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1 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Objetivos 1- Estudar a morfologia das mamas; 2- Compreender a fisiologia da lactação; Morfologia das mamas LOCALIZAÇÃO ↠ Cada mama é uma projeção hemisférica de tamanho variável anterior aos músculos peitoral maior e serrátil anterior, e ligada a eles por uma camada de fáscia composta por tecido conjuntivo denso irregular (TORTORA, 14ª ed.). As glândulas mamárias, os órgãos de produção de leite, estão localizadas dentro das mamas (SEELY, 10ª ed.). O papel biológico das glândulas mamárias é produzir leite para nutrir um bebê recém-nascido; assim, elas são importantes apenas quando a reprodução já ocorreu. Do ponto de vista do desenvolvimento, as glândulas mamárias são glândulas sebáceas modificadas que são parte da pele, ou do sistema tegumentar (MARIEB, 3ª ed.). ↠ As mamas femininas variam em tamanho, formato e simetria — até mesmo entre as duas mamas de uma pessoa. As faces superiores achatadas não mostram demarcação nítida da face anterior da parede torácica, mas as margens laterais e inferiores são bem definidas. Muitas vezes há proeminência das veias na superfície das mamas, principalmente durante a gravidez (MOORE, 7ª ed.). Anatomicamente as mamas estão situadas entre as camadas superficial e profunda da pele, as mamas estendem- se entre a segunda e a sexta costelas e do esterno à linha axilar média (VIEIRA; MARTINS, 2018) QUADRANTES MAMÁRIOS ↠ A superfície da mama é dividida em quatro quadrantes para localização anatômica e descrição de tumores e cistos. Por exemplo, o médico pode escrever no prontuário: “Foi palpada massa irregular, de consistência dura, no quadrante superior medial da mama na posição de 2 horas, distante cerca 2,5 cm da margem da aréola.” (MOORE, 7ª ed.). ESTRUTURAS ↠ Ligeiramente abaixo do centro de cada mama, há um anel de pele pigmentado, a aréola, a qual circunda a papila mamária (mamilo) central que protrui (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A papila mamária tem uma série de aberturas pouco espaçadas de ductos chamados ductos lactíferos, dos quais emergem leite (TORTORA, 14ª ed.). Grandes glândulas sebáceas na aréola da mama a tornam levemente rugosa e produzem sebo que reduz as rachaduras da pele da papila mamária. O sistema neurovegetativo controla as fibras de músculo liso na aréola e no mamilo, tornando a papila mamária ereta quando estimulada por estímulo tátil ou sexual e quando exposta ao frio (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Internamente, cada glândula mamária consiste de 15 a 25 lobos que se distribuem radialmente em torno da papila mamária, na qual se abrem. Os lobos são acolchoados e separados uns dos outros por tecido conjuntivo fibroso e gordura (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo interlobar forma ligamentos suspensores que unem as mamas à fáscia muscular subjacente e à derme sobrejacente. Como sugerido pelo seu nome, os ligamentos suspensores fornecem a sustentação natural para as mamas, como um sutiã embutido (MARIEB, 3ª ed.). Esses ligamentos tornam-se mais soltos com a idade ou com a tensão excessiva que pode ocorrer na prática prolongada de corrida ou atividade aeróbica de alto impacto. Utilizar um sutiã com bom apoio pode retardar este processo e ajudar a manter a força dos ligamentos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Dentro de cada lobo, estão unidades menores chamadas de lóbulos, os quais contêm alvéolos glandulares que produzem leite quando uma mulher está lactando. Essas glândulas alveolares compostas passam o leite para APG 20 2 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck os ductos lactíferos, os quais se abrem para o exterior na papila mamária (MARIEB, 3ª ed.). A contração das células mioepiteliais em torno dos alvéolos ajuda a impulsionar o leite em direção às papilas mamárias (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Logo abaixo da aréola, cada ducto tem uma região dilatada chamada de seio lactífero onde o leite se acumula durante a amamentação (MARIEB, 3ª ed.). Próximo do mamilo, os ductos mamários se expandem discretamente para formar seios chamados seios lactíferos, onde um pouco de leite pode ser armazenado antes de ser drenado para um ducto lactífero. Cada ducto lactífero normalmente transporta leite de um dos lobos para o exterior (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Em mulheres não-grávidas, a estrutura glandular das mamas é pouco desenvolvida e o sistema de ductos é rudimentar; portanto, o tamanho da mama é principalmente