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1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Compreender a fisiologia da contração muscular; 2- Estudar os tipos de fibra do músculo estriado esquelético; Músculo estriado esquelético ↠ Cada um dos músculos esqueléticos é um órgão separado, composto de centenas de milhares de células denominadas de fibras musculares por conta de seus formatos alongados. Desse modo, célula muscular e fibra muscular são dois termos que designam a mesma estrutura (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O músculo esquelético também contém tecidos conjuntivos que circundam as fibras musculares, além do músculo inteiro, dos nervos e dos vasos sanguíneos. Para compreender como a contração do músculo esquelético pode gerar tensão, é preciso entender, primeiro, sua anatomia macroscópica e microscópica (TORTORA, 14ª ed.). COMPONENTES DO TECIDO CONJUNTIVO ↠ As fibras musculares individuais são envolvidas e mantidas unidas por várias bainhas de tecido conjuntivo. Juntas, essas bainhas de tecido conjuntivo sustentam cada célula e reforçam o músculo como um todo, impedindo que músculos potentes se rompam durante contrações excepcionalmente fortes (MARIEB, 3ª ed.). A fáscia é uma lâmina densa ou faixa larga de tecido conjuntivo denso não modelado que reveste a parede corporal e os membros, além de sustentar e envolver músculos e outros órgãos do corpo. A fáscia possibilita o movimento livre dos músculos, aloja nervos, vasos sanguíneos e vasos linfáticos e preenche os espaços entre os músculos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Três camadas de tecido conjuntivo se estendem a partir da fáscia para proteger e reforçar o músculo esquelético: (TORTORA, 14ª ed.). ➢ O epimísio é a camada externa que envolve todo o músculo. Consiste em tecido conjuntivo denso não modelado. ➢ O perimísio também é uma camada de tecido conjuntivo denso não modelado, porém circunda grupos de 10 a 100, ou mais, fibras musculares, separando-as em feixes chamados de fascículos. Muitos fascículos são grandes o suficiente para serem vistos a olho nu. ➢ O endomísio penetra no interior de cada fascículo e separa as fibras musculares individualmente. O endomísio consiste principalmente de fibras reticulares. O epimísio, o perimísio e o endomísio são contínuos com o tecido conjuntivo que fixa os músculos esqueléticos a outras estruturas como ossos e outros músculos. Por exemplo, todas as três camadas de tecido conjuntivo podem se estender além das fibras musculares para formar um tendão que conecta um músculo ao periósteo de um osso (TORTORA, 14ª ed.). Quando os elementos de tecido conjuntivo se estendem como uma lâmina larga e plana, observamos o que chamamos de aponeurose (TORTORA, 14ª ed.). Obs.: Os músculos esqueléticos são bem supridos por nervos e vasos sanguíneos. Em geral, uma artéria e uma ou duas veias acompanham cada nervo que penetra em um músculo esquelético. Os neurônios que estimulam o músculo esquelético a se contrair são os neurônios somáticos motores. Cada neurônio somático motor apresenta um axônio que se estende do encéfalo ou medula espinal até um grupo de fibras musculares esqueléticas. Vasos sanguíneos microscópicos chamados de capilares são abundantes no tecido muscular; cada fibra muscular está em contato íntimo com um ou mais capilares (TORTORA, 14ª ed.). ANATOMIA MICROSCÓPICA DE UMA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA ↠ Os componentes mais importantes de um músculo esquelético são as próprias fibras musculares. O diâmetro de uma fibra muscular esquelética madura varia de 10 a 100 micrômetro. O comprimento usual de uma fibra muscular esquelética madura é de cerca de 10 cm, embora algumas apresentem até 30 cm (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Uma vez que cada fibra muscular esquelética se origina durante o desenvolvimento embrionário a partir da fusão de uma centena ou mais de pequenas células mesodérmicas chamadas mioblastos, cada fibra muscular esquelética madura apresenta uma centena ou mais de núcleos (TORTORA, 14ª ed.). APG 14 – “The Big Ramy” 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Ao ocorrer a fusão, a fibra muscular perde sua capacidade de sofrer divisão celular. Assim, a quantidade de fibras musculares esqueléticas é determinada antes do nascimento e a maioria dessas células dura a vida toda (TORTORA, 14ª ed.). SARCOLEMA, TÚBULOS TRANSVERSOS E SARCOPLASMA ↠ Os múltiplos núcleos de uma fibra muscular esquelética estão localizados logo abaixo do sarcolema, a membrana plasmática da célula muscular. Milhares de minúsculas invaginações do sarcolema, chamadas túbulos transversos (T), formam um túnel da superfície para o centro de cada fibra muscular (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Uma vez que se abrem para o exterior da fibra, os túbulos T são cheios de líquido intersticial. Os potenciais de ação muscular percorrem o sarcolema e os túbulos T, espalhando-se rapidamente por toda a fibra muscular. Essa distribuição garante que um potencial de ação excite todas as partes de uma fibra muscular praticamente no mesmo instante (TORTORA, 14ª ed.). Os túbulos T permitem que os potenciais de ação se movam rapidamente da superfície para o interior da fibra muscular, de forma a alcançar as cisternas terminais quase simultaneamente. Sem os túbulos T, os potenciais de ação alcançariam o centro da fibra somente pela condução do potencial de ação pelo citosol, um processo mais lento e menos direto, que retardaria o tempo de resposta da fibra muscular (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Dentro do sarcolema se encontra o sarcoplasma, que consiste no citoplasma da fibra muscular. O sarcoplasma apresenta uma quantidade substancial de glicogênio (glicossomos - grânulos de glicogênio estocado), que é uma molécula grande composta de muitas moléculas de glicose (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O glicogênio pode ser usado na síntese de ATP. Além disso, o sarcoplasma contém uma proteína de cor vermelha chamada mioglobina. Essa proteína, encontrada apenas no músculo, liga moléculas de oxigênio que se difundem nas fibras musculares a partir do líquido intersticial. A mioglobina libera oxigênio necessitado pela mitocôndria para a produção de ATP. As mitocôndrias repousam em fileiras