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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
Tema – Planejamento Estratégico Situacional em Saúde 
Projeto Pós-graduação 
Curso Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família 
Disciplina Planejamento e Gestão em Saúde 
Tema Planejamento Estratégico Situacional em saúde 
Professora Ivana Maria Saes Busato 
Introdução 
O Planejamento Estratégico Situacional - PES - será o assunto deste 
tema. A metodologia do PES foi proposta na década de 1980 por Carlos Matus, 
economista chileno, e seu enfoque estratégico desencadeou outras 
metodologias. 
Ele vem como uma proposta teórico-metodológica para planejar e 
governar, e é utilizado e adaptado em áreas como a saúde e a educação. Sua 
aplicabilidade no planejamento em saúde possibilita situar os problemas em um 
contexto amplo, mantendo a riqueza da análise de viabilidades e de 
possibilidades de intervenção na realidade, em vários territórios. 
Finalizamos com a explicação sobre os outros métodos de planejamento 
que utilizam o enfoque estratégico: Altadir de Planificação Popular e o 
planejamento de projetos orientado por objetivos (Zoop). 
(Vídeo disponível no material on-line) 
Problematização 
A Unidade Básica de Saúde Campo Bello atende a uma população de 
cinco mil habitantes. Parte da comunidade é constituída por ocupações 
irregulares, que estão em fase de regularização, sendo que as residências e 
famílias já foram cadastradas e estão aguardando a documentação. 
A cidade é dividida em dez bairros, seis regiões administrativas e as 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
Projeto Pós-graduação 
Curso Saúde Pública com ênfase em Saúde Da Família 
Disciplina Políticas Públicas de Saúde 
Tema Os primórdios do cuidado e sua relevância 
Professor Tânia Maria Santos Pires 
 
Introdução 
Olá aluno! Seja bem-vindo ao primeiro tema da disciplina Políticas 
Públicas de Saúde! Para começar, é de fundamental importância que 
estudemos a origem do cuidado. 
Quais as motivações para que ele acontecesse? 
Como se estabeleceu de forma oficial, tornando-se uma tarefa do 
Estado, até que se expressasse na forma como conhecemos e denominamos 
hoje políticas públicas de saúde? 
Essa reflexão nos levará a uma melhor compreensão das prioridades 
estabelecidas pelos governos e também o entendimento de como podemos 
contribuir para um cuidado melhor executado e mais justo. 
No material on-line, a professora Tânia apresenta os assuntos 
abordados neste tema! 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
Problematização 
Salvador, Bahia, ano de 1750. Antônia dos Santos era uma jovem de 18 
anos, solteira, pobre e órfã de mãe, que morreu no parto de um dos irmãos. 
Aos 5 anos, na ocasião da morte por doença do pai, foi doada por parentes 
para uma família de posses, para que trabalhasse como serviçal em troca de 
alimentação e abrigo. 
Ela se lembra de que tinha irmãos, mas eles foram igualmente 
designados a outras famílias e não deram mais notícias, exceto por um dos 
mais velhos que, de vez em quando, ia visitá-la na casa da senhora. 
Apesar das dificuldades, Antônia está feliz e apaixonada pelo seu 
namorado secreto, João Sousa, de 22 anos. Ambos trabalham como serviçais 
numa das casas de família nobre de Salvador, ela como cozinheira e ele como 
cavalariço. O namoro era secreto pelo fato de trabalharem no mesmo local, 
mas queriam se casar, embora que até o momento não tivessem dinheiro para 
isso. 
João ouviu falar que os marinheiros estavam ganhando muito dinheiro 
nas viagens entre Brasil e Portugal. Por isso, era sua intenção ganhar dinheiro 
como um deles e voltar para casar-se com sua namorada. Assim pensando, 
embarcou num dos galeões que singravam os mares transportando riquezas 
da colônia para o reino, sem saber que deixaria Antônia grávida e 
desamparada à própria sorte e que nunca mais a veria. 
Depois de um mês da partida de João, Antônia começou a ter sintomas 
suspeitos de gravidez, angústia que piorou quando notou que a menstruação 
não veio nos outros dois meses. Procurou uma mulher de fama e experiente 
em partos e teve a confirmação de que estava grávida. 
A sensação de pânico e desespero se apoderou dela. Como faria agora, 
sozinha, para lidar com essa situação? As viagens ao reino costumavam 
demorar muito. Provavelmente, quando João retornasse, seu ventre já estaria 
crescido e todos saberiam de sua desdita de ser mãe solteira. Entendeu que 
 
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3 
estava sozinha e desonrada. 
Resolveu inventar uma viagem ao interior, dizendo que precisava 
atender um de seus irmãos ainda vivos que estava doente, e abrigou-se numa 
casa pobre de uma das vilas próximas, onde viveu miseravelmente até o 
nascimento de seu filho. 
Antônia sabia que não poderia ficar ali, teria que voltar a trabalhar, mas 
não seria aceita em nenhuma casa de Salvador levando um pequeno bastardo. 
Porém o que fazer? Jamais abandonaria seu pequenino à morte. 
Foi quando se lembrou da Santa Casa e da roda dos enjeitados. Assim 
que seu bebê completou 40 dias de vida, Antônia saiu de madrugada, ainda no 
escuro, com o seu pacotinho aconchegado ao peito e se dirigiu ao convento, 
onde silenciosamente depositou seu bebê no cilindro conhecido como “a roda 
dos enjeitados”. Em seguida tocou o sino e escondeu-se atrás de uma das 
colunas de uma igreja próxima, de onde, entre lágrimas silenciosas, veria a 
roda girar e se despediria de seu filho para nunca mais encontrá-lo. 
Nunca mais encontrou-se com João também. O sonho de um casamento 
feliz acabou no fundo do mar, onde o corpo de João foi jogado depois que 
contraiu uma febre mortal, causa frequente de óbito entre os marinheiros. 
Restava agora a Antônia tentar retomar seu antigo trabalho, onde pelo 
menos teria pão e abrigo, ou quem sabe, alugar-se como ama de leite para 
uma família de posse. 
Considerando que na Europa já havia uma estrutura incipiente de 
cuidados aos desamparados, o que faltava à colônia e à coroa portuguesa 
naquele momento para dar suporte a pessoas como Antônia e ao seu anônimo 
filhinho em momento tão difícil, trazendo a todos um desfecho humanitário e 
correto? 
Reflita sobre o caso, mas não responda agora! Voltaremos a conversar 
ao final deste tema! 
 
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4 
Os primórdios do cuidado e sua relevância 
Para que o mais rudimentar grupamento social possa subsistir, há 
necessidade de organização de ações positivas no interesse comum, em forma 
de projetos, amparadas pela legislação e que venham ao encontro das 
necessidades da comunidade, promovendo o seu cuidado e desenvolvimento. 
A esse conjunto de planos e ações voltadas ao interesse público 
chamamos políticas públicas. 
Os temas e o conteúdo das políticas públicas costumam variar de 
acordo com as características de um povo e sua cultura, porém há temas 
inquestionáveis, por serem necessidades básicas de todos os povos. 
Saúde e amparo social são exemplos claros de temas irrefutáveis nas 
agendas de gestão pública atualmente. No entanto, a compreensão de que 
essas necessidades são direitos humanos acima de outros interesses e que a 
preservação da vida é de interesse público tanto quanto o é no nível individual 
demorou um pouco para se consolidar ao longo das sociedades. 
No contexto do cuidado, diversos setores apresentam-se ligados por 
interfaces e ações comuns. Essa confluência de interesses observa-se 
facilmente nas interfaces dos setores de saúde, educação, infraestrutura, ação 
social, moradia, emprego e renda. 
As ações em conjunto desses diversos setores se potencializam 
mutuamente, gerando qualidade de vida e desenvolvimento econômico e 
social. Porém nem sempre foi assim e ainda há muito a caminhar até que seja 
alcançada a meta da justiça social, cujo maior objetivo é diminuir as 
desigualdades, gerando equilíbrio de oportunidadespara todos, focando 
sobretudo nos mais frágeis e vulneráveis. 
No decorrer da história da sociedade, a instituição do cuidado com as 
parcelas mais frágeis da população surge por três razões básicas: religiosas e 
humanitárias, sociais e econômicas. 
Na sequência, estudaremos cada um desses focos no desenvolvimento 
das ações de saúde. 
 
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5 
O foco do cuidado humanitário religioso 
As razões religiosas se manifestaram prioritariamente, sobretudo na 
cultura judaico-cristã ocidental. Há várias referências bíblicas do dever de se 
cuidar dos órfãos e das viúvas, desde o pentateuco ao Novo Testamento, com 
uma nota interessante em Deuteronômio cap. 27: 19: “maldito aquele que 
perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva”. 
O cristianismo trouxe como dever dos cristãos o amparo aos 
necessitados, registrado nos primórdios da igreja, havendo pessoas 
especialmente designadas para cuidar da assistência aos frágeis. A instituição 
dos diáconos demostra a importância do problema para estes primeiros 
cristãos (Atos 6: 1 a 5). 
A motivação da caridade cristã levou muitas pessoas a se dedicarem 
exclusivamente a essa tarefa, criando, desde a Idade Média, ordens religiosas 
dedicadas ao cuidado de mulheres e crianças desamparadas, que se 
abrigavam em conventos e monastérios. 
Os países europeus, da Idade Média ao Iluminismo, não tinham um 
programa de amparo estruturado aos pobres que pudesse promover a vida, 
mas foi ao longo deste período que ações importantes foram se estruturando e 
modificaram aos poucos a visão da assistência à saúde e cuidado com os 
pobres. 
Segundo Nascimento (2008), a mortalidade infantil era imensa e o 
infanticídio não era considerado um crime propriamente dito, mas um pecado. 
Essa concepção de pecado com relação às crianças levou a Europa, sobretudo 
os países de tradição católica, como Portugal, Itália e Espanha, a 
desenvolverem ações caritativas de amparo às crianças que perduraram até o 
século XIX. Entre essas ações está a oficialização da “roda dos enjeitados” nos 
conventos. 
Inicialmente, a roda servia para receber doações. As pessoas 
depositavam seus donativos às freiras enclausuradas e tocavam o sino. A irmã 
encarregada de girar a roda recebia as dádivas. Posteriormente, o sino passou 
 
