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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 LEITURA DE IMAGEM ............................................................................... 3 3 ALFABETIZAÇÃO VISUAL ......................................................................... 6 4 ASPECTOS COGNITIVOS DA LEITURA DE IMAGENS............................ 9 5 O QUE É LEITURA DE IMAGEM ............................................................. 15 6 A LEITURA DE IMAGEM E A EDUCAÇÃO INFANTIL ............................. 18 7 A LEITURA DE IMAGENS E A CULTURA VISUAL .................................. 20 8 A LEITURA DE IMAGENS E O LIVRO DIDÁTICO ................................... 22 9 APLICAÇÃO DA LEITURA DE IMAGENS ................................................ 24 10 AFINAL, COMO LER IMAGENS EM LIVROS INFANTIS? .................... 27 11 LEITURA PARA CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ..................... 33 12 IMAGENS NA SALA DE AULA .............................................................. 37 13 CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A LEITURA DE IMAGENS .. 39 14 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 41 2 1 INTRODUÇÃO Fonte: canaldoensino.com.br O mundo passou pela a Revolução Industrial, Revolução Automobilística e agora, no século XXI, a Revolução Tecnológica e, pode-se afirmar que, juntamente com a Revolução Tecnológica, estamos também submetidos à Revolução da Imagem. Portanto, é possível afirmar que, nossos documentos escritos não são mais a única fonte de informação e pesquisa. Sendo assim, faz-se necessário a aprendizagem da interpretação de signos visuais. As invenções da Revolução Tecnológica provocam muito encantamento, atinge de forma surpreendente adolescentes e crianças, não há resquícios de resistência alguma. Videogame, computador, celular, cinema, internet são seus aparatos principais. Porém, vale ressaltar que, junto com todas essas novas invenções amplia- se o número de códigos e linguagens. Diante disso, segundo Barbosa (2007) no Brasil, atualmente, há entre professores a discussão da importância da imagem (tanta impressa como em movimento), em sala de aula, pois apontam que as imagens quando bem encaminhadas e contextualizadas podem despertar, a criatividade, a reflexão de forma superior e também manter alunos interessados por mais tempo em determinados conteúdos. “As imagens produzem um regime de significação” nos diz Antelo (2004, p.9). Quando bem mediadas tem a capacidade de despertar a criatividade, reflexão, 3 diminuir espaços e distância, porém, se não houver certa mediação, cuidados na seleção de imagens, não ocorrerá aprendizado, apenas servirá de entretenimento, pois, vale lembrar que imagens são formas de comunicações aprendidas (pois não é inata), cabe ao mediador, sistematizar esse conhecimento, estar atento ao ensino de uma sintaxe visual, nos diz Barbosa (2011). A proposta de desenvolvimento de leitura de imagem em sala de aula, a necessidade do ensino de uma sintaxe visual, vem sendo discutida desde 1980, no Brasil, juntamente, com a contextualização histórica e com a produção com a Proposta Triangular, segundo Almeida (2011, p. 61).1 2 LEITURA DE IMAGEM Fonte: br.freepik.com A leitura de imagem no processo de alfabetização pode favorecer a compreensão do mundo. Usar o conhecimento para conquistar espaços, fazer julgamentos, argumentar a favor ou contra determinados assuntos como: moda, comportamento, programas de TV, livros, entre outros, contribui na tomada de decisões sobre as escolhas que cada ser humano realiza em seu cotidiano, evitando assim que apenas uma minoria dominante decida o bom ou ruim, o certo ou errado 1 Texto extraído do link: http://www.seminariolhm.com.br/2018/simposios/10/simp10art02.pdf 4 para a população desmistificando o contexto das imagens na mídia para que os alunos não façam parte de uma massa de manobra, Demo (1998), isto é, ter opinião influenciada pela mídia. No processo de alfabetização a leitura de imagem como linguagem tem o poder de aguçar os sentidos, transmitir os significados que não são transmitidos por nenhuma outra linguagem, tal como a verbal ou a científica. Ter a imagem como matéria-prima possibilita ao aluno visualizar quem é ele, de onde vem, para onde vai, munidos de expressão pessoal e individual como também se expressar pela percepção cultural. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), para melhor explicar a Proposta Triangular, utilizam-se de termos como fruição, reflexão e produção em arte, como três eixos norteadores. No próprio documento o termo fruição muitas vezes é substituído por “apreciação significativa”, para referir-se a ações como: observação, apreciação, deleite, percepção, identificação de elementos da linguagem visual entre outros que poderiam ser citados. A reflexão está vinculada ao processo de contextualização da imagem com a cultura, a história, a história da arte, a sociedade e a influência que exerce sobre os povos e como é possível que exista por si só. Já a produção não está vinculada a obrigatoriedade, muitas estratégias propõe a produção de imagens pelo aluno, mas, não é sempre que ela acontece, porém é o momento em que o aluno realiza a ação, experimenta, cria, desconstrói e reconstrói seu conhecimento em arte. Quanto à questão que envolve a opção pelo termo “leitura de imagem” em lugar de “fruição”, como aparece nos PCNs e RCN (Referencial Curricular Nacional), o Novo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1999), informa pontualmente que o termo “fruição”, tal como aparece no contexto dos PCNs e RCN, origina- se “do latim fruition” e significa “ação ou efeito de fruir; gozo, posse, usufruto”. O verbo de ação “fruir” (idem), por sua vez, origina-se da forma latina “fruere” e significa “estar na posse de; possuir, gozar, desfrutar”. A mesma fonte revela que o substantivo “leitura” (idem) origina-se “do latim medieval lecture”, significa “ato ou efeito de ler; arte ou modo de interpretar e fixar um texto de autor, segundo determinado critério”. Assim, a opção pela palavra leitura faz sentido, posto que pretende focalizar o processo de construção do leitor com base na ação desse mesmo leitor como decifrados do texto de um autor [...] reforçando, contudo [...] que, ao decifrar a mensagem do autor, estabelece relações significativas com a obra de arte pelas vias da operação da leitura (BUORO, 2003, p.30). A este respeito, pode-se afirmar que o conceito de leitura de imagem pode ser aplicado ao processo de decodificação e compreensão de expressões simbólicas e 5 formais que envolvem e ao mesmo tempo desenvolvem componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, neurológicos, tanto quanto econômicos ou culturais. É poder ampliar as possibilidades de leitura da realidade social de uma outra linguagem tão encantadora como a das Artes Visuais e sua expressão. O termo leitura de imagem começou a ser usado a partir da década de 80, partindo da Proposta Triangular. Segundo Rossi (2003), nem tudo o que lemos está escrito, podemos ler mapas, passos de dança, imagens, relógios, notas musicais. A leitura também seria possível no sentido metafórico e abstrato, tais como: ler o céu, as estrelas, a expressão no rosto humano, os gestos, as condições climáticas e até as intenções, podendo acrescentar a esta lista as obras de arte sem qualquer constrangimento. Decodificar signos e interpretar contextos, dar sentido ao que se olha, se vê. Assim, o termo leitura pode ser confundido com apreciação, fruição, percepção, recepção, acesso, apreensão, compreensão, atribuição de sentido. Todos servem para denotar o processo que o leitor vive na relação com a obra/imagem, seja na interatividade, na pintura,no museu ou na sala de aula, [...] (ROSSI, 2003, p. 19). O aluno aproxima-se da imagem, realiza a leitura, comunica-se com ela, reflete sobre a imagem, sobre a relação que estabelece entre ela e suas experiências de vida, até mesmo com a sua relação com outras pessoas. Estratégias de leitura de imagem e de mundo levam-no a enfrentar problemas e buscar soluções. De acordo com Buoro (2003), “Acrescente-se que o visual acaba por envolver o verbal e as crianças passam a produzir textos originais e saborosos, também em língua portuguesa”. O desenvolvimento da expressão oral tanto quanto a expressão gráfica, acontece com maior qualidade quando o aluno é provocado para ler todos os tipos de textos, desde os textos escritos como os textos implícitos apresentados por meio das imagens. Ao fruir uma imagem, alguma coisa deve se modificar e incrementar o repertório individual, permitindo que o aluno consiga informações, ressignificando seus conhecimentos. É importante respeitar as condições e a natureza da construção do 6 conhecimento estético do aluno para que a leitura de imagem possa ser significativa em sua vida e não se torne uma mera atividade escolar obrigatória. 2 3 ALFABETIZAÇÃO VISUAL Fonte: abc-da-leitura.blogspot.com Segundo Oliveira (2008, p.43) a ilustração está dividida em três gêneros fundamentais: informativo, persuasivo e narrativo. Estes gêneros assumem um aspecto didático e muitas vezes agem ao mesmo tempo, influenciando-se mutuamente, mas em termos conceituais têm comportamentos distintos. A ilustração informativa centraliza seus objetivos no conhecimento e na clareza de informações e não permite a ambiguidade de interpretações, por exemplo, as ilustrações científicas. A ilustração persuasiva é direcionada aos fenômenos de marketing e publicidade e, a ilustração narrativa está sempre associada a um texto, a uma história. É no segmento da ilustração narrativa que estão incluídas as imagens da Literatura Infantil, e é por esse segmento que se dá, prioritariamente, a formação do leitor no início dessa jornada. Portanto, é fundamental para o profissional da informação conhecer os processos de criação do ilustrador, os recursos por ele utilizados na elaboração da linguagem imagética: o alfabeto visual. 