devido à quantidade de depósitos de gordura (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Antes da puberdade, a estrutura geral das mamas é semelhante em ambos os sexos. As mamas possuem um sistema glandular rudimentar, que consiste principalmente em ductos com alvéolos esparsos. As mamas femininas começam a crescer durante a puberdade, sobretudo sob a influência do estrogênio e da progesterona. Aumento da sensibilidade ou dor nas mamas muitas vezes acompanham esse crescimento (SEELY, 10ª ed.). ↠ Os homens muitas vezes experimentam as mesmas sensações durante a puberdade precoce, e suas mamas podem até mesmo desenvolver pequenos inchaços; no entanto, em geral, esses sintomas desaparecem rapidamente. Em raras ocasiões, as mamas de um homem podem crescer em demasia, uma condição chamada ginecomastia (SEELY, 10ª ed.). SUPRIMENTO SANGUÍNEO ↠ A irrigação arterial da mama provém de: (MOORE, 7ª ed.). ➢ Ramos mamários mediais de ramos perfurantes e ramos intercostais anteriores da artéria torácica interna, originados da artéria subclávia ➢ Artérias torácica lateral e toracoacromial, ramos da artéria axilar ➢ Artérias intercostais posteriores, ramos da parte torácica da aorta no 2º, 3º e 4º espaços intercostais. ↠ A drenagem venosa da mama se faz principalmente para a veia axilar, mas há alguma drenagem para a veia torácica interna (MOORE, 7ª ed.). DRENAGEM LINFÁTICA ↠ A drenagem linfática da mama é importante devido ao seu papel na metástase de células cancerosas. A linfa passa da papila, da aréola e dos lóbulos da glândula mamária para o plexo linfático subareolar. Desse plexo: (MOORE, 7ª ed.). ➢ A maior parte da linfa (>75%), sobretudo dos quadrantes laterais da mama, drena para os linfonodos axilares, inicialmente para os linfonodos anteriores ou peitorais. ➢ A maior parte da linfa remanescente, sobretudo dos quadrantes mediais da mama, drena para os linfonodos paraesternais ou para a mama oposta, enquanto a linfa dos quadrantes inferiores flui 3 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck profundamente para os linfonodos abdominais (linfonodos frênicos inferiores subdiafragmáticos). ↠ A linfa da pele da mama, com exceção da papila e da aréola, drena para os linfonodos axilares, cervicais profundos inferiores e infraclaviculares ipsilaterais e, também, para os linfonodos paraesternais de ambos os lados (MOORE, 7ª ed.). A linfa dos linfonodos axilares drena para os linfonodos claviculares (infraclaviculares e supraclaviculares) e daí para o tronco linfático subclávio, que também drena a linfa do membro superior. A linfa dos linfonodos paraesternais entra nos troncos linfáticos broncomediastinais, que também drena linfa das vísceras torácicas. A interrupção dos troncos linfáticos varia; tradicionalmente, esses troncos se fundem um ao outro e com o tronco linfático jugular, drenando a cabeça e o pescoço para formar um ducto linfático direito curto no lado direito ou entrando no ducto torácico do lado esquerdo. No entanto, em muitos casos (talvez na maioria), os troncos se abrem independentemente na junção das veias jugular interna e subclávia, no ângulo venoso direito ou esquerdo, que formam as veias braquiocefálicas direita e esquerda. Em alguns casos, eles se abrem em duas veias imediatamente antes do ângulo (MOORE, 7ª ed.). INERVAÇÃO ↠ Os nervos da mama derivam dos ramos cutâneos anteriores e laterais dos 4º– 6º nervos intercostais. Os ramos dos nervos intercostais atravessam a fáscia peitoral que cobre o músculo peitoral maior para chegar à tela subcutânea superposta e à pele da mama (MOORE, 7ª ed.). ↠ Os ramos dos nervos intercostais conduzem fibras sensitivas da pele da mama e fibras simpáticas para os vasos sanguíneos nas mamas e músculo liso na pele e papila mamária sobrejacentes (MOORE, 7ª ed.). Histologia ESTRUTURA DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A PUBERDADE E NA MULHER ADULTA ↠ A unidade lobular do ducto terminal (ULDT) da glândula mamária representa um aglomerado de pequenos alvéolos secretores (na glândula em lactação) ou ductos terminais (na glândula inativa) circundado por estroma intralobular, consistindo nas seguintes estruturas: (ROSS, 7ª ed.) ➢ Os ductos terminais estão presentes na glândula inativa. Durante a gravidez e após o nascimento, os ductos terminais, que são revestidos por células epiteliais secretoras, diferenciam-se em alvéolos secretores totalmente funcionais, produtores de leite. ➢ O ducto coletor intralobular transporta secreções alveolares para dentro do ducto galactóforo. ➢ O estroma intralobular é um tecido conjuntivo frouxo especializado sensível