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6 
a ser tocado para receber bebês enjeitados por diversos motivos, como 
extrema pobreza dos pais, orfandade, proteção da honra, crianças fruto de 
relacionamentos ilícitos, os bastardos de homens casados e crianças 
malformadas congenitamente, por serem consideradas vergonhosas e 
representativas de castigo divino. 
A roda era uma opção generosa em comparação à outra, que seria 
abandonar a criança em monturos, nas florestas, onde eram devoradas por 
animais, ou então vendidas aos traficantes piratas para as mais diversas 
finalidades de exploração humilhante. 
O Brasil assume o modelo português de assistência aos enjeitados 
ainda na condição de colônia. A historiadora pernambucana Alcileide 
Nascimento relata que a principal motivação do acolhimento às crianças 
enjeitadas era a aplicação do sacramento do batismo aos pequeninos que, 
quando abandonados para morrer ao léu, à beira de rios, monturos e florestas, 
não recebiam o sacramento e não teriam suas almas salvas. 
A primeira casa dos enjeitados no Brasil foi registrada em Salvador/BA 
em 1726. O Brasil ainda teria mais 14 casas com o mesmo intento, encerradas 
gradativamente devido às mudanças de paradigmas sociais e de assistência 
aos desamparados. A última a encerrar suas atividades foi a de São Paulo, em 
1950. 
Na figura a seguir, vemos como era a roda dos enjeitados, também 
conhecida como roda dos expostos: 
 
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7 
 
 
Apesar do estigma representado pelo abandono, a roda foi a primeira 
forma de proteção à criança abandonada, de motivação religiosa com posterior 
apoio oficial institucional, vinculada e sustentada como uma obra de caridade. 
O abrigamento, apesar de benéfico, não impedia a morte maciça dessas 
crianças até um ano de idade, fosse por dificuldades nos cuidados, que 
proporcionavam maior fragilidade e maior número de doenças, a dificuldade em 
achar-se amas de leite para os recém-nascidos, que eram alimentados com 
leite de outros animais, mas sem a devida higiene, visto que se desconhecia as 
 
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8 
necessidades de esterilização do leite, além do problema das doenças 
prevalentes, como a sífilis congênita ou adquirida de amas cuidadoras. Havia 
necessidade de maior envolvimento social e planejamento no cuidado dessas 
crianças. 
Nesse momento histórico, o Iluminismo forneceria o conteúdo racional 
necessário à mudança de paradigmas quanto ao cuidado e suas 
consequências sociais e econômicas. 
Na foto, vemos diversas crianças que foram abandonadas na roda dos 
expostos (enjeitados), no “Asylo dos Expostos”. 
 
Fonte: Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919 
www.museudeimagens.com.br/roda-dos-enjeitados 
A professora explica sobre o cuidado por razões religiosas no material 
on-line! 
 
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9 
O foco do cuidado social e comunitário 
Ao iniciar seu livro “Uma história da Saúde Pública”, George Rosen, 
médico americano nascido em 1910, analisa os principais componentes que 
originaram as políticas públicas de saúde da contemporaneidade. 
 
“Ao longo da história humana, os maiores problemas de saúde que os 
homens enfrentaram sempre estiveram relacionados com a natureza 
da vida em comunidade. Por exemplo, o controle das doenças 
transmissíveis, o controle e a melhoria do ambiente físico 
(saneamento), a provisão de água e comida puras, em volume 
suficiente, a assistência médica, e o alívio da incapacidade e do 
desamparo. A ênfase sobre cada um desses problemas variou no 
tempo, e de sua inter-relação se originou a Saúde Pública como a 
conhecemos hoje” (ROSEN, 2006, página 31) 
 
O foco do cuidado a partir do interesse comum também tem suas raízes 
na ancestralidade. O estabelecimento de regras de isolamento dos doentes de 
lepra é um exemplo claro da visão da proteção comunitária. Mesmo na Idade 
Média há registros de ações de saúde pública incipiente, com a organização de 
uma estrutura administrativa para a prevenção de enfermidades e supervisão 
sanitária para a proteção da saúde comunitária. 
 A atuação acontecia através de conselhos formados por cidadãos 
considerados ilustres, chamados na Inglaterra de vereadores. Esse conselho 
administrava a cidade, cuidando de suas finanças, abastecimento, supervisão 
de obras públicas e também de saúde e bem-estar, através de subcomitês, que 
organizavam ações como limpeza das ruas e supervisão dos mercados de 
alimentos. 
O cuidado de pessoas, no entanto, ainda estava fora da jurisdição oficial, 
e a assistência médica ocidental era permeada de religiosidade e misticismo, 
sendo o hospital considerado por muito tempo na Europa um lugar para 
mendigos e pobres morrerem com dignidade, recebendo os sacramentos 
religiosos. 
A partir do século XIII os hospitais começam a mudar de administração e 
objetivos, sendo a sua gestão transferida para o município, ainda que as 
 
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10 
ordens religiosas se mantivessem no cuidado dos doentes. O número de 
hospitais aumentou significativamente, assim como os chamados leprosários, 
cuidados e atendidos pelas ordens religiosas, dando assistência aos pobres, 
que desde então foram chamados de indigentes. 
O foco do cuidado comunitário destacou a assistência à saúde dos mais 
pobres, para que não contaminassem todo o grupo comunitário. 
Considerando o contexto isento de base científica, sem os instrumentos 
e conhecimentoda moderna ciência social e de saúde, o legado medieval 
europeu pode ser considerado muito bem-sucedido no foco social, no entanto, 
o interesse comunitário no cuidado não foi tão motivador quanto o interesse 
econômico. 
A professora discorre sobre as razões sociais para o cuidado no material 
on-line! 
O foco do cuidado por interesses econômicos 
Os custos com as ações de saúde sempre são entendidos como 
despesas, porque não são vistos os retornos imediatos dos investimentos 
feitos. 
Para que aconteça uma mudança na visão de gasto para a visão de 
investimento, faz-se necessária uma mudança de paradigma, como aconteceu 
na Inglaterra, na Alemanha e na França a partir do século XVII. 
Na base dessa mudança estava um conjunto de doutrinas políticas que 
aumentavam o poder do Estado e de seus dirigentes, coincidente não por 
acaso com o desenvolvimento da indústria nesses países, o chamado sistema 
mercantilista. 
Naquele momento uma pergunta estava sendo feita pelos monarcas e 
soberanos das nações que mais se desenvolviam no mundo: que rumo deve o 
governo seguir para aumentar o poder e a riqueza da nação? Ter uma 
população grande era a resposta imediata, o que proporcionaria uma mão-de-
obra de qualidade. Nesse caso, há que se cuidar da saúde da população e 
 
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11 
controlá-la para que seja usada para os interesses do Estado. 
Metodologias estatísticas se desenvolveram e foram aplicadas nas 
análises dos problemas de saúde, o que estimulou o desenvolvimento de 
estudos de saúde pública. 
A ideia de uma política nacional de saúde desenvolveu-se na Inglaterra, 
mobilizando diversos setores, médicos, legisladores, homens de negócios, 
matemáticos e estatísticos, com o objetivo comum de cuidar da população para 
que ela, usufruindo de boa saúde, pudesse ser cada vez mais produtiva, desde 
o chão da fábrica até os grandes pensadores. 
Logo, muda-se o foco do cuidado caritativo para o desenvolvimento 
econômico e social. 
 Na prática, entende-se que é muito mais lucrativo cuidar da criança para 
que se desenvolva de forma saudável e sirva à pátria em vários aspectos. 
Promover formação e ofício profissional significava lucro no futuro e 
desenvolvimento para a nação. 
Na mesma linha, dar condições para que a mulher pobre possa cuidar 
do seu filho pequeno, não tendo que abandoná-lo por falta de recursos, mas 
amamentando-o pelo tempo certo até que fique forte o suficiente para resistir 
às doenças, mostrava-se muito mais vantajoso e lucrativo para a nação. 
Criava-se assim os rudimentos das leis de amparo à maternidade e à criança. 
Nessa época, desenvolve-se a base da pediatria e um novo 
entendimento do que é a criança e a infância. 
A criança começa a ser compreendida como diferente do adulto, suas 
necessidades emocionais e fragilidade biológica são levadas em conta e um 
novo sistema de proteção social começa a ser construído dentro das famílias, 
com direcionamento médico. 
Outro aspecto de fundamental importância para a melhoria social e dos 
hospitais nos séculos XVII e XVIII seria a tecnologia de guerra que, a partir do 
desenvolvimento dos equipamentos bélicos à base de pólvora, exigiu cuidado 
maior com as crianças e posteriormente com os soldados. Isso era relevante 
 
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12 
para que uma nação ou reino tivesse reconhecido poder com a formação de 
um numeroso e poderoso exército. 
Cuidar dos órfãos para que crescessem e servissem à pátria, sua “mãe 
cuidadora”, compondo mais tarde os pelotões da infantaria, era garantia de um 
exército numeroso e poderoso, e para isso era essencial evitar que as crianças 
morressem precocemente e também equipar os hospitais, para que o soldado 
ferido pudesse sobreviver, afinal, sua morte significava perda de patrimônio 
bélico. 
Dentro dessa lógica, iniciativas e empreendimentos se destacaram na 
Inglaterra. Em 1741, foi criado o Hospital dos Enjeitados de Londres. Em 1748, 
foi publicado o “ensaio sobre amamentação e manejo de crianças” e cidadãos 
filantropos influentes como Jonas Hanway trabalharam em defesa da causa 
das crianças pobres. Na França, em 1793, foi sancionado um decreto 
relacionado à saúde das crianças e das mulheres grávidas. 
Como se vê, os interesses econômicos e de poder se sobrepujam aos 
interesses humanitários, porém o conjunto das visões de cuidado – 
humanitária/religiosa, social e econômica – tornou-se a base da estrutura 
moderna da atenção à saúde e uma visão prática das políticas públicas de 
saúde trouxe, de fato, mais benefícios à sociedade. 
A professora comenta mais sobre o cuidado por interesses econômicos 
no material on-line! 
Revendo a problematização 
Lembra-se da história trágica de Antônia, jovem sozinha e desamparada 
no Brasil Colônia, em Salvador/BA, no ano de 1750? É hora de relembrar a 
questão proposta quanto à situação dela: 
O que falta à colônia e à coroa portuguesa para dar suporte à Antônia e 
ao seu anônimo filhinho em momento tão difícil, trazendo a todos um desfecho 
humanitário e correto? Considere as alternativas a seguir. 
 
