Prévia do material em texto
GINÁSTICA Daiana Rodrigues de Lima Braga Simone Romani E d u ca çã o G IN Á S T IC A D ai an a R od rig ue s d e Li m a B ra g a S im on e R om an i Curitiba 2020 Ginástica Daiana Rodrigues de Lima Braga Simone Romani Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. B813g Braga, Daiana Rodrigues de Lima Ginástica / Daiana Rodrigues de Lima Braga, Simone Romani. – Curitiba: Fael, 2020. 243 p. il. ISBN 978-65-86557-21-3 1. Educação física I. Romani, Simone II. Título CDD 796 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Victoria VIAR PRO Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. História e evolução da ginástica | 7 2. Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica | 27 3. Estudo das capacidades físicas | 45 4. Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas | 63 5. Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar | 81 6. Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos | 101 7. Fundamentos e procedimentos de ensino- aprendizagem das ginásticas | 129 8. Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento | 151 9. Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição | 175 10. Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história | 195 Gabarito | 215 Referências | 231 Prezado(a) aluno(a), É um prazer tê-lo por aqui. Essa obra foi pensada para você, contemplando suas especificidades e necessidades, sendo um mate- rial compacto, completo e complexo que exige um profissional em formação comprometido com seus afazeres acadêmicos. Esse material é fruto do esforço de um coletivo altamente qualificado e que garante a você a construção de uma experiência por meio do conteúdo vivo, e que substancia uma formação complexa e sufi- cientemente capaz de atender às demandas do mundo do trabalho. O livro foi divido em dez capítulos, que contam com recursos os quais possibilitam o suporte teórico necessário para o alcance da formação básica e geral esperada a um profissional da Educação Física, o que garante uma práxis dotada de sentido e significado, seja na área da iniciação esportiva, no treinamento e ginástica ou ainda na vivência das ginásticas de academia. Não é maravilhoso? Portanto, aproveite! Esgote esse material e utilize-se dele para basear suas atividades pedagógicas/profissionais, inserindo-se no mundo do trabalho de forma efetiva e contextualizada. Carta ao Aluno 1 História e evolução da ginástica De acordo com a bibliografia, a ginástica começou na Pré- -história, foi reconhecida na Antiguidade, ficou estagnada na Idade Média, foi firmada na Idade Moderna e sistematizada no início da Idade Contemporânea. Cabe ressaltar que os ter- mos educação física e ginástica foram usados como sinônimos durante certo período. Neste capítulo, apontaremos o caminho percorrido pela ginástica até sua inclusão na escola. Veremos que ela foi inserida na educação física por meio dos PCNs e atualizada pela BNCC, fazendo parte dos conteúdos essenciais a serem trabalhados na educação física escolar. O propósito deste capítulo é conhecer a história da ginástica e sua origem no mundo, identificar o pri- meiro conceito de ginástica e reconhecer a história da ginástica na no Brasil e sua inclusão na escola. Ginástica – 8 – 1.1 A história da ginástica e sua origem no mundo De acordo com Ayoub (2003), a palavra ginástica se originou do grego gymnastiké, que consiste na arte de tonificar o corpo e dar-lhe agilidade. Esse termo retrata aspectos históricos ao enfatizar os exercícios físicos pra- ticados pelo homem no decorrer do tempo. A autora fala sobre as condi- ções de vida na época, em que era preciso conseguir alimentos, fugir das intempéries e sobreviver aos perigos das feras; por esse motivo, o homem naturalmente precisava correr, saltar, arremessar, mergulhar, lutar e escalar. Na Pré-história, a ginástica era uma forma de exercitação espontânea e ocasional, que tinha caráter natural, utilitário, guerreiro, ritualístico e recre- ativo objetivando a luta pela vida (OLIVEIRA; NUNOMURA, 2012). Figura 1.1 – Homens pré-históricos caçando um mamute Fonte: Shutterstock.com/Esteban De Armas Na Antiguidade, a ginástica era manifestada por meio de exercícios físicos, massagens e movimentações respiratórias. Os chineses tnham uma educação organizada, e seus exercícios englobavam os princípios morais e religiosos; foi com sacerdotes e filósofos que a prática metódica de exer- cícios se tornou fundamental para eles. A arte marcial mais antiga e mais conhecida do povo chinês é o Kung Fu1, seno um protocolo de exercícios muito respeitado. 1 Uma seita religiosa chinesa chamada Tao-tse criou e passou a praticar a ginástica médica (terapêutica e higiênica), que passou a ser conhecida como Kung Fu, baseado na ginástica – 9 – História e evolução da ginástica Figura 1.2 – Kung Fu Fonte: Shutterstock.com/Terd486 Por meio dos livros sagrados do bramanismo, como Vedas, foi pos- sível conhecer mais sobre os hindus e saber que eles praticavam exercí- cios respiratórios, massagens, ioga etc. De acordo com Ribeiro (2017), os Vedas são considerados os primeiros registros da civilização hindu, além de serem os livros mais sagrados da Índia. Trata-se de uma série de escri- tos originais sobre os ensinamentos do povo, com conhecimentos espiri- tuais sobre a vida em todos os aspectos. O bramanismo é uma tradicional filosofia da Índia, prática conside- rada uma vertente religiosa e intimamente relacionada à cultura e à his- tória indiana desde o segundo milênio antes de Cristo. Com o passar do tempo, foi sofrendo alterações e adquirindo novas características: “O hin- duísmo se confunde com o bramanismo, nome que advém de Brâman, manifestação impessoal do ser supremo, a essência do ideal e a alma do todo. Porém, Brâman é inatingível para os indianos, que procuram adorar a personificação de suas ramificações” (GUERRIERO, 2001, p. 45). Dentro da tradição védica surge uma infinidade de deuses e semi- deuses que são adorados por diferentes correntes. Todas elas con- servam algumas características básicas do bramanismo, como por terapêutica que utilizava os exercícios de acordo com a doença a ser tratada. Além das práticas físicas, existia o aspecto religioso, que tratava as enfermidades do corpo e da alma (SILVA, 2015, p. 14). Ginástica – 10 – exemplo, a questão da salvação. Cada entidade viva é um atman originário de Brâman, que um dia, depois de atingida a perfeição, deve retornar e se fundir novamente a ele. O atman deve vencer a tentação da matéria. Para isso são necessárias muitas vidas. É no transcurso de repetição nascimento-morte, denominado de samsara, que as pessoas procuram chegar à perfeição e salvação através do exercício de rígidas disciplinas espirituais. O objetivo maior é atingir moksa, a libertação do ciclo de nascimentos e mor- tes do mundo material. A partir dessa regra básica, os caminhos encontrados pelas diferentes correntes são vários. (GUERRIERO, 2001, p. 45) No Oriente Próximo, os exercícios ginásticos eram praticados por diferentes povos, como egípcios, caldeus, assírios, hebreus, medos, per- sas, fenícios e insulares. Vale destacar que, no Egito, os exercícios e a dança foram de grande expressão tanto no aspecto religioso quanto no militar. No sentido religioso, desenvolveram a arte da luta e para entender melhor a técnica dos golpes, desenhando em tumbas cenas representadas por lutadores.Sob o ponto de vista militar, praticavam corrida com car- roça de combate de duas rodas, geralmente puxadas por cavalos, e arre- messavam lanças, corriam. As práticas corporais eram essenciais para o povo egípcio, tanto que o herdeiro do trono praticava os exercícios com os membros na nobreza. Sempre que era feito um juramento em nome do Faraó, usava-se a frase “Vida, saúde, força!”. 1.1.1 Grécia antiga: primeiro conceito de ginástica O primeiro conceito de ginástica foi definido na Grécia Antiga. Os exercícios deveriam ser praticados com o corpo despido e coberto com óleo, orientados por mestres e filósofos e desenvolvidos a partir de seu método: orquestrica e palestrica2. Os locais para as práticas gregas eram conhecidos como estádio, palestra, hipódromo e ginásio. O estádio era o local onde se realizavam as corridas de velocidade e resistência, os saltos e arremessos; a palestra era destinada às lutas; o hipódromo era o 2 Orquestrica era a formação cultural e moral dos jovens. Atitudes por meio de gestos, mú- sica, caráter, dignidade, danças rítmicas. Palestrica era o preparo de atletas para os jogos públicos, em diversas modalidades de exercícios físicos realizados nos ginásios (DELGA- DO, 2012). – 11 – História e evolução da ginástica local em que aconteciam as corridas a cavalo e de carro; por fim, o giná- sio era o espaço destinado à prática de ginástica e jogos, englobando, às vezes, a educação intelectual. É importante salientar que a cultura física era acentuada entre os gre- gos, sendo comum a prática conjunta de exercícios físicos entre amigos, em casa e em ginásios; essa ação exercia um papel físico et social, tanto que a vida atlética dos cidadãos gregos se estendida até a velhice (BER- TONI; PEREIRA; PALMA, [2012]). Figura 1.3 – Soldados espartanos (Grécia) Fonte: Shutterstock.com/Baurz1973 Em Roma, os exercícios físicos eram vistos apenas como um meca- nismo para capacitar as tropas. Os guerreiros eram muito habilidosos, sal- tavam, corriam, lutavam, nadavam, arremessavam lanças, transportavam pesos etc. Cidadãos de diferentes idades praticavam exercícios físicos todos os dias no campo de Marte, localizado às margens do Tibre. Cons- truíram ilustres circos (Máximus) e anfiteatros (Coliseu), nos quais reali- zavam lutas de gladiadores, jogos e competições. Uma das contribuições romanas foram as termas (casas de banho), que difundiram por todo o império o hábito higiênico de tomar banho. As principais dependências das termas eram piscinas quentes e frias, vesti- ários, salas de ar quente ou morno, salas de massagem, leitura, refeição, jogos sociais e desportivos. Os romanos fizeram do ato de tomar banho, um ritual: despir-se, banhar-se, transpirar, receber massagem e descansar; para isso, tiveram de construir ambientes separados para cada etapa. As Ginástica – 12 – termas continham um pátio (Palaestra), que era um jardim ao ar livre para a prática de exercícios físicos, algumas vezes construído no interior das termas e em outros do lado de fora. Figura 1.4 – Termas romanas Fonte: Shutterstock.com/Evannovostro Na Idade Média, houve a queda do império romano e a ascensão do cristianismo. A ginástica ou o exercício físico passaram por um período de decadência, sendo apenas um privilégio da nobreza. As atividades físi- cas e lutas passaram a ter objetivos voltados para os dogmas da igreja, sofrendo forte influência do cristianismo, sendo o corpo considerado um instrumento do pecado, de modo que, quanto menos ativo fosse, melhor (BERTONI; PEREIRA; PALMA, [2012]). A principal característica da época era um castelo forte, com algumas habitações e terras cultivadas a seu redor, o que constituía um feudo, nos quais as práticas físicas se baseavam em caça, pesca, lutas, arremessos, danças e jogos. Desde pequeno, o homem se preparava para se tornar um cavaleiro. Na juventude, por meio de uma cerimônia cívica e espiritual, ele recebia as armas de cavaleiro. Até chegar a esse momento, deveria ter passado muitos anos se formando em prática de lutas, arremessos, levan- tamento de pesos, boas maneiras, conhecimento de leis, práticas religiosas etc. Na idade média, a cavalaria era representada por guerreiros que culti- vavam o ideal de defender a pátria e os fracos. – 13 – História e evolução da ginástica Figura 1.5 – Cavaleiro da Idade Média Fonte: Shutterstock.com/lynea 1.1.2 A construção histórica da ginástica no Renascimento Renascimento foi o nome usado para indicar um período importante da história europeia que se iniciou com a transição da Idade Média para a Idade Moderna. No período de 1400 a 1727, a ginástica surgiu em vários países para ajudar a recuperar o corpo debilitado pelas guerras e pelos longos períodos de jejum (OLIVEIRA; NUNOMURA, 2012). Foi o momento de transformações e do despertar cultural e ideoló- gico, que serviu para liberar as artes e as ciências. A beleza corporal deu Ginástica – 14 – lugar a notáveis artistas, como Leonardo da Vinci, que criou as regras proporcionais do corpo humano que são utilizadas até hoje. Figura 1.6 – Desenho de Leonardo da Vinci sobre a anatomia humana Fonte: Shutterstock.com/Jackie Niam O movimento chamado Iluminismo surgiu na Inglaterra no século XVII e deu origem a novas ideias. Os livros apontam como destaque para essa época os educadores Jean-Jacques Rousseau e Johann Pestalozzi. De acordo com Rousseau, pensar dependia de retirar energia do corpo em movimento; já Pestalozzi focou sua atenção n a execução correta dos exer- cícios e ficou conhecido por ser o precursor da escola primária popular. Figura 1.7 – Síntese da ginástica em cada período histórico Fonte: elaborada pela autora. – 15 – História e evolução da ginástica 1.2 A ginástica na Idade Contemporânea Foi nesse tempo que ocorreu o amadurecimento da educação física escolar, o aparecimento do esporte moderno e a sistematização da ginás- tica, pois reis, pensadores e políticos manifestaram grande interesse na educação. Foi no século XIX que os países europeus estruturaram seus sistemas nacionais de educação e ocorreu o desenvolvimento da educação pública estatal, assim como o início da educação nacional. Na ginástica alemã, o incentivo determinante para a implantação das bases foi fruto da pedagogia. Inicialmente, Johann Bernard Basedow abriu as portas para a educação física escolar em sua instituição chamada Philanthropinum3. Foi igualmente decisiva a influência do genebrino Jean Jacques Rousseau, que muito acentuou a tendência humanista do Philan- thropinum ao escrever a obra Emílio, em 1762, baseada em uma educação natural para o educando. A escola de Basedow iniciou o primeiro programa moderno de edu- cação física, dando grande ênfase à saúde, contemplando atividades seme- lhantes às praticadas na Grécia Antiga, como corridas, saltos, arremessos e lutas. Outra grande influência veio do suíço Cristoph Friedrich Guts Muths, que assumiu as aulas de ginástica em 1784 o instituto educacional (semelhante ao Philanthropinum). Ele dividiu as atividades de ginástica natural em três classes: exercícios ginásticos, trabalhos manuais e jogos sociais. Guts Muths era admirador de Rousseau, então sua ginástica abar- cava todas as variações de exercícios corporais seguindo os exemplos da educação natural proposta pelo filósofo. A ginástica era incluída entre os deveres fundamentais da vida humana, lembrando os princípios da edu- cação grega. Na nova ginástica alemã, em 1842o governo prussiano reconheceu oficialmente a educação física como uma função do Estado. Inicialmente, foi adotado o método de Friedrich Ludwig Jahn, o idealizador da ginás- tica artística e conhecido como o pai da ginástica. Ele a defendia como 3 Em 1774 nasceu o Philanthropinum, a primeira escola moderna de cunho democrático, pois seus alunos derivavam de todas as camadas sociais. Além disso, incluiu a ginástica no currículo, tendo a mesma importância das matérias chamadas teóricas ou intelectuais (MARINHO, 1980).Ginástica – 16 – um método para todos, independentemente da classe social. Além disso, contribuiu para a evolução e a organização da ginástica artística na Ale- manha, criando e fabricando aparelhos específicos que mais tarde deram origem aos modernos objetos dessa modalidade: cavalo com alças, barras horizontais e paralelas, trave e saltos (FIORIN, 2002; DUARTE, 2004). Figura 1.8 – Um dos aparelhos criados por Jahn Fonte: https://www.efdeportes.com/ Após o fracasso em adotar a ginástica de Jahn, Adolph Spiess foi con- vidado para inserir seu método nas escolas, tendo estudado e trabalhado em escolas suíças que tinham influência de Pestalozzi. Ele enfatizava a disciplina, e, embora seu método aspirasse um desenvolvimento corporal eficiente e completo, esses objetivos eram alcançados por meio de sub- missão, treino da memória e respostas rápidas ao comando. Foi assim, do século XIX até a primeira metade do século XX, que houve a difusão do método ginástico que favoreceu o desenvolvimento da educação física na Alemanha, no restante da Europa e na América. É importante ressaltar que a ginástica de Jahn perdeu seu lugar atra- vés do bloqueio ginástico. De acordo com Mazo e Lyra (2010, p. 04), ele criou o termo turnen (ginástica alemã), “uma prática corporal que envol- via exercícios e jogos gímnicos que seriam praticados em um turnplatz (campo de ginástica)”. A ginástica de Jahn estava diretamente associada à ideia de reunir o povo na luta, pois os exercícios ginásticos estavam sujeitos ao propósito militar e à conscientização de ser um povo alemão, – 17 – História e evolução da ginástica por isso a obra-prima de Jahn não deve ser considerada a arte alemã de ginástica, e sim a compreensão da germanidade (TESCHE, 1996). O método criado e usado por Jahn e seus instrutores propagava o nacionalismo severo, o que acabou resultando em um homicídio envol- vendo essa doutrina. Por esse motivo, em 1819, Jahn foi preso, conside- rado coautor do crime. Em virtude disso, seu centro gímnico foi fechado, seus aparelhos foram destruídos e os ginastas foram perseguidos. Esse período ficou conhecido como bloqueio ginástico, já que a prática de ginástica foi proibida. O bloqueio ginástico durou 22 anos (de 1820 a 1842), mas, apesar de ter sido proibida, a ginástica continuou sua evolução. Os seguidores de Jahn migraram para outras regiões da Europa, difundindo a ginástica e treinando em lugares secretos. Eles modificaram os aparelhos para cabe- rem nesses locais e, quando o bloqueio acabou, a modalidade já estava com movimentos mais complexos, visando ao desempenho desportivo. O método natural de Georges Hébert era composto por exercícios físicos naturais e utilitários. Ele tinha alto posto militar na marinha e desenvolveu o sistema para aplicar como treinamento para militares. Teve uma grande contribuição para a organização das aulas educação física, dividindo os exercícios naturais em dez grupos: marchar, correr, quadru- pedar, trepar ou escalar, saltar ou saltitar, equilibrar, lançar ou arremes- sar, levantar ou transportar, defesa e exercícios na água, todos realizados ao ar livre durante 50 minutos e de maneira contínua. Foi na Dinamarca, considerada na época a metrópole intelectual dos países nórdicos, onde mais se ampliaram as ideias de Guts Muths, inicialmente com ele e seguido de Franz Nachtegall. Em 1799, fundou o próprio instituto de ginástica e em 1828 ela foi inserida como compo- nente obrigatório nas escolas, fazendo que o país ficasse décadas à frente de outros europeus. Em 1799 chegou a Copenhague o sueco Pedro Enrique Ling4, que, no Instituto de Nachtegall, entrou em contato com as ideias de Guts Muths. 4 Em 1813, Ling conseguiu autorização do Rei Carlos XIII para fundar o Real Instituto Central de Ginástica de Estocolmo (hoje Escola Superior de Ginástica e Esporte), ins- tituição que dirigiu até o fim da vida. Ling se preocupou com a execução correta dos Ginástica – 18 – O filho de Ling, Hjalmar Ling, foi seu principal seguidor, sistematizando a obra do pai e se destacando como o legítimo inventor da educação física escolar sueca, pois o pai não havia envolvido as crianças em suas pesquisas. A ginástica francesa marcou a chegada do militar espanhol Dom Francisco Amoros y Ondeano, que em 1816 adquiriu cidadania francesa. Ele ficou conhecido por ser o “pai da ginástica francesa”, pois a introduziu no país. É de fundamental importância o estudo dessa escola, uma vez que foi dela que chegaram os primeiros estímulos que constituíram os alicerces da educação física brasileira. A ginástica amorosiana ficou conhecida por seu marcante espírito militar, não como um método de ginástica escolar. No fim do século, sob a influência de Pierre de Coubertin, foi iniciada uma campanha para a criação de uma legítima educação física escolar francesa. A fundamentação no método francês era voltada para as ciên- cias médicas, como fisiologia e anatomia, tendo apoio na mecânica. Uma sessão desse método compreendia três partes: preparatória, lição e volta à calma. A preparatória era feita com flexão de braços, pernas, tronco, com- binados, assimétricos e caixa torácica. A lição propriamente dita compre- endia exercícios grupados, como marchar, equilibrar, saltar, transportar, correr, lançar, atacar e se defender. Já volta à calma incluía a marcha lenta com exercícios respiratórios. Assinala-se, ainda, a presença de Phoktion Heinrich Clias, que, em 1829, criou a calistenia5, de grande repercussão no Brasil. No movimento esportivo inglês, a história da civilização ocidental foi moldada a partir da revolução francesa e quando a Inglaterra passou pelo processo de sediar a Revolução Industrial, em 1760. As mudanças causa- das pelo crescimento da população nas fábricas induziram gradativamente exercícios, emprestando-lhes um espírito corretivo, como já o havia feito Pestalozzi. Com a ideia de conferir uma finalidade corretiva aos exercícios, ele acabou cimentando as bases da ginástica sueca (DELGADO, 2012). 5 Calistenia é uma série de exercícios ginásticos localizados, com fins corretivos, fisiológicos e pedagógicos, que pode integrar perfeitamente qualquer sistema gi- nástico. Objetivando melhorar a forma física da população, foi introduzida nas escolas americanas em 1860 por Dio Lewis (DODÔ; REIS, 2014). – 19 – História e evolução da ginástica à intercessão do Estado na educação. O Ato de Educação de 1870 formou a base da educação primária mantida pelo Estado, e em 1876 foi introdu- zida a obrigatoriedade escolar. O movimento esportivo inglês do século XIX formou o outro pilar da sistematização da moderna educação física e guarda relação com as transformações socioeconômicas produzidas pela revolução a partir de 1760. A Inglaterra foi uma das precursoras em acolher o esporte como um meio para a educação. Surpreendentemente, o sistema ginástico do sueco Ling foi o modelo escolhido, não o das escolas públicas. Seu sistema ginástico foi incorporado na Inglaterra de 1840 e 1850. A importância dada ao esporte ficou reservada à Inglaterra até se realizar a I Lingíada6 (1939), quando as escolas passaram a sofrer influências mútuas. Figura 1.9 – Primeira Lingiada (1939) Fonte: http://omar.pro.br O método de educação física desportiva generalizada tem como característica principal a prática do desporto por todos, indistintamente, enfatizando a prática. Em outras palavras, a valorização da prática e a cooperação dos participantes entre si é mais importante do que a vitória 6 As Lingíadas foram grandes festivais internacionais de ginástica criadas em come- moração aos 100 anos da morte do sueco Pedro Henrique Ling que dividiu a ginástica em categorias. Ginástica – 20 – dos mais hábeis. As atividades lúdicas ao livre (pequenos jogos) foram bastante empregadas nesse método. Cabe destacar que, pela utilização de diversos tipos de jogos e pela prática esportiva regida por esse método, as formas de trabalho com os alunos sãomuito importantes. Sobre isso pode- -se dizer que existem três tipos: 1. individual – considerada a forma que permite o desenvolvi- mento da personalidade, priorizando a realização da atividade pelo próprio aluno, respeitando seu ritmo; 2. em pequenos grupos – a característica principal é a formação de grupos que não excedam cinco participantes. É bastante utili- zada para o desenvolvimento da cooperação e o auxílio mútuo. 3. em grandes grupos – é normalmente empregada após o uso das outras duas formas e pode ser dividida de dois modos: relação direta entre os alunos e relação com os adversários. A primeira é usada, por exemplo, quando os praticantes são posicionados em círculo e as ações desenvolvidas por todos são similares; já segunda é usada geralmente nos esportes em que um grupo fica na defesa e o outro grupo fica no ataque. Esse método é bastante utilizado nas modalidades de quadra, e os objetivos são orientar o preparo moral e a busca pelos desempenhos físico e esportivo. 1.3 História da ginástica no Brasil As ginásticas foram introduzidas no Brasil na metade do século XVIII, com o intuito de preparar fisicamente os soldados da Corte. O método ginástico Alemão foi o primeiro sistema implementado no país, no século XIX. (MARINHO, 1981). A inserção do sistema alemão no Brasil resultou da grande quantidade de imigrantes fugidos da guerra que aqui se intalaram e tinham por hábito praticar a ginástica. Com a reforma, “houve recomendação para que a ginástica fosse obrigatória, para ambos os sexos, e que fosse oferecida para as escolas normais” (DARIDO; SAN- CHEZ NETO, 2005, p. 2). Porém, até 1930, apenas as escolas militares, as escolas da corte imperial e a capital da República foram as que aderiram, apesar das leis propostas pela reforma. – 21 – História e evolução da ginástica Ainda nessa época, a educação brasileira passava por forte influ- ência do movimento escola-novista, o qual demonstrou que a educação física era importante para o desenvolvimento integral do indivíduo. Dessa forma, foi possível, na III Conferência Nacional de Educação (1929), que profissionais da educação discutissem os problemas relativos ao ensino da educação física. A educação física ensinada na época baseava-se no movi- mento ginástico europeu, do qual faziam parte o sueco, o alemão e, mais tarde, o francês – estes se apoiavam em princípios biológicos. O método francês começa a ganhar espaço na escola em 1920, e “vários estados da federação começam a realizar suas reformas educacio- nais e incluem a educação física, com o nome mais freqüente de ginástica” (DARIDO; SANCHEZ NETO, 2005, p. 2). Este método se torna obriga- tório até 1960, quando o esporte começa a ser inserido no espaço esco- lar. Além disso, a terminologia mais utilizada agora passa a ser educação física, enquanto as ginásticas vão deixando de ser conhecidas como edu- cação física para se tornar um conteúdo da educação física. De acordo com Mazo e Lyra (2010), em 1951 foi realizado o primeiro campeonato brasileiro de ginástica na cidade de São Paulo. Foi neste período que a Confederação Brasileira de Desportos filiou-se à Federação Internacio- nal de Ginástica (FIG). Após 27 anos (1951 a 1978), no dia 25 de novembro de 1978, foi criada a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Ainda, é importante falarmos sobre a estrutura organizacional da ginástica, em nível mundial, pra melhor compreendê-la. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é a organização mais conhecida e mais antiga de ginástica, sendo também a maior influência mundial, com sede na capital olímpica de Lausanne (SUI). Uma de suas características é a coexistência de modalidades competitivas e demonstrativas em uma mesma federação. A FIG é o órgão responsável pelas modalidades gímnicas de compe- tição nos jogos olímpicos; sendo originada nas Federações Europeias de Ginástica (FEG). Ela é encarregada por orientar, regulamentar, difundir e promover os eventos de ginástica mundialmente, regendo a ginástica moderna e agrupando seis modalidades de ginástica: artística, rítmica, aeróbica, de trampolim, acrobática, para todos e parkour. Ginástica – 22 – A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é a maior entidade superior do esporte no Brasil e atualmente tem sede em Aracaju (Sergipe), administrando todas as disputas de nível nacional e apoiando atletas, téc- nicos e árbitros em competições internacionais. Além disso, são de res- ponsabilidade da federação as apresentações dos ginastas brasileiros na Gymnaestrada, evento no qual são exercidos os princípios da ginástica para todos (GPT). As outras ginásticas envolvidas são aquelas regidas pela FIG tanto na categoria júnior quanto na sênior. A missão da CBG é administrar, fomentar e expandir a prática da ginás- tica em todo o território nacional, contribuindo para o desenvolvimento da cidadania e da ginástica brasileira ao nível de excelência esportiva mundial. Sua visão é disseminar a paixão pela ginástica, conquistando resultados que evidenciem o talento brasileiro e elevem o País à condição de potência global do esporte. Os valores da CBG são ética, transparência, cooperação, respeito, gestão por competência, valorização dos colaboradores, imparcialidade e senso de justiça, trabalho com eficiência, eficácia e efetividade, superação, equilíbrio e perseverança. Ela agrupa as seguintes modalidades de ginástica: acrobática, aeróbica, artística, rítmica, trampolim e ginástica para todos. Quadro 1.1 – Diferenças entre FIG e CBG FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA FIG SIGLA CBG Maior influência na ginástica mundial INFLUÊNCIA Maior entidade superior de ginástica no Brasil Lausanne – Suíça SEDE Aracaju, Sergipe – Brasil Orientar, regulamentar, difun- dir e promover os eventos de ginástica mundialmente RESPONSA- BILIDADE Administrar, fomentar e expandir a prática da ginástica em todo o território nacional Ginástica acrobática, aeró- bica, artística, rítmica, tram- polim e ginástica para todos MODALIDADES Ginástica artística, rítmica, aeróbica, trampolim, acrobática, ginástica para todos e parkour Fonte: elaborada pela autora. – 23 – História e evolução da ginástica 1.4 Inclusão da ginástica na escola Durante muito tempo, a ginástica foi tratada como sinônimo de edu- cação física, inclusive no Brasil, sobretudo por sua presença praticamente exclusiva de exercitação sistematizada no contexto escolar. No final da década de 60, a educação física passa a ser nomenclatura mais usual, tor- nando a ginástica como um conteúdo da educação física. Nesse sentido, cabe falar rapidamente sobre a história da educação física na escola. Em 1922, foi fundado o Centro Militar de Educação Física no Rio de Janeiro, do qual originou a escola de educação física do exército (EsEFEx). Os cursos desta escola eram oferecidos para militares, podendo ser realizados eventualmente por civis. Nas décadas de 20 e 30, houve muitas propostas para criação de cursos, mas o primeiro programa de educação física no Brasil foi criado em 1931 (na Escola de Educação Física do Estado de SP), mas só começou a funcionar em 1934. A fina- lidade deste curso era formar dois tipos de profissionais: o instrutor de ginástica e o professor de educação física. Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, ocorreram grandes discussões sobre o sistema de ensino brasileiro, ficando determinada nesta lei a obrigatoriedade da educação física para o ensino primário e médio. Desse modo, o esporte passou a ganhar espaço nas aulas de educação física por meio da introdução do Método Despor- tivo Generalizado, o qual foi um contraponto aos antigos métodos de ginástica tradicional juntamente com a tentativa de incorporar o esporte aos objetivos pedagógicos escolares. Este modelo esportivista começou a ser contestado no Brasil, dessa forma, iniciando-se uma grande crise de identidade no próprio discurso da educação física, originandouma mudança significativa nas políticas educacionais – a educação física escolar, que antes era voltada para a esco- laridade de quinta a oitava séries do primeiro grau, passou a ser priorizada também de primeira a quarta série e na pré-escola, enfatizando o desen- volvimento psicomotor do aluno; com isso, retirou-se da escola o papel de promover os esportes de alto rendimento. Esta lei foi atualizada pela LDB de 1996, alterada pela Lei n. 10.328, de 12 de dezembro de 2001 e complementada em 1º de dezembro de 2003, pela Lei n. 10.793. Estas, por Ginástica – 24 – sua vez, foram atualizadas por meio da Base Nacional Comum curricular, em 2017. Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na unidade temática de ginástica, são adotadas atividades práticas propostas por meio das ginás- ticas: geral, de condicionamento físico e de conscientização corporal. Na ginástica geral ou ginástica para todos são abordadas as práticas corporais que procuram explorar as possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo, a interação social, o compartilhamento do aprendizado e a não competitivi- dade, podendo ser praticadas de maneira individual ou coletiva. As ginásticas de condicionamento físico são caracterizadas por exer- cícios que buscam melhorar o rendimento, a condição física individual ou a mudança da composição corporal. São planejadas normalmente com movimentos, frequência e intensidades predefinidas, com sessões para um público específico. Por fim, as ginásticas de conscientização corporal são formadas por movimentos lentos e suaves que buscam a conscientização da respiração e da postura para obter melhor percepção corporal. Algumas dessas práticas vêm da cultura oriental e tem origem milenar. “Todas as práticas corporais podem ser objeto do trabalho pedagógico em qualquer etapa e modalidade de ensino. Em Ginásticas, a organização [...] se dá com base na diversi- dade dessas práticas e nas suas características” (BRASIL, 2017, p. 219). 1.5 Considerações A partir dessa breve revisão, percebemos a importância de abordar alguns momentos históricos referentes às ginásticas, especialmente sobre a evolução de sua prática, que fazem parte dos conteúdos da educação física na atualidade, lembrando que por muito tempo os termos educação física e ginástica foram usados como sinônimos. Para o profissional de educação física em formação acadêmica, conhecer a história das ginásti- cas é fundamental para a atuação profissional, pois é dentro do espaço de atuação que podem compartilhar e aprimorar esse conhecimento. Houve um tempo em que a ginástica esteve muito presente na educa- ção, especialmente no início do século passado, quando era influenciada – 25 – História e evolução da ginástica pelos sistemas europeus, que a utilizavam para desenvolver qualidades físicas e morais. Com o tempo, a prática foi perdendo espaço por causa da esportivização da disciplina, que passou a enfatizar a aprendizagem do gesto esportivo de determinadas modalidades, assim como suas regras e formas de competir. Atualmente, a BNCC propõe a ginástica como uma unidade temática a ser trabalhada ao longo do período escolar, classificando-a em ginástica geral, de condicionamento físico e de conscientização corporal. De acordo com a BNCC, é uma prática que envolve movimentos de força, flexibilidade e coordenação motora (BRASIL, 2017). Nesse sentido, acreditamos que as propostas metodológicas surgidas a partir da ginástica para todos (ginástica geral) possivelmente sejam as mais adequadas aos objetivos da escola. Saiba mais Conheça mais a respeito da chegada da ginástica no Brasil, que foi implantada e disseminada, especialmente no Rio Grande do Sul, por Georg Black. MAZO, J. Z.; LYRA, V. B. Nos rastros da memória de um “Mestre de Ginástica”. Motriz, Rio Claro, v. 16, n. 4, p. 967-976, out./dez. 2010. Dis- ponível em: <https://www.scielo.br/pdf/motriz/v16n4/a17v16n4.pdf>. Acesso em: 2 maio 2020. Saiba mais sobre a ginástica brasileira: acesse história, missão, valores e modalidades da CBG. CBG – CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. C2020. Dis- ponível em: <https://www.cbginastica.com.br>. Acesso em: 4 maio 2020. Atividades 1. Onde surgiu e o que significa a palavra ginástica? 2. Qual é a contribuição mais famosa dos chineses para a ginástica e no que consiste a técnica? Ginástica – 26 – 3. Quais são os tipos de ginástica que surgiram a partir da Idade Contemporânea? O que foram as Lingíadas? 4. O que diz a BNCC sobre a ginástica escolar? 2 Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica A palavra método é empregada para designar formas de organização, utilizada frequentemente para atingir objetivos. No caso da ginástica, o método precisa ser classificado para poder ser aplicado. Os objetivos deste capítulo são: conhecer os funda- mentos teóricos metodológicos da ginástica; reconhecer a classi- ficação da ginástica; identificar quais métodos podem ser empre- gados na ginástica escolar. Ginástica – 28 – 2.1 Fundamentos teóricos da ginástica Para entender melhor os métodos da ginástica, será preciso falar um pouco dos seus campos de atuação. Com o passar dos anos, devido ao grande alcance da ginástica, foram criadas diversas modalidades com objetivos diferentes, expandindo, dessa forma, seu leque de utilização. Essas modalidades foram divididas em cinco grupos de atuação: ginás- ticas de condicionamento físico (para não atletas e atletas); ginásticas de competição (abarca as modalidades para provas); ginásticas fisioterápicas (para tratamento de doenças); ginástica formativa (reúne técnicas de ginásti- cas para a consciência corporal) e a ginástica geral (responsável pelo desen- volvimento do sujeito em seus aspectos motor, cognitivo e social). A FIG (Federação Internacional de Ginástica) é a organização mais conhecida e mais antiga de ginástica, sendo, também, a maior influência na ginástica mundial. “A FIG governa oito esportes: Ginástica para Todos, Ginástica Artística para Homens e Mulheres, Ginástica Rítmica, Trampo- lim [...], aeróbica, acrobacia e parkour”. (FIG, 2020, [s.p.])1 2.2 Classificação da ginástica Antes de tudo, para fins de estudo, é necessário distinguir exercício físico de atividade física. Exercício físico é uma atividade realizada siste- maticamente com movimentados orientados por um profissional da área de Educação Física. Já a atividade física é um conjunto de ações praticado pela pessoa que correspondem às atividades desempenhadas no dia a dia. A classificação da ginástica serve para organizar os grupos, visto ser grande o número de modalidades que surgiram no decorrer do tempo e de pesquisas sobre o tema. Sinteticamente, falaremos dos cinco grupos de atuação das ginásticas citados anteriormente. As ginásticas de condicio- namento físico podem ser praticadas ao ar livre, tomando-se o cuidado de verificar sua duração, intensidade e frequência. Além disso, são as mais procuradas nas academias quando se quer adquirir melhor forma física e bem-estar geral. As ginásticas de competição compreendem competições 1 Veja mais em: https://www.gymnastics.sport/site/about.php= – 29 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica preestabelecidas tanto para homens como para mulheres com o intuito de determinar um ganhador. As ginásticas fisioterápicas utilizam os exercí- cios físicos para prevenir e tratar doenças. Já a ginástica formativa con- tribui para o indivíduo conhecer os benefícios da atividade física, sendo motivado a incluir essa prática no seu cotidiano a fim de ter um modo de vida mais saudável. Por fim, a ginástica geral passou a ser chamada assim a partir de 1984 para indicar as atividades gímnicas não competitivas. A partir de 2007, a FIG passou a usar o termo GPT (ginástica para todos) por acreditar que seria mais bem compreendida no mundo todo. No Brasil podem ser encontradas as duas terminações: ginástica geral (GG) e ginás- tica para todos (GPT). Figura 2.1 – Esquemade classificação das ginásticas Fonte: elaborada pela autora. A seguir, nos deteremos especificamente nas ginásticas de condicio- namento físico, ginásticas de competição e ginásticas fisioterápicas. 2.2.1 Ginásticas de condicionamento físico As ginásticas de condicionamento físico são as mais procuradas nas academias, tanto por atletas como por não atletas, seja para auxiliar na manutenção da saúde ou para adquirir melhor aptidão física2. Sua prática contínua oportuniza diversos benefícios para os sistemas cardiovascular, 2 A aptidão física ou condição física é formada, principalmente, pelos seguintes compo- nentes: resistência aeróbica, resistência muscular localizada, força muscular, flexibilidade e composição corporal. Logo, para um indivíduo possuir uma boa condição física, é neces- sário que os seus componentes sejam desenvolvidos harmoniosamente. Não basta apenas desenvolver um ou dois parâmetros, mas, sim, todos de forma equilibrada. (DELGADO, 2012, p. 51). Ginástica – 30 – respiratório, para o cérebro – produzindo hormônios que dão a sensação de bem-estar geral –, com isso, aumentando a autoconfiança e bom humor e diminuindo, principalmente, a ansiedade. No entanto, é preciso traçar um objetivo e fazer um plano de treinamento para alcançar esses resulta- dos, o qual, geralmente, é elaborado com a união do trabalho aeróbico e do muscular. Nesta seção, falaremos das ginásticas que fazem parte do condi- cionamento físico. São elas: ginástica calistênica, aeróbica, localizada e musculação. 2.2.1.1 Ginástica calistênica Foi por meio dela que se desenvolveu a ginástica moderna com fun- damentos específicos destinados a obesos, crianças, sedentários, idosos e mulheres. A ginástica calistênica era composta por exercícios que usam o peso do próprio corpo, tais como flexões, abdominais, agachamentos e assim por diante. Estudos apontam que Christian Carl André foi quem colocou em prá- tica a calistenia na escola Salzman, em 1785, para os dias em que não era possível fazer a ginástica ao ar livre, em função do clima. Já Catharine Beecher, em 1828, fundou a mais famosa escola de educação superior para mulheres dos Estados Unidos. Sua ideia era a de que a Educação Física e a moral tinham a mesma importância que a intelectual. Em 1832, abriu uma nova escola em Ohio. Nessas duas escolas, ela desenvolveu exercícios de calistenia para mulheres, movimentos simples acompanhados de música. O suíço Phokion Heinrich Clias, professor de ginástica, publicou, em 1929, o livro “Caliste- nia: exercícios para beleza e força”, no qual descreveu um método próprio que misturava suas ideias com o pensamento de Pestalozzi e a ginástica de Guts Muths, propondo exercícios ritmados e sem aparelhos manuais. O doutor e professor de medicina Dioclesian Lewis propôs um sis- tema de ginástica para auxiliar os americanos a melhorar sua condição física. Seu sistema preocupava-se com as pessoas obesas, as muito magras e fracas, como os jovens e mulheres de todas as idades que careciam de exercícios regulares. Sua ginástica combinava os exercícios de calistenia – 31 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica com exercícios livres. Logo, a nova ginástica de Lewis se popularizou no mundo e foi implantada em outras escolas. O americano de origem sueca, doutor William Skarstron, era um estudioso da Educação Física e aliou a calistenia a suas pesquisas, criando o plano Skarstron. Seu método combinava exercícios simples com a arte, objetivando exercitar todo o corpo da mulher e do homem. Para isso, criou um treino para braços, pernas e tronco, que poderiam ser feitos individual- mente ou combinados, e dividiu seu plano em oito grupos. Logo a calistenia foi lançada na América do Sul, chegando ao Bra- sil em 1893, no Rio de Janeiro, através da ACM (Associação Cristã de Moços). Os professores de ginástica trabalhavam especificamente com o sexo masculino. Nos anos 1980, chegou ao Rio de Janeiro e a São Paulo a ginástica aeróbica, que logo tomou conta das academias, executada com ritmos musicais extremamente rápidos e de alto impacto. Em seguida, chegou a ginástica localizada, que aliou a teoria da musculação com exer- cícios de calistenia. 2.2.1.2 Ginástica aeróbica Essa ginástica constitui-se enquanto um trabalho aeróbico que usa movimentos variados e repetidos de braços e pernas com um ritmo de música acelerado, aumentando, consideravelmente, o ritmo cardíaco e respiratório. No final dos anos 1960, o doutor Kenneth Cooper desenvol- veu uma avaliação que media a condição cardiovascular dos militares, conhecido como teste dos doze minutos. O teste correspondia à distância percorrida, correndo ou caminhando durante referido tempo. Nos anos 1970, Jack Sonensen desenvolveu um programa denomi- nado aerobic dancing, que dividia a aula a fim de trabalhar o aquecimento, a flexibilidade, a dança aeróbica e o esfriamento. A parte principal da aula durava entre 15 e 30 minutos, contendo pequenas coreografias com música, sem interrupção. No entanto, quem fundamentou pedagógica e fisiologicamente esta prática foi a doutora Phillys C. Jacobson, nomeada hookes on aerobics. No final da década de 1980, a ginástica aeróbica transformou-se num esporte competitivo. Em 1994, a FIG organizou campeonatos mun- Ginástica – 32 – diais. O primeiro campeonato oficial foi em 1995, na França, no qual participaram 34 países. A ginástica aeróbica tradicional (GAT) é uma aula de ginástica mis- turada com passos de dança, realizada em grupos, geralmente praticada nas academias, com músicas organizadas pelo professor. Apontada como ginástica aeróbica (com variações como cardiofunk, aeroaxé, mixdance, etc.), condiz com os exercícios chamados aeróbicos que procuram apri- morar o sistema cardiorrespiratório. As práticas esportivas regulares (andar de bicicleta, correr, caminhar, dentre outras) também são consideradas exercícios aeróbicos. As ativi- dades aeróbicas produzem benefícios fisiológicos, psicológicos e moto- res, além de vantagens como: diminuir o percentual de gordura corporal; melhorar a autoestima; aliviar o estresse, etc. Para obter os benefícios, é importante verificar a frequência, a intensidade e a duração da aula, assim como verificar se os exercícios são de baixo, médio ou alto impacto. 2.2.1.3 Ginástica localizada Essa ginástica é uma sequência de exercícios organizados para gru- pos musculares diferentes, praticados com um número variado de repe- tições, com o objetivo de melhorar a resistência muscular localizada. Ela se originou da ginástica praticada na academia a partir de 1930, no Rio de Janeiro, com a professora Gretch Hillefeld, que se baseava no método ginástico analítico e o adaptava para os brasileiros. Uma aula de ginástica localizada é composta pelo aquecimento, parte principal e volta à calma. O aquecimento é composto por exercícios de baixa intensidade e de alongamentos, tem duração de 5 a 10 minutos. Busca-se enfatizar, no aquecimento, os músculos que serão trabalhados na aula. Já a parte prin- cipal tem a duração de 30 a 40 minutos, durante os quais são trabalhados os membros superiores, inferiores e tórax. Por fim, são feitos os exercícios de solo, com os quais, geralmente, são trabalhados os abdominais e os glúteos. E a volta à calma é o relaxamento/alongamento final da aula, que dura cerca de 5 a 10 minutos, a fim de baixar os batimentos cardíacos e relaxar os músculos trabalhados. – 33 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica 2.2.1.4 Musculação A musculação teve origem com Weber, em 1846, fazendo uma rela- ção entre a força muscular e a seção transversa do músculo. Sua finali- dade é o desenvolvimento muscular, geralmente almejando a tonificação e a força. Assim sendo, são usadas sobrecargas por meio de aparelhos de musculação e pesos livres como barras, halteres, caneleiras, entre outros. Para iniciar um treinamento de musculação, é preciso, primeiramente, fazer uma avaliação físicapara verificar qual o tipo de treino que precisa ser aplicado. Geralmente, é feito um período de adaptação (mudanças de série, repetições e cargas), depois é montado um treino conforme o objetivo da pessoa. São aplicados treinamentos diferentes para iniciantes, intermediários e avançados. Figura 2.2 – Resumo das ginásticas de condicionamento físico Fonte: elaborada pela autora. 2.2.2 Ginásticas de competição A ginástica de competição também é conhecida como desportiva. A Federação Internacional de Ginástica, que rege a ginástica moderna, agrupa seis modalidades diferentes na ginástica de competição: ginástica Ginástica – 34 – artística; ginástica rítmica; ginástica de trampolim; ginástica acrobática; ginástica aeróbica; e parkour. Lembrando que a entidade também é res- ponsável pela ginástica para todos, porém trata-se de uma modalidade sem fins competitivos, como veremos nos tópicos a seguir. 