a hormônios, que circunda os ductos terminais e os alvéolos. O tecido conjuntivo intralobular contém poucos adipócitos. Antes da puberdade, as glândulas mamárias são compostas de porções dilatadas, os seios galactóforos, e várias ramificações desses seios, os ductos galactóforos. Seu desenvolvimento em meninas durante a puberdade faz parte do processo de aquisição das características sexuais secundárias (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Durante esse período, as mamas aumentam de tamanho e desenvolvem um mamilo proeminente. Em meninos, as mamas normalmente permanecem planas. O aumento das mamas durante a puberdade resulta do acúmulo de tecido adiposo e conjuntivo, além de certo crescimento e ramificação dos ductos galactóforos. A proliferação desses ductos e o acúmulo de gordura se devem ao aumento da quantidade de estrógenos circulantes durante a puberdade (JUNQUEIRA, 13ª ed.). 4 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck Na mulher adulta, a estrutura característica da glândula – o lóbulo – desenvolve-se a partir das extremidades dos menores ductos. Um lóbulo consiste em vários ductos intralobulares que se unem em um ducto interlobular terminal. Cada lóbulo é imerso em tecido conjuntivo intralobular frouxo e muito celularizado, sendo que o tecido conjuntivo interlobular que separa os lóbulos é mais denso e menos celularizado (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Próximo à abertura do mamilo, os ductos galactóforos se dilatam para formar os seios galactóforos. As aberturas externas dos ductos são revestidas por epitélio estratificado pavimentoso, o qual bruscamente se transforma em estratificado colunar ou cuboide nos ductos galactóforos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O revestimento dos ductos galactóforos e ductos interlobulares terminais é formado por epitélio simples cuboide, envolvido por células mioepiteliais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo que cerca os alvéolos contém muitos linfócitos e plasmócitos. A população de plasmócitos aumenta significativamente no fim da gravidez; eles são responsáveis pela secreção de imunoglobulinas (IgA secretora), que conferem imunidade passiva ao recém-nascido (JUNQUEIRA, 13ª ed.). A estrutura histológica dessas glândulas sofre pequenas alterações durante o ciclo menstrual, como, por exemplo, proliferação de células dos ductos em torno da época de ovulação. Essas mudanças coincidem com o período no qual o estrógeno circulante está no seu pico. A maior hidratação do tecido conjuntivo na fase pré-menstrual pode provocar aumento do volume da mama (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O mamilo tem forma cônica e pode ser rosa, marrom- claro ou marrom-escuro. Externamente, é coberto por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contínuo com o da pele adjacente. A pele ao redor do mamilo constitui a aréola. Sua cor escurece durante a gravidez, como resultado de acúmulo local de melanina, e após o parto pode ficar mais claro, mas raramente retorna à sua tonalidade original (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A aréola contém glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e glândulas mamárias modificadas (glândulas de Montgomery). Essas glândulas apresentam estrutura intermediária entre as glândulas sudoríparas e as glândulas mamárias verdadeiras e produzem pequenas elevações na superfície da aréola. Acredita-se que as glândulas de Montgomery produzam uma secreção lubrificante e protetora que modifica o pH da pele e inibe o crescimento microbiano (ROSS, 7ª ed.) O epitélio do mamilo repousa sobre uma camada de tecido conjuntivo rico em fibras musculares lisas, as quais estão dispostas circularmente ao redor dos ductos galactóforos mais profundos e paralelamente a eles quando entram no mamilo. O mamilo é provido de abundantes No estado de repouso, a glândula é formada por ductos galactóforos imersos em tecido conjuntivo. Durante a lactação, há crescimento de inúmeros alvéolos (A) nas extremidades dos ductos galactóforos que cresceram e se ramificaram; frequentemente se observa secreção no interior dos alvéolos (setas). 