 
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13 
a. Falta a visão de desenvolvimento social como base para o 
desenvolvimento econômico, que foi o elemento propulsor dos 
benefícios sociais e de saúde na Inglaterra e Alemanha. 
b. Falta a ação do Estado, naquela época representado pela coroa 
portuguesa, na construção de orfanatos e locais oficiais de cuidado aos 
bebês desamparados. 
c. Falta a sensibilização da sociedade no sentido de atender os pobres e 
desamparados, exercendo a caridade religiosa de fato. 
Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o 
material on-line! 
Síntese 
Nesse passeio histórico entendemos como as visões de cuidado se 
desenvolveram, mesmo no mundo ainda desprovido do conhecimento 
científico. O foco do cuidado humanitário expresso no dever religioso do 
amparo aos pobres e frágeis da sociedade levou muitos abnegados cuidadores 
a abrir mão de seu conforto pessoal e tomar conta de crianças desamparadas 
e rejeitadas. Ao mesmo tempo, a evolução do conceito de saúde comunitária e 
proteção da saúde do grupo se desenvolvia desde a Idade Média com medidas 
sanitárias e sociais. 
Os interesses econômicos e de poder, no entanto, foram os fatores que 
mais impulsionaram o cuidado das pessoas, porque motivou o Estado a 
intervir, assumindo o papel de cuidador da população para que ela tivesse 
saúde e condições físicas de trabalho. Não se chega à idade adulta produtiva 
sem cuidados na infância, portanto “há que se cuidar do broto para que a vida 
nos dê flor e fruto” (Coração de estudante – Milton Nascimento). 
Para finalizar, acompanhe o vídeo de síntese da professora no material 
on-line! 
 
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14 
Referências 
 
MARCILIO, M.L. A roda dos expostos e a criança abandonada no Brasil 
colonial: 1726-1950. In FREITAS, M. C. (Org.). História Social da Infância no 
Brasil. São Paulo: Cortez, 1997. 
 
NASCIMENTO A. A sorte dos enjeitados: O combate ao infanticídio e a 
institucionalização da assistência às crianças abandonadas do Recife (1789-
1832). São Paulo: Annablume: FINEP , 2008. 
 
ROSEN G. Uma História da Saúde Pública. 3ª ed. São Paulo: Hucitec – 
Unesp, 2006. 
 
Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 
2003-2016. [consult. 2016-03-09 14:15:13]. Disponível 
em: http://www.infopedia.pt/$roda-dos-enjeitados. Acesso em 09 de março de 
2016. 
 
VAN-DALL O. A. Estado, cidade e direito de ser exceção: sobre políticas 
antidemocracia e o estado de inclusão na cidade residual – artigo 2012. 
Disponível em: www.ppgau.ufba/urbicentros/2012/st243.pdf. Acesso em 10 de 
março de 2016. 
 
 
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15 
Atividades 
 
 A assistênciaà saúde e cuidados com as parcelas mais frágeis da 
sociedade tinham motivações diferentes pelos empreendedores do 
cuidado. Assinale a alternativa correta a respeito do assunto. 
a. As ordens religiosas cuidavam focando na salvação da alma e por 
razões humanitárias. 
b. Os vereadores eram encarregados dos cuidados médicos da população. 
c. Os reis e líderes cuidavam da população para cumprir o seu papel 
designado por Deus. 
d. O desenvolvimento industrial trouxe mais doenças e exploração aos 
pobres. 
 A roda dos enjeitados iniciou-se no Brasil em 1726 na Bahia, apesar de 
ser uma solução muito conhecida na Europa desde a Idade Média. Os 
conventos recebiam crianças que haviam sido rejeitadas pelos seus pais 
por motivos específicos, dentre os quais: 
a. Eram recebidas apenas crianças de origem pobre e doentes, cujos pais 
não tinham a menor possiblidade de cuidar. 
b. Eram recebidas as crianças que precisavam ser escondidas por motivos 
morais, como os bastardos de homens casados e filhos de mulheres 
solteiras das altas camadas sociais. 
c. Eram recebidas prioritariamente as crianças negras e mestiças. 
d. Crianças com poucas possibilidades de vida não eram recebidas. 
 Na visão de cuidado social e comunitário, as razões do cuidado se 
 
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16 
baseavam: 
a. Em um sentimento de solidariedade e valorização da vida como bem 
precioso. 
b. A consciência da eternidade pós morte e prestação de contas a Deus. 
c. A responsabilidade com os menos favorecidos que compõem a 
sociedade. 
d. Defesa da sociedade através do controle de epidemias e outras 
doenças. 
 O desenvolvimento industrial associado às teorias políticas tiveram 
repercussão positiva nos cuidados de saúde da população. Sobre isso, 
assinale a afirmativa correta: 
a. Os monarcas queriam mais poder, riquezas e controle sobre a 
população e a forma que acharam mais viável para isso foi cuidar da 
saúde das pessoas. 
b. A valorização da mão-de-obra do adulto piorou a situação da criança, já 
que essa não se enquadrava na cadeia de produção. 
c. O desenvolvimento dos hospitais aconteceu pelo esforço dos médicos e 
ordens religiosas interessados na melhoria da qualidade prestada aos 
pacientes. 
d. Apesar dos avanços motivados pelo interesse econômico, não havia até 
então um país com uma visão de política pública de saúde estruturante. 
 Quando se fala em política pública de saúde, após a análise histórica 
estudada, assinale a alternativa que melhor expressa esse conceito. 
a. Ações sociais fundamentadas em interesses humanitários no sentido de 
 
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17 
melhorar a qualidade de vida das pessoas. 
b. Ações governamentais de interesse público destinadas a cuidar da 
saúde e bem-estar da população. 
c. Ações governamentais com orientação político-doutrinárias com o 
objetivo de controlar a saúde das pessoas. 
d. Ações de cunho social e democrata, aplicadas nos países livres, com o 
intuito de promover a saúde da população. 
 
Para conferir o feedback das atividades, acesse o material on-line! 
 
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2 
áreas administrativas da saúde são chamadas de Distritos Sanitários. Cada 
Distrito Sanitário possui uma equipe administrativa e técnica, gerida pelo 
gerente regional, esse distrito é subdividido em territórios de unidades de 
saúde. 
A Unidade Básica de Saúde Campo Bello pertence ao Distrito Sanitário 
que fica ao norte do município e agrega dois bairros: o bairro Água Clara é o 
mais antigo e mantém aspecto rural, com casas distantes uma das outras e 
com terreno ao fundo para pequenas plantações e/ou criações; o bairro Areias 
é mais recente formado por uma ocupação desordenada e em fase de 
regularização. 
Essa unidade ainda trabalha com a estratégia da saúde da Família, 
possuindo duas equipes, uma amarela e outra azul: 
A equipe amarela tem uma médica, uma enfermeira, quatro auxiliares de 
enfermagem, quatro agentes comunitários de saúde e uma equipe de saúde 
bucal com um dentista e um auxiliar. Essa equipe atende ao bairro Água Clara, 
cuja população total é de 2990 habitantes, sendo 1505 de idosos (acima 65 
anos), o que representa mais de 50%. Entre as principais morbidades estão a 
diabetes e a hipertensão. 
Já a equipe azul é formada por um médico, uma enfermeira, quatro 
auxiliares de enfermagem e uma equipe de saúde bucal com um dentista e um 
auxiliar. Atende ao bairro Areias, que tem população total de 2010 habitantes, a 
maior parte formada por crianças e adolescentes (1206). A principal morbidade 
dessa comunidade é doença respiratória e devemos destacar um caso de 
tuberculose pulmonar em uma adolescente de 14 anos. 
Em reunião para o planejamento estratégico cada equipe destacou seus 
problemas prioritários: a equipe amarela priorizou a hipertensão em idosos e a 
equipe azul a asma em crianças e adolescentes. Ambas apresentaram para 
você, gerente da unidade, suas ações e responsabilidades. Entre as 
responsabilidades destacadas para você como gerente da unidade estão: 
garantir todos os medicamentos para hipertensão para realizar o 
 
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acompanhamento dos pacientes da equipe amarela; a equipe azul apontou que 
a chefia tem que conseguir uma fisioterapeuta para realizar as fisioterapias 
funcionais nas crianças e adolescentes com asma. 
Como você encaminharia essas demandas? Você não precisa 
responder agora! Realize seus estudos sobre este tema e escolha a melhor 
alternativa para a situação mais adiante. 
(Vídeo disponível no material on-line) 
Para que planejar em saúde? 
O planejamento torna-se necessário quando um processo de mudança é 
indispensável e quando há determinadas situações que não deveriam ocorrer, 
exigindo respostas efetivas. Ele é uma ferramenta de trabalho utilizada para 
tomar decisões e organizar as ações de forma lógica e racional, de modo a 
garantir os melhores resultados e a realização de objetivos com menores 
custos e no menor prazo possível. 
No setor da saúde, o planejamento tem papel vital para o 
direcionamento de ações visando atingir ou alcançar um resultado previamente 
escolhido. Portanto, esse processo não se resume a um conjunto de intenções 
ou à tomada de decisões em si (VIEIRA, 2009). 
Planejamento em saúde é um processo que objetiva realizar uma 
intervenção sobre determinado recorte de realidade, com propostas de ação, 
realizada por atores sociais, em um processo que inclui desenhar, executar, 
acompanhar e avaliar, com propósito de manter ou modificar uma determinada 
situação de saúde (TANCREDI, 2002). 
O planejamento é uma ferramenta da gestão compartilhada, cuja 
finalidade é organizar a ação de grupos na realização de tarefas e contribuir 
para a coprodução de sujeitos capazes de intervir na formulação de políticas e 
na organização dos serviços. 
 
