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01T - Os primórdios do cuidado e sua relevância

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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
Projeto Pós-graduação 
Curso Saúde Pública com ênfase em Saúde Da Família 
Disciplina Políticas Públicas de Saúde 
Tema Os primórdios do cuidado e sua relevância 
Professor Tânia Maria Santos Pires 
 
Introdução 
Olá aluno! Seja bem-vindo ao primeiro tema da disciplina Políticas 
Públicas de Saúde! Para começar, é de fundamental importância que 
estudemos a origem do cuidado. 
Quais as motivações para que ele acontecesse? 
Como se estabeleceu de forma oficial, tornando-se uma tarefa do 
Estado, até que se expressasse na forma como conhecemos e denominamos 
hoje políticas públicas de saúde? 
Essa reflexão nos levará a uma melhor compreensão das prioridades 
estabelecidas pelos governos e também o entendimento de como podemos 
contribuir para um cuidado melhor executado e mais justo. 
No material on-line, a professora Tânia apresenta os assuntos 
abordados neste tema! 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
Problematização 
Salvador, Bahia, ano de 1750. Antônia dos Santos era uma jovem de 18 
anos, solteira, pobre e órfã de mãe, que morreu no parto de um dos irmãos. 
Aos 5 anos, na ocasião da morte por doença do pai, foi doada por parentes 
para uma família de posses, para que trabalhasse como serviçal em troca de 
alimentação e abrigo. 
Ela se lembra de que tinha irmãos, mas eles foram igualmente 
designados a outras famílias e não deram mais notícias, exceto por um dos 
mais velhos que, de vez em quando, ia visitá-la na casa da senhora. 
Apesar das dificuldades, Antônia está feliz e apaixonada pelo seu 
namorado secreto, João Sousa, de 22 anos. Ambos trabalham como serviçais 
numa das casas de família nobre de Salvador, ela como cozinheira e ele como 
cavalariço. O namoro era secreto pelo fato de trabalharem no mesmo local, 
mas queriam se casar, embora que até o momento não tivessem dinheiro para 
isso. 
João ouviu falar que os marinheiros estavam ganhando muito dinheiro 
nas viagens entre Brasil e Portugal. Por isso, era sua intenção ganhar dinheiro 
como um deles e voltar para casar-se com sua namorada. Assim pensando, 
embarcou num dos galeões que singravam os mares transportando riquezas 
da colônia para o reino, sem saber que deixaria Antônia grávida e 
desamparada à própria sorte e que nunca mais a veria. 
Depois de um mês da partida de João, Antônia começou a ter sintomas 
suspeitos de gravidez, angústia que piorou quando notou que a menstruação 
não veio nos outros dois meses. Procurou uma mulher de fama e experiente 
em partos e teve a confirmação de que estava grávida. 
A sensação de pânico e desespero se apoderou dela. Como faria agora, 
sozinha, para lidar com essa situação? As viagens ao reino costumavam 
demorar muito. Provavelmente, quando João retornasse, seu ventre já estaria 
crescido e todos saberiam de sua desdita de ser mãe solteira. Entendeu que 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
3 
estava sozinha e desonrada. 
Resolveu inventar uma viagem ao interior, dizendo que precisava 
atender um de seus irmãos ainda vivos que estava doente, e abrigou-se numa 
casa pobre de uma das vilas próximas, onde viveu miseravelmente até o 
nascimento de seu filho. 
Antônia sabia que não poderia ficar ali, teria que voltar a trabalhar, mas 
não seria aceita em nenhuma casa de Salvador levando um pequeno bastardo. 
Porém o que fazer? Jamais abandonaria seu pequenino à morte. 
Foi quando se lembrou da Santa Casa e da roda dos enjeitados. Assim 
que seu bebê completou 40 dias de vida, Antônia saiu de madrugada, ainda no 
escuro, com o seu pacotinho aconchegado ao peito e se dirigiu ao convento, 
onde silenciosamente depositou seu bebê no cilindro conhecido como “a roda 
dos enjeitados”. Em seguida tocou o sino e escondeu-se atrás de uma das 
colunas de uma igreja próxima, de onde, entre lágrimas silenciosas, veria a 
roda girar e se despediria de seu filho para nunca mais encontrá-lo. 
Nunca mais encontrou-se com João também. O sonho de um casamento 
feliz acabou no fundo do mar, onde o corpo de João foi jogado depois que 
contraiu uma febre mortal, causa frequente de óbito entre os marinheiros. 
Restava agora a Antônia tentar retomar seu antigo trabalho, onde pelo 
menos teria pão e abrigo, ou quem sabe, alugar-se como ama de leite para 
uma família de posse. 
Considerando que na Europa já havia uma estrutura incipiente de 
cuidados aos desamparados, o que faltava à colônia e à coroa portuguesa 
naquele momento para dar suporte a pessoas como Antônia e ao seu anônimo 
filhinho em momento tão difícil, trazendo a todos um desfecho humanitário e 
correto? 
Reflita sobre o caso, mas não responda agora! Voltaremos a conversar 
ao final deste tema! 
 