2.2.2.1 Ginástica artística (GA) De acordo com a FIG, a ginástica artística é definida como um conjunto de exercícios sistematizados para competição, que envolvem força, agilidade e flexibilidade. A ginástica pode ser entendida como uma forma particular de se exercitar, na qual são abertas várias possibilida- des de práticas que podem ocasionar profundas experiências corporais, enriquecedoras especial- mente pela cultura cor- poral das crianças. A GA é dividida em dois grupos: esporte e ati- vidade física. No primeiro caso, é usada como um esporte olímpico de alto nível, com regras norma- tizadas pela FIG. Já no segundo caso, é usada para desenvolver habilidades motoras mediante um tra- balho corporal que per- mite que os participantes tomem consciência de suas potencialidades de um modo geral. Em 1824, com a colonização alemã no Rio Grande do Sul, a ginástica olímpica (nomenclatura usada) chegou ao Brasil. O estado foi pioneiro e Figura 2.3 – Ginástica artística – argolas Fonte: Shutterstock.com/Leonard Zhukovsky – 35 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica fundou uma Federação de Ginástica (Federação Riograndense de Ginás- tica), iniciando, dessa forma, a prática no Brasil. Na escola, a ginastica artística deve ser abordada de forma pedagó- gica, recreativa e não competitiva. Ela deve ser inserida aos conteúdos das aulas de Educação Física. Dentre os benefícios dessa prática está o desen- volvimento das qualidades físicas, motoras, afetivas e sociais. Nos próxi- mos capítulos, aprofundaremos o assunto a respeito das provas masculinas e femininas de GA disputadas numa olimpíada, bem como os aparelhos usados nessa modalidade. 2.2.2.2 Ginástica rítmica Surgida no século XVI, precisou de mais de duzentos anos para se tornar um conjunto com movimentos de dança a ser ensinado como esporte na antiga União Soviética. A ginástica rítmica é uma modalidade exclusivamente feminina e reúne diferentes passos de dança combina- dos com o manuseio de equipamentos manuais (arco, bola, corda, fita e maças). Ela se tornou um esporte olímpico em 1996. De acordo com a FIG, nas competições de ginástica rítmica, as provas podem ser disputadas individualmente ou em conjunto. Tanto nas provas individuais como nas provas em conjunto há um tempo estipulado (1’15- 1’30’’ individual e 2’15’’-2’30’’ no conjunto); lembrando que os conjuntos são formados por cinco atletas. São disputadas duas provas: na primeira, cinco atletas utilizam o mesmo aparelho; na segunda, são usados dois aparelhos diferentes (2-3). Também será possível ver mais sobre a GR nos próximos capítulos deste livro. 2.2.2.3 Ginástica de trampolim A ginástica de trampolim foi criada em 1936 pelo ginasta estaduni- dense George Nissen, foi reconhecida como modalidade esportiva nesse Figura 2.4 – Sequência de ginástica rítmica Fonte: Shutterstock.com/pikepicture Ginástica – 36 – mesmo período. Ainda nessa época, o trampolim foi introduzido nas esco- las de Educação Física, em universidades e em treinamentos militares. Sendo normatizado pela FIG, o trampolim con- siste em liberdade, voo e espaço. Pode ser usado um ou dois trampolins para um ou dois atletas executarem uma série de dez elementos, deman- dando movimentos cor- porais bem precisos. As competições podem ser individuais ou sincronizadas, tanto para homens como para mulheres. De acordo com a FIG (2020c, [s.p.])3, os atletas usam o trampolim para se lançarem a alturas que podem ultrapassar dez metros. O trampolim representa o mais próximo que o homem chega de voar sozinho, pois não há dispositivos tecnológicos presos ao corpo. Portanto, um erro que acabe em queda pode encerrar a carreira do atleta. A ginástica de trampolim é dividida em quatro categorias: trampolim individual, trampolim sincronizado, duplo mini trampolim e tumbling4. Os melhores ginastas geralmente se especializam em duas dessas quatro 3 É possível saber mais em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/disciplines/ele-dmt.php. 4 Nesta prova, o ginasta executa quatro passadas com oito elementos acrobáticos em cada uma, sendo duas passadas na preliminar e duas na final. O ritmo deve ser mantido durante toda a execução, numa pista de 26 m. Ver mais em: http://www.educacaofisica.seed.pr.gov. br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=165. Figura 2.5 – Trampolim acrobático Fonte: https://osolimpicos.wordpress.com/tag/ trampolim/ – 37 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica modalidades. O trampolim se tornou um esporte olímpico em 2000, por- tanto os Jogos Olímpicos significam o auge para esse tipo de ginástica. 2.2.2.4 Ginástica acrobática A acrobacia se desenvolveu com o surgimento do circo, no século VIII, porém as primeiras competições desse esporte aconteceram somente no século XX, sendo a primeira em 1973, ano em que foi criada a Fede- ração Internacional de Esportes Acrobáticos (IFSA). Em 1998, a IFSA (federação que regia as acrobacias) foi extinta e a modalidade foi adotada pela FIG com o objetivo de unir todas as disciplinas de ginástica e fazer com que as acrobacias se tornassem um esporte olímpico. Em 1999, ocorreu o 16º Campeonato Mundial, o primeiro da era FIG, que ocorreu em Ghent, na Bélgica. Desde 2007, essa modalidade é conhecida como ginástica acrobática. O objetivo é a cooperação através do trabalho em conjunto. A equipe de acrobatas deve executar três séries de equilíbrio, dinâmica e combinada. Conforme a FIG (2020a, [s.p.])5, os ginas- tas atuam em pares, trios ou grupos. As apresen- tações combinam arte e habilidade, os ginas- tas executam elementos estáticos (equilíbrios e retenções) e elementos dinâmicos (elevadores, arremessos com camba- lhotas, dentre outros). Os exercícios em grupo devem incluir pirâmides humanas e os exercícios em pares devem conter, pelo menos, seis elementos de equilíbrio do parceiro. A ginástica acrobá- tica competitiva possui cinco formações: par feminino e par masculino, 5 O processo é explicado em https://www.gymnastics.sport/site/pages/disciplines/hist-a- cro.php. Figura 2.6 – Equipe de ginástica acrobática Fonte: Shutterstock.com/Cherednychenko Ihor Ginástica – 38 – par misto (masculino e feminino), grupo feminino (três mulheres) e grupo masculino (quatro homens). Cada par ou grupo realiza três rotinas: equilí- brio, dinâmico e combinado. 2.2.2.5 Ginástica aeróbica Como vimos anteriormente, a ginástica aeróbica é, também, uma modalidade de condicionamento físico criada pelo médico cardiologista americano Kenneth Cooper e, mais tarde, difundida comercialmente por Jane Fonda, tornando-se a popular fitness aerobics. Na década de 1980, a ginástica aeróbica apareceu como uma forma de prática de exercícios físicos, direcionada para o público em geral. Mais tarde, tornou-se um esporte de competição que foi introduzido pela FIG em campeonatos mundiais. De acordo com a FIG (2020b, [s.p.])6, a ginástica aeróbica competitiva oferece várias plataformas para mostrar a variedade e a criatividade da disciplina. Os ginastaspodem competir de forma individual, em pares mistos ou trios, também em grupos de cinco ou no caso de dança aeróbica e etapa aeróbica, com equipes de oito ginastas. Em todas as categorias, o movimento deve ser contínuo abarcando todo o espaço da competição, incluindo movimentos aéreos e no chão, acompa- nhados por música. Figura 2.7 – Equipe de ginástica aeróbica Fonte: https://www.cbde.org.br 6 Mais informações em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/disciplines/pres-aer.php. – 39 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica 2.2.2.6 Ginástica para todos (GPT) ou ginástica geral (GG) A ginástica para todos é considerada a união das ginásticas que com- preende o conhecimento teórico e prático no contexto escolar. Inicialmente chamada de ginástica geral, surgiu na Europa como uma manifestação popular visando à participação de um vasto número de simpatizantes, sem antes haver uma sistematização para a sua prática. A partir daí, surgiram encontros e festivais para as demonstrações de ginástica que culminaram na formalização de sua prática pela FIG. De acordo com Stanquevisch (2004, p. 51), uma das principais carac- terísticas que diferem a “ginástica geral das demais modalidades gímni- cas de competição é a amplitude de possibilidades que ela tem e que não limita a participação, seja por idade, sexo ou condição física do prati- cante”. Atualmente, a nomenclatura oficial dessa modalidade é ginástica para todos. O conteúdo mais detalhado a respeito pode ser encontrado no capítulo cinco deste livro, no qual há um tópico inteiro a respeito. Figura 2.8 – Equipe nacional de ginástica geral da Dinamarca Fonte: Vibeke Green (2014) 2.2.3 Ginásticas fisioterápicas Especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, de acordo com Santos (1998), o exercício físico vem sendo ministrado como meio de Ginástica – 40 – recuperação dos diversos tipos de consequências pós-operatórias, mus- culares e osteoarticulares, além de prevenir lesões corporais. Dentre elas, podemos citar a ginástica laboral a ginástica corretiva (RPG) a ginástica oriental a hidroterapia e o pilates. A ginástica laboral foi criada em 1925 por operários poloneses e alastrou-se por diversos países da Europa até chegar ao Japão e, após a Segunda Guerra Mundial, difundiu-se pelo mundo. É definida como exer- cícios físicos realizados no ambiente de trabalho durante o horário de expediente, a fim de evitar doenças ocupacionais e lesões por esforços repetitivos. Consiste em alongamentos e exercícios de relaxamento mus- cular praticados em grupos, moldados conforme a função exercida por cada setor. A ginástica corretiva (RPG) é conhecida, também, como cinesiote- rapia e possui exercícios que têm a finalidade de corrigir defeitos posturais e desvios da coluna vertebral. É ministrada por fisioterapeutas, fisiatras e professores de Educação Física especializados. A ginástica oriental faz uso de exercícios lentos, enfatizando a res- piração. Ela reúne técnicas que buscam o equilíbrio dos chacras junto ao da energia cósmica. A hidroterapia é uma ginástica individualizada, com exercícios específicos para cada lesão, que são realizados na água. Ela reabilita pato- logias clínicas, como a reumatologia, ortopedia, lesões pulmonares, para- lisia cerebral entre outras. O pilates é um método de reabilitação e condicionamento físico geral, que foi criado na Alemanha, na década de 1920, por Joseph Pila- tes, que passou por vários problemas de saúde na infância. Para buscar superá-los, ele estudou anatomia, fisiologia e medicina até desenvolver esse método de exercícios físicos. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou como enfermeiro e, nesse período, usou a técnica para aju- dar na reabilitação dos feridos em combate. O método pilates combina movimentos corporais com a respiração, melhorando, desse modo, a postura, já que os exercícios trabalham, principalmente, os músculos abdominais e das costas. – 41 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica Figura 2.9 – Esquema das ginásticas fitoterápicas Fonte: elaborada pela autora. 2.3 Métodos teórico-práticos da ginástica escolar A ginástica faz parte dos conteúdos da cultura corporal de movi- mento. Desse modo, é importante que os alunos a experimentem nas aulas de Educação Física escolar, pois ela produz experiências que possibilitam uma educação para a formação humana. Ao ser abordada no espaço escolar, ela pode favorecer o aprendizado a partir de movimentos já conhecidos pelos alunos, desenvolvendo, assim, a autonomia por meio da relação reflexiva com o cotidiano. A metodo- logia estabelecida apontará o caminho para que a ginástica faça sentido na vida do aluno, contribuindo para sua formação. Ela deve ser organi- zada segundo as habilidades fundamentais de caminhar, correr, saltar, etc. Nesse sentido, pode propiciar o desenvolvimento de habilidades motoras diversas, bem como de condicionamento físico. Como estratégia pedagógica, Betti e Zuliani (2002) destacam que a escolha dos conteúdos específicos da ginástica a serem praticados na aula Ginástica – 42 – de Educação Física precisa corresponder aos princípios metodológicos gerais, tais como princípio da inclusão, da diversidade, da complexidade e da adequação ao aluno. As ginásticas, de modo geral, são técnicas de trabalho corporal que assumem um caráter individualizado com diversas finalidades. Elas podem ser utilizadas como preparação para outras modalidades, também como técnicas de relaxamento e para manter ou recuperar a saúde. Além disso, podem ser aproveitadas de forma recreativa e de competição. Atualmente, existem várias técnicas de ginástica que trabalham o corpo de modo diferente das ginásticas tradicionais (exercícios rígidos, mecânicos e repetitivos), visando à percepção do próprio corpo: ter cons- ciência da respiração, perceber o relaxamento e tensão dos músculos, sen- tir as articulações da coluna vertebral. Oliveira (2007) propõe uma estruturação para a aula de ginástica esco- lar. Inicialmente, é possível fazer jogos e brincadeiras para a integração do grupo. Logo após, apresentar o tema da aula, explorando a ginástica con- forme os objetivos do grupo. A prática deve envolver elementos gímnicos como saltar, equilibrar, girar, rolar, entre outros. Por fim, é importante propiciar tarefas em pequenos grupos, explorando movimentos diversos, com ou sem materiais, que evoluam para apresentações, entre os grupos, sobre os trabalhos que foram realizados. Figura 2.10 – Ginástica escolar Fonte: Shutterstock.com/New Africa – 43 – Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica Saiba mais BORGES, P. J. de M. Ginástica na escola: proposta de um instrumento de avaliação. Efdeportes. Disponível em: https://www.efdeportes.com/ efd185/ginastica-na-escola-proposta-de-avaliacao.htm. Acesso em: 19 jul. 2020. MARCASSA, L. Metodologias do ensino da ginástica: novos olhares, novas perspectivas. Pensar a prática. 2004. Disponível em: https://revis- tas.ufg.br/fef/article/view/94/89. Acesso em: 19 jul. 2020. Atividades 1. Quais são os cinco grupos de atuação das ginásticas? Sintetize cada uma delas. 2. O que é FIG e quais modalidades são reconhecidas por ela? 3. Quais modalidades da ginástica são de condicionamento físico? Descreva a ginástica calistênica. 4. Descreva a estrutura de aula de ginástica escolar proposta por Nara Oliveira. 3 Estudo das capacidades físicas O estudo das capacidades físicas é importante para anali- sar o funcionamento da ginástica e as capacidades implicadas na preparação de uma aula com esse conteúdo, a fim de ser melhor aproveitado nas aulas de educação física. Os objetivos deste capítulo são: conhecer e conceituar as capacidades físicas; dife- renciar e reconhecer as capacidades físicas na ginástica; entender e apontar de que modo as capacidades físicas podem ser usadas na escola. Ginástica – 46 – 3.1 Capacidades físicas – conceitos As capacidades físicas (tambémconhecidas como habilidades ou valências físicas) incluem desde os movimentos simples até os mais com- plexos. As habilidades podem ser desenvolvidas por qualquer sujeito, porém dependem das características hereditárias do organismo de cada um, as quais determinam seus potenciais e possíveis limites. As capaci- dades físicas ou motoras podem ser divididas em três grupos: primeiro – força, velocidade, resistência e potência; segundo – coordenação motora, flexibilidade corporal, equilíbrio motor; terceiro – orientação cinestésica, espaço temporal, estruturação do esquema corporal, expressão corporal. Neste capítulo, abordaremos as capacidades do primeiro e do segundo grupo. Para melhor entendê-las, veremos, a seguir, o conceito, bem como exemplos de cada uma. a) Força: de acordo com Tubino (1992), força é a capacidade dos músculos ou grupamento muscular de vencer uma resistên- cia, exercendo esforço na ação de empurrar ou ele- var. Hertogh et al. (1994) afirmam que o trabalho de força é essencial para obter um nível alto no desempenho dos movi- mentos, nas ginásticas de competição. De acordo com o tipo de treino mus- cular, a força pode ser estática ou isométrica, dinâmica ou isotônica e explosiva (quando há um esforço máximo numa determinada unidade de tempo). A seguir, podemos ver um exemplo de força estática de um ginasta. Figura 3.1 – Força estática de um ginasta Fonte: Shutterstock.com/ KELENY – 47 – Estudo das capacidades físicas b) Velocidade: é a qualidade específica do músculo e das coordena- ções neuromusculares que possibilita a realização de uma sequ- ência rápida de gestos (FAUCONNIER apud TUBINO, 1992). Ela pode ser classificada em três tipos: velocidade de desloca- mento (capacidade máxima de se mover de um ponto ao outro); velocidade de reação (rapidez para responder a um estímulo visual, auditivo ou tátil); velocidade de membros (habilidade de mover membros superiores e/ou inferiores o mais rápido possí- vel). Na imagem abaixo temos um exemplo de velocidade. Figura 3.2 – Corrida de aproximação da mesa de salto Fonte: Elaborado pelo autor. c) R e s i s t ê n c i a : de acordo com Guedes e Gue- des (1995), resistência é a capacidade de um grupo mus- cular execu- tar contrações repetitivas por um período de tempo sufi- ciente para cau- sar fadiga muscular, sem que ocorra perda aparente da eficiência do movimento. Existem diferentes tipos de resistência, a saber: resis- tência aeróbia, anaeróbica e resitência muscular localizada (RML). Na imagem abaixo pode ser visto um exemplo. Figura 3.3 – Resistência muscular Fonte: Shutterstock.com/ Anatoliy Karlyuk Ginástica – 48 – d) Potência: Fleck e Kraemer (1999) definem potência como a velocidade em que o tra- balho é desem- penhado. Isso significa que o treinamento da potência é um aperfeiçoamento das capacidades de força e velocidade. Ela ainda é conhecida como força explosiva (força máxima exercida e velocidade de execução num determinado movimento), como pode ser visto no exemplo a seguir. e) Coordenação: é a capa- cidade de realizar ações motoras complexas, com o mínimo de esforço. Para Tubino (1992), coordenação é a quali- dade física que integra a consciência e a execução, a fim de melhorar a aqui- sição de ações muscula- res e, assim, realizar uma sequência de movimen- tos de forma eficiente e econômica. A coorde- nação pode ser divida em coordenação motora grossa (nadar, correr) e coordenação motora fina (escrever, recortar). Figura 3.5 – Coordenação motora Fonte: Shutterstock.com/Fabrizio Carabelli Figura 3.4 – Potência Fonte: Shutterstock.com/Artur Didyk – 49 – Estudo das capacidades físicas f) Flexibilidade: é a capa- cidade de amplitude do movimento, é a extensão do músculo. Ou seja, é a capacidade que o mús- culo possui de relaxar à medida que é alongado. A flexibilidade envolve o movimento articular e o alongamento muscular. Ela pode ser dividida em dois tipos: flexibilidade corporal geral, que é a habilidade de movimen- tos fundamentais do sis- tema articular corporal (articulações escapulares, coxofemorais e da coluna vertebral); flexibilidade específica, que é a habi- lidade de movimento de certas articulações (KRAHENBUHL; MARTIN, 1977). A flexibilidade muscular é bastante aprovei- tada para a ginástica, no meio esportivo, pois previne lesões e melhora o desempenho atlético (MACIEL; CÂMARA, 2008). g) Equilíbrio: é a competên- cia para sus- tentar o corpo parado contra a força da gravi- dade. Ele pode ser: estático (quando uma posição é man- tida); dinâmico (acontecendo Figura 3.6 – Flexibilidade Fonte: Shutterstock.com/DardaInna Figura 3.7 – Equilíbrio Fonte: Shutterstock.com/Air Images Ginástica – 50 – durante o movimento); recuperado (quando se perde a estabi- lidade e se consegue reavê-la). (TUBINO, 1992). O equilíbrio é uma das habilidades motoras essenciais, pois dependemos dele diariamente para realizar atividades simples, como ficar em pé, subir numa cadeira, equilibrar-se em uma das pernas, como podemos ver na imagem a seguir. 3.2 As capacidades físicas nas ginásticas Conforme foi visto anteriormente, as capacidades físicas podem ser entendidas como as qualidades físicas e motoras de cada indivíduo, de acordo com o seu esforço. E a ginástica funciona como um tipo de ferra- menta para desenvolvê-las. Um dos principais componentes a serem tra- balhados nas modalidades gímnicas é a perfeição das técnicas a fim de obter altos níveis de rendimento. Portanto, faz-se necessário um trabalho em conjunto com as capacidades físicas que são requisitadas nas diferen- tes modalidades esportivas de ginástica. De acordo com Canalda (1998), para obter o desenvolvimento ade- quado das capacidades físicas, é preciso estabelecer um treinamento base- ado nos exercícios específicos de cada modalidade, pois, dessa maneira, é possível alcançar um melhor rendimento do atleta tanto individualmente quanto em grupo. Também conhecidas como requisitos motores, “as capaci- dades físicas de resistência, força, velocidade, flexibilidade e coordenativas representam as condições físicas centrais para o aprendizado e realização de movimentos corporais relacionados ao esporte” (WEINECK, 1999, p. 131). Nesse sentido, percebemos que o desenvolvimento de apenas uma capacidade física é praticamente impossível, visto que há sempre mais de uma sendo requisitada na execução de um movimento. Partindo dessa afirmação, veremos, a seguir, as capacidades físicas utilizadas numa deter- minada modalidade gímnica. Para exemplificar, escolhemos a modalidade ginástica artística (GA). A ginástica artística pode ser abordada como: conteúdo na disciplina de educação física escolar; atividade extracurricular; em clubes; em academias; como esporte de alto rendimento. A partir do conhecimento das capacidades motoras específicas para o esporte é possível identificar as capacidades físi- – 51 – Estudo das capacidades físicas cas importantes a serem desenvolvidas no treino na GA. Devido à grande diversidade de movimentos, a GA precisa reunir capacidades físicas como força, flexibilidade, resistência, velocidade e coordenação. Nesse sentido, primeiramente, é importante trabalhar a força, pois, conforme o aparelho a ser usado, pode ser requerida uma força máxima ou explosiva para que o exercício seja executado corretamente. Além disso, é importante que o ginasta tenha boa capacidade de resistir à fadiga, já que os movimentos devem ser realizados em sequência, pois a GA combina exercícios dinâmicos e estáticos complexos, exigindo bastante força. Conforme vimos, a força pode ser definida como a capacidade do músculo de vencer uma resistência, realizando esforço na ação de empur- rar ou elevar. Os tipos de força são: força explosiva (o sistema neuro- muscular produz a maior elevação de força por unidade de tempo); força máxima (o sistema neuromuscular produz a maior força por meio de uma contração voluntáriamáxima); Capacidade de resistir à fadiga (o sistema neuromuscular continua produzindo tensão em fadiga). A outra capacidade física fundamental a ser trabalhada na GA é a flexibilidade, a qual pode ser definida como a capacidade do músculo relaxar enquanto é alongado. A maior parte dos elementos técnicos de ginástica requer uma boa amplitude de movimento e, caso o atleta não consiga atingir a amplitude determinada para certo movimento, ele per- derá pontos. Quadro 3.1 – Tipos de flexibilidade Flexibilidade geral – flexibilidade dos principais sistemas articulares (ombros, quadris, coluna). Flexibilidade específica – flexibili- dade em determinadas articulações. Flexibilidade ativa – maior ampli- tude de movimento atingida pela contração do músculo agonista e relaxamento do antagonista. Flexibilidade passiva – maior amplitude de movimento atingida com o auxílio de forças externas. Flexibilidade Estática – manutenção do estado de alongamento por um determinado período. Fonte: elaborado pela autora. Ginástica – 52 – Veja a seguir um exemplo de atividades de fortalecimento muscular e de flexibilidade para as principais ações motoras presentes no movi- mento de abertura e fechamento num exercício de GA. Quadro 3.2 – Atividades de fortalecimento muscular e de flexibilidade Abertura Fechamento Flexibilidade Força Flexibilidade Força Fonte: elaborada pela autora. A capacidade física resistência é importante em vários aspectos na GA. A modalidade possui aparelhos femininos e masculinos, no quais são exigidos elementos de força explosiva, força máxima e velocidade. Além disso, são realizados em sequência, com um curto período para a recu- peração e, por esse motivo, é fundamental que o ginasta possua uma boa resistência muscular e boa resistência aeróbica e anaeróbica. É importante lembrar que a resistência pode ser definida como a capacidade que um grupo muscular tem de ficar contraído por tempo suficiente para causar fadiga muscular, porém sem perder a eficiência do movimento. Quadro 3.3 – Principais tipos de resistência Resistência anaeróbica Resistência aeróbica Resistência muscular localizada Quando é realizada uma atividade de alta intensidade num curto período de tempo. Habilidade de susten- tar esforços intensos de grande duração sem um alto acúmulo de ácido lático. Nota sobre ácido lático: O músculo pro- duz ácido lático no Quando é realizada a repetição de um movi- mento no maior tempo possível, não compro- metendo sua eficácia. – 53 – Estudo das capacidades físicas Resistência anaeróbica Resistência aeróbica Resistência muscular localizada organismo a partir da glicose. Quando a pes- soa não está bem con- dicionada fisicamente, ela acumulará mais ácido lático no mús- culo, dessa forma pro- vocando dores muscu- lares. Ou seja, quanto mais trabalhada for a musculatura, mais rápido o ácido lático será eliminado, tor- nando o treino mais eficiente. Fonte: elaborado pela autora. A velocidade na ginástica artística é importante de acordo com as formas de demonstração: velocidade de ação, velocidade de frequência e resistência de velocidade rápida. O ginasta necessita executar vários movi- mentos com potência, num curto período de recuperação. Tais movimen- tos são, geralmente, precedidos de corrida. A velocidade pode ser definida como a qualidade específica do músculo, o qual possibilita a realização de uma sequência rápida de gestos. Quadro 3.4 – Tipos de velocidade Formas de manifestação pura: Formas de manifestação complexa: Velocidade de reação Velocidade de ação Velocidade de frequência Velocidade de força Resistência de força rápida Resistência de velocidade máxima Fonte: elaborado pela autora. Ginástica – 54 – Por fim, a coordenação motora é um requisito essencial para que o ginasta tenha um bom desempenho e evolua na técnica. “A coordenação motora é primordial para a perfeita execução das diferentes habilidades técni- cas da GA durante as competições e os treinamentos” (TRICOLI; SERRÃO, 2005, p. 148). Como já visto, a coordenação motora pode ser definida como a capacidade de realizar ações motoras complexas com o mínimo de esforço. Quadro 3.5 – Capacidades coordenativas Tipos de capacidades coordenativas conforme Weineck (1999) Para conduzir um movimento são necessárias as capacidades de: Para se adaptar um movimento a uma situação ambiental são necessárias as capacidades de: acoplamento, diferenciação, equilíbrio, orientação, ritmo. equilíbrio, orientação, ritmo, reação, mudança. Fonte: elaborado pela autora. 3.3 Capacidades físicas e sua utilização na escola Com relação às capacidades físicas e sua utilização na escola, é importante citar as ações naturais básicas que compõem o movimento humano, tais como andar, correr, saltar, girar, rolar, etc. Desse modo, ao descrever um movimento ou ação para poder alcançar determinado obje- tivo, será preciso observar três fatores: a posição inicial, a execução e a posição final. A posição inicial é a descrição do posicionamento estático do indivíduo antes de ele iniciar o deslocamento. Na fase de execução, é importante usar a informação correta para que o ginasta tenha claro o número de repetições, o tempo de duração, dentre outros. A posição final expõe o posicionamento do indivíduo ao concluir o deslocamento. Para falarmos sobre a utilização das capacidades físicas, daremos o exemplo do movimento do salto sobre a mesa da ginástica artística1. Após realizar uma corrida de aproximação, de forma a ganhar velocidade, o ginasta deve se impulsionar no trampolim e em seguida tocar a mesa 1 Para saber mais sobre este salto, acesse: http://www.dicionarioolimpico.com.br/ginasti- ca-artistica/cenario/salto-sobre-a-mesa. – 55 – Estudo das capacidades físicas com as duas mãos simul- taneamente. Utilizando um movimento de impul- são, o atleta se afasta da mesa e realiza o salto pro- priamente dito, que pode conter rotações simples ou múltiplas em torno dos eixos corporais. O ginasta deve fina- lizar o salto com uma aterrissagem sobre os dois pés, de frente ou de costas para o aparelho, o mais próximo possível da área demarcada no col- chão de aterrissagem. Na imagem a seguir, pode ser vista uma sequência do salto sobre o cavalo na GA. Nas aulas de ginástica, é importante demonstrar, também, as posições básicas do corpo, nomeando-as para que os alunos possam visualizar e memorizar os movimentos de maneira mais correta. A posição anatômica, assim como os movimentos articulares2, são os mais usados, principal- mente na orientação do aquecimento. Quadro 3.6 – Posição anatômica Posição anatômica: em pé, tronco ereto, membros superiores ao longo do corpo, olhos voltados para a frente. Fonte: elaborado pela autora com elementos de Shutterstock.com/AV-Art 2 Referem-se às posições das articulações conforme o movimento aplicado. Figura 3.8 – Salto sobre cavalo Fonte: Shutterstock.com/Lagartija de colores Ginástica – 56 – Quadro 3.7 – Movimentos articulares mais utilizados Extensão: quando aumenta o ângulo da articulação de um seg- mento do corpo, distanciando suas partes. Flexão: quando diminui o ângulo da articulação de um segmento cor- poral, aproximando as suas partes. Rotação: movimentos em torno do eixo longitudinal do segmento. Pronação: rotação interna do ante- braço. Supinação: rotação externa do antebraço. Inversão: elevação da borda medial do pé. Eversão: elevação da borda lateral do pé. Dorsiflexão: movimentação do peito do pé em direção à canela. Flexão plantar: movimentação da sola do pé para baixo (apontar os dedos). Fonte: elaborado pela autora com elementos de Shutterstok.com/Auttapon Wongtakeaw. – 57 – Estudo das capacidades físicas Cabe salientar, também, as formas como os alunos podem ficar dis- postos no espaço físico, tais como: em colunas, fileiras e diagonal. Nas imagens a seguir há exemplos de cada uma das formas. Quadro 3.8 – Formas como os alunos podem ficar dispostos no espaçofísico Em colunas: quando ficam um atrás do outro. Em fileiras: quando ficam dispos- tos um ao lado do outro. Em diagonal: quando se posicio- nam obliquamente em relação a uma linha de referência. Fonte: elaborado pela autora. Shutterstock.com/Sergey Novikov Nas aulas de ginástica, todas essas formas são comumente usadas numa sequência pedagógica, que é definida como um conjunto de movi- mentos que busca um objetivo. Ela é dividida em estágios de desenvolvi- Ginástica – 58 – mento, portanto precisa ser ensinada partindo do movimento mais simples para o mais complexo. Nesse sentido, as capacidades físicas colaboram para o desenvolvimento de tais movimentos. Para trabalhar as capacidades físicas será preciso aplicar atividades que não causem uma sobrecarga no organismo e que estimulem seu desen- volvimento. Para isso, é importante avaliar se os exercícios aplicados na aula de ginástica condizem com a idade cronológica e maturacional do aluno. Veja a seguir o exemplo de um programa de jogos de condicio- namento físico proposto por Moreno (2002) e Silva (2002). Esses jogos podem facilmente ser adaptados para serem utilizados numa sequência pedagógica de uma aula de ginástica escolar, que busca trabalhar as capa- cidades físicas dessa modalidade. Quadro 3.9 – Exemplo de programa de jogos de condicionamento físico Fortalecimento em duplas e em trios 1) Dois a dois, de mãos dadas, um de frente para o outro. Devem se agachar e levantar lentamente sem perder o equilíbrio. 2) Carrinho de mão: em duplas, um segura os pés do outro e caminha com as mãos no chão para chegar até o ponto deter- minado. 3) Corrida da cadeirinha: em trios, dois irão entrelaçar os bra- ços para formar uma cadeirinha, enquanto o terceiro senta nos braços (cadeirinha). Estes devem correr, carregando o 3º aluno até a linha de chegada. Podem ir alternando quem está na cadeirinha, até que todos possam ser carregados. Velocidade de reação 1) Em duplas: deverão tentar tocar no tornozelo um do outro. O que conseguir tocar o tornozelo do colega três vezes será o vencedor. 2) Em duplas: cada dupla ganhará um balão que deve ser amar- rado com um barbante na perna de um dos integrantes da dupla. O objetivo é estourar o balão das outras duplas, sem que estou- rem o próprio. A dupla que tiver o balão estourado não poderá estourar o dos outros. 3) Em duplas: de mãos dadas, os alunos deverão tentar pisar no pé um do outro. Aquele que conseguir pisar mais vezes no pé do colega durante um minuto será o vencedor. – 59 – Estudo das capacidades físicas Equilíbrio 1) Aluno na posição em pé e com os braços abertos. Deverá elevar uma das pernas estendida para trás, flexionando o tronco à frente, ficando na posição de “avião”. 2) Permanecer em cima de um objeto (pode ser uma lata) equi- librando-se, flexionando a perna de apoio e estendendo a outra perna para a frente. 3) Caminhar sobre uma trave ou qualquer outra superfície estreita sem perder o equilíbrio. Ritmo 1) Dança do cossaco: os alunos deverão apresentar os movi- mentos por um tempo determinado, sem errar. A execução da dança é tocar com as mãos nos pés opostos (mão direita – pé esquerdo / mão esquerda – pé direito) sendo uma vez pela frente e outra vez pelas costas. 2) Corrida no baile: em duplas, os alunos deverão caminhar um de frente para o outro com as mãos no ombros do colega, combinando as passadas. 3) Em duplas: um determina o ritmo com palmas e o outro deverá marchar no ritmo proposto pelo colega. Quando este se ajustar ao ritmo, seu colega o altera novamente para que o outro tenha que se ajustar ao ritmo das palmas. Coordenação 1) Em duplas: um aluno deve conduzir uma bola entre cones dominando-a. Ao final do trajeto, ele deverá passá-la ao com- panheiro, que continuará o exercício. 2) Na quadra ou numa área ampla, dois alunos trocam passes altos. Ao sinal do professor, o aluno que realizou o passe exe- cutará um rolamento para frente antes de receber o passe do companheiro, tentando evitar que a bola toque no chão. 3) Conduzir uma bola de futsal com os pés, ao mesmo tempo em que quica uma bola de basquete. Resistência 1) Em duplas: trocam passes curtos; ao sinal do professor, o aluno que está de posse da bola executa um passe longo para que seu colega corra tentando dominá-la. 2) Na quadra: o professor coloca diversas bolas do lado oposto. Ginástica – 60 – O aluno corre até as bolas, pega uma e volta, conduzindo-a. Ele repete a ação até que consiga levar todas as bolas para o lado onde começou. 3) Em trios: dois alunos trilham uma corda enquanto o outro pula um número determinado de saltos. Velocidade 1) Duas colunas: o professor fica entre as colunas com uma bola nas mãos. Ele jogará a bola à frente enquanto os primeiros alunos das colunas correrão para tentar pegá-la. 2) Em duplas: um fica agachado e à frente, o outro, que está atrás, a qualquer momento pode saltar por cima do compa- nheiro e inicia uma corrida. O companheiro deverá tentar alcançá-lo, tocando-o antes de ele chegar ao final. 3) Em duplas, estando um à frente do outro: o da frente fica com as pernas afastadas, olhando para a frente. O aluno que está atrás joga uma bola entre as pernas do companheiro. Assim que a bola passar por baixo das pernas, este deverá correr para pegá-la antes que ela chegue à linha final. Flexibilidade 1) Sentados no chão: com as pernas unidas e estendidas, o aluno deverá realizar uma flexão do tronco à frente, tentando alcançar as mãos na ponta dos pés. 2) Sentados no chão: com as pernas afastadas, o aluno deverá realizar uma flexão do tronco à frente com as mãos apoiadas na nuca, tentando tocar os cotovelos no solo. 3) Repetir o exercício anterior, porém realizando a flexão sobre uma das pernas (direita ou esquerda). O aluno deverá alcançar com a mão esquerda o pé direito e com a mão direita o pé esquerdo. Fonte: elaborado pela autora. De acordo com o que foi visto neste capítulo, percebemos o quanto é importante estudar as capacidades físicas a fim de trabalhá-las da melhor forma, buscando sempre o desenvolvimento e o aprimoramento dos movi- mentos dos alunos nas aulas de ginástica. – 61 – Estudo das capacidades físicas Saiba mais BORTOLETO. M. A. C. et al. Ginástica: movendo pessoas, construindo cidadania. Campinas: UNICAMP/FEF; SESC, 2014. Disponível em: https://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/posgraduacao/ebook- -vii-forum-gg-outubro-2014.pdf. Acesso em: 22 jul. 2020. TREINO em foco. Principais valências físicas – Força / Resistência / Velocidade – Treino Físico nos Esportes #1. 2016. (23m.45s). Disponível em: h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = T D 8 E R _ Q8zCY&list=RDCMUCw-hc7ZJummS0AvWyjUX56A&start_ radio=1&t=76. Acesso em: 22 jul. 2020. Atividades 1. O que são capacidades físicas? 2. As capacidades físicas estão divididas em três grupos. Quais fazem parte do primeiro grupo? Sintetize cada uma delas. 3. Quais são os componentes da força? Defina cada um. 4. Quanto ao espaço físico, quais são as formas mais comumente usadas para a organização dos alunos? Descreva cada uma delas. 4 Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas Neste capítulo, você conhecerá a utilização de movimentos e materiais próprios da educação física para a sistematização da ginástica. Para isso, estudaremos a terminologia dos movimen- tos ginásticos e, com o intuito de exemplificá-los, usaremos as modalidades de ginástica circense e de ginástica rítmica. Fare- mos uma síntese a respeito de cada modalidade para elucidar como elas podem ser usadas nas aulas de educação física. Os objetivos deste capítulo são: aprender e conceituar os movimen- tos corporais relativos à ginástica; entender o funcionamento e estrutura da ginástica na escola; conhecer e identificar os apare- lhos e materiais alternativos de ginástica. Ginástica – 64 – 4.1 Terminologia dos movimentosde ginástica A terminologia refere-se à nomenclatura técnica utilizada para os movimentos de ginástica, conforme nos mostra a literatura de anatomia, biomecânica e de treinamento desportivo. Além disso, você pode ver mais informações sobre a terminologia dos movimentos corporais nos próxi- mos capítulos deste livro. A seguir, elaboraremos um quadro para definir cada movimento. Quadro 4.1 – Definição de movimentos de ginástica Posição grupada Inclinação do tronco para frente, flexionando as arti- culações do quadril. MMSS1 à frente do corpo, com semiflexão dos cotovelos e mãos apoiadas na parte anterior ou posterior dos joelhos, e MMII2 com fle- xão total dos joelhos, próximos ao tronco. Posição carpada Flexão do quadril com tronco inclinado para frente. MMSS estendidos à frente com as mãos em direção aos pés, e MMII com extensão dos joelhos unidos à frente do corpo. Posição afastada Tronco ereto, MMSS estendidos ao longo do corpo. Estender e afastar lateralmente os MMII, o que pode ser realizado de duas formas: com afastamento ante- roposterior ou afastamento lateral. Posição afastada- carpada Extensão e afastamento lateral dos MMII. Flexionar o tronco para frente (a partir da flexão do quadril) enquanto os MMSS ficam estendidos e afastados lateralmente em direção aos pés. Posição celada Hiperextensão da coluna vertebral, MMSS hiperes- tendidos ao longo do corpo, com MMII unidos e estendidos. Fonte: elaborado pela autora. 1 MMSS – Membros Superiores. 2 MMII – Membros Inferiores. – 65 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas De acordo com Gallardo (1993), os movimentos ginásticos, assim como os esportivos, evoluíram dos movimentos naturais ou de habilidades específicas do ser humano, os quais se caracterizam por estarem presentes no homem, independente do ambiente e do nível social e cultural, ser- vindo de base para adquirir habilidades originadas culturalmente. Isso significa que esses movimentos naturais ou específicos, quando avaliados e modificados com a finalidade de melhorar o movimento, pas- sam a ser movimentos construídos culturalmente. Vejamos, por exemplo, o movimento do salto: ele foi estudado, modificado e melhorado com o passar dos anos para conseguir se adequar às finalidades de cada esporte em que aparece, seja no salto em altura do atletismo, no bloqueio do volei- bol ou no salto sobre a mesa na GA, saltos de dança usados em todas as modalidades gímnicas, entre outros. Veja a seguir a classificação de Sey- bold (1994) para os exercícios naturais, artificiais, sintéticos e analíticos. Quadro 4.2 – Classificação de Seybold (1994) para os exercícios naturais, artificiais, sintéticos e analíticos Exercícios naturais São próprios da evolução humana, como andar, saltar, correr, etc. Exercícios artificiais ou construídos São aplicados para um determinado objetivo. Por exemplo: reabilitação motora. Exercícios sintéticos Envolvem grande grupo de massa muscular simultaneamente, relacionando-os com os movi- mentos naturais. É predominante, ainda, nas ati- vidades aeróbicas (cardiovasculares). Envolve a ação de três ou mais articulações e suas sinergias. Exercícios analíticos Envolve tanto os pequenos como os grandes gru- pos musculares. Concentra-se num determinado segmento corporal e associa-se aos movimentos artificiais com características neuromusculares (anaeróbicas). Envolve a ação de uma ou duas articulações e suas sinergias. Fonte: elaborado pela autora. Ginástica – 66 – Cabe lembrar que os elementos corporais da ginástica incluem: pas- sos, corridas, saltos, saltitos, giros, equilíbrios, ondas, poses, marcações, balanceamentos. Já os exercícios acrobáticos incluem: rotações (no solo, no ar, em aparelhos), apoios (no solo, em aparelhos), reversões (no solo, em aparelhos), suspensões (em aparelhos), pré-acrobáticos (com apare- lhos ou sem aparelhos). 4.2 Funcionamento e estrutura da ginástica escolar Nesta seção, estudaremos o funcionamento e a estrutura da ginástica escolar. Sabendo que ela possui muitas modalidades, escolhemos a ginás- tica circense para exemplificar melhor a utilidade na escola. Para isso, iniciaremos o tópico abordando alguns aspectos históricos a respeito. A ginástica circense é culturalmente baseada no circo, que tem seus primeiros registros históricos datados de 4 mil anos a.C., na China, por meio de pinturas antigas com imagens de contorcionistas, equilibristas e acroba- tas. Com essas atividades, especialmente da acrobacia, os guerreiros trei- navam suas capacidades físicas, tais como força, agilidade e flexibilidade. De acordo com Querubim (2003), a palavra circus (de origem latina) era atribuída ao lugar em que aconteciam as competições romanas. Por um longo período, foram realizados espetáculos nos picadeiros (arena do circo), usando-se, também, animais. Com o passar do tempo, os artis- tas começaram a ser inseridos nas apresentações. Dessa maneira, foram acrescentando-se outras atividades como as apresentações acrobáticas (com uma diversidade de movimentos), malabarismos, contorcionismos, além de brincadeiras engraçadas. O circo, conforme conhecemos, apareceu no final do século XIX. As trupes3 instalavam-se nas periferias das cidades e ali realizavam seus espetáculos. Estendiam uma lona para se proteger do tempo, também para poder cobrar a entrada das pessoas, pois essa era a fonte de renda dos artistas. As atividades circenses chegaram ao Brasil com os ciganos, que 3 De acordo com Torres (1998), trupe era um grupo formado por artistas, palhaços, ilusio- nistas, equilibristas, dentre outros, que se apresentavam em praças e nas ruas da Europa. – 67 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas deixaram a Europa trazendo apresentações de domadores de ursos e leões, cavalos, ilusionismo, equilibristas, etc. Eles viajavam e se instalavam com o circo de cidade em cidade, adaptando seus shows de acordo com o público de cada lugar. Nos anos 1980, foi criada a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, na qual jovens de diferentes classes sociais puderam ter acesso às técnicas circenses. Com essas ações, verificou-se uma mudança no circo que abriu espaço para o circo contemporâneo ou novo circo. Existem, ainda, mais de dois mil circos espalhados pelo Brasil; um dos primeiros foi o Circo Spacial, que ainda continua vivo, com uma enorme estrutura física4 (CASTRO, 2005). Nesse sentido, vamos conferir como a ginástica está inserida em tal ambiente. A ginástica pode ser vista no circo por meio de vários movimen- tos: cambalhotas, equilibrismo, contorcionismo, acrobacias, na força e flexibilidade no trapézio, na coordenação do malabarista, etc. Diante dessas explanações, pode haver o seguinte questionamento: como as atividades circenses podem ser inseridas numa aula de educação física escolar? De acordo com Duprat e Bortoleto (2007), a atividade circense reúne inúmeras ideias de cunho educativo, isso significa que ela pode ser abordada tanto na educação física como em outras disciplinas no espaço escolar. Desse modo, para que o professor de educação física possa introduzir a ginástica circense em suas aulas, ele deve, primeiramente, conhecer a realidade da escola e dos alunos com os quais irá trabalhar, avaliando suas possibilidades e limites quanto às atividades. Após esse estudo inicial, também deverá planejar sua aula escolhendo os exercícios e materiais que poderão ser utilizados. As atividades lúdicas e motoras devem ser prio- rizadas, procurando usar materiais que não ofereçam perigo aos alunos. Os materiais mais usados nessas aulas são bolas e arcos, pois, com eles, os alunos podem realizar movimentos de lançar, girar, equilibrar, conduzir, golpear, etc. Um exemplo de atividade para as aulas de ginástica circense é o malabarismo (capacidade de manipular um ou mais objetos), 4 Confira mais informaçõessobre o Spacial em: CIRCO Spacial. A história. Disponível em: http://www.spacial.com.br/historia. Acesso em: 31 jul. 2020. Ginástica – 68 – no qual podem ser usadas bolas pequenas (de tênis), que geralmente a escola possui, ou até mesmo bolas feitas de meias de nylon. Essa atividade não oferece grandes riscos e as bolas podem ser confeccionadas pelos pró- prios alunos durante a aula (AYALA, 2008). Na imagem abaixo, podemos ver um exemplo malabarismo com bolas. Figura 4.1 – Malabarismo com bolas Fonte: Shutterstock.com/Marina Lohrbach Outro exemplo de ginástica circense a ser trabalhada nas aulas é a acrobacia. Trata-se de um jogo de equilíbrio que pode ser feito usando as mãos e os pés (em pares ou em grupo). Ela pode ser desenvolvida no solo, no ar ou em aparelhos específicos. De acordo com a estrutura da escola, podem ser desenvolvidas acrobacias com tecidos presos no teto de uma sala, ginásio ou em árvores. No subitem a seguir pode ser visto mais informações a respeito da fixação, material, cuidados e movimen- tos no tecido acrobático. – 69 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas 4.2.1 Tecido acrobático De acordo com Batista (2003), Calça e Bortoletto (2006), o tecido acrobático ou aéreo é uma modalidade aérea circense que foi se desen- volvendo nos últimos anos. Desiderio (2003) expõe que não se sabe ao certo quem inventou o tecido, mas suspeita que seja uma extensão do trabalho com corda lisa. O autor esclarece que alguns relatos indicam que foi na França, nos anos de 1980, que o tecido acrobático foi apri- morado, após pesquisas com diferentes materiais, por meio das quais se chegou à utilização de um material bastante resistente e com elasticidade chamado de liganete. O mais importante em relação ao material é que ele suporte o peso do praticante em até quatro vezes. O tecido deve ser utilizado dobrado, por- tanto, precisa ter duas vezes a altura do espaço, mais dois metros de sobra de tecido. Por exemplo: se o espaço tem 6 metros de altura, será preciso usar doze metros de tecido mais uns dois metros de sobra. Na imagem a seguir, pode ser verificado o tecido fixado no teto de um ambiente fechado. Figura 4.2 – Tecido acrobático Fonte: Shutterstock.com/Svetlanistaya No que se refere à forma de fixar (amarrar) o tecido, bem como a altura, pode haver variações. Tais fatores determinarão os tipos de travas (ou chaves), truques e quedas que poderão ser executados. O Ginástica – 70 – tecido acrobático é fixado no teto ou em alguma estrutura interna do ambiente, geralmente a uma altura acima dos quatro metros até, apro- ximadamente, doze metros. Existem várias formas de ancorar o tecido no teto, porém nunca pendure no teto de gesso, pois não fornece sus- tentação alguma. Os tecidos devem estar em locais onde não corram o risco de se soltar. No Brasil, os equipamentos de ancoragem seguem as normas da ABNT e possuem certificações para a segurança dos praticantes, lem- brando que cada equipamento tem seus pré-requisitos de material e de carga suportada. Veja a seguir imagens dos equipamentos com a descrição de cada um. Figura 4.3 – Equipamentos de ancoragem Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 4.3 – Descrição dos equipamentos de ancoragem Mosquetão Existem alguns tipos de mosquetão: com trava automática, trava simples e trava manual. Será preciso usar dois mosquetões. Normalmente, é utilizado mosquetão de alu- mínio de, pelo menos, 28 kN (1 kN equivale a 100 kgf – Kilograma Força. Ou seja, um mosquetão com carga de ruptura de 28 kN suportaria 2800 kg). – 71 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas Destorcedor ou giro Geralmente, é feito de aço, com 22 a 24 kN. O destorcedor garante a rotação do tecido, ou seja, serve para não deixar o tecido ficar torcido. Anelão com orelha ou Freio 8 É nele que o tecido será preso. No Brasil, o anelão com orelha é difícil de ser encontrado, mas pode ser utilizado o freio 85 (foto ao lado). Normalmente, é usado o freio 8 de alu- mínio, de pelo menos 40 kN. Fonte: elaborado pela autora. Além da importância da fixação e da escolha do tecido, também é fundamental que o chão seja revestido de material macio ou com o col- chão de alta densidade para amortecer quedas que possam vir a ocorrer, especialmente com iniciantes. As restrições variam de acordo com a capa- cidade de cada um de subir no tecido com segurança e sustentar o peso do próprio corpo, sempre com a ajuda de um professor. Cabe ressaltar que um trabalho de iniciação, nessa modalidade, deve ser realizado a poucos metros de altura, perto do colchão, e ir subindo gra- dativamente, conforme o aluno vai adquirindo maior confiança e técnica. De acordo com Bortoleto e Machado (2003), o tecido é um dos apare- lhos aéreos de mais fácil aprendizado, especialmente porque o material se molda ao corpo, adaptando-se às características do aluno. 