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2 1 Texto Complementar_Metodologia_do_Estudo_Unidade_2

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A Educação face os desafios do mundo contemporâneo 
Gilberto Teixeira (Prof. Doutor FEA/USP) 
 
O mundo atual marcado pela aceleração das transformações e dos 
conhecimentos, pela expansão da tecnologia dos meios de comunicação, pela 
contestação dos valores estabelecidos, pela explosão demográfica, é, inevitavelmente, 
um mundo com novas exigências educativas. 
Todo projeto educativo, sendo situado no tempo e no espaço implica em um 
certa sociedade que supõe uma visão do mundo em função do qual deverá ser realizado. 
Por compreender a educação inserida num processo histórico e social, iremos, 
inicialmente, analisar alguns dos fenômenos atuais e sua relação com a tarefa educativa. 
 
A ACELERAÇÃO DAS TRANSFORMAÇÕES 
 
Que o mundo está em transformação constante não é novidade. A História aí 
está para testemunhá-lo. A única cousa de novidade atualmente é a aceleração do ritmo 
dessas transformações. 
Realmente o mundo nunca parou de evoluir, mas esta evolução se dava de tal 
maneira que o indivíduo, com algum esforço, muitas vezes, conseguia acompanhá-la. 
Hoje as coisas não se dão bem assim: de 10 em 10 anos (ou até de 5 em 5) o homem vê 
mudar completamente o universo físico e sócio-cultural em que as encontra e sente 
dificuldade em situar-se, daí decorrendo entraves na comunicação entre as gerações, 
desajustamentos familiares, profissionais, educacionais, de toda ordem. 
Nada houve até aqui comparável ao que se convencionou chamar de "revolução 
científica", que invadiu o mundo com a transmissão automática de informações a 
distância e com a invenção do computador. A comunicação e a cibernética atingem o 
homem em toda parte: ele se move num contexto realmente universal. 
Os sistemas educacionais revelaram-se insatisfatórios: um sistema construído 
para a formação de uma elite de intelectuais, que podiam em certo número de anos 
"aprender" todo o saber necessário à vida de seu tempo, tornou-se insuficiente para 
uma civilização cuja característica marcante é a mudança. 
Apesar dos esforços para superar esse hiato, as escolas ainda continuam a 
formar indivíduos pouco adaptáveis às mudanças constantes. O resultado é a rejeição, 
freqüentemente, de seus produtos pela sociedade. Dessa crise deverá nascer uma nova 
perspectiva da educação. 
Já se disse a este respeito com muita propriedade que "o universo da educação 
atual se ressente das dores desse parto(1) do qual deverá emergir uma nova concepção 
educativa. 
Reforçando essa posição afirma Lengrand(2) que: 
"Seja qual for a importância atribuída a cada um dos elementos de nosso destino em 
formação, todos têm em comum o fato de levantarem à educação e aos educadores 
questões e exigências cuja vastidão e diversidade fazem estremecer o edifício 
tradicional das idéias e dos métodos pedagógicos". 
As técnicas e as estruturas que as gerações sucessivas tinham aperfeiçoado para 
transmitir os conhecimentos e as capacidades próprias de cada sociedade, dos mais 
velhos aos mais novos, dos pais aos filhos, estão, em grande parte, a deixar de ser 
eficazes, a tal ponto que o próprio papel e as funções tradicionais da ação educativa são 
objeto de avaliações e exames críticos, e que a educação se acha, cada vez, obrigada a 
procurar novas vias" 
A evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos tem levado a uma 
"corrida para atualização", forçada pela necessidade de acompanhar o progresso. A 
tendência que já se pode constatar em muitos países é ampliar a chamada educação 
não formal no âmbito profissional, realizando cursos de aperfeiçoamento, treinamento 
intensivo nas empresas, reciclagem dos profissionais, e, no âmbito. 
A chamada "contestação" penetrou nos domínios da Educação e tem levado a 
críticas e reivindicações quanto a conteúdos, métodos de ensino, participação do aluno 
na gestão dos estabelecimentos, catalização do movimento de reforma social pela 
instituição universitária, etc. 
Até a apatia dos estudantes, consequência da defasagem entre o tipo de ensino 
ministrado e as realidades do mundo, pode ser considerada uma forma de criticar o 
sistema. 
A crise manifesta-se também no terreno dos costumes e das relações 
interpessoais. No passado, o homem sabia o que se esperava dele e o sistema 
educacional procurava atender a essa expectativa. Havia modelos a seguir, papéis bem 
delineados a desempenhar. 
As relações entre as pessoas eram razoavelmente codificadas e a tradição tinha 
enorme força. 
Tudo isso hoje foi modificado profundamente. As relações familiares, por 
exemplo, sofreram tão grandes transformações que os pais sentem maior dificuldade 
em dialogar com seus filhos, em educá-los. 
Um fato novo também a que estamos assistindo é da coexistência de várias 
gerações: antes uma substituía a outra, hoje coexistem. 
O aumento da média de vida decorrente do avanço da pesquisa em medicina e 
as conquistas da legislação social (semana de 5 dias, férias remuneradas, etc.) têm 
trazido como consequência a redução no tempo dedicado ao trabalho e conseqüente 
aumento do tempo livre, o que nos centros urbanos dos países pobres tem sido 
aproveitado para um segundo ou terceiro emprego a fim de fazer face ao custo de vida 
e aos encargos familiares. 
A ocupação valiosa dos tempos de lazer passará a ser uma preocupação 
crescente entre os educadores. A tendência é terminar com a dicotomia entre o trabalho 
e lazer, educação e trabalho, transformando "todos os tempos em tempos para 
educação, todos os lugares para educação (6). 
Com a diminuição das barreiras antes apresentadas pelas concepções religiosas 
e éticas, assistimos ao fato de uma exaltação da sexualidade em nossos dias através de 
publicações, anúncios, música popular, programas de televisão, fato que tem tido 
grande influência na maneira de pensar das gerações mais novas. Constitui, para 
educadores, uma oportunidade para a formação do homem em toda sua dimensão, o 
que foi negado à geração nos currículos escolares. 
Segundo Furter há uma supervalorização do jovem na sociedade atual, o que tem 
contribuído para a marginalização do velho e para uma certa vergonha em parecer 
velho. Este fato acentua-se em países como por exemplo o Brasil, em que a maioria da 
população tem menos de 24 anos (7). 
 