2 Texto extraído do link: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-importancia- leitura-na-educacao-infantil.htm 7 Os recursos da arte de ilustrar ajudam na elaboração de uma informação mais precisa, ou seja, procuram atrair o olhar do leitor para os pontos de maior relevância da narrativa. O ilustrador pode priorizar recursos como o enquadramento, a perspectiva, a composição, a distância, o ângulo, o ponto, a linha, a cor, o corte, a textura, e pode, de forma consciente, por meio da manipulação desses recursos, associar elementos da linguagem imagética evitando ou provocando significados ambíguos e fazer com que o leitor leia o significado desejado por ele. Entre os recursos constitutivos da ilustração, o uso da textura adiciona uma elegância à ilustração e enfatiza a perspectiva. A textura é o aspecto da trama e do entrelaçamento das fibras que constituem uma superfície. Ela pode dar uma ideia da iluminação, de definição dos contornos, acentuar os detalhes do objeto, dando-lhe diversas aparências, tais como: lisa, rugosa, esponjosa, aveludada, acetinada, felpuda, granulada, ondulada, entre outras. A textura permite criar zonas claro-escuras que ressaltam as imagens e dirigem o olhar do leitor e que se desloca pelo contraste. A linha também é um recurso muito explorado pelos ilustradores, pois traz uma possibilidade expressiva, principalmente no contorno das figuras. De acordo com Oliveira e Garcez (2004, p. 50), “a linha é uma marca contínua ou com uma aparência de contínua. Quando é traçada com a ajuda de qualquer instrumento sobre uma superfície, chama-se linha gráfica e é o sinal mais versátil, pois pode sugerir movimento e ritmo, comunicar sentimentos e sensações”. A difusão e o uso da cor na construção da imagem não se limitam apenas ao valor decorativo, tampouco ao meramente estético. A cor exerce tríplice ação: a de impressionar a retina, a de expressar sentimentos e a de construir, pois comunica ideias. A coloração não deve ser encarada apenas como um recurso, mas, acima de tudo, como um procedimento de linguagem e de expressão, e sua mensagem deve produzir sentido. Para Oliveira (2008, p. 50) “a cor é um dos elementos constitutivos da imagem narrativa que possui o maior poder emotivo e evocativo”. Luz e sombra são recursos que caminham juntos na composição de um cenário. Quando o ilustrador opta por este recurso, faz perceber também o volume. O olho percebe fundamentalmente a luz e, por consequência, as sombras que a luz projeta. Quando o objeto está exposto à luz, tem partes iluminadas e partes que ficam à sombra, e projeta sua sombra na superfície em que está colocado. Conforme 8 Oliveira e Garcez (2004, p. 64), o contraste entre luz e sombra é chamado de efeito claro-escuro e sempre que se muda a fonte luminosa, automaticamente há uma mudança na sombra: “Um mesmo objeto exposto à luz do meio-dia, ou à luz do fim da tarde, ou à luz de uma vela ou de uma lâmpada pode ser percebido com aspectos diferentes”. A perspectiva é a arte de representar a imagem tal qual ela se apresenta na realidade, num plano, vista a certa distância e numa dada posição, ou seja, permite uma figuração do real similar ao observado pelo olhar. A perspectiva pode trazer a sensação de longe ou de perto, de movimento, de velocidade, de altura, de diferentes ângulos, de cima para baixo, de baixo para cima, entre outros. Ostrower (1996, p.104) define perspectiva como “um sistema de representação do espaço” As figuras de objetos são projetadas sobre uma superfície e ocupam em planos superpostos determinadas posições que as aproximam ou as distanciam. A composição é a combinação dos recursos ou elementos do alfabeto visual: cor, luz e sombra, textura, perspectiva, linha, enquadramento, entre outros. Quando o projeto gráfico é bem elaborado, a composição possibilita um resultado estético perfeito, provoca um efeito final com ritmo próprio, movimento e harmonia. A composição também é uma forma de ordenar as partes ou elementos de uma ilustração, ou seja, é o arranjo de formas e espaços dentro do formato. Embora muitos autores centralize a alfabetização visual no emprego desses recursos, pode-se afirmar que vários outros aspectos devem ser analisados quando se trata de formação – educação para leitura da imagem – e que de um modo geral está sintetizado na ideia de alfabetização visual. Portanto, entre muitos outros estudos sobre a leitura, é fundamental discorrer sobre o seu aspecto cognitivo. 9 4 ASPECTOS COGNITIVOS DA LEITURA DE IMAGENS Fonte: revistaeducacao.com.br Normalmente, a ideia gerada quando se fala em leitura é de uma pessoa lendo um livro, jornal, carta ou qualquer outro tipo de suporte com códigos gráficos, ou seja, letras. Mas, o texto escrito não é uma exclusividade de leitura. Pouco se imagina a leitura a outros formatos, como, por exemplo, a leitura de um espetáculo musical, teatral; ou a leitura de uma paisagem, de uma obra de arquitetura, um anúncio publicitário, um outdoor, um videoclipe. Estas podem ser consideradas como “leituras de mundo”, do que é ocasional, espontâneo, que parece não depender de uma necessidade cognitiva. A aptidão para ler com proficiência, seja qualquer tipo de texto, com linguagem verbal ou não verbal, é a mais significativa indicação de apreensão do conhecimento. Ler com proficiência significa ser capaz de discernir os signos que estão inscritos no interior de um texto e de correlacionar tais signos com outros, criados e disseminados no meiosocial. Na medida em que essa leitura é desenvolvida, o leitor torna-se capaz de assimilar os significados das vozes que se manifestam nos diferentes textos e expressar seu conhecimento com a sua própria voz. O texto verbal e o das imagens são fontes de informação diferentes e dependem de habilidades diferentes no ato de leitura. Enquanto a leitura do texto verbal é linear, progressiva e se dá numa ordem pré-estabelecida, da esquerda para 10 direita e de cima para baixo, a leitura de imagens é descritiva e não possui uma ordem estabelecida. Entretanto, considerando as diferenças e mesmo não obedecendo a uma estrutura fixa, pode-se afirmar que, de um modo geral, a leitura de imagens apresenta algumas características cognitivas em comum com a leitura verbal. Como propõe Leffa (1996), ler é extrair significado do texto – e a imagem é um texto – e sua efetiva contribuição poderá ser medida após o término da leitura. Quando Leffa (1996) argumenta que ler é extrair significado do texto, entende- se que extrair não é transferir o conteúdo para o leitor, mas, antes, reproduz-se o significado no leitor como se fosse um espelho daquilo que já existe. O significado não está exclusivamente no texto, mas, também, no conhecimento já adquirido pelo leitor, pois a qualidade do ato de leitura não é mensurada pela qualidade contida no texto, mas pela qualidade da reação do leitor. Então, texto e leitor reagem entre si, para buscar o processo da compreensão. Giasson (1993, p. 21), além do texto e conhecimento do leitor, acrescenta um outro elemento no processo de compreensão, que é o contexto. Pois, para Giasson (1993, p. 21), a leitura é um processo interativo entre esses três elementos: texto, leitor e contexto. De um lado, está o leitor, com o seu contexto e seus objetivos de leitura e, de outro, o texto, com o contexto e os objetivos do autor. Portanto, pode-se considerar a leitura um ato social quando compreendida no processo de comunicação entre o autor e o leitor, intermediado pelo texto. A figura a seguir representa o modelo idealizado por Giasson (1993) com a interação entre os elementos que constituem a leitura. Fonte: iskoiberico.org 11 Nesse modelo, o leitor corresponde às estruturas que se referem ao que ele é, seus conhecimentos e suas atitudes. Os processos são as estratégias de leitura que o leitor utiliza e as suas habilidades desenvolvidas para essa ação. O texto é o material a ser lido e agrega a intenção do autor, a estrutura e o conteúdo. O autor determina o que quer transmitir e como vai fazê-lo; ele determina cada um dos aspectos ao organizar suas ideias. O contexto corresponde aos elementos externos, que podem influenciar na compreensão da leitura; são eles: o contexto psicológico do leitor, sua intenção de leitura, seu interesse e envolvimento pelo texto; o contexto social, que está associado às intervenções das pessoas que estão ao redor do leitor; e o contexto físico, que diz respeito, por exemplo, ao tempo disponível, ao ambiente e à disposição física do leitor. Nesse sentido, pode-se afirmar que qualquer processo de leitura se dá a partir da interação das três variáveis: o leitor com sua bagagem de experiências, o texto expresso pelas ideias do autor e o contexto em que o leitor está inserido. Ler é relacionar cada texto lido, ou seja, letras, imagem, sons etc., aos textos lidos anteriormente para reconhecê-los, processá-los, assimilá-los e os significar. A leitura é uma prática de interação por meio da linguagem, onde a construção de sentidos e significados vai sendo edificada ao longo do próprio processo de desvendar o texto. No entanto, a leitura não será plena se houver problemas na relação entre as variáveis leitor/texto/ contexto; por exemplo, quando o texto utilizado