por toda a fibra muscular, estrategicamente perto das proteínas musculares contráteis que usam ATP durante a contração, de forma que o ATP possa ser produzido tão rápido quanto o necessário (TORTORA, 14ª ed.). MIOFIBRILAS E RETÍCULO SARCOPLASMÁTICO ↠ Em grandes ampliações, o sarcoplasma aparece cheio de pequenos filamentos. Essas pequenas estruturas são as miofibrilas, as organelas contráteis do músculo esquelético (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As miofibrilas apresentam cerca de 2 µm de diâmetro e se estendem por toda a extensão da uma fibra muscular. Suas estriações proeminentes fazem com que toda a fibra muscular esquelética pareça estriada (TORTORA, 14ª ed.). Dependendo do tamanho da fibra muscular, centenas a milhares de miofibrilas podem estar presentes, sendo responsáveis por cerca de 80% do volume celular (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Um sistema de sacos membranosos cheios de líquido chamados retículo sarcoplasmático (RS) envolve cada miofibrila. Esse elaborado sistema é similar ao retículo endoplasmático liso nas células não musculares. Sacos terminais dilatados do retículo sarcoplasmático chamados cisternas terminais flanqueiam os túbulos T dos dois lados (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Um túbulo transverso e as duas cisternas terminais em cada lado formam uma tríade. Na fibra muscular relaxada, o retículo sarcoplasmático armazena íons cálcio (Ca2+). A liberação de Ca2+ das cisternas terminais do retículo sarcoplasmático desencadeia a contração muscular (TORTORA, 14ª ed.). 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck FILAMENTOS E SARCÔMEROS ↠ Dentro das miofibrilas existem estruturas proteicas menoreschamadas filamentos ou miofilamentos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os filamentos finos apresentam 8 nm de diâmetro e 1 a 2 µm* de extensão e são compostos principalmente pela proteína actina, enquanto os filamentos grossos apresentam 16 nm de diâmetro e 1 a 2 µm de extensão e são compostos principalmente pela proteína miosina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Ambos os filamentos finos e grossos estão envolvidos de maneira direta no processo contrátil. De modo geral, há dois filamentos finos para cada filamento grosso nas regiões de sobreposição dos filamentos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os filamentos dentro de uma miofibrila não se estendem por todo o comprimento da fibra muscular. Em lugar disso, são arranjados em compartimentos chamados sarcômeros, os quais constituem as unidades básicas funcionais de uma miofibrila ↠ Regiões estreitas de material proteico denso chamadas linhas Z separam um sarcômero do outro. Assim, um sarcômero se estende de uma linha Z até o outra linha Z. (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A extensão da sobreposição dos filamentos grossos e finos depende de o músculo estar contraído, relaxado ou estirado. O padrão da sobreposição, consistindo em várias zonas e bandas, cria as estriações que podem ser vistas nas miofibrilas individuais e em fibras musculares inteiras (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A parte do meio, mais escura, do sarcômero é a banda A, que se estende por todo o comprimento dos filamentos grossos. No sentido de cada extremidade da banda A está uma zona de sobreposição, onde os filamentos grossos e finos repousam lado a lado (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A banda I é uma área mais clara e menos densa que contém o resto dos filamentos finos e nenhum filamento grosso, por cujo centro passa uma linha Z (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A estreita zona H no centro de cada banda A contém filamentos grossos e não finos Lembrar que a letra I é fina (contém filamentos finos) e a letra H é grossa (contém filamentos grossos) é um bom mnemônico para não esquecer a composição das bandas I e H (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Proteínas de sustentação que mantêm os filamentos grossos juntos no centro da zona H formam a linha M, assim chamada porque se encontra no meio do sarcômero (TORTORA, 14ª ed.). PROTEÍNAS MUSCULARES ↠ As miofibrilas são construídas a partir de três tipos de proteínas: (TORTORA, 14ª ed.). ➢ as proteínas contráteis, que geram força durante a contração; ➢ as proteínas reguladoras, que ajudam a ativar e desativar o processo de contração; ➢ as proteínas estruturais, que mantêm os filamentos grossos e finos no alinhamento adequado, conferem à miofibrila elasticidade e extensibilidade e ligam as miofibrilas ao sarcolema e à matriz extracelular. 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck PROTEÍNAS CONTRÁTEIS ↠ Miosina e actina são as duas proteínas contráteis no músculo e componentes dos filamentos grossos e finos, respectivamente (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A miosina é o principal componente dos filamentos grossos e atua como proteína motora nos três tipos de tecido muscular. As proteínas motoras empurram várias estruturas celulares para conseguir o movimento convertendo energia química em ATP em energia mecânica de movimento, isto é, produção de força (TORTORA, 14ª ed.). ↠ No músculo esquelético, cerca de 300 moléculas de miosina formam um único filamento grosso. Cada molécula de miosina tem a forma de dois tacos de golfe enroscados. A cauda de miosina (as hastes dos tacos de golfe enroscados) aponta para a linha M no centro do sarcômero (TORTORA, 14ª ed.). Cada molécula de miosina tem uma cauda em forma de bastão que termina, via dobradiça flexível, em duas cabeças globulares. Suas cabeças globulares são as "regiões de trabalho" da miosina; elas mantêm unidos os filamentos fino e grosso (formando pontes transversais ou cruzadas) e giram em tomo do seu ponto de ligação durante a contração (MARIEB, 3ª e.d). ↠ Caudas de moléculas vizinhas de miosina repousam paralelamente uma à outra, formando a diáfise do filamento grosso. As duas projeções de cada molécula de miosina (cabeças dos tacos de golfe) são chamadas cabeças de miosina. As cabeças se projetam para fora da diáfise de maneira espiralada, cada uma se estendendo no sentido dos 6 filamentos finos que circundam cada filamento grosso (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os filamentos finos encontram-se ancorados nas