5 Veja, no link do vídeo destacado a seguir a forma correta de encaixar o tecido no freio 8. Fonte: AKROHOLIC. Como prender o tecido no freio 8. 2018. (46s) Disponível em: ht- tps://www.youtube.com/watch?v=9crT31AuBng&feature=youtu.be. Acesso: 31 jul. 2020. Ginástica – 72 – 4.2.2 Acrobacia em dupla A acrobacia em dupla é caracterizada pela execução de exercícios de força, equilíbrio, flexibilidade e agilidade, os quais podem ser realizados por homens e mulheres, em duplas ou em grupos. Além disso, ela engloba vários movimentos de solo da ginástica artística, tais como os movimen- tos isolados (a acrobacia em si) que são compostos por mortais, muitos deles impulsionados pelo parceiro (exercícios dinâmicos), por equilíbrios e força (exercícios estáticos) e por exercícios individuais (saltos, giros, equilíbrios, etc). Na acrobacia em dupla, temos o volante e a base. O volante executa os equilíbrios e os mortais e a base sustenta os equilíbrios e lançamentos do volante, partindo de posições diferentes. Quadro 4.4 – Exercício acrobático do aviãozinho Aquele que será a base apoiará os pés entre a cintura e as pernas do volante. Estando apoiado, o volante se lançará para a frente, enquanto a base estica as pernas. Depois de estarem equilibrados, soltarão as mãos, ficando na posição conhecida como aviãozinho. Veja mais exemplos de acrobacia em dupla na figura ao lado. Fonte: elaborado pela autora. Shutterstock.com Quadro 4.5 – Plano de aula PLANO DE AULA Nome da escola: Nível de Ensino: Fundamental – Anos iniciais. Turma: Mista Número de alunos: 30 Duração: 45 minutos Disciplina: Educação Física – 73 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas UNIDADE TEMÁTICA Ginástica Circense: Acrobacia em duplas OBJETIVO GERAL: apresentar a ginástica circense, trabalhando alguns movi- mentos acrobáticos em dupla. CONTEÚDO PROGRA- MÁTICO PROCEDIMENTOS MATERIAL AVALIAÇÃO *Acrobacia em dupla. Parte inicial: (5 min.) pode escolher uma ati- vidade que contemple o aquecimento e alonga- mento. Parte principal: (30 minutos). Abaixo seguem dois exemplos, mas você deverá preparar de 8 a 10 exercícios para este perí- odo de aula. 1. Em dupla, um de frente para o outro e de mãos dadas: aproximar os pés e inclinar seus corpos de forma ereta, para trás, equilibrando- -se um no outro. 2. Em dupla, um aluno deita no chão (num col- chonete) em decúbito dorsal (de costas), com os joelhos flexionados. O outro se apoiará de forma ereta em seus joe- lhos e em suas mãos. *Colchonetes *Quadra Parte final: (5 min.). Aqui é apenas um exem- plo. Você pode escolher a ava- liação que fique de acordo com a sua aula. Relaxa- mento e roda de conversa, ava- liando: 1 – o que pode melhorar. 2 – o que pode ser usado nova- mente. Fonte: elaborado pela autora. Ginástica – 74 – 4.2 Aparelhos e materiais alternativos de ginástica Atualmente, a ginástica está presente em quase todasas manifesta- ções da cultura corporal de movimento existentes nas escolas, pois os alu- nos correm, andam, saltam, lançam, arremessam, dentre outros. Figura 4.4 – Características da ginástica escolar Fonte: elaborada pela autora. Assim como vimos no tópico anterior, a ginástica possui vários apa- relhos e, como forma de delimitação, será usado o exemplo de ginástica rítmica, pois é uma modalidade que possibilita a utilização de diversos materiais alternativos nas aulas de educação física escolar, especialmente ao trabalhar com a unidade temática de ginástica. Para isso, falaremos brevemente sobre os aspectos históricos dessa modalidade, pois seu apro- fundamento se dará nos próximos capítulos. Na atualidade, a ginástica rítmica é reconhecida mundialmente como um esporte estritamente feminino e pode ser apresentada em grupos de – 75 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas cinco ginastas ou individualmente. A GR é uma modalidade que faz parte das olimpíadas, na qual a(s) ginasta(s) apresenta(m) uma sequência core- ográfica de movimentos corporais harmonicamente ritmados e programa- dos, fazendo uso de aparelhos. As exibições são uma sincronização de ritmo, misturando dança, música e movimento, usando apenas um dos aparelhos manuais. A GR teve origem nas escolas europeias no século XIX, com o peda- gogo Émile Jacques-Dalcroze6. Ela podia ser vista em vários países, porém seu início se deu na Alemanha, baseada nos estudos de Basedow e Salz- mann, os quais se inspiravam na proposta de educação do genebrino Rous- seau, que defendia que o exercício devia fazer parte da formação humana. A denominação de GR é recente (século XXI), sofrendo influência da arte, da música, da dança e do teatro. Muitos estudiosos a pesquisa- ram, mas foi Rudolf Bode quem a criou. Ele desenvolveu um conjunto de exercícios incorporados à dança. As principais características do sistema de Bode era a união dos movimentos e a fluência do ritmo (SAUR, 1980). O professor alemão Heinrich Medau, presi- dente da federação de ginástica alemã (Deuts- che Gymnastikbud) e grande pesquisador do movimento e da música, incluiu aparelhos manu- ais ao conjunto de exercí- cios criados por Bode, os quais deveriam seguir um ritmo musical ao serem realizados e que, de acordo com Medau, refinariam a expressão do movimento. Os aparelhos manuais são: bolas, fitas, arcos, cordas e maças (VELARDI, 1999). 6 Émile Jacques-Dalcroze (Viena, 6 de julho de 1865 – Genebra, 1 de julho de 1950) foi o criador de um sistema de ensino de música baseado no movimento corporal expressivo, que se tornou mundialmente difundido a partir da década de 1930. A pedagogia criada por Dalcroze foi, inicialmente, conhecida como ginástica rítmica e, posteriormente, rítmica ou euritimia. (Fonte: WIKIPÉDIA. Émile Jacques-Dalcroze. Disponível em: https://pt.wiki- pedia.org/wiki/%C3%89mile_Jaques-Dalcroze . Acesso em: 31 jul. 2020.) Figura 4.5 – Aparelhos manuais de GR Fonte: Shutterstock.com/Peyker Ginástica – 76 – Trabalhar com a ginástica rítmica nas aulas de educação física escolar é uma ótima oportuni- dade para os alunos expe- rimentarem a diversidade de movimentos que a modalidade oferece. Ela ainda estimula o desen- volvimento das capacida- des motoras, melhorando a aprendizagem e a flexi- bilidade corporal. Veja, a seguir, alguns exemplos de ginástica rítmica indi- vidual e em grupos. Gaio (2007) con- tribuiu para a GR por meio do seu projeto cha- mado Ginástica Rítmica Popular. Ela propôs um trabalho com a GR nas aulas de educação física que fizesse uso de mate- riais alternativos a fim de oportunizar a sua prá- tica para os alunos em idade escolar. Exemplo de materiais alternati- vos: fitas elaboradas com papel laminado, bolas feitas com meias e jor- nais, entre outros. De acordo com a autora, a ginástica rítmica popular “visa propiciar pedagogicamente às Figura 4.6 – Ginástica rítmica individual com fitas Fonte: Shutterstock.com/Artur Didyk Figura 4.7 – Ginástica rítmica individual com bola Fonte: Shutterstock.com/Artur Didyk Figura 4.8 – Ginástica rítmica individual com corda Fonte: Shutterstock.com/BlueOrange Studio – 77 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas crianças a oportunidade de vivenciarem as ativi- dades motoras baseadas na modalidade, onde o importante é participar, podendo até compe- tir e quem sabe vencer” (GAIO, 2007, p. 52). Nesse projeto, surgiram os princípios norteado- res para ginástica rítmica popular da autora, os quais serão citados resu- midamente a seguir. Quadro 4.6 – Princípios norteadores para a ginástica rítmica popular 1. Os movimentos corporais são construídos a partir dos movimentos naturais que as crianças apresentam. 2. Os aparelhos são utilizados sem a obrigatoriedade de seguir as nor- mas de cor, peso e tamanho, bem como os movimentos fundamentais não possuem regras. 3. O professor deve incentivar e orientar os alunos na criação e explo- ração de seus próprios aparelhos e de possibilidades de manuseio e movimento. 4. Deve ser proporcionada a oportunidade de identificar as diversas for- mas que se tem de usar o corpo no solo, de modo a produzir movimentos acrobáticos e pré-acrobáticos. 5. A presença do lúdico e a não descaracterização da modalidade. 6. Presença de atividades ritmadas, baseadas em: canto, mímica e brin- cadeiras. 7. Vivenciar a modalidade por um grupo amplo, composto por pes- soas de qualquer sexo, apresentando deficiências ou não, visando a um ambiente de igualdade e inclusão social. Fonte: Gaio (2007). Figura 4.9 – Ginástica rítmica em conjunto com arcos Fonte: Shutterstock.com/katatonia82 Ginástica – 78 – Portanto, nas aulas de educação física escolar, quando o assunto é GR, os alunos podem ser incen- tivados a experimentar e inventar movimentos, elaborando seus próprios materiais para estimular a capacidade de imaginação e criação. Veja no qua- dro, a seguir, a proposta de Toledo (2009) para a construção de aparelhos tradicionais de GR. Quadro 4.7 – Construção de aparelhos tradicionais da GR Arco Sua confecção pode ser feita a partir de conduítes (canos de PVC) de 80 a 90cm de diâmetro, unindo suas pontas com uma fita adesiva, como, também, substituído pelo bambolê, mate- rial barato e que muitas escolas possuem. Bola A confecção de bolas pode ser feita com meias preenchidas por folhas de jornal (várias camadas) com seu acabamento feito por bexigas. Ainda é possível encher uma bexiga com areia ou painço, envolvendo-a com jornal e fita crepe ou fita adesiva larga. Nesse caso, é importante que o peso da bola não exceda 400 gramas (peso oficial da bola de GR). Corda A corda é um aparelho bastante encontrado nas escolas. Para sua adaptação, são sugeridas as cordas feitas de folhas de jornal enrolado e torcido, envolvidas com fita adesiva larga. Outra opção é fazer tranças de barbante grosso, de elástico ou de tecidos velhos (lençóis e toalhas cortados em tiras). Fita Esse aparelho é composto por uma parte rígida, comprida e cilíndrica, de uns 35cm, chamada de estilete. Sua outra parte é flexível, de tecido (cetim, seda, etc.) de aproximadamente 7cm de largura com 5 ou 6m de comprimento, nas medidas Figura 4.10 – Ginástica rítmica em conjunto com maças Fonte: Shutterstock.com/SeventyFour – 79 – Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas oficiais. Entretanto, para o público infantil, recomenda-se que o comprimento do tecido seja de 3 a 5m, dependendo da esta- tura da criança. A ligação entre o estilete e o tecido é feita por uma peça chamada de girador e por um pequeno gancho. A adaptação desse aparelho pode ser feita do seguinte modo: para substituir o estilete, pode-se usar o cabinho de um mata-moscas (sem a parte de borracha), uma canaleta de pasta escolar, um pedaço de bambufino e cortado no tamanho do estilete, ou mesmo a parte de madeira reta do cabide. O girador pode ser feito com um pequeno parafuso com a ponta em círculo (que pode ser encontrado nas lojas de material de construção) ou um pedaço de arame fino, em conjunto com uma peça que é utili- zada para pesca (chamada snap com girador). Já o tecido da fita pode ser feito de tiras de pano velho, como lençóis ou toalhas de mesa, TNT, papel crepom ou jornal. Maças As maças são utilizadas sempre em pares e podem ser fei- tas de madeira, borracha ou microfibra. Elas se assemelham aos malabares, e cada uma delas é composta pela cabeça (que parece uma bolinha), pescoço (parte alongada e cilíndrica) e corpo, que é a parte cilíndrica, porém mais larga que o pes- coço. Ela pode ser adaptada por garrafas pets de 600ml com água ou outros materiais, como pedrinhas ou grãos, variando o peso de acordo com a idade e habilidade das crianças. Fonte: Toledo (2009). Saiba mais GAIO, R. Ginástica rítmica: da iniciação ao alto nível. 2008 (livro). SANTOS, S. P. et al. Contribuições da aula de ginástica artística para odesenvolvimento das habilidades fundamentais. 2015. (artigo). Dis- ponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conexoes/article/ view/8640871/8408. Acesso em: 30 jul. 2020. Ginástica – 80 – Atividades 1. Cite as posições dos movimentos ginásticos e descreva a posi- ção carpada. 2. O que são exercícios naturais, artificiais, sintéticos e analíticos? 3. Descreva o exercício acrobático do aviãozinho. 4. Qual a proposta da ginástica rítmica popular? 5 Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar Veremos, a seguir, que a ginástica está inserida no contexto escolar como uma das unidades temáticas fundamentais a serem trabalhadas nas aulas de educação física escolar. Os objetivos deste capítulo são: conhecer o campo de atuação da ginástica para todos; aprender sobre a terminologia das habilidades gímni- cas; reconhecer os aspectos pedagógicos da ginástica na escola. Ginástica – 82 – 5.1 Ginástica para todos (GPT) Para entendermos melhor este tópico, é importante relembrar alguns aspectos históricos sobre a ginástica para todos (GPT). Vejamos: 2 1950 – foi criada a Gymnaestrada, que é o festival oficial da Federação Internacional de Ginástica (FIG); 2 1953 – a Gymnaestrada foi realizada pela primeira vez; 2 1978 – ela obteve destaque e, por isso, em 1979, a comissão foi transformada em Comissão Especializada em Gymnaestrada e Ginástica Geral. De acordo com Santos (2001), foi a primeira vez que a ginástica geral foi usada oficialmente com este nome para designar as atividades gímnicas de demonstração; 2 1984 – a FIG criou o Comitê Técnico de Ginástica Geral, pas- sando a usar o termo “ginástica geral” para indicar as atividades de ginástica não competitivas; 2 2007 – o que era conhecido como ginástica geral passou a ser chamado pela FIG de Ginástica para Todos (GPT). Conforme pode ser visto na página eletrônica da FIG (S.d.), a justi- ficativa para a nova denominação é a de que “o novo nome proporciona um entendimento imediato de que a modalidade oferece uma ampla gama de atividades e é de fato para todas as idades, habilidades, gêneros e cul- turas”. Souza e Ayoub (2012) afirmam que a ginástica para todos (GPT) é considerada uma manifestação da cultura corporal, a qual se utiliza das diversas modalidades de ginástica (artística, rítmica, acrobática, etc.) agregando outras formas de expressão corporal, tais como dança, folclore, jogos, teatro, de maneira criativa, conforme as características do grupo social, colaborando, dessa forma, com a integração dos participantes. De acordo com a Federação Internacional de Ginástica (FIG), apesar de ser conhecida por meio de seus campeonatos mundiais e por ser destaque nos Jogos Olímpicos, a ginástica é muito mais do que um esporte competitivo de alto nível, ela é a base de todos os esportes. Além disso, é uma atividade que pode ser praticada por todos, jovens e idosos, independente de raça, crença ou capacidade. Ainda segundo a FIG, os – 83 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar quatro princípios da ginástica para todos são: diversão, fitness, funda- mentos e amizade. Por meio de dois eventos – The World Gymnaestrada e The World Gym for Life Challenge –, a FIG oferece oportunidades para que todos possam se apresentar e explorar as infinitas possibilidades da ginástica. A ginástica para todos é o centro destes dois eventos, os quais são exclusivos da FIG e abertos a participantes de todas as faixas. Ambos são realizados de quatro em quatro anos, alternados para garantir que haja um evento internacional a cada dois anos. De acordo com Santos (2001), a ginástica para todos é uma ferra- menta importante para a educação, pelas diversas possibilidades expres- sivas, pela globalidade dos gestos e pela facilidade de incorporá-la aos processos educacionais. Para Nunomura e Tsukamoto (2009), pode-se dizer que a GPT possui diversidade em alguns aspectos predeterminados, de modo que não se pode afirmar que qualquer coisa é GPT. Segundo os autores, é importante que a ginástica, ao ser abordada na escola, possua as seguintes características: base na ginástica; composição coreográfica; estímulo à criatividade; número indefinido de participantes; liberdade da vestimenta; uso de materiais; diversidade musical; inserção de elementos da cultura; não competitividade; favorecimento da inclusão e prazer pela prática. Vejamos, a seguir, um resumo de algumas destas características. a) Base na ginástica: a GPT faz parte do universo ginástico. Seus movimentos foram se constituindo por meio da história da ginástica, especialmente após o Renascimento, período no qual surgiram os métodos europeus de ginástica nomeados de ginás- ticas científicas. Esses movimentos se apresentam nas diversas modalidades de ginástica, as quais têm seus fundamentos nas habilidades motoras básicas dos indivíduos, com características e nomenclaturas próprias de cada modalidade gímnica. b) Composição coreográfica e escolha da música: as composi- ções devem ter início, meio e fim. Na composição, são usados movimentos ginásticos organizados de forma harmoniosa e lógica que culminarão na apresentação das coreografias. Já na escolha da música para compor a coreografia, podem ser utili- Ginástica – 84 – zados diversos estilos musicais, os quais podem ser escolhidos de acordo com a cultura e preferência do grupo, com o tema da coreografia e a relação que o grupo pretende estabelecer com o evento em que irá participar. c) Espaço na composição coreográfica: além de pensar na música para a composição, deve-se pensar no espaço, isto é, em como ele será ocupado na apresentação. Santos (2001) lem- bra que a distribuição dos movimentos durante a coreografia de ginástica deve buscar a ocupação do espaço da forma mais ampla possível, procurando ocupar o espaço tridimensional (altura, largura e profundidade), diferentes níveis (alto, médio, baixo) e diferentes direções (frente, trás e diagonais), alterando essas variáveis espaciais durante a apresentação. O autor pon- tua, ainda, que essas variações podem ser obtidas por meio de diferentes formações, tais como: linhas retas ou curvas, em formatos geométricos, dando-se atenção à transição de uma para a outra. d) Material na GPT: por ter características livres, essa ginástica não utiliza nenhum tipo de aparelho (somente os elementos cor- porais). Porém, é possível usar aparelhos de outra modalidade de ginástica, como da ginástica rítmica, entre outros. e) Estímulo à criatividade: como essa ginástica não tem elemen- tos obrigatórios, o que se vê é a participação de todos, dessa forma destaca-se a criatividade. Ela pode acontecer por meio da escolha da músicae dos movimentos, dos materiais, figurino, cenário, entre outros. f) Número indefinido de participantes: diferentemente das outras modalidades de ginástica, a GPT não tem um número de participantes determinado. O que vai definir esse número é o espaço físico da apresentação e seu objetivo. Esse grupo pode variar entre poucas pessoas ou grande número de pessoas. g) Liberdade da vestimenta: a GPT não precisa ter um uniforme oficial. A escolha da vestimenta dependerá do tema escolhido para a apresentação e, por consequência, combinar com a core- – 85 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar ografia, colaborando, assim, para a mobilidade dos movimentos e para a sua compreensão. h) Inserção dos elementos da cultura: são fundamentais nas rela- ções humanas e na identidade do grupo, comunidade ou nação. Na GPT, eles podem ser vistos por meio de apresentações de coreografias. Conforme afirmam Nunomura e Tsukamoto (2009), nas coreografias podem ser observados movimentos que identificam um grupo em relação a seus costumes, cultura e, ainda, a uma determinada região. Estes elementos da cultura estão presentes na arte (dança, teatro, artes plásticas, música), no folclore e costumes (comidas, vestimentas, gestos, etc.), bem como em diversas manifestações da cultura corporal (jogos, esportes, lutas, danças). Agora falaremos sobre o maior evento da GPT na esfera mundial, conhecido como Gymnaestrada. Nesse festival, grupos do mundo todo se encontram para fazer apresentações das mais diversas manifestações de ginástica. A ideia do evento é a de confraternização (sem competição), na qual os ginastas se apresentam entre eles. A denominação de Gym- naestrada foi criada pela união das palavras Gymna (ginástica) e Strada (caminho). Dessa forma, o objetivo do evento é simbolizar o caminho da ginástica, representando todas as suas possibilidades gímnicas. Esse festi- val foi idealizado pelo presidente da Federação Internacional de Ginástica (FIG), que pensou num evento que pudesse integrar as diferentes modali- dades de ginástica, porém sem a pressão da competitividade dos campe- onatos oficiais. O evento foi inspirado nas Lingíadas, que abordaremos a seguir, sendo que o primeiro encontro ocorreu em 1953, na Holanda, rece- bendo o nome de Festival Internacional de Ginástica Geral. Desde aquela época, os eventos acontecem de quatro em quatro anos em diversos países Europeus. A Gymnaestrada conta com a participação efetiva e a interação entre os grupos, que são bastante diversificados. Neles podem ser encontrados atletas, crianças, jovens, adultos, idosos e pessoas com deficiência, visto que a base desses encontros é a inclu- são e a diversidade de movimentos. Nesse sentido, não existe premia- ção, apenas a alegria de poder participar e representar o seu país, tendo Ginástica – 86 – como propósito maior a união dos povos. O ideal da Gymnaestrada é: “Vence quem participa!” O evento acontece no verão europeu, geral- mente em julho, e dura cerca de sete dias, sendo organizado comove- mos a seguir. Quadro 5.1 – Organização da Gymnaestrada Cerimônia de abertura Realizada, geralmente, em um estádio, dependendo do número de participantes. Apresentações de pequenos e grandes grupos Realizadas no local oficial do evento e em outros locais, como praças e ruas; elas ocorrem durante todos os dias do evento. Espetáculos de GPT por nações – noites nacionais Os países organizam seus grupos para apresentações diversas da sua cultura local. Espetáculo de GPT de gala da FIG Na noite de gala, grupos de ginástica do mundo todo são convidados pela FIG para fazer as suas apresentações. Fórum de instrutores Reunião com os técnicos para resoluções gerais e troca de informações com a FIG. Evento social para os participantes ativos Encontro dos participantes que estão cadastrados na FIG por meio de suas con- federações nacionais. Cerimônia de encerramento Geralmente acontece no mesmo local da abertura, é, também, nesse momento, anunciada a cidade que sediará o pró- ximo evento. Fonte: elaborado pela autora. De acordo com a história, a Gymnaestrada surgiu no século XIX, na Europa, ficando conhecida pelos seus eventos com diferentes modalidades de ginástica. O primeiro país europeu a sediar o festival foi a Suécia, mas o evento recebeu o nome de Lingíada, para homenagear Pehr Henrik Ling, criador da escola sueca de ginástica. Ocorreu em Estocolmo no período de 20 a 28 de julho de 1939. Caracterizava-se por não ser de competição e contou com 7.500 participantes de 37 países europeus. – 87 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar Figura 5.1 – Antigas Lingíadas Fonte: Ginástica para todos. As Lingíadas influenciaram Nicolas Cuperus, então presidente da FIG, a pensar num festival que traduzisse seus princípios. Entretanto, ele não sobreviveu para ver seu sonho concretizado: a primeira Gymnaestrada. Ela foi realizada em Roterdã (Holanda), em 1953, promovida pelo presidente Johannes Heinrich Francois Sommer, seguindo a filosofia de Cuperus. Em 1979, foi criada pela FIG a Comissão de Trabalho de Ginástica Geral e, em 1984, surgiu o Comitê Técnico de Ginástica Geral, favore- cendo o desenvolvimento dessa modalidade e permitindo que sua prática não fosse competitiva. Conforme vimos anteriormente, em 2007, a FIG alterou o nome de ginástica geral (GG) para ginástica para todos (GPT), indicando tal modalidade como base de todas as atividades gímnicas. Além disso, a FIG atribuiu três conceitos fundamentais para o desenvol- vimento da GPT: informação, formação e prática, os quais representam, também, os valores da Gymnaestrada. A título de exemplo da magnitude do evento, a XIV Gymnaestrada Mundial, ocorrida em Lausanne (Suíça), em 2011, contou com a participação de mais de vinte mil atletas e a pre- sença de 55 países, como pode ser visto na imagem a seguir. Ginástica – 88 – Figura 5.2 – Abertura da Gymnaestrada de 2011 Fonte: Ginástica para todos. Por ser a Gymnaestrada o maior evento mundial de GPT e por ter aumentado consideravelmente o número de participantes a cada evento, em 2015, alguns momentos foram transmitidos pela TV, algo jamais imaginado. A XV Gymnaestrada Mundial foi realizada em Hel- sinque, na Finlândia, e contou com a participação de 381 brasileiros de 15 grupos. Figura 5.3 – Grupo de GPT do Brasil Fonte: A voz da Serra. – 89 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar As primeiras participações do nosso país na Gymnaestrada se deram pelo trabalho da professora Ilona Peuker, uma húngara que che- gou ao Brasil em 1953 e, na cidade do Rio de Janeiro, começou minis- trar cursos de ginástica moderna. Ela possuía uma bagagem acerca da modalidade obtida na Hungria e na Áustria. Peuker fundou um grupo de ginástica que representou o Brasil nos anos de 1957, 1965 e 1969. No ano de 1957, em Zagreb (Iugoslávia), foi a estreia do Brasil na segunda edição da Gymnaestrada. Desde então, só não participamos em 1961, no evento de Sttutgart (Alemanha). Atualmente, existem muitos grupos de GPT no Brasil, localizados, principalmente, nas regi- ões sudeste, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e na região Sul, no Rio Grande do Sul e no Paraná. 5.2 Terminologia das habilidades gímnicas As habilidades gímnicas são formadas pelos movimentos de loco- moção, estabilização e manipulação. O homem utiliza sua mobilidade para se deslocar de um lugar ao outro. A esse movimento é dado o nome de locomoção, formado pelas habilidades básicas de andar, correr, saltar, rolar e quadrupedar. De acordo com Tani (1988), andar é o primeiro padrão de movi- mento humano, o qual acontece em dois estágios: alternando-se a ação da perna e as fases de apoio. O pesodo corpo é transferido de uma perna a outra, tendo sempre um dos pés em contato com o solo. O referido autor diz que correr é uma extensão natural do andar, a qual é formada por uma fase de apoio e uma aérea. Para ele, saltar significa impulsio- nar o corpo para frente e para cima, usando o movimento de uma ou de ambas as pernas, sendo auxiliado pelos braços na fase de impulso, voo e aterrissagem. Observemos a colaboração de outros autores sobre as habilidades de rolar e quadrupedar. Segundo o Coletivo de autores (1992), rolar é dar voltas sobre o eixo do próprio corpo, ou seja, fazer movimentos ao redor de si mesmo. Para Palláres (1983), quadrupedar é andar de quatro apoios, isto é, andar com os dois pés e as duas mãos no solo. Ginástica – 90 – Quadro 5.2 – Definição de estabilização e manipulação Estabilização é a habilidade de manuten- ção do corpo, na medida em que ele se mantém parado, na posição estática con- tra a força gravitacional. O centro de massa pode ser definido como o ponto de equilí- brio do corpo, no qual toda a massa corporal está distribuída de forma igual. Além disso, é o ponto em torno do qual o corpo gira e o ponto de intersecção dos três eixos cor- porais primários (plano sagital ou mediano, frontal ou coronal e transversal ou horizon- tal). Um exemplo muito utilizado de estabi- lização na ginástica é a parada de mãos, na qual o praticante pode ser auxiliado por um colega ou pelo professor, conforme mostra a figura ao lado. As habilidades de mani- pulação podem ser abor- dadas de diversas manei- ras na ginástica. Contudo, seu foco é a ginástica rítmica, pois a caracterís- tica principal desta moda- lidade concentra-se na manipulação de aparelhos. Elas também podem ser trabalhadas na modalidade de ginástica para todos (GPT), usando materiais de outras modalidades de forma criativa, conforme a figura ao lado. Fonte: elaborado pela autora. – 91 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar São habilidades de manipulação: balancear, circundar, lançar, quicar, prensar, rotação, movimento em oito, pequenos círculos e molinetes, bati- das, dobrar, espirais, equilibrar, rolar, movimentos assimétricos, serpen- tinas, formar figuras e envolver o corpo. A seguir, veremos exemplos de algumas destas habilidades de manipulação na ginástica rítmica, também chamadas de manejo. Quadro 5.3 – Habilidades de manipulação na ginástica rítmica Envolver no corpo – o aparelho deve envolver o corpo ou um seg- mento corporal. Molinete – combinação de dois pequenos oitos, realizados simul- taneamente. Cada aparelho é mani- pulado por um segmento corporal. Movimento assimétrico – os movimentos são possíveis apenas se forem realizados com dois apa- relhos ao mesmo tempo. Cada um deles executa um movimento dife- rente, em planos diferentes. Ginástica – 92 – Prensar – ação de posicionar o aparelho entre dois segmentos cor- porais e o solo. Serpentinas – movimento contí- nuo em zigue-zague que é dese- nhado no ar pelo aparelho (ser- pente). Formar figuras – desenhos reali- zados com os aparelhos flexíveis (fitas e cordas). Fonte: elaborada pela autora. Algumas atividades traduzem historicamente ações que foram cultu- ralmente criadas, por isso é importante que elas estejam inseridas em todos os ciclos na escola, de forma a aumentar os seus níveis de complexidade. Desse modo, é importante sempre trabalhar na ginástica os movimentos fundamentais, que são: saltar, balançar/embalar, rolar/girar, equilibrar e trepar. Veja, a seguir, exemplos de cada um destes fundamentos. – 93 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar Quadro 5.4 – Movimentos fundamentais Saltar Balançar/Embalar Rolar Equilibrar Ginástica – 94 – Trepar Fonte: elaborado pela autoracom elementos de Shutterstock.com 5.3 Aspectos pedagógicos da ginástica na escola De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017), a educação física é o componente curricular que tematiza as práticas cor- porais em suas diversas formas de expressão e significação social, nas quais o movimento humano está inserido no âmbito da cultura corporal no decorrer da história. Dessa forma, é possível assegurar aos alunos, durante as aulas, o conhecimento de movimentos diversos que ampliem os cuida- dos consigo mesmo e com os outros, proporcionando o desenvolvimento da autonomia e favorecendo sua inserção e participação em sociedade. É importante salientar que a educação física na escola proporciona diversas possibilidades no que se refere à cultura corporal de movimentos, enrique- cendo a experiência dos indivíduos na educação básica. Esse universo compreende saberes corporais, experiências esté- ticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na escola. Experi- mentar e analisar as diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenas nessa racionalidade é uma das potencialidades desse componente na Educação Básica. Para além da vivência, a – 95 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar experiência efetiva das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma autônoma, em contextos de lazer e saúde. Há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movi- mento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica específica; e pro- duto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ou o cuidado com o corpo e a saúde. (BRASIL, 2017, p. 2015) Nesse sentido, essas práticas são diferentes das atividades realizadas no dia a dia, como as praticadas no trabalho, em casa, etc. Conforme mos- tra a BNCC (2017), as práticas corporais são tematizadas em seis unidades diferentes, a saber: brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura. Desse modo, trataremos especificamente da unidade temática ginástica. Nesta unidade temática, são abordadas práticas diferentes de ginástica, as quais já foram estudadas nos capítulos anteriores, tais como: ginástica geral, ginásticas de condicionamento físico e ginásticas de conscientização corporal. De acordo com a BNCC, a “GPT reúne práticas corporais, tendo como elemento organizador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo, interação social, com- partilhamento do aprendizado e a não competitividade” (BRASIL, 2017, p. 175). A proposta da BNCC, no Ensino Fundamental, para a unidade temática de ginástica é: Para os anos iniciais – dois blocos (1º e 2º anos e 3º ao 5º ano), tendo como objeto de conhecimento a ginástica geral, para todos os anos iniciais. Para os anos finais – dois blocos (6º e 7º anos – ginástica de condicionamento físico) e (8º e 9º anos – ginástica de condicionamento físico e ginástica de conscientização corporal). Para a Educação Infantil e o Ensino Médio não há um objeto de conhecimento para cada unidade temática. De acordo com Betti e Zuliani (2002), a escolha da ginástica como conteúdo na aula de educação física deve ter uma estratégia pedagógica que siga os princípios metodológicos gerais, tais como: princípio da inclu- são; da diversidade; da complexidade e da adequação ao aluno. No princípio da inclusão, as estratégias devem ser focadas na inclusão de todos. Já, no princípio da diversidade, os conteúdos devem buscar usar a variedade de movimentos e suas combinações que fazem Ginástica – 96 – parte da cultura corporal. No princípio da complexidade, é importante abordar conteúdos que trabalhem desde as habilidades motoras funda- mentais até as habilidades especializadas, ou seja, buscar abordar as ati- vidades ginásticas maissimples, evoluindo para as mais complexas. Por fim, no princípio da adequação ao aluno, é fundamental observar as características e capacidades do educando em todas as fases do processo de ensino e aprendizagem. Ayoub (2001) colabora ao pontuar alguns objetivos pedagógicos para a ginástica no contexto escolar: não focar na competição, mas, sim, no divertimento; proporcionar a integração, expressividade, prazer e criatividade; buscar demonstrar as várias moda- lidades de ginástica, procurando usar diversos materiais, vestimentas, músicas, etc. É interessante que no processo de ensino aprendizagem da ginástica escolar sejam exploradas as habilidades de movimento já existentes e conhecidas entre os alunos e, a partir daí, ampliar seus conhecimentos motores. Cabe ao profissional de educação física observar a realidade na qual está inserido para poder refletir sobre a melhor forma de oferecer essa disciplina. Caetano et al. (2015) afirmam que a utilização de métodos e aparelhos diversificados nas aulas, juntamente com o desafio de executar alguns movimentos de ginástica, influenciam positivamente na motivação de seus praticantes. Zabala (1998), baseado na classificação de Coll1, expõe que os con- teúdos podem ser apresentados em três dimensões: conceitual, procedi- mental e atitudinal. A primeira (o que se deve saber) está ligada a fatos, conceitos e princípios da educação física, isto é, entender por que rea- lizamos tais atividades, quais as mudanças provocadas por elas, etc. A segunda (o que se deve saber fazer) busca o aprendizado e execução de novas habilidades motoras individualmente e em grupo, as quais propor- cionam a criação de novas atividades, entre outras. Já a terceira (como se deve ser) está centrada em normas, valores e atitudes. É possível tra- 1 A classificação triádica dos conteúdos de aprendizagem foi descrita por Coll (1986) e, desde então, desenvolvida por vários pensadores da área, entre eles Coll et al. (1998), Zabala (1998) e Pozo e Gómez Crespo (2009). (FRASSON et al., 2019, p. 307) – 97 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar balhá-la por meio de leituras e reflexões sobre temas atuais que podem aparecer durante as aulas. Essas dimensões têm por finalidade alcançar os objetivos educacionais. De acordo com as informações acima, veremos, agora, como pode- mos estruturar uma aula de ginástica escolar. Ao elaborá-la, devemos pensar de que maneira podemos desenvolver os conteúdos que estamos planejando. É importante considerar as atividades mais conhecidas pelos alunos, pois serão mais facilmente compreendidas entre eles, gerando, portanto, maior participação e interesse na aula. É interessante que a aula possua três momentos: aquecimento/alon- gamento; parte principal/desenvolvimento e volta à calma/parte final. A duração dos períodos nas escolas gira em torno dos 45 minutos, em algu- mas um pouco mais, podendo chegar a uma hora. Vejamos, a seguir, uma estrutura de aula de ginástica proposta por Ayoub (2003). Quadro 5.5 – Estrutura de uma aula de ginástica 1º momento 2º momento 3º momento Possibilitar aos alu- nos a exploração do assunto que será tra- balhado na aula, pro- porcionando diferen- tes ações. Dar dicas para que os alunos possam criar alternativas de resolu- ção para os problemas apresentados, ofere- cendo recursos mate- riais como jornais, tecidos, etc. Buscar desenvolver o trabalho de forma lúdica, finalizando com uma roda de con- versa sobre os conteú- dos apresentados. Fonte: Ayoub (2003). Os grupos de alunos encontrados na escola têm características bem heterogêneas, portanto cabe ao professor um olhar mais atento para verificar qual será a melhor forma de trabalhar o conteúdo de ginástica com cada grupo – não existem modelos ou receitas prontas. A seguir veremos outro exemplo de estruturação de aula de ginástica proposta por Oliveira (2007). Ginástica – 98 – Quadro 5.6 – Estrutura de uma aula de ginástica 1º momento 2º momento 3º momento 4º momento: Integração do grupo por meio de atividades lúdicas. Apresentação do tema da aula ligado ao propó- sito do grupo. D e s e n v o l v i - mento de ele- mentos da ginástica, tais como sal- tar, equilibrar, balançar, girar, rolar, trepar, etc. Tarefas em pequenos gru- pos, usando ou não materiais, porém que con- tribuam para que consigam construir uma minicoreogra- fia. Finalização: apresentação da minicoreografia aos colegas dos outros grupos. Fonte: Oliveira (2007). Ainda pode ser explorada a construção de materiais pelos próprios alu- nos, tais como: balanços, pernas-de-pau, túneis de tecido. Também é pos- sível utilizar os que geralmente têm na escola, como pneus, bolas, cordas, etc., os quais são uma maneira de trabalhar com a ginástica escolar. A seguir, veremos um exemplo de plano de aula de ginástica elaborado pela autora2. Quadro 5.7 – Sugestão de plano de aula PLANO DE AULA Nome da escola: Faixa etária: Sexo: Número de alunos: Local: Duração: Disciplina: Educação Física 2 Este é apenas um exemplo de plano de aula. Pode ser adequado para cada público diferente. – 99 – Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar Unidade temática: ginástica Tema Específico: ginástica para todos (GPT) Objetivos gerais: conhecer e experimentar as habilidades de ginástica – equilíbrio, salto e rolo. OBJETIVO GERAL: apresentar a ginástica circense, trabalhando alguns movi- mentos acrobáticos em dupla. CONTEÚDO PROGRA- MÁTICO DURAÇÃO PROCEDIMENTOS MATERIAL AVALIAÇÃO * Equilibrar, saltar e rolar. 45 minutos. Parte inicial: aque- cimento (5 min.). No pátio ou na quadra, propor a brincadeira de pega-pega para se aquecerem. Parte principal: 30 minutos. Circuito de GPT. 1. Equilíbrio – caminhar por cima do banco sueco e saltar ao descer. 2. Salto – pular por cima da corda distante do chão (arrumar a altura conforme a idade). 3. Rolar – fazer o rolinho/cambalhota no colchonete. *Colcho- netes *Quadra *Banco sueco *Corda Parte final: 10 min. Relaxamento e roda de conversa, avaliando: 1. o que pode melhorar. 2. o que pode ser usado novamente. Fonte: elaborado pela autora. Ginástica – 100 – Saiba mais AYOUB, E. Ginástica Geral e Educação Física escolar. Campinas: Uni- camp, 2003. FEDERATION Internacionale de Gymnastique. Gymnastics for all. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/disciplines/pres-gfa.php Acesso em: 26 jul. 2020. Atividades 1. Quais são os princípios da ginástica para todos e qual o nome dos dois principais eventos de GPT? 2. Defina o que é a Gymnaestrada. 3. Conceitue locomoção, estabilização e manipulação. 4. Qual a proposta da BNCC para a educação física escolar (no Ensino Fundamental) quanto à unidade temática de ginástica? 6 Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos Pelo expressivo alcance da ginástica no decorrer dos tem- pos, foram elaboradas várias modalidades da ginástica, com objetivos diversificados e demonstrando as possibilidades de utilização (AYOUB, 2012). Sua manifestação mais expres- siva é a ginástica competitiva, é regulamentada pela Federação Internacional de Ginástica e possui algumas divisões que serão abordadas a seguir. Ginástica – 102 – 6.1 Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE) A ginástica aeróbia é uma modalidade esportiva que aprecia o ritmo, movimento e cooperação, ofertando o desenvolvimento motor, afetivo- -social e cognitivo, consistindo como conhecimento fértil na educação física escolar. Essa modalidade atingiu seu auge em 1980, quando vários atletas conquistaram títulos internacionais. Cooper (1970) defende a importância dos exercícios aeróbicos para a melhoria da saúde física e combate ao sedentarismo e estresse ocasionado pela vida moderna. Esse mesmo autor definiu o termoaeróbico e sua relação com atividades do coração e pulmões por um período longo para produzir alterações benéfi- cas ao organismo. Em 1970, ele apresentou uma síntese de seus estudos referentes à ginástica aeróbica que ganha expressividade e adeptos, Jacki Sorensen elabora as primeiras sessões de aula, contendo o momento do aqueci- mento, flexibilidade, rotinas de dança aeróbica e alongamento, configu- rando-se como uma inovação ao combinar dança e música. Ao final da década de 1970, Phillys C. Jacobson elaborou a obra denominada Hooke- don aerobics, estruturada em aspectos fisiológicos e pedagógicos do tra- balho, individualizado o condicionamento físico no intuito de aprimorar a condição física dos participantes de todas faixas etárias (GUISELINI; BARBANTI, 1985). A ginástica aeróbica é regulamentada pela FIG e sofre mudanças a cada quadriênio. Nessa modalidade, os atletas apresentam uma rotina coreografada no tempo de 1 minuto e 45 segundos (1’45’’), com tolerância máxima de cinco segundos a mais ou a menos para o término da rotina. Geralmente, as rotinas apresentam combinações complexas, advindas da dança aeróbia, contemplando movimentos específicos da modalidade, compondo as famílias obrigatórias do movimento. Essa ginástica conta com provas individuais (masculina e feminina), dupla mista, trios e equi- pes formadas por seis e oito atletas. O(s) ginasta(s) precisa(m) demonstrar competências físicas como resistência muscular, flexibilidade, coordenação, agilidade e força de explosão por meio de padrões de movimentos contínuos. De acordo com a Confederação Brasileira de Ginástica, deve-se combinar a dança aeróbica – 103 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos com padrões de movimento dos braços, corroborados com a música, no intuito de elaborar sequencias rítmicas, de caráter dinâmico e contínuo, apresentando movimentos de alto e baixo impacto (CBG, 2005). A apre- sentação é executada em uma área de 7m² demarcada e acompanhada por música adequada. 6.1.1 Competições As competições para iniciantes contam com apresentações que podem acontecer na quadra esportiva ou em um espaço de dança. A competição, na categoria adulta, conta com os elementos destacados a seguir. 2 Doze elementos de dificuldade que podem variar entre letra A (0,10) e letra F (0,60), em que A apresenta menor dificuldade e vai aumentando de 0,10 em 0,10 até os elementos de letra F, que são os de maior dificuldade. 