não corresponde ao nível de habilidade do leitor ou quando o leitor lê um texto que não está no seu nível ou, ainda, quando o contexto da leitura não é adequado. A leitura de imagens, por exemplo, pode ser o ponto de partida para o aprendizado e aperfeiçoamento do processo leitura em qualquer suporte, pois ela possibilita a reflexão e construção do conhecimento de forma lúdica. Considerando que as imagens desenvolvem a memória visual do leitor, na leitura de livros infantis, recheados de ilustrações, a criança preenche significados e recria o mundo através do conhecimento e da emoção. Segundo Piaget (1975), o desenvolvimento cognitivo está atrelado à capacidade de criar símbolos, a qual depende da imitação, da releitura, do jogo, do sonho, da representação. Nos primeiros anos de vida, as crianças estão em plena fase do jogo simbólico e o estímulo à leitura de imagens em livros infantis é um importante aliado ao desenvolvimento cognitivo, pois ativa a função simbólica, o 12 imaginário, ordenação do olhar, a linguagem, a compreensão do mundo através do faz-de-conta. Aplicando-se a obra de arte, Parsons (1992) afirma que a criança passa por diversos estágios na leitura e sua interpretação acerca das imagens vai se aperfeiçoando. O leitor iniciante, ao observar uma imagem, centra-se em seus elementos isoladamente, sem a preocupação em estabelecer uma relação entre eles, apenas é capaz de identifica-los, observa-los e os enumera. Essa observação leva-o a expressar sobre algo que a imagem lhe trouxe na lembrança, mesmo quando esse ato não esteja claramente relacionado à imagem observada. Contextualizando as observações de Parsons (1992) e aplicando-as na leitura de imagens, pode-se afirmar que essas reações estão relacionadas a categoria semiótica que Peirce (2000) denomina de primeiridade. O leitor iniciante, no estágio da categoria de primeiridade, tem como característica a leitura egocêntrica, que considera apenas o próprio ponto de vista, seu próprio interesse. Seu juízo de valor sobre a imagem baseia-se nas suas emoções, nas suas relações afetivas e nas suas poucas experiências. É comum que esse leitor estabeleça como prioridades e como elementos mais importantes de uma imagem o tema e a cor, sem qualquer preocupação com o conteúdo, desde que tenha cores luminosas, nítidas e abundantes. Para exemplificar, ao observar a Ilustração, a seguir, o leitor no estágio da categoria de primeiridade, atenta apenas para as cores vibrantes da imagem e para o fato de apresentar uma cena de crianças que brincam, o que está relacionado aos seus interesses, a algo que lhe é peculiar. Fonte: iskoiberico.org 13 Quando o leitor passa a fazer relações diádicas, analítico-comparativas, demonstra que ele atingiu um novo estágio, denominada por Pierce (2000) de secundidade. Observa-se que nesse estágio o leitor é capaz de fazer comparações das ilustrações do livro infantil. Na medida em que o grau de interação com o mundo e também com as imagens é estimulado, desenvolve-se a capacidade de distinguir diferenças, explorar e descobrir outras formas na expressão de preferências. No entanto, o leitor, nesse estágio, desconhece o ponto de vista do outro e não percebe variados pontos relevantes para a comparação; qualquer memória ou associação é permitida, mesmo que não tenha relevância para a obra a apreciar. Dessa forma, ao observar a Ilustração acima, o leitor seria capaz de identificar, por exemplo, a origem dos personagens e suas condições econômicas (a partir do vestuário e local escolhido para brincar). Poderia ainda, identificar a lata d‘água como um recurso utilizado pelas comunidades oriundas do estado do Nordeste do Brasil para o transporte de água. O estágio de leitura desejado é o da categoria que Peirce (2000) define de terceiridade, que corresponde as relações de percepção, comparação e conclusão da cena vista no livro. A leitura do texto escrito, das palavras, também é um fenômeno da terceiridade. É preciso considerar que a evolução nos estágios de leitura de imagens tem poucoa ver com a idade cronológica e sim com as experiências de leitura de cada leitor; está relacionada à frequência com que este se relaciona com a imagem, com o seu meio cultural e se há uma mediação que provoque leituras cada vez mais aprofundadas. Portanto, na Ilustração acima, o leitor narra a cena vista e é capaz de evidenciar fatos reais como a pobreza e o sofrimento das crianças pela falta de água na região Nordeste do Brasil. O leitor constrói o conhecimento, pois é capaz de perceber, comparar e elaborar a narrativa da ilustração, a partir de experiências anteriores e das que recebe no momento de apreciação/ leitura. Então, a leitura da Ilustração acima pode retratar, por exemplo, uma brincadeira em que as crianças, agachadas à beira do açude, estão prontas para depositar na água os seus barcos e parecem confiantes na viagem que os barcos irão fazer. Os barcos podem ter a representação dos seus sonhos, da busca de novos horizontes. A água, num tom de verde mais escuro, revela a pouca profundidade, é a seca que assola a região. As latas d‘água indicam que após 14 a brincadeira eles têm a responsabilidade de transportar a água, este é um oficio comum para as crianças da região que caminham longas distâncias, sob um forte sol em busca de sustento. Analisando os estudos da semiose da leitura com relação à análise da imagem Penn (2002, p. 322) realça a diferença entre a linguagem verbal e a linguagem imagética: “tanto na linguagem escrita como na falada, os signos aparecerem sequencialmente. Nas imagens, contudo, os signos estão presentes simultaneamente. Suas relações sintagmáticas são espaciais e não temporais”. A imagem pode ser portadora de várias mensagens simultaneamente. Na imagem parada – ressaltando a ilustração do livro infantil – há a questão da motivação que está entre os diferentes desníveis de significação que podem ser denotativos e conotativos. A denotativa, ou primeiro nível, é literal ou motivada, o leitor necessita apenas de conhecimentos linguísticos e antropológicos. A conotativa, ou de segundo nível, é codificada, requer do leitor um determinado saber cultural. A partir dessas concepções, Penn (2002, p. 325) estabelece a ocupação do semiólogo na leitura da imagem: A tarefa do semiólogo é desmistificar, ou ―desmascarar‖ esse processo de naturalização, chamando a atenção para a natureza construída da imagem, por exemplo, identificando os conhecimentos culturais que estão implicitamente referidos pela imagem ou contrastando os signos escolhidos com outros elementos de seus conjuntos paradigmáticos. O profissional da informação, ao exercer a função de mediador de leitura, necessita impor para si as tarefas do semiólogo, que objetiva tornar explícitos os conhecimentos culturais necessários para que o leitor compreenda a imagem.3 3 Texto extraído do link: http://www.iskoiberico.org/wp-content/uploads/2014/09/318-330_Bernardes-Carneiro.pdf 15 5 O QUE É LEITURA DE IMAGEM Fonte: universodosleitores.com A criança quando chega à escola já traz a sua leitura de mundo, pois ela tem um conhecimento prévio influenciado pela família, na qual foi colocada diante de imagens que devem ser decifradas. Por exemplo, ao assistir televisão, ela toma uma posição diante do que está vendo; quando sai à rua, vê-se diante de carros, placas e pessoas que oferecem várias informações que, querendo ou não, acaba absorvendo. “Sabe-se hoje que a criança, quando chega à escola, já é uma entusiasta e experiente leitora do mundo. Ela começa desde cedo a observar, atribuir significados aos seres e às situações do mundo à sua volta” (CUNHA, 2012, p. 127). Assim, é através das imagens que as crianças conseguem entender o mundo em que vivem e conseguem se comunicar. Não somente as crianças, mas também os adultos, diariamente, são colocados em contato com esses signos que fazem parte do cotidiano das pessoas. Como assinala Barbosa, Em nossa vida diária, estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, ideias, conceitos, comportamentos, slogans políticos, etc. Como resultado de nossa incapacidade de ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente. A educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças conscientes da produção humana de alta qualidade são formas de prepará-las para compreender e avaliar todo tipo de imagem, conscientizando-as de que estão aprendendo com essas imagens (BARBOSA, 1998, p. 17). Desse modo, por estarem sempre em contato com as imagens em seu dia a dia, as crianças possuem uma carga de conhecimento prévio já inserido em sua 16 mente, que faz a diferença quando elas são colocadas diante de imagens que precisam ser lidas. Isso significa que cada criança vai entender a imagem a partir de sua vivência, explicando-a partindo das suas poucas experiências, e assim nenhuma leitura será parecida, pois “O significado está relacionado ao sentido que se dá à situação, ou seja, às relações que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo”, segundo Barbosa (2008, p. 73). Então, para que o professor possa entender como o aluno se relaciona com a imagem apresentada ou até mesmo o que o leva a imaginar o que está vendo de uma forma toda particular, primeiro precisa entender o que tem por trás do conhecimento que aquele aluno possui. Às vezes a mesma leitura que faz em um dia se torna diferente se for feita no dia seguinte ou semanas depois, pois depende muito do momento vivido pelo leitor. Confirmado por Pillar na citação seguinte: O observável tem sempre a marca do conhecimento, da imaginação de quem observa, ou seja, depende das coordenações do