linhas Z. Seu principal componente é a proteína actina. Moléculas individuais de actina se unem para formar um filamento de actina que se enrosca como uma hélice. Em cada molécula de actina há um local de ligação com a miosina, onde a cabeça de miosina pode se prender (TORTORA, 14ª ed.). PROTEÍNAS REGULADORAS ↠ Quantidades menores de duas proteínas reguladoras – tropomiosina e troponina – também fazem parte do filamento fino (TORTORA, 14ª ed.). ↠ No músculo relaxado, a ligação da miosina com a actina é bloqueada porque os filamentos de tropomiosina cobrem os locais de ligação com a miosina na actina. Os filamentos de tropomiosina, por sua vez, são mantidos em seu lugar por moléculas de troponina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Logo aprenderemos que quando os íons cálcio (Ca2+) se ligam à troponina, ela sofre uma mudança de forma que promove a movimentação da tropomiosina para longe dos locais de ligação com a miosina na actina, ocorrendo, subsequentemente, a contração muscular conforme a miosina vai se ligando à actina (TORTORA, 14ª ed.). A troponina e a tropomiosina ajudam a controlar as interações actina- miosina envolvidas na contração (MARIEB, 3ª ed.). PROTEÍNAS ESTRUTURAIS ↠ O músculo contém cerca de 1 dúzia de proteínas estruturais, que contribuem para o alinhamento, a estabilidade, a elasticidade e a extensibilidade das miofibrilas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A titina, a alfa-actinina, a miomesina, a nebulina e a distrofina são algumas dessas proteínas estruturais-chave (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A titina é a terceira proteína mais abundante no músculo esquelético (depois da actina e da miosina). O nome dessa molécula reflete seu enorme tamanho. Com massa molecular de cerca de 3 milhões de dáltons, a titina 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck é 50 vezes maior que uma proteína de tamanho médio (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Cada molécula de titina ocupa metade de um sarcômero, indo de uma linha Z a uma linha M, uma distância de 1 a 1,2 µm no músculo relaxado. Cada molécula de titina conecta uma linha Z à linha M do sarcômero, ajudando, dessa maneira, a estabilizar a posição do filamento grosso. A parte da molécula de titina na linha Z é bastante elástica. Uma vez que é capaz de se estirar pelo menos quatro vezes a sua extensão em repouso e retornar ao tamanho de repouso sem lesão, a titina é responsável por grande parte da elasticidade e extensibilidade das miofibrilas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ É bem provável que a titina ajude o sarcômero a voltar ao seu comprimento de repouso depois da contração ou estiramento muscular, que ajude a evitar a extensão excessiva dos sarcômeros e que mantenha a localização central das bandas A (TORTORA, 14ª ed.). Agindo como uma espécie de régua molecular, a titina tem duas funções básicas: (1) manter os filamentos grossos no lugar e, portanto, a organização da banda A, e (2) ajudar a célula muscular a recuperar sua forma depois de ser alongada ou encurtada. (A parte da titina que cruza as bandas 1 é distensível, se expande quando o músculo é alongado e se retrai, como uma mola, quando a tensão é liberada.) (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O material denso das linhas Z contém moléculas de alfa-actinina, que se ligam às moléculas de actina do filamento fino e à titina (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As moléculas da proteína miomesina formam a linha M. As proteínas da linha M se ligam à titina e conectam os filamentos grossos adjacentes unsaos outros. A miosina mantém os filamentos grossos em alinhamento na linha M (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A nebulina é uma proteína longa e não elástica que acompanha cada filamento fino por toda sua extensão. Essa proteína ajuda a ancorar os filamentos finos às linhas Z e regula a extensão dos filamentos finos durante o desenvolvimento (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A distrofina liga os filamentos finos do sarcômero às proteínas integrais de membrana do sarcolema, que por sua vez, estão presas às proteínas na matriz extracelular de tecido conjuntivo que circunda as fibras musculares (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Acredita-se que a distrofina e suas proteínas associadas reforcem o sarcolema e ajudem a transmitir a tensão gerada pelos (TORTORA, 14ª ed.). CONTRAÇÃO E RELAXAMENTO DAS FIBRAS MUSCULARES ↠ A contração muscular é um processo extraordinário que permite a geração de força para mover ou resistir a uma carga. Em fisiologia muscular, a força produzida pela contração muscular é chamada de tensão muscular. A carga é o peso ou a força que se opõe à contração (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A contração, a geração de tensão pelo músculo, é um processo ativo que necessita de energia fornecida pelo ATP. O relaxamento é a liberação da tensão que foi produzida durante a contração (SILVERTHORN, 7ª ed.). 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck 1- Os eventos que ocorrem na junção neuromuscular convertem um sinal químico (a acetilcolina liberada pelo neurônio motor somático) em um sinal elétrico na fibra muscular; (SILVERTHORN, 7ª ed.). 2- O acoplamento excitação-contração (E-C) é o processo pelo qual os potenciais de ação musculares produzem um sinal de cálcio, o qual, por sua vez, ativa o ciclo de contração- relaxamento; (SILVERTHORN, 7ª ed.). 