2 O(s) participante(s) precisa(m) apresentar ao menos um ele- mento de cada família a seguir: 2 força dinâmica – família das flexões de braços, quedas livres, círculos de pernas cortadas; 2 flexões de braços; 2 quedas livres; 2 força estática – família dos esquadros; 2 pranchas; 2 força explosiva – família dos saltos; 2 flexibilidade – família da flexibilidade e variações. A GAE contempla sete passos básicos e quatro grupos de elementos, são eles: a marcha (movimento tradicional de baixo impacto); corrida ou jog (marcha de alto impacto); elevação de joelho (a flexão de joelhos deve ser de, no mínimo, 90 graus); chute alto (em qualquer altura, deve ser executado pelo quadril – sendo de alto ou baixo impacto); polichinelo (passo básico de alto impacto); afundo ou lunge (movimento de alto ou baixo impacto em que as pernas são afastadas, dando toque para trás, lado ou frente, com Ginástica – 104 – a ponta dos pés); chutinho ou skip (flexão da articulação do quadril, com joelhos estendidos e o pé da perna elevada abaixo da linha do quadril). 6.1.2 Avaliações e arbitragem Na ginástica aeróbica, a avaliação é realizada por três bancas, que avaliam a dificuldade, a perspectiva técnica e o perfil artístico. Assim, o árbitro chefe analisa o valor atribuído por cada árbitro acerca de todos os méritos e faz as deduções para as rotinas que apresentam irregularidade. Soma-se as médias das três bancas e das deduções do árbitro chefe, com- pondo a nota final do ginasta. Os critérios de arbitragem são definidos pelas seguintes bancas: 2 artística – considera a composição coreográfica, o equilíbrio, a multiplicidade, o posicionamento no espaço e a integração dos movimentos com a música, e a adequação da coreografia ao competidor, observando a originalidade, natureza e encanto. A nota máxima, nesse critério, é 10 pontos; 2 execução – aprecia a perfeição dos movimentos coreográficos, tendo pontos deduzidos em caso de erros. A nota máxima, nesse critério, é 10 pontos; 2 dificuldade – mensura a legitimidade dos elementos de força, saltos, flexibilidade e equilíbrios apresentados; de acordo com a apresentação será dada a pontuação de dificuldade. 6.2 Ginástica acrobática A acrobacia foi desenvolvida em meados do século VII, em decor- rência da criação do circo. No entanto, enquanto modalidade da ginástica, essa prática é recente. As primeiras competições mundiais remetem ao ano de 1973, em que foi criada a Federação Internacional de Esportes Acrobáticos (IFSA). A ginástica acrobática compõe o programa dos Jogos Mundiais, competição organizada pelo Comitê Olímpico Internacional, realizados sempre um ano após as Olimpíadas. Em 1998, a IFSA foi inte- grada à Federação Internacional de Ginástica (FIG). – 105 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos Figura 6.1 – Ginástica acrobática Fonte: Shutterstock.com/ Vladimir Vasiltvich Na ginástica acrobática, o praticante deve apresentar competências como força, coordenação, flexibilidade, equilíbrio e, ainda, as exigências técnicas de salto. A ginástica acrobática exige grande competência física e técnica que combina poder, força, destreza e, ainda, uma boa expressão artística e musical. Trata-se de uma modalidade não olímpica, praticada com fundo musical, em pares (masculino, feminino ou misto) e grupos de ginastas (sendo que os trios são femininos e os quartetos são masculinos). As rotinas artísticas possuem acompanhamento musical, em que são expressos os movimentos do corpo em perfeita sincronia com a música. No formato de pares ou grupos, as ginastas apresentam características sin- gulares, sejam relacionadas à idade ou à composição, a eles são emprega- das diferentes denominações, como vemos a seguir. 1. Bases: ginasta mais velho do par ou grupo, mais altos e mais fortes que podem dar suporte ao volante. 2. Intermédio: é o ginasta que fica no meio, dando suporte e execução às posições intermédias, sendo mais leve e menor que a base. Ginástica – 106 – 3. Volante: é o elemento do par ou grupo, mais novo e leve, que contribui para o trabalho em conjunto, dando mais longevidade a participação esportiva. Figura 6.2 – Posições das ginastas na ginástica acrobática Base Intermédio Volante Fonte: acervo da autora. Almeida (1994) afirma que a diferença entre o peso corporal da base e dos demais ginastas seja, minimamente, de 15kg, uma vez que ela pode minimizar os riscos de lesões dos praticantes. Assim, nas competições, os atletas são divididos em categorias, tendo como critério o ano de nascimento. A estatura dos ginastas é um determinante na atribuição de funções específi- cas a cada um. Nessa perspectiva, Ayoub (2003) argumenta que a pessoa de – 107 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos menor estatura do par/grupo não pode ser menor que o ponto supraesternal do seu parceiro (par) e do parceiro mais próximo ao seu tamanho (grupo). 6.2.1 Composição de pares ou grupos De acordo com código de pontuação estabelecido pela FIG, a ginás- tica acrobática pode apresentar a composição dos pares/grupos, da forma explicitada a seguir. 2 Em duplas: formada por volante e base, o primeiro realiza equi- líbrios e os mortais, e a base sustenta os movimentos do volante, partindo de posições diferenciadas. 2 Em trios: formada por volante, intermediário e a base, o volante realiza equilíbrios e os mortais, o intermediário sustenta o volante junto à base nos equilíbrios e contribuicom ela, lan- çando o volante nos mortais. Os intermédios também atuam junto à base, auxiliando-a na posição de “base”. 2 Em quarteto: composta por um volante, dois intermediários e a base, o volante realiza equilíbrios e mortais, os intermediários dão suporte ao volante junto à base nos equilíbrios e contribuem com a base para lançar o volante nos mortais. O intermediário pode ser lançado para o mortal junto com o volante. 2 Em pares mistos: a base é o ginasta masculino e o volante é a ginasta feminina. 2 Os trios são formados por ginastas femininas, e os quartetos são formados por ginastas masculinos. Nesse sentido, a ginástica acrobática contempla algumas manifesta- ções quanto à sua prática. 2 Exercícios individuais – compostos por exercícios individu- ais (relacionados ao equilíbrio, de flexibilidade, coreográficos e acrobáticos). 2 Exercícios de pares – podem ser mistos, masculinos ou femininos. 2 Exercícios de grupos – podem ser mistos, só femininos (trios), só masculinos (quadras) ou com mais de cinco elementos. Ginástica – 108 – 2 Exercícios combinados – podem englobar todos os outros antes citados. As pirâmides humanas, ao serem executadas na perspectiva coope- rativa, como em apresentações, por exemplo, poderão ser realizadas em qualquer quantidade de pessoas, independentemente de especificidades relacionadas ao sexo, idade ou estatura. 6.2.2 Exercícios obrigatórios da ginástica acrobática Os exercícios obrigatórios que compõem as séries de ginástica acro- bática são acompanhados de música e coreografia, sendo apresentados em um tablado de 12x12m. As séries devem ser executadas dentro de um tempo máximo de dois minutos e trinta segundos (não sendo estipulado um tempo mínimo) para séries estáticas e dinâmicas. São três minutos em séries combinadas, realizadas com música, sem letra. No entanto, a voz pode ser utilizada como instrumento. Merida (2009) defende a classifica- ção dos exercícios de ginástica acrobática das formas colocadas adiante: 2 elementos individuais – são movimentos que cada ginasta pre- cisa executar durante a série: tumbling (acrobacias); flexibili- dade; equilíbrio (por dois segundos); coreográficos; 2 exercícios estáticos – são as pirâmides estáticas, em que os ginas- tas sustentam o contato na duração da figura (três segundos); 2 exercícios dinâmicos – são as pirâmides dinâmicas, que apre- sentam fases de voo, lançamentos e recepções. Os ginastas apre- sentam a variedade de rotações (frente, trás, piruetas) e posi- ções singulares (grupado, carpado, estendido). Ayoub (2003) apresenta cinco categorias de elementos – de um parceiro para o outro; do chão para o parceiro e vice-versa; do parceiro para o chão após rápido contato com parceiro; do chão, com assistência do parceiro, para o chão novamente; 2 exercícios combinados – formado por elementos individuais e pela combinação de exercícios estáticos e dinâmicos. São eles: 1. monte – elemento técnico em que os ginastas sobem sobre os parceiros, podendo descrever uma fase de voo ou utili- – 109 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos zando o corpo do parceiro como apoio para subida, sem a perda de contato; 2. Desmonte: elemento técnico em que os ginastas perdem o contato com o parceiro, existindo uma fase de voo entre a projeção e a recepção, em um desmonte efetivo e evitando o risco de queda (ALMEIDA, 1994). 2 pirâmide – possui classificação, tendo como critério a altura, sendo classificada como pirâmide de solo (o ponto de apoio do volante é inferior à cintura da base); meia-altura (o apoio do volante está na cintura da base); primeira altura (o ponto de apoio do volante está na linha dos ombros da base); uma altura e meia (somente trios e quartetos, são figuras em que o atleta está com seu ponto de apoio na linha da cintura e outro na linha dos ombros); segunda altura (somente trios e quartetos, o volante tem seu apoio nos ombros da base); duas alturas e meia (trios e quartetos, um apoio na linha da cintura e os outros na linha dos ombros); terceira altura (quartetos, os intermediários e volante estão com os pontos de apoio na linha dos ombros). Quadro 6.1 – Pirâmides Cinco elementos Seis elementos Fonte: Shutterstock.com/ dashkinson Ginástica – 110 – A segurança é um fator essencial para minimizar lesões e quedas maiores. Assim, professores e praticantes devem estar atentos a algu- mas situações: aferir se pegadas, lançamentos e suportes correspondem ao nível técnico do ginasta; execução de técnicas coerentes a cada movi- mento; auxílio da base nas aterrissagens ou quedas; se necessário, o pro- fessor deverá fornecer a ajuda manual, geralmente do volante; se necessá- rio, recrutar materiais de auxílio (cinto e colchões de proteção).I 6.3 Ginástica artística Trata-se de modalidade competitiva que possui um código de regula- mentação elaborado pela FIG, que vem se popularizando de forma expres- siva no Brasil, sendo amplamente divulgada pela mídia. Nesse contexto, pela propagação da mídia, houve a necessidade de resolver um impasse, que seria a denominação correta da modalidade, ginástica artística ou olímpica. A FIG, por meio de uma assembleia realizada em 2006, formalizou a sua nomenclatura, à qual vários países aderiram: Ginástica Artística (GA). A base gímnica são os elementos corporais, mas a ginástica artística propõe a execução desses elementos sobre aparelhos específicos. Eles são utilizados em competições oficiais e na preparação de alto rendimento. Tais aparelhos também podem ser adaptados para o contexto escolar ou, ainda, para iniciações esportivas. Nunomura e Tsukamoto (2009) defen- dem a relevância da ginástica masculina no cenário mundial e, nesse con- texto, lembram o potencial da modalidade para favorecer o processo de desenvolvimento de crianças e jovens, por solicitar capacidades condi- cionais e coordenativas. Arthur Zanetti, ginasta brasileiro, é destaque nas argolas e foi campeão nas Olimpíadas de Londres (2012). A ginástica artística inicia-se na Alemanha (XIX), onde o professor alemão Johann Friedrich, considerado o pai da ginástica, cria um espaço para a prática de ginástica ao ar livre, na floresta de Hasenheide, que, posteriormente, influenciou os aparelhos sofisticados da ginástica na atu- alidade. Nesse espaço livre, era praticada a ginástica alemã ao ar livre. Nessa vivência, surgem as barras paralelas, com o intuito de fortalecer os membros superiores e corpo em exercícios de volteio (giros no cavalo). No Brasil, a ginástica artística, herança alemã, foi desenvolvida, principal- – 111 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos mente, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, sendo criada, em 1895, a liga de ginástica do Rio Grande do Sul. Os campeonatos brasileiros tiveram início em 1951 e, no ano seguinte, a modalidade foi reconhecida como esporte olímpico. 6.3.1 Ginástica artística feminina A ginástica artística feminina é composta das seguintes provas: mesa de salto, barras paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo. 2 Mesa de salto (ou salto sobre a mesa): é uma prova rápida (50s), em que são realizados dois saltos diretos pela ginasta, antecedidos por uma corrida de 25 metros que chega a um tram- polim de impulso e, em seguida, na mesa de saltos, que possui altura de 1,25m e largura de 95cm. O salto é concebido como um evento de explosão muscular, que conta com uma margem mínima de erros. Figura 6.3 – Mesa de salto Fonte: acervo da autora. 2 Barras paralelas assimétricas: formadas por 2 barrões (supe- rior e inferior) que contam com 2,45m para o barrote superior. A barra inferior é regulável e pode ficar até 1,70m do solo. A Ginástica – 112 – extensão entre as duas deve ser de, no mínimo, 1,30m e de, no máximo, 1,80m. Nesse aparelho, são comuns exercícios de sus- pensão e voo, sendo uma posição passageira aos movimentos de base. A ginasta toca as barras, girando e executando movimentosde forma elegante e harmônica. Figura 6.4 – Barras paralelas assimétricas Fonte: acervo da autora. 2 Trave de equilíbrio: confeccionada em madeira, acolchoada com espuma e acabamento em couro ou sintético, tem 5m de comprimento por 10cm de largura e fica a 1,25m do solo. A ginasta pode iniciar a sequência na trave parada ou em movi- mento. A sua sequência deve ter duração entre 70 a 90 segundos e deve realizar movimentos em toda a dimensão do aparelho. Figura 6.5 – Trave de equilíbrio Fonte: acervo da autora. – 113 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos 2 Solo: o espaço em que a ginasta realiza a sua sequência é deno- minado tablado e conta com área interna que mede 12 x 12m na qual a ginasta deve executar a sua série. Os movimentos são executados com música e podem durar de 70 a 90 segundos. Figura 6.6 – Solo Fonte: acervo da autora. 6.3.2 Aparelhos da ginástica artística masculina A ginástica artística masculina é composta de seis provas: solo, cavalo com alças, argolas, mesa de salto, barras paralelas simétricas e barra fixa. 2 Solo: Ayoub (2003) refere-se à ginástica de solo enquanto uma série de exercícios que são executados em uma área quadrada (12m x 12m), contando com 1m de faixa de segurança. A apre- sentação tem duração de 50 a 70 segundos, os exercícios pre- cisam explorar a velocidade, flexibilidade, força e equilíbrio durante toda sua execução. 2 Cavalo com alças: com acabamento em couro e dimensões de 1,60m de comprimento, 35cm a 37cm de largura e 1,15m de altura, apresenta duas alças de madeira de 12cm de altura, posicionadas a uma distância de 40cm a 45cm uma da outra. O ginasta segura nas alças e realiza movimentos de balanços circu- lares, de tesoura e com as pernas juntas (volteio). Ginástica – 114 – Figura 6.7 – Cavalo com alças Fonte: acervo da autora. 2 Argolas: são aros feitos de madeira ou fibra, apresentam 18cm de diâmetro, suspensas por correias de uma altura de 5,50m, a 2,55m do solo e 50cm de distância entre si. A prova contempla exercícios de impulso, força e flexibilidade. Figura 6.8 – Argolas Fonte: acervo da autora. 2 Mesa de salto: prova mais rápida da GA, durando aproximada- mente 50 segundos. A prova inclui apenas o momento de dois saltos ao qual o ginasta tem direito, em uma pista de corrida de – 115 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos 25m, que termina em um trampolim de impulso e finalizando na mesa de saltos. A mesa possui altura de 1,35m e largura de 95cm. O salto é um evento de explosão muscular, sendo uma execução com uma margem mínima de erros. 2 Barras paralelas simétricas: duas barras de madeira (ou fibra), com 3,50m de comprimento, dispostas a uma distância de 42 a 52cm, a uma altura de 2m. Os exercícios são diversos movimen- tos baseados em largadas e balanços. Figura 6.9 – Barras paralelas simétricas Fonte: acervo da autora. 2 Barra fixa: feita de aço polido, tem 2,40m de comprimento por 2,8cm de diâmetro e fica a 2,55m de altura. São realizados diversos exercícios contínuos no aparelho, essencialmente balanço e retomadas. Figura 6.10 – Barra fixa Fonte: acervo da autora. Ginástica – 116 – A ginástica artística pode servir enquanto prática de iniciação para todos os praticantes em vários espaços, como clubes, academias, esco- las de esportes e, ainda, como atividades extracurriculares. Na pers- pectiva do alto rendimento, a estrutura e condições adequadas para a realização da prática são determinantes, no entanto a determinação, dedicação e vontade também devem ser consideradas para o desenvol- vimento dessa modalidade. O sistema de avaliação da ginástica artística é realizado por meio de notas, sendo que cada prova determina a quantidade de árbitros que irão avaliar o atleta. No solo, por exemplo, a arbitragem é composta por oito árbitros divididos em dois grupos. No grupo A (formado por dois árbi- tros), é pontuado o valor da série apresentada que deve conter elementos acrobáticos (como apoios invertidos, elementos de voo, saltos, giros, entre outros). Os outros seis árbitros formam o grupo B, sendo especialistas em execução, e sua principal função é anotar os erros, descontando pontos pelas falhas cometidas, que contemplam desde o tempo de apresentação até as falhas técnicas resultado de desequilíbrios, quedas ou execução fora da área de competição. Os dois grupos atribuem notas simultaneamente, de forma que o grupo A faz a “nota de partida”, valorando os elementos apresentados, e o grupo B analisa os movimentos realizados, observando a sua execu- ção e erros. Assim, para cada erro computado, são realizados descontos previstos na tabela da FIG. Dessa forma, a nota parte de 10 e, de acordo com a execução, são deduzidos pontos, chegando-se à pontuação final do ginasta. Em resumo, por meio da soma da nota de partida (grupo A) e da nota de execução (grupo B), chega-se à nota final da apresentação do ginasta. 6.4 Ginástica rítmica Modalidade reconhecida pela FIG, é entendida como um conjunto de evoluções que contemplam a utilização do espaço e do ritmo em que se manipula aparelhos manuais (BOBO; SIERRA, 1998). A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade competitiva que contempla elementos relacionados à ginástica, à acrobacia e ao manuseio dos aparelhos oficiais, – 117 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos como bola, arco, corda, maça e fitas, de forma contextualizada e realizada com acompanhamento musical (TOLEDO, 2001). É regulamentada pela FIG e seu código de pontuação é atualizado a cada quatro anos, após o ciclo olímpico. Essa modalidade é feminina e, em competições oficiais, é realizada de forma individual ou em conjunto – com cinco ginastas. No entanto, na iniciação esportiva ou, ainda, no ambiente escolar, os conjuntos podem variar. Essa modalidade também é muito requisitada para apresentações em eventos festivos. Na escola, a GR pode ser praticada por ambos os sexos, já que se pretende proporcionar a vivência a todos, como sendo um dos princípios da inclusão. Em muitos países da Europa e Ásia, a ginástica rítmica masculina já é praticada a partir de algumas variações com relação à feminina. Toledo (2001) cita elementos fundamentais a essa prática. O primeiro deles é a sua contribuição para a evolução de habilidades motoras e capa- cidades físicas, como saltar, girar, equilibrar, ondular, bem como a coor- denação, a flexibilidade, força e agilidade. Pode-se apresentar a relevância para o desenvolvimento rítmico, estético e artístico, contemplando o pro- cesso de criação, a fluência do movimento e a expressividade corporal. A história da Ginástica Rítmica merece destaque por apresentar um percurso histórico no qual vai se constituindo enquanto modalidade, caracterizando-se quanto ao seu estilo e, ainda, incorporando aparelhos à sua modalidade. Assim, a GR é bem complexa e relaciona-se com a dança, com manifestações rítmicas expressivas, com o balé e, ainda, com a ginás- tica natural (LLOBET, 1998). A constituição da GR não nasceu pronta. Historicamente, teve influência da dança, música, teatro e pedagogia, con- tribuindo com características para o seu desenvolvimento. Para Peuker (1973), a GR nasceu a partir de um processo de renova- ção da ginástica, fruto do pensamento de vários autores: na área educacio- nal, com o pedagogo Rosseau (1712-1778), por exemplo. Na perspectiva da arte cênica, o autor aponta Delsarte, a ginástica expressionista e a sua manifestação baseada em aspectos emocionais. Daí a associação dessa ginástica à questão feminina, por contribuir para a graça e beleza na exe- cução de movimentos. Ginástica – 118 – Na perspectiva da dança, Noverre (1727-1810) se preocupou com ideia virtuosa do balé clássico, já Laban (1898-1927) traz uma contribuição vir- tuosa e rígida a respeito do mesmo assunto. Duncan (1898-1927) acrescenta na modalidade, inspirando-se em movimentos naturais de liberação docorpo e emoção. Já na área da música, Dalcroze (1865-1950) cooperou com a relação entre o ritmo ginástico, musical e possibilidades de alternância. Rudolf Bode (1881-1970) estabeleceu os princípios da GR com os trabalhos de expressão e rítmicos com o manuseio de aparelhos (bola). Heinrich Medau (1890-1974), conhecido como pai da ginástica rít- mica, introduziu os demais aparelhos manuais para aprimorar seu sentido rítmico, trabalhando com bastão, arcos, cordas. Tubino (1992) afirma que, no início dos jogos olímpicos, era proibida a participação de mulheres e elas não podiam assistir às competições. Apenas em 1920, contrariando os princípios do Barão de Cobertin (criador dos jogos olímpicos), as mulhe- res começaram a participar. Mediante as ações de repúdio, surgiram as modalidades esportivas para prática feminina e, como resultado desse pro- cesso, a ginástica rítmica e o nado sincronizado, por exemplo. Nesse contexto, muitas escolas inovaram a forma como praticavam os exercícios de ginástica e a relação entre música e ritmo que vinham se popularizando. Em 1946, surgiu a denominação Ginástica Rítmica, tendo como foco a competição, que teve o primeiro torneio mundial em 1963, já com os aparelhos conhecidos atualmente, exceto fita e maças. Em 1984, a GR estreou nos Jogos Olímpicos e só em 1996 foram introduzidas as provas de grupo. No âmbito brasileiro, temos três referências: Margaret Froehlich (1953-1954), nascida na Áustria, ministrou aula em cursos de aperfeiço- amento técnico em Santos. Erica Saur era conhecedora do assunto e tor- nou-se professora da UFFRJ. Ilona Peuker, húngara, radicou-se no Brasil, sendo convidada a trabalhar na UFFRJ, como referência para muitas ex- -ginastas que deram seguimento ao seu trabalho aqui no Brasil. Na década de 1950, Peuker lecionou em cursos no Rio de Janeiro e liderou a primeira equipe de ginástica rítmica brasileira, o Grupo Unido de Ginastas. A Confederação Brasileira de Ginástica foi fundada em 1978, sendo um passo substancial ao desenvolvimento da modalidade. Nesse – 119 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos contexto, ocorreu a inclusão da ginástica rítmica em alguns cursos de graduação e a sua prática em alguns clubes. A região sul é destaque na ginástica rítmica no país, tendo como referência, no Paraná, o Centro de Treinamento em Londrina. Nos últimos anos, tal ginástica ganhou expressividade no âmbito bra- sileiro, o país apresenta uma equipe mais hegemônica e de maior expres- são nas Américas, sobretudo nas provas em conjunto. Os resultados da equipe de ginástica rítmica brasileira, nas quatro edições dos Jogos Pana- mericanos, foram suficientes para a classificação para as três últimas edi- ções dos Jogos Olímpicos. 6.4.1 Provas da ginástica rítmica O espaço oficial onde é realizada a apresentação tem dimensões de 13m x 13m, pode ser fixado em uma quadra ou um espaço livre que garanta a integridade dos praticantes. A GR é composta de dois tipos de competições, como veremos a seguir. 1. Conjunto: as apresentações são realizadas em equipe, as séries são formadas por cinco aparelhos iguais (exemplo: cinco arcos) ou uma série com aparelhos singulares, na proporção de três para dois (exemplo: três arcos e duas bolas), selecionados antes da competição. As equipes são formadas por cinco ginastas oficiais e uma reserva por categoria. As séries têm duração de 2 minutos e 15 segundos (2’15’’) a 2 minutos e 30 segundos (2’30’’). 2. Individual: prova realizada por uma ginasta, que executa uma série com um aparelho, com duração de 1 minuto e quinze segundos (1’15’’) a 1 minuto e trinta segundos (1’30’’). 6.4.2 Aparelhos da ginástica rítmica A Ginástica Rítmica conta com aparelhos que o ginasta precisa conhecer e dominar em seus movimentos. Esses aparelhos contam com especificidades que tornam os movimentos gímnicos mais graciosos e belos. A seguir são apresentados os aparelhos pertencentes a essa modali- dade e suas especificidades. Ginástica – 120 – 2 Bola: confeccionada em borracha ou sintético, com dimensões entre 18 e 20cm de diâmetro e um peso mínimo de 400g. Esse aparelho possibilita a realização de lança- mento e recuperação, rolamentos (corpo e solo), quicadas, movi- mentos em oito, circunduções e equilíbrio instável. 2 Arco: o diâmetro interno de um arco varia entre 80 e 90cm, o apa- relho é confeccionado em madeira ou plástico e pesa, no mínimo, 300g. Os movimentos fundamen- tais são: rotação (ao redor de uma parte do corpo ou no próprio eixo), rolamentos (corpo e solo), passa- gem por dentro e lançamentos e recuperação. 2 Corda: tamanho proporcional à estatura do atleta que a manuseia, pode ser confeccionada em linho ou sintético. Nas coreografias, pode ser manuseada aberta ou dobrada e sempre em apoio nas mãos. A corda é o apare- lho que recruta maior preparação física da ginasta, exigindo sal- tos amplos e de veloci- dade. A partir de 2021, não fará mais parte do programa oficial da GR, mas continuará sendo utilizada nas categorias de base. Figura 6.11 – Bola Fonte: acervo da autora. Figura 6.12 – Arco Fonte: acervo da autora. Figura 6.13 – Corda Fonte: acervo da autora. – 121 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos 2 Fita: feita de cetim, com dimensões de 4 a 6cm de largura, tendo 6m de comprimento. Cada fita possui um estilete (material sinté- tico ou madeira) cujo diâmetro não é supe- rior a 1cm, e o com- primento pode variar entre 50 a 60cm. A fita é o aparelho mais plástico de todos e o de mais complexa execução, sendo considerado o de mais difícil controle, uma vez que está sujeito a condições ambientais, como corrente de ar. Dentro os movimentos técnicos da fita, destacamos: serpentinas, espirais, passagem por dentro e por cima do desenho da fita, escapadas, lançamentos e recuperação. 2 Maças: confeccionadas em madeira ou material sintético, pesam 150g. Suas dimensões variam de 40 a 50cm, e a cabeça deve medir, no máximo, 3cm. Trata-se um de um aparelho muito dinâ- mico e exige a habilidade simultânea das duas mãos. Os movimentos técnicos das maças são: pequenos círculos, molinetes, assimétricos, balanceios, circunduções, lançamentos e recuperação. 6.4.3 Elementos corporais da GR Os elementos corporais são estruturantes da série da atleta, pois, junto aos aparelhos, vão compor a complexidade da modalidade (AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015). Para que haja domínio do aparelho, é necessário, também, domínio corporal. Nessa perspectiva, espera-se que, no início, Figura 6.14 – Fita Fonte: acervo da autora. Figura 6.15 – Maças Fonte: acervo da autora. Ginástica – 122 – a prática da ginástica contemple o ensino desses elementos e o desenvol- vimento das capacidades físicas para a execução. O desenvolvimento dos elementos pode ser realizado de forma isolada e, depois, com o manejo dos aparelhos. Os elementos corporais contemplam saltos, equilíbrio e rotações/pivôs. 2 Saltos: são realizados mediante o impulso, os pés perdem o contato com o solo em suspensão por um tempo mínimo, sendo caracterizados pela amplitude, altura e forma. A realização des- ses movimentos requer potência muscular e impulsão. 1. Impulsão – momento em que o corpo está no solo e força a sua projeção no ar; 2. Fase aérea – momento em que o corpo faz movimentos no ar; 3. Aterrissagem – momento de contato do corpo com o solo. 2 Equilíbrio: exercícios de manu- tenção e controle do centro de gravidade em posturas estáti- cas, dinâmicas, recuperadas ou a combinação delas. Esse ele- mento deve ser realizado com pé inteiro, meia ponta ou, ainda, de joelhos, por dois segundos, não sendo obrigatório, mas tendo forma definida, fixa ampla. Os movimentos mais comuns são: arabesque, atitude, grandecart, prancha (avião) e passe. São fases do equilíbrio: 1. Preparatória: posição de equilíbrio; 2. Principal: figura; 3. Final: saída do equilíbrio. Figura 6.16 – Sequência domovimento arabesque Fonte: acervo da autora. – 123 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos 2 Rotações/pivôs: identificados como rotações em torno do eixo longitudinal, partindo de uma posição de preparação, comple- tando a rotação mínima de 360º e apresentando uma forma defi- nida e fixa ao final. Essa execução é feita a meia-ponta. Dentre as fases, podemos indicar: 1. Preparatória – preparação do corpo para realização da rotação; 2. Principal – execução do movimento; 3. Final – fim da rotação, em que a perna que estava no ar chega ao solo. 6.4.4 Composição das notas para individuais e conjuntos Em consonância com o código de pontuação vigente, que sofre alte- rações a cada ciclo olímpico, na atualidade, é composta por duas bancas: 1. Dificuldade (D) – inclui a avaliação do conteúdo técnico do exercício, valor dos elementos que compõe a série). Quatro árbi- tros avaliam isoladamente a dificuldade, a nota final é a soma dessas médias, isolando as duas notas intermediárias; 2. Execução (E) – momento em que a ginasta é avaliada pelo júri, levando em consideração a correção artística, técnica e formal dos elementos realizados durante a série, tendo como base o código de pontuação adotado para a competição). Os cinco árbitros avaliam a série de forma individual e a nota final será a média das três notas intermediárias atribuídas pelos árbitros. Essa modalidade é de extrema relevância para o desenvolvimento motor da criança, a GR ofertando inúmeras probabilidades de criação, construção, desconstrução e reconstrução dos conceitos corporais da criança (AGOSTINI e NOVIKOVA, 2015). A GR proporciona momentos lúdicos e de descobertas para todos, independentemente da idade, gênero, classe social ou nível de preparo físico. Ginástica – 124 – 6.5 Ginástica de trampolim A ginástica de trampolim é a modalidade esportiva menos popular, no entanto é bastante expressiva na arte circense e faz parte do programa olímpico. Ainda assim, o trampolim é mais utilizado para auxiliar o apren- dizado de exercícios que possuam fase aérea (como mortais). Ele é encon- trado em outros espaços, como áreas de lazer, shoppings, sendo comu- mente conhecido como cama elástica. Esse tipo de ginástica proporciona ao indivíduo o desenvolvimento da coordenação motora, da consciência cinestésica, bem como autoconfiança e autoestima. Mediante todos esses benefícios, a GTR tem sido estudada como possibilidade de intervenção terapêutica para crianças com deficiência. O trampolim foi utilizado na Idade Média por acrobatas de circo que usavam tábuas flexíveis nas suas apresentações. Os trapezistas também utilizavam saltos a partir do impulso em redes de segurança. Apesar de essa não ser necessariamente a gênese de tal ginástica, já havia representações de uma “cama de pular” como entretenimento para as plateias. Mais comum na realidade circense, onde se desenvolveu a princípio, o trampolim teve como precursor o artista Du Trampolin, que utilizou a rede de segurança do trapézio como forma de propulsão e aparelho para decolagem, experimentou-a com diferentes sistemas de suspensão, redu- zindo a rede a uma dimensão propícia à performance individual. Enquanto esporte, contudo, foi criado por Geoge Nissen, somente em 1936, e rapi- damente foi introduzido enquanto modalidade esportiva em vários progra- mas de formação em educação física. As primeiras competições internacionais de ginástica de trampolim foram sediadas em Londres, em 1964 e 1965. A partir daí, mais de 54 países participaram dos campeonatos mundiais, realizados a cada biênio. Essa modalidade chegou ao Brasil em 1975, com José Martins de Oli- veira Filho (professor). Os campeonatos regionais e nacionais se tornaram recorrentes. Em 1990, o Brasil participou pela primeira vez de um campe- onato mundial, na Alemanha. Desde então, a modalidade vem crescendo a cada campeonato mundial, conquistando posições relevantes no trampo- lim acrobático, contando com seis participações. – 125 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos Nos EUA, os professores de educação física identificaram, por meio de observações, os benefícios que a prática da modalidade traz aos seus praticantes e, então, por esse motivo, foi inserida na educação física escolar. Essa ginástica se tornou modalidade olímpica em 1997, e seu reconhecimento como modalidade esportiva ocorreu em 1998. A FIG oportunizou a sua estreia nos jogos olímpicos de Sydney (no ano 2000). O primeiro atleta brasileiro a se destacar na modalidade foi Rodolfo Rangel, ao conquistar o 1º lugar na prova de duplo minitrampolim, no campeonato mundial em Nova Zelândia, com um novo recorde no apare- lho. Em 2001, foi realizado o I Campeonato Sul-Brasileiro de Trampolim Acrobático, na cidade de Canoas. Esse evento promoveu a participação das categorias pré-infantil, infantil e a elite, representada pelos melhores atletas em nível internacional. 6.5.1 Ginástica de trampolim – provas A Confederação Brasileira de Ginástica considera, na ginástica de trampolim, as seguintes provas e aparelhos que podem ser disputados separadamente por ambos os sexos. 2 Trampolim individual: única categoria olímpica, conta com a realização de movimentos em uma cama elástica que mede 5m x 3m x 1,15m. Nele, o ginasta adquire altura de cerca de 5 a 6m e estabilidade com saltos preliminares. Em seguida, são executados vinte elementos técnicos, ininterruptamente, em duas séries, dez na preliminar e dez concluindo a série (que podem ser igual a uma da série preliminar). Figura 6.17 – Trampolim individual Fonte: acervo da autora. Ginástica – 126 – 2 Trampolim sincronizado: segue a mesma dinâmica do tram- polim individual, mas é realizado ao por dois ginastas saltando ao mesmo tempo, em trampolins distintos, paralelamente a uma distância de 2 metros. Figura 6.18 – Trampolim sincronizado Fonte: acervo da autora. 2 Duplo minitrampolim: após uma corrida, o ginasta faz a aproxi- mação, salta no aparelho, que é menor, e faz a sequência. Durante a apresentação, o ginasta executa quatro passadas, dois elementos técnicos, duas passadas diferentes na preliminar e na final. Figura 6.19 – Duplo minitrampolim Fonte: acervo da autora. 2 Tumbling: trata-se de uma prova executada em uma pista de 26m em que o ginasta executa quatro passadas (oito elementos em cada passada), sendo duas no início e duas no final. O ritmo é indispensável durante toda a execução. – 127 – Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos Figura 6.20 – Tumbling Fonte: acervo da autora. Os saltos no trampolim se apresentam em três fases: a primeira delas é a impulsão; a segunda é a fase de acrobacia; a terceira é a aterrissagem. As formas de aterrissagens no trampolim são em pé, sentado, em decúbito dorsal (de costas), em decúbito ventral (frontal ou facial). 6.5.2 Critérios de avaliação A arbitragem considera três critérios na avaliação. O primeiro deles é a execução técnica, avaliada por cinco árbitros (no trampolim sincro- nizado, são quatro), a avaliação parte da nota 10 e sofre deduções, con- siderando a qualidade técnica do movimento. A nota final de execução desconsidera a maior e a menor nota e somam-se as três centrais. O segundo critério a ser analisado é a dificuldade de realização dos elementos, avaliada por dois árbitros. Cada elemento tem seu valor de dificuldade e a nota final é obtida de acordo com o apresentado para cada prova. O terceiro critério de análise da modalidade é reservado ao trampo- lim sincronizado, os três árbitros avaliam a sincronia dos ginastas para se chegar à nota. Dessa forma, são eliminadas a maior e a menor nota e multiplica por dois a nota restante. A nota final é resultado da soma de todos esses critérios. Ginástica – 128 – Atividades 1. Quais são as ginásticas competitivas? Aponte duas característi- cas que essas modalidades possuem em comum. 2. Descreva como é realizadaa avaliação das provas de ginástica aeróbica. 3. A ginástica rítmica é praticada por qual público em competições oficiais (FIG)? Quais são os aparelhos da ginástica rítmica? 4. O que é a ginástica artística? Quais são os aparelhos específicos para homens e para mulheres? 5. Quais são as principais provas da ginástica de trampolim? 6. Qual é a importância da Confederação Brasileira de Ginástica para as ginásticas esportivas de competição? 7 Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas O presente capítulo permeia os fundamentos básicos rela- cionados à prática da ginástica, contemplando os conhecimentos comuns a suas modalidades. Nesse contexto, serão apresentadas as possibilidades de ensino-aprendizagem, tendo como eixo de reflexão a iniciação esportiva e a formação do ginasta em uma perspectiva geral. Por fim, serão apresentadas possibilidades metodológicas de trabalho no que se refere ao processo de ensino- -aprendizagem em cada modalidade das ginásticas competitivas. Ginástica – 130 – 7.1 Posicionamentos do corpo A nomenclatura oficial relacionada aos posicionamentos corporais é de extrema relevância para o processo de ensino-aprendizagem da ginás- tica. As terminologias apresentadas a seguir consideram os conhecimentos anatômicos e biomecânicos e devem ser aplicadas pelo professor/treinador em suas aulas. Para tanto, é necessário conhecer também algumas siglas amplamente utilizadas em materiais didáticos, planos de aula e outras pro- duções inerentes à prática profissional. 7.1.1 Posição fundamental: em pé, com o tronco ereto, os membros superiores ao longo do corpo no prolongamento e o olhar voltado para o horizonte Figura 7.1 – Posicionamento anatômico Fonte: Shutterstock.com/AV-Art – 131 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas Nem sempre estamos em posicionamento anatômico ou nos movi- mentamos e nos posicionamos constantemente; e na ginástica não é diferente. A nomenclatura traz formas de identificar os membros tam- bém por siglas presentes em vários materiais didáticos e acadêmicos na descrição de movimentos da ginástica. Espera-se que o professor/ treinador tenha conhecimento tanto para compreender as posições em seu material de referência como para facilitar o processo de ensino- -aprendizagem dos movimentos. Quadro 7.1 – Nomenclatura: sigla e imagem dos membros Nomenclatura Sigla Imagem Membro superior MS Imagem Membros superiores MMSS Imagem Membro inferior MI Imagem Membros inferiores MMII Imagem Fonte: elaborado pela autora. Os membros podem estar ao longo do corpo, estendidos naturalmente ou em afastamento anteroposterior (afastamento de MMII, estando um pé a frente e outro atrás do corpo). Já os MMII podem estar em afastamento lateral (pés afastados a uma distância equivalente à linha dos ombros); em grande afastamento lateral (distância superior ao afastamento lateral); em afastamento anteroposterior (afastamento de MMII, estando um pé a frente e outro atrás do corpo); e em afundo (variação do afastamento lateral ou anteroposterior, com um dos MMII em semiflexão – menor do que 90°). 7.2 Terminologia dos movimentos fundamentais da ginástica Podemos identificar algumas nomenclaturas estruturantes da ginás- tica, seja qual for a modalidade esportiva, podendo sofrer variações ou combinações recorrentes da criatividade ou da intencionalidade. 2 Saltar: locomoção explosiva e dinâmica, com ou sem desloca- mento inicial (corrida), em que há perda total do contato dos pés Ginástica – 132 – com o solo e uma fase aérea pronunciada, podendo o impulso se dar com um ou os dois pés. 2 Saltitar: ação feita com ou sem deslocamento inicial, com perda momentânea do contato dos pés com o solo; a fase aérea é menor, e a retomada ao solo é feita com a parte anterior dos pés. 2 Alternado: movimento realizado de forma alternada. 2 Simultâneo: movimento realizado ao mesmo tempo. 2 Assimétrico: movimento transcorre ou é feito em sentidos opos- tos, estando ou não no mesmo plano. 2 Inclinação: fluxo que afasta os segmentos do esqueleto axial da linha mediana do corpo, estando obliquamente em relação ao plano frontal. 2 Equilíbrio: ação de permanecer ou se deslocar em uma super- fície delimitada contra a ação da gravidade, sendo resultado do movimento muscular em contração no intuito de manter deter- minada posição ou postura; o equilíbrio pode ser estático (sem locomoção) solicitado em movimentos como avião, ponte, vela e bandeira; já o equilíbrio dinâmico (com locomoção) é solici- tado em ações como saltar e correr. 2 Rotações: elementos realizados em torno dos eixos transversal ou longitudinal do corpo, com ou sem apoio no solo; os pivôs são realizados sobre o apoio nas pontas dos pés, podendo ser execu- tados com a perna livre em várias alturas, posições e amplitudes; rolamentos são exemplos de rotação em que o ginasta utiliza o solo como base para a execução do giro no eixo corporal. No caso da ginástica rítmica, as rotações precisam ser acompanha- das da manipulação de algum aparelho. 2 Movimentos locomotores: andar, correr, saltar, saltitar, engati- nhar, marchar, trotar, rastejar, rolar, subir, escalar, nadar. 2 Movimentos manipulativos: apoiar, pegar, apreender, lançar, arremessar, passar, receber, bater, rebater, carregar, quicar. 2 Movimentos estabilizadores: flexionar, estender, abduzir, adu- zir, rotacionar, girar, alongar. – 133 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas 7.3 Movimentos corporais na execução de atividades Os movimentos corporais básicos remetem aos movimentos natu- rais dos seres humanos, condicionados pelo ambiente que os cerca, como andar, correr, saltar, saltitar, girar, rolar, realizar extensão e flexão; já os movimentos mais complexos são elaborados conscientemente, conside- rando ritmo, forma e intensidade no alcance de um objetivo. Para descre- ver um movimento, deve-se levar em consideração três fatores: posição inicial (posição estática do indivíduo antes de iniciar a deslocação; em caso de uso de aparelhos, a posição antes de iniciar a execução), execução (ato ou atividade com número de repetições e tempo de duração ou deslo- camento) e posição final (ao fim do deslocamento, posição estática). No caso de execuções em conjunto, a situação do corpo em referência ao espaço físico também recebe terminologia específica; assim, identifica- -se o posicionamento em colunas (os indivíduos ficam um atrás do outro), fileiras (os indivíduos ficam um ao lado do outro), longitudinal (disposi- ção no sentido do comprimento, tudo é relativo a ele) e transversal (distri- buição no sentido da largura, tudo é relativo a ela). 7.4 Aprendizagens na ginástica A iniciação nas ginásticas tem sido amplamente discutida no âmbito da iniciação esportiva, sendo observado que os alunos repetem incessan- temente sequências orientadas pelo professor, reduzindo a motivação para a realização da prática. Os métodos tradicionais de ensino tendem a res- tringir as aprendizagens, impossibilitando ao praticante a apreensão do conhecimento teórico de forma satisfatória. Assim, os iniciantes ficam limitados à apresentação do professor e reduzidos a executantes de gestos e técnicas de maneira mecânica e automatizada. Greco e Brenda (2001) afirmam que é destinado muito tempo ao ensino da técnica, tornando a aula pouco atraente e limitando a prática a um conjunto de ações mecânicas sem a preocupação de desenvolver a capaci- dade de autonomia em relação ao movimento. A metodologia de ensino da ginástica deve privilegiar a formação de alunos críticos, despertando o Ginástica – 134 – gosto pela prática esportiva, considerando a modalidade em sua perspec- tiva global. Assim, a iniciação esportiva se torna um campo fértil para as aprendizagens em harmonia com o desenvolvimento integrado e simultâ- neo das capacidades coordenativas, técnicas, físicas, sociais e psicológicas. A perspectiva pedagógica de ensinodas ginásticas deve considerar que o movimento é uma relação do homem com o mundo, sendo o princi- pal foco da iniciação possibilitar ao educando a aquisição de competências para agir. A aula deve ser um espaço aberto às experiências de aprendiza- gem, dando ao praticante a mínima autonomia para se movimentar. O foco da aprendizagem precisa estar no aprendente, que é o centro do processo; partindo desse foco, as decisões pedagógicas devem ser tomadas coletiva- mente, considerando as aspirações de alunos e professores. As sequências da ginástica são uma sucessão de deslocações que se ligam e devem ser realizadas de forma harmoniosa, recrutando os funda- mentos básicos da ginástica somados às habilidades motoras. Nesse sen- tido, as sequências pedagógicas devem contemplar a sucessão de movi- mentos naturais ou construídos visando a um objetivo específico. A ordem deles deve se dar de acordo com a importância ou a dificuldade, então a sequência pedagógica deve ir do simples para o mais complexo, consi- derando os estágios de desenvolvimento. Nesse contexto, cabe ao aluno imaginar a ação, tentar, experimentar, imitar, descobrir, constatar, avaliar e selecionar como o movimento deve ser feito. Já ao professor cabe orientar, incentivar, ajudar (se necessário), apreciar e corrigir. A metodologia de aprendizagem da ginástica precisa privilegiar o prazer de aprender, e o planejamento elaborado pelo professor precisa favorecer a aprendizagem e a aquisição de habilidades por parte do ini- ciante. A aula deve ter sentido e significado para o praticante, dando a possibilidade de resolver problemas relacionados à prática, fazendo que o conhecimento trabalhado seja relevante para a formação tanto esportiva quanto humana. As aprendizagens precisam proporcionar aos alunos a superação de limites, com conhecimentos que serão capazes de formá-los para a modalidade. No âmbito esportivo, e consequentemente na perspectiva do treina- mento desportivo, a iniciação é fundada nas especificidades de formação – 135 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas do indivíduo que poderá se tornar atleta, e a ginástica toma uma concepção mais singular, voltada para competições e performance. Os treinamentos têm como foco as competições, e a figura do professor toma a perspectiva de treinador, cabendo a ele ordenar a execução de movimentos baseados em seus conhecimentos. Mesmo nesse contexto, as aulas não precisam ser concebidas de forma fechada, e o movimentar deve ser aperfeiçoado tendo como foco a modalidade, os exercícios fragmentados e executados metodicamente para a fixação do gesto técnico. Aulas seletivas requerem um número reduzido de alunos, com regras rígidas que devem ser seguidas; o foco é a especialização, a preparação que leva em consideração a classificação e, sobretudo, a necessidade de vencer. Espera-se que as aulas de ginástica, ainda que na perspectiva da performance, considerem as especificidades e a bagagem dos alunos – não que se deva negar a técnica, mas que haja uma ressignificação dela e que o ginasta compreenda o porquê de cada etapa do treinamento e o quanto é importante para a formação e o treinamento. 