sujeito, das estruturas mentais que ele possui no momento, as quais podem modificar os dados. Assim, duas pessoas podem ler uma mesma realidade e chegar a conclusões bem diferentes. Isso porque, o que o sujeito apreende em relação ao objeto depende dos instrumentos de registro, das estruturas mentais, das estruturas orgânicas específicas para o ato de conhecer, disponíveis naquele momento (PILLAR, 2006, p. 13). Assim, a leitura vai muito além da simples figura colocada para que o aluno faça a observação do que está vendo. Ela é a leitura de mundo que aquele discente possui, a mistura de sua vivência pessoal e do que o autor da figura, desenho, foto ou pintura quer passar para quem vai apreciar o que está ao alcance de seus olhos. Por conseguinte, a imagem insere o aluno no mundo da leitura, pois “Podemos passar a chamar de leitor não apenas aquele que lê livros, mas também o que lê imagens”, conforme Santaella (2012, p. 9). O uso da imaginação faz as crianças buscarem o conhecimento guardado em sua mente, dando ferramentas para que tenham opiniões e atitudes próprias, tornando-se capazes de construir conhecimento através da releitura que fazem do mundo à sua volta. Desse modo, apreciação das imagens nas escolas vem através das artes visuais ante as quais o aluno é colocado para observar as várias maneiras que as imagens se apresentam e como é feito o contato com cada uma delas, e através delas. Ele pode se expressar. As artes visuais, além das formas tradicionais — pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, objetos, cerâmica, cestaria, entalhe —, incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas do século XX: fotografia, moda, artes 17 gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia, desenho industrial, arte em computador. Cada uma dessas modalidades artísticas tem a sua particularidade e é utilizada em várias possibilidades de combinações entre elas, por intermédio das quais os alunos podem expressar-se e comunicar-se entre si e com outras pessoas de diferentesmaneiras (BRASIL, 1998, p. 63). Logo, vemos que a leitura de imagens traz muitas possibilidades para que o aluno use o seu imaginário e sinta prazer na busca do conhecimento. Esse é o primeiro momento em que o aluno se vê cara a cara com a leitura e deve ser muito prazeroso e estimulante, tanto para o aluno como para o professor, para que, a partir desse contato, veja na leitura algo bom; assim vai ser construído o vínculo entre a criança e a leitura. Desse modo, o uso de todos os códigos e signos que o aluno faz durante o processo de decodificação de imagens é o passo inicial para que ele aprenda a dar significado às várias cenas do dia a dia, mas o fato de o aluno ainda não saber ler palavras não quer dizer que ele não tenha práticas leitoras: “[...] A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente”, afirma Freire (2002, p. 11). Contudo, para que algo se transforme em informação escrita, primeiro deve ganhar sentido na mente, através de imagens, e aí então é que essas cenas se transformam em ideias, conduzindo a pessoa a colocá-las em prática: assim, tudo começa pelo imaginário, a escrita nada mais é que a interpretação feita pelos alunos das imagens que lhe são apresentadas.4 4 Texto extraído do link: http://www.construirnoticias.com.br/a-leitura-de-imagem-no-processo-de-ensino- aprendizagem-da-educacao-infantil/ 18 6 A LEITURA DE IMAGEM E A EDUCAÇÃO INFANTIL Fonte: canaldoensino.com.br Na Educação Infantil, é fundamental que se trabalhe a leitura por meio de diversas formas de linguagens, verbais e não-verbais, pois elas são necessárias para se entender a realidade ao redor. Assim, permite-se que alunos experimentem sentimentos e, ao mesmo tempo, absorvam comportamentos, traduzindo-os em conhecimentos práticos. De acordo com Bassedas, Huguet e Sole (1999, p. 76): [...] as linguagens servem para representar a realidade, para podermos criar, comunicar-nos e divertirmo-nos. É por isso que a experiência com as linguagens pode possibilitar as crianças situações em que elas possam desfrutar: é preciso que lhes pareça interessante saber como escrevemos as palavras; é preciso ter interesse em usar os números para contar; é preciso que se divirtam com as caretas e palhaçadas; é preciso que desfrutem desenhando o brinquedo que lhes agrade, etc. [...] Portanto, é objetivo da Educação Infantil que, ao final da etapa, as crianças tenham os instrumentos de comunicação, expressão e representação necessários para poderem compreender, criar e atuar no mundo que as envolve. Assim, a leitura de imagens precisa fazer parte do período de alfabetização, como recurso pedagógico, uma vez que possibilita à criança um olhar questionador, criativo e crítico. Como exemplo, o grafismo é o meio pelo qual a criança manifesta sua expressão e visão de mundo, conforme o nível de desenvolvimento psíquico infantil que é variável a cada criança. Segundo experiências de Ferrero e Teberosky (1999), as crianças foram confrontadas com imagens e supostas combinações de símbolos 19 gráficos, nem sempre lógicas, para que as mesmas, ainda não alfabetizadas, identificassem se aquilo seria ou não passível de ser lido. Estas comprovaram que não dominar a leitura não é obstáculo para o entendimento de um texto, pois esse pode ser construído mentalmente por meio das imagens. De acordo com Hernández (2000), o papel do professor não é de um simples transmissor de atividades, mas de um instigador de opiniões e conclusões após o manuseio de imagens, um mediador do entendimento das representações do universo visual. Para Almeida Júnior (2000), a participação da criança em atividades que coloquem em prática a ação de fazer perguntas às imagens e refletir sobre elas, desenvolve a capacidade crítica e a cognição. Assim, o educador deve “[...] desenvolver metodologias de aprendizagem e leitura na direção de uma lógica da simulação: congelando uma ou mais imagens para um mergulho, ao mesmo tempo apreciativo e analítico, emocional e lógico [...]” (ALMEIDA JÚNIOR, 2000, p. 20). Com vistas à prática docente, o professor deve adquirir ainda em sua for- mação o hábito de ler imagens, a fim de que se torne um formador de leitores de imagens. De outra forma, continuará a perpetuar o ensino tradicional, no qual os alunos aprendem de modo fragmentado e descontextualizado. Almeida Júnior (2000, p. 15) ressalta que: [...] não basta apenas a boa vontade do docente, o professor precisa receber fundamentação teórica e prática para formar o leitor de imagens, uma vez que “ninguém facilita o desenvolvimento daquilo que não domina, nem promove a aprendizagem de algo que não teve a oportunidade de conhecer. Devido ao aspecto histórico e interdisciplinar das imagens, podem-se abordar diversos temas como desigualdades sociais, sociedades e culturas que fazem parte da vida diária das crianças. 20 7 A LEITURA DE IMAGENS E A CULTURA VISUAL Fonte: ceale.fae.ufmg.br Hernández (2000) entende que o campo de estudo das imagens é móvel, pois a cada dia se incorporam novos aspectos relacionados tanto às representações quanto aos elementos visuais. Nessa perspectiva, não há receptores nem leitores, mas sim construtores e intérpretes, na medida em que a aproximação não é passiva nem dependente, mas interativa e condizente com as experiências que cada sujeito. Por isso, as representações que as crianças constroem da realidade a partir das suas características sociais, culturais e históricas, impulsiona a compreensão da própria vivência. Assim, um trabalho na linha da compreensão crítica da cultura visual “[...] não pode ficar à margem de uma reflexão mais ampla sobre o papel da escola e dos sujeitos pedagógicos nesses tempos de mudança” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 3). Os docentes devem estar atentos ao que se passa no mundo, nos saberes e na sociedade, respondendo com propostas que possibilitam ao aluno compreensão, atuação e desenvolvimento de sua aprendizagem. Esse tipo de abordagem requer uma mudança na forma de como se organiza tradicionalmente o conhecimento escolar. Nesta, os professores precisam identificar os objetos da leitura de imagens do grupo, ou seja, imagens que estão nas capas de cadernos e pastas dos alunos, suas roupas, programas de televisão que assistem, revistas que leem, desenhos animados e jogos preferidos. 21 Gastaminza (2002 apud SARDELICH, 2006) afirma que uma leitura inteligente da imagem requer do leitor algumas competências como: reconhecer formas visuais que reproduzem ou não algo que existe na realidade; estabelecer uma sequência narrativa entre elementos que aparecem na imagem e/ou elementos de informação complementar (título, data, local); atribuir sentido estético à composição; identificar personagens, situações, contextos e conotações; atribuir um tema que poderá contrapor-se ou coincidir com as informações complementares. É nesse sentido que se considera a leitura de imagens como um mecanismo educativo. Sob o aspecto das sensações provocadas pelas imagens, estas, além de informar, provocam emoções, sentimentos e sensações (COLL; TEBEROSKY, 2004). As crianças expressam mais espontaneamente seus sentimentos quando tomam como base figuras e imagens, o que facilita a comunicação e o registro de suas impressões. Manguel (2001) afirma que nenhuma narrativa suscitada por uma imagem é definitiva, exclusiva, pois o que se vê é sempre a imagem traduzida nos termos da nossa própria experiência. Propõe uma leitura que parta das emoções do leitor, de como estas afetam e são afetadas pela leitura das imagens. Estas imagens, por se tratarem de símbolos, tornam-se muitas vezes mais compreendidas que as palavras. Assim, “[...]são capazes de veicular conceitos, gerar reflexão e didatizar o conhecimento” (MARTINS, 2002, p. 137). É muito ampla a variedade imagética disponível para o cotidiano escolar. Neste caso, permite-se enriquecer com imagens significativas todo e qualquer assunto a ser trabalhado em sala de aula, suscitando curiosidade e criatividade. 