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Planejamento Estratégico Situacional 
A metodologia do Planejamento Estratégico Situacional - PES -, 
proposta por Carlos Matus, “propõe identificar e intervir sobre problemas de 
saúde da população, cuja delimitação resulta de negociação e consenso entre 
distintos modos de entender a saúde” (TEIXEIRA, 1995, apud KLEBA, 2011). 
O PES, 
“focaliza problemas de uma realidade, sobre a qual se pretende agir, 
cuja delimitação considera a perspectiva dos atores que os vivenciam 
e reconhece que há modos diversos de perceber e explicar a 
realidade”... “A resolução dos problemas depende da disponibilidade 
e do acesso a recursos, mas também da viabilidade política, ou seja, 
de quanto os atores reconhecem a necessidade de mudanças e de 
quanto eles estão abertos e se comprometem em sua efetivação” 
(KLEBA, et al., 2011). 
 
 
Figura 1: Carlos Matus 
Fonte: http://cigob.org.ar/new/matus/biografia/A reflexão e a proposta de ação de Matus centram-se na necessidade 
de aumentar a capacidade de governar e seu método de planejamento é 
centrado em problemas e em operações que deverão ser desencadeadas para 
enfrentá-los. 
 
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O ato de governar implica em equacionar simultaneamente três grandes 
variáveis: o Programa de Governo, a Capacidade de Governo e a 
Governabilidade, formando o “Triângulo de Governo”. 
 
Figura 2: Triângulo de Governo 
Fonte: http://www.planejamento.gov.br/conteudo.asp?p=noticia&ler=10697 
 
A concepção do processo de planejamento do PES é constituída de 
“momentos” que não seguem uma lógica sequencial rígida. A noção de 
momentos, ao mesmo tempo em que respeita a experiência acumulada por 
cada instituição, permite a elaboração de um pensamento “comum” em uma: 
“estrutura “modular”, que permite a definição de objetivos e o 
desenvolvimento de atividades e tarefas que podem estar situadas 
em tempos distintos do processo de intervenção sobre os problemas”. 
“Permite que se incluam propostas voltadas para o aperfeiçoamento 
do conhecimento disponível, ou para o aperfeiçoamento das normas 
técnicas e administrativas que regulam as ações a serem realizadas, 
ou para a operacionalização de ações propriamente ditas, sem 
“engessar” o processo em etapas rígidas, sequenciais” (TEIXEIRA, 
2010, p. 46-47). 
 
Uribe Rivera (et al., 1992) apresenta os quatro momentos do PES: 
Momento Explicativo, Momento Normativo, Momento Estratégico e Momento 
Tático-Operacional. 
O momento explicativo propõe estratégias para identificar, escrever e 
explicar os problemas, considerando informações objetivas como dados 
quantitativos, normas e rotinas, mas também informações subjetivas como a 
percepção dos diversos atores sobre os problemas analisados. 
 
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Para Matus: 
“há três tipos de problema, tendo como referência tempo, significado 
e natureza do resultado para um ator: ameaças, ou seja, o risco 
“potencial de perder uma conquista ou agravar uma situação”; 
oportunidades, como possibilidades que podem ser aproveitadas ou 
desperdiçadas; e problemas, identificados como deficiências que 
provocam desconforto, inquietação e exigem enfrentamento. A 
explicação dos problemas se dá através da identificação das causas 
a eles atribuídas e suas interações, conhecendo de que forma essas 
interferem na produção de um ou mais problemas, e quais podem ser 
consideradas nós críticos. Os nós críticos concentram a intervenção 
que gera mudanças, tendo alto impacto sobre os descritores do 
problema (KLEBA, et al., 2011). 
 
Uribe Rivera (et al., 1992) resume como momento de conhecer a 
situação atual, procurando identificar, priorizar e analisar seus problemas, com 
a visão de cada ator. No momento explicativo busca-se realizar a análise 
situacional da saúde. Uma concepção de “situação”: 
“um conjunto de problemas, identificados, descritos e analisados na 
perspectiva de um determinado ator social”... “Admitindo a pluralidade 
de “planejamentos”, isto é, o reconhecimento de que todos os atores 
sociais planejam (mesmo que não escrevam planos), isto é, tomam 
decisões e estabelecem cursos de ação voltados à consecução de 
seus objetivos (TEIXEIRA & PAIM, 2000, p. 69). 
 
O momento normativo: 
“propõe a definição de objetivos e resultados a alcançar, bem como a 
previsão de estratégias e ações necessárias para seu alcance. Essa 
etapa requer análise das tendências de natureza política, econômica 
e social que poderão influenciar o contexto assistencial, definindo 
cenários favoráveis ou desfavoráveis à implementação do modelo 
gerencial. Essa análise deve considerar sempre as finalidades a 
serem alcançadas, preservando tanto à coerência interna, que diz 
respeito aos princípios da instituição, quanto à coerência externa, que 
se refere ao SUS. O planejamento requer aqui que se observem 
obstáculos e oportunidades internas e externas, bem como o tempo 
que a resolução dos problemas requer e o tempo próprio do período 
de gestão” (KLEBA, et al., 2011). 
 
Resumidamente podemos afirmar que esse momento é a formulação de 
soluções para o enfrentamento do problema e elaboração de propostas de 
solução (RIVERA, et al., 1992). 
Sobre o momento estratégico, Kleba comenta: 
“O momento estratégico enfatiza a importância de analisar recursos 
 
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7 
econômicos, administrativos e políticos, necessários e/ou disponíveis. 
A partir dos objetivos traçados, devem ser previstos projetos de 
intervenção, estabelecendo sua sequência temporal, bem como os 
efeitos esperados. Nesse momento, são revisados os nós críticos 
selecionados e sua interação com os demais problemas identificados 
na matriz explicativa. A análise dos recursos políticos avalia a 
motivação dos atores para se engajar e comprometer no processo. 
Reconhece a existência de conflitos de interesse e disputa por 
posições de poder que emergem nos processos de decisão, 
especialmente quando esses requerem mudanças de concepções e 
práticas” (KLEBA, et al., 2011, p. 188). 
 
O gestor deve “planejar junto, com e não para outros atores, o que 
requer uma postura dialógica, superando-se a concepção normativa do deve 
ser, e incorporando como possibilidades o pode ser e a vontade de fazer” 
(KLEBA, et al., 2011). 
Esse momento estratégico deve-se construir viabilidade para as 
propostas de soluções e a formulação de estratégias (RIVERA, et al., 1992). 
De Toni (2009) aponta que a viabilidade política é mais complexa porque 
envolve as relações com os outros atores, com recursos dominados e com as 
motivações e interesses pelos problemas. A escolha de estratégias para sua 
superação varia de acordo com diversos fatores: direcionalidade, ideológicos, 
culturais, emocionais, entre outros. Ele aponta três grandes opções 
estratégicas (DE TONI, 2009): 
a. De cooperação – que supõe negociação e acordo, aonde cada parte 
cede em troca de benefícios mútuos; 
b. De cooptação – implica que uma parte ganhe a adesão da outra 
parte (ator ou atores) aplicando seu peso, domínio de recursos e/ou 
força no projeto ideológico; 
c. De conflito – utilizando o conflito entre os atores. 
 
O próximo momento, o tático-operacional, segundo Teixeira (apud 
KLEBA, et al., 2011): 
“prevê a programação da implementação das propostas, incluindo 
cronograma, recursos, atores responsáveis e participantes na 
execução. É essencial ainda rever os objetivos, definindo estratégias 
e parâmetros de acompanhamento e avaliação, seja dos resultados, 
 
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8 
seja do processo, reconhecendo-se a necessidade de flexibilizar o 
planejamento, mas garantindo sua efetividade e eficácia. Nesse 
sentido, é necessário prever momentos de análise das informações e 
de revisão das ações e dos recursos programados, assegurando não 
apenas a visibilidade do processo aos atores envolvidos, mas 
também a capacidade gerencial e assistencial de adaptar-se e 
adequar-se frente a situações imprevistas”. 
(Vídeo disponível no material on-line) 
 
Teixeira e Paim (2000) apontam que o enfoque situacional foi 
inicialmente adotado buscando certas adaptações e considerando, 
posteriormente, a possibilidade de se conjugar elementos teóricos e 
metodológicos da chamada “trilogia matusiana”: método de planejamento 
estratégico-situacional (PES); método Altadir de planificação popular (Mapp) e 
o método planejamento de projetos orientado por objetivos (Zoop). 
O método Altadir de Planificação Popular (MAPP): 
“se fundamenta nos mesmos princípios do PES” (...) “Pelas suas 
características operativas, constitui-se no método de eleição para 
planejamento no nível local, particularmente naqueles altamente 
descentralizados. É simples e criativo, elaborado com o objetivo de 
viabilizar a planificação a partir de uma basepopular”. 
 