7.4.1 Fases de iniciação em ginástica As fases da iniciação da ginástica apresentam algumas peculiarida- des. Na etapa pré-escolar, os estágios identificados são inicial, elementar e maduro, compreendendo a faixa etária de 2 anos a 6 anos de idade. Na fase escolar, identificada como movimentos especializados, a faixa etária vai dos 7 anos até a vida adulta. A aprendizagem é um processo caracterizado pela transformação progressiva das capacidades dos indivíduos e precisa acontecer por etapas de familiarização e iniciação (CAÇOLA, 2007). Nessa perspectiva, a familiarização é o contato inicial do aluno com elementos de aprendizagem, que pode ser trabalhada tendo como base três métodos: parcial (ensino por partes ou fundamentos, em que a aprendiza- gem ocorre do agrupamento do todo), global (proporcionando a aprendi- zagem de um modo geral, em que o início se dá pelo todo) e misto (junção dos métodos anteriores, que possibilita a prática de exercícios isolados e a iniciação de elementos já incorporados). O método global define a tentativa de execução completa do movimento e deve ser utilizado con- siderando que o método parcial é a decomposição do exercício em dife- Ginástica – 136 – rentes fases. Assim, cada etapa necessita de qualidades diferentes, como velocidade, força, sustentação e posições, que podem ser exploradas em atividades que apresentem a necessidade de compreender as sequências de forma lenta e especificada que geralmente compõem as etapas didáticas de movimentos rápidos e complexos. O método global se caracteriza pela execução do elemento como um todo; após esse feito, há a promoção da correção, motivando o praticante e permitindo a agilidade no processo de ensino-aprendizagem. Há o risco de adquirir vícios de execução, uma vez que o aprendiz realiza o movimento em sua forma total, sem divisão em fases (MAGILL, 2005). As tarefas motoras mais simples não necessitam de ajustamentos profundos; quando os movimentos são considerados complexos, deve-se utilizar a ação repe- titiva e progressiva, primeiramente em sua totalidade e em seguida por partes, para que haja a compreensão e a assimilação do movimento em sua complexidade. Magill (2005) apresenta vantagens e desvantagens dos métodos de ensino-aprendizagem das ginásticas e suas aplicabilidades, em que o pro- fessor deve eleger o mais coerente em relação aos objetivos almejados para o ensino da modalidade; para tanto, deve ter conhecimento e sensibi- lidade para recrutar os métodos adequados para cada situação. O processo de ensino-aprendizagem na ginástica deve contar, de início, com ativida- des diversificadas em uma perspectiva lúdica. Na sequência, deve-se apresentar a execução do movimento de forma correta, possibilitando à criança compreender o exercício, uma vez que ela pode se tornar um atleta de alto rendimento ou um adulto com consciên- cia corporal satisfatória. O processo de ensino-aprendizagem da ginástica deve levar em consideração fatores determinantes, como particularidade dos exercícios, capacidade dos alunos, conhecimento do professor, otimi- zação do momento de aprender e orientação do processo de ensino (infor- mação, operação, controle e correção). O processo de ensino-aprendizagem da ginástica pode ser muito efi- ciente, atendendo às etapas que podem propiciar êxito na construção desse conhecimento. A primeira é o período preparatório do trabalho, com prepa- ração teórico-metodológica, determinação dos objetivos de ensino, inves- – 137 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas tigação das estruturas motoras e das técnicas de ensino. Esse momento remete ao período que compreende o planejamento do professor/treinador, no qual ele estabelece suas intencionalidades quanto ao plano de trabalho, pensando “a quem ensinar”. A segunda é o período básico, com preparação física e técnica para o estabelecimento inicial do hábito motor com trabalho postural, avaliação do nível de preparo do aluno e preparação motora preliminar. Remete à formação voltada para o preparo do indivíduo, pensando a postura, o pre- paro físico e a preparação motora, compreendendo uma anamnese e um momento de formação e aprimoramento de competências gerais. As pre- parações física e técnica desses aspectos são substanciais para o desenvol- vimento do possível atleta, sendo a base para atividades mais específicas. A terceira é o período final do ensino, com fortalecimento e apri- moramento de hábitos motores, estabilização de hábitos da técnica do exercício, execução de exercícios em combinações e aperfeiçoamento por meio da execução da técnica correta, levando-se em conta as capaci- dades físicas necessárias para tal. Nesse momento, as estruturas motoras estão prontas para a realização de movimentos específicos,compreen- dendo técnica, possibilidades de execução e aperfeiçoamento. Ao chegar a essa etapa, o praticante já internalizou a execução do movimento com suas especificidades. Outros métodos de ensino podem ser eficazes na iniciação em ginás- tica, e a explicação verbal é a primeira delas, pois desperta atenção e interesse, com a demonstração do movimento que apreende a atenção no campo visual, a análise de possíveis erros na execução e a tentativa de execução completa pelo aprendiz. O professor precisa avaliar as capacida- des dos alunos, considerando suas experiências e as exigências técnicas, físicas e de criação. É necessário que o treinador subdivida o processo de aprendizagem, analisando as etapas mais importantes e valorizando as melhores formas de execução técnica dentro do padrão de cada elemento. Outra categoria não menos importante é o treinamento como con- dição básica para se obter resultados, uma vez que garante a melhoria da execução técnica, criando possibilidades de superação de deficiências relacionadas ao condicionamento físico e aprimorando as resistências Ginástica – 138 – física, técnica e de postura. Mais habilidades devem ser desenvolvidas, como a execução do máximo de elementos com o mínimo de tempo e esforço, bem com a aquisição do automatismo. 7.5 Possibilidades pedagógicas no trabalho com a ginástica Apresentaremos possibilidades pedagógicas de trato dos conheci- mentos relacionados à ginástica em sua perspectiva competitiva, levan- tando elementos para que o professor/treinador possa refletir sobre sua postura pedagógica e a construção de suas aulas. Entendemos que, inde- pendentemente do espaço de atuação desses profissionais, deve-se levar em conta a intencionalidade educativa como norteadora da prática educa- cional. Aqui, mostraremos algumas possibilidades de reflexão sobre a prá- tica, indicando uma perspectiva de intervenção crítica, atuante e efetiva. 7.5.1 Ginástica acrobática Em uma perspectiva competitiva, espera-se que as turmas sejam for- madas de acordo com o nível de habilidades dos participantes, não tendo como base a idade cronológica (MERIDA, 2008). Nos eventos compe- titivos, existe uma flexibilidade quanto à idade dos integrantes de uma equipe, uma vez que no trabalho em grupos os ginastas têm capacidades físicas distintas e contribuem qualitativamente para o desempenho cole- tivo. Piccolo e Toledo (2014) afirmam que as turmas devem ser formadas com base em critérios avaliativos, e não em um critério isolado. Há a necessidade de uma diagnose, seguida de uma avaliação processual, para definir a turma mais adequada ao desempenho. Em um contexto de iniciação esportiva ou de um período alheio ao circuito de competições, é interessante que duplas e quartetos sejam tro- cados com frequência, para que ocorram os estímulos necessários para a evolução da equipe; já em períodos competitivos não é indicada a troca de parceiros, para automatizar as execuções e permitir o aprimoramento da coordenação coletiva. Piccolo e Toledo (2014) propõem uma de aula de ginástica acrobática como resultado de elementos essenciais para a boa – 139 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas formação de um ginasta e ressaltam que esses elementos não são fixos nem cronológicos, mas que precisam estar presentes na aula. Figura 7.2 – Aulas de ginástica acrobática Fonte: adaptado de Merida (2014, p. 55). A duração de cada momento deve ser adaptada à realidade da aula, ao nível de habilidade da turma, ao objetivo da aula e de acordo com a organização do professor. Os conteúdos devem contemplar a base motora comum a qualquer modalidade da ginástica competitiva, contando com ações musculares, padrões de movimentos relacionados à ginástica, ações motoras, habilidades temáticas e categorias de movimentos (NUNO- MURA; TSUKAMOTO, 2005). Nesse contexto, os fundamentos da modalidade devem ser ensinados, como exercícios de tumbling (sequ- ência de elementos acrobáticos executados pelo ginasta, como o mortal para trás), exercícios individuais (contemplando força, equilíbrio e flexi- bilidade), figuras acrobáticas (estáticas: posições de base, intermediário e volante devem ser mantidas por 4 segundo, havendo troca de posições), lançamento dinâmico (cinco possibilidades de movimentos coletivos exe- cutados em sequência) (MERIDA, 2008). Ginástica – 140 – Os exercícios pré-acrobáticos ou educativos devem ser contempla- dos, introduzindo a familiarização com novos movimentos; exercícios de expressão são essenciais e substanciam a execução de coreografias. Nessa perspectiva, jogos, brincadeiras e outras possibilidades de expressão cor- poral são importantes e possibilitam a aprendizagem significativa. Os conhecimentos relacionados a regras e normas de competições são essen- ciais para o desempenho qualitativo do ginasta em competições. A criação coreográfica no contexto brasileiro também é atribuída ao professor/treinador, que precisa escolher uma música que tenha corres- pondência com a coreografia elaborada, bem como promover a escolha coletiva com os atletas que vão executar a série. Deve-se estimular a cria- ção coreográfica, direcionando-a com roteiros de critérios claros e estabe- lecendo uma regularidade no treino das coreografias. As técnicas de ensino da ginástica acrobática devem ser as mais varia- das possíveis, levando em consideração a produção acadêmica da área e a experiência do professor/treinador. Merida (2014) aponta as estratégias mais utilizadas nas aulas: procedimentos relacionados a especificidades do aluno, vivência de todas as figuras, evolução da complexidade, apre- sentação de vídeos e de imagens, exercícios individuais e por demonstra- ção, atividades metodologias diversificadas e auxílio na execução. Destaca-se, ainda, o método global, em que há a execução completa do exercício proposto após explicação verbal e demonstração, sendo pro- pícia para movimentos simples. Em etapas, prevê a execução sucessiva do exercício preparatório de complexidade crescente, sendo mais indicado ao ensino de movimentos complexos. Já o método das partes indica a divisão da atividade em três partes executadas separadamente, indicado para exer- cícios de alta complexidade e de caráter dinâmico (ALMEIDA, 1994). O professor/técnico deve apresentar o movimento de várias maneiras, no intuito de promover a aprendizagem e atingir os resultados esperados. O profissional deve flexibilizar os momentos de aprendizagem, promo- vendo um espaço fértil para a aprendizagem, oferecendo as mais variadas atividades para o alcance desse objetivo. Merida (2014) apresenta um exemplo de aula de ginástica acrobática, defendendo que deve contemplar uma estrutura que aborde tudo o que – 141 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas foi trabalhado até o momento. Espera-se que o professor/treinador com- preenda os conhecimentos tratados como suporte para sua prática peda- gógica. Assim, o exemplo a seguir busca associar os conhecimentos, a postura e a organização esperados. Considerando uma turma intermediária, que treina 10 horas semanal- mente, cada aula durando 2 horas, com 19 alunos (um quarteto, três trios e três duplas). É interessante que o encontro tenha início com uma conversa, em que o professor recapitule as realizações anteriores, relacionando os conhecimentos com os objetivos da aula. Em seguida, devem ser feitos aquecimento e alongamento inicial, com duração de 20 minutos – uma opção é o pega-pega, em que o professor/treinador escolhe dois pegadores e os demais são os fugitivos. A atividade deve ser realizada no tablado, dividida em etapas: 1ª etapa: Circundução de pescoço (20 repetições); 2ª etapa: Circun- dução de ombros (20 repetições); 3ª etapa: Circundução de quadril (20 repetições); 4ª etapa: Circundução de punhos e tornozelos (20 repetições); 5ª etapa: Alongamento de cadeia posterior (fecha- mento de tronco e MMII unidos – 30 segundos); 6ª etapa: Alonga-mento de parte interior dos MMII (fechamento de tronco e MMII afastados lateralmente– 30 segundos); 7ª etapa: Alongamento de ombros, abdômen e lombar (ponte – 30 segundos). (MERIDA, 2014, p. 90-91) A cada vez que um aluno for pego, ele deve executar o movimento exigido naquela etapa, e os que não forem pegos e os pegadores devem realizar o movimento no fim de cada fase, com duração de 2 minutos. O terceiro momento da aula pode ter atividades posturais e rítmicas, con- templando poses variadas ao som da música escolhida pelo professor/ treinador, incentivando a composição coreográfica. A quarta fase remete à preparação física e deve ter duração de 20 minutos, sendo fruto de uma análise de longo prazo acerca das especificidades de cada atleta, portanto, individualizada (bases e volantes). São necessários, ainda, exercícios intermediários, comuns a todos, e cabe ao professor/treinador organizá- -los de acordo com as necessidades da aula. O quarto momento é destinado à prática de exercícios individuais, com duração de cerca de 15 minutos, em que os exercícios são executados preferencialmente em forma de circuito. As estações devem contemplar Ginástica – 142 – exercícios referentes a força, equilíbrio, flexibilidade, tumbling (chamada, rodante, saltos, reversão, entre outros), saltos (jeté, tesoura, carpado); cada uma deve ser realizada em duplas, trios ou quartetos, para que o treino em grupos proporcione maior sincronia de movimento. No caso de as equipes já terem coreografias, em cada parte devem ser contemplados movimentos no circuito, tornando-o mais específico. O quinto momento, com aproximadamente 25 minutos, remete à vivência de figuras acrobáticas, de equilíbrio e dinâmicas, que devem ser ensinadas de acordo com as especificidades dos ginastas, do técnico, do conteúdo, da fase de aprendizagem, levando em consideração o grau de dificuldade do movimento. O sexto momento tem duração de cerca de 20 minutos e é destinado à coreografia, que a princípio promove a criação em duplas, trios ou quartetos. Após essa construção, o período deve ser utili- zado para treinar, aperfeiçoar, corrigir ou alterar as coreografias. Por fim, deve ser realizado o alongamento, que pode ser utilizado apenas para esse fim ou para aumentar a flexibilidade por meio da técnica de forças opostas (MERIDA, 2014). Uma aula sistematizada permite ao professor/treinador manifestar sua intencionalidade pedagógica e com sua estruturação privilegiar elementos que sejam importantes para a formação e a preparação dos ginastas. 7.5.2 Ginástica artística A ginástica artística (GA) conta com uma gama de possibilidades, sendo uma prática que proporciona um relevante nível de percepção cor- poral, ampliando a bagagem motora do praticante e podendo promover o aperfeiçoamento de habilidades. A prática dessa modalidade pode facilitar o desempenho motor, permitir a expressão corporal, oferecendo domínio do movimento, sendo essencial e de grande relevância na formação de crianças (PICCOLO; SCHIAVON, 2014). Para além da iniciação espor- tiva, a GA pode ser trabalhada na escola, e, apesar de contar com apare- lhos que não estão presentes nesse ambiente, pode promover espaços de efetiva formação, tendo como base os movimentos acrobáticos no solo. A GA é uma modalidade coordenativa e com movimentos singulares capazes de proporcionar vivências que promovam diversas possibilidades – 143 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas corporais. O processo de ensino precisa considerar as capacidades e as possibilidades de desempenho dos ginastas. Piccolo e Schiavon (2014) elaboraram uma possibilidade metodológica que pode ser aplicada tanto na iniciação esportiva quanto na ginástica artística escolar, fundamentada no referencial teórico de que podemos pensar possibilidades de ensino- -aprendizagem da modalidade. Essa corrente teórica prevê um trabalho baseado na implementação de um projeto no qual se desenvolve o método que permite explorar os movimentos da criança, buscando possibilidades de expressão. Cada aula precisa ter no mínimo três momentos que devem substanciar uma aprendi- zagem efetiva e que de fato contribua para a formação do ginasta. O primeiro momento compõe um espaço de exploração dos movi- mentos corporais, de acordo com um tema ou material, de forma indivi- dual, no qual o indivíduo se baseia apenas nos conhecimentos que já tem por meio de sua própria exploração. Nessa atividade, o professor conhece os alunos, suas potencialidades e suas capacidades, explorando criativi- dade, iniciativa individual, entre outras competências. Esse movimento pode ser exemplificado com a promoção do contato da criança com algum material característico da GA, indagando qual é sua funcionalidade e como pode ser utilizado, possibilitando a ampliação do repertório motor. O segundo momento deve ser baseado nessa construção, levando em consideração os elementos fornecidos, que são fundamentados nos obje- tivos da aula e nas observações realizadas pelos alunos; partindo disso, o professor pode indicar variadas formas de ação motora. Com base em Vygotsky, Piccolo e Schiavon (2014) afirmam que as pistas oferecidas devem propiciar o aprofundamento do repertório dos alunos, que vão associar os conhecimentos prévios deles ao novo, solucionando proble- mas – o que é aprendido se torna uma etapa superada. O terceiro momento é oferecido quando os alunos já realizaram todas as possibilidades de movimentos propostos, cabendo ao professor realizar a dinamização da aula, intervindo para contemplar as metas estabelecidas. Caso os alunos não tenham avançado conforme o esperado, o professor/ treinador deve promover intervenções para que isso aconteça, sendo, por- tanto, um momento de ampliação dos conhecimentos. Os alunos podem Ginástica – 144 – imitar os gestos ensinados de forma referencial para a construção de seu conhecimento. Nas próximas aulas, esses movimentos imitados podem ser realizados nos primeiros momentos, como um conhecimento já desenvol- vido, sendo substancial que qualquer conhecimento passe pela imagina- ção, formando os conceitos subjetivos. A combinação de elementos executados em uma sequência de movi- mentos, de aprimorar capacidades físicas e habilidades motoras para cada exercício aprendido, proporciona oportunidades de exploração. O profes- sor/treinador deve estimular a curiosidade dos alunos por meio de análise, experimento, desenho, entre outros. Nunomura e Tsukamoto (2005) defendem que o processo de ensino- -aprendizagem da ginástica artística deve passar por alguns passos. O pri- meiro deles remete à prática, em que devem ser privilegiados temas simples, em ambientes diferenciados, com a execução de movimentos individuais e em duplas. O segundo passo diz respeito à sequência, em que se deve ini- ciar a união entre habilidades de uma mesma categoria e temas ou ambientes diferenciados, praticado individualmente ou em pequenos grupos. O terceiro passo tem relação com performance, em que a criação e o fruir são contempla- dos, iniciando de forma individual, depois em trios e assim sucessivamente. Tanto Piccolo e Schiavon (2014) quanto Nunomura e Tsukamoto (2005) defendem a presença da GA no contexto escolar como uma prática de extrema relevância para o desenvolvimento de habilidades de crianças nessa etapa de formação. Os autores indicam que não há a necessidade de usar recursos rebuscados, materiais ou aparelhos para trabalhar a moda- lidade; alguns processos adaptados para esse fim e a experimentação são protagonistas quanto se pensa a GA na escola. Para que ocorra o pleno desenvolvimento do praticante na escola ou na iniciação esportiva, a criança precisa dar sentido e significado ao conhecimento que está viven- ciando: para se incorporar um movimento, é necessário experimentá-lo e construir possibilidades de experimentação e de construção. 7.5.3 Ginástica de trampolim A ginástica de trampolim permeia a área da iniciação esportivae, de forma mais efetiva, o mundo da competição, sendo pouco pensada no – 145 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas ambiente escolar. Há de se considerar os esforços de vários estudiosos em popularizar essa modalidade tanto na escola quanto em clubes e espaços de iniciação esportiva, respeitando as especificidades da modalidade, seu desenvolvimento, a segurança necessária e, sobretudo, o trato pedagógico. Merida e Toledo (2014) reconhecem o desafio pedagógico dessa moda- lidade, tendo de adequar a estrutura da aula aos objetivos estabelecidos, uti- lizando os elementos estruturantes escolhidos pelo professor/treinador de forma coesa e coerente com o perfil do grupo. O profissional deve identifi- car o conteúdo e os métodos mais efetivos para a ginástica de trampolim na elaboração de um plano adequado aos alunos e a suas especificidades. Nesse contexto, o objetivo de ensino em uma perspectiva pedagógica de esporte deve possibilitar a vivência de experiências singulares de movi- mentos que só são realidade em um trampolim. Também deve ser contem- pladas as formas de criação e de compartilhamento dos conhecimentos entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, em que o prin- cipal foco é a formação humana (MERIDA; TOLEDO, 2014). As aulas devem permitir a vivência de diferentes possibilidades de se movimentar e saltar sobre o trampolim, aprendendo elementos técnicos relacionados à modalidade. Os objetivos específicos devem permear elementos relacionados ao perfil do grupo, considerando idade, experiências, vivências, espaço físico e recursos, por fim relacionados a aspectos institucionais, como clubes e escolas. Os conteúdos devem estar ligados a adaptação ao aparelho (movi- mento de cessar o impulso da rede do trampolim e saltos), com exercícios que deem ao aluno a possibilidade de coordenar o impulso e a ação do aparelho, com segurança ao executante ao saltar no trampolim acrobático (BROCHADO; BROCHADO, 2005). Os saltos na ginástica de trampolim podem ser classificados em cinco tipos: sentado, com rotação simples, verticais com ou sem giros, com rotações múltiplas e combinados. A metodologia de ensino deve ser determinada levando em considera- ção a relação entre objetivo e conteúdo, pensando meios de alcançar obje- tivos gerais e específicos. Assim, prevê ações a serem executadas pelo pro- fessor e pelos alunos, viabilizando a formação em uma perspectiva humana e cidadã (MERIDA; TOLEDO, 2014). Partindo desses elementos, o profes- Ginástica – 146 – sor/treinador elabora suas metodologias com base em um único método, por contemplar objetivos, concepções de ensino e de mundo ou pode variar de acordo com objetivos, desenvolvimento das aulas, ênfase na aprendizagem dos alunos ou outros detalhes, de acordo com variadas especificidades. Pic- colo (1995) e Velardi (1997) apresentam uma proposta metodológica base- ada em momentos, que proporciona ao aluno expressar habilidades e expe- riências motoras, solucionar problemas mediados pelo professor, vivenciar e aprender o movimento gímnico em uma perspectiva técnica. No primeiro momento, o objetivo é o contato com o tema, sem inter- ferência do professor, em que ele explora, observa e avalia as potenciali- dades de execução, as experiências dos alunos, a organização do espaço e o desenvolvimento do tema da aula. Nesse momento, o aluno explora possibilidades de movimentos, utilizando materiais e recrutando experi- ências de suas vivências anteriores. O segundo período tem como objetivo possibilitar análises de proble- mas contidos nas próprias tarefas, construindo conceitos. A interferência do docente é essencial para apresentar possibilidades ao aluno, formu- lando respostas em que o meio é mediador do processo. O aluno reflete sobre a situação contextualizada, considerando seus conhecimentos pré- vios, a mediação externa e a exploração do meio ambiente e social. Na terceira fase, o objetivo é propor atividades inéditas, tendo como recurso a imitação e substanciando uma aprendizagem complexa. O pro- fessor deve sugerir atividades coerentes, em uma perspectiva lúdica e esti- mulante. Cabe ao aluno redimensionar os conhecimentos abordados, ela- borando conceitos e execuções complexas, compreendendo a lógica dos momentos anteriores (MERIDA; TOLEDO, 2014). A metodologia deve ser envolvida por ludicidade; independente- mente da escolha metodológica, espera-se que a aula de trampolim seja dinâmica e conte com estratégias que permitam ao aluno o maior tempo de vivência no aparelho. É interessante organizar atividades de solo, brin- cadeiras, jogos e circuitos para quando o aluno não estiver no trampo- lim. A quantidade de trampolins na maioria das vezes não corresponde ao número de alunos, portanto o tempo de permanência neles deve ser curto, mas todos devem passar por eles muitas vezes na aula. – 147 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas Merida e Toledo (2014) sugerem que o professor tenha alguns conhe- cimentos antes de iniciar o trabalho com a ginástica de trampolim, como a necessidade de ensinar os elementos viáveis de acordo com as condições materiais e humanas, não permitir que os alunos saltem sem seres assisti- dos de perto, uma vez que há risco de queda, assim como não permitir a execução de saltos mais complexos no início das aulas. Há a necessidade de motivação entre professores e alunos; independentemente do nível de rendimento, devem ser oferecidas possibilidades de criação de séries livres, contemplando movimentos já apreendidos. Por fim, a preparação física merece lugar de destaque, sendo desenvolvida de forma lúdica no decorrer das aulas. Nesse contexto, apresentamos uma possibilidade de aula com dura- ção de 1 hora, tendo como conteúdo o mortal para frente e estabelecendo como objetivo compreender os aspectos fundamentais para a realização do movimento. Primeiramente, deve acontecer uma conversa sobre o tema da aula; em seguida, deve-se propor um aquecimento com uma atividade lúdica, como um “pique-ginastica”, em que os alunos devem, na situação de perigo, posicionar-se de acordo com algum movimento gímnico. Após isso, pode-se propor um alongamento em duplas. A primeira atividade é “mestre mandou”, em que um aluno no tram- polim deve realizar o rolamento de frente; os demais no solo também rea- lizam a execução, fazendo um rodízio até que todos façam a atividade no trampolim. Na segunda parte, o professor questiona os alunos quanto à atividade anterior e, de acordo com as respostas, apresenta possibilidades para a execução do mortal de frente. No terceiro momento, é apresentado o educativo relacionado ao mortal de frente em trios, com um aluno posi- cionado de cada lado do executante, dando o suporte necessário. Todo o grupo deve realizar a atividade no solo e no trampolim acrobático com o auxílio do professor. Em seguida, deve ocorrer a preparação física com foco em exercícios abdominais – sempre que possível em uma perspectiva lúdica. Por fim, deve ser realizada uma conversa, na qual o professor resgata os momentos da aula, as técnicas de movimento e os pontos mais importantes. Os alunos devem participar de forma efetiva desse momento, demonstrando interesse. Ginástica – 148 – 7.5.4 Ginástica rítmica A ginástica rítmica (GR) conta com vários estudos quando o assunto é sobre propostas pedagógicas de ensino ou aperfeiçoamentos. Pereira (1999), Laffranchi (2001), Toledo (2014) e Paoliello e Toledo (2010) con- templam em suas pesquisas essa temática na perspectiva de fundamentos, métodos, estratégias de ensino e até possibilidades de atividades. Toledo (2014) afirma que essas publicações partem de uma perspectiva pautada nos eventos da área e que é necessário um olhar pedagógico com relação à prática do professor, e que o processo de ensino-aprendizagem deve ser fundamentado no educar para a autonomia. Nesse contexto, Toledo (2014) apresenta os elementos necessários ao ensino da ginásticaem uma perspectiva crítica. O primeiro deles é a rigorosidade metódica, em que o professor é autoridade no processo de ensino-aprendizagem, mas não autoritário, e os conteúdos não devem ser um conhecimento imutável – o aluno deve se posicionar, apresentar possi- bilidades críticas e criativas, sempre reinventando os movimentos. O pro- fissional deve ter a diretividade dos processos, proporcionando momentos de criação de movimentos, considerando as experiências dos alunos e pro- movendo momentos de escolhas quanto a movimentos, músicas, coreo- grafias, materiais ou aparelhos, tornando a prática mais significativa para o praticante. O processo de ensino-aprendizagem exige pesquisa, por isso a forma- ção continuada de um professor/formador é determinante para que a prá- tica seja efetiva. Toledo (2014) prevê que o profissional realize atividades investigativas sobre GR em sites, blogs, vídeos, bancos de dados, cursos a distância. O respeito e a consideração aos conhecimentos prévios dos alu- nos, bem como o estímulo à criticidade e o apreço pela ética e pela estética devem nortear a prática, concebendo os elementos como essenciais a sua práxis no ambiente escolar ou no campo esportivo. Uma aula que tenha como temática a GR e que se proponha a ser crítica e de fato contribuir para a formação dos ginastas não pode ser engessada e aplicada a qualquer público; no entanto, alguns momentos são essenciais para que contemple os objetivos estabelecidos. O primeiro deles é o momento inicial, com uma fala que pode ser uma roda de con- – 149 – Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas versa, na qual são relembrados momentos dos encontros anteriores e apre- sentadas as perspectivas para o atual momento. Em seguida, são realizadas atividades, preferencialmente de caráter lúdico, que devem ser escolhidas considerando o tema da aula e com objetivo voltado a aquecimento e alon- gamento; em caso de iniciação esportiva, também pode contar com ativi- dades de preparação física. O segundo momento deve ser voltado, a princípio, para uma expe- rimentação orientada, em que os alunos demonstram suas percepções sobre o conteúdo a ser apreendido. Aos poucos, o professor faz interven- ções, direcionado para a sistematização do conhecimento. Em seguida, apresenta o conceito esperado e as possibilidades, e a turma tende a vivenciá-las de forma orientada, conhecendo e dominando o gesto téc- nico do movimento. Ao fim desse momento, deve-se destinar um período para que os ginastas aprimorem seus movimentos e séries, incorporando as lições apreendidas na aula, quando podem também criar coreografias usando esses conhecimentos. No caso de turmas de iniciação esportiva, espera- -se que essa etapa seja destinada ao treino em grupos ou individualmente, mas tendo como foco o aprimoramento do gesto técnico e a preparação de apresentações para competições. Por fim, deve acontecer a desaceleração da aula, com atividades rela- cionadas a alongamento e relaxamento, e a promoção de uma segunda roda de conversa. Esse momento tem por finalidade a reflexão coletiva sobre a aula, seus momentos, como eles contribuíram para a formação, o que foi possível aprender, quais foram as dificuldades apresentadas e outros fatores que irão subsidiar os próximos planejamentos, conside- rando uma perspectiva crítica e reflexiva de ensino-aprendizagem. Nesse momento, os alunos falam de suas impressões e perspectivas, que também são categorias de avaliação que o professor/treinador deve considerar na elaboração de suas intervenções. Atividades 1. Cite as terminologias dos movimentos fundamentais da ginástica: Ginástica – 150 – 2. Diferencie os movimentos fundamentais da ginástica: equilíbrio e rotação: 3. Quais são as fases de iniciação da ginástica? Escreva sobre elas: 4. Quais são os passos de uma aula de ginástica acrobática apresen- tados por Merida (2014)? 5. Elabore um plano de aula de ginástica rítmica para uma turma de iniciação esportiva com oito meninas de 12 anos de idade. Considere os passos necessários para uma aula pedagogica- mente sistematizada. 8 Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento Ao iniciar o trabalho com a ginástica, é necessário que a metodologia contemple o despertar da curiosidade e o interesse pela modalidade. Nesse sentido, as atividades desenvolvidas precisam ter um caráter lúdico e prazeroso, mas que não dei- xem de lado os fundamentos principais. Para tanto, é necessário conhecer as posturas básicas do corpo na execução de exer- cícios e o procedimento metodológico mais adequado para o ensino desses movimentos. Ginástica – 152 – 8.1 Posturas corporais básicas 2 Estendido: quando tronco, braços e penas se encontram estendidos. 2 Grupado: as pernas unidas ao tronco flexionado sobre elas ou vice-versa, formando um ângulo de 45 graus, aproximada- mente, na articulação do quadril; os membros superiores abra- çam o tronco. 2 Carpado: as pernas unidas, com o tronco flexionado sobre elas ou vice-versa, formando um ângulo de 45 graus, aproximada- mente, na articulação do quadril; os braços estendidos. 2 Afastado: pernas estendidas e afastadas, com tronco semifle- xionado entre elas e/ou ereto, braços elevados e/ou na altura dos ombros. Figura 8.1 – Posturas corporais básicas Fonte: Soler (1982). 8.2 Movimentos básicos da ginástica e metodologia de ensino Existem movimentos básicos que todo ginasta deve aprender, abor- dados na iniciação esportiva. Cabe ao professor substanciar uma prática consciente, promovendo a compreensão do movimento e de sua execução e potencializando o processo de ensino-aprendizagem. 2 Rolamento para frente grupado: é iniciado em pé, com as per- nas unidas; em seguida elas são flexionadas, e as mãos devem – 153 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento ser apoiadas no solo, impulsionando o tronco com os pés e as pernas, rolando sobre as costas em posição grupada, finalizando em pé. O processo pedagógico pode seguir a seguinte sequên- cia: rolar (partindo do carrinho de mão, em duplas, em que um segura as pernas do outro, que se desloca para a frente com as mãos); rolar iniciando ajoelhado sobre um plano elevado (em cima de um colchão dobrado); rolar diretamente sobre o col- chão, finalizando em pé. Figura 8.2 – Rolamento para frente grupado Fonte: Soler (1982). Após o aluno ter conhecimento e realizar uma boa execução do movimento para frente grupado, o professor pode contemplar variações, como o rolamento tendo início na posição em pé ou a finalização com a elevação em uma perna, aumentando o grau de dificuldade. Outras possibilidades também podem ser estimu- ladas, como rolamento com salto de meio giro, com as pernas estendidas ou saltado (pequena corrida que antecede a chamada com os pés juntos à impulsão dos membros inferiores). É inte- ressante que o estudante, ao dominar o movimento, possa criar outras possibilidades partindo do que foi apresentado, e que o professor tenha a sensibilidade de promover essa liberdade. Alguns cuidados devem ser tomados ao pensar o processo de ensino-aprendizagem desse movimento, e os principais erros devem ser corrigidos no intuito de evitar acidentes e melhorar a eficiência de execução do exercício. Durante o movimento, Ginástica – 154 – a cabeça elevada deve ser ajustada; a ação correta do rola- mento deve ser com o queixo encostado no peito – é interes- sante pedir ao aluno que coloque um papel ou lenço sob o queixo, segurando-o durante o movimento. Os joelhos afasta- dos devem ser arrumados colocando-se um objeto leve entre eles. O corpo não grupado pode ser corrigido solicitando ao aluno que abrace as pernas e realize a balancinha (balanceio parecido com uma gangorra). 2 Rolamento para trás grupado: conhecido como essencial para a execução de elementos de maior complexidade, inicia-se na posição em pé, flexionando as pernas e rolandopara trás com o corpo grupado, apoiando as mãos no solo ao lado da cabeça com os dedos voltados para trás e os polegares voltados para os ouvidos. No ato de rolar, o ginasta deve empurrar o solo com as mãos até a posição agachada. O processo pedagógico do movimento deve começar com uma atividade educativa ou que faça alusão ao rolamento para trás, conhecido como balancinha. Em seguida, deve ser contemplada a aprendizagem da posição das mãos, sendo um determinante para a execução satisfatória. Em seguida, rolar a partir da posição deitada, sobre um plano inclinado (pode ser um banco sueco). A atividade pode ser dificultada, sendo requisitado ao educando que role partindo da posição sentada sobre o plano inclinado e, por fim, partindo da posição em pé. Figura 8.3 – Rolamento para trás grupado Fonte: Soler (1982, p. 15). – 155 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento Após a execução correta do movimento, o professor deve propor algumas variações, o que proporciona uma ampliação do reper- tório de movimentos corporais do executante. Deve ser reali- zado o rolamento da posição sentada com as pernas estendidas, para a posição de equilíbrio, carpado e concluído com o afasta- mento de pernas. Entre os principais erros de execução, o treinador deve observar se há extensão de cabeça e, se existir, buscar formas de repousá- -la no esterno. Outra falha comum é o afastamento dos joelhos do peito, que pode ser ajustada realizando o movimento de balança para trás na posição grupada. O posicionamento incor- reto das mãos, devido ao afastamento dos cotovelos, deve ser arrumado solicitando ao executante que aperte o cotovelo pró- ximo ao ouvido ao executar o rolamento. 2 Parada de três apoios (ou parada de cabeça): exercício de apoio invertido, que se inicia apoiando as mãos e a parte ante- rior da cabeça no solo, formando um triângulo. O executante se coloca em posição invertida com o corpo ligeiramente oblíquo. Figura 8.4 – Parada de três apoios Fonte: Soler (1982, p. 19). É necessário identificar os possíveis erros cometidos durante a execução. O primeiro deles é apoiar a cabeça, e não a testa, no Ginástica – 156 – início da execução da parada de três apoios; isso deve ser ajus- tado lembrando ao aluno que ele deve apoiar a testa, formando um triângulo. Outro problema comum é a não distribuição equivalente do peso do corpo em três apoios, cuja correção con- siste em orientar a contração muscular de glúteo e abdômen. Há, ainda, a falha recorrente de deixar os cotovelos deslocados para os lados (abertos); a correção consiste em demonstrar a necessi- dade do posicionamento correto do cotovelo para a estabilidade do movimento. 2 Parada de mãos (ou parada de dois): diferencia-se da parada de três apenas pelo posicionamento das mãos, e não do apoio da cabeça no solo, definindo-se por manter o equilíbrio estático sobre elas, com os braços paralelos e estendidos, formando uma linha reta perpendicular ao chão. Na parada de mãos, os erros mais cometidos estão relacionados ao passo de chamada curto, que deve ser corrigido orientando o executante a se afastar um pouco mais do apoio vertical. O segundo problema é a posição afastada das mãos, que devem ser posicionadas no solo seguindo a linha dos ombros. O terceiro erro recorrente está relacionado à flexão dos coto- velos na execução do movimento, para o qual se deve orientar quanto à posição correta, que remete a empurrar o solo. Uma atividade que pode ser proposta é a execução do movimento em frente a uma parede, com o auxílio do pro- fessor, procurando o alinhamento dos ombros na vertical. Os dois movimentos são mais complexos que os rolamentos, e para sua execução o aluno deve saber realizar os rolamentos para frente e para trás, apresentar habilidades motoras gerais e ter uma formação corporal mínima. Partindo dessas condições, o professor pode começar o processo pedagógico, em que o aluno ajoelhado apoia as mãos e o terço anterior da cabeça no colchão, formando Figura 8.5 – Parada de dois apoios Fonte: Soler (1982, p. 19). – 157 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento um triângulo (equilátero). Nessa situação, o ginasta deve tentar se equilibrar, apoiando os joelhos no cotovelo (popular elefantinho), e com ajuda fazer um pequeno pino de cabeça; em três apoios e próximo a uma parede ou a um colega, executar a parada de três apoios e estender os membros inferiores (MMII) gradativamente até conseguir o equilíbrio e a subida de forma completa. Já o processo pedagógico da parada de mãos consiste em car- rinho de mão e chutes com as pernas flexionadas. Sem se des- locar, apoiar as mãos no solo à frente do corpo, na largura dos ombros, com os braços estendidos, uma perna em frente à outra, flexionando um pouco a perna da frente e lançando a perna de trás estendida para o alto, com a outra perna lançada logo após a primeira. A perna que foi laçada primeiro desce na frente, em direção ao solo, acompanhada logo a seguir da outra. O movi- mento se assemelha ao de uma tesoura com as pernas no ar. O aluno deve dar sucessivos “chutes” alternados com as pernas e os braços estendidos. Na parada com apoio na parede ou com o suporte de um colega, é importante ajudar a chegar na posição invertida, conduzindo-o pela coxa lançada. Ao estar na posição de apoio invertido, a sus- tentação deve ser feita segurando-se com ambas as mãos no tor- nozelo do aluno, pedindo que abaixe a cabeça e encaixe o qua- dril para a perfeita execução do movimento. Em seguida, deve soltar uma das pernas e depois a outra, para que volte à posição em pé ou que coloque o queixo no peito e abaixe um pouco os braços, fazendo um rolamento e voltando à posição em pé. O ideal é que duas pessoas façam a ajuda, cada uma apoiando um lado, segurando no tornozelo e no quadril. Caso o indivíduo não consiga lançar as pernas, o apoiador deve ajudá-lo a levantar e em seguida dar o apoio normalmente; por fim, a parada com apoio e sobre aparelhos. 2 Estrela (roda): classificada como elemento de ligação, sendo um dos mais executados entre as crianças e, portanto, mais conhecidos. Parte da posição em pé, com os braços elevados, dando um passo à frente, flexionando-se a perna de impulsão, Ginástica – 158 – apoiando as mãos no solo na mesma direção do pé que está à frente impulsionando a outra perna, passando pelo apoio inver- tido, mantendo as pernas afastadas até a perna de elevação tocar o solo. Figura 8.6 – Estrela Fonte: Soler (1982, p. 25). O processo pedagógico da estrela consiste em, primeiramente, ultrapassar um plano elevado, apoiando as mãos com os braços estendidos e as pernas alternadas, ultrapassando o plano ele- vado, mantendo os braços estendidos. Em seguida, executar a roda sobre um círculo traçado no solo com 1,20 metro de diâme- tro, aumentando gradativamente. Outra opção é ultrapassar uma corda inclinada, apoiando as mãos do outro lado dela, lançando as pernas alternadamente. Para ajudar na execução da estrela, pode-se auxiliar o executante com a tomada cruzada pelas costas. A estrela pode proporcionar ao ginasta variações desse movimento, como a realização com a junção das pernas, com um quarto de volta, com uma mão e precedida por uma corrida ou por um voo. Alguns erros podem acontecer em decorrência da execução do movimento, como passo muito curto; o professor pode corrigir o movimento orientando o aluno a dar um passo de chamada maior no plano horizontal. Outra falha facilmente identificada é o posicionamento de mãos e pés não alinhados na mesma direção, cuja correção pode ser feita executando a estrela sobre uma linha. – 159 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento 2 Rodante (ou rodada): consiste em uma corrida suave com pré- -salto baixo e longo, movimento simultâneo, de braços abaixo, à frente e acima, até ficarem estendidosao alto com os ombros em posição alongada. O braço oposto à perna de chamada fica mais alto, o outro mais recuado, e por baixo daquele ambas as mãos viradas para o lado da perna de chamada. O passo da chamada deve ser longo e a colocação das mãos bastante à frente, com junção das pernas logo após a passagem na vertical. Os braços ficam estendidos, com os ombros alongados e os pulsos esten- didos para dar impulsão de braços e voo antes de tocar o chão; a chegada se dá com os pés juntos, virada para o lado da corrida com uma ligeira flexão de joelhos. Figura 8.7 – Rodante Fonte: Soler (1982, p. 31). O processo pedagógico do rodante consiste em, primeiramente, executar a parada de mãos (ligeiramente afastadas) contra uma parede. Em seguida, realizar a estrela apoiando a mão cor- respondente à perna de impulsão na extremidade do plinto e a segunda mão no plano inferior. Depois disso, a realização da estrela com um quarto de giro, com junção das pernas na posição vertical e execução completa do rodante com ajuda. Levando-se em consideração a complexidade do movimento, são possíveis duas variações: rodante curta, em que a projeção do centro de gravidade fica atrás dos pés no momento da che- gada e o corpo fica em desequilíbrio para trás; e rodante com- prido, em que a posição do centro de gravidade fica à frente dos pés no momento da chegada, provocando uma impulsão para cima. Ginástica – 160 – 8.3 Possibilidades diversificadas de movimentos gímnicos: ênfase na ginástica artística 2 Reversão ou salto com as mãos: inicia-se o impulso com os dois pés e finaliza-se também com os dois pés. Figura 8.8 – Reversão ou salto com as mãos Fonte: Soler (1982, p. 33). 2 Reversão com as pernas alternadas: inicia-se com o impulso de um pé e finaliza-se com os dois pés. Figura 8.9 – Reversão com as pernas alternadas Fonte: Soler (1982, p. 38). 2 Reversão com as pernas afastadas: inicia-se com o impulso em um pé e finaliza-se com as pernas separadas. Figura 8.10 – Reversão ou salto com as mãos Fonte: Soler (1982, p. 40). – 161 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento 2 Flic-flac: a posição inicial é de costas para o plano em que se executará o exercício; há flexão dos joelhos para se ter a extensão explosiva dos pés, dos joelhos e do quadril. Em seguida, há o impulso para trás e para cima até chegar à posição de apoio inver- tido com os braços e os ombros estendidos, possibilitando o apoio invertido, que fará a repulsão de braços para a chegada ao solo. Figura 8.11 – Flic-flac Fonte: Soler (1982, p. 44) 2 Mortal para frente grupado: inicia-se com a impulsão no solo com ambos os pés, em uma posição projetada para frente; há a fase de voo com a elevação do quadril, levando os ombros aos joelhos, executando um giro grupado no ar. Há o término da fase de voo e o início da extensão dos braços, das pernas e do quadril para a finalização em pé. Figura 8.12 – Mortal para frente grupado Fonte: Soler (1982, p. 47). 