3- No nível molecular, o ciclo de contração- relaxamento é explicado pela teoria dos filamentos deslizantes da contração muscular. Nos músculos intactos, um único ciclo de contração-relaxamento é chamado de abalo muscular. (SILVERTHORN, 7ª ed.). JUNÇÃO NEUROMUSCULAR Para uma fibra muscular esquelética contrair, ela deve ser estimulada por uma terminação nervosa e propagar uma corrente elétrica, ou potencial de ação, ao longo do seu sarcolema. Este evento elétrico causa uma breve elevação nos níveis de cálcio intracelular, ocasionando o disparo final para a contração. A série de eventos que ligam o sinal elétrico com a contração é chamada de acoplamento excitação-contração (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As células musculares esqueléticas são estimuladas por neurônios motores do sistema nervoso somático. Embora estes neurônios motores "residam" no encéfalo ou na medula espinal, suas longas extensões semelhantes a fios chamadas de axônios trafegam em feixes dentro dos nervos, em direção às células musculares por eles inervadas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O axônio de cada neurônio motor divide-se profusamente quando entra no músculo, e cada terminal axônico forma várias ramificações curtas que formam uma junção neuromuscular elíptica com uma única fibra muscular. Via de regra, cada fibra muscular tem apenas uma junção neuromuscular, localizada mais ou menos na metade do comprimento da fibra (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Embora o terminal axônico e a fibra muscular estejam extremamente próximos (1 a 2 nm de distância), permanecem separados por um espaço, a fenda sináptica, a qual é preenchida com substâncias extracelulares semelhantes a um gel rico em glicoproteínas e fibras colágenas (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Dentro do terminal axônico achatado, semelhante a um pequeno morro, estão as vesículas sinápticas, pequenos sacos membranosos que contêm o neurotransmissor acetilcolina, ou ACh. A placa motora terminal, uma depressão do sarcolema que ajuda a formar a junção neuromuscular, é bastante pregueada. Estas dobras juncionais fornecem uma grande área de superfície para milhões de receptores de ACh que aí se localizam (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Quando o impulso nervoso alcança o final de um axônio, ocorre a abertura de canais de cálcio dependentes de voltagem, permitindo ao Ca+2 (impulsionado por seu gradiente eletroquímico) fluir a partir do meio extracelular (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A presença de cálcio no interior do terminal axônico causa a fusão de algumas vesículas sinápticas com a membrana axônica e a liberação de ACh na fenda sináptica por exoci tose. A ACh difunde-se através da fenda e liga-se aos seus receptores no sarcolema (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os eventos elétricos desencadeados no sarcolema após a ligação da ACh são similares àqueles que ocorrem nas membranas das células nervosas excitadas. Depois que a ACh se liga aos seus receptores, ela é rapidamente degradada em seus componentes, o ácido acético e a colina, pela acetilcolinesterase, uma enzima localizada na fenda sináptica (MARIEB, 3ª ed.). 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck IMPORTANTE: A degradação da ACh impede a contração continuada da fibra muscular na ausência de estimulação adicional do sistema nervoso (MARIEB, 3ª ed.). GERAÇÃO DE UM POTENCIAL DE AÇÃO ATRAVÉS DO SARCOLEMA ↠ Como a membrana plasmática de todas as células, o sarcolema em repouso é polarizado. Isto é, um voltímetro mostra que existe uma diferença de potencial (voltagem) através da membrana e o lado de dentro é negativo em relação à face externa da membrana (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A ligação das moléculas de ACh com seus receptores na placa motora terminal abre os canais iônicos dependentes de ligantes (substâncias químicas) localizados nos receptores de ACh e permite a passagem de Na+ e K+. Devido ao maior influxo de Na+ do que efluxo de K+, ocorre uma mudança transitória no potencial de membrana, de forma que o interior do sarcolema se torna levemente menos negativo, um evento chamado de despolarização (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Inicialmente, a despolarização é um evento elétrico local chamado de potencial da placa terminal, mas ela dispara o potencial de ação que se propaga em todas as direções ao longo do sarcolema, a partir da junção neuromuscular (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O potencial de ação (PA) é o resultado de uma sequência previsível de mudanças elétricas que, uma vez iniciada, ocorre ao longo de toda a extensão do sarcolema. Essencialmente, três passos estão envolvidos (MARIEB, 3ª ed.). 1. Primeiro, as áreas da membrana adjacentes à placa motora também são despolarizadas por correntes locais que se espalham a partir da junção neuromuscular. Isso abre canais de sódio dependentes de voltagem, e o Na+ entra, seguindo seu gradiente eletroquímico, e inicia o potencial de ação 2. Durante o passo 2, o potencial de ação é propagado (move-se ao longo do sarcolema) quando as ondas locais de despolarização distribuem-se às áreas adjacentes do sarcolema, abrindo canais de sódio dependentes de voltagem. Novamente, os íons sódio, em geral impedidos de entrar na célula, difundem-se para dentro da célula seguindo seu gradiente eletroquímico. 3. O passo 3 é a repolarização, que restabelece o estado polarizado inicial do sarcolema. A onda de repolarização, que ocorre imediatamente após a onda de despolarização, é uma consequência do fechamento dos canais de Na+ e da abertura dos canais de K+ dependentes de voltagem. Já que a concentração do íon potássio é substancialmente maior dentro da célula do que no líquido extracelular, o K+ difunde-se rapidamente para fora da fibra muscular (MARIEB, 3ª ed.). Durante a repolarização, considera-se que a fibra muscular esteja em seu período refratário, pois a célula não pode responder novamente a um estímulo até que a repolarização esteja completa. Note que a repolarização restabelece apenas as condições elétricas do estado de repouso (polarizado). A bomba de Na+-K+ dependente de ATP recupera as condições iônicas do estado de repouso, porémcentenas de contrações podem ocorrer antes que os desequilíbrios iônicos interfiram com a atividade contrátil (MARIEB, 3ª ed.). ACOPLAMENTO EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO O acoplamento excitação-contração é a sequência de eventos pelos quais a transmissão de um potencial de ação ao longo do sarcolema causa o deslizamento dos miofilamentos (MARIEB, 3ª ed.). O potencial de ação é breve e termina muito antes de que qualquer sinal de contração seja evidente. Os eventos do acoplamento excitação-contração ocorrem durante o período de latência (latente = oculto), entre o início do potencial de ação e o início da atividade mecânica (encurtamento) (MARIEB, 3ª ed.). Os sinais elétricos não atuam diretamente sobre os miofilamentos; ao invés disso, causam um aumento na concentração intracelular do íon cálcio, o que permite o deslizamento dos filamentos (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O acoplamento excitação-contração consiste dos seguintes passos: (MARIEB, 3ª ed.). 