22 8 A LEITURA DE IMAGENS E O LIVRO DIDÁTICO Fonte: br.freepik.com Apesar de os livros didáticos atuais estarem repletos de imagens, percebe-se que não há uma preparação, tanto do aluno quanto do professor, para a leitura destas que, na maioria das vezes, são exploradas superficialmente, como signos desconhecidos (BELMIRO, 2000). São tratadas no contexto escolar como uma simples ilustração do texto verbal ou ornamentação das páginas do livro. Muitos professores demonstram dificuldades de trabalhar as imagens dos livros, não relacionando conceito com realidade prática, deixando-o fora da relação escrita/imagem e do ato da leitura (BARZOTTO; GHILARDI, 1999). Entende-se que a imagem propriamente dita, que ilustra textos verbais, é aquela construída pelo leitor quando se realiza a leitura. Para Walty, Fonseca e Cury (2006, p. 36): Livros e leituras se constroem, pois, ora como imagens, ora como o objeto físico de prazer, mas sempre como promessa de viagens. Observe-se, pois, que ao relatar a história do livro, seu processo de produção e recepção, esboçamos também imagens da leitura, do processo de leitura e seus componentes. Para as autoras, ao se ler um texto escrito ou imagético, criam-se novas imagens. Sendo assim, uma boa exploração de imagens no livro didático aperfeiçoa a absorção de conteúdos, além de torná-lo interessante. 23 Diante do despreparo de professores e alunos em relação à leitura de textos não-verbais, a escola atual tem que assumir, ao lado da alfabetização verbal, a alfabetização visual. Esta deve preparar o aluno para a compreensão da gramática visual, imagens que estão diuturnamente à sua volta. Para Belmiro (2000, p. 16): O uso do termo alfabetização visual vem contemplar as práticas de aprendizagem da convenção para a leitura de imagens: enquadramento, distância, ângulo, corte, cor, textura etc. Este é um aspecto da relação teoria/prática que deve ser amplamente discutido nos centros de produção de conhecimento a respeito da imagem na educação, tal a importância das imagens, tanto em instâncias públicas quanto privadas do cotidiano social. Nesse sentido, metodologias de ensino que promovam a alfabetização visual nos dias atuais fazem-se necessárias, pois capacitam o aluno a ler imagens. Este alfabetismo permite ao aluno domínio de seus próprios desejos, valorização de sua natureza e os transforma em observadores menos passivos, menos condicionados. Ao saber ler uma imagem, o aluno sensibiliza-se para o fato de que ele é o destinatário da mensagem que muitas vezes pretende impor a ele valores, ideias e comportamentos que não escolheu. Segundo Martins (2002, p. 28), “[...] a imagem nos domina porque não conhecemos a gramática visual nem exercitamos o pensamento visual para descobrir os sistemas de significações próprios da visualidade”. Por isso, o processo de educação para a leitura de imagens em livros didáticos gera um desafio ao educador moderno. Ler a imagem, construindo um texto verbal? Ou ler um texto verbal, construindo imagens? Eis um desafio que se corporifica neste mundo, marcado pela proliferação das imagens, que continuamente nos bombardeiam: outdoors, noticiários, propagandas, multimídia. Da fotografia que se pretende fiel ao fato que busca documentar, à realidade virtual criada pelos computadores, tudo se faz imagem (WALTY; FONSECA; CURY, 2006, p.89). Deste modo, tanto a análise de imagens quanto o estudo da prática de leitura da imagem em livros didáticos necessitam explicitar as mediações sociais referidas ao contexto que as originou. 24 9 APLICAÇÃO DA LEITURA DE IMAGENS Fonte: poetaelmar.blogspot.com A diversidade de fontes imagéticas permite ao professor opções para desenvolver a criatividade e a interpretação crítica dos alunos, desde simples gravuras a imagens produzidas por computadores. Sendo assim, o educador pode trabalhar de modo diversificado, com atividades inovadoras e prazerosas aos educandos. Para Santaella e Nöth (1998, p. 15), “Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso ambiente visual”. O uso de imagens em movimento, como em filmes ou desenhos, e na própria programação da TV, pode servir como introdução de um trabalho reflexivo com leitura de imagens. Para isso, de acordo com Monteiro e Batista (1998, p. 35), é o professor que “[...] define a escolha das imagens e o uso que dará a elas no processo pedagógico”, utilizando os audiovisuais como elementos motivadores de atividades, debates, explanação oral, sistematização escrita, fechamento do processo de trabalho, ilustração e complementação de informações já trabalhadas com outros meios. Portanto, é importante oferecer aos alunos os fundamentos necessários para uma leitura abrangente de mundo, na qual seja possível compreender o texto imagético, relacionando-o a questões postas em cada contexto histórico, em especial, àquelas de nosso próprio tempo e lugar (FREIRE, 1996). 25 A contextualização é um pressuposto necessário à leitura crítica da imagem. Thompson (1995) propõe que seja feita uma abordagem tanto do contexto do produtor como do leitor. Compreende que é importante analisar a distribuição e o consumo das imagens, para que se tenham condições de entendê-las, pois influenciam o cotidiano do homem. O contexto também passa por aquilo que o aluno vê: as informações que recebe em seu meio, o acompanhamento feito pela escola, as relações que estabelece entre as imagens, sua própria vivência e o cruzamento de informações que faz com outras imagens, vivências e culturas. De acordo com Barzotto e Ghilardi (1999), novas formas e suportes para a comunicação de textos, sons e imagens trazem a necessidade de uma redefinição dos paradigmas de informação e da aquisição de conhecimentos. Para Aumont (2004, p. 80), A imagem traz informações (visuais) sobre o mundo, que pode assim ser conhecido, inclusive em alguns de seus aspectos não-visuais. A natureza dessa informação varia [...] mas essa função geral de conhecimento foi também muito cedo atribuída às imagens. Desta forma, o caráter pedagógico da leitura da imagem em sala de aula reside em romper com a imagem estereotipada e de consumo, com a superficialidade e com a aparência, levando o aluno a se perceber como sujeito ativo na construção de sua aprendizagem. Neste sentido, Hernández (2000) sugere alguns critérios para a seleção das imagens, na perspectiva de ensino escolar. Para este autor, a leitura de imagens: [...] como campo de saberes permite conectar e relacionar para compreender e aprender, para transferir o universo visual de fora da escola (do aparelho de vídeo, dos videoclipes, das capas de CD, da publicidade, até a moda e o ciberespaço, etc.) com a aprendizagem de estratégias para decodificá-lo reinterpretá-lo e transformá-lo na escola. (HERNÁNDEZ, 2000, p. 136) A seleção de imagens por parte do professor deve atentar para algumas características como: [...] serem imagens inquietantes; estarem relacionadas com valores compartilhados em diferentes culturas; refletir as vozes da comunidade; estarem abertas às múltiplas interpretações; referirem-se à vida das pessoas; expressar valores estéticos; fazer com que o espectador pense; não serem fechadas; não serem apenas a expressão do narcisismo do artista; olhar para o futuro; não estarem obcecadas pela ideia de novidade. (HERNÁNDEZ, 2000, p. 140) 26 Hoje, vive-se um mundo repleto de imagens, por isso, é preciso reconhecer que a apropriação da leitura nãose limita à sala de aula, uma vez que o homem atual encontra-se imerso em uma estrutura que privilegia a leitura instantânea, apelativa, emocional e fundada no desejo de posse (VASCONCELOS; SARMENTO, 2007). Faz- se necessário refletir em torno das representações visuais, para ressignificar o trabalho que traz um novo referencial no processo de aquisição da leitura e da escrita, efetivando seu uso nas atividades educativas. Para Vasconcelos e Sarmento (2007), as imagens da infância e suas visibilidades histórica, social e cultural são vias de diálogo sobre o papel da cultura nesta fase e de como isso reflete no tratamento dado à criança da Educação Infantil. Desse modo, o professor pode formar uma prática de leitura de imagens em seus alunos que vise dar-lhes liberdade de expressão e produção artística cultural e interpretação própria do texto imagético. Segundo Machado (2003), “É dessa ação verbal e não verbal que emergem os conhecimentos que estamos categorizando como: conhecimentos objetivos, subjetivos e sociais do mundo vivido” (p. 19). Assim, toda a produção imagética feita ou não para a criança ficará armazenada em seu cognitivo que, dependendo da forma com que for conduzida, irá construir seus próprios conceitos, pensamentos e conhecimento. Em relação ao trabalho com letramento, Soares (2002, p. 69) demonstra que o uso de recursos deve ser irrestrito, pois dada a grande variedade de habilidades de leitura, elas devem ser aplicadas diferenciadamente a diversos tipos de materiais como literatura, livros didáticos, obras técnicas, dicionários, listas, enciclopédias, jornais, revistas, anúncios, cartas formais e informais, rótulos, sinalização urbana, receitas. Deste modo, a imagem pode impactar as pessoas, levando-as à reflexão. No contexto escolar, pode provocar o pensamento crítico nos alunos. Segundo Manguel (2001, p. 27): Quando lemos imagens - de qualquer tipo, sejam pintadas, esculpidas, fotografa - das edificadas ou encenadas -, atribuímos a elas o caráter temporal da narrativa. Ampliamos o que é limitado por uma moldura para uma antes e um depois e, por meio da arte de narrar histórias (sejam de amor ou de ódio), conferimos à imagem imutável uma vida infinita e inesgotável. 