A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA 
 
A rápida expansão da população tem sido estudada por sociólogos, economistas, 
psicólogos, educadores e por todos aqueles que estão seriamente preocupados em 
como ficará superpovoado planeta daqui a alguns anos. Prevê-se que no ano 2000 a 
população da Terra chegue a 6,5 bilhões: 4 vezes mais que no início deste século. O 
correio da Unesco, em número especial dedicado no Ano Mundial da população, alertou 
para as consequências (a principal referente à escassez de alimentos) de o crescimento 
demográfico continuar ao mesmo ritmo. 
O aumento populacional, associado ao índice crescente de aspiração dos 
indivíduos tem trazido como resultado o aumento de matrícula em todos os níveis de 
ensino e maior duração dos estudos, embora a evasão escolar continue a se verificar 
entre os alunos provenientes das classes menos favorecidas. 
O Relatório "Aprender a Ser" afirma também que, baseado na taxa de 
crescimento demográfico e na taxa de escolarização verificadas no Último decênio em 
1980, teríamos atingido em todo o mundo cerca de 230 milhões de crianças (5 a14 anos) 
fora das escolas. Prevê-se para a mesma época, 820 milhões de adultos analfabetos e 
uma taxa mundial de analfabetismo de 29% (10). 
Mas, apesar dos imensos esforços despendidos pelas nações e do aumento das 
despesas com a educação, tem-se verificado mesmo nos países desenvolvidos, a 
impossibilidade de se cumprir totalmente o preceito da escolaridade obrigatória. 
Diante desse fato a Comissão responsável pelo aludido relatório pergunta se 
para assegurar o investimento em educação não seria bom incrementar ao lado do 
desenvolvimento e aperfeiçoamento da instituição escolar,outras formas nascentes de 
educação de adultos, educação pré-escolar, uso de novos instrumentos de tecnologia 
educativa (11). 
A insistência em querer escolarizar todo o mundo mostra a sobrevivência da 
ideia de que a educação só pode ser dada na escola e numa idade específica, o que 
contradiz a concepção de educação que se está pretendendo desenvolver: a de uma 
educação para todas as idades, não somente dada nas escolas, mas também por todos 
os setores a quem caiba uma função educativa, disseminada na sociedade em que o 
homem "respira cultura"; uma educação que prepare o indivíduo para enfrentar um 
mundo em constante mudança, capaz de desempenhar as novas funções que a 
sociedade moderna está a requerer, capaz de interagir no campo profissional e social, 
dialogando com as diferentes gerações, entendendo sua linguagem; uma educação que 
seja auto-educação assumida pelo indivíduo que saberá utilizar os meios postos à sua 
disposição para um aperfeiçoamento contínuo e aproveitar o lazer para enriquecer-se 
culturalmente; uma educação que contribua para o desenvolvimento dos povos 
tornando o homem mais feliz, porque mais realizado. 
 