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4 
Os primórdios do cuidado e sua relevância 
Para que o mais rudimentar grupamento social possa subsistir, há 
necessidade de organização de ações positivas no interesse comum, em forma 
de projetos, amparadas pela legislação e que venham ao encontro das 
necessidades da comunidade, promovendo o seu cuidado e desenvolvimento. 
A esse conjunto de planos e ações voltadas ao interesse público 
chamamos políticas públicas. 
Os temas e o conteúdo das políticas públicas costumam variar de 
acordo com as características de um povo e sua cultura, porém há temas 
inquestionáveis, por serem necessidades básicas de todos os povos. 
Saúde e amparo social são exemplos claros de temas irrefutáveis nas 
agendas de gestão pública atualmente. No entanto, a compreensão de que 
essas necessidades são direitos humanos acima de outros interesses e que a 
preservação da vida é de interesse público tanto quanto o é no nível individual 
demorou um pouco para se consolidar ao longo das sociedades. 
No contexto do cuidado, diversos setores apresentam-se ligados por 
interfaces e ações comuns. Essa confluência de interesses observa-se 
facilmente nas interfaces dos setores de saúde, educação, infraestrutura, ação 
social, moradia, emprego e renda. 
As ações em conjunto desses diversos setores se potencializam 
mutuamente, gerando qualidade de vida e desenvolvimento econômico e 
social. Porém nem sempre foi assim e ainda há muito a caminhar até que seja 
alcançada a meta da justiça social, cujo maior objetivo é diminuir as 
desigualdades, gerando equilíbrio de oportunidades para todos, focando 
sobretudo nos mais frágeis e vulneráveis. 
No decorrer da história da sociedade, a instituição do cuidado com as 
parcelas mais frágeis da população surge por três razões básicas: religiosas e 
humanitárias, sociais e econômicas. 
Na sequência, estudaremos cada um desses focos no desenvolvimento 
das ações de saúde. 
 
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5 
O foco do cuidado humanitário religioso 
As razões religiosas se manifestaram prioritariamente, sobretudo na 
cultura judaico-cristã ocidental. Há várias referências bíblicas do dever de se 
cuidar dos órfãos e das viúvas, desde o pentateuco ao Novo Testamento, com 
uma nota interessante em Deuteronômio cap. 27: 19: “maldito aquele que 
perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva”. 
O cristianismo trouxe como dever dos cristãos o amparo aos 
necessitados, registrado nos primórdios da igreja, havendo pessoas 
especialmente designadas para cuidar da assistência aos frágeis. A instituição 
dos diáconos demostra a importância do problema para estes primeiros 
cristãos (Atos 6: 1 a 5). 
A motivação da caridade cristã levou muitas pessoas a se dedicarem 
exclusivamente a essa tarefa, criando, desde a Idade Média, ordens religiosas 
dedicadas ao cuidado de mulheres e crianças desamparadas, que se 
abrigavam em conventos e monastérios. 
Os países europeus, da Idade Média ao Iluminismo, não tinham um 
programa de amparo estruturado aos pobres que pudesse promover a vida, 
mas foi ao longo deste período queações importantes foram se estruturando e 
modificaram aos poucos a visão da assistência à saúde e cuidado com os 
pobres. 
Segundo Nascimento (2008), a mortalidade infantil era imensa e o 
infanticídio não era considerado um crime propriamente dito, mas um pecado. 
Essa concepção de pecado com relação às crianças levou a Europa, sobretudo 
os países de tradição católica, como Portugal, Itália e Espanha, a 
desenvolverem ações caritativas de amparo às crianças que perduraram até o 
século XIX. Entre essas ações está a oficialização da “roda dos enjeitados” nos 
conventos. 
Inicialmente, a roda servia para receber doações. As pessoas 
depositavam seus donativos às freiras enclausuradas e tocavam o sino. A irmã 
encarregada de girar a roda recebia as dádivas. Posteriormente, o sino passou 
 