1- O potencial de ação propaga-se ao longo do sarcolema e dos túbulos T 2- A transmissão do potencial de ação nos túbulos T pelas tríades faz com que as cisternas terminais do RS liberem Ca+2 para o sarcoplasma, onde ele se torna disponível para os miofilamentos. As proteínas dos túbulos T (receptores DHP) são sensíveis à voltagem e mudam sua conformação em resposta à chegada do potencial de ação. Essa mudança de conformação regulada pela variação de voltagem é detectada pelas proteínas do RS (receptores rianodina), que por sua vez também sofrem mudança conformacional abrindo seus canais que liberam cálcio (e talvez outros canais de Ca+2 próximos acoplados mecanicamente). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Como esses eventos ocorrem em cada tríade da célula, dentro de 1 ms grandes quantidades de Ca+2 inundam o sarcoplasma a partir das cisternas do RS (MARIEB, 3ª ed.). 3- Parte desse cálcio liga-se à troponina, a qual muda sua conformação e remove a ação bloqueadora da tropomosina. 4- Quando o nível de cálcio intracelular é cerca de 10-5 M, as cabeças de miosina se ligam e puxam os filamentos finos em direção ao centro do sarcômero. Nesse momento, pode-se dizer que a célula muscular está em seu estado ativo. 5- O breve sinal do Ca+2 em geral termina dentro de 30 ms depois do potencial de ação ter acabado. A queda nos níveis de Ca+2 é causada pela ação da bomba de cálcio dependente de ATP, que é continuamente ativa e move o Ca+2 de volta para o RS para ser novamente armazenado. 6- O estado inativo ocorre quando os níveis intracelulares de Ca+2 caem muito abaixo da quantidade necessária para a ligação com a troponina; assim, o bloqueio da tropomiosina é restabelecido, e a interação actina-miosina é inibida. A atividade das pontes transversais termina, e ocorre o relaxamento. MECANISMO DE DESLIZAMENTO DOS FILAMENTOS No início da contração, o retículo sarcoplasmático libera íons cálcio (Ca2+) no sarcoplasma, onde se ligam à troponina. A troponina, por sua vez, faz com que a tropomiosina se movimente para longe dos locais de ligação com a miosina na actina. Uma vez “liberados” os locais de ligação, o ciclo da contração – a sequência repetida de eventos que faz com que os filamentos deslizem – começa (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O ciclo da contração consiste em quatro etapas: (TORTORA, 14ª ed.). 1- Hidrólise de ATP: A cabeça de miosina engloba um local de ligação com o ATP e uma ATPase, enzima que hidrolisa o ATP em ADP (difosfato de adenosina) e um grupo fosfato. Essa reação de hidrólise reorienta e energiza a cabeça de miosina. Observe que os produtos da hidrólise de ATP – ADP e um grupo fosfato – ainda continuam presos à cabeça de miosina. A ligação da ATP diminui a afinidade de ligação da miosina pela actina, e a miosina acaba soltando-se da actina (SILVERTHORN, 7ª ed.). 2- Acoplamento da miosina à actina para formar pontes transversas: As cabeças de miosina energizadas se fixam aos locais de ligação com a miosina na actina e liberam o grupo fosfato previamente hidrolisado. Quando as cabeças de miosina se prendem à actina durante a contração, elas são chamadas pontes transversas. 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck 3- Movimento de força: Depois da formação das pontes transversas, ocorre o movimento de força. Durante o movimento de força, o local na ponte transversa onde o ADP ainda está ligado se abre. Em consequência disso, a ponte transversa roda e libera o ADP. A ponte transversa gera força ao rodar em direção ao centro do sarcômero, deslizando o filamento fino pelo filamento grosso na direção da linha M. 4- Desacoplamento da miosina da actina: Ao final do movimento de força, a ponte transversa permanece firmemente presa à actina até se ligar a outra molécula de ATP. Quando o ATP se liga ao local de ligação com o ATP na cabeça de miosina, a cabeça de miosina se solta da actina. O ciclo da contração se repete conforme a ATPase da miosina vai hidrolisando as moléculas recentemente ligadas de ATP e continua enquanto houver ATP disponível e o nível de Ca2+ perto do filamento fino estiver suficientemente alto. As pontes transversas se mantêm rodando a cada movimento de força, puxando os filamentos finos na direção da linha M. Cada uma das 600 pontes transversas em um filamento grosso acopla e desacopla cerca de 5 vezes por segundo. A todo instante, algumas das cabeças de miosina estão acopladas à actina, formando pontes transversas e gerando força, e outras cabeças de miosina estão desacopladas da actina, aprontando-se para se ligar de novo (TORTORA, 14ª ed.). EXTRA: A CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO REQUER UM SUPRIMENTO CONTÍNUO DE ATP O uso do ATP pela fibra muscular é uma característica essencial da fisiologia muscular. Os músculos necessitam de energia constantemente: durante a contração, para o movimento e a liberação das ligações cruzadas; durante o relaxamento, para bombear o Ca+2 de volta para o retículo sarcoplasmático; e após o acoplamento E-C, para reconduzir o Na+2 e o K+ para os compartimentos extracelular e intracelular, respectivamente (SILVERTHORN, 7ª ed.). A quantidade, ou “pool ”, de ATP estocado em uma fibra muscular a qualquer tempo é suficiente para apenas cerca de oito contrações. À medida que o ATP é convertido em ADP e Pi durante a contração, o estoque de ATP precisa ser restabelecido pela transferência de energia a partir de outras ligações fosfato de alta energia ou pela síntese de ATP utilizando processos mais lentos, como as vias metabólicas da glicólise e da fosforilação oxidativa (SILVERTHORN, 7ª ed.). A reserva energética de segurança dos músculos é a fosfocreatina (ou creatina-fosfato, ou ainda, fosfato de creatina). A fosfocreatina é uma molécula cujas ligações fosfato de alta energia são geradas entre a creatina e o ATP quando os músculos estão em repouso (SILVERTHORN, 7ª ed.). Quando os músculos entram em atividade, como durante o exercício, os grupamentos fosfato de alta energia da fosfocreatina são transferidos para o ADP, gerando mais ATP para abastecer os músculos (SILVERTHORN, 7ª ed.). A enzima que transfere o grupamento fosfato da fosfocreatina