2 Mortal para trás grupado: inicia-se na posição em pé, impul- sionando com ambos os pés e lançando os braços para cima até a Ginástica – 162 – articulação dos ombros; no ápice ascendente, leva-se os joelhos ao peito, grupando e girando o corpo para trás e estendendo para finalizar em pé. Figura 8.13 – Mortal para trás grupado Fonte: Soler (1982, p. 48). Os exercícios acrobáticos apresentados são indispensáveis para a composição coreográfica de ginástica, sobretudo artística, pela veloci- dade que podem proporcionar. Esses movimentos possibilitam a ligação com outros elementos e variações, como sem as mãos, com uma mão ou sem sequência acrobática, privilegiando a pontuação final de acordo com a dificuldade de execução. Os movimentos apresentados até aqui são importantes para compor uma sequência mista de exercícios que podem ser aplicados desde a iniciação, sendo, por exemplo, uma sequência mista para solo composta de estrela, salto afastado, rolamento para trás e finali- zação com avião. Apesar de extensa, a montagem coreográfica em ginástica artística não é difícil. Em sua elaboração, devem ser considerados elementos ginásticos, acrobáticos, sequências coerentes e escolha da música. Outro passo importante é observar as exigências do código de pontuação, no caso de ginastas em fase de aperfeiçoamento ou em alto nível. A criação coreográfica está presente na ginástica artística desde a iniciação, com a elaboração de coreografias rudimentares, contando com exercícios acro- báticos isolados, equilíbrios simples e pequenos saltos. Com a evolução do ginasta, a execução vai se tornando mais com- plexa, à medida que são acrescidas pequenas ligações acrobáticas e saltos – 163 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento de maior amplitude e valor. Assim, cabe ao professor conhecer diferen- tes procedimentos metodológicos de criação coreográfica e atividades alternativas para a elaboração efetiva de treinamento nos âmbitos físico e desportivo relacionado a essa modalidade. O processo de aprendizagem não deve se reduzir apenas às coreografias, mas sim abordar a gama de atividades e suas variações, que podem ser aplicadas ao treinamento ou à educação física escolar. 8.4 Preparação e treinamento de ginastas: um olhar sobre a periodização Consideraremos o termo treinamento como um conjunto planejado e organizado de meios para conduzir um ginasta ao pleno desenvolvimento de suas capacidades físicas, técnicas e psicológicas, visando à máxima performance durante as competições (FONSECA, 2011). Assim, existe a necessidade de elaboração de um planejamento sistemático, prevendo as atividades a serem desenvolvidas tendo em vista um objetivo predetermi- nado. Essa organização deve ser conduzida por princípios científicos, para garantir modificações que vão interferir no rendimento do ginasta. A per- formance esperada deve contemplar as formas física, técnica e psicológica com máxima eficiência, também ligada à capacidade individual de absor- ção do treinamento e à predisposição genética. Um campeão em ginástica precisa ter corpo, mente e aptidões psi- comotoras essenciais ao esporte (TUBINO, 1984). A performance ideal somente será alcançada se estabelecida a relação entre treinamento com- pleto e eficiente ao indivíduo com potencialidades físicas mais favoráveis à modalidade. O treinamento de alto rendimento é um processo complexo que envolve vários fatores e situações de trabalho, tendo com gênese o relacionamento humano, em que todas as especificidades do sujeito devem ser consideradas, sejam capacidades, sejam limitações. Requer planeja- mento e sistematização orientados por princípios científicos e pela experi- ência adquirida pelo treinador em suas práticas, resultando no crescimento qualitativo do praticante. Cabe ao professor objetivar o maior rendimento, identificando e mobi- lizando o potencial de cada indivíduo para possibilitar seu desenvolvimento. Ginástica – 164 – Para atingir o alto nível de performance, o ginasta deve ser submetido a car- gas elevadas de treinamento, com muita disciplina, fazendo dele uma parte efetiva de sua vida. Ao elaborar um treino, o profissional deve definir objeti- vos e métodos que serão utilizados para atingir os objetivos, que devem ser pensados para além de competições, para a vida, para as relações que vão se estabelecer na manutenção de uma vida saudável física e psicologicamente, levando em consideração os objetivos psicomotores, cognitivos e afetivos. Os objetivos psicomotores contemplam o desenvolvimento dos condi- cionantes da performance, como qualidades físicas imprescindíveis à prática da ginástica e o aprimoramento das técnicas de execução de movimentos corporais ou manuseio de aparelhos. Já o objetivo cognitivo visa propor- cionar a aprendizagem dos conteúdos de ordem técnica e tática substanciais para a ginástica, proporcionando ao executante entendimento domovi- mento que está sendo realizado e a possibilidade de execução com maior eficiência. Os objetivos afetivos envolvem o desenvolvimento dos fatores emocionais do ginasta, sendo determinantes da performance, como obsti- nação, coletividade, autoconfiança, autodomínio e foco (WEINECK,1999). Partindo desses objetivos, determinam-se os métodos de trabalho para o alcance deles, com procedimentos práticos, como atividades desen- volvidas para essa finalidade. Toda e qualquer prática de treinamento repousa sob os princípios científicos do treinamento desportivo em busca do alto rendimento desportivo, que devem estar inter-relacionados para a construção de uma base sólida de preparação integral de um ginasta, com subsídios técnicos para o desenvolvimento dos processos de treino. Os princípios científicos do treinamento se fundamentam nas ciên- cias pedagógicas e biológicas, em que a utilização dos princípios facilita a seleção de conteúdos, métodos e formas de organização do treinamento desportivo (GOMES, 1999). Os princípios são comuns a todas as moda- lidades esportivas e finalidades, determinando o programa e o método recrutado para a organização do treinamento, fornecendo ao professor parâmetros para a elaboração de planejamentos. Para a prática da ginástica, é possível identificar seis princípios de treinamento necessários a seu pleno desenvolvimento e ao alcance de objetivos de alto rendimento (LAFFRANCHI, 2005): – 165 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento 1. individualidade biológica – explica a diversidade existente entre os seres humanos e garante que cada pessoa é singular, biologicamente falando; a diferença tem origem no conjunto de características reveladas pelo genótipo (carga genética transmitida à pessoa até o nascimento) acrescidas pelo fenó- tipo (características adquiridas por meio da interação do indi- víduo com o ambiente). Deve-se selecionar ginastas considerando seu genótipo e seu desenvolvimento no treinamento para otimizar o fenótipo, pois apenas o genótipo não é capaz de garantir performances excepcionais. Nesse contexto, os atletas de maior rendimento esportivo são aqueles que apresentam baixa estatura, baixo peso corporal e corpo relativamente forte, que permite maior proxi- midade com o centro de gravidade e a consequente execução de movimentos com maior facilidade (ver mais sobre a questão do fenótipo adequado para a prática esportiva da ginástica no Capí- tulo 9). É necessário haver um treinamento efetivo, com meto- dologias que possibilitem a adaptação orgânica para a garantia de resultados desportivos. 2. adaptação – relaciona-se à capacidade de resposta do ginasta aos estímulos que recebe, possibilitando a construção de rela- ções que garantem ao organismo contínuas adaptações a novas situações. O desempenho significativo é resultado de planeja- mento, em que o atleta tenta se adaptar às exigências do des- porto; assim, quanto maior é o grau de adaptação, melhor é o desempenho (BOMPA, 2002). O treinamento físico é capaz de quebrar o equilíbrio do organismo e promover modificações relevantes ao desenvolvimento, e as respostas são sempre pro- porcionais a intencionalidade do estímulo. Portanto, é necessá- rio que o treinador dose o estímulo para que ele seja efetivo, pois se for leve não causará mudanças e se for muito forte pode gerar lesões. 3. sobrecarga – estímulos que produzem desgastes no organismo e, após o término do trabalho, têm por objetivo restabelecer a homeostase; o tempo de recuperação é diretamente proporcional Ginástica – 166 – à intensidade do estímulo ou à carga de trabalho aplicada. O organismo deve se restituir do desgaste provocado pela ativi- dade física garantindo a homeostase e se preparando para sofrer cargas mais intensas de trabalho, que devem ser aplicadas no ápice do período de estruturação, elevando o limite de adaptação do ginasta e garantindo sua evolução (DANTAS, 1985). Essa evolução esportiva está ligada à correta relação entre as cargas de treino aplicadas e as pausas entre as sessões e o treinamento – o comportamento biológico normal deve ter equilíbrio entre o gasto e a reposição energética. O princípio da sobrecarga pode ser aplicado sobre duas variantes do treinamento: volume (quan- tidade) e intensidade (qualidade). Laffranchi (2005) apresenta na ginástica rítmica o volume como a quantidade de repetições de determinado movimento e a intensidade como a quantidade de execuções perfeitas do movimento. 4. interdependência (volume-intensidade) – remete à relação entre duas variáveis do treinamento (volume e intensidade), indispen- sáveis para a evolução do processo de treinamento. A sobrecarga é fundamental para o desenvolvimento do ginasta, resultante de um volume e de uma intensidade de trabalho, em que a predomi- nância deve ser determinada pela periodização do treinamento. Tubino (1984) afirma que, para um treinamento ser eficiente, deve-se saber que nenhum organismo suporta a execução de um trabalho intenso por muito tempo, portanto é necessário dosar a intensidade dos estímulos, aplicando a carga sobre apenas uma das variáveis, considerando o objetivo e o nível de treinamento do ginasta. Na periodização de treinamento, cada etapa tem objeti- vos a serem alcançados; partindo deles, recruta-se a variável a ser aplicada e a sobrecarga de estímulos, visando de forma progres- siva à melhor performance em determinando período, que poderá culminar com as competições (DANTAS, 1985). Progressão no volume: aumento do número de repetições de elementos isolados de uma composição, aumento do número de repetições de partes de uma composição, aumento do número de exercícios utilizados na preparação física, maior duração do traba- – 167 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento lho da preparação física, maior diversificação dos elementos cor- porais e do aparelho, aumento das horas diárias de treinamento. Progressão na intensidade: execução de repetições de elementos isolados das coreografias de forma precisa, aumento do número de repetições de exercícios inteiros, execução de exercícios de forma precisa, aumento da velocidade de execução da prepa- ração física, execução sem falhas dos elementos utilizados na composição, redução de intervalos entre os exercícios inteiros. 5. princípio da continuidade – explica a necessidade de sistema- tizar o treinamento, evitando interrupções no trabalho desenvol- vido. Como o treinamento prevê aplicação progressiva de car- gas de trabalho que deverão ser assimiladas pelo organismo, é necessário que haja continuidade, para que tenha efeito. A pausa é interessante para a recuperação do organismo em relação aos estímulos durante o trabalho; nesse sentido, sono, alimentação e descanso são fundamentais. Esse intervalo deve ser propor- cional à intensidade do estímulo aplicado, no entanto Fortaleza (2001) afirma que uma pausa superior a 48 horas pode compro- meter o sucesso do treinamento e levar à involução do estado físico. Assim, para que o princípio da continuidade atinja plena eficiência, é necessário aplicar uma nova carga antes que o orga- nismo alcance o nível de homeostase inicial. 6. princípio da especificidade – explica a necessidade de planeja- mento do treino obedecendo aos objetivos específicos da perfor- mance desportiva, contemplando as qualidades físicas, o sistema energético dominante, a coordenação e o gesto técnico exigido para a modalidade. Um treino específico é efetivo no organismo, pois ele sempre se adapta ao estímulo oferecido. O princípio da especificidade é determinante na obtenção de grandes perfor- mances e deve ser voltado para a prática específica. 8.4.1 Componentes do treinamento desportivo O treinamento desportivo de rendimento é composto por quatro preparações fundamentais (física, técnica, tática, intelectual e psicoló- Ginástica – 168 – gica), que devem ser controladas considerandouma adequação de fatores influenciadores que podem intervir no sucesso do treino: materiais des- portivos, espaço, clima e outros. A organização de um treinamento deve ser fundamentada na união e na harmonização dos trabalhos planejados no âmbito das quatro preparações; essa sincronia é importante no treina- mento, e é muito difícil determinar de forma precisa os limites de cada uma das vertentes da preparação (TUBINO, 1984). Os componentes pre- cisam ser desenvolvidos de forma interrelacionada, considerando a impor- tância da correlação entre os treinamentos físico e técnico. 8.4.1.1 Preparação física É um dos componentes do treinamento que visa ao desenvolvimento das qualidades físicas básicas do desporto, sendo de grande relevância no alto rendimento, evidenciando expressivos resultados em competições e qualificando as execuções (LEBRE, 1997). Na ginástica, a preparação física é dividida em dois aspectos: física geral, destinada ao desenvol- vimento do potencial do ginasta no conjunto das qualidades físicas de base; e física específica, destinada tanto ao desenvolvimento das qualida- des físicas particulares da modalidade como da melhoria da qualidade de execução dos elementos corporais (BROCHADO; BROCHADO, 2005). O planejamento da preparação física para uma temporada exige a identificação de qualidades físicas e a adequação do trabalho dessas com- petências aos objetivos formulados para cada etapa do treinamento. Esse exercício é importante pois, apesar de trabalhar todo o potencial do ginasta por meio de um condicionamento físico global, aumentando a capacidade fisiológica do treinamento, é necessário direcionar a preparação física para as principais valências da modalidade, garantindo o princípio da espe- cificidade (MONTEIRO, 2000). A preparação física deve garantir que o ginasta tenha um ganho substancial nas qualidades físicas desejadas, com um trabalho voltado aos movimentos específicos do esporte como meio de treinamento. As qualidades físicas essenciais ao desenvolvimento são coordena- ção, ritmo, equilíbrio, resistência (anaeróbica, muscular localizada e aeró- bica), agilidade e força explosiva (LISITSKAYA, 1995). A preparação física geral deve complementar o trabalho desenvolvido pela preparação – 169 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento física específica, dividida em quatro grupos de treino que visam desenvol- ver qualidades físicas específicas: treino de flexibilidade, de resistência muscular localizada, de resistência aeróbica e de potência. Já a preparação física específica sofre alterações conforme a modalidade da ginástica, que contempla as especificidades da prática no intuito de facilitar a assimila- ção de fundamentos singulares, pensado sua execução correta e postura (LISITSKAYA, 1995). 8.4.1.2 Preparação técnica Visa à realização dos movimentos ginásticos com a máxima eficiên- cia e o mínimo esforço (DANTAS, 1985). Para um ginasta atingir o êxito, é preciso que ele domine o gesto técnico, desempenhando de forma efi- ciente e virtuosa um exercício. Quanto maior é a perfeição técnica, menor é a energia recrutada para atingir o objetivo; assim, é imprescindível a relação entre a excelência da técnica corporal e, em caso de manuseio de aparelhos, a apresentação de seu manejo de forma eficiente. Essa relação tem sido cada vez mais observada nas avaliações em provas de competi- ção, sendo a execução um determinante do nível de dificuldade do exer- cício apresentado. No caso da realização de coreografias, em seu treinamento alguns movimentos são mais complexos que outros, sendo necessário compre- endê-los desde sua execução técnica até sua integralidade, treinado com regularidade e até mesmo fragmentado em movimentos isolados, no caso de o ginasta executá-los com erros de forma frequente. O desen- volvimento mais recomendado da técnica é o do ensino parcial, em que primeiramente são instituídos os exercícios mais complexos e poste- riormente articulados para a execução do movimento completo. Assim, pode-se considerar a possibilidade de concentrar a atenção do ginasta no movimento em destaque, seu aperfeiçoamento mais detalhado, exe- cutando-o repetidamente, observando o que não foi assimilado e cor- rigindo, eliminando a possibilidade de surgimento de erros estáveis (LISITSKAYA, 1995). Para o alcance da perfeição do gesto técnico na execução dos movi- mentos é necessário que o ginasta realize inúmeras repetições e faça exte- nuantes correções de cada erro (LISITSKAYA, 1995). O exercício inteiro Ginástica – 170 – define a composição em sua totalidade, em que os movimentos estão inter- ligados, geralmente resultados de uma série de 7 a 15 elementos de uma composição executados sem interrupção. Ao realizar a preparação técnica, calculam-se as cargas que serão aplicadas nas repetições dos exercícios, de forma que o trabalho apresente homogeneidade e continuidade de apli- cação de cargas de treinos, visando ao pico de performance durante as competições. A melhoria do desempenho é resultado direto da quantidade de trabalho realizado pelo ginasta, sendo necessário o aumento gradual da carga de treinamento. 8.4.1.3 Preparação tática Tem como foco a vitória nas competições, considerando as quali- dades individuais dos ginastas e as condições das equipes adversárias (DANTAS, 1985). Alguns fatores são essenciais para o planejamento da preparação tática, entre eles a escolha da música, conforme a necessidade da modalidade, a composição dos exercícios, a vestimenta, o penteado e a maquiagem, os aparelhos utilizados e o plano de aquecimento antes da competição. No caso da ginástica rítmica, a montagem coreográfica é um dos principais fatores da preparação tática, cujo sucesso está relacionado à criação contínua de movimentos originais, ressaltando as qualidades do ginasta e a execução de movimentos. Outro elemento importante é anali- sar o adversário ou as equipes adversárias, considerando seus pontos for- tes e fracos em competições ou vídeos, para encontrar estratégias para efetivar a performance do atleta (DANTAS, 1985). 8.4.1.4 Preparação intelectual e psicológica Ao considerar o atleta em sua integralidade, torna-se evidente a necessidade de contemplar algo além das preparações física, técnica e tática (DANTAS, 1985). O processo de treinamento é desgastante devido às horas de treino e tem como foco o aprimoramento do condicionamento nos âmbitos físico, técnico e tático, no entanto os resultados estão intima- mente ligados às condições psicológicas e intelectuais. A maioria dos ginastas sofre pressões e ansiedade advindas do com- promisso de vencer, e isso reflete de forma expressiva na performance desportiva, o que pode resultar na inibição de rendimento. O treinador – 171 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento precisa promover ações para o atleta responder positivamente aos estímu- los psicológicos que estarão presentes no treinamento e nas competições, conduzindo-o ao máximo de suas capacidades, considerando-o um ser em potencial e sujeito aos próprios motivos e emoções. Preparar um ginasta para competições é um trabalho árduo e exige essa organização intelectual e psicológica (MONTEIRO, 2000). A preparação intelectual está diretamente relacionada ao nível pré- vio do ginasta, de sua motivação e de seu preparo físico. O entendi- mento do treinamento é imprescindível para que o rendimento do atleta seja melhor e mais eficiente; para tanto, é necessário que passe por uma formação teórica, compreendendo os tipos de preparação física e seus benefícios, tendo consciência das exigências das composições, das fal- tas e da necessidade de satisfazer às necessidades da modalidade. Já a preparação psicológica contribui para o estabelecimento dos objetivos da preparação intelectual, proporcionando condições mentais para que o atleta suporte o treinamento e esteja apto para atingir o máximo de suaspotencialidades por meio da mobilização para participar de compe- tições, atingindo o êxito esperado. O desenvolvimento do ginasta deve ser guiado pelo psicológico esportivo sem deixar de considerar a importância do trabalho em conjunto com o técnico, que deve ser o grande motivador do treinamento, realçando as qualidades e as atuações (TUBINO, 1984). Pelo mesmo motivo, o trei- nador deve ser exigente e rígido nos momentos em que o atleta se mostrar apático ou indiferente ao treinamento. 8.4.2 Periodização do treinamento Ao considerar o treinamento desportivo como um conjunto planejado e organizado de meios e procedimentos para conduzir o ginasta ao desen- volvimento pleno de suas capacidades para o sucesso durante as compe- tições, é necessário definir o planejamento, a organização de atividades e o tempo para a execução. A periodização requer a divisão do tempo de treinamento, contemplando as fases ou os períodos, de forma clara e objetiva, apresentando metas que são, na maioria das vezes, as próprias competições (OLBRECHT, 2000). Ginástica – 172 – O objetivo central da periodização é racionalizar o treinamento, para que por meio dele os ginastas atinjam o pico de suas formas física e técnica durante as competições (MONTEIRO, 2000). Para tanto, é necessário planejar e avaliar todas as atividades desenvolvidas no ginásio, mantendo o controle sob as variáveis que possam interferir no rendimento dos atle- tas. O foco do programa de treinamento deve se basear no desempenho do ginasta em competições e seu progresso nas fases do treinamento, consi- derando o calendário de competições. O plano precisa ser simples e flexí- vel, podendo ser modificado conforme o nível e o desempenho do ginasta (BOMPA, 2002). A periodização deve apresentar tempo delimitado para o preparo de um atleta ou de uma equipe, devendo ser dividido em objetivos especí- ficos a serem alcançados. Cabe ao treinador a elaboração de uma escala progressiva de metas, permitindo que os ginastas consigam os melhores resultados para a competição desejada. A relação entre o tempo e o obje- tivo está diretamente ligada ao sucesso de um treinamento de alto rendi- mento; assim, deve-se partir do calendário anual de competições, selecio- nando a de maior importância, e em seguida determinado as secundárias, que serão preparatórias. O tempo de periodização deve ser determinado pela data da competição-alvo, considerando que a ginástica em qualquer de suas modalidades prevê um período prolongado de preparação física, técnica e tática, e a estruturação da periodização simples ou dupla garante uma preparação aprofundada e produtiva aos ginastas. A periodização pode ser feita de duas formas: simples, que requer a existência de apenas uma competição-alvo durante a temporada anual, e dupla, que exige dois períodos de competição no ano. Nesse contexto, a periodização anual define o número de períodos competitivos, sendo divi- didos em preparatório, competitivo e transitório. Quadro 8.1 – Periodização simples Fonte: adaptado de Bompa (2002). – 173 – Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento Quadro 8.2 – Periodização dupla Observação: : semana da competição-alvo Fonte: adaptado de Bompa (2002). 8.4.2.1 Período preparatório Constitui a fase mais extensa da periodização, tendo como foco o aumento dos níveis de possibilidades funcionais do organismo e das qua- lidades físicas necessárias ao desporto, desenvolvendo uma base despor- tiva sólida para a aquisição da forma competitiva. A esse período é desti- nado 60% do tempo disponível, sendo de cinco a sete meses (periodização simples), reintegrado após o primeiro período de competição (no caso da periodização dupla), durando em torno de quatro meses. O período preparatório é dividido em básico (para formar uma base física e técnica forte, que irá sustentar todo o treinamento) e específica (para desenvolver a forma competitiva do ginasta por meio da assimilação e do aperfeiço- amento dos elementos técnicos da modalidade). No período específico, os atletas devem estar preparados para participar das apresentações e das competições secundárias, visando à familiarização com o ambiente de dis- puta, que contribuirá para a aquisição das condições exigidas para uma participação efetiva na competição-alvo. 8.4.2.2 Período competitivo É o momento da participação na competição principal, apresentando a forma desportiva alcançada e aperfeiçoando as qualidades físicas e técnicas de alta intensidade, corrigindo e controlando as possíveis falhas do ginasta. Deve-se dar continuidade ao preparo físico, durando de dois a quatro meses, a depender do tipo de periodização. Ao fim dessa etapa, que deve coincidir com a prova principal, espera-se que o ginasta ou a equipe alcancem o ápice das formas física e técnica com excelente rendimento competitivo. Ginástica – 174 – 8.4.2.3 Período transitório Deve proporcionar recuperação física e mental dos ginastas após os esforços a que se submeteram durante a competição. Nessa fase há uma perda inevitável de desempenho, uma vez que é necessário reduzir a inten- sidade e o volume do treinamento; no entanto, essa recuperação precisa ser ativa, para não diminuir completamente a condição física. Esse perí- odo dura de quatro a seis semanas, variando de acordo com o calendário da temporada seguinte, em que o ginasta pode iniciar os treinos com uma capacidade física melhor do que a apresentada. Atividades 1. Escolha um movimento da ginástica e descreva sua execução, em termos técnicos e com sequência didática para seu ensino: 2. Quais são os fundamentos do treinamento desportivo? Des- creva-os: 3. Explique o princípio científico do treinamento de individuali- dade biológica: 4. Quais são os períodos ou as etapas da periodização? Caracterize-os: 5. Esquematize uma periodização para um ginasta, na ginástica artística modalidade solo, que terá sua competição-alvo no fim de um semestre. Considere a prescrição de exercícios para cada uma das três etapas da periodização: 9 Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição 9.1 Formação do ginasta e treinamento de longo prazo O treinamento de longo prazo conta com três momentos, tendo como principal objetivo a formação gradual do atleta de alto rendimento, proporcionando estímulos à idade biológica e respeitando as fases de desenvolvimento fisiológico e maturacio- nal (WEINECK, 1999). Nesse contexto, para que o atleta atinja a formação adequada para participar de competições internacio- nais, espera-se que ele tenha de 8 anos a 12 anos de treinamento, com o desenvolvimento de uma base motora e de seus funda- Ginástica – 176 – mentos desde a infância. Essa capacitação precisa ser estruturada e siste- matizada, levando em consideração as exigências individuais, seu estágio de desenvolvimento e as exigências da modalidade esportiva, garantindo o rendimento de alto nível. É necessário considerar as fases de crescimento de crianças e ado- lescentes, pois um treinamento intenso e altamente específico leva à conquista de resultados imediatos, mas pode acarretar consequências no longo prazo. Na tentativa de obter resultados rápidos, treinadores expõem as crianças a treinamentos intensivos e altamente específicos sem se preocuparem em desenvolver uma boa base. É como tentar cons- truir um arranha-céu sem fundação. Obviamente esse erro de cons- trução resultaria no colapso do prédio. (BOMPA, 2000, p. 02) Os jovens desportistas que são submetidos a estímulos intensos, grandes cargas de treinamento e forte participações em competições já alcançaram altos padrões de rendimento esportivos. No entanto, têm a possibilidade de chegar à perfeição no desporto praticamente anulada na possibilidade de concretização das capacidades individuais. Deve-se pla- nejar uma preparação plurianual, relacionada à faixa etária na qual o atleta vai se apresentar, focando esses resultados. Existemdiversos modelos de programas de treinamento de longo prazo, mas o mais utilizado é divido em três fases. Bompa (2002) apre- senta a formação básica (geral ou de iniciação), que deve ter como foco o desenvolvimento de capacidades relacionadas a coordenação, recrutando a realização de movimentos, materiais e métodos, enfatizando a evolução multilateral e estabelecendo um amplo repertório de habilidades moto- ras básicas. A segunda fase, compreendida como formação específica, dá ênfase a uma única modalidade e um objetivo gradual visando à maximi- zação do desempenho esportivo. A terceira fase remete à concretização das capacidades individuais, possibilitando o aumento da carga de treinamento, e tem como foco a per- formance e a melhoria dos resultados esportivos, mantendo a excelência do desempenho pelo maior período possível. Para Bompa (2000), cada modalidade tem especificidades e exige o trabalho de determinadas capa- cidades físicas, técnicas e táticas. – 177 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição Quadro 9.1 – Idade de iniciação esportiva, treinamento avançado e alto rendimento de diferentes modalidades Modalidades Esportiva Com ênfase na técnica (ginástica artística) Força com ênfase da velocidade (Sprint, saltos) Força com ênfase da resistência (remo) Natação Treinamento de iniciantes 5-7 anos 8-10 anos 10-12 anos Aprox. 6 anos Treinamento Adiantados Aprox. 10 anos 13-14 anos 14 anos Aprox. 9 anos Treinamento Alto-Rendimento 13-15 anos (feminino) 18-20 anos (masculino) Aprox. 18 anos Aprox. 18 anos Aprox. 14 anos Fonte: adaptado de Hare (1976) apud Weineck (1999, p. 60). O tratamento dado a cada fase do treinamento de longo prazo tem dura- ção definida de acordo com as especificidades da modalidade, mediante os recursos disponíveis e considerando a individualidade dos atletas que parti- ciparão do processo de formação. Esses indivíduos são dotados de objetivos, desejos, condições socioeconômicas, idade, tempo de inserção no esporte, fase maturacional, entre outras variáveis. Dantas (2006) afirma que não há um modelo para a ginástica, havendo várias possibilidades que envolvem a condição técnica e as metodologias aplicadas a cada modalidade. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) recomenda o Manual Age group development and competiton program for men’s artistic gym- nastics, em que Fink e Hofmann abordam possibilidades de treinamento. Em âmbito brasileiro, Laffranchi (2005) apresenta um trabalho bem com- pleto na obra Planejamento, aplicação e controle da preparação técnica da Ginástica Rítmica: análise do rendimento técnico alcançado nas tempo- radas de competições, relacionada ao treinamento da ginástica rítmica em uma perspectiva completa e contextualizada, que se constitui como proposta efetiva de treinamento. Essas obras devem ser visitadas e consideradas por apresentarem propostas sistematizadas de treinamento gímnico. Ginástica – 178 – A partir dos elementos apresentados, treinadores ou equipes espor- tivas montam suas perspectivas de periodização. O modelo proposto por Smolevskiy e Gaverdovskiy (1996) é baseado na seguinte sequên- cia: busca e seleção de talentos, elaboração de etapas e programação de resultados. Nesse contexto, foram elaboradas cinco etapas de formação de ginastas, sendo a preparação inicial de 5 anos a 8 anos de idade, prepara- ção especializada de 8 anos a 12 anos, aperfeiçoamento esportivo de 13 anos a 14 anos e altos resultados entre 15 anos e 19 anos. É necessário estabelecer a busca gradual da complexidade dos conteúdos, com proporção em intensidade e volume dos treinos, até o alcance do alto rendimento, finalizando a carreira esportiva após os 20 anos. Na ginástica, os atletas são mais novos quando comparados aos de outras modalidades, sendo essencial o respeito às fases de desenvolvi- mento maturacional e de crescimento, em que crianças e adolescentes vão avançando progressivamente. Tsukamoto, Carrara e Nunomura (2011) apresentam os seguintes estágios de formação: 2 0 ano a 6 anos – o foco é o desenvolvimento de capacidades motoras de forma lúdica e desafiadora, estimulando o controle corporal, o contato com aparelhos, a socialização, a criativi- dade e outras competências. Deve ser ofertado amplo repertório básico, como andar, correr e rolar, devendo-se propor atividades apropriadas à evolução; 2 6 anos a 7 anos – o prazer, o condicionamento e os funda- mentos devem ser contemplados, havendo a continuidade do desenvolvimento das capacidades motoras básicas e iniciando a introdução de algumas habilidades específicas da ginástica. Nessa etapa, é preciso estimular o respeito, o convívio social e a diversão, dando ênfase às normas de segurança, não focando a prática competitiva nem enfatizando aspectos classificatórios e evitando o treinamento excessivo de habilidades da ginástica; 2 8 anos a 9 anos – momento de construção das habilidades da ginástica, que se inicia com o direcionamento a alguma modali- dade gímnica, de acordo com o interesse da criança, mas não se dedicando exclusivamente a ela. As capacidades globais devem – 179 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição ser estimuladas, e há a necessidade de aprimoramento de força, coordenação, agilidade, equilíbrio e flexibilidade. O desenvolvi- mento de movimentos básicos a todas as ginásticas deve ser esti- mulado, com inserção de grandes aparelhos e aparelho manuais, para que a criança os conheça e demonstre interesse por uma modalidade que se adeque às habilidades dela. A competição não deve ser o foco, mas a participação em disputas menos for- mais deve estar presentes no fim desse estágio; 2 9 anos a 11 anos – acontece a especialização em uma ginástica, em que a criança avança no treinamento de acordo com a moda- lidade adequada. No caso da artística, o treino é estruturado para a execução de aparelhos próprios, sendo essenciais o prazer e a diversão. As capacidades motoras são especificadas, estimu- lando o desenvolvimento de orientação espacial, velocidade, agilidade, potência e flexibilidade na puberdade. A participação em competições é mais comum, mas o mais importante é a supe- ração individual, e os eventos devem ser adequados ao nível de habilidade do ginasta. O programa de treinamento precisa ser ajustado às necessidades da criança, que deve aprender a reco- nhecer suas potencialidades e seus limites; 2 11 anos a 13 anos – torna-se um competidor consistente, que se compromete com a atividade. Os fundamentos são consoli- dados e a ênfase é na performance, buscando nível relevante de complexidade. O ginasta está passando pela puberdade, então pode haver oscilação em sua performance. Nessa fase também se iniciam as competições de nível internacional, regulamenta- das pela FIG. A exigência de resultados é prevista para o fim dessa etapa; 2 14 anos a 18 anos (ou mais) – o ginasta já é independente e se dedica ao aperfeiçoamento constante do gesto técnico e de alta dificuldade. A conquista de resultados e o conhecimento das regras inerentes às competições, regulamentos técnicos, código de pontuação são importantes. É necessário um trabalho inter- disciplinar, no intuito de garantir um bom rendimento; Ginástica – 180 – 2 a partir dos 16 anos – há excelência internacional, com nível de rendimento mais expressivo, maiores níveis de dificuldade da ginástica global, em que o ginasta atrai a atenção da mídia e de patrocinadores. Deve apresentar séries independentes, com con- trole do gesto técnico, adaptando-se às adversidades, refinando a concentração mental e a habilidade de trabalhar em equipe, mantendo o equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira esportiva. Essa proposta é apenas uma alternativa de sistematização que garante o mínimo de tempo de cada fase, procurando não adentrar pre- cocemente os estágios de desenvolvimento; porém esse processo é fle- xível. O maisimportante nessa organização é a necessidade do aluno, respeitando seu crescimento e seu desenvolvimento. Assim, podemos caracterizar as fases 1 a 3 como formação básica geral ou iniciação, as fases 4 e 5 relacionadas à formação específica e as fases 6 e 7 como período de alto rendimento. 9.2 Formação precoce de ginastas Para Kunz (1994), a especialização precoce é o processo em que a criança é introduzida antes da fase da puberdade a um treino planejado e organizado, em volume mínimo de três sessões semanais, com objetivo de gradual aumento de rendimento, além de participação periódica em competições esportivas. Nessa perspectiva, atividades esportivas realizadas por crianças com menos de 12 anos de idade, com periodicidade superior a 3 sessões semanais, carga horária superior a 2 horas por sessão, competições frequen- tes e principalmente metodologia voltada para melhoria sistemá- tica de rendimento. (DARIDO; FARINHA, 1995, p. 59) Esse treinamento contempla uma concepção intensa, caracterizada por baixa idade de introdução, especialização antecipada em um único esporte, envolvimento precoce em treinamentos de alta intensidade com foco em performance e envolvimento prematuro em competições esporti- vas. Essa especialização é o treinamento direcionado para as capacidades técnico-táticas, orgânico-funcionais e neuromusculares, com o fim de alcançar um rendimento elevado. – 181 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição A prática prevê a exigência adiantada da execução de gesto técnico com perfeição e eficiência em uma modalidade singular, dando maior ênfase à performance do que ao prazer pela prática. Assim, atropela-se uma sequência pedagógica que possibilita ao indivíduo a vivência do esporte em sua pluralidade de sentidos, sobrepondo as fases de treinamento. Nesse con- texto, quando a criança se especializa em um esporte antes de ter passado por uma formação completa e adequada mediante uma base multilateral, há desequilíbrio intenso nos sistemas interno e externo ao indivíduo. Espera-se que um atleta inicie o processo de especialização somente depois de ter vivenciado, por vários anos, atividades completas e participado de eventos esportivos, apresentando performance razoável. A diversificação esportiva antes da especialização também é importante, contribuindo para a ampliação máxima do repertório motor e trazendo outros benefícios da prática de diversas modalidades esportivas. Essa variedade dá suporte para que o atleta aumente suas chances de sucesso na especialização escolhida. Jayanthi et al. (2013) consideram que não há estudo suficiente para afirmar a teoria de que a diversificação esportiva e a especialização são mais eficientes do que a especialização precoce; no entanto, ela diminui riscos de lesão, eleva o aproveitamento da modalidade e garante a lon- gevidade da carreira esportiva. E há uma tendência cada vez mais efe- tiva de antecipar o treino especializado para atletas de alto rendimento. Assim, há consenso na literatura entre a idade de especialização e a idade da primeira categoria federada competitiva da modalidade: a maioria dos clubes começa o processo de especialização até 24 meses antes da pri- meira categoria competitiva federada. A ginástica artística é um dos esportes mais precoces, apresentando a primeira categoria competitiva a partir de 7 anos de idade (FIG, 2013). Nunomura e Oliveira (2014, p. 314) desenvolveram uma pesquisa em que entrevistaram treinadores brasileiros e mediante esses dados afirmam que talentos podem ser detectados antes: “os entrevistados apontaram a idade cronológica, entre 4 e 6 anos, como um fator norteador do processo de detecção, tornando-se um pré-requisito na maioria dos casos”. A especialização precoce tem sido analisada como tendência que garante altos resultados; assim, os clubes seguem essa perspectiva gra- Ginástica – 182 – dual e ascendente de conquista para cada etapa, evoluindo de acordo com o que prevê a literatura. No entanto, é percebida a tendência imediatista de exigir resultados de rendimento antes mesmo da terceira etapa, como podemos perceber na Quadro 9.2. Quadro 9.2 – Delimitação das etapas de preparação desportiva DESPORTO 1ª ETAPA 2ª ETAPA 3ª ETAPA Ginástica Artís- tica (fem./masc) 6-8 / 8-10 anos 9-10 / 11-13 anos 11-13 / 14-15 anos Ginástica Rítmica 6-8 anos 9-10 anos 11-13 anos Fonte: adaptado de Cafruni, Marques e Gaya (2006). Alguns treinadores têm privilegiado o alto rendimento antes mesmo da terceira etapa, o que remonta a uma perspectiva imediatista de ren- dimento e resultados esportivos. As motivações pelo processo de espe- cialização precoce no âmbito esportivo são várias, envolvendo espaço sociocultural ou particular à sociedade ao redor. O apoio dos pais é deter- minante para o início de uma prática esportiva, mas é a figura do treinador que aparece como funcional influenciadors para direcionar ao treinamento intenso e específico (BAXTER-JONES; MAFFULLI; TOYA, 2003). A relação entre família, técnico e criança é de maior relevância, por serem os principais envolvidos no processo de formação esportiva; por- tanto, exercem pressão e desejo, tantos os pais quanto os treinadores e dirigentes, em busca da vitória. Nos Estados Unidos, a especialização pre- coce é uma realidade por oportunizar bolsas de estudos em universidades, então muitos pais investem na carreira esportiva dos filhos, garantindo um estudo futuro (MALINA, 2010). Nunomura e Oliveira (2014) apresentam, por meio de entrevistas com técnicos da ginástica artística, que os argumentos que fundamentam a especialização precoce são o regulamento das federações e confedera- ções que estimulam a prática, a pressão das instituições por resultados e a identificação de talentos carentes que podem ser um sucesso esportivo. Nenhuma pesquisa aponta o desejo da criança como motivador; para elas, o mais importante é a prática e a permanência no esporte, portanto a von- tade surge do desenvolvimento do indivíduo na modalidade. – 183 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição Deve-se considerar que a especialização precoce também pode acon- tecer em decorrência da vontade dos próprios ginastas. Os aspectos que subsidiam o interesse e o desenvolvimento na modalidade permeiam a cultura local, as características socioeconômicas, o sistema político, as características da modalidade, o ambiente familiar, a escola, os fatores biológicos e ambientais e os desejos e as necessidades da criança. É neces- sário conceber a complexidade do fenômeno da especialização precoce e todos os elementos para pensar seus pontos positivos e negativos. Os aspectos negativos são, na maioria das vezes, de ordem física e/ou psicológica, como aumento do risco de lesões por sobrecarga em crianças em fase de desenvolvimento, altos níveis de estresse, possível atraso na menarca, risco de distúrbios alimentares, risco de manipulação abusiva de adultos, iso- lamento social, síndromes de burnout e dropout, entre outros. Os atletas de esportes estéticos tendem a uma especialização antecipada, como na ginástica artística feminina, com alto risco de sofrerem distúrbios alimentares. No lado positivo, pode promover a aquisição de habilidades moto- ras e o favorecimento de oportunidades relacionadas à formação. Darido e Farinha (1995) apresentam algumas adaptações fisiológicas interessan- tes adquiridas na especialização precoce, como hipertrofia do coração, que proporciona economia das funções cardiovasculares. Em outra pesquisa, os mesmos autores apontam que a carreira iniciada antes tende a se encerrar quando o atleta decide se dedicar a outros projetos, mas que a relação com a modalidade se mantém, na maioria das vezes, presente na vida do ex-atleta. No caso da ginástica, a preocupação maior advém das possíveis con- sequências do treinamento intenso durante o crescimento e o desenvolvi- mento das crianças. Não existepesquisa científica que comprove efeitos negativos do treinamento precoce no crescimento dos seguimentos cor- porais ou comprometimento endócrino. A estrutura dos ginastas é uma condição genética que proporciona a vantagem biomecânica, o que dá possibilidade de seleção para o esporte. Assim, pessoas com baixa estatura apresentam habilidade mais expressiva na modalidade pela facilidade em realizar movimentos trans- versais e longitudinais, adequando-se a alguns aparelhos com mais natura- lidade. Essa facilidade se dá devido ao indivíduo ter o centro de gravidade mais próximo da Terra, o que proporciona mais equilíbrio. Dessa forma, Ginástica – 184 – no alto rendimento, espera-se que os ginastas que apresentam menores alavancas, do ponto de vista biomecânico, tenham vantagem em acro- bacias complexas, também com mais força relativa e domínio corporal (FERREIRA FILHO; NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2006). Figura 9.1 – Esquema sintético do processo de especialização precoce na relação com possíveis causas e efeitos Fonte: Balbino e Paes (2007, p. 87). 9.3 O treinador e suas funções nas formações técnica e tática de ginastas A profissionalização do treinador brasileiro já é uma realidade, sendo necessário bacharelado em Educação Física, que habilita o profissional – 185 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição para atuar na área da iniciação esportiva até o treinamento de alto rendi- mento. O graduado deve se especializar ou se habilitar em treinamento esportivo. Para atuar em competições oficiais nos diferentes níveis espor- tivos é necessário ter registro no conselho profissional e filiação nas fede- rações e nas confederações correspondentes à modalidade. Figura 9.2 – Formação e regulamentação do treinador de ginástica Fonte: Sampaio (2017). Espera-se que os treinadores busquem a formação da FIG, conside- rada uma fonte de conhecimento formal específico da área da ginástica. A academia visa à formação, tendo uma base de conhecimentos comuns para o desenvolvimento de ginastas de alto rendimento. Esse sistema propor- ciona três níveis de capacitação, e as federações nacionais contemplam os programas específicos de treinamento comuns em sua federação. 9.3.1 Formação de equipes na ginástica: artística e rítmica A ginástica pode ser disputada individualmente, com cada ginasta realizando sua série, como no caso da artística e da rítmica. Em uma com- petição oficial, as séries individuais de uma mesma equipe são somadas e constituem a classificação. Na ginástica rítmica, o programa de pro- vas prevê, além da competição individual, a disputa em conjunto, em que cinco ginastas se apresentam juntos. Nos Jogos Olímpicos, os paí- Ginástica – 186 – ses devem apresentar duas séries, cada uma com aparelhos definidos pela FIG. A premiação é dada pela soma das notas das duas apresentações. É importante ressaltar que o regulamento pode variar de acordo com a competição; por exemplo, o formato dos Jogos Olímpicos é diferente dos Campeonatos Mundiais. As disputas de ginástica aeróbica e acrobá- tica também são em conjuntos, porém há diferentes possibilidades de for- mação (duplas, trios, quartetos e quintetos). 