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6 
a ser tocado para receber bebês enjeitados por diversos motivos, como 
extrema pobreza dos pais, orfandade, proteção da honra, crianças fruto de 
relacionamentos ilícitos, os bastardos de homens casados e crianças 
malformadas congenitamente, por serem consideradas vergonhosas e 
representativas de castigo divino. 
A roda era uma opção generosa em comparação à outra, que seria 
abandonar a criança em monturos, nas florestas, onde eram devoradas por 
animais, ou então vendidas aos traficantes piratas para as mais diversas 
finalidades de exploração humilhante. 
O Brasil assume o modelo português de assistência aos enjeitados 
ainda na condição de colônia. A historiadora pernambucana Alcileide 
Nascimento relata que a principal motivação do acolhimento às crianças 
enjeitadas era a aplicação do sacramento do batismo aos pequeninos que, 
quando abandonados para morrer ao léu, à beira de rios, monturos e florestas, 
não recebiam o sacramento e não teriam suas almas salvas. 
A primeira casa dos enjeitados no Brasil foi registrada em Salvador/BA 
em 1726. O Brasil ainda teria mais 14 casas com o mesmo intento, encerradas 
gradativamente devido às mudanças de paradigmas sociais e de assistência 
aos desamparados. A última a encerrar suas atividades foi a de São Paulo, em 
1950. 
Na figura a seguir, vemos como era a roda dos enjeitados, também 
conhecida como roda dos expostos: 
 
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7 
 
 
Apesar do estigma representado pelo abandono, a roda foi a primeira 
forma de proteção à criança abandonada, de motivação religiosa com posterior 
apoio oficial institucional, vinculada e sustentada como uma obra de caridade. 
O abrigamento, apesar de benéfico, não impedia a morte maciça dessas 
crianças até um ano de idade, fosse por dificuldades nos cuidados, que 
proporcionavam maior fragilidade e maior número de doenças, a dificuldade em 
achar-se amas de leite para os recém-nascidos, que eram alimentados com 
leite de outros animais, mas sem a devida higiene, visto que se desconhecia as 
 
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necessidades de esterilização do leite, além do problema das doenças 
prevalentes, como a sífilis congênita ou adquirida de amas cuidadoras. Havia 
necessidade de maior envolvimento social e planejamento no cuidado dessas 
crianças. 
Nesse momento histórico, o Iluminismo forneceria o conteúdo racional 
necessário à mudança de paradigmas quanto ao cuidado e suas 
consequências sociais e econômicas. 
Na foto, vemos diversas crianças que foram abandonadas na roda dos 
expostos (enjeitados), no “Asylo dos Expostos”. 
 
Fonte: Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919 
www.museudeimagens.com.br/roda-dos-enjeitados 
A professora explica sobre o cuidado por razões religiosas no material 
on-line! 
 
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9 
O foco do cuidado social e comunitário 
Ao iniciar seu livro “Uma história da Saúde Pública”, George Rosen, 
médico americano nascido em 1910, analisa os principais componentes que 
originaram as políticas públicas de saúde da contemporaneidade. 
 
“Ao longo da história humana, os maiores problemas de saúde que os 
homens enfrentaram sempre estiveram relacionados com a natureza 
da vida em comunidade. Por exemplo, o controle das doenças 
transmissíveis, o controle e a melhoria do ambiente físico 
(saneamento), a provisão de água e comida puras, em volume 
suficiente, a assistência médica, e o alívio da incapacidade e do 
desamparo. A ênfase sobre cada um desses problemas variou no 
tempo, e de sua inter-relação se originou a Saúde Pública como a 
conhecemos hoje” (ROSEN, 2006, página 31) 
 