para o ADP é a creatina-cinase (CK, do inglês, creatinekinase), também conhecida como creatina-fosfocinase (CPK, do inglês, creatine phosphokinase). As células musculares contêm grandes quantidades dessa enzima. Como consequência, níveis elevados de creatina-cinase no sangue normalmente são um indicador de dano muscular esquelético ou cardíaco. Como os dois tipos de músculos contêm isoenzimas diferentes, os médicos conseguem distinguir entre os 10 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck danos ao tecido cardíaco produzidos durante um infarto do miocárdio e os danos da musculatura esquelética (SILVERTHORN, 7ª ed.). A energiaarmazenada nas ligações fosfato de alta energia é muito limitada. Assim, as fibras musculares precisam utilizar o metabolismo de biomoléculas para transferir energia das ligações covalentes para o ATP. Os carboidratos, particularmente a glicose, são a fonte de energia mais rápida e eficiente para a produção de ATP. A glicose é metabolizada pela glicólise a piruvato.. Quando as concentrações de oxigênio caem durante um exercício intenso, o metabolismo da fibra muscular depende preferencialmente da glicólise anaeróbia. Nessa via metabólica, a glicose é metabolizada a lactato, com a produção efetiva de apenas 2 ATP por molécula de glicose; O metabolismo anaeróbio da glicose é uma fonte mais rápida de geração de ATP, porém produz quantidades muito menores de ATP para cada molécula de glicose (SILVERTHORN, 7ª ed.). FADIGA MUSCULAR O termo fisiológico fadiga descreve uma condição reversível na qual um músculo é incapaz de produzir ou sustentar a potência esperada. A fadiga é muito variável. Ela é influenciada pela intensidade e pela duração da atividade contrátil, pelo fato de a fibra muscular estar usando o metabolismo aeróbio ou anaeróbio, pela composição do músculo e pelo nível de condicionamento do indivíduo (SILVERTHORN, 7ª ed.). RELAÇÃO COMPRIMENTO-TENSÃO A figura mostra a relação comprimento–tensão do músculo esquelético, indicando como a força da contração muscular depende do comprimento dos sarcômeros no interior do músculo antes do começo da contração (TORTORA, 14ª ed.). Em um sarcômero com comprimento de cerca de 2 a 2,4 µm (o que é muito próximo da extensão de repouso da maioria dos músculos), a zona de sobreposição em cada sarcômero é ideal e a fibra muscular pode desenvolver tensão máxima. Observe na figura que a tensão máxima (100%) ocorre quando a zona de sobreposição entre um filamento grosso e um fino se estende da margem da zona H até uma extremidade de um filamento grosso (TORTORA, 14ª ed.). Quando os sarcômeros de uma fibra muscular são estirados a um comprimento mais longo, a zona da sobreposição encurta e menos cabeças de miosina podem fazer contato com os filamentos finos. Portanto, a tensão que a fibra pode produzir diminui. Quando uma fibra muscular esquelética é estirada a 170% do seu comprimento ideal, não há sobreposição entre os filamentos grossos e finos. Uma vez que nenhuma das cabeças de miosina consegue se ligar aos filamentos finos, a fibra muscular não consegue contrair e a tensão é zero (TORTORA, 14ª ed.). Quando os sarcômeros se tornam mais curtos que o ideal, a tensão possível de ser desenvolvida diminui. Isso acontece porque os filamentos grossos encolhem conforme são comprimidos pelos linhas Z, resultando em menos cabeças de miosina fazendo contato com filamentos finos. Normalmente, o comprimento da fibra muscular em repouso é mantido muito próximo do ideal pelas fortes fixações do músculo esquelético aos ossos (via tendões) e outros tecidos inelásticos (TORTORA, 14ª ed.). UNIDADE MOTORA Cada músculo é inervado por pelo menos um nervo motor, que contém axônios (prolongamentos) de centenas de neurônios motores. Quando um axônio entra em um músculo, ele se ramifica em vários terminais, cada um formando uma junção neuromuscular com uma única fibra muscular. O conjunto de um neurônio motor e todas as fibras musculares inervadas por ele é chamado de unidade motora (MARIEB, 3ª ed.). ABALO MUSCULAR A resposta de uma unidade motora a um único potencial de ação do seu neurônio motor é chamada de abalo muscular. As fibras musculares contraem rapidamente e então relaxam (MARIEB, 3ª ed.). 11 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Cada miograma do abalo tem três fases distintas: (MARIEB, 3ª ed.). ➢ Período de latência: O período de latência corresponde aos primeiros poucos milissegundos após a estimulação, quando está ocorrendo o acoplamento excitação-contração. Durante este período, a tensão muscular começa a aumentar, mas nenhuma resposta é vista no miograma. ➢ Período de contração: O período de contração ocorre quando as pontes transversais são ativadas. Vai desde o início até o desenvolvimento de um pico de tensão; neste período, o traçado do miograma atinge um pico. O período de contração dura 10 a 100 ms. Se a tensão (tração) torna- se grande o suficiente para superar a resistência de uma carga, o músculo encurta. ➢ Período de relaxamento: O período de contração é seguido pelo período de relaxamento. Esta fase final, que dura de 10 a 100 ms, é iniciada pelo retorno do Ca+2 para o RS. Devido à força contrátil já não estar mais sendo gerada, a tensão muscular cai a zero e o traçado retorna à linha de base. Se o músculo for encurtado durante a contração, neste período ele retorna ao seu comprimento inicial. CONTRAÇÕES ISOTÔNICAS E ISOMÉTRICAS As contrações musculares podem ser isotônicas ou isométricas. Na contração isotônica, a tensão (força de contração) desenvolvida no músculo permanece quase constante enquanto seu comprimento se modifica. As contrações isotônicas são usadas para realizar movimentos corporais e mover objetos (TORTORA, 14ª ed.). Os dois tipos de contrações isotônicas são a concêntrica e a excêntrica. Se a tensão gerada na contração isotônica concêntrica é grande o suficiente para transpor a resistência do objeto a ser movido, o músculo encurta e puxa outra estrutura, como um tendão, para produzir o movimento e reduzir o ângulo na articulação. O ato de pegar um livro de uma mesa envolve contrações isotônicas concêntricas do músculo bíceps braquial no braço (TORTORA, 14ª ed.). Em contrapartida, ao abaixar o livro para colocá-lo de volta à mesa, o músculo bíceps braquial (previamente encurtado) se alonga de maneira controlada ao