Isso ajuda a manter a comunidade comprometida, particularmente suas 
lideranças, pela análise e enfrentamento dos problemas. Tancredi avisa, 
porém, que esse “deve ser encarado como um método limitado à natureza e 
complexidade dos problemas” (TANCREDI, 1998, apud AGUIAR et al., 2006). 
O método planejamento de projetos orientado por objetivos (Zoop), 
também tem suas bases ancoradas no PES. A sigla Zoop vem de uma sigla 
alemã, Ziel Orientierte Projekt Planung, que em português significa 
Planejamento de Projeto Orientado por Objetivo. 
Esse método trabalha com a análise da participação dos grupos 
envolvidos, análise dos problemas, análise dos objetivos e a elaboração da 
matriz de planejamento por projeto (objetivos específicos, produtos, resultados, 
atividades, tarefas, responsáveis, prazos, indicadores de acompanhamento e 
avaliação). Utiliza tarjetas para construção coletiva da árvore de problemas e 
 
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9 
análise situacional. 
Agora venha conhecer o Método Altadir de Planificação Popular (MAPP) 
e o Método de planejamento de projetos orientado por objetivos (Zoop), no 
vídeo a seguir. 
(Vídeo disponível no material on-line) 
Problematização 
Agora que você conhece melhor o planejamento estratégico em saúde, 
veja a seguir as possíveis ações em relação à situação que lhe foi apresentada 
no começo deste tema. Escolha aquela que você acredita ser a mais 
adequada: 
a. Encaminharia um documento formal à gerencia do Distrito Sanitário 
apontando a metodologia utilizada no Planejamento Estratégico 
Situacional para análise dos problemas da comunidade e sua 
priorização. Relatando as perspectivas dos atores sociais nas 
propostas de solução dos problemas priorizados e solicitando 
avaliação de viabilidade econômica e política para sua implantação. 
b. Colocaria aviso no mural da Unidade de que essas responsabilidades 
destacadas para gerencia são impossíveis de solução exigindo a 
retratação da equipe e mudança de prioridades. 
c. Utilizaria as ferramentas do Planejamento Estratégico Situacional em 
especial o momento estratégico para analisar a construção de 
viabilidade para as propostas de soluções e formulação de 
estratégias com a equipe. Todos devem colocar suas visões sobre 
essas propostas e a viabilidade de execução para correção das 
propostas caso seja necessário. 
 
 
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Feedbacks: 
a. Essa decisão mostraria para todos os atores sociais envolvidos a sua 
corresponsabilização pelas propostas de solução colocadas no 
planejamento de cada equipe. Conforme aponta o momento 
estratégico do PES, essa é uma avaliação de viabilidade e, qualquer 
que seja o resultado, o planejamento será constantemente atualizado 
e novas propostas serão elaboradas. 
b. Essa sua decisão compromete completamente o planejamento da 
equipe porque a expectativa de todos os atores sociais é uma nova a 
análise de viabilidade que deve ser realizada por todos, para 
encontrar novos caminhos na melhoria dos problemas priorizados. 
c. O Planejamento Estratégico Situacional tem ferramentas para 
trabalhar com problemas que podem ter viabilidade ou não. O 
importante é a corresponsabilização entre todos os atores sociais 
para em qualquer momento rever e alterar as propostas para solução 
dos problemas. 
Síntese 
O Planejamento Estratégico Situacional proposto por Carlos Matus foi 
detalhado neste tema. Aprendemos os conceitos de momentos colocados por 
Matus e sua utilização na trilogia matusiana, apresentada pelas três 
metodologias de aplicação do PES: o método PES que abrange com toda 
intensidade o enfoque estratégico de Carlos Matus e suas derivações, o 
Método Altadir de Planificação Popular e o Método de Planejamento de Projeto 
Orientado por Objetivo. 
A situação-problema que foi desenvolvida neste tema apresentou uma 
situação vivenciada por gerentes de unidades de saúde, com o estudo do 
Planejamento Estratégico Situacional. Isso pode instrumentalizá-lo para o 
desempenho como profissional de saúde trabalhando em equipes 
multiprofissionais. 
 
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11 
(Vídeo disponível no material on-line) 
Referências 
AGUIAR, G. N. de et al. Planejamento Participativo Realizado em Área de 
Abrangência do Programa Saúde da Família. APS, v.9, n.1, p. 45-49, jan./jun. 
2006. 
RIVERA, F. J. U.; ARTMANN, E. Planejamento e gestão em saúde: 
flexibilidade metodológica e agir comunicativo. Ciênc. saúde coletiva [on-line], 
vol. 4, n. 2, p. 355-365, 1999, 
CAMPOS, R. O. Planejamento e razão instrumental: uma análise da produção 
teórica sobre planejamento estratégico em saúde, nos anos noventa, no Brasil. 
Cad. Saúde Pública [on-line], vol.16, n. 3, p. 723-731, 2000. 
GONZALEZ, M. M. L. Planejamento estratégico em saúde com base em 
determinantes: o caso do município de Campo Bom (RS). Uma proposta 
metodológica para a gestão descentralizada. Ciênc. saúde coletiva [on-line], 
vol.14, suppl.1, p. 1587-1597, 2009. 
KLEBA, M. E.; KRAUSER, I. M.; VENDRUSCOLO, C. O planejamento 
estratégico situacional no ensino da gestão em saúde da família. Texto 
contexto - enferm. [on-line], vol.20, n. 1, p. 184-193, 2011. 
DE TONI, J. Metodologia e técnicas de Planejamento governamentais 
revisitados. In: REPETTO, F. et al., Reflexões para Ibero-América: 
Planejamento estratégico. Brasília: ENAP, 2009. 105p. 
TANCREDI, F. B.; BARRIOS S. R. L.; FERREIR, J. H. G. Planejamento em 
saúde. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São 
Paulo, 2002. 
TEIXEIRA, C. F. Planejamento em saúde: conceitos, métodos e experiências / 
Carmen Fontes Teixeira (organizadora). - Salvador: EDUFBA, 2010. 
TEIXEIRA, C. F. Planejamento e programação situacional em distritos 
sanitários: metodologia e organização. In: MENDES, E. V., 
 
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12 
organizador. Distrito sanitário: o processo social de mudança das 
práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo/Rio de 
Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1995, p. 237-265. 
TEIXEIRA, C. F.; PAIM J. S. Planejamento e programação de ações 
intersetoriais para a promoção da saúde e da qualidade de vida. RAP Rio de 
Janeiro, 34(6):63-80, Nov./Dez., 2000. 
URIBE, F. J. R.; ARTMANN, E. Planejamento e gestão em saúde: histórico e 
tendências com base numa visão comunicativa. Ciênc. saúde coletiva [on-
line], vol.15, n. 5., p. 2265-2274, 2010. 
URIBE, F. J. R.; TESTA, M.; MATUS, C. Planejamento e programação em 
saúde um enfoque estratégico. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1992, p. 222. 
(Pensamento social e saúde, v.2). 
VIEIRA, F. S. Avanços e desafios do planejamento no Sistema Único de 
Saúde. Ciênc. saúde coletiva [on-line], vol. 14, suppl. 1, p. 1565-1577, 2009. 
Atividades 
 Carlos Matus trabalhou com o enfoque estratégico propondo o 1.
Planejamento Estratégico Situacional, com o conceito de aumentar a 
capacidade de governar. Analise as proposições abaixo e assinale 
alternativa correta: 
a. Essa proposta era representada pelo Triângulo de Governo. 
b. Essa proposta era representada pelo Método ZOOP. 
c. Essa proposta era representada pelo Método Altadir de Planificação 
Popular. 
d. Essa proposta era representada pela Estimativa Rápida Participativa. 
 
 
 
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13 
 Analise as proposições a seguir e assinale alternativa correta sobre o 2.
momento tático-operacional do PES: 
I. realiza a priorização dos problemas; 
II. prevê a programação da implementação das propostas; 
III. a análise situacional é produzida. 
a. As proposições I e II estão corretas. 
b. Somente a proposição II está correta. 
c. As proposições I II e III estão corretas. 
d. Somente a proposição III está correta. 
 
 O Momento Explicativo é uma das etapas do PES, analise as 3.
alternativas a seguir e assinalealternativa correta: 
a. Momento de executar o plano. 
b. Elaboração de propostas de solução. 
c. Momento da definição de objetivos e resultados a alcançar. 
d. Conhecer a situação atual, análise situacional. 
 
 A formulação de soluções para enfrentamento do problema é realizada 4.
no momento________, no momento________ há formulação de 
estratégias e construção de viabilidade das propostas de soluções 
elaboradas no momento__________. 
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto: 
a. Explicativo, Estratégico e Normativo 
b. Normativo, Estratégico e Normativo 
c. Tático-operacional, normativo e estratégico 
d. Estratégico, tático-operacional e explicativo 
 
 
 
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14 
 O enfoque estratégico para o planejamento em saúde de Carlos Matus 5.
deu origem às propostas metodológicas: MOPP e ZOOP. Coloque 
verdadeiro ou falso e assinale a alternativa que apresenta a sequência 
correta: 
( ) o MOPP tem objetivo de viabilizar a planificação a partir de uma 
base popular; 
( ) o ZOOP nunca utiliza o momento explicativo do PES; 
( ) o MOPP nunca é utilizado como método de eleição para 
planejamento no nível local; 
( ) o método do PES sempre utiliza a análise de viabilidade. 
a. F F V V 
b. F V V F 
c. V F F V 
d. V V F F 
 
 
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1 
Projeto Pós-graduação 
Disciplina Políticas Públicas de Saúde 
Tema As primeiras políticas públicas de saúde brasileiras 
Professor Tânia Maria Santos Pires 
 
Introdução 
A primeira iniciativa reconhecida como política pública de saúde no Brasil 
só aconteceu no início do século XX. Neste tema, vamos conhecer quais foram 
os primeiros projetos e qual a evolução deles até os dias de hoje. 
No vídeo com acesso pelo material on-line a Professora Tânia vai 
apresentar os tópicos que estudaremos aqui. Não deixe de assistir. 
 