O foco do cuidado a partir do interesse comum também tem suas raízes 
na ancestralidade. O estabelecimento de regras de isolamento dos doentes de 
lepra é um exemplo claro da visão da proteção comunitária. Mesmo na Idade 
Média há registros de ações de saúde pública incipiente, com a organização de 
uma estrutura administrativa para a prevenção de enfermidades e supervisão 
sanitária para a proteção da saúde comunitária. 
 A atuação acontecia através de conselhos formados por cidadãos 
considerados ilustres, chamados na Inglaterra de vereadores. Esse conselho 
administrava a cidade, cuidando de suas finanças, abastecimento, supervisão 
de obras públicas e também de saúde e bem-estar, através de subcomitês, que 
organizavam ações como limpeza das ruas e supervisão dos mercados de 
alimentos. 
O cuidado de pessoas, no entanto, ainda estava fora da jurisdição oficial, 
e a assistência médica ocidental era permeada de religiosidade e misticismo, 
sendo o hospital considerado por muito tempo na Europa um lugar para 
mendigos e pobres morrerem com dignidade, recebendo os sacramentos 
religiosos. 
A partir do século XIII os hospitais começam a mudar de administração e 
objetivos, sendo a sua gestão transferida para o município, ainda que as 
 
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ordens religiosas se mantivessem no cuidado dos doentes. O número de 
hospitais aumentou significativamente, assim como os chamados leprosários, 
cuidados e atendidos pelas ordens religiosas, dando assistência aos pobres, 
que desde então foram chamados de indigentes. 
O foco do cuidado comunitário destacou a assistência à saúde dos mais 
pobres, para que não contaminassem todo o grupo comunitário. 
Considerando o contexto isento de base científica, sem os instrumentos 
e conhecimento da moderna ciência social e de saúde, o legado medieval 
europeu pode ser considerado muito bem-sucedido no foco social, no entanto, 
o interesse comunitário no cuidado não foi tão motivador quanto o interesse 
econômico. 
A professora discorre sobre as razões sociais para o cuidado no material 
on-line! 
O foco do cuidado por interesses econômicos 
Os custos com as ações de saúde sempre são entendidos como 
despesas, porque não são vistos os retornos imediatos dos investimentos 
feitos. 
Para que aconteça uma mudança na visão de gasto para a visão de 
investimento, faz-se necessária uma mudança de paradigma, como aconteceu 
na Inglaterra, na Alemanha e na França a partir do século XVII. 
Na base dessa mudança estava um conjunto de doutrinas políticas que 
aumentavam o poder do Estado e de seus dirigentes, coincidente não por 
acaso com o desenvolvimento da indústria nesses países, o chamado sistema 
mercantilista. 
Naquele momento uma pergunta estava sendo feita pelos monarcas e 
soberanos das nações que mais se desenvolviam no mundo: que rumo deve o 
governo seguir para aumentar o poder e a riqueza da nação? Ter uma 
população grande era a resposta imediata, o que proporcionaria uma mão-de-
obra de qualidade. Nesse caso, há que se cuidar da saúde da população e 
 
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controlá-la para que seja usada para os interesses do Estado. 
Metodologias estatísticas se desenvolveram e foram aplicadas nas 
análises dos problemas de saúde, o que estimulouo desenvolvimento de 
estudos de saúde pública. 
A ideia de uma política nacional de saúde desenvolveu-se na Inglaterra, 
mobilizando diversos setores, médicos, legisladores, homens de negócios, 
matemáticos e estatísticos, com o objetivo comum de cuidar da população para 
que ela, usufruindo de boa saúde, pudesse ser cada vez mais produtiva, desde 
o chão da fábrica até os grandes pensadores. 
Logo, muda-se o foco do cuidado caritativo para o desenvolvimento 
econômico e social. 
 Na prática, entende-se que é muito mais lucrativo cuidar da criança para 
que se desenvolva de forma saudável e sirva à pátria em vários aspectos. 
Promover formação e ofício profissional significava lucro no futuro e 
desenvolvimento para a nação. 
Na mesma linha, dar condições para que a mulher pobre possa cuidar 
do seu filho pequeno, não tendo que abandoná-lo por falta de recursos, mas 
amamentando-o pelo tempo certo até que fique forte o suficiente para resistir 
às doenças, mostrava-se muito mais vantajoso e lucrativo para a nação. 
Criava-se assim os rudimentos das leis de amparo à maternidade e à criança. 
Nessa época, desenvolve-se a base da pediatria e um novo 
entendimento do que é a criança e a infância. 
A criança começa a ser compreendida como diferente do adulto, suas 
necessidades emocionais e fragilidade biológica são levadas em conta e um 
novo sistema de proteção social começa a ser construído dentro das famílias, 
com direcionamento médico. 
Outro aspecto de fundamental importância para a melhoria social e dos 
hospitais nos séculos XVII e XVIII seria a tecnologia de guerra que, a partir do 
desenvolvimento dos equipamentos bélicos à base de pólvora, exigiu cuidado 
maior com as crianças e posteriormente com os soldados. Isso era relevante 
 