mesmo tempo que continua contraindo. Quando o comprimento do músculo aumenta durante uma contração, a contração é chamada de contração isotônica excêntrica. Durante uma contração excêntrica, a tensão exercida pelas pontes transversas de miosina se opõe movimento de uma carga (o livro, nesse caso) e retarda o processo de alongamento (TORTORA, 14ª ed.). Na contração isométrica, a tensão gerada não é suficiente para transpor a resistência de um objeto a ser movido e o músculo não muda seu comprimento. Um exemplo disso é o ato de segurar um livro parado, com o braço estendido (TORTORA, 14ª ed.). Tipos de fibra muscular esquelética As fibras musculares esqueléticas não são todas iguais em composição e função. Por exemplo, o conteúdo de mioglobina, proteína de cor vermelha que se liga ao oxigênio nas fibras musculares, varia entre as fibras musculares. As fibras musculares esqueléticas que apresentam alto conteúdo de mioglobina são chamadas fibras musculares vermelhas; aquelas que apresentam baixo conteúdo de mioglobina são chamadas fibras musculares brancas e são mais claras. As fibras musculares vermelhas também contêm mais mitocôndrias e são servidas por mais capilares sanguíneos (TORTORA, 14ª ed.). A classificação atual dos tipos de fibras musculares depende da isoforma da miosina expressa na fibra (tipo 1 ou tipo 2). Os tipos das fibras musculares não são fixos por toda a vida. Os músculos têm plasticidade e podem mudar seu tipo dependendo da atividade (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ Existem várias formas de classificar as fibras musculares, mas aprendê-las será mais fácil se você inicialmente prestar atenção às duas principais características funcionais: (MARIEB, 3ª ed.). ➢ Velocidade de contração: Baseando-se na velocidade de encurtamento, ou contração, existem as fibras lentas e as fibras rápidas. A diferença na velocidade reflete a rapidez com que a ATPase da cabeça de miosina hidrolisa o ATP e o padrão de atividade elétrica dos seus neurônios motores. ➢ Principais vias para a produção de ATP: As células que utilizam principalmente as vias aeróbias (que empregam oxigênio) paraa geração de ATP são as fibras oxidativas; aquelas que utilizam principalmente a glicólise anaeróbia são as fibras glicolíticas. 12 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ↠ Com base nesses dois critérios, as células musculares esqueléticas podem ser classificadas como fibras oxidativas lentas, fibras oxidativo-glicolíticas rápidas ou fibras glicolíticas rápidas (MARIEB, 3ª ed.). Segundo Scott Powers (2005), o musculo esquelético é classificado conforme suas propriedades bioquímicas individual de cada fibra, sendo dois grupos distintos as Tipo I (contração lenta), Tipo IIx (contração rápida) e do Tipo IIa (fibra intermediária) (CACIAN et. al.). FIBRAS OXIDATIVAS LENTAS ↠ As fibras oxidativas lentas (OL) revelam-se de cor vermelha escura porque contêm grandes quantidades de mioglobina e muitos capilares sanguíneos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Uma vez que possuem muitas mitocôndrias grandes, as fibras OL geram ATP principalmente por respiração aeróbica, motivo pelo qual são chamadas fibras oxidativas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Diz-se que essas fibras são “lentas” porque a ATPase nas cabeças de miosina hidrolisam ATP de maneira relativamente devagar e o ciclo de contração procede em ritmo mais lento que nas fibras “rápidas”. Em consequência disso, as fibras OL apresentam velocidade de contração lenta (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Seus abalos musculares duram 100 a 200 ms e levam mais tempo para chegar à tensão de pico. No entanto, fibras lentas são bastante resistentes à fadiga e capazes de contrações mais prolongadas e sustentadas por muitas horas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Essas fibras de contração lenta resistentes à fadiga são adaptadas para a manutenção da postura e para atividades aeróbicas de resistência como corrida de maratona (TORTORA, 14ª ed.). FIBRAS OXIDATIVO-GLICOLÍTICAS RÁPIDAS ↠ As fibras oxidativo-glicolíticas rápidas (OGR) são normalmente as fibras maiores. Assim como as fibras oxidativas lentas, elas contêm grandes quantidades de mioglobina e muitos capilares sanguíneos. Desse modo, também têm uma aparência vermelho-escura (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As fibras OGR podem gerar quantidade de ATP considerável por respiração aeróbica, o que lhes confere resistência moderadamente elevada à fadiga. Uma vez que seu nível intracelular de glicogênio é alto, elas também geram ATP por glicólise anaeróbica (TORTORA, 14ª ed.). ↠ As fibras OGR são “rápidas” porque a ATPase nas suas cabeças de miosina hidrolisa ATP 3 a 5 vezes mais rapidamente que a ATPase na miosina das fibras OL, tornando sua velocidade de contração maior (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Assim, os abalos das fibras OGR alcançam a tensão de pico mais rápido que as fibras OL, porém têm duração mais breve – menos de 100 ms. As fibras OGR contribuem para atividades como a caminhada e a corrida de velocidade (TORTORA, 14ª ed.). FIBRAS GLICOLÍTICAS RÁPIDAS ↠ As fibras glicolíticas rápidas (GR) apresentam baixo conteúdo de mioglobina, relativamente poucos capilares sanguíneos e poucas mitocôndrias e se mostram de cor branca (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Elas contêm grandes quantidades de glicogênio e geram ATP principalmente por glicólise. Devido à capacidade de hidrolisar ATP com rapidez, as fibras GR se contraem forte e rapidamente (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Essas fibras de contração rápida são adaptadas para movimentos anaeróbicos intensos de curta duração, como levantamento de peso ou arremesso de bola, porém fadigam logo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Programas de treinamento de força que colocam a pessoa em atividades que requerem grande força para curtos períodos aumentam o tamanho, a força e o conteúdo de glicogênio das fibras glicolíticas rápidas. As fibras GR de um levantador de peso podem ser 50% maiores que aquelas de pessoas sedentárias ou de um atleta de resistência por conta da síntese mais intensa de proteínas musculares. O resultado geral é o crescimento muscular decorrente da hipertrofia das fibras GR (TORTORA, 14ª ed.). 