 
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2 
Problematização 
São Paulo, capital, 11 de agosto de 1930, 9h da manhã de uma segunda 
feira. João dos Santos está ainda deitado em sua pequena casa na periferia. Ele 
tem 30 anos de idade, é casado com Gema, tem 3 filhos, sendo que a mais nova 
nasceu há 3 meses. Ele é ferroviário da empresa São Paulo Railway, que faz o 
transporte de café de Jundiaí até o porto de Santos. 
Neste momento se recupera de uma pneumonia. Ele esteve internado por 
15 dias na Santa Casa, onde recebeu cuidados médicos. Naquele período ele 
pôde observar a angústia nos olhos de sua esposa, enquanto a observava 
rezando para que ele melhorasse logo. Agora estava quase bom, já na 
expectativa de voltar a trabalhar. 
Enquanto via seus filhos brincando e sua esposa correndo com as tarefas 
da casa, ele relembrava da sua vida, das histórias que ouviu e do sofrimento que 
viu e viveu. Não atualmente, porque graças a Deus e ao sindicato, ele adoeceu 
e foi tratado, mas tudo o que passou até que chegasse aqui ainda está muito 
vivo na sua memória e na sua emoção. 
Lembra-se da caminhada imensa, no calor escaldante da seca, da sede 
insuportável, quando em 1915, ele, seus pais e seus nove irmãos fizeram o 
percurso do sertão da Bahia até São Paulo. 
João é baiano, nascido em 1900 no sertão da Bahia. Sempre conviveu 
com a seca, mas em 1915, tudo parecia que ia se acabar quando seu pai, 
sertanejo corajoso e trabalhador, resolveu se mudar levando toda a família para 
tentar fazer alguma coisa e ter alguma esperança em outro lugar, porque ali, 
sendo peão nas fazendas, só restavam a fome e a morte como certezas. 
Na sua família havia uma história que era contada há várias gerações 
sobre uma moça chamada Antônia que deixou seu bebê na roda dos enjeitados. 
Depois de 7 anos, um homem foi até o convento e disse às irmãs que aquele 
menino era seu sobrinho. Sua irmã havia falecido naquele ano de tísica e no seu 
leito de morte contou-lhe sobre o filho e o dia em que havia deixado ali o seu 
menino. As irmãs tinham um registro detalhado de todas as crianças recebidas 
 
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3 
e conseguiram identificar o filhinho de Antônia. Desde então, sempre há uma 
Antônia na família, como uma homenagem, uma espécie de solidariedade 
aquela Antônia ancestral que tanto sofreu. 
João relembra da sua chegada em São Paulo, junto com o seu pai e dois 
irmãos. João encontrou-se com um rapaz de sua idade e tornaram-se amigos. 
Era Giovani, que contou que sua família também estava chegando em São 
Paulo, mas eles vieram de muito longe, do estrangeiro, e iam para uma cidade 
chamada São Carlos trabalhar nas lavouras de café. João falou para o seu pai e 
eles se juntaram aos italianos e foram para os cafezais. 
As condições de vida não eram muito boas, mas comparadas ao lugar de 
onde vieram, eram bem melhores. Com o passar dos anos, João aprendeu a ler, 
a mexer com algumas máquinas e queria melhorar de vida. Ouviu falar das 
ferrovias que estavam chegando em São Paulo e desejou sair da fazenda, ousar 
algo mais. Já estava apaixonado por Gema, uma linda moça italiana, irmã de 
seu amigo Giovani. 
Casaram-se, e a mistura de um baiano e uma italiana trouxe Severino 
(nome do pai de João), Genaro (nome do avô de Gema) e mais uma Antônia 
para a família. João quer um futuro melhor para os seus filhos. Quer que eles 
estudem e não vivam as dificuldades que ele viveu. 
Os sindicatos falam de lutar por melhorias e é isso que ele deseja. Todos 
falam de reformas nas leis para melhorar as condições de vida e saúde dos 
trabalhadores, mas de que forma isso poderia acontecer? 
Não precisa responder agora, nós ainda vamos voltar a falar da história 
do João no final deste tema. 
 
 
 
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4 
O início: vazio assistencial 
No vídeo a seguir, a Professora Tânia vai falar sobre o vazio assistencial. 
Acesse pelo material on-line. 
O cidadão brasileiro viveu por muitos anos sem assistência à saúde. 
Desde a sua descoberta até o início da república, a não ser alguns poucos 
cuidados de vigilância sanitária em áreas portuárias, nada havia que pudesse 
trazer um pouco de segurança à população. Esta situação torna-se mais grave 
quando se considera a população pobre, sobretudo depois da abolição da 
escravatura. 
Os antigos escravos saíram das fazendas sem qualquer tipo de amparo 
social, sem trabalho, sem teto, sem qualificação. Mesmo para o trabalho que 
sabiam fazer, não eram requisitados. Muitos fazendeiros preferiam contratar os 
imigrantes estrangeiros do que os negros ex-escravos. Esta enorme população 
em busca de trabalho e moradia, abrigou-se nas imediações das grandes 
cidades que se urbanizavam, nas conhecidas favelas, sem infraestrutura, o que 
aumentou o problema sanitário. 
A economia agrária ainda era predominante e a mentalidade da herança 
escravagista, de supressão de direitos sociais e desconsideração de direitos 
humanos ainda era dominante na sociedade, portanto, os avanços dos países 
europeus desde a época do mercantilismo e iluminismo não haviam ainda 
chegado aqui, de modo a repercutir em mudanças sociais. Muito ainda teria que 
se caminhar para chegar-se à discussão e implementação legal de um plano 
nacional de saúde que pudesse prover a assistência e cuidados de saúde à 
população brasileira. Isto acontece finalmente, na segunda metade da década 
de 80. 
 Um dos grandes entendimentos sobre o que é saúde foi elaborado pela 
VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986. Há que se notar que quase 100 
anos após a formação da república, ainda não havia um entendimento do que 
significava cuidar da saúde das pessoas. As discussões e conclusões da VIII 
Conferência demonstraram-se inovadoras e, infelizmente, parecem novidade até 
 
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hoje para alguns gestores, políticose líderes. Veja a seguir o texto do relatório 
final da conferência: 
 
Em primeiro lugar ficou evidente que as modificações necessárias ao 
setor saúde transcendem os limites de uma reforma administrativa e 
financeira, exigindo-se uma reformulação mais profunda, ampliando-se 
o próprio conceito de saúde e sua correspondente ação institucional, 
revendo-se a legislação que diz respeito à promoção, proteção e 
recuperação constituindo-se no que se convencionou chamar de 
reforma sanitária” (BRASIL, 1986). 
 
Apesar do atraso e do alto preço pago pela população pela falta de ações 
institucionais de saúde, vale a pena entendermos o processo lento de construção 
das várias etapas da evolução da saúde pública brasileira. 
 
Período do Sanitarismo Campanhista – 1900 a 1930 
 
Elaborar um plano nacional de saúde não é uma tarefa fácil. Há que se 
considerar todo o contexto social e cultural e ter um objetivo claro das razões de 
se estabelecer o cuidado. 
Lembrando da história do nosso país, saímos de uma colonização 
predatória com a chegada da família real portuguesa em 1808. Até aquele 
momento, nada havia que pudesse ser identificado com sequer um resquício de 
saúde pública no país. A partir de 1808 até a independência, o Brasil foi a sede 
do governo português e a corte sentiu a necessidade de formar médicos para 
atendimento dos nobres. Instalaram-se então as primeiras escolas de medicina 
no país, na Bahia e no Rio de Janeiro. Os pobres continuavam sendo atendidos 
pelos curandeiros e entendidos nas artes de curar como os boticários. 
A república trouxe o primeiro ato de saúde pública com a implantação da 
vacinação contra varíola. Infelizmente, a metodologia militarizada aplicada para 
implementação desta ação, gerou um movimento de revolta popular que ficou 
conhecida como “a revolta da vacina”. 
 
 
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Tiros, brigas, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte 
público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, 
destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores 
derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de 
vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta 
de Notícias, 14 de novembro de 1904). 
 