A NECESSIDADE DE MUDANÇAS 
 
Um dos imperativos que impelem as universidade no mundo todo, no rumo da 
revisão curricular é a correção do que se considera um desequilíbrio: a atual superênfase 
no preparo vocacional e profissional no treinamento dos estudantes. Muito se tem 
discutido a esse respeito, em quase todos os países do mundo sendo aceita como 
verdadeira a afirmação que estudantes universitários têm sido instruídos em 
conhecimentos especializados num grau muito intensivo. E essa situação decorre da 
rápida diversificação e sofisticação do estado dos conhecimentos e da tendência, 
inevitavelmente aliada, dos conhecimentos do corpo docente também se tornar 
diversificado e sofisticado. 
Pelo menos três conseqüências negativas para os estudantes tornaram-se 
evidentes ultimamente. A primeira delas é que elas tendem crescentemente a uma 
carência de domínio de um núcleo geral de conhecimentos básicos; em parte, porque 
são encorajados muito cedo a especializar-se, em parte porque têm diminuído o 
interesse e a competência do corpo docente no ensino dos conhecimentos básicos. Em 
segundo lugar porque os estudantes universitários também estão sendo preparados 
para o estado mais avançado de seu campo especializado de instrução; mas a rapidez 
da evolução dos conhecimentos é tão grande que aquilo que eles aprendem de modo 
tão completo nas fases finais de seus cursos torna-se obsoleto por novos avanços dentro 
de uma década ou menos. 
Finalmente, a alegria do aprendizado e o estímulo intelectual aos estudantes têm 
sido marginalizados pela crescente tendência de encarar a educação universitária 
puramente como preparo vocacional; tudo porque a educação universitária tem sido 
considerada cada vez mais exclusivamente como um investimento econômico, e por isso 
é avaliada unicamente na base do retorno econômico final. 
Essas conseqüências negativas decorrentes dos currículos universitários estão 
induzindo, em muitos países, a modificar os currículos e a rever o papel da universidade 
no sentido de servir a objetivos de uma educação continuada. 
Essa nova postura resulta da constatação de que os diplomados da universidade, 
em números cada vez maiores, têm retornado ao estudo com motivos diferentes: 
aqueles mais especializados começaram a voltar para atualizar-se, com os avanços no 
estudo de sua arte que revolucionaram sua especialidade durante o intervalo 
relativamente curto decorrido desde que se diplomaram. Muitos constatam que seu 
campo está suplantado por novos conhecimentos e nova tecnologia, de modo que 
voltam para trocar sua antiga especialidade numa nova e mais aplicável área. Outros por 
sua vez, estão descobrindo que foram treinados de maneira demasiado estreita. Voltam 
para, adquirir pelo menos, parte do ensino geral que antes foi sacrificado por uma 
prematura superespecialização. 
 
OS NOVOS INSTRUMENTOS EDUCACIONAIS 
 
O futuro é imprevisível. Não obstante, a melhor presunção parece ser a de que 
as universidades estão no limiar de uma revolução curricular cujas conseqüências 
definirão sua singularidade. O principal agente dessa revolução de dois modos 
diferentes - será a tecnologia. Uma nova tecnologia educacional já está se tornando uma 
força vital no desenvolvimento de currículo para educação universitária. Televisão e 
computadores já estão, em uso como instrumentos educacionais. A calculadora de bolso 
constitui um exemplo de como a nova tecnologia pode ser barata e pessoalmente 
acessível. A instrução baseada em computador deixou de ser experimental e é cada vez 
menos dispendiosa. Durante anos o temor entre os educadores foi de que os 
dispositivos tecnológicos pudessem substituir o elemento humano na educação e por 
isso prognosticava-se encontrar muitas resistências. Agora, está se tornando mais crível 
que esses dispositivos tecnológicos não são mais do que instrumentos do professor, e, 
de fato, podem deixá-lo livre para exercer ação individualizada, com os estudantes, de 
um modo melhor do que o seu relacionamento sem a assistência tecnológica. Já há 
mesmo especulações de que as sociedades poderiam resolver o problema da educação 
de massa sem baixar os padrões, porque a promessa da nova tecnologia educacional é 
um padrão comum atingível a um nível extraordinariamente alto. 
A nova universidade pode, assim, emergir como uma instituição 
significativamente liberada de restrições anteriores em termos de espaço e de idade 
humana. Os membros de corpo docente serão capazes de exercer ação mútua, 
pessoalmente, por meio de nova tecnologia de comunicações, com colegas e estudantes 
de todo o mundo, só ainda persistindo as barreiras do idioma. Uma primeira implicação 
é de que o relacionamento entre o candidato a matrícula e a universidade se tornará 
vitalício e independentemente da idade e da geografia. 
Outra implicação é de que um dado aprendizado poderá, ser perfeitamente 
concedido ao estudante, quando e onde ele desejar; e o seu progresso como estudante 
pode ser testado e reforçado a cada passo atingido. 
 
UM NOVO HUMANISMO 
 
Num nível bem profundo, a tecnologia também pode tornar-se importante 
ingrediente na redefinição do ensino humanístico. É um fato observável que os 
estudantes universitários podem, quando, muito, ser versados e altamente 
competentes em sua especialidade; mas também, uma grande quantidade deles é 
profundamente ignorante da tecnologia já em uso diário. Quantas pessoas altamente 
instruídas, compreendem o funcionamento de suas televisões, suas calculadoras, ou até 
mesmo seus automóveis e seus telefones? Pode a razão humana continuar a florescer 
numa sociedade cujos artefatos mais amplamente usados, embora derivados da razão 
aplicada na forma de ciência, parecem a seus usuários mistérios que desafiam análise, 
compreensão e, num grau perceptível, controle? 
Um novo humanismo de compreensão individual da tecnologia precisa tornar-se o 
catalisador em torno do qual a Universidade deverá encontrar o seu novo rumo. 
 
 
Fonte: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=554 
 
 
http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=554

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