13 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck DISTRIBUIÇÃO E RECRUTAMENTO DE DIFERENTES TIPOS DE FIBRAS ↠ A maioria dos músculos esqueléticos apresenta uma mistura dos três tipos de fibras musculares esqueléticas. Cerca da metade das fibras de um músculo esquelético típico é composta por fibras OL (TORTORA, 14ª ed.). ↠ No entanto, as proporções variam razoavelmente, dependendo da ação do músculo, do regime de treinamento da pessoa e de fatores genéticos (TORTORA, 14ª ed.). Por exemplo, os músculos posturais continuamente ativos do pescoço, coluna vertebral e membros inferiores apresentam uma grande proporção de fibras OL. Em contrapartida, os músculos dos ombros e dos braços não são constantemente ativados, sendo usados ocasionalmente, de maneira breve para produzir grandes quantidades de tensão, como no levantamento de peso e nos arremessos. ↠ Em uma mesma unidade motora, as fibras musculares esqueléticas são do mesmo tipo. As diferentes unidades motoras de um músculo são recrutadas em ordem específica, dependendo da necessidade. Por exemplo, se contrações fracas são suficientes para realizar a tarefa, apenas unidades motoras OL são ativadas. Se houver necessidade de mais força, as unidades motoras de fibras OGR também são recrutadas. Por fim, em caso de necessidade de força máxima, unidades motoras de fibras GR também são postas em ação com os outros dois tipos. A ativação de várias unidades motoras é controlada pelo encéfalo e pela medula espinal (TORTORA, 14ª ed.). CARACTERÍSTICAS DOS TRÊS TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS FIBRAS OXIDADITAS LENTAS FIBRAS OXIDATIVAS- GLICOLÍTICAS RÁPIDAS FIBRAS GLICOLÍTICAS RÁPIDAS CARACTERÍSTICA ESTRUTURAL CONTEÚDO DE MIOGLOBINA Grande quantidade Grande quantidade Pequena quantidade MITOCÔNDRIA Muitas Muitas Poucas CAPILARES Muitos Muitos Poucos COR Vermelha Vermelho- rosada Branca (pálida) DIÂMETRO DA FIBRA Pequeno Intermediário Grande CARACTERÍSTICA FUNCIONAL CAPACIDADE DE GERAR ATP E MÉTODO USADO Alta, por respiração aeróbica Intermediária, tanto por respiração aeróbica quanto por glicólise anaeróbica Baixa, por glicólise anaeróbica VELOCIDADE DE HIDRÓLISE DE ATP PELA ATPASE DA MIOSINA Lenta Rápida Rápida RESISTÊNCIA À FADIGA Alta Intermediária Baixa ORDEM DE RECRUTAMENTO Primeira Segunda Terceira TOROTRA, 14ª ed. Estudos que englobam os interesses sobre a porcentagem das fibras musculares deixa evidente que vários fatores descrevem as fibras rápidas e lentas, os quais demonstram que não há diferenciação evidente entre as fibras segundo a idade ou sexo em sua distribuição aparente. Outro fator apontado por Scott Powers (2005), é que os seres humanos sedentários podem apresentar uma distribuição de fibras rápidas e lentas relativamente proporcionais, sendo em média 47 – 53% de fibras lentas (CACIAN et. al.). ARTIGO: Influência das células satélite na formação e transição das fibras musculares esqueléticas (FONSECA, 2009) É sabido que para cada fibra muscular existe um pool de células satélite entre a lâmina basal e a membrana sarcoplasmática, que, após algum estímulo, como lesão ou treino, é ativado e inicia um processo de regeneração muscular. São células capazes de se multiplicar, diferenciar e fundir para atingirem o seu objetivo de regenerar a fibra muscular. Estas células apresentam-se num estado de quiescência (G0), sendo ativadas após um estímulo, nomeadamente uma lesão ou o exercício físico. Após a sua ativação, estas células sofrem divisão mitótica, podendo seguir dois caminhos distintos: por um lado podem autoregenerar-se de modo a manter o seu pool; por outro lado, podem levar à renovação muscular. Após muita investigação, concluiu-se que as CS têm a mesma origem embrionária que o músculo onde elas residem. Aquandodo desenvolvimento embrionário, formam-se estruturas mesodérmicas de ambos os lados do tubo neural, chamadas somitos Estes vão originar, ventralmente, o esqueleto axial, e, dorsalmente, o dermomiótomo, que irá evoluir para os músculos esqueléticos do tronco, cauda e membros, e respectivas CS. Uma das primeiras classificações surgiu através da coloração muscular: fibras brancas e fibras vermelhas. Posteriormente foram utilizados outros métodos para classificar as fibras musculares, como a análise da reação da enzima sucinato desidrogenase (SDH). Foram classificadas em fibras oxidativas ou glicolíticas de acordo com o metabolismo apresentado, uma vez que a atividade da SDH sugere um metabolismo aeróbio, dado que esta enzima se encontra na mitocôndria, onde interfere no ciclo de Krebs. Através do método histoquímico, é possível classificar as fibras em tipo I ou tipo II e seus diversos subtipos – IIa e IIb. Essa classificação provém das diferentes intensidades de coloração das fibras devido às diferenças de pH. As fibras do tipo I apresentam uma grande atividade quando colocadas em meio 14 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ácido, enquanto que as fibras tipo II demonstram-na quando colocadas em meio básico. Por fim, através da análise da imunohistoquímica, podem-se identificar diferentes isoformas da cadeia pesada da miosina ou miosin heavy chain (MHC) pela utilização de anticorpos antiomiosina. (CA) Inicialmente, foram descritas as fibras do tipo I, contendo MHC I, fibras do tipo IIa, contendo MHC IIa e fibras IIb, contendo MHC IIb. Estão, também, descritas as fibras do tipo IIc, que são consideradas fibras imaturas. Mais recentemente, as fibras musculares esqueléticas foram, ainda, divididas em fibras puras ou híbridas. (1As fibras puras são aquelas que contêm apenas um só tipo de MHC, enquanto que as híbridas apresentam dois ou mais tipos de MHC. TRANSIÇÃO ENTRE TIPOS MUSCULARES As fibras musculares são estruturas dinâmicas capazes de modificar o seu fenótipo sob diversos estímulos e condições, tais como atividade neuromuscular alterada, alteração da demanda funcional, alterações hormonais, envelhecimento e exercício. Referências CACIAN et. al. Tipos de fibras musculares e seus desempenhos. 4º Congresso de Educação. FONSECA, M. J. L. Influência das células satélite na formação e transição das fibras musculares esqueléticas. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 2009. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016.
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