9.3.2 Equipes na ginástica artística Em situação de competição, considera-se uma equipe de ginástica artística um grupo de cinco atletas titulares, seja na ginástica feminina, seja na masculina. Na fase classificatória, os atletas apresentam séries nos aparelhos (não precisam atuar em todos, pois geralmente são especialis- tas em um), sendo que as notas obtidas (resultado da somatória das três melhores) são utilizadas para definir os classificados para as finais. Sendo assim, nas finais por equipes são apresentadas três séries em cada aparelho, ficando a critério do treinador estabelecer quem serão os executantes (entre os cinco que competiram a classificatória). A título de exemplo, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram somadas as três melhores notas indi- viduais em cada aparelho (solo, barra fixa, cavalo com alças, salto, parale- las simétricas e argolas) da equipe brasileira de ginástica artística mas- culina. A equipe conquis- tou a 6ª colocação por equipe, resultado histó- rico para a modalidade. Na ginástica artís- tica feminina, a primeira equipe brasileira teve classificação para os Figura 9.3 – Equipe brasileira de ginástica artística feminina nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016): Jade, Rebeca, Lorrane, Daniele e Flávia Fonte: https://www.cbginastica.com.br – 187 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição Jogos Olímpicos em Atenas (2004), e a primeira final por equipes foi em Pequim (2008), participando ativamente em Londres (2012) e no Rio (2016). Não houve classificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, mas Flávia Saraiva conquistou uma vaga individual na competição. A equipe brasileira de ginástica artística masculina alcançou o inédito sexto lugar nos Jogos Olímpicos do Rio (2016). Nos Jogos Pan-America- nos de Lima (2019), a equipe se consagrou campeã, demonstrando uma evolução expressiva. No Campeonato Mundial de 2019, apesar de alguns percalços, a equipe alcançou a 12ª posição, conquistando a vaga para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Figura 9.4 – Equipe de ginastas masculinos no Pan-Americano (2019): Francisco Barreto, Arthur Nory, Arthur Zanetti, Caio Sousa e Luis Porto Fonte: InfoEsporte A ginástica rítmica é disputada oficialmente por mulheres. Nos Jogos Olímpicos, foi introduzida incialmente com provas individuais em Los Angeles (1984), mas somente na edição olímpica de Atlanta (1996) o conjunto foi inserido no programa. O Brasil tem se destacado internacio- nalmente na modalidade, em especial nas competições de conjunto. As Olimpíadas do Rio (2016) foram marcadas pela classificação das ginastas brasileiras tanto na modalidade individual quanto em conjunto, na qual finalizaram em 9º lugar. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima (2019), o Ginástica – 188 – conjunto brasileiro conquistou o ouro na série de três arcos e dois pares de maças e o bronze na série de cinco bolas. A ginasta Bárbara Domingos foi prata na competição individual no aparelho fita. Figura 9.5 – Conjunto de ginástica rítmica nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016): Emanuelle Lima, Francielly Machado, Gabrielle Moraes, Jéssica Maier e Morgana Gmach, equipe técnica comandada por Camila Ferezin Fonte: Ricardo Bufolin/CBG A disputa em conjunto se apresenta sempre de forma muito com- plexa, em que o êxito individual é necessário e fundamenta o sucesso coletivo. Uma equipe pode se classificar ou não pelo mesmo critério de avaliação, pelo sucesso ou fracasso em determinada execução, por isso o trabalho em equipe deve ser privilegiado como determinante. O treino e o time técnico precisam estabelecer diálogo na busca por desenvolver um trabalho qualitativo, que alcance resultados na competição. 9.4 Competições de ginástica: regionais e mundiais São considerados eventos da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) campeonatos, cursos, festivais, eventos e outros que forem previs- – 189 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição tos em estatuto. As disputas podem ser classificadas em oficiais ou amis- tosas. Os atos contemplados como oficiais ocorrem em âmbito internacio- nal, sendo promovidos pela FIG, pelo Comitê Olímpico Brasileiro ou pela União Continental à qual a CBG estiver filiada. Já os eventos nacionais devem ser promovidos pela CBG, sendo mencionados em seu calendário ou divulgados em Nota Oficial da Presidência. Os amistosos podem ocorrer em nível internacional, promovidos pela CBG ou por ela autorizados de acordo com o estatuto e regulamento téc- nico da FIG, nacional ou regional, promovidos pelas federações estaduais e suas filiadas ou vinculadas à CBG. As taxas relacionadas aos eventos internacionais, nacionais e regionais devem ser especificadas e anexadas aocaderno de encargos. A solicitação para a realização dos amistosos deve ser encaminhada com antecedência de seis meses, apresentando o local do evento, alimentação, hospedagens, transporte e equipamentos, categoria, número de componentes das delegações, programação feral e específica e forma de pagamento da taxa fixada. Os eventos regionais ou inter-regionais podem ser realizados em clubes, associações e outras entidades desportivas. Os eventos internacionais também podem ser realizados nesses espa- ços, salvo os aspectos técnicos, devendo ser solicitados por meio das fede- rações. A CBG detém direitos exclusivos sobre eventos oficiais, venda de ingressos e comercialização de produtos (CBG, 2017) e pode transferir os direitos ou negociar a participação nos patrocínios com organizadores e promotores. Para participar, técnicos e assistentes devem ser registrados no Conselho Federal de Educação Física, e o primeiro deve ser bacharel em Educação Física ou acadêmico da área. As modalidades de ginásticas competitivas contam com categorias específicas, identificadas no Quadro 9.3. Quadro 9.3 – Categorias de competição das modalidades de ginástica Pré- infantil Infantil Infantojuvenil Juvenil Adulto GA Masculina 9 a 11 anos 11 a 14 anos --- 14 a 15 anos +15 anos Ginástica – 190 – Pré- infantil Infantil Infantojuvenil Juvenil Adulto GA Feminina 9 a 11 anos 11 a 12 anos --- 12 a 15 anos +15 anos Ginástica aeróbica --- 9 a 10 anos 12 a 14 anos 15 a 17 anos +18 anos Ginástica rítmica 9 a 10 anos 11 a 12 anos --- 12 a 15 anos +15 anos Ginástica de trampolim 9 a 10 anos 11 a 12 anos 13 a 17 anos (júnior) +17 anos Ginástica acrobática 9 a 10 anos 11 a 12 anos 12 a 18 anos 13 a 14 anos (Interme- diário) +15 anos Fonte: elaborado pela autora. As principais competições que reúnem os ginastas de todo o mundo são Jogos Olímpicos, de quatro em quatro anos; Campeonato Mundial, desde 1999 anualmente, exceto nos anos olímpicos; Copa do Mundo, rea- lizada por temporada, dividida em etapas e durante todo o ano, com final que concede o direito de disputar os Jogos Olímpicos. Em competições regionais é possível identificar os ginastas de maior expressão em seus continentes, como Campeonato Africano, realizado a cada triênio; Jogos Asiáticos, a cada quatro anos; Campeonato Europeu, anualmente, conhecido por seu alto nível; Jogos Pan-Americanos, a cada quatro anos; e Jogos Sul-Americanos, a cada quatro anos. 9.5 Principais ginastas: panoramas mundial e brasileiro Existem inúmeros ginastas que deixaram marcas ao longo da história em campeonatos mundiais. Podemos citar alguns nomes que apresenta- ram performances expressivas e encheram de graça o mundo da ginástica. – 191 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição A romena Nádia Comaneci, nascida em 1961, ícone histórico da ginástica artística, iniciou sua experiência na ginástica aos 6 anos de idade. Três anos depois, tornou-se a mais jovem a ganhar o campeonato romeno e foi a dona do primeiro 10 perfeito da história da ginástica, com a nota máxima de cada avaliador aos 14 anos de idade, durante as Olimpíadas de Montreal (1976) no Canadá, sendo a campeã olímpica mais jovem da história da modalidade. Nesse mesmo campeonato, a ginasta foi premiada com três medalhas de ouro: na trave, nas barras assimétricas e na con- corrência geral. Atualmente, administra com o marido Bart Conner (ex- -ginasta) uma academia de ginástica em Oklahoma, nos Estados Unidos. Atualmente, a ginasta de destaque mundial é a norte-americana Simone Biles, nascida em 1997, especialista em ginástica artística e dona de 25 medalhas (19 de ouro), sendo a mais condecorada dos EUA em mundiais. Biles conquistou cinco títulos mundiais no individual geral, sendo em 2019 a única a conseguir esse feito. Também possui cinco títu- los na modalidade solo, três na trave de equilíbrio, dois no salto sobre a mesa, sendo parte da equipe vencedora no ano passado (a maior meda- lhista feminina desse campeonato). Biles foi a primeira a conquistar três campeonatos mundiais conse- cutivos nas modalidades individual e por equipe. Recebeu cinco medalhas olímpicas nos Jogos de 2016. Seu último feito (2019) foi realizar um salto triplo-duplo, movimento que envolve três torções e suas voltas comple- tas antes do pouso, na primeira etapa de sua série, feito que apenas dois homens realizaram. No Brasil, temos várias referências de expressão mundial, mas fala- remos apenas de alguns. A ginástica teve um avanço expressivo no País a partir da década de 1990, com destaques em todas as modalidades e parti- cipação ativa em Olimpíadas, mundiais e Pan-Americanos. Daiane dos Santos, nascida em 1983, competiu em provas de ginás- tica artística e recebeu nove medalhas de ouro em Copas do Mundo, sendo a primeira ginasta brasileira a conquistar ouro em um campeonato mun- dial. Ela compôs a primeira equipe completa a disputar uma Olimpíada, na edição de Atenas, depois em Pequim e Londres, sendo a atleta a exe- cutar movimentos originais, como o duplo twist carpado (Dos Santos I) e Ginástica – 192 – a evolução dele, o duplo twist esticado (Dos Santos II). Daiane liderou o ranking mundial na modalidade solo por muitos anos, ficando em quinto lugar nas Olimpíadas de Atenas (2004) e na sexta colocação em Pequim (2008), mas não passou da fase eliminatória nos Jogos de Londres. Outro nome importante na ginástica brasileira é o de Arthur Zanetti, nascido em 1990, o primeiro campeão olímpico brasileiro e latino-ameri- cano na modalidade nos Jogos Olímpicos de Londres (2012). Em outubro de 2013, ele conquistou a medalha de ouro nas argolas, sua especialidade, no Campeonato Mundial de Ginástica, sendo o primeiro atleta brasileiro campeão da modalidade mundial e olímpico. No Pan-Americano de 2015 (Toronto), Zanetti conquistou a medalha de ouro nas argolas e prata por equipes; nas Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016), ganhou prata nas argo- las; e no Pan-Americano de 2019 (Lima) conquistou medalha de ouro por equipes. Zanetti está classificado para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Figura 9.6 – Arthur Zanetti nas Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016) Fonte: Shutterstock.com/ Salty View Daniele Hypólito, nascida em 1984, integrou a equipe brasileira que conquistou a inédita 8ª colocação nas Olimpíadas de Pequim (2008) e repetiu o resultado na edição do Rio de Janeiro (2016). Ela foi a primeira ginasta a conquistar uma medalha no mundial (2001) e no Pan-Americano, sendo eleita a atleta do ano por dois anos consecutivos (2001 e 2002). Apesar do acidente de ônibus sofrido em 1997 na viagem pela delegação – 193 – Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição do Flamengo, no qual sofreu escoriações, não desistiu da carreira e parti- cipou de três Olimpíadas. Figura 9.7 – Daniele Hypólito nas Olimpíadas Rio de Janeiro (2016) Fonte: Shutterstock.com/ Salty View Irmão de Daniele, Diego Hypólito, nascido em 1986, também percor- reu um caminho louvável representando a ginástica brasileira, competindo pela ginástica artística e sendo bicampeão mundial no solo, no qual é espe- cialista. Nas Olimpíadas de Pequim (2008), em que foi favorito, acabou se desequilibrando e caindo, o que o levou à 6ª colocação. Nos Jogos Olímpicos de Londres (2012) sofreu outra queda na fase de classificação. Nas Olimpíadas de 2016, Diego já não estava entre os favoritos, mas conquistou a medalha de prata no solo. Ele trata do acontecido em sua autobiografia: “Na primeira Olimpíada, eu caí de bunda no chão. Na segunda, eu caí de cara. E, nessa, eu caí de pé” (HYPÓLITO, 2019, p. 144). Além das medalhas nas Olimpíadas e nos campeonatos mundiais, ele tem oito pódios em Jogos Pan-Americanos (cinco de ouro e três de pratas) e dezenas em Copas do Mundo. Diego recebeu 5 medalhas em Campeonatos Mundiais, 69 em Copas do Mundo, 8 em Jogos Pan-Americanos e a medalha nos Jogos Olímpicos do Rio deJaneiro (2016). Ele terminou seu percurso em competições de forma gloriosa, fruto de uma carreira cheia de superações, que podem ser conhecidas em seu livro Não existe vitória sem sacrifício: da depressão Ginástica – 194 – severa à medalha olímpica, a trajetória de superação do mais vitorioso ginasta brasileiro. Figura 9.8 – Diego Hypólito nas Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016) Fonte: Shutterstock.com/Salty View Seria possível citar vários ginastas que se destacaram e contribuí- ram para a solidificação da ginástica como esporte no Brasil, como Arthur Nory, Jade Barbosa, Adrian Gomes, Bruna Leal, Ethiene Franco, Harumy de Freitas, Sérgio Sasaki. Na ginástica rítmica, uma referência é Camila Ferezin, ex-ginasta e atual técnica da seleção brasileira. Atividades 1. O que é o treinamento de longo prazo? Qual é a importância desse tipo de prática para a ginástica? 2. Quais são os malefícios da especialização precoce na ginástica? 3. Escolha um ginasta e disserte sobre seu percurso no esporte. Considere a iniciação, se seu biótipo é coerente com a moda- lidade, se obteve expressão mundial e se ainda está envolvido com o esporte: 4. Qual é a formação necessária ao técnico da ginástica? 5. Quais são os campeonatos de ginástica com maior expressão regional e mundial? 10 Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história As ginásticas classificadas como não competitivas também têm espaço e expressão no âmbito das práticas corporais, propor- cionando a todas as pessoas a possibilidade de se movimentarem sem necessariamente participarem de competições. São inúme- ras as motivações que levam os indivíduos à prática de ginásticas não competitivas: socialização, manutenção de saúde corporal, estética ou outras. É importante que o profissional de Educação Física compreenda suas especificidades, envolva-se com cada modalidade e saiba prescrever a opção mais adequada ao perfil do aluno. Ginástica – 196 – 10.1 Ginástica para todos A ginástica para todos (GPT) já foi chamada de ginástica geral e apresenta a liberdade como principal característica, opondo-se a outras manifestações altamente competitivas. Isso significa que o praticante pode ter qualquer idade, optar ou não pelo uso de aparelhos, vesti- mentas ou estilo musical. Não há um consenso na literatura quanto a sua classificação; para alguns, trata-se de uma atividade; para outros, modalidade; e há aqueles que afirmam que é uma manifestação da cul- tura corporal. De acordo com a Federação Internacional de Ginástica (FIG), a GPT é uma atividade que pode ser concebida até mesmo como jogo, não sendo competitiva, voltada para o lazer, englobando dança e jogo, a depender das referências nacionais ou internacionais. Mais importante que qualquer competição, o foco da GPT é o prazer pela prática, sendo bastante abran- gente e recrutando as mais diversas manifestações (até mesmo folclóricas) por meio de exercícios livres e criativos, proporcionando bem-estar físico, social e psíquico aos praticantes. A GPT prevê o respeito a individualidades, autossuperação e elimi- nação de qualquer limitação à prática, por execução, gênero, idade, ele- mentos materiais, musicais ou de ordem coreográfica, sempre sem fim competitivo (NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2009). Assim, a GPT é uma manifestação da cultura corporal que reúne um arsenal de fundamentos de todas as ginásticas, integradas a outras formas de expressão corporal, de maneira livre e criativa, levando em conta as especificidades ineren- tes ao grupo social ao qual pertencem e promovendo a interação entre os participantes. Conceituar a GPT é impossível; no entanto, a gênese dessa modalidade são o respeito e apreço pela diversidade. Mesmo tendo como princípio a socialização e o intercâmbio cul- tural, a GPT prevê o desenvolvimento de habilidades motoras espe- cíficas, mas sem a perspectiva tecnicista e considerando o repertório de movimentos corporais dos alunos. Deve promover novos desafios e experiências que contribuam para a melhoria das habilidades e das capacidades físicas e a qualidade da execução, considerando as indivi- dualidades do praticante. – 197 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história 10.1.1 Objetivos da GPT A Confederação Brasileira de Ginástica (c2020) aponta os principais objetivos da GPT: 1. oportunizar a participação do maior número de pessoas em ati- vidades físicas de lazer fundamentadas nas atividades gímni- cas – ampliar e massificar as práticas relacionadas à ginástica, levando em conta todas as faixas etárias e as necessidades espe- ciais, sendo incorporada como prática do cotidiano, de forma prazerosa e reconhecendo sua importância para a melhoria da qualidade de vida; 2. integrar várias possibilidades de manifestações corporais às ati- vidades gímnicas – por ser livre, agrega maior valor à cultura corporal como elemento de integração, no intuito de torná-la mais prazerosa, permitindo maior aproximação da ginástica e ampliação de vivências; 3. oportunizar autossuperação individual e coletiva, sem parâ- metros comparativos – não se pauta em metodologias de comparação ou de modelos de execução; cada treino deve pos- sibilitar a superação dos próprios limites, melhorando o desem- penho individual e colaborando para o rendimento em grupo. A perspectiva é cooperativa, pois o outro é fundamental para a ginástica geral, promovendo a coletividade; 4. oportunizar intercâmbio sociocultural entre os participantes – os eventos de GPT possibilitam trocas significativas, apresentando diversas manifestações culturais, em que cada grupo propõe a socialização de sua vivência, apresentando propostas de traba- lho para os demais. Todo evento tem como foco a diversidade cultural e a possibilidade de construção de materiais e de ele- mentos corporais gímnicos; 5. manter e desenvolver o bem-estar dos praticantes – eventos de ginástica devem proporcionar qualidade de vida, prazer e satis- fação. A interação deve ser contemplada, estimulando a alegria em estar participando, assim os praticantes o concebem como Ginástica – 198 – uma prática integrante do estilo de vida, otimizando a qualidade de vida; 6. oportunizar a valorização do trabalho coletivo sem deixar de valorizar a individualidade – a coletividade é essencial tanto na construção coreográfica quanto nas apresentações, devendo-se considerar os limites e as possibilidades individuais e a qualidade do trabalho a ser apresentado. Cada participante deve atuar ativa- mente durante o processo de construção de uma série, equilibrando a adaptação corporal dos elementos de acordo com a habilidade e a possibilidade de apresentação. Assim, a ginástica assume a característica inclusiva e valorativa das individualidades. 10.1.2 Fundamentos da GPT Apesar de se tratar de fundamentos, eles não são precisos ou deter- minados, mas sim características que podem ajudar a compreendê-la. Nomura e Tsukamoto (2009) afirmam que não se trata de elementos para identificá-la, mas pontos que garantem sua diversidade, e os fundamen- tos contemplados aqui são concebidos por todas as autoridades teóricas desse conhecimento: 1. base na ginástica – os movimentos são compostos por elemen- tos gímnicos presentes nos diferentes tipos de ginástica, funda- mentados nas habilidades motoras básicas do ser humano. Têm nomenclatura própria, construída ao longo da história da ginás- tica, inspirada no balé e no circo. 2. composição coreográfica – apresentações da modalidade, com os movimentos corporais de forma interligada, em uma perspec- tiva harmônica e lógica. A composição deve ter início, meio e fim contextualizados em uma temática que pode ser abstrata ou historiada. Durante a elaboração, o professor deve incentivar a participação do grupo na etapa de criação, avaliação e sugestões que interfiram no processo de criação. 3. estímulo à criatividade – na GPT não existem rotinas,códigos ou elementos obrigatórios, o que prevê a participação de todos, – 199 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história exigindo criatividade, envolve a escolha da música, dos mate- riais utilizados, da vestimenta, do cenário, dos movimentos e de suas combinações. 4. número indefinido de participantes – determinado de acordo com o objetivo da apresentação, o espaço físico ou a finalidade esta- belecida pelo grupo. Pode variar de poucas pessoas até 5 mil, com grupos que podem se apresentar em estádios ou palcos ao ar livre. 5. liberdade da vestimenta – não há vestimenta oficial, e a liber- dade de escolha da roupa é essencial para a prática, proporcionando mobilidade e segurança na execução dos movimentos, atendendo ao tema escolhido e colaborando para a compreensão estética. 6. diversidade musical – não há restrição musical nem mesmo com relação à voz ou estilo, características e duração. Alguns festivais determinam o tempo máximo de apresentação, que normalmente fica em torno de 5 minutos e facilita a organização do evento. Devido às inúmeras possibilidades de escolha, o professor deve considerar a cultura e a preferência do grupo, o tema da coreogra- fia e a relação que se estabelece com o festival. Elementos da cul- tura são percebidos nas apresentações por meio das coreografias, que apresentam as relações humanas e a identidade de um grupo, comunidade ou nação. Esses traços culturais são fundamentados nas artes, no folclore, nos costumes e em diferentes manifestações da cultura corporal, como jogos, esportes, luta e dança. A GPR é uma manifestação da cultura corporal que tem seus funda- mentos calcados na ginástica e sua manifestação inclusiva, garantindo a participação de todos os grupos. Essa modalidade apresenta contribuições expressivas em aspectos afetivos, físicos e cognitivos dos praticantes. 10.1.3 Gymnaestrada Gymnaestrada é o maior festival de ginástica do mundo, em que gru- pos se reúnem para apresentar várias manifestações da ginástica. Não há competições, o que remete à ideia de uma grande confraternização. O nome se refere ao caminho da ginástica. O evento foi idealizado pela Federação Ginástica – 200 – Internacional de Ginástica com o intuito de reunir todas as manifestações artísticas de forma lúdica e interativa, por isso não há premiações e o foco é o prazer de representar seu país e promover a união entre os povos com a apresentação de trabalhos originais. Figura 10.1 – Gymnaestrada Fonte: https://www.wg2019.at/wg2019/en A máxima desse evento é “vence quem participa”, acontecendo a cada quatro anos em julho e durando sete dias, sendo o maior evento mundial. Desde 2015, tem a transmissão de alguns momentos pela mídia. A partici- pação do Brasil no Gymnaestrada começou em 1953, com um grupo que foi único grupo até 1969, apresentando coreografias baseadas na ginástica moderna feminina, próxima da ginástica rítmica. Apesar das dificuldades relacionadas a falta de patrocínio e pouca divulgação da modalidade no País, existem muitos grupos de GPT que hoje participam do Gymnaestrada, princi- palmente em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Paraná. 10.2 História da ginástica de academia As relações entre a ginástica e a academia se entrelaçam ao longo do desenvolvimento da humanidade. Na antiguidade, a ginástica era conce- bida como prática de exercício, que o homem vem adaptando e criando possibilidades para seu desenvolvimento corporal. 10.2.1 Desenvolvimento das academias de ginástica no Brasil O espaço destinado às práticas corporais chamado academia é novo, estabelecendo-se no Brasil de forma definitiva apenas no início da década – 201 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história de 1980 (NOBRE, 1999). A ginástica era praticada em clubes, centros de fisiculturismo ou institutos de modelação física do Rio de Janeiro na década de 1930, e a ACM (Associação Cristã dos Moços) oferecia a moda- lidade de judô “com outras atividades de ginástica e de práticas esportivas típicas dessa entidade filantrópica à época” (CAPINUSSÚ, 2006, p. 61). Esses espaços foram se situando nas grandes capitais e nas proxi- midades do litoral, princi- palmente na Região Sudeste, expandido para outros locais a partir da década de 1950, tendo como principais moti- vadores o halterofilismo e as artes marciais japonesas. Com a expressiva divulga- ção da prática e das acade- mias de ginástica por meio da indústria cinematográ- fica, em filmes com Arnold Schwarzenegger, por exem- plo, e de competições de fisiculturismo, as academias foram crescendo aos pou- cos. O Brasil foi se estabe- lecendo no cenário mundial pela Confederação Brasileira de Culturismo (CBC) e com a filiação ao International Federation of Body Builders e outras entidades internacio- nais da modalidade. O número de frequentadores das academias aumentou, com foco em halterofilismo e fisiculturismo e às vezes nas modalidades de calistenia e de lutas. Na década de 1980, a organização foi se modificando, com um impulso para as academias de ginástica advindo da ginástica aeró- bica, tendo como principal divulgadora a atriz Jane Fonda. A incorporação Figura 10.2 – Arnold Schwarzenegger Fonte: RMY Auctions (1974). Ginástica – 202 – da música promoveu o estímulo aos praticantes, gerando um movimento expressivo da modalidade, que adentrou a década de 1990. A aeróbica dos anos 80 foi a mola propulsora das academias […] O boom dos anos 80 teve no fechamento do comércio exterior um grande obstáculo, pois não tínhamos a tecnologia dos materiais esportivos dos grandes centros mundiais, problema que se resolveu apenas com a liberação das importações. (NOBRE, 1999, p. 20-21) O espaço da academia foi se modificando, com a proposta de turmas de ginástica com horários e professores fixos. Aos poucos, as salas de hal- terofilismo foram recebendo máquinas e instrumentos com tecnologias que proporcionavam treinos a todos, garantindo segurança durante a execução. Esse movimento substanciou o surgimento de salas de musculação, termo que substituiu o halterofilismo, visando contemplar um maior número de pessoas que não praticavam a modalidade em nível de competição ou para ter uma grande hipertrofia muscular. Assim, as academias se adequaram a essa nova tendência, acolhendo também o público feminino, que buscava uma musculatura definida, tendência de concepção de corpo na época. Nesse contexto, a ginástica aeróbia se fez presente, popularizando-se e tendo como método o treinamento físico, posteriormente sendo espor- tivizado. Uma manifestação amplamente divulgada entre os métodos de exercícios aeróbicos foi a dança aeróbica, idealizada por Jacki Sorensen (1979), que combinava música, passos de dança e exercícios calistênicos de forma dinâmica. A ginástica aeróbica prometia melhoria do sistema cardiovascular, aprimoramento de ritmo, coordenação, equilíbrio e flexi- bilidade, além da melhoria do condicionamento cardiorrespiratório, sendo pouco eficiente no ganho de força muscular (COO- PER, 1972). Para Guiselini e Barbanti (1993), a ginás- tica aeróbica é um estilo coreografado de realizar movimentos aeróbicos utilizando metodologias que contemplam coorde- Figura 10.3 – Ginástica aeróbica em academias na década de 1980 Fonte: http://educacaofisicanilza.com – 203 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história nação motora, habilidades motoras e atividades perceptivas. Essa prática trata a combinação de habilidades motoras com passos de dança estrutu- rados, que recrutam atividades perceptivas com relação a corpo, direção, tempo e ritmo. Os exercícios são repetições sucessivas em que cada sequ- ência é composta de oito tempos de cada movimento e oitavas (remetendo a frases musicais) que fundamentam as montagens coreográficas. Nesse contexto, surgiu o termo mundofitness, como um campo promissor para os profissionais da Educação Física e para empreende- dores com interesse em investir em academias. Com a necessidade de atender sempre a uma demanda maior de alunos, a ginástica de acade- mia tende a inovar, criando outras modalidades, como aero-olodum, aerobrasil, aerofunk, lambaeróbica, step, steplocal, localizada, alonga- mento etc. (ANDRADE FILHO, 1998). A ginástica aeróbica também tem uma versão voltada à competição, resultado do aumento expressivo de sua prática, sendo um estilo coreográfico de movimentos aeróbicos contemplando ritmo musical e técnica de ensino e de habilidades moto- ras e perceptivas. 10.3 Práticas de ginástica na academia Muitas categorias tendem a surgir ao longo dos anos, prometendo práticas corporais inovadoras que em sua maioria têm como referência a ginástica e seus movimentos. A ginástica aeróbica deu início a essa cons- trução, que tende a lançar modalidades que envolvem e convidam as pes- soas a desenvolverem práticas corporais. 10.3.1 Ginástica localizada A ginástica localizada como prática de academia surgiu no Rio de Janeiro na década de 1930, tendo professores estrangeiros e forte influ- ência da ginástica rítmica, do balé e da dança moderna. É uma alterna- tiva efetiva que contribui para a definição muscular e o condicionamento físico, podendo ser praticada sem sobrecarga ou com auxílio de equipa- mentos (halteres, tornozeleiras, bastões, barras). É amplamente ofertada nas academias e em espaços de atividades físicas. A musculação tem como Ginástica – 204 – base a ginástica localizada, no entanto conta com sobrecarga e tem como um dos principais objetivos o ganho muscular (OLIVEIRA et al., 2013). Figura 10.4 – Prática de ginástica localizada Fonte: Shutterstock.com/ Iryna Inshyna A ginástica localizada é praticada em séries com repetições e inter- valos de 40 segundos a 60 segundos, sendo considerada uma atividade completa que atinge todos os grupos musculares, levando a uma redução significativa de gordura e medidas. Proporciona aumento da disposição e redução do estresse, melhora o condicionamento físico, bem como contri- bui para a melhoria de doenças cardiovasculares, respiratórias e relaciona- das a obesidade. Também previne doenças e fortalece coração e pulmões; se praticada em grupos, ainda promove a socialização. 10.3.2 Jump O jump consiste em um exercício aeróbico praticado em um mini- trampolim no qual são feitos movimentos diversificados e de várias inten- sidades, existindo a possibilidade de realizar coreografias. As aulas são extremamente populares e acontecem em grupos, com atividades acom- panhadas de músicas, caracterizando-se como um exercício dinâmico e intenso. São identificadas diversas manifestações de sua prática: body jump, body systems, power jump, jump fit, entre outros. O minitrapolim foi idealizado nos Estados Unidos em 1938, tendo sua prática popularizada na década de 1970. O jump é amplamente utili- – 205 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história zado por atletas, por proporcionar uma prática variada de exercícios que recrutam músculos, otimizando sua resistência. A prática auxilia no equi- líbrio corpóreo, promove drenagem linfática, contribui para eliminação de toxinas, melhora a capacidade cardiovascular, proporciona alto gasto calórico, trabalha coordenação motora e equilíbrio, fortalece músculos inferiores e tonifica o abdome (GROSSL et al., 2008). Figura 10.5 – Aula de jump Fonte: Shutterstock.com/ Giorgio Rossi Uma aula de jump dura de 45 minutos a 60 minutos, na qual são executadas coreografias, saltos diversificados e exercícios inspirados na ginástica localizada. O equipamento proporciona amortecimento de impacto, minimizando os riscos de lesões, e tem relação com a ginástica de trampolim, com as devidas adaptações para realização de exercícios físicos na academia. 10.3.3 Step Conhecida como ginástica do degrau, a modalidade teve origem nos EUA, tendo como principal mentora Gin Miller, ex-ginasta e professora de aeróbica, que se viu obrigada a seguir um programa de fisioterapia para tratar uma lesão no joelho. O tratamento consistia em subir e descer escadas, então ela adaptou os movimentos às aulas que dava. A empresa Reebok se interessou pelo trabalho e, com apoio de pesquisadores da área Ginástica – 206 – de motricidade, desenvolveu o banco de step. Essa modalidade propor- ciona desenvolvimento da coordenação psicomotora, aumenta a resistên- cia aeróbica e reforça a resistência muscular. A prática do step é fundamentada no ato de subir e descer do banco de step, executando de forma simultânea movimentos de braços com ou sem sobrecarga (halteres). À medida que a resistência do praticante aumenta, o exercício se complexifica, seja pela subida do banco de step, seja pelo nível de dificuldade da coreografia e do ritmo das aulas. A prática exige uma atividade cardiovascular intensa, o que possibilita aumento da capa- cidade cardiovascular e respiratória, com possibilidade efetiva de perda de peso. Figura 10.6 – Aula de step Fonte: Shutterstock.com/ wavebreakmedia O movimento relacionado à subida e descida do banco de step pos- sibilita o fortalecimento de músculos dos membros inferiores e do glúteo, sendo uma boa alternativa de prática corporal para indivíduos que pre- tendem fortalecer e definir essas regiões. Os movimentos precisam ser realizados próximos da plataforma, evitando a inclinação, podendo ser enriquecidos com exercícios localizados. O step é uma atividade de alta intensidade e baixo impacto sobre joelho e tornozelo, no entanto, é neces- sário realizá-la de forma consciente, mantendo os joelhos fletidos (amor- tecendo o impacto), pousando o pé no step de forma segura (não apoiando a ponta dos pés) e sempre mantendo o ritmo. – 207 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história 10.3.4 Pilates Idealizado por Joseph Pilates, ex-ginasta, que, utilizando sua baga- gem de conhecimentos, propôs a utilização de ginástica e acrobacias que deram origem à contrologia, que depois ficou conhecida como método Pilates. Essa modalidade consiste em coordenar de forma completa o corpo, em conexão com a mente e o espírito, proporcionando o controle total por meio da repetição apropriada de forma progressiva e gradual. Assim, oferece o domínio da mente sobre o corpo e, a partir disso, a pos- sibilidade de execução dos movimentos. Pilates também teve influências da ioga, do budismo e das artes marciais. Figura 10.7 – Exercício no cadillac Fonte: Shutterstock.com/ tommaso lizzul O pilates contempla alguns princípios básicos, entre eles respiração, concentração, controle, alinhamento, centralização e integração dos movi- mentos, que, se bem executados, não sobrecarregam as articulações ou a musculatura, proporcionando consciência corporal e integração entre corpo e mente. Joseph Pilates inventou aparelhos para a execução dos exercícios, como reformer, cadillac, cadeira wunda e a própria esteira. Segundo ele, os dispositivos podem fornecer resistência ou suporte, de acordo com a necessidade. O pilates deve ser aplicado por educadores físicos ou fisioterapeutas, em aulas de uma hora, podendo combinar exer- cícios de solo e nos aparelhos. Ginástica – 208 – 10.4 Ginástica e saúde A relação entre ginástica e saúde se estabelece desde a antiguidade, com a necessidade da realização de uma prática corporal para a manu- tenção da saúde, que é tão importante quanto ter um corpo belo. Nessa perspectiva, a prática corporal sempre esteve atrelada à ginástica como principal manifestação, e por muito tempo foi realizada em ginásios, espaços escolares e não escolares. No entanto, as práticas corporais foram se intensificando e se classificando em várias modalidades, e a ginástica continuou sendo muito solicitada em algumas áreas. Sua prática continua sendo sinônimo de saúde corporal em algunsespaços, seja na profilaxia, seja na manutenção ou na reabilitação corporal. 10.4.1 Ginástica laboral Os primeiros registros de ginástica laboral foram realizados na Polônia e no Japão, ambos na década de 1920, em que os operários se exercitavam em uma pausa adaptada a cada ocupação particular. No Brasil, a prática se tornou uma realidade em 1973, quando algumas empresas começaram a investir em lazer e esporte, como a fábrica de tecidos Bangu e o Banco do Brasil (CONFEF, 2007). Em 1978, a fábrica Fiat de automóveis iniciou o programa de ginástica na empresa, fundamentado no princípio da ginástica laboral desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). É uma atividade com exercícios específicos de alongamento, fortale- cimento muscular, coordenação motora e relaxamento. Essa modalidade de ginástica pode ser realizada em vários departamentos da empresa, tendo como foco a prevenção e a redução dos casos de lesão por esforço repetitivo (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) (OLIVEIRA, 2006). Os exercícios devem ser realizados no próprio espaço profissional em sessões de 5 minutos a 15 minutos. A ginástica laboral apresenta movimentos efetivos de prevenção e tera- pia, enfatizando o alongamento e a compensação de estruturas musculares recorrentemente utilizadas nas ocupações diárias do trabalhador. Além da prevenção de LER e Dort, evita dores na coluna, problemas posturais e difi- culdades que podem surgir em decorrência da função exercida na jornada de trabalho (TRINDADE; ANDRADE, 2003). Pode evitar doenças ocupacio- – 209 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história nais, promovendo o bem-estar individual por meio da consciência corporal, conhecendo, estimulando e respeitando o próprio corpo. Pode ser classificada em quatro tipos: 1. preparatória – realizada antes do início do trabalho, propor- cionando aquecimento e prevenindo possíveis acidentes de tra- balho. Também conhecida como pré-aplicada, pode preparar o indivíduo quanto a velocidade, força, resistência e coordenação para o trabalho que será realizado em seguida. 2. compensatória – tem como foco a preparação dos músculos que são utilizados com mais frequência durante as atividades laborais, relaxando aqueles que estão tensionados durante a maior parte da jornada de trabalho. São preparados os grupos musculares que se encontram enfraquecidos, fortalecendo-os, e os mais solicitados são alongados, buscando a compensação de forma equilibrada. Os exercícios são realizados durante o expe- diente, em uma pausa ativa após as quatro primeiras horas de trabalho, avaliando tensões e fortalecendo os músculos. 3. de relaxamento – exercícios específicos de relaxamento indi- cados para trabalhadores que são submetidos a cargas horárias exaustivas desempenhando atividades de cunho intelectual. Deve ser realizada ao fim do expediente, proporcionando um momento relaxante. 4. corretiva – utiliza exercícios para estabelecer o antagonismo muscular, fortalecendo os músculos fracos e alongando os encurtados, destinados aos indivíduos com deficiência morfoló- gica e aplicados a grupos reduzidos. Essa prática combate e ate- nua más posturas ou costumes do ambiente de trabalho, sendo direcionada a times específicos de forma conjunta com medicina do trabalho e fisioterapia, recuperando lesões ou limitações e melhorando as condições de trabalho. A ginástica laboral proporciona benefícios para o trabalhador e para empresa, por apresentar resultados rápidos e diretos na prevenção de LER e Dort, melhorar o relacionamento interpessoal e aliviar dores corporais (OLIVEIRA, 2006). Dessa forma, há redução expressiva dos custos com Ginástica – 210 – assistência médica, diminuição de faltas, alterações no estilo de vida e até aumento na produtividade do trabalhador. Figura 10.8 – Aula de ginástica laboral Fonte: Shutterstock.com/ Joa Souza 10.4.2 Ginástica para idosos A população idosa tem crescido mais que qualquer outra faixa etá- ria, e a idade, na maioria das vezes, vem acompanhada de doenças crôni- cas. Alguns idosos apresentam dependência funcional em vários níveis, e apenas 50% podem ser considerados independentes (FERREIRA et al., 2012). Nesse contexto, na tentativa de minimizar os declínios acarretados pelo envelhecimento, a atividade física se apresenta de forma fundamental na prevenção e na promoção da saúde. A ginástica pode proporcionar melhoria e manutenção das aptidões fundamentais dos idosos, contemplando força, agilidade, equilíbrio, fle- xibilidade, coordenação e resistência, otimizando a capacidade funcional desses indivíduos. Os exercícios ainda oferecem reeducação postural, for- talecimento da musculatura pélvica e relaxamento muscular, proporcio- nando a melhoria da aptidão funcional dos idosos. A ginástica também tem efeito antidepressivo, e sua prática regular estimula a produção de endorfinas, que proporcionam sentimento de bem-estar e autoconfiança, promovendo entusiasmo e otimismo (GUIMARÃES; CALDAS, 2006). – 211 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história Figura 10.9 – Aula de ginástica para idosos Fonte: Shutterstock.com/ rkl_foto A ginástica também oferece inúmeros benefícios psicológicos e emo- cionais, auxiliando o indivíduo a manter o cérebro ativo, assegurando as funções cognitivas e prevenindo perda de memória, demência, Alzheimer, entre outros. 10.4.3 Hidroginástica Também conhecida como ginástica aquática, é uma modalidade que conta com a ausência da gravidade a seu favor, diminuindo as possibilida- des de contusão e sendo amplamente indicada para idosos e como ativi- dade de recuperação motora. A prática tem origem na hidroterapia, que foi muito indicada por médicos brasileiros desde 1980, sendo praticada por gestantes, idosos e diversos grupos, inclusive quem deseja perder peso. Uma aula de hidroginástica tem duração média de 1 hora, dividida em três momentos: aquecimento, exercícios de maior intensidade e exercícios de relaxamento e volta à calma. Os movimentos devem ser realizados contra a força exercida pela água, de baixo para cima, podendo-se utilizar materiais para o aumento dessa resistência (halter, aquatubo, macarrão, caneleira, luva, colete, bola, prancha). Essa modalidade conta ainda com música como um diferencial na realização das atividades, uma vez que o ritmo é um fator estimulante para o praticante. Ginástica – 212 – Figura 10.10 – Aula de hidroginástica Fonte: Shutterstock.com/ Nomad_Soul A hidroginástica pode proporcionar inúmeros benefícios, entre eles melhoria cardiorrespiratória e vascular, ganho de força e massa magra, aumento de coordenação motora e equilíbrio e promoção de prazer e saúde corporal. A prática não oferece nenhum risco para a saúde, mas antes de realizá-la é neces- sário passar por uma avaliação médica (CERRI; SIMÕES, 2007). 10.5 Tendências contemporâneas da ginástica de academia e seus impactos nas práticas corporais A academia de ginástica como um espaço de estímulo às práticas corporais vem se reinventando desde sua origem, buscando proporcio- nar experiências diferenciadas aos frequentadores, no entanto, a essência nunca muda: a ginástica. Considerando o contexto histórico atual, perce- bemos que as aulas coletivas continuam tendo grande expressão e pro- movem momentos não apenas de treinamento corporal mas também de convivência social, sendo um espaço de relacionamento. Assim, a acade- mia vem se reinventando para atender aos clientes que estão cada dia mais comprometido com outras atividades e necessitam da vivência de práticas corporais para a manutenção da qualidade de vida. São inúmeras as modalidades de ginástica na academia e que utilizam fundamentos já existentes nesse elemento da cultura corporal, passando – 213 – Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história por um processo deressignificação. Hoje, o crossfit é a modalidade que parece inovar no âmbito fitness. 10.5.1 Crossfit É um método de treinamento caracterizado pela realização de exercícios funcionais de alta intensidade, como agachamentos, arrancos, arremessos, desenvolvimentos, exercícios aeróbicos e movimentos da ginástica (paralelas, parada de mão, argolas e barras). É uma das modali- dades de ginástica de academia que mais ganham adeptos, sendo comum em vários locais do mundo, desenvolvendo de forma maximizada as três vias metabólicas (TIBANA; ALMEIDA; PRESTES, 2015). A prática garante o desenvolvimento de resistência cardiorrespiratória, força, vigor, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão. Os treinos são organizados iniciando com aquecimento, atividade de desenvolvimento ou aprimoramento da força e condicionamento metabó- lico. O treinamento é chamado de workout of the day (treinamento do dia – WOD), atendendo aos três pilares da prescrição que remetem à realiza- ção de movimentos funcionais de alta intensidade e de forma constante e variada. O crossfit vem ganhando milhares de adeptos devido a seu perfil desafiador e motivador, acolhendo indivíduos ativos, iniciantes e até atle- tas (TIBANA; ALMEIDA; PRESTES, 2015). Figura 10.11 – Aula de crossfit Fonte: Shutterstock.com/ Syda Productions Ginástica – 214 – Os fundamentos da ginástica são amplamente utilizados na metodo- logia do crossfit, constituindo seus exercícios e substanciando sua prá- tica, como o ring dip, que remete ao movimento de flexão dos braços em ângulo de 90 graus em argolas, ou o ring muscle-up, movimento realizado nas argolas, no qual puxa-se e empurra-se o corpo com os braços. Poderíamos apresentar aqui diversos exercícios livres ou realizados na barra e que remetem à ginástica e são amplamente realizados nas aulas de crossfit, o que afirma essa relação de reinvenção ou de utilização de movimentos da ginástica na elaboração de novas modalidades corporais. Atividades 1. Elabore uma definição de ginástica não competitiva: 2. O que é a ginástica para todos? Qual é o principal evento sobre essa modalidade? 3. O que é o jump e quais são seus benefícios? 4. Como surgiu o pilates? Ele pode ser praticado por todas as pessoas? Gabarito Ginástica – 216 – 1. História e evolução da ginástica 1. A palavra ginástica, de acordo com Ayoub (2003), advém do grego gymnastiké, que significa a arte de fortificar o corpo e dar- -lhe agilidade e reflete as perspectivas historicamente direciona- das à prática da ginástica pelo homem ao longo da história. 2. Kung Fu é a arte marcial mais antiga e mais conhecida do povo chinês. Sua técnica determinava a manutenção e as mudanças de posturas, os modos de respirar, explicando os vários tipos de massagem e indicando os benefícios fisiológicos e curativos de cada exercício. 3. Ginástica alemã, nova ginástica alemã, método natural austrí- aco, método natural de Georges Hébert, ginástica nórdica, ginás- tica francesa, movimento esportivo inglês e método de educação física desportiva generalizada. As Lingíadas foram grandes fes- tivais internacionais de ginástica criadas em comemoração aos 100 anos da morte do Sueco Pedro Henrique Ling, que dividiu a ginástica em categorias. 4. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe a ginástica como uma unidade temática a ser trabalhada ao longo do perí- odo escolar, classificando-a em ginástia geral, de condiciona- mento físico e de conscientização corporal. 2. Fundamentos teóricos metodológicos da ginástica pedagógica 1. Os grupos de atuação das ginásticas são: as ginásticas de con- dicionamento físico, de competição, fisioterápicas, formativa e geral. Condicionamento físico (para não atletas e atletas) podem ser praticadas ao ar livre, tomando-se o cuidado de veri- ficar sua duração, intensidade e frequência. Além disso, são as mais procuradas nas academias quando se quer adquirir melhor forma física e bem-estar geral. Ginásticas de competição (abarca as modalidades para provas) compreendem as compe- – 217 – Gabarito tições preestabelecidas tanto para homens como para mulheres, com o intuito de determinar um ganhador. Ginásticas fisioterá- picas utilizam exercícios físicos para prevenir e tratar doenças. Já a ginástica formativa (reúne técnicas de ginásticas para a consciência corporal) contribui para o indivíduo conhecer os benefícios da atividade física, sendo, assim, motivado a incluir essa prática no seu cotidiano a fim de ter um modo de vida mais saudável. Ginástica para todos (responsável pelo desenvolvi- mento do sujeito em seus aspectos motor, cognitivo e social) diz respeito às atividades gímnicas não competitivas. 