Acredito que ao ler o texto transcrito, se você não tivesse visto a data, 
você pensaria tratar-se de uma notícia de um dos jornais de hoje em alguma 
capital do país, não é mesmo? Porém, esta manifestação tem algo mais do que 
apenas os boatos gerados sobre a vacina. 
Com a abolição oficial da escravatura, os barões do café precisavam de 
mão de obra em suas lavouras, o que levou o governo a abrir as portas para a 
imigração estrangeira em massa, sobretudo de italianos para as regiões 
cultivadoras do café. Estas pessoas, embora pobres em seus países de origem, 
vinham de uma sociedade europeia em que as discussões sobre direitos 
humanos e sociais estavam mais avançadas do que no Brasil. 
Chegaram aqui para substituir os negros escravos que não tinham 
qualquer respeito ou direito. Quando se depararam com as péssimas condições 
de trabalho, exploração, abuso e violência a que eram submetidos dentro do 
antigo modelo escravagista, revoltaram-se e manifestaram sua indignação. 
Movimentos políticos como os anarquistas e comunistas foram as bases de 
movimentos reivindicatórios sindicais, que estouraram em greves e 
aproveitavam-se de qualquer motivo para manifestações anti-governo, como foi 
o caso da revolta da vacina. 
É importante lembrar que a vacinação obrigatória, sob a direção do 
médico sanitarista Osvaldo Cruz, fazia parte de um grupo de medidas destinadas 
a sanear a cidade que sediava o porto mais importante do país, ou seja, a 
motivação era de origem econômica. Mesmo assim, há que entender-se a 
importância da ação de saúde pública que ficou conhecida como Sanitarismo 
Campanhista, metodologia que perdurou no país até a década de 60, porque 
por muito tempo foi a única ação exclusivamente pública de saúde que o país 
teve. Após as modificações metodológicas realizadas pelo médico Evandro 
 
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Chagas, como explicações do que era a vacina, sua importância individual e 
coletiva, saindo do modelo militar executado por Osvaldo Cruz, houve melhor 
aceitação da população e, como consequência, a erradicação da febre amarela 
e o controle de outras doenças graves no Rio de Janeiro e depois estendidas a 
outras cidades. 
Um órgão do governo, a SUCAM - Superintêndencia de Campanhas de 
Saúde Pública -, teve uma atuação muito importante e representativa de saúde 
pública no que diz respeito às doenças infectocontagiosas, antigamente 
chamadas de “doenças tropicais”. Ligada a Fundação Nacional de Saúde, a 
SUCAM levou seus agentes às áreas rurais do país, inclusive na Amazônia. 
Doenças como a malária, esquistossomose, filariose, febre tifoide e outras 
doenças endêmicas, foram tratadas e monitoradas. Se você quiser saber mais 
da história da SUCAM, acesse o link a seguir pelo material on-line, você vai ver 
o museu virtual da SUCAM, com mostra de roupas e instrumentos usados desde 
a década de 1910 pelos guardas sanitários. 
 
 
http://www.funasa.gov.br/site/museu/galeria-virtual/ 
 
 
Os guardas (agentes) da SUCAM entravam nas casas para as vistorias 
sanitárias, com a permissão dos moradores, para virar garrafas e outros 
recipientes, pisar em cascas de ovos para esmaga-las, tudo com o intuito de 
evitar a proliferação de mosquitos. 
Na região Norte, uma ação muito conhecida dos moradores desses 
estados até a década de 60 e 70 era a coleta de sangue no início da noite para 
o rastreio da filariose ou elefantíase, doença parasitária grave de lenta evolução. 
Em decorrência dessas ações, várias doenças foram controladas. 
 
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O livro “Febre amarela: a doença e a vacina, uma história inacabada”, de 
Benchimol (coord), Editora Fiocruz, discute o tema e analisa a sua influência 
histórica no caminho da erradicação das endemias no Brasil. 
Período Médico Assistencial Privatista – 1930 a 1960 
 
Os movimentos sociais ligados aos trabalhadores estavam em 
efervescência, porque estes enfrentavam péssimas condições de trabalho. O 
médico carioca Raul Sá Pinto, ao defender sua tese de doutoramento, afirma 
sobre as condições de saúde a que era submetido o trabalhador brasileiro em 
1907: “O operário, nas suas atuais condições de vida, dizemos e havemos de 
repetir, não morre naturalmente, é assassinado aos poucos”. Ele ainda discorre 
sobre as jornadas inclementes nas fábricas, onde os trabalhadores eram 
explorados, mão de obra infantil e outras tantas injustiças sociais que 
depredavam a saúde das pessoas em nome do lucro. 
 Os sindicatos faziam pressão por melhores condições de trabalho e a sua 
capacidade de organização já havia sido demonstrada quando resolveram se 
organizar por categorias para terem assistência à saúde e aposentadoria. 
Ferroviários, estivadores, metalúrgicos e diversas outras categorias resolveram 
investir partes de seus salários para terem alguma garantia. De certo modo isso 
tornou-se também um interesse de governo, que viu nessas iniciativas uma 
aglomeração de capital utilizável. 
A lei Eloi Chaves, de 1923, traz uma diretiva oficial e a contribuição do 
Estado a essa iniciativa. A lei é considerada a mãe da previdência social 
brasileira. Ela trouxe as regras oficiais de assistência e limite de idade para 
aposentadoria. Seria um investimento conjunto de patrões e empregados. Mais 
tarde, a união assume um controle das caixas, formatando-as em institutos de 
aposentadorias e pensões. Além da assistência previdenciária, as caixas ainda 
eram provedoras de assistência médica, diminuição do custo de medicamentos, 
auxílio funeral e pensão para herdeiros em caso de morte. 
 
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Para entender melhor o sistema previdenciário que influenciou o setor 
saúde, assista ao vídeo a seguir elaborado pela FUNCEF (Fundação dos 
Economiários Federais). 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=VkeGEwGpcYQ 
 
 
 
É importante lembrar que a assistência médica estava ligada ao setor 
previdenciário e assim permaneceu mesmo depois da instituição do Ministério 
da Saúde em 1954. As ações do Ministério da Saúde estavam ligadas às 
vigilâncias epidemiológica e sanitária exclusivamente. Esta separação entre as 
ações de assistência e de prevenção criava dificuldades no planejamento e 
influenciava negativamente na formação dos profissionais de saúde, situação 
que se reflete até hoje na formação médica e dos outros profissionais de saúde. 
Um marco dessa etapa foi a Consolidação das leis do trabalho, regida pela Lei 
n° 5.452, de 01 de maio de 1943. A legislação trabalhista estabeleceu limites 
para o horário de trabalho, descanso remunerado, férias e aposentadoria. 
Considerando que a saúde estava ligada à previdência social, a 
organização das leis trabalhistas melhorou a saúde dos trabalhadores de 
diversas categorias e de suas famílias, assim como incorporou recursos à 
previdência social. 
A captação de recursos, associada à pouca gente que chegava a idade 
de aposentadoria, devido elevada mortalidade, trouxe muitos recursos a 
previdência, o que facilitou a utilização desse dinheiro para outros investimentos 
julgados de interesse nacional. Essa situação permanece até a chegada do 
regime militar e a criação do INAMPS. 
 
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A Professora Tânia vai falar mais sobre o Período Médico Assistencial 
Privatista entre 1930 e 1960. Acesse o vídeo pelo material on-line. 
O Instituto Nacional de Assistência médica da Previdência 
Social (INAMPS) 
 
Para iniciar esta parte do nosso estudo, acesse o material on-line e assista 
ao vídeo da Professora Tânia explicando tudo sobre o INAMPS. 
Após instauração do regime militar, as discussões estavam na ampliação 
dos benefícios previdenciários e de assistência médica a todos os trabalhadores 
ligados ao sistema da CLT e não apenas àqueles ligados aos institutos de 
aposentadorias e pensões. A ideia era boa, na medida em que mais pessoas 
teriam os benefícios trabalhistas e assistência médica mesmo quem não 
estivesse entre os trabalhadores com maior poder de organização. 
No entanto, a escolha pela metodologia assistencial, segundo o modelo 
americano privatista, centrado na assistência curativa, mostrou-se uma má 
escolha, deixando à margem a maioria dos brasileiros que passavam longe do 
amparo da lei, não por sua escolha, mas devido as iniquidades do país. Nesta 
categorização estavam todos os trabalhadores autônomos, os indígenas, os 
trabalhadores da área rural, grande parte dos trabalhadores da construção civil 
e outros trabalhadores pobres, com pouca qualificação e amparo social. 
Mesmo para os trabalhadores beneficiados por se incluírem no emprego formal, 
a assistência prestada ainda era insuficiente. 
O INAMPS se baseava na lógica dos eventos agudos, mantendo a 
metodologia de pronto atendimento aos segurados. Para garantir a assistência, 
investiu-se na rede privada, financiando a construção de hospitais em todo o 
país, com empréstimos a juros baixos, os quais seriam pagos com o próprio 
atendimento da rede, ou seja, o financiamento era feito pelo INAMPS e pago 
com o convênio do hospital com o próprio INAMPS. 
 
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Não havia a visão de prevenção, a assistência era restrita, além de que 
todas as ações eram centralizadas no governo federal, assim como a prestação 
de contas, que favorecia um sistema de fraudes por falta de fiscalização 
adequada das ações. 
Além da iniquidade na assistência, porque justamente os mais vulneráveis 
na sociedade ficavam sem assistência, havia uma grande insatisfação dos 
estados e municípios devido à falta de recursos para investimento em ações de 
saúde. A rede de postos de saúde era muito pequena e sua atuação restrita. 
Essa situação provocou a indignação de diversos setores da sociedade 
civil. Além da percepção da injustiça, o contexto da falta de democracia impedia 
as discussões sobre o problema, porque as manifestações a respeito eram 
consideradas manobras comunistas. 
Na metade da década de oitenta, houve a sinalização da abertura política 
no país, que começa com a lei da anistia e aprovação do pluripartidarismo. Inicia-
se assim um movimento aberto de discussão sobre as condições de saúde no 
país, chamado de Movimento pela Reforma Sanitária. 
Este movimento foi liderado por sanitaristas, médicos e demais 
profissionais da saúde; políticos de oposição, como o deputado Sérgio Arouca; 
sociólogos e educadores de peso nacional como Paulo Freire e Betinho; além 
do forte apoio da sociedade, igrejas e sindicatos. As comunidades eclesiais de 
base exerceram importante papel nessa mobilização. Naquele momento, a 
pastoral da criança liderada pela Dra. Zilda Arns mostrava a efetividade das 
ações de prevenção e cuidado. 
O pensamento do educador Paulo Freire com a sua proposta de educação 
libertadora, tornou-se a base para as ações de promoção de saúde que se 
consolidariam como uma das principais ações do SUS. 
Saiba mais sobre Paulo Freire e encante-se com a sua história e obra no 
link a seguir. Acesse pelo material on-line: 
https://www.youtube.com/watch?v=jzUgb75GgpE&ebc=ANyPxKpqkSl9bzVrNP
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 A ação de cidadania contra a fome e a miséria no país, sob a liderança de 
Betinho, o famoso irmão do Henfil, sensibilizou os segmentos sociais para o 
problema da miséria no país e lançou a frase “quem tem fome tem pressa”. 
Inspire-se com as palavras de Betinho assistindo a dois vídeos muito 
interessantes. 
https://www.youtube.com/watch?v=XG4-ePnT-Xs 
https://www.youtube.com/watch?v=Qo_9GhqPY20 
 
VII Conferencia Nacional de Saúde 
 
Foi instaurada uma mobilização de pessoas para discutir a saúde no país 
e formatar uma proposta para levar à VIII Conferência Nacional de saúde em 
1986, além de servir como base para a reforma constitucional que remodelou o 
sistema de saúde criando o SUS em 1988. A proposta estava pautada em ter 
políticas de saúde democráticas, de acesso universal, com gestão 
descentralizada e mais próxima dos cidadãos e que se baseassem na justiça 
social. 
Você pode acessar a biblioteca virtual da Fio Cruz 
http://bvsfiocruz.fiocruz.br/php/index.php e saber mais sobre os movimentos 
sociais históricos pela saúde em vários países da américa latina e aprofundar o 
movimento histórico pela saúde brasileiro. 
No material on-line a Professora Tânia vai explicar mais sobre os 
movimentos sociais que ajudaram a transformar a saúde no Brasil. Não deixe de 
assistir. 
 