27 É importante observar que a leitura de imagens permite à criança, por meio da criação de sua própria história, relatar as vivências e experiências que já possui de leitura. Assim, os resultados que o desenvolvimento da leitura de imagens produzirá está intrinsecamente ligado com a vida em sociedade do aluno. De acordo com Walty, Fonseca e Cury (2006, p. 60): Imagens, sons, gestos, cores, expressões corporais tornam-se signos abertos à decodificação. Nesse sentido, reitere-se, que a recepção desses bens simbólicos pode ser vista como leitura, na medida em que todo recorte na rede de significações é considerado um texto. Pode-se, pois, ler o traçado de uma cidade, a moda, o corpo humano em suas várias posturas, um filme, um livro. [...] Dominando o maior número possível de códigos, o cidadão pode interferir ativamente na rede de significação cultural tanto como receptor, quanto como produtor. Na escola ou na sociedade, o processamento de relações que se dá no nível da produção também pode ocorrer no nível da recepção. Nesse sentido, as análises das imagens que são produzidas pelas crianças no ambiente escolar revelará outra face da educação visual e de como e até onde a leitura de imagens, enquanto recurso didático na Educação Infantil, medeia o processo de desenvolvimento cognitivo.5 10 AFINAL, COMO LER IMAGENS EM LIVROS INFANTIS? Fonte: canaldoensino.com.br 5 Texto extraído do link: http://seer.ufms.br/index.php/intm/article/view/2389/1511 28 Considerando a ilustração do livro infantil uma linguagem artística, algumas afirmações de estudiosos da arte contemplam as necessidades básicas para a leitura de imagens. Feldman (1970), por exemplo, afirma que para apreender a linguagem da arte é preciso desenvolver o conhecimento técnico, a crítica e a criação, assim como a dimensão social, cultural, criativa, psicológica, antropológica e histórica do homem. Para a apreensão do conhecimento, a proposta do autor é apresentada em etapas de leitura do objeto artístico, sendo elas: a descrição, a análise formal, a interpretação e o julgamento. Para a etapa da descrição a sugestão de leitura consiste em relacionar com detalhes os objetos e formas contidos na obra, descrevendo tudo o que se vê. Esse exercício ajuda o leitor a deter o olhar mais demoradamente e ao mesmo tempo descobrir detalhes que não haviam sido captados à primeira vista. Para a etapa da análise formal faz-se a descrição das relações entre os elementos formais da imagem a partir do contexto histórico-cultural, na possibilidade de desvendar os significados observando os modos como as formas estão dispostas, as relações de tamanho, localização das formas no espaço, a relação cor e textura, textura e superfície, espaço e volume, a relação de valores tonais, a relação luz- sombra, a qualidade da marca ou forma; descobrem-se as formas negativas, como também as qualidades emocionais e ideias transmitidas. Para a etapa da interpretação busca-se o significado da imagem, fazendo a relação das ideias com as sensações e sentimentos que são despertados ao se observar uma imagem. O que pode ser diferente em cada observador, que faz a sua interpretação de acordo com suas vivências e contexto social e temporal. Para a etapa do julgamento decide-se sobre o valor estético da obra de arte. É o momento de explicitar as razões por que a obra em estudo é boa ou ruim. É a decisão do observador sobre a qualidade de um objeto artístico, a partir do que foi lido e interpretado nas etapas anteriores. Oliveira (2008, p. 29) esclarece que “assim como existe uma sintaxe das palavras, existe também uma relativa sintaxe das imagens”, mas que para ler uma imagem não se deve adotar um método rígido, que avalie unicamente as questões estruturais como o ritmo, linha, cor, textura etc. E completa: “Não há uma gramática 29 das imagens, muito menos um manual, um receituário de qualidade”. No entanto, Oliveira (2008, p. 30) é pontual ao afirmar que “a leitura de imagem possui uma iniciação metodológica e que, acima de tudo, é uma aptidão adquirida; uma capacidade adestrada e cultivada”. Assim, a leitura se dá por camadas, níveis, que perpassam pelo repertório artístico e experiências estéticas do leitor. A leitura é sempre parcial, segmentada e particularizada. Mas, a leitura também obedece a uma coordenação de elementos plásticos que compõem uma ilustração e há elementos de leitura em sua estruturação interna e externa. As ilustrações em livros infantis possuem inter-relações com o texto, possuem qualidades configuracionais e estruturais que são explicáveis e analisáveis, proporcionando a criação de um processo flexível para leitura de imagens narrativas. Partindo desses pressupostos, o modelo de Penn (2002) para o roteiro da Análise Semiótica de Imagens Parada, foi adaptado e aplicado na leitura de imagens em livros infantis. Penn (2002) sugere quatro estágios na análise da imagem. O primeiro estágio consiste na escolha do material; o segundo estágio, no inventário denotativo das imagens; o terceiro estágio, no inventário conotativo, análise de níveis de significação mais altos; e, o quarto estágio, na elaboração do relatório. Dessa forma, o Roteiro para a Leitura de Imagens em Livros Infantis a seguir, serve de instrumento de análise e leitura no qual o profissional da informação pode-se amparar. Fonte: iskoiberico.org No primeiro estágio, o profissional da informação faz a seleção do material a ser lido. Vale ressaltar que nem todos os livros editados para crianças possuem 30 excelência nosentido de potencial de leitura imagética. Há, muitas vezes, livros de capa dura e boa encadernação, e com textos e ilustrações pobres. Nem sempre o investimento com a apresentação do livro, sua materialidade, representam uma obra de qualidade literária. É muito importante que o profissional da informação faça uma investigação antes de iniciar uma atividade de leitura. Basicamente, na escolha do material, valoriza-se o conjunto: texto, ilustração e projeto gráfico. No entanto, esta seleção implica também na avaliação criteriosa do título, do autor, da editora, do ano de publicação, dos prêmios recebidos e características físicas do livro. O segundo estágio, de inventário denotativo das imagens, visa identificar os elementos que constituem a imagem, listando sistematicamente. Segundo Penn (2002, p. 326), “a abordagem sistemática ajuda a assegurar que a análise não seja seletivamente auto afirmativa”. No inventário denotativo, o profissional da informação conduz o leitor a fazer a catalogação no sentido literal da imagem a partir dos seus conhecimentos das linguagens escrita e falada. Esse estágio compreende a listagem dos elementos textuais e linguísticos e dos elementos visuais da imagem. O terceiro estágio objetiva fazer um inventário conotativo a partir do inventário denotativo, buscando significados correspondentes de níveis de significação mais altos. A relação de significação entre o signo e o conceito que ele representa pode ser objetiva ou subjetiva – ou seja, pode ser denotativa ou conotativa. Portanto, a tarefa do profissional da informação consiste em ajudar o leitor a fazer associações, relacionar os elementos da ilustração, fazer as correspondências internas, verificar os contrastes etc. No âmbito da conotação, o leitor/analista necessita de conhecimentos culturais para ir além da interpretação da imagem. Há de se considerar ainda, a leitura dos signos, de acordo com a sua tipologia e para isso são feitas as leituras: icônica ou de imagens, indicial ou de indícios, simbólica ou de símbolos. A leitura icônica é a mais imediata e evidente, pois o ícone – representante – tem uma semelhança com o representado. A ilustração de um gato associa ao animal gato e tem semelhança com ele. Um retrato de uma casa permite a leitura de reconhecimento de uma casa. O ícone, pela semelhança com o referente, cultiva seu significado mesmo tendo uma distância do objeto representado. As ilustrações dos 31 livros infantis, geralmente, são criadas a partir de representações por meio de ícones, que apresentam o objeto no todo ou em parte. A leitura indicial busca um possível relacionamento direto ou próximo do representante com o representado. São marcadas por pistas nas ilustrações que denunciam uma ligação com o objeto. O uso de índices pode ser, por exemplo, a ilustração de pegadas de um animal, indicando que por ali ele passou, a posição do sol para sinalizar o amanhecer ou o entardecer, o uso da perspectiva para indicar a distância entre os objetos, as expressões faciais de um personagem que denotam um determinado sentimento. A leitura simbólica é complexa por não existir uma ligação real entre o representante e o representado. Exige-se uma convenção para que seja lida. É preciso conhecer o código; como exemplos, as próprias letras impressas no livro e a ilustração de um personagem com o dedo indicador na boca sinalizando o silêncio. No entanto, observa-se que um único signo pode ser ao mesmo tempo ícone e índice, ou ícone e símbolo, ou índice e símbolo, ou os três simultaneamente. Um retrato que é tipicamente um ícone pode apresentar índices e símbolos: por exemplo, a representação de uma casa com chaminé de onde sai uma fumaça traz o indício de que dentro dela há uma lareira acesa, com fogo. Essa imagem pode estar simbolizando uma região durante o inverno. Assim, encontram-se, nas ilustrações dos livros infantis, ícones, índices e símbolos, que conferem ao livro, além do seu valor estético, uma pausa necessária para o devaneio e, consequentemente, para a organização do pensamento. De acordo com o nível de leitura do leitor, essa pausa leva à construção da informação. Portanto, a leitura de níveis mais altos de significação refere-se às associações trazidas à mente no ato da leitura e as relações entre os elementos da imagem. O âmbito da conotação exige conhecimentos culturais específicos para ir além da interpretação denotativa, que leva à simples listagem dos elementos que compõem a imagem. Contudo, Penn (2002, p.331) conclui que “o processo de análise nunca se exaure e, por conseguinte, nunca está completo”, há sempre uma nova forma de ler uma imagem e, para fins práticos, o analista declara a análise terminada a certa altura. 