2. A FIG (Federação Internacional de Ginástica) é a organização mais conhecida de ginástica, também é a maior influência na ginástica mundial. A FIG é responsável por oito esportes: ginás- tica para todos, ginástica artística para homens e mulheres, ginástica rítmica, trampolim, aeróbica, acrobacia e parkour. 3. As modalidades são: as ginásticas calistênica, aeróbica, localizada e musculação. A ginástica calistênica é composta por exercícios que usam o peso do próprio corpo, tais como flexões, abdominais, agachamentos e assim por diante. Foi por meio dela que se desen- volveu a ginástica moderna com fundamentos específicos que eram destinados a obesos, crianças, sedentários, idosos e mulheres. 4. Oliveira propõe a seguinte estrutura de aula de ginástica escolar: 1. fazer jogos e brincadeiras de integração; 2. apresentar o tema, explorando a ginástica conforme os objetivos do grupo; 3. fazer a prática envolvendo os elementos gímnicos de saltar, equilibrar, girar, rolar, entre outros. 4. propiciar tarefas em pequenos gru- pos, explorando movimentos diversos com ou sem materiais; 5. finalizar com apresentações entre os grupos sobre os trabalhos que foram realizados. 3. Estudo das capacidades físicas 1. As capacidades físicas são também conhecidas como habilida- des ou valências físicas, incluem desde os movimentos mais Ginástica – 218 – simples até os mais complexos. Elas podem ser desenvolvidas por qualquer sujeito, podendo ser bem-sucedidas ou não. Isso irá depender das características hereditárias do organismo de cada um. 2. As capacidades físicas que compõem o primeiro grupo são: força, velocidade, resistência e potência. A força é a capacidade dos músculos de vencer uma resistência, exercendo esforço na ação de empurrar. Velocidade é a qualidade específica dos músculos que possibilita a realização de uma sequência rápida de gestos. Resistência é a capacidade de um grupo muscular executar contrações repetidas por um período, causando fadiga muscular, porém sem que ocorra a perda da eficiência do movi- mento. A potência pode ser definida como a velocidade em que o trabalho é desempenhado. 3. Força explosiva, força máxima e capacidade de resistir à fadiga. Na força explosiva, o sistema neuromuscular produz a maior elevação de força por unidade de tempo. Na força máxima, o sis- tema neuromuscular produz a maior força por meio de uma con- tração voluntária máxima. Já na capacidade de resistir à fadiga, o sistema neuromuscular continua produzindo tensão em fadiga. 4. Os alunos podem estar dispostos no espaço físico em colunas, fileiras e na diagonal. Em colunas, quando ficam um atrás do outro; em fileiras, quando eles ficam dispostos um ao lado do outro. E na diagonal, quando se posicionam obliquamente em relação a uma linha de referência. 4. Utilização dos movimentos e materiais próprios da educação física na elaboração das atividades ginásticas 1. Posição grupada, carpado, afastada, afastada-carpada e celada. Posição carpada – Flexão do quadril com tronco inclinado para frente. MMSS estendidos à frente com as mãos em direção aos pés e MMII com extensão dos joelhos, unidos à frente do corpo. – 219 – Gabarito 2. Exercícios naturais: são próprios da evolução humana, como andar, saltar, correr, etc. Artificiais:são aplicados para um determinado objetivo. Sintéticos: envolvem grande grupo de massa muscular simultaneamente, relacionando-os com os movimentos naturais. São predominantes nas atividades aeróbi- cas, envolvendo a ação de três ou mais articulações e suas siner- gias. Analíticos: envolvem tanto os pequenos como os grandes grupos musculares, concentrando-se num determinado segmento corporal, e associam-se aos movimentos artificiais anaeróbicos, envolvendo a ação de uma ou duas articulações e suas sinergias. 3. Em dupla: um será a base e apoiará os pés entre a cintura e as pernas do outro, que será o volante. Quando o volante estiver apoiado, vai se lançar para a frente enquanto a base estica as per- nas. Estando equilibrados, soltarão as mãos ficando na posição chamada de aviãozinho. 4. A GR popular busca proporcionar às crianças a oportunidade de vivenciar as atividades motoras baseadas na modalidade, na qual o importante é participar, podendo até competir e, quem sabe, vencer. 5. Ginástica dentro do contexto educacional, terminologia das habilidades gímnicas, exercícios e vivências pedagógicas na ginástica escolar 1. Segundo a FIG, os quatro princípios da ginástica para todos são: diversão, fitness, fundamentos e amizade. Os dois eventos principais são: The World Gymnaestrada e The World Gym for Life Challenge. 2. A Gymnaestrada é o maior evento da GPT ou GG na esfera mundial, no qual grupos de ginástica do mundo todo se encontram para fazer apresentações das mais diversas manifestações de ginástica. A denominação de Gymnaestrada é a união das palavras Gymna (ginástica) e Strada (caminho). Esse festival foi idealizado pelo presidente FIG, que pensou num evento para Ginástica – 220 – integrar as diferentes modalidades de ginástica, porém sem com- petição, na qual os ginastas se apresentam entre eles com a ideia de confraternização. 3. Locomoção é o movimento para se deslocar de um lugar ao outro, formado pelas habilidades básicas de andar, correr, sal- tar, rolar e quadrupedar. Estabilização é a habilidade de manu- tenção do corpo, mantendo o corpo parado na posição estática contra a força da gravidade. Um exemplo de estabilização na ginástica é a parada de mãos. Manipulação é a habilidade que pode ser abordada nas diversas modalidades de ginástica, mas seu foco é na ginástica rítmica, pois, nessa modalidade, a carac- terística principal é a manipulação de aparelhos. 4. A proposta da BNCC para a ginástica no ensino fundamental é: para os anos iniciais, dois blocos (1º e 2º anos e 3º ao 5º ano) e o objeto de conhecimento é a ginástica geral, do 1º ao 5º ano. Para os anos finais, dois blocos: 6º e 7º anos – ginástica de condi- cionamento físico; 8º e 9º anos – ginástica de condicionamento físico; ginástica de conscientização corporal. 6. Ginástica esportiva competitiva – modalidades, história e conceitos 1. São modalidades da ginástica competitiva: ginástica aeróbica esportiva (GAE); ginástica acrobática; ginástica artística (femi- nina e masculina); ginástica rítmica; e ginástica de trampolim. Essas modalidades possuem várias características em comum, uma delas é serem regulamentadas pela Federação Internacional de Ginástica. Elas também contam com competições sistemati- zadas com a presença de equipe de arbitragem qualificada. 2. Na ginástica aeróbica, a avaliação é realizada por três bancas, que avaliam a dificuldade, a perspectiva técnica e o perfil artís- tico. Assim, o árbitro-chefe analisa o valor atribuído por cada árbitro acerca de todos os méritos e faz as deduções para as rotinas que apresentam irregularidade. Somam-se as médias das – 221 – Gabarito três bancas e das deduções do árbitro-chefe, compondo a nota final do ginasta. Os critérios de arbitragem são definidos pelas seguintes bancas: artística (considera a composição coreográ- fica, o equilíbrio, a multiplicidade, o posicionamento no espaço e a integração dos movimentos com a música, e a adequação da coreografia ao competidor, observando originalidade, natu- reza e encanto. A nota máxima, nesse critério, é de 10 pontos); execução (aprecia a perfeição dos movimentos coreográficos, tendo pontos deduzidos em caso de erros. A nota máxima, nesse critério, é de 10 pontos); dificuldade (mensura a legitimidade dos elementos de força, saltos, flexibilidade e equilíbrios apre- sentados; de acordo com a apresentação, será dada a pontuação de dificuldade). 3. A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade competitiva pra- ticada em competições oficiais apenas por mulheres, de forma individual ou em conjunto. A modalidade contempla elementos relacionados à ginástica, à acrobacia e ao manuseio dos apa- relhos oficiais, como bola, arco, corda, maça e fitas, de forma contextualizada e realizada com acompanhamento musical (TOLEDO, 2001). 4. Trata-se de modalidade competitiva que possui um código de regulamentação elaborado pela FIG, que vem se popularizando de forma expressiva no Brasil, sendo amplamente divulgada pela mídia. Nesse contexto, pela propagação da mídia, houve a necessidade de resolver um impasse, que seria a denomina- ção correta da modalidade – ginástica artística ou olímpica. A FIG, por meio de uma assembleia realizada em 2006, formali- zou a sua nomenclatura, à qual vários países aderiram: Ginástica Artística (GA). A ginástica artística feminina é composta pelas seguintes provas: mesa de salto, barras paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e solo. A ginástica artística masculina é com- posta por seis provas: solo, cavalo com alças, argolas, mesa de salto, barras paralelas simétricas e barra fixa. 5. A Confederação Brasileira de Ginástica considera, na ginástica de trampolim, as seguintes provas e aparelhos que podem ser dispu- Ginástica – 222 – tados separadamente por ambos os sexos: trampolim individual, trampolim sincronizado, tumblin e duplo minitrampolim. 6. A Confederação Brasileira de Ginástica é a entidade responsá- vel pela organização dos eventos esportivos e representação de atletas e de líderes da ginástica. Assim, ela rege todas as compe- tições nacionais e dá suporte aos atletas, técnicos e árbitros em competições internacionais, sendo responsável pela distribuição dos códigos de pontos de cada modalidade para as federações nacionais. Essa incumbência ocorre tanto na categoria júnior como na sênior de todas as modalidades esportivas de competi- ção da ginástica. 7. Fundamentos e procedimentos de ensino-aprendizagem das ginásticas 1. Em relação à nomenclatura dos movimentos, podemos identi- ficar algumas que são estruturantes da ginástica, seja qual for sua modalidade esportiva, podendo sofrer variações ou combi- nações recorrentes da criatividade ou da intencionalidade. São elas: saltar, saltitar, alternado, simultâneo, assimétrico, inclina- ção, equilíbrio, rotações, movimentos locomotores, movimentos manipulativos e movimentos estabilizadores. 2. Equilíbrio: é a ação de permanecer ou se deslocar em uma super- fície delimitada contra a ação da gravidade, sendo resultado do movimento muscular em contração, no intuito de manter deter- minada posição ou postura. O equilíbrio pode ser estático (sem locomoção), e é solicitado em movimentos como: avião, ponte, vela e bandeira. Já o equilíbrio dinâmico (com locomoção) é solicitado em ações como saltar, correr, entre outros. Rotações: são elementos realizados pelo ginasta em torno dos eixos transversal ou longitudinal do corpo, com ou sem apoio no solo. Os pivôs, giros são realizados sobre o apoio nas pontas dos pés, podendo ser executados com a perna livre, em várias alturas, posições e amplitudes. Os rolamentos são – 223 – Gabarito exemplos de rotação em que o ginasta utiliza o solo como base para a execução do giro no eixo corporal. No caso da ginástica rítmica, as rotações precisam ser acompanhadas da manipula- ção de algum aparelho. 3. As fases da iniciação da ginástica apresentam algumas peculiari- dades: na fase pré-escolar, os estágios identificadossão o estágio inicial, o estágio elementar e o estágio maduro, que compreen- dem a faixa etária de dois a seis anos. Já na fase escolar, também identificada como movimentos especializados, a faixa etária compreende dos sete anos até a vida adulta. Assim, a aprendi- zagem é um processo caracterizado pela transformação progres- siva das capacidades dos indivíduos, que precisa acontecer por etapas de familiarização e iniciação (CAÇOLA, 2007). 4. É interessante que a aula tenha início com uma conversa, em que o professor deve recapitular as realizações da aula anterior, relacionando esses conhecimentos aos objetivos da aula. Em seguida, deve ser realizado o aquecimento e o alongamento inicial. O terceiro momento da aula contará com atividades posturais e rítmicas, contemplando poses variadas ao som da música escolhida pelo professor/treinador, incentivando a composição coreográfica. O quarto momento remete à prepa- ração física, sendo fruto de uma análise a longo prazo, sendo individualizada (bases e volantes). O quinto momento da aula remete à vivência de figuras acrobáticas, de equilíbrio e de dinâmicas, que devem ser ensinadas de acordo com as espe- cificidades dos ginastas, do técnico, do conteúdo, da fase de aprendizagem dos alunos e levando em consideração o grau de dificuldade do movimento. O sexto momento da aula é desti- nado à coreografia, que a princípio promove a criação coreo- gráfica das duplas, trios ou quartetos. Após essa construção, o próximo momento deve ser utilizado para treinar, aperfeiçoar, corrigir ou alterar as coreografias. Por fim, deve ser realizado o alongamento, que pode ser utilizado apenas para esse fim, ou ainda, para aumentar a flexibilidade, por meio da técnica de forças opostas (MERIDA, 2014). Ginástica – 224 – 5. O plano de aula precisa atender o previsto a seguir: Estrutura Descrição Público/Faixa etária Meninas (18 anos) Quantidade 8 alunas Objetivo Geral Objetivo central da aula, considerando a pro-posta de uma turma de iniciação esportiva. Metodologia Considerando o previsto nesse capítulo, a aula deve contar com alguns momentos (introdu- ção: apresentação do que vai ser trabalhado; desenvolvimento: momento de experimen- tação e prática; e conclusão: volta à calma e análise coletiva do que foi desenvolvido). Avaliação Deverá ser descrito como ocorrerá a verifica- ção de aprendizagem dos alunos, o que será considerado enquanto processo de avaliação. Recursos materiais Descrição de todos os materiais neces-sários para a realização da aula. Referências Indicação de todo o mate-rial que fundamentou a aula. O(a) acadêmico(a) poderá escolher o tema da sua aula, desde que ele seja coerente com o contexto da iniciação esportiva. 8. Preparação de ginastas: análise e técnicas de execução de práticas de aperfeiçoamento 1. O(a) acadêmico(a) pode escolher qualquer movimento da ginás- tica para realizar a atividade. Segue um exemplo: Rolamento para frente grupado: é iniciado em pé, com as per- nas unidas; em seguida elas são flexionadas, e as mãos devem ser apoiadas no solo, impulsionando o tronco com os pés e as pernas, rolando sobre as costas em posição grupada, finalizando em pé. O processo pedagógico pode seguir a seguinte sequên- – 225 – Gabarito cia: rolar (partindo do carrinho de mão, em duplas, em que um segura as pernas do outro, que se desloca para a frente com as mãos); rolar iniciando ajoelhado sobre um plano elevado (em cima de um colchão dobrado); rolar diretamente sobre o col- chão, finalizando em pé. Durante o movimento, a cabeça elevada deve ser ajustada; a ação correta do rolamento deve ser com o queixo encostado no peito – é interessante pedir ao aluno que coloque um papel ou lenço sob o queixo, segurando-o durante o movimento. Os joelhos afastados devem ser arrumados colocando-se um objeto leve entre eles. O corpo não grupado pode ser corrigido solicitando ao aluno que abrace as pernas e realize a balancinha (balanceio parecido com uma gangorra). 2. 1. Individualidade biológica: explica a diversidade existente entre os seres humanos e garante que cada pessoa é singular, biologicamente falando; a diferença tem origem no conjunto de características reveladas pelo genótipo (carga genética transmi- tida à pessoa até o nascimento) acrescidas pelo fenótipo (carac- terísticas adquiridas por meio da interação do indivíduo com o ambiente). 2. Adaptação: relaciona-se à capacidade de resposta do ginasta aos estímulos que recebe, possibilitando a construção de relações que garantem ao organismo contínuas adaptações a novas situações. O desempenho significativo é resultado de planejamento, em que o atleta tenta se adaptar às exigências do desporto; assim, quanto maior é o grau de adaptação, melhor é o desempenho. 3. Sobrecarga: estímulos que produzem desgas- tes no organismo e, após o término do trabalho, têm por obje- tivo restabelecer a homeostase; o tempo de recuperação é dire- tamente proporcional à intensidade do estímulo ou à carga de trabalho aplicada. 4. Interdependência (volume-intensidade): remete à relação entre duas variáveis do treinamento (volume e intensidade), indispensáveis para a evolução do processo de trei- namento. A sobrecarga é fundamental para o desenvolvimento do ginasta, resultante de um volume e de uma intensidade de trabalho, em que a predominância deve ser determinada pela Ginástica – 226 – periodização do treinamento. 5. Princípio da continuidade: explica a necessidade de sistematizar o treinamento, evitando interrupções no trabalho desenvolvido. Como o treinamento prevê aplicação progressiva de cargas de trabalho que deverão ser assimiladas pelo organismo, é necessário que haja conti- nuidade, para que tenha efeito. 6. Princípio da especificidade: explica a necessidade de planejamento do treino, obedecendo aos objetivos específicos da performance desportiva, contem- plando as qualidades físicas, o sistema energético dominante, a coordenação e o gesto técnico exigido para a modalidade. 3. Deve-se selecionar ginastas considerando seu genótipo e seu desenvolvimento no treinamento para otimizar o fenótipo, pois apenas o genótipo não é capaz de garantir performances excepcionais. Nesse contexto, os atletas de maior rendimento esportivo são aqueles que apresentam baixa estatura, baixo peso corporal e corpo relativamente forte, que permite maior proxi- midade com o centro de gravidade e a consequente execução de movimentos com maior facilidade. É necessário haver um treinamento efetivo, com metodologias que possibilitem a adap- tação orgânica para a garantia de resultados desportivos. 4. Preparação física: visa o desenvolvimento das qualidades físi- cas básicas do desporto, sendo de grande relevância no alto ren- dimento, evidenciando expressivos resultados em competições e qualificando as execuções; Preparação técnica: visa a reali- zação dos movimentos ginásticos com a máxima eficiência e o mínimo esforço. Para um ginasta atingir o êxito, é preciso que ele domine o gesto técnico, desempenhando de forma eficiente e virtuosa um exercício. Preparação tática: tem como foco a vitória nas competições, considerando as qualidades individu- ais dos ginastas e as condições das equipes adversárias. Prepa- ração intelectual e psicológica: ao considerar o atleta em sua integralidade, torna-se evidente a necessidade de contemplar algo além das preparações física, técnica e tática. O processo de treinamento é desgastante devido às horas de treino e tem como foco o aprimoramento do condicionamento nos âmbitos físico, – 227 – Gabarito técnico e tático, no entanto os resultados estão intimamente liga- dos às condições psicológicas e intelectuais). 5. O(a) acadêmico(a) terá liberdade para realizar essa atividade, e ela deverá contemplar alguns pontos. O primeiro deles é a esco- lha da periodização, na qual o aluno deverá optar pela simples: O primeiro período é o preparatório, constitui a fase mais extensa da periodização, tendo como focoo aumento dos níveis de possibilidades funcionais do organismo e das qualidades físi- cas necessárias ao desporto, desenvolvendo uma base desportiva sólida para a aquisição da forma competitiva. O segundo é o período competitivo, o momento da participação na competição principal, apresentando a forma desportiva alcançada e aperfei- çoando as qualidades físicas e técnicas de alta intensidade, cor- rigindo e controlando as possíveis falhas do ginasta. E o terceiro é o transitório, em que deve-se proporcionar recuperação física e mental dos ginastas após os esforços a que se submeteram durante a competição. Nessa fase, há uma perda inevitável de desempenho, uma vez que é necessário reduzir a intensidade e o volume do treinamento; no entanto, essa recuperação precisa ser ativa, para não diminuir completamente a condição física. As atividades a serem desenvolvidas durante a periodização devem ser condizentes com a modalidade solicitada e é escolha do(a) acadêmico(a). 9. Ginástica: formação e treinamento do ginasta e organização de eventos de competição 1. O treinamento de longo prazo, como o próprio nome já diz, é um processo que envolve o atleta durante anos e conta com três Ginástica – 228 – momentos, tendo como principal objetivo a formação gradual do atleta de alto rendimento, proporcionando estímulos à idade bio- lógica e respeitando as fases de desenvolvimento fisiológico e maturacional. Para que o atleta atinja a formação adequada para participar de competições internacionais, espera-se que ele tenha de 8 anos a 12 anos de treinamento, com o desenvolvimento de uma base motora e de seus fundamentos desde a infância. Essa capacitação precisa ser estruturada e sistematizada, levando em consideração as exigências individuais, seu estágio de desen- volvimento e as exigências da modalidade esportiva, garantindo o rendimento de alto nível. Essa prática deve ser amplamente utilizada na ginástica, considerando as especificidades biológi- cas do atleta, a fim de garantir o seu pleno desenvolvimento e, garantindo a descoberta de talentos, elaboração de treinamentos e garantia de resultados, o que é essencial, uma vez que os atle- tas da ginástica atingem a etapa profissional antes em compara- ção aos atletas de outras modalidades. 2. Os aspectos negativos são, na maioria das vezes, de ordem física e/ou psicológica, como aumento do risco de lesões por sobre- carga em crianças em fase de desenvolvimento, altos níveis de estresse, possível atraso na menarca, risco de distúrbios ali- mentares, risco de manipulação abusiva de adultos, isolamento social, síndromes de burnout e dropout, entre outros. Os atletas de esportes estéticos tendem a uma especialização antecipada, como na ginástica artística feminina, com alto risco de sofrerem distúrbios alimentares. 3. O(a) acadêmico(a) poderá escolher o atleta e dissertar sobre ele considerando o seu perfil corporal, sua vivência com relação ao treinamento, sua compatibilidade quanto à modalidade que vivencia, bem como seu percurso profissional no esporte de alto rendimento. 4. A profissionalização do treinador brasileiro já é uma realidade, sendo necessário bacharelado em Educação Física, que habilita o profissional para atuar na área da iniciação esportiva até o trei- namento de alto rendimento. O graduado deve se especializar – 229 – Gabarito ou se habilitar em treinamento esportivo. Para atuar em compe- tições oficiais nos diferentes níveis esportivos, é necessário ter registro no conselho profissional e filiação nas federações e nas confederações correspondentes à modalidade. 5. As principais competições que reúnem os ginastas de todo o mundo são: os Jogos Olímpicos, de quatro em quatro anos; o Campeonato Mundial, desde 1999 anualmente, exceto nos anos olímpicos; e a Copa do Mundo, realizada por temporada, divi- dida em etapas e durante todo o ano, com final que concede o direito de disputar os Jogos Olímpicos. 10. Ginástica não competitiva e ginástica de academia: fundamentos e tendências ao longo da história 1. O(a) acadêmico(a) realizará sua definição sobre a ginástica não competitiva e poderá se pautar na sua presença no espaço e expressão no âmbito das práticas corporais, capaz de proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de se movimentar sem necessa- riamente participar de competições. São inúmeras as motivações que levam os indivíduos à prática de ginásticas não competitivas: socialização, manutenção de saúde corporal, estética ou outras. 2. A ginástica para todos (GPT) já foi chamada de ginástica geral e apresenta a liberdade como principal característica, opondo-se a outras manifestações altamente competitivas. Isso significa que o praticante pode ter qualquer idade, optar ou não pelo uso de aparelhos, vestimentas ou estilo musical. Não há um consenso na literatura quanto a sua classificação; para alguns, trata-se de uma atividade; para outros, modalidade; e há aqueles que afirmam que é uma manifestação da cultura corporal. Gymnaestrada é o maior festival de ginástica do mundo, em que grupos se reúnem para apresentar várias manifestações da ginástica. Não há com- petições, o que remete à ideia de uma grande confraternização. O nome se refere ao caminho da ginástica. Ginástica – 230 – 3. O jump consiste em um exercício aeróbico praticado em um minitrampolim, no qual são feitos movimentos diversificados e de várias intensidades, existindo a possibilidade de realizar core- ografias. A prática auxilia no equilíbrio corpóreo, promove dre- nagem linfática, contribui para eliminação de toxinas, melhora a capacidade cardiovascular, proporciona alto gasto calórico, tra- balha a coordenação motora e o equilíbrio, fortalece músculos inferiores e tonifica o abdome. 4. Idealizado por Joseph Pilates, ex-ginasta que, utilizando sua bagagem de conhecimentos, propôs a utilização de ginástica e acrobacias que deram origem à contrologia, que depois ficou conhecida como método Pilates. Essa modalidade consiste em coordenar de forma completa o corpo, em conexão com a mente e o espírito, proporcionando o controle total por meio da repetição apropriada de forma progressiva e gradual. O pilates pode ser praticado por todas as pessoas – adultos, gestantes, idosos, portadores de doenças crônicas, e traz inúmeros bene- fícios aos praticantes. Referências Ginástica – 232 – AGOSTINI, B. R; NOVIKOVA, L. A. Ginástica rítmica: do contexto edu- cacional à iniciação ao alto rendimento. Várzea Paulista: Fontoura, 2015. ALMEIDA, A. Ginástica acrobática: iniciação na escola e no clube. Revista Horizonte, Portugal, v. 11, n. 62, 1994. ANDRADE FILHO, C. A. de. O discurso do profissional de ginástica em academia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gama, 1998. AYALA, D. J. P. O circo vai à escola: possibilidades de utilizar atividades circenses nas aulas de educação física escolar. 2008. Monografia (Licencia- tura em Educação Física), Universidade de Ponta Porã, Ponta Porã, 2008. AYOUB, E. A ginástica geral no contexto escolar. In: FÓRUM INTER- NACIONAL DE GINÁSTICA, 1., 2001, Campinas. Anais... Campinas: Sesc/Faculdade de Educação Física/ UNICAMP, 2001. AYOUB, E. Ginástica geral e educação física escolar. Campinas: Uni- camp, 2003. AYOUB, E. Ginástica geral: um fenômeno sociocultural em expansão no Brasil. In: ENCONTRO DE GINÁSTICA GERAL, 2012, Campinas. Coletânea: textos e sínteses. Campinas: Editora da Unicamp, 2012. BADILLO, J. J. Concepto y Medida de la Fuerza Explosiva en el Deporte. Posibles Aplicaciones al entrenamiento. Entrenamiento Deportivo, Tomo XIV, n. 1, p. 5-15, 2000. BALBINO, H. F; PAES, R. R A pedagogia do esporte e os jogos coletivos. In: DE ROSE JR, D. et al. (org.). Esporte e atividade física na infân- cia e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2007. BATISTA, N. S. O tecido circense como manifestação da cultura cor- poral: fundamentos técnicos e metodológicos. Monografia. Universidade Estadual de Maringá, 2003.BAXTER-JONES, A.D.; MAFFULLI, N.; TOYA STUDY GROUP. Paren- tal influence on sport participation in elite Young athletes. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v.43, n.2, p. 250- 255, 2003. – 233 – Referências BERTONI, M. R.; PEREIRA, A. M.; PALMA, Â. T. P. V. O contexto histórico: a gênese da ginástica e a consolidação da educação física. Laboratório de Pesquisa em Educação Física, Universidade Estadual de Londrina, [2012]. BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 1, n. 1, p. 73-81, 2002. BOBO, M.; SIERRA, E. Ximnasia Rítmica Deportiva: adestramento e competición. Santiago de Compostela: Lea, 1998. BOMPA, T. O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4.ed. São Paulo: Phorte Editora, 2000. BOMPA, T. O. Treinamento total para jovens campeões. São Paulo: Manole, 2002. BORTOLETO, M. A. C.; MACHADO, G. A. Reflexões sobre o Circo e a Educação Física. Revista Corpoconciência, Santo André, n. 12, jul- -dez. 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC/SEB, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br. Acesso em: 22 abr. 2020. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curricula- res Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental (Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais). Brasília: MEC/SEF, 1998. BROCHADO, F. A.; BROCHADO, M. M. V. Fundamentos de ginástica artística e de trampolins. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. CAÇOLA, P. A iniciação esportiva na ginástica rítmica. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 2, n. 1, p. 9-15, mar. 2007. CAETANO, A. P. F. et al. Vivenciando ginástica: analisando as preferên- cias gímnicas na disciplina ginástica geral do curso de educação física da Universidade Federal do Ceará. Conexões: revista da Faculdade de Edu- cação Física da UNICAMP, v. 13, n. especial, p. 197-210, 2015. Ginástica – 234 – CAFRUNI, C.; MARQUES, A.; GAYA, A. Análise da carreira despor- tiva de atletas das regiões sul e sudeste do Brasil. Estudo dos resultados desportivos nas etapas de formação. Revista do Porto em Ciências do Desporto, v.6, n.1, p. 55- 64, 2006. CALÇA, D. H.; BORTOLETO, M. A. C. La tela circense. Revista Zinko- lika, Barcelona, v. 11, p. 23-24, 2006. CANALDA, A. Gimnasia Rítmica Deportiva: teoría y práctica. Barce- lona: Paidotribo, 1998. CAPINUSSÚ, J. M. Academias de ginástica e condicionamento físico: origens. In: DA COSTA, L. (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Confef, 2006. CASTRO, A. V. de. O elogio da bobagem. Rio de Janeiro: Alice de Cas- tro, 2005. CERRI, A. S.; SIMÕES, R. Hidroginástica e idosos: por que eles prati- cam? Movimento, Porto Alegre, v. 13, n. 01, p. 81-92, jan./abr. 2007. COLETIVO de autores. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA – CBG. Ginástica para todos, c2020. Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/ ginastica-para-todos. Acesso em: 30 abr. 2020. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. Código de pontu- ação da federação internacional de ginástica. Tradução em Português, [s.l.], 2005. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. Regulamento geral, 2018. Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/regulamen- togeral Acesso em: 2 ago. 2020.COOPER, K. The New Aerobics. New York: M. Evans and Company, 1970. CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – Confef. Ginástica laboral: intervenção exclusiva do profissional de educação física. Revista Confef, n. 23, p. 12-14, mar. 2007. COOPER, K. H. Capacidade aeróbica. Rio de Janeiro: Fórum, 1972. – 235 – Referências DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 4. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2006. DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 1985. DARIDO, S. C.; FARINHA, F.K. Especialização precoce na natação e seus efeitos na idade adulta. Motriz, Rio Claro, v. 1, n. 1,p. 59-70, jun.1995. DARIDO, S.; NETO L. S. S. O Contexto da Educação Física na Escola. In: DARIDO S. C. E RANGEL I. C. A (Coord). Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 01-24, 2005. DELGADO, L. de A. Fundamentos metodológicos da ginástica. Barra do Corda, 2012. DESIDERIO, A. Corpos Suspensos – o tecido circense como possibi- lidade para a educação física escolar. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. DODÔ, A. M.; REIS, L. N. Século XIX e o movimento ginástico euro- peu: o processo de sistematização da ginástica. EFDeportes.com, Buenos Aires, ano 18, n. 190, mar. 2014. DORNELLES, P. G. Distintos destinos: a separação entre meninos e meninas na educação física escolar na perspectiva de gênero. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. DUARTE, O. A história dos esportes. 4. ed. São Paulo: Editora Senae, 2004. DUPRAT, R. M.; BORTOLETO, M. A. C. Educação física escolar: pedago- gia e didática das atividades circenses. RBCE, v. 29, n. 2, p. 171-189, 2007. FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA (FIG). About Artis- tic Gymnastics: What everyone should know!. FIG press information kit, set. 2013. Disponível em: Acesso: 20 jan. 2020. FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA (FIG). Estatutos: edição 2015. nov., 2014. Ginástica – 236 – FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA. Ginástica artística. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/disci- plines/pres-mag.php. Acesso em: 26 jul. 2020. FEDERATION INTERNACIONALE DE GYMNASTIQUE. Acrobatic Gymnastics. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/ disciplines/hist-acro.php. Acesso em: 21 jul. 2020a. FEDERATION INTERNACIONALE DE GYMNASTIQUE. Aerobic Gymnastics. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/ disciplines/pres-aer.php. Acesso em: 21 jul. 2020b. FEDERATION INTERNACIONALE DE GYMNASTIQUE. Trampolin Gymnastics. Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/pages/ disciplines/ele-dmt.php. Acesso em 21 jul. 2020c. FERREIRA FILHO, R. A. F.; NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M.H.C. Ginástica artística e estatura:mitos e verdades na sociedade bra- sileira. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 5, n. 2, p. 21-31, 2006. FERREIRA, O. G. L. et al. Envelhecimento ativo e sua relação com a independência funcional. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 513-518, jul.-set 2012. FIORIN, C. M. A ginástica em Campinas: suas formas de expressão da década de 20 à década de 70. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002. FLECK, S. J. KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. Porto Alegre: Artmed, 1999. FONSECA, D. A. R. O treino desportivo como fator de desenvolvimento motor. EFDeportes, Buenos Aires, ano15, n. 154, marzo 2011. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd154/o-treino-desportivo-como- -desenvolvimento-motor.htm. Acesso em: 5 maio 2020. FORTALEZA, A. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planeja- mento. São Paulo: Phorte, 2001. – 237 – Referências FRASSON F.; LABURÚ C. E.; ZOMPERO A. de F. Aprendizagem sig- nificativa conceitual, procedimental e atitudinal: uma releitura da teoria Ausubeliana. Revista Contexto & Educação, 34(108), p. 303-318, 2019. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoe- ducacao/article/view/8840. Acesso em: 26 jul. 2020. GAIO, R. Ginástica Rítmica Popular: uma proposta educacional. Jun- diaí: Fontoura, 2007. GALLARDO, J. S. P. Proposta de uma linha de Ginástica para a Edu- cação Física Escolar. In: NISTA-PICOLLO, V. L. (Org.). Educação Física Escolar: ser... ou não ter? Campinas: Editor Unicamp, 1993. p. 117-136. GINÁSTICA artística. In: DICIONÁRIO olímpico. Disponível em: http://www.dicionarioolimpico.com.br/ginastica-artistica. Acesso em: 23 jul. 2020. GOMES, A. C. Treinamentodesportivo: meios e métodos de treinamento. Londrina: Editora Treinamento Desportivo, 1999. GRECO, P.; BENDA, R. Iniciação esportiva universal. Da aprendizagem motora ao treinamento técnico. 1. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. GROSSL, T. et al. Determinação da intensidade da aula de Power Jump por meio da Freqüência Cardíaca. Revista Brasileira de Cineantropo- metria e Desempenho Humano, v. 10, p. 129-136, 2008. GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Exercício físico na promoção da saúde. Londrina: Mediograf, 1995. GUERRIERO, S. O Movimento Hare Krishna no Brasil: uma interpre- tação da cultura védica na sociedade ocidental. Revista de Estudos da Religião, n. 1, p. 44-56, 2001. Disponível em: https://www.pucsp.br/ rever/rv1_2001/p_guerri.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020. GUIMARÃES, J. M. N.; CALDAS, C. P. A influência da atividade física nos quadros depressivos de pessoas idosas: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 9, n. 4, p. 481-92, 2006. GUISELINI, M.; BARBANTI, V. Exercícios aeróbicos: mitos e verda- des. São Paulo: CLR Balieiro, 1985. Ginástica – 238 – GUISELINI, M.; BARBANTI, V. J. Fitness: manual do instrutor. São Paulo: Clr Balieiro, 1993. HERTOGH, C. et al. Méthodes de mesure et valeurs de référence de la puissance maximale développée lors d’efforts explosifs. Cinesiologie, v. XXXIII, n. 157, p. 133-140, 1994. HYPÓLITO, D. Não existe vitória sem sacrifício: da depressão severa à medalha olímpica, a trajetória de superação do mais vitorioso ginasta brasileiro. São Paulo: Benvirá, 2019. JAYANTHI, N. et al. Sport Specialization in young athletes: Evidence-Based recommendations. Sports Health, v. 5, n. 3, p. 251-257, may/june 2013. KATCH, V. L. et al. Fundamentos da fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2005. KRAHENBUHL, G. S., MARTIN, S. L. Adolescent body size and flexi- bility. Rese. Ouart, v. 48, n. 4, p. 797-799, 1977. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Edi- tora Unijuí, 1994. LAFFRANCHI, B. Planejamento, aplicação e controle da preparação técnica da ginástica rítmica – Análise do rendimento técnico alcançado nas temporadas de competição. Tese (Doutorado) – Universidade do Porto, Faculdade de Ciências do Desporto da Educação Física, Porto, Portugal, 2005. Disponível em: https://cifi2d.fade.up.pt/files/barbara-laffranchi.pdf. Acesso em: 2 maio 2020. LAFFRANCHI, B. Treinamento desportivo aplicado à ginástica rít- mica. Londrina: Unopar, 2001. LEBRE, E. A técnica corporal em ginástica rítmica desportiva. Lição de síntese das Provas de Agregação para o 5º Grupo. Porto: Faculdade de Ciên- cias do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, 1997. LISITSKAYA, T. S. Gimnasia rítmica: deporte & entrenamiento. Barce- lona: Editorial Paidotribo, 1995. LLOBET, A. C. Gimnasia rítmica deportiva: teoría y práctica. Barce- lona: Pardotribo, 1998. – 239 – Referências MACIEL, Álvaro Campos Cavalcanti; CÂMARA, S. M. A. Influên- cia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) associada ao alongamento muscular no ganho de flexibilidade. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 12, n. 5, 2008. MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2005. MALINA, R. Early Sport Specialization: roots, effectiveness, risks. Cur- rent Sports Medicine Reports, v .9, n. 6, p. 364-371, nov./dez., 2010. MARINHO, I. P. Sistemas e métodos de educação física. 6 ed. São Paulo: Brasipal, 1981. MARINHO, I. P. História geral da Educação Física. 2. ed. São Paulo: CIA Brasil, 1980. MAZO, J. Z.; LYRA, V. B. Nos rastros da memória de um “Mestre de Ginástica”. Motriz, Rio Claro, v. 16, n. 4, p. 967-976, out./dez. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/motriz/v16n4/a17v16n4.pdf. Acesso em: 2 maio 2020. MERIDA F. V; TOLEDO, E. Ensinando a ginástica de trampolim. In. PICCOLO, V. N.; TOLEDO, E. Abordagens pedagógicas do esporte – Modalidades convencionais e não convencionais. São Paulo: Papirus, 2014. p. 164-209. MERIDA, F. Fundamentos da ginástica acrobática. In: NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. (Org.) Fundamentos das ginásticas. Jun- diaí: Fontoura, 2009. p. 17399. MERIDA, F. V. Ginástica acrobática: uma análise da proposta pedagó- gica. In: PICCOLO, V. N.; TOLEDO, E. Abordagens pedagógicas do esporte – Modalidades convencionais e não convencionais. São Paulo: Papirus, 2014. p. 60-107. MERIDA, F. V. Reflexões sobre a pedagogia da ginástica acrobática. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2008. Ginástica – 240 – MONTEIRO, S. Quantificação e classificação das cargas de treino em ginástica rítmica: estudo de caso: preparação para o campeonato do mundo de Osaka1999 da seleção nacional de conjuntos sênior. Dissertação (Mestrado em Ciência do Desporto) – Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, Porto, 2000. MORENO, G. 1000 jogos: condicionamento físico. Rio de Janeiro: Sprint, 2002. NOBRE, L. (Re)Projetando a academia de ginástica. Garulhos: Phorte, 1999. NUNOMURA, M.; OLIVEIRA, M. dos S. de. Detecção e seleção de talentos na ginástica artística feminina: a perspectiva dos técnicos brasileiros. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 36, n. 2, p. 311-325, 2014. NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. (Org.). Fundamentos das ginásticas. Jundiaí: Fontoura, 2009. NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos da ginástica artística. In: NUNOMURA, M.; PICCOLO, V. L. (Org.). Compreen- dendo a ginástica artística. São Paulo: Phorte, 2005, p. 37-58. OLBRECHT, J. The science of winning: planning, periodizing and optimizing swim training. London: SwimShop, 2000. OLIVEIRA, C. E. P. et al. Efeito de oito semanas de treinamento de ginástica localizada sobre a composição corporal de mulheres sedentárias. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 21, n. 3, p. 135-141, 2013. OLIVEIRA, J. R. G. A prática da ginástica laboral. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006. OLIVEIRA, M. S.; NUNOMURA, M. A produção histórica em ginástica e a constituição desse campo de conhecimento na atualidade. Conexões, v. 10, n. especial, p. 80-97, 2012. OLIVEIRA, N. R. C. de. Ginástica para todos: perspectivas no contexto do lazer. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 6, n. 1, p. 27-53, 2007. PALLÁRES, Z. Ginástica rítmica. Porto Alegre: Prodil, 1983. – 241 – Referências PAOLIELLO, E.; TOLEDO, E. (Org.). Possibilidades da ginástica rít- mica. São Paulo: Phorte, 2010. PARANÁ. Secretaria da Educação. Ginástica de trampolim. Disponí- vel em: http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/con- teudo.php?conteudo=165. Acesso em: 21 jul. 2020. PEUKER, I. Ginástica moderna sem aparelhos. Botafogo: Forum, 1973. PICCOLO V. N.; SCHIAVON, L. M. A ginástica artística como proposta educacional. In: PICCOLO, V. N.; TOLEDO, E. Abordagens pedagógi- cas do esporte – Modalidades convencionais e não convencionais. São Paulo: Papirus, 2014. p.136-163. PICCOLO, V. L. A educação motora na escola: uma proposta metodoló- gica à luz da experiência vivida. In: DE MARCO, A. (Org.). Pensando a educação motora. Campinas: Papirus, 1995, p. 113-120. QUERUBIN, M. O marketing do circo. Mogi das Cruzes: Oriom, 2003. RIBEIRO, E. Conheça os Vedas, os textos mais sagrados da Índia e o mais antigo registro literário da humanidade. Revista Mandala, 28 jul. 2017. Disponível em: https://revistamandala.com.br/conheca-os-vedas- -os-textos-mais-sagrados-da-india-e-o-mais-antigo-registro-literario-da- -humanidade. Acesso em: 22 jun. 2020. SAMPAIO, G. B. da S. Formação de treinadores de ginástica rítmica: perspectivas de aprendizagem ao longo da vida. Dissertação (Pós-gradua- ção em Educação Física) – Universidade Federal de Santa Catarina, Flo- rianópolis, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/han- dle/123456789/180562/348886.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 1º abr. 2020. SANTOS, J. C. E. dos. Ginástica geral: elaboração de coreografiasorga- nização de festivais. Jundiaí: Fontoura, 2001. SANTOS, L. R. G. dos. Hidrofitness. Rio de Janeiro: Sprint, 1998. SAUR, E. Ginástica rítmica escolar. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1980. SEYBOLD, A. Educação Física princípios pedagógicos. Rio de Janeiro: Ed. Ao Livro Técnico, 1994. Ginástica – 242 – SILVA, I. de O. I. Introdução à educação física. Indaial: Uniasselvi, 2015. SILVA, P. A. da. Jogos Poliesportivos, 2000 exercícios. Rio de Janeiro: Sprint, 2002. SMOLEVSKIY, V.; GAVERDOVSKIY, I. Tratado general de gimnasia artística deportiva. Barcelona: Paidotribo, 1996. SOLER, P. Ginástica de solo: a composição livre. Ligações – combina- ções. São Paulo: Manole, 1982. SOUZA, E. P. M. de; AYOUB, E. (ed.). In: FÓRUM BRASILEIRO DE GINÁSTICA GERAL, 2001, Campinas. Anais... Campinas: Unicamp/ Sesc, 2012. STANQUEVISCH, P. Possibilidades do corpo na ginástica geral a par- tir do discurso dos envolvidos. 2004. (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2004. TANI, G. et al. Educação Física escolar: fundamentos de uma abor- dagem desenvolvimentista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. TESCHE, L. A prática do turnen entre os imigrantes alemães e seus descendentes no RS: 1867-1942. Ijuí: Editora da Unijuí, 1996. TIBANA, R. A.; ALMEIDA, L. M.; PRESTES, J. Crossfit® riscos ou benefícios? O que sabemos até o momento? Revista Brasileira de Ciên- cia e Movimento, v. 23, n. 1, p. 182-185, 2015. TOLEDO, E. A ginástica geral e a pedagogia da autonomia. In: FORUM INTERNACIONAL DE GINÁSTICA GERAL, 1; 2001; Campinas. Anais... Campinas: Sesc e Faculdade de Educação Física da Unicamp: 2005. p. 737. TOLEDO, E. Aspectos pedagógicos do ensino da ginástica rítmica e os princípios da pedagogia da autonomia. In: PICCOLO, V. N.; TOLEDO, E. Abordagens pedagógicas do esporte – Modalidades convencionais e não convencionais. São Paulo: Papirus, 2014. – 243 – Referências TOLEDO, E. Fundamentos da ginástica rítmica. In: NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginásticas. Jundiaí: Fon- toura, 2009. p.143-172. TRICOLI, V. A. A.; SERRÃO, J. C. Aspectos científicos do treinamento esportivo aplicado à ginástica artística. In: NUNOMURA, M.; NISTA- -PICCOLO, V. N. Compreendendo a ginástica artística. São Paulo: Phorte, 2005. p.143-152. TRINDADE, E.; ANDRADE, M. LER/Dort: Rotina Dolorosa. Revista ABO Nacional, v. 11, n. 2, p. 72-75, abr./mai. 2003. TSUKAMOTO, M. H. C.; CARRARA, P.; NUNOMURA, M. Ginástica Artís- tica. In: BÖHME, M. T. S. (Org.). Esporte infantojuvenil: treinamento a longo prazo e talento esportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2011. p. 415- 431. TUBINO, M. J. G. As dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez, 1992. TUBINO, M. J. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural, 1984. VELARDI, M. Ginástica rítmica: a necessidade de novos modelos peda- gógicos. In: PICCOLO, V. L. N. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999. VELARDI, M. Metodologia de ensino em Educação Física: Contribui- ções de Vygotsky para as reflexões sobre um modelo pedagógico. Dis- sertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997. WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil ejuvenil. São Paulo: Manole, 1999. WIESER, L; LEITE, L. Educação Física – Pioneiros do RS: Georg Black. In: MAZO, J.; REPPOLD, A. Atlas do Esporte no Rio Grande do Sul: atlas do esporte, educação física e atividades de saúde e lazer. Porto Ale- gre: CREF2/RS, 2005. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. A presente obra foi elaborada tendo como base o pensamento da democrati- zação do saber de forma inclusiva, crítica e significativa, pois ela apresenta o conhecimento sistematizado referente à Ginástica, sua história, modalidades, estilos, regras, fundamentos, regulamentos e principais atletas. E não para por aí. Esse livro aborda metodologias de ensino das modalidades gímnicas, abarcando desde a iniciação esportiva até o treinamento desportivo e os códigos de regulamentação de cada modalidade. A obra conta ainda com perspectivas relacionadas aos métodos de treinamento das ginásticas, bem como a especialização precoce, seus limites e possibilidades na formação do atleta. Além disso, ainda é possível verificar os conhecimentos relacionados às ginásticas não competitivas e suas especificidades. O livro apresenta uma leitura clara, objetiva e contextualizada, com imagens ilustrativas que facilitam a compreensão do estudante. Por fim, estão disponíveis atividades que priorizam a aplicação dos conhecimentos abordados de forma prática.