5 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck terminações nervosas sensoriais, importantes para produzir o reflexo da ejeção do leite pela secreção de ocitocina (JUNQUEIRA, 13ª ed.). GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A GRAVIDEZ E A LACTAÇÃO As glândulas mamárias sofrem intenso crescimento durante a gravidez por ação sinérgica de vários hormônios, principalmente estrógenos, progesterona, prolactina e lactogênio placentário humano. Uma das ações desses hormônios é o desenvolvimento de alvéolos nas extremidades dos ductos interlobulares terminais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ As glândulas mamárias exibem várias alterações durante sua preparação para a lactação. Essas alterações ocorrem de acordo com o trimestre de gravidez. (ROSS, 7ª ed.) ➢ O primeiro trimestre caracteriza-se por alongamento e ramificação dos ductos terminais. As células epiteliais de revestimento e as células mioepiteliais proliferam e diferenciam-se a partir das células progenitoras da mama encontradas no epitélio dos ductos terminais. As células mioepiteliais proliferam entre a base das células epiteliais e a lâmina basal nas porções tanto alveolares quanto ductais da glândula ➢ O segundo trimestre caracteriza-se pela diferenciação dos alvéolos a partir das extremidades em crescimento dos ductos terminais. O desenvolvimento do tecido glandular não é uniforme. Observa-se variação no grau de desenvolvimento até mesmo em um único lóbulo. As células variam quanto a seu formato, de achatadas a colunares baixas. O estroma de tecido conjuntivo intralobular é infiltrado por plasmócitos, linfócitos e eosinófilos à medida que a mama se desenvolve. Nesse estágio, a quantidade de tecido glandular e a massa da mama aumentam principalmente devido ao crescimento dos alvéolos. ➢ O terceiro trimestre começa com a maturação dos alvéolos. As células glandulares epiteliais tornam-se cuboides, com núcleos localizados no citoplasma basal da célula. Essas células desenvolvem um RER extenso, e surgem vesículas secretoras e gotículas de lipídios no citoplasma. A proliferação efetiva das células estromais interlobulares declina, e ocorre aumento subsequente da mama por meio de hipertrofia das células secretoras e acúmulo de produto secretor nos alvéolos. ↠ As alterações no tecido glandular durante a gravidez são acompanhadas de uma diminuição na quantidade de tecido conjuntivo e tecido adiposo (ROSS, 7ª ed.). SECREÇÃO MERÓCRINA E APÓCRINA As glândulas mamárias são glândulas sudoríparas apócrinas tubuloalveolares modificadas (ROSS, 7ª ed.). ↠ As célulassecretoras contêm retículo endoplasmático rugoso abundante, um número moderado de mitocôndrias grandes, um complexo de Golgi supranuclear e vários lisossomos densos. Dependendo do estado secretor, pode haver grandes gotículas de lipídios e vesículas secretoras no citoplasma apical. As células secretoras produzem dois produtos distintos, que são liberados por mecanismos diferentes (ROSS, 7ª ed.). ➢ Secreção merócrina: O componente proteico do leite é sintetizado no RER, acondicionado em vesículas secretoras limitadas por membrana para o seu transporte no complexo de Golgi e liberado da célula por fusão da membrana da vesícula com a membrana plasmática. ➢ Secreção apócrina: O componente de gordura ou lipídios do leite surge como gotículas de lipídios livres no citoplasma. O lipídio coalesce para formar grandes gotículas que passam para a região apical da célula e projetam-se no lúmen do ácino. As gotículas são revestidas por um envoltório de membrana plasmática quando são liberadas. Uma fina camada de citoplasma é retida entre a membrana plasmática e a gotícula de lipídio e liberada juntamente com o lipídio, mas a perda de citoplasma nesse processo é mínima. Fotomicrografia de uma glândula mamária ativa durante o final da gravidez. B: aumento maior de uma área em A. As células alveolares secretoras vistas na imagem são, em sua maior parte, cuboides. Pode-se identificar uma célula mioepitelial (CM), bem como vários plasmócitos (setas), no tecido frouxo adjacente. 6 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck REGRESSÃO PÓS-LACTACIONAL ↠ Quando cessa a amamentação (desmame), a maioria dos alvéolos desenvolvidos durante a gravidez sofre degeneração por apoptose. Assim, células inteiras são liberadas no lúmen dos alvéolos, e seus restos são retirados por macrófagos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Depois da menopausa, ocorre a involução das glândulas mamárias em consequência da diminuição da produção regular de hormônios sexuais. A involução é caracterizada por redução em tamanho e atrofia das porções secretoras e, até certo ponto, dos ductos. Modificações atróficas afetam também o tecido conjuntivo interlobular (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Fisiologia da Lactação DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS As mamas começam a se desenvolver na puberdade. Esse desenvolvimento é estimulado pelos estrogênios do ciclo sexual feminino