32 O quarto estágio corresponde à apresentação dos resultados de análises semióticas. O ideal é fazer referências a cada nível de significação, identificando tanto no texto como na imagem, denotação e conotação, e o conhecimento cultural exigido a fim de produzir a leitura. Nos livros de Literatura Infantil com texto escrito, a coerência das imagens com o texto é fundamental. No entanto, procura-se detectar se há uso criativo das figuras de linguagem, como metáforas visuais, a metonímia – um objeto retratado por uma das partes – e a personificação – atribuir vida a coisas inanimadas. Nesse estágio, deve-se observar se a obra como um todo expressa sentimentos. Oliveira e Garcez (2004, p. 40) sugerem que “não é suficiente ver, é preciso perceber por meio da sensibilidade e intuição” e, então, lançar mão da memória para trazer o conhecimento acerca do tema ou assunto que apresente semelhanças com o objeto em análise. Além disso, é preciso ter uma base prévia de informações, permitindo saber quais são as partes componentes do objeto analisado para, em seguida, decompô-lo no processo de análise. Penn (2002, p. 334) pondera que a leitura da imagem traz a subjetividade como característica de leituras idiossincráticas e culturalmente partilhadas: “Algumas leituras, tanto denotativas como conotativas, serão mais ou menos universais, enquanto outras serão mais idiossincráticas”. Portanto, a imagem limita o potencial de leitura do semiólogo. “O que será mais importante para o analista não é o idiossincrático, mas as associações e os mitos culturalmente partilhados que os leitores empregam” (Penn, 2002, p. 334). A descrição dos elementos dos textos será fundamentada nas cenas ou cenários que compõem as sequências da narrativa. Para cada cena apresentada se realiza uma análise buscando informações de maior significado para o contexto da narrativa como um todo. Por se tratar de livros e conjuntos de imagens, não é viável se ater em cenas isoladas, explorando extensamente uma única cena, mas identificar os elementos que se correlacionam com o tema/objetivo da narrativa.6 6 Texto extraído do link: http://www.iskoiberico.org/wp-content/uploads/2014/09/318- 330_Bernardes-Carneiro.pdf 33 11 LEITURA PARA CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Fonte: ru.depositphotos.com Segundo Brandão e Rosa (2011), no Brasil até os anos 1960 acreditava-se no discurso da “maturação para a alfabetização”, ou seja, a aprendizagem da leitura e da escrita só se daria a partir de um “amadurecimento” de algumas habilidades da criança, condicionando o ensino a um “desabrochar natural”, que supostamente aconteceria em torno de seus seis ou sete anos. Firmava-se ainda que a criança não demonstraria qualquer interesse em ler e escrever até essa idade e tentativas de alfabetizá-las antes disso eram consideradas prejudiciais ao seu desenvolvimento. Acreditava-se que a criança deve "[...] ter um nível suficiente, sob determinados aspectos, para iniciar o processo da função simbólica que é a leitura e sua transposição gráfica, que é a escrita”.(BRANDÃO E ROSA 2011, p. 14 apud POPPOVIC E MORAES 1996, p.5). Levando em conta a crença apresentada, pode-se relatar que a Educação Infantil deveria se restringir do contato direto com a leitura e a escrita, tendo como foco o desenvolvimento das habilidades de coordenação viso-motora, memória visual e auditiva, orientação espacial, entre outras. Porém nos anos 1920 e 1930, pesquisadores questionavam essa questão. Brandão E Rosa (2011, p. 15) Para Maricato (2005) a inserção de histórias orais e escritas na vida da criança deve ocorrer o quanto antes, pois assim, serão maiores as chances de a mesma adquirir o gosto pela leitura. De acordo com Perrotti (apud MARICATO 2005, p.18) “As crianças colocadas em condições favoráveis de leitura, adoram ler. Leitura é um desafio para os menores, vencer o código escrito é uma tarefa gigantesca”. 34 A autora afirma que antes mesmo de sua alfabetização, a criança realiza a leitura do seu jeito, folheando as páginas e observando as figuras, fazendo menção aos gestos antes observados da leitura de professores, pais ou outras crianças. Sendo assim, o processo de aprendizado inicia-se com a percepção da existência de sinais gráfico e de que coisas servem para serem lidas. De acordo com Lois (2003) desde pequenas as crianças se mostram curiosas a explorarem o mundo na tentativa de compreender o que está a sua volta. Sendo assim, o adulto desempenha um papel fundamental, pois através de sua mediação a criança será capaz de se aproximar do desconhecido, podendo desenvolver hipóteses para a concepção de algo ainda inominado. Segundo Reyes (2010), ao oferecermos leitura para crianças da Educação Infantil, podemos contribuir com a construção de um mundo mais equitativo, ou seja, um mundo mais justo no qual todos terão a mesma oportunidade de acesso ao conhecimento e a expressividade desde o começo da vida. Neste contexto propondo condições a todos de serem, o sujeito da linguagem, podendo se transformar ou transformar o mundo, possibilitando que utilizem do pensamento, da criatividade e da imaginação. Para a autora “No âmbito específico da linguagem já se demonstrou que a criança depende quase completamente da influência de seu meio e que os modelos apresentados pelos adultos próximos são decisivos[...]. (REYES, 2010, p. 20) Conforme citado no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil - RCNEI- (v.3, 1998), realizar práticas de leitura para crianças traz consigo um grande valor, pois a criança que ainda não sabe ler tradicionalmente pode fazê-la através da escuta da leitura do professor, por mais que não decifre todas e cada uma das palavras. Sendo assim ao ouvir um texto é possível considerar essa ação como uma forma de leitura. Para as autoras Brandão e Rosa (2011) a atividade de leitura de textos realizada pela professora (o), promove a ampliação do repertório textual dos alunos proporcionando também a ampliação de suas experiências em relação ao letramento. Portanto ao estimular a participação do aluno em diferentes práticas de uso social da escrita, assim como suas interações com “diferentes portadores de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham na nossa vida”, 35 proporcionam experiências que auxiliam na familiarização dos alunos com diversos gêneros textuais. (BRANDÃO e ROSA, 2011, p.22 apud SOARES, 2000, p.44). Filho (2009) acredita que atividades como a roda de leitura e a contação de histórias proporcionam discussões que fortalecem o vínculo entre o leitor e a criança. Brandão e Rosa (2011) citam como exemplo atividades de contação de histórias, conversa sobre o texto antes e depois de realizadas suas leituras, pois experiências como essas além de motivarem os alunos à leitura, criam expectativas, inserindo-os na prática social da escrita, o que estimula o desenvolvimento de estratégias cognitivas para a leitura. Sendo assim: [...] utilizando diferentes estratégias, tais como antecipação de sentidos, formulação e checagem de hipóteses sobre o que estaria escrito no texto, construção de inferências, entre outras, os leitores criam sentidos em interação com os textos. (BRANDÃO e ROSA, 2011, p.22 apud SOLÉ, 1998) Ou seja, ao vivenciar práticas de leitura em grupo, mediadas pelas professoras (os), os alunos expandem suas vivências de letramento e seus repertórios textuais, desenvolvem estratégias variadas de compreensão textual, introduzindo-se no mundo da escrita e promovendo-se como leitor, por mais que ainda não saibam ler automaticamente, (BRANDÃO E ROSA, 2011, p. 22). O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (v.3, 1998), traz sobre a leitura a seguinte colocação: A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. (RCNEI, p.143, v.3, 1998) As autoras Brandão e Rosa (2011) acreditam que em um plano mais especificamente linguístico, ao ler histórias para crianças proporcionamos a ampliação de seu repertório de palavras, focando sua atenção não somente no conteúdo da mensagem, mais também na maneira de narrar. Fazendo com que a criança se familiarize com os gêneros literários, por exemplo, com a leitura de poemas, fábulas, contos de fadas, entre outros. Teberosky e Colomer (2003) seguem o mesmo raciocínio referente a crença de que a leitura possa favorecer a aprendizagem de vocabulário das crianças, o que 36 amplia a capacidade das mesmas para o uso da linguagem expressiva, a compreensão da função da escrita e o conhecimento de gêneros textuais. Conforme expresso no RCNEI (v.3, 1998), torna-se de grande importância o acesso à leitura por meio do