joseph Ki-Zerbo, no que tange à história do continente Africano: 
A História da África deve ser reescrita. E isso porque, até o presente 
momento, ela foi mascarada, camuflada, desfigurada, mutilada pela “força 
das circunstâncias”, ou seja, pela ignorância e pelo interesse. Abatido por 
vários séculos de opressão, esse continente presenciou gerações de 
viajantes, de traficantes de escravos, de exploradores, de missionários, de 
procônsules, de sábios de todo tipo, que acabaram por fixar sua imagem no 
cenário da miséria, da barbárie, da irresponsabilidade e do caos. Essa 
imagem foi projetada e extrapolada ao infinito ao longo do tempo, passando 
a justificar tanto o presente quanto o futuro. (KI – ZERBO, 2010, p. 32) 
 
A riqueza histórica advinda de África é subalternizada e na maioria das vezes 
substituída por conhecimentos estereotipados. África como um ‘país’, uma unidade, 
atrelada unicamente aos processos de exploração colonial, a questões tais como 
 
 
pobreza e miséria, aos safáris e savanas, às perspectivas midiáticas 
sensacionalistas, aos conflitos “tribais” e modo de vida selvagem, são algumas das 
geografias imaginativas construídas ao longo do tempo e que precisam ser revistas. 
Segundo Ratts, quanto às percepções equivocadas do continente africano: 
Não é explicitada a diversidade social e espacial presente em África, 
predomina a noção de um “continente selvagem” deixando ausente uma 
áfrica urbanizada e desenvolvida. Além disso, são estereotipadas as 
manifestações culturais presentes neste continente. A religiosidade, por 
exemplo, é simplificada nas categorias “animismo e fetichismo”, 
qualificações hierarquizantes e pejorativas advindas do evolucionismo e 
pouco precisas para tratar das cosmologias das sociedades africanas. 
Persistem, ainda, visões herdadas do colonialismo sobre a África (2006, 
p.51). 
 
Dessa maneira, “[...] precisamos analisar a África sem nossos “óculos 
intelectuais” eurocêntricos preconceituosos, pois bem sabemos que o 
eurocentrismo exalta os valores ocidentais e desconsidera demais saberes” 
(WEDDERBURN, 2005, p.153, grifo nosso). 
Estamos no que tange as produções científicas sobre Geografia da África por 
pesquisadores/as brasileiros/as e africanos/as, em um processo inicial. As 
referências em sua grande maioria são advindas de antropólogos e historiadores 
que apresentam um escopo maior de pesquisas e discussões na área, 
principalmente no viés da decolonialidade. 
No que concerne à ciência geográfica, temos em algumas instituições 
públicas de ensino superior a seguir mencionadas (Quadro 1), docentes que em 
consonância com a legislação federal têm lecionado disciplinas com a temática do 
continente africano nos cursos de Geografia, elencando a pluralidade de áreas e 
subáreas da Geografia da África. 
Quadro 1: Abordagens geográficas sobre África em Instituições de Ensino Superior Públicas 
IES Docentes Disciplina Abordagens Geográficas 
UFRGS Profa.Dra. Adriana 
Dorfman 
Geografias Descoloniais Ensino de Geografia; Geografia 
Regional 
UFG Prof. Dr. Alex Ratts Tópicos Especiais em Geografia 
Humana: Geografia da África 
Ensino de Geografia; Geografia 
Regional 
UERJ Prof. Dr. Denilson 
Araújo de Oliveira 
Organização Espacial do Mundo II Geografia Regional; Geopolítica 
Mundial; 
Organização do Espaço; 
Ensino de Geografia 
UFRJ Prof. Dr. FrédericMonié Geografia Regional da África 
(subsaariana) 
Geografia Regional; 
Dinâmicas Demográficas; 
Geografia Histórica; 
 