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para que uma nação ou reino tivesse reconhecido poder com a formação de 
um numeroso e poderoso exército. 
Cuidar dos órfãos para que crescessem e servissem à pátria, sua “mãe 
cuidadora”, compondo mais tarde os pelotões da infantaria, era garantia de um 
exército numeroso e poderoso, e para isso era essencial evitar que as crianças 
morressem precocemente e também equipar os hospitais, para que o soldado 
ferido pudesse sobreviver, afinal, sua morte significava perda de patrimônio 
bélico. 
Dentro dessa lógica, iniciativas e empreendimentos se destacaram na 
Inglaterra. Em 1741, foi criado o Hospital dos Enjeitados de Londres. Em 1748, 
foi publicado o “ensaio sobre amamentação e manejo de crianças” e cidadãos 
filantropos influentes como Jonas Hanway trabalharam em defesa da causa 
das crianças pobres. Na França, em 1793, foi sancionado um decreto 
relacionado à saúde das crianças e das mulheres grávidas. 
Como se vê, os interesses econômicos e de poder se sobrepujam aos 
interesses humanitários, porém o conjunto das visões de cuidado – 
humanitária/religiosa, social e econômica – tornou-se a base da estrutura 
moderna da atenção à saúde e uma visão prática das políticas públicas de 
saúde trouxe, de fato, mais benefícios à sociedade. 
A professora comenta mais sobre o cuidado por interesses econômicos 
no material on-line! 
Revendo a problematização 
Lembra-se da história trágica de Antônia, jovem sozinha e desamparada 
no Brasil Colônia, em Salvador/BA, no ano de 1750? É hora de relembrar a 
questão proposta quanto à situação dela: 
O que falta à colônia e à coroa portuguesa para dar suporte à Antônia e 
ao seu anônimo filhinho em momento tão difícil, trazendo a todos um desfecho 
humanitário e correto? Considere as alternativas a seguir. 
 
 
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13 
a. Falta a visão de desenvolvimento social como base para o 
desenvolvimento econômico, que foi o elemento propulsor dos 
benefícios sociais e de saúde na Inglaterra e Alemanha. 
b. Falta a ação do Estado, naquela época representado pela coroa 
portuguesa, na construção de orfanatos e locais oficiais de cuidado aos 
bebês desamparados. 
c. Falta a sensibilização da sociedade no sentido de atender os pobres e 
desamparados, exercendo a caridade religiosa de fato. 
Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o 
material on-line! 
Síntese 
Nesse passeio histórico entendemos como as visões de cuidado se 
desenvolveram, mesmo no mundo ainda desprovido do conhecimento 
científico. O foco do cuidado humanitário expresso no dever religioso do 
amparo aos pobres e frágeis da sociedade levou muitos abnegados cuidadores 
a abrir mão de seu conforto pessoal e tomar conta de crianças desamparadas 
e rejeitadas. Ao mesmo tempo, a evolução do conceito de saúde comunitária e 
proteção da saúde do grupo se desenvolvia desde a Idade Média com medidas 
sanitárias e sociais. 
Os interesses econômicos e de poder, no entanto, foram os fatores que 
mais impulsionaram o cuidado das pessoas, porque motivou o Estado a 
intervir, assumindo o papel de cuidador da população para que ela tivesse 
saúde e condições físicas de trabalho. Não se chega à idade adulta produtiva 
sem cuidados na infância, portanto “há que se cuidar do broto para que a vida 
nos dê flor e fruto” (Coração de estudante – Milton Nascimento). 
Para finalizar, acompanhe o vídeo de síntese da professora no material 
on-line! 
 