 
 
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Revendo a Problematização 
Agora que você já viu todo o conteúdo teórico deste tema, vamos voltar a 
falar sobre o problema exposto lá no início do nosso estudo. E então, os 
sindicatos falam de lutar por melhorias e é isso que ele deseja. Todos falam de 
reformas nas leis para melhorar as condições de vida e saúde dos trabalhadores, 
mas de que forma isso poderia acontecer? 
 
a. Para que uma reforma tão ampla como essa possa acontecer, tem que 
ser através do investimento na educação. O cidadão instruído tem 
condições de votar e assim implementar as mudanças necessárias. 
b. Com a organização e participação dos trabalhadores, trazendo propostas 
para as negociações através de seus representantes, pressionando os 
líderes políticos. Conhecimento dos interesses do país naquele momento 
e das perspectivas de investimentotrazem argumentos fortes aos 
movimentos populares. 
c. Convocação da população para manifestações e convocação da 
imprensa para noticiar as injustiças contra os trabalhadores. 
 
 
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Síntese 
Chegamos ao fim de mais uma parte do nosso estudo. Vimos aqui o início 
e o desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil. Começamos no 
princípio da velha república, com a primeira iniciativa de saneamento dos portos 
e vacinação da população, porém, com uma metodologia militarizada, que 
provocou nas pessoas uma forte reação contrária, conhecida como a Revolta 
da Vacina. 
Apesar de tudo isso, há de se valorizar esse período porque, graças a 
essas iniciativas, houve um desenvolvimento tecnológico nesse campo de 
vacinas e estudos epidemiológicos, deixando seus reflexos positivos na saúde 
pública brasileira até hoje. 
Estudamos a organização dos trabalhadores para conseguir assistência 
médica e benefícios sociais, além das mudanças trazidas pelo regime militar com 
a criação do INAPMS. 
Vimos também que esses benefícios só atingiam a classe trabalhadora 
formal, com carteira assinada, deixando a maioria dos brasileiros sem direito aos 
serviços de saúde. Em razão dessa situação, houve um movimento de protesto 
e discussão que ficou conhecido como Movimento da Reforma Sanitária. 
Para relembrar tudo o que vimos aqui, acesse o material on-line e assista 
ao vídeo da Professora Tânia recapitulando nosso estudo. 
 
 
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Referências 
BRASIL (a). Ministério da Saúde. Fundação Osvaldo Cruz. Biblioteca Virtual 
Sérgio Arouca. Oitava Conferência. Disponível em: 
<http://bvsarouca.cict.fiocruz.br/sanitarista06p.htm>. Acesso em 05 de abril de 
2015. 
BRASIL (b). Ministério da Saúde. Fundação Osvaldo Cruz. Biblioteca Virtual 
Sérgio Arouca. Reforma Sanitária. Disponível em: 
<http://bvsarouca.cict.fiocruz.br/sanitarista06p.htm>. Acesso em 05 de abril de 
2015. 
BRENNER, J. História da Medicina suplementar no Brasil: a evolução dos 
Hospitais. Disponível em: < http://www.clubemundo.com.br.revistapangea> 
Acesso em 04 de maio de 2016. 
BUDÓ, M. L. A prática de cuidados em comunidades rurais e o preparo da 
enfermeira. Florianópolis, 2000. Tese de doutorado (Filosofia da Enfermagem) 
– Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina. 
PIRES T. A Reforma Sanitária e a criação do SUS. in A Residencia médica em 
medicina de família e comunidade: um compromisso com a consolidação 
do SUS . Itajaí, 2006. Dissertação de Mestrado (Saúde e Gestão do trabalho) – 
Setor de Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Itajaí. 
VARGAS D. J. História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil: revisão 
da literatura. – Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso 
(especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação 
em Aplicações Complementares às Ciências Militares) - Rio de Janeiro, 2008. 
 
 
 
 
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Atividades 
 Na primeira década do século XX, o cidadão brasileiro não tinha 
assistência à saúde. Assinale a alternativa correta relacionada a essa 
afirmação. 
a. A população brasileira em sua maioria era da área rural, pobre e 
analfabeta, ou aglomerada nas favelas das capitais, era formada pelos 
ex-escravos e seus descendentes, sem poder de mobilização ou 
reinvindicação. 
b. Havia uma camada social com elevado poder aquisitivo, formada pelos 
fazendeiros, que providenciavam assistência aos seus trabalhadores. 
c. O governo mobilizou-se para assistir aos trabalhadores rurais por serem 
estes a base da economia naquela época. 
d. Havia um número adequado de médicos que davam assistência às áreas 
rurais do país, cobrando particularmente pelos serviços prestados. 
 A Lei Eloi Chaves, considerada a mãe da previdência social brasileira, 
trouxe impacto nas condições de saúde de muitos brasileiros. Assinale a 
alternativa correta a respeito do assunto. 
a. Todos os trabalhadores foram beneficiados por esta lei, que trouxe 
amparo e assistência a todos e as suas famílias. 
b. A contribuição para os fundos previdenciários vinha tanto dos 
trabalhadores quanto dos patrões, além do governo federal. 
c. Os trabalhadores organizados em sindicatos, com inspiração de 
esquerda, motivados pelas experiências em países desenvolvidos, 
pressionaram os patrões para assegurar benefícios sociais e de saúde. 
 
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d. A organização dos trabalhadores em sindicatos e sua iniciativa para 
provimento de aposentadorias e pensões não era do interesse do 
governo, por isso foi desestimulada. 
 A Revolta da Vacina foi um marco na etapa do sanitarismo campanhista, 
etapa importante na construção das políticas públicas brasileiras. 
Assinale a alternativa correta. 
a. O povo se revoltou porque não havia vacina para todos. 
b. O povo se revoltou porque suas casas eram invadidas pela polícia e eram 
obrigados e tomar a vacina. 
c. O povo se revoltou devido os efeitos colaterais da vacina. 
d. O povo se revoltou porque apenas as camadas mais ricas da sociedade 
tinham o privilégio da vacinação. 
 O movimento pela Reforma Sanitária mobilizou o país para discutir as 
questões de saúde em pleno regime militar. A respeito desse tema, pode-
se afirmar que: 
a. Graças a este movimento, a VIII Conferência Nacional de Saúde formulou 
propostas que foram na íntegra, a base da organização do SUS. 
b. Os líderes do movimento foram impedidos pelo regime militar por tratar-
se de um movimento com propostas comunistas. 
c. A principal proposta da Reforma Sanitária baseava-se na implantação de 
medidas sanitárias com foco epidemiológico e assistencial que desse 
conta das grandes epidemias e endemias do país. 
d. A reforma sanitária foi um projeto de filósofos e sociólogos com pouca 
participação popular. 
 
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 O INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência 
Social) foi criado no intuito de ampliar a assistência médica a todos os 
trabalhadores brasileiros, porém, devido as suas características, criou 
diversas situações de injustiça. Assinale a alternativa correta sobre o 
tema. 
a. O INAMPS era fiscalizado pelo gestor municipal que, posteriormente, se 
reportava ao governo federal. 
b. O INAMPS trabalhava na lógica da prevenção por estimular exames 
prévios nos trabalhadores. 
c. O INAMPS atendia aos trabalhadores e suas famílias, desde que fossem 
contribuintes da previdência social, de forma independente ou através do 
sistema formal de emprego. 
d. O INAMPS participava de todas as ações de saúde do país, na sua 
condição de sistema público de saúde. 
 
Para consultar o gabarito das questões, acesse o material on-line. 
 
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Tema – Análise da Situação de Saúde em Territórios 
Projeto Pós-graduação 
Curso Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família 
Disciplina Planejamento e Gestão em Saúde 
Tema Análise da Situação de Saúde em Territórios 
Professor(a) Ivana Maria Saes Busato 
Coordenador(a) Vera Lucia Pereira dos Santos 
 
Introdução 
A análise da situação de saúde em territórios é um tema essencial para 
Gestão e Planejamento em Saúde. Inicialmente, abordaremos o conceito de 
território, passando para as ferramentas de levantamento de informações para 
realizar a análise situacional. Estudaremos e vigilância em saúde como 
instrumento de vigilância da situação de saúde de territórios, analisando cada 
um dos seus componentes. 
Aprenderemos sobre a ferramenta da Estimativa Rápida Popular para a 
análise da situação de saúde em territórios de equipes de saúde da família. 
Estudaremos, também, sobre o Sistema de Informação em saúde do Sistema 
Único de Saúde, conhecendo seus principais

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