professor, pois ao disponibilizar diferentes tipos de materiais escritos, permite às crianças a terem contato com práticas culturais mediadas pela escrita. Sendo assim, ao proporcionar essas práticas de leitura, colocamos a criança no papel de “leitora”, podendo realizar relações com os textos, seus gêneros e seus meios de serem apresentados como: livros, revistas, jornais, entre outros. Sendo assim a leitura não é simplesmente decifrar palavras, torna-se um processo em que o leitor passa a realizar um trabalho de construção do significado do texto, amparando-se em estratégias diferentes, levando em conta seu conhecimento prévio sobre o assunto, sobre o autor e todo seu conhecimento sobre a linguagem escrita e seu gênero textual. “A leitura de histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários, [...] superando-se assim, o mito de que ler é somente extrair informação da escrita”. (RCNEI, v.3,1998, p.145) Equivalente a este pensamento, Soligo (2001) acredita que a leitura também é um processo em que o leitor busca realizar um trabalho de construção do significado do texto de acordo com o que se está buscando nele, do conhecimento já existente do assunto, do autor e do que já se sabe sobre a língua. Para Teberosky e Colomer (2003) embora haja o aprendizado devido a interação das crianças com diferentes matérias gráficos, se faz necessário que elas participem de situações que demonstrem o significado da escrita. Sendo assim, podemos conceder grande importância para a leitura de diferentes gêneros textuais. As autoras afirmam a existência de pesquisas que evidenciam a correlação entre o ato de escutar, ler e aprender a ler e a escrever. Na mesma direção apresentada pelas autoras citadas acima no RCNEI (v.3, 1998) é apontado que “a oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas de forma integrada e complementar, potencializando-se os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens solicita das crianças. ” (RCNEI,v.3,1998, p.133) 37 Ainda para as autoras Teberosky e Colomer (2003) a ação de escutar a leitura em voz alta é escutar a linguagem, o que proporciona a criança um auxílio em seu desenvolvimento referente a sua competência linguística. De acordo com Filho (2009) realizar leituras de literatura infantil em sala de aula é proporcionar condições para que se formem leitores de arte, leitores de mundo e leitores plurais. Indo além de uma atividade proposta do conteúdo curricular, apresentar e discutir leituras é poder formar leitores, ampliando a capacidade de ver o mundo e de dialogar com a sociedade. Para Brandão e Rosa (2011) os contatos diários das crianças com a leitura de livros de literatura favorecem um desenvolvimento maior da competência para realizarem futuras produções de textos e na compreensão dos textos que virão a ler. Possibilitando ainda o aprendizado sobre a direção da escrita, a existência de outros sinais gráficos diferentes das letras, como os sinais de pontuação, podendo localizar letras e palavras que já conheça, identificar rimas e a existências de outras palavras dentro de palavras. Segundo Filho (2009) a literatura deve ser oferecida para as crianças na forma de arte e prazer: “Arte porque é o resultado de um fazer estético do (s) autor (es) e prazer porque o contato com a arte pode ser encarado desde a mais tenra idade como uma experiência ricamente prazerosa, capaz de nos envolver e trazer novas dimensões ao cotidiano. ” (FILHO, p.63, 2009)7 12 IMAGENS NA SALA DE AULA Fonte: mx.depositphotos.com 7 Texto extraído do link: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-importancia- leitura-na-educacao-infantil.htm#capitulo_3.2 38 Já é do conhecimento de todos os professores o papel das imagens na sociedade, sobretudo em nossos dias. Para diferentes culturas, a imagem assumiu um papel fundamental, que perpassa aspectos importantes do cotidiano e das mentalidades de um povo, revelando dimensões religiosas, políticas e sociais, entre outras. No mundo contemporâneo, a rapidez com que as imagens são veiculadas torna fundamental uma reflexão crítica sobre seus conteúdos. O mundo exibe uma grande quantidade de imagens, que os alunos se acostumaram a ver, mas não a pensar profundamente sobre elas. O diálogo com o ensino de Arte é importante nessa discussão. Ler uma imagem é fazer-lhe, implicitamente, perguntas. É um processo que nos leva a compreender a imagem, descrevê-la, decompô-la, para apreendê-la. Uma imagem propicia uma infinidade de leituras devido às relações que seus elementos sugerem. Nesse sentido, pode-se ler a imagem de várias maneiras. Assim, ao verificar uma imagem, o aluno pode descrevê-la livremente, de acordo com seus próprios repertórios. A partir de perguntas, o professor pode conduzir o aluno a levantar hipóteses e traçar comparações. Em seguida, é importante que o professor busque informações internas e externas à imagem. No primeiro caso, são questões sobre os elementos que aparecem na imagem, além da técnica empregada em sua elaboração. No segundo caso, são questões sobre quem produziu a imagem, quando e em que contexto. O passo final é discutir o que aquela imagem representa e como ela foi utilizada. Essa é uma das possibilidades, entre as diversas formas de se refletir sobre imagens. Além das imagens fixas, não podemos ignorar o papel que a televisão possui em nossa cultura, ao promover a difusão e a circulação de referências culturais. No espaço televisivo, convivem diferentes representações, que podem ser discutidas em sala de aula. Trazer temas da televisão para a sala de aula significa mais que ilustrar temas de História. Significa problematizar o corriqueiro, a fim de promover uma educação que interprete a mídia e suas implicações. Por exemplo, analisar a forma como os telejornais são organizados e a forma como abordam certos temas incentiva um olhar crítico, que nos faz questionar as motivações implícitas daqueles que promovem a informação. O mesmo se pode dizer de outros períodos históricos, em um estudo das estratégias de formação de opinião. 39 Vale ainda destacar a importância de filmes, sejam ficcionais ou documentais. É necessário sempre discutir com os alunos aspectos da produção da película e sua época. Usar um filme apenas para ilustrar um tema ou aula pode ser um risco, pois o aluno pode entender aquele filme ou documentário como uma reprodução de uma realidade ou período, quando na verdade se trata de mais uma representação ou interpretação, que precisa ser avaliada. Muitas vezes, um filme sobre um tema histórico tem mais a dizer sobre a época em que foi produzido do que sobre o tempo que é retratado. Apesar de útil ao aprendizado, o uso de filmes merece cautela. O professor corre o risco de se tornar refém desse recurso em plena aula. Pode se surpreender diante de conteúdos indesejáveis, da dispersão da classe ou mesmo da perda de foco quanto ao tema em estudo.8 13 CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A LEITURA DE IMAGENS Pela percepção, o indivíduo apreende o mundo externo, criando em si um mundo interior. Seu comportamento é determinado por este mundo particular. Assim, educar a percepção significa tomar consciência do mundo e sensibilizar-se com seus valores. Um dos responsáveis por esta educação da percepção é a escola que, dentre outras funções, atua como transmissora das concepções sociais. A educação para a compreensão da cultura visual trata de estudar a dinâmica social da linguagem que esclarece e estabiliza a multiplicidade de significações pelas quais o mundo se apreende e se representa. (HERNÁNDEZ, 2000, p. 54). Essa ampliação da percepção visual dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade de sua época e tomar contato com as de outros povos. Ao se sensibilizar a respeito do universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares. Um dos objetivos da educação para a compreensão é que os estudantes sejam capazes de transferir o que aprenderam a outras situações e problemas, além de 8 Texto extraído do link: https://educacional.cpb.com.br/conteudos/revista-cpb-educacional/imagens-na-sala-de-aula/ 40 ajudá-los a desenvolver sua própria identidade ao depararem-se com experiências de pessoas distantes e diferentes no tempo e no espaço geográfico, ampliando suas experiências e compreensão sobre a realidade em que vivem. A percepção é uma aliada da sabedoria. É essencial que nossos alunos aprendam a enxergar mais profundamente e descubram a sabedoria crescendo com seu crescer; é essencial despertar-lhes a capacidade motora de enxergar, alfabetizá-los primeiro em olhar e depois em ver. (ANTUNES, 2000, p.53). A arte entra como uma aliada a esta educação para a percepção da cultura visual, pois pode evidenciar a trajetória percorrida pelos olhares em torno das representações visuais das diferentes culturas para confrontar criticamente os estudantes com elas. A arte não está desvinculada da economia, política e dos padrões sociais que atuam na sociedade. Ideias, emoções, linguagens, diferem de tempos em tempos e de lugar para lugar e, normalmente, não existe visão desinfluenciada e isolada. O intuito do processo de ensino e aprendizagem de Arte é, assim, o de capacitar os estudantes a humanizarem-se melhor como cidadãos inteligentes, sensíveis, estéticos, reflexivos, criativos e responsáveis, no coletivo, por melhores qualidades culturais na vida dos grupos e das cidades, com ética e respeito pela diversidade. (PCN de Arte – Ensino Médio, 1999, p.173). 9 9 Texto extraído do link: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/45767.pdf
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