 
Geopolítica; 
Geografia AmbientalUSP Prof. Dr. Eduardo 
DonizetiGirotto 
Geografia Regional I: África Geografia Regional; 
Formação Territorial; 
Geografia Cultural; Formação 
Socioespacial; 
Ensino de Geografia 
UNB Prof. Dr. Rafael Sanzio 
Araújo dos Anjos 
Geografia Africana e Afro-Brasileira Geografia Física; 
Geografia Ambiental; 
Cartografia; 
Geografia Urbana; 
UNEB Profa. Ma. Paula 
Regina Cordeiro 
Geografia da África Geografia Histórica; 
Organização do Espaço Mundial; 
Territorialidades Afrodescendentes; 
Geografia Urbana. 
UFT Prof. Dr. 
RosembergFerracini 
Ensino de Geografia da África e 
Educação para as Relações 
Étnico-Raciais 
Ensino de Geografia; 
Políticas Curriculares; 
Geografia Regional; 
Formação do Território Brasileiro 
Fonte: Rede Espaço e Diferença e GeógrafxsPretxs 
A partir do quadro supracitado, pudemos notar a multiplicidade das 
abordagens que a Geografia é capaz de contemplar sobre a África: o ensino de 
Geografia, a Geografia Regional, a Formação do Território Brasileiro, a Cartografia 
Africana, a Geopolítica Mundial, as Dinâmicas Demográficas, Organização do 
Espaço, Geografia Histórica, Geografia Ambiental, Geografia Física, Territorialidades 
quilombolas, Políticas Curriculares, Geografia Urbana dentre outros. 
Essas diferentes perspectivas geográficas, além de se apresentarem como 
um grande nicho em sala de aula nos apontam a imensa diversidade presente no 
continente africano, diversidade esta que deve ser cada vez mais contemplada, 
tendo em vista que isso poderá contribuir no rompimento da história única de 
miséria, omissão, ignorância e a necessidade vital de tutela por parte dos 
colonizadores, sem falar não cabe apenas aos antropólogos e sociólogos utilizarem 
suas categorias de pesquisa em África, a ciência geográfica e suas múltiplas 
abordagens, pode e devem aumentar os estudos e as produções bibliográficas 
sobre Geografia da África. 
Nosso desafio consiste em propor uma educação geográfica emancipatória, 
desprendida do olhar único sobre África que ainda é equivocadamente lida como um 
“país”, dotada de miserabilidade, abstida de formas de organização social, 
dependentes de uma liderança colonialista, marcada por um modo de vida selvagem 
e retrógrado, afinal, “[...] falar de África é fundamental, mas não é suficiente se 
 
 
nãofizermos uma desconstrução das narrativas que estruturam as leituras de 
totalidade-mundo, o que implica revisões conceituais, revisões de estruturas [...]” 
(SANTOS, 2011, p. 14). 
 
4- Considerações Finais 
O processo de ensino – aprendizagem de Geografia nos permite atrelar os 
mais diversos vieses de construção de paradigmas geográficos em nosso cotidiano. 
A ciência geográfica e os saberes espaciais produzidos pela mesma corroboram 
para uma conexão entre pessoas e coletividades aos espaços vividos, contribuindo 
na identidade e pertencimento dos sujeitos que por meio dos seus cotidianos 
construirão os saberes e conhecimentos perante o mundo (MOREIRA, 1980). 
O ensino de Geografia pode contribuir positivamente nesse processo de 
ressignificação do continente africano e o elo existente no Brasil – África, bem como 
na construção das identidades raciais afro-brasileiras e africanas que são 
demarcadas por espacialidades e territorialidades. Há potencialidade no ensino de 
Geografia para as relações raciais e étnicas, tendo em vista que estas são grafadas 
e condicionadas pelo espaço (SANTOS, 2010). 
Referências 
▪ Livros 
GOMES, Nilma Lino. Diversidade cultura, currículo e questão racial. Desafios para a 
prática pedagógica. In: ABRAMOWICZ, Anete, BARBOSA, Maria de Assunção e 
SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs). Educação como prática da diferença. 
.Campinas: Armazém do Ipê, 2006, p.21-40. 
KI-ZERBO, Joseph. História Geral da África. Vol. I. Brasília: UNESCO, 2010. 2a. 
Ed. 
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo, Editora Brasiliense: 1980. 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. 3ª edição. São Paulo: Hucitec, 1999, 
308p. 
SILVA, Tomaz Tadeu. Identidades terminais. Petrópolis, Editora Vozes Ltda, 1996. 
 
▪ Capítulos de Livros 
 
 
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos.A Geografia, a África e os negros brasileiros. In: 
MUNANGA, Kabengele (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília, Ministério 
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 
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