mensal; os estrogênios estimulam o crescimento da parte glandular das mamas, além do depósito de gordura que dá massa às mamas. Além disso, ocorre crescimento bem mais intenso durante o estado de altos níveis de estrogênio da gravidez, e só então o tecido glandular fica inteiramente desenvolvido para a produção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ESTROGÊNIO ↠ Durante toda a gravidez, a grande quantidade de estrogênios secretada pela placenta faz com que o sistema de ductos das mamas cresça e se ramifique (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quatro outros hormônios são igualmente importantes para o crescimento do sistema de ductos: hormônio do crescimento, prolactina, os glicocorticoides adrenais e insulina. Sabe-se que cada um desses hormônios tem pelo menos algum papel no metabolismo das proteínas, o que, presumivelmente, explica a função deles no desenvolvimento das mamas (GUYTON, 13ª ed.). PROGESTERONA ↠ O desenvolvimento final das mamas em órgãos secretores de leite também requer progesterona. Quando o sistema de ductos estiver desenvolvido, a progesterona - agindo sinergicamente com o estrogênio, bem como com os outros hormônios mencionados - causará o crescimento adicional dos lóbulos mamários, com multiplicação dos alvéolos e desenvolvimento de características secretoras nas células dos alvéolos. Essas mudanças são análogas aos efeitos secretores da progesterona no endométrio uterino na última metade do ciclo menstrual feminino (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA PROLACTINA E DO SEU INIBIDOR Embora o estrogênio e a progesterona sejam essenciais ao desenvolvimento físico das mamas durante a gravidez, um efeito especial de ambos esses hormônios é inibir a verdadeira secreção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Por outro lado, o hormônio prolactina tem o efeito exatamente oposto na secreção de leite, promovendo-a. A prolactina é secretada pela hipófise anterior materna, e sua concentração no sangue da mãe aumenta uniformemente a partir da quinta semana de gravidez até o nascimento do bebê, época em que já aumentou de 10 a 20 vezes o nível normal não grávido. Esse nível elevado de prolactina, no final da gravidez, é mostrado na figura abaixo (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Além disso, a placenta secreta grande quantidade de somatomamotropina coriônica humana, que provavelmente tem propriedades lactogênicas, apoiando, assim, a prolactina da hipófise materna durante a gravidez. Mesmo assim, devido aos efeitos supressivos do estrogênio e da progesterona, não mais do que uns 7 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck poucos mililitros de líquido são secretados a cada dia até após o nascimento do bebê (GUYTON, 13ª ed.). O líquido secretado, nos últimos dias antes e nos primeiros dias após o parto, é denominado colostro, que contém, essencialmente, as mesmas concentrações de proteínas e lactose do leite, mas quase nenhuma gordura, e sua taxa máxima de produção é cerca de 1/100 da taxa subsequente de produção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Imediatamente depois que o bebê nasce, a perda súbita tanto de secreção de estrogênio quanto de progesterona da placenta permite que o efeito lactogênico da prolactina da hipófise materna assuma seu papel natural de promotor da lactação, e no período de 1 a 7 dias as mamas começam a secretar quantidades copiosas de leite, em vez de colostro (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Essa secreção de leite requer uma secreção de suporte adequada da maioria dos outros hormônios maternos também, porém os mais importantes são hormônio do crescimento, cortisol, paratormônio e insulina. Esses hormônios são necessários para fornecer aminoácidos, ácidos graxos, glicose e cálcio, fundamentais para a formação do leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Depois do nascimento do bebê, o nível basal da secreção de prolactina retorna aos níveis não grávidos durante algumas semanas. Entretanto, cada vez que a mãe amamenta o bebê, sinais neurais dos mamilos para o hipotálamo causam um pico de 10 a 20 vezes da secreção de prolactina, que dura aproximadamente 1 hora (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Essa prolactina age nas mamas maternas para manter as glândulas mamárias secretando leite nos alvéolos para os períodos de amamentação subsequentes. Se o pico de prolactina estiver ausente, ou for bloqueado em decorrência de dano hipotalâmico ou hipofisário, ou se a amamentação não prosseguir, as mamas perdem a capacidade de produzir leite