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14 
Referências 
 
MARCILIO, M.L. A roda dos expostos e a criança abandonada no Brasil 
colonial: 1726-1950. In FREITAS, M. C. (Org.). História Social da Infância no 
Brasil. São Paulo: Cortez, 1997. 
 
NASCIMENTO A. A sorte dos enjeitados: O combate ao infanticídio e a 
institucionalização da assistência às crianças abandonadas do Recife (1789-
1832). São Paulo: Annablume: FINEP , 2008. 
 
ROSEN G. Uma História da Saúde Pública. 3ª ed. São Paulo: Hucitec – 
Unesp, 2006. 
 
Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 
2003-2016. [consult. 2016-03-09 14:15:13]. Disponível 
em: http://www.infopedia.pt/$roda-dos-enjeitados. Acesso em 09 de março de 
2016. 
 
VAN-DALL O. A. Estado, cidade e direito de ser exceção: sobre políticas 
antidemocracia e o estado de inclusão na cidade residual – artigo 2012. 
Disponível em: www.ppgau.ufba/urbicentros/2012/st243.pdf. Acesso em 10 de 
março de 2016. 
 
 
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15 
Atividades 
 
 A assistência à saúde e cuidados com as parcelas mais frágeis da 
sociedade tinham motivações diferentes pelos empreendedores do 
cuidado. Assinale a alternativa correta a respeito do assunto. 
a. As ordens religiosas cuidavam focando na salvação da alma e por 
razões humanitárias. 
b. Os vereadores eram encarregados dos cuidados médicos da população. 
c. Os reis e líderes cuidavam da população para cumprir o seu papel 
designado por Deus. 
d. O desenvolvimento industrial trouxe mais doenças e exploração aos 
pobres. 
 A roda dos enjeitados iniciou-se no Brasil em 1726 na Bahia, apesar de 
ser uma solução muito conhecida na Europa desde a Idade Média. Os 
conventos recebiam crianças que haviam sido rejeitadas pelos seus pais 
por motivos específicos, dentre os quais: 
a. Eram recebidas apenas crianças de origem pobre e doentes, cujos pais 
não tinham a menor possiblidade de cuidar. 
b. Eram recebidas as crianças que precisavam ser escondidas por motivos 
morais, como os bastardos de homens casados e filhos de mulheres 
solteiras das altas camadas sociais. 
c. Eram recebidas prioritariamente as crianças negras e mestiças. 
d. Crianças com poucas possibilidades de vida não eram recebidas. 
 Na visão de cuidado social e comunitário, as razões do cuidado se 
 
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16 
baseavam: 
a. Em um sentimento de solidariedade e valorização da vida como bem 
precioso. 
b. A consciência da eternidade pós morte e prestação de contas a Deus. 
c. A responsabilidade com os menosfavorecidos que compõem a 
sociedade. 
d. Defesa da sociedade através do controle de epidemias e outras 
doenças. 
 O desenvolvimento industrial associado às teorias políticas tiveram 
repercussão positiva nos cuidados de saúde da população. Sobre isso, 
assinale a afirmativa correta: 
a. Os monarcas queriam mais poder, riquezas e controle sobre a 
população e a forma que acharam mais viável para isso foi cuidar da 
saúde das pessoas. 
b. A valorização da mão-de-obra do adulto piorou a situação da criança, já 
que essa não se enquadrava na cadeia de produção. 
c. O desenvolvimento dos hospitais aconteceu pelo esforço dos médicos e 
ordens religiosas interessados na melhoria da qualidade prestada aos 
pacientes. 
d. Apesar dos avanços motivados pelo interesse econômico, não havia até 
então um país com uma visão de política pública de saúde estruturante. 
 Quando se fala em política pública de saúde, após a análise histórica 
estudada, assinale a alternativa que melhor expressa esse conceito. 
a. Ações sociais fundamentadas em interesses humanitários no sentido de 
 
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melhorar a qualidade de vida das pessoas. 
b. Ações governamentais de interesse público destinadas a cuidar da 
saúde e bem-estar da população. 
c. Ações governamentais com orientação político-doutrinárias com o 
objetivo de controlar a saúde das pessoas. 
d. Ações de cunho social e democrata, aplicadas nos países livres, com o 
intuito de promover a saúde da população. 
 
Para conferir o feedback das atividades, acesse o material on-line!

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