dentro de mais ou menos uma semana. Entretanto, a produção de leite pode se manter por vários anos se a criança continuar a sugar, embora a formação de leite, normalmente, diminua consideravelmente depois de 7 a 9 meses (GUYTON, 13ª ed.). ↠ O hipotálamo tem papel essencial no controle da secreção de prolactina, como na maioria de todos os outros hormônios hipofisários anteriores. Contudo, esse controle é diferente em um aspecto: o hipotálamo essencialmente estimula a produção de todos os outros hormônios, mas efetivamente inibe a produção de prolactina. Por conseguinte, o comprometimento do hipotálamo ou o bloqueio do sistema portal hipotalâmico- hipofisário geralmente aumenta a secreção de prolactina, enquanto deprime a secreção dos outros hormônios hipofisários anteriores (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Por isso, acredita-se que a secreção pela hipófise anterior de prolactina seja controlada totalmente, ou quase totalmente, por fator inibidor formado no hipotálamo e transportado pelo sistema portal hipotalâmico-hipofisário à hipófise anterior.Este fator é, por vezes, chamado hormônio inibidor de prolactina, se bem que ele é quase certamente o mesmo que a catecolamina dopamina, conhecida por ser secretada pelos núcleos arqueados do hipotálamo e que pode diminuir a secreção de prolactina em até 10 vezes (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA OCITOCINA NA EJEÇÃO DO LEITE ↠ O leite é secretado de maneira contínua nos alvéolos das mamas, mas não flui facilmente dos alvéolos para o sistema de ductos e, portanto, não vaza continuamente pelos mamilos. Em vez disso, o leite precisa ser ejetado dos alvéolos para os ductos, antes de o bebê poder obtê- lo. Essa ejeção é causada por um reflexo neurogênico e hormonal combinado, que envolve o hormônio hipofisário posterior ocitocina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quando o bebê suga, ele não recebe quase nenhum leite por mais ou menos 30 segundos. Primeiramente, é preciso que impulsos sensoriais sejam transmitidos através dos nervos somáticos dos mamilos para a medula espinal da mãe e, então, para o seu hipotálamo, onde desencadeiam sinais neurais que promovem a secreção de ocitocina, ao mesmo tempo em que causam secreção de prolactina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A ocitocina é transportada no sangue para as mamas, onde faz com que as células mioepiteliais (que circundam as paredes externas nos alvéolos) se contraiam, assim transportando o leite dos alvéolos para os ductos, sob uma pressão de +10 a 20 mmHg. Em seguida, a sucção do bebê fica efetiva em remover o leite. Assim, dentro de 30 segundos a 1 minuto depois que o bebê começa a sugar, o leite começa a fluir. Esse processo é denominado ejeção ou descida do leite (GUYTON, 13ª ed.). O ato de sugar uma mama faz com que o leite flua não só naquela mama, mas também na oposta. É especialmente interessante que, quando a mãe pensa no bebê ou o escuta chorar, muitas vezes isso proporciona um sinal emocional suficiente para o hipotálamo provocar a ejeção de leite (GUYTON, 13ª ed.). 8 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck INIBIÇÃO DA EJEÇÃO DE LEITE: Um problema particular na amamentação vem do fato de que diversos fatores psicogênicos ou até mesmo a estimulação generalizada do sistema nervoso simpático em todo o corpo materno possam inibir a secreção de ocitocina e, consequentemente, deprimir a ejeção de leite. Por essa razão, muitas mães devem ter um período de ajuste após o nascimento, sem transtornos para obter sucesso na amamentação de seus bebês (GUYTON, 13ª ed.). COMPOSIÇÃO DO LEITE ↠ As características bioquímicas do leite materno são variáveis de acordo com a própria biologia do corpo da mãe, a sua alimentação, a hora do dia, a etapa de amamentação (colostro, transição ou maduro) e até durante uma mesma mamada (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ A secreção liberada nos primeiros dias após o parto é conhecida como colostro. Esse pré-leite é uma secreção alcalina e amarelada, com maior conteúdo de proteína, vitamina A, sódio e cloreto e menor conteúdo de lipídios, carboidratos e potássio do que o leite (ROSS, 7ª ed.). A coloração amarelada é devido ao seu elevado teor de betacaroteno (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ O colostro contém quantidades consideráveis de anticorpos (principalmente IgA secretora) que proporcionam ao recém-nascido algum grau de imunidade passiva. Acredita-se que os anticorpos do colostro sejam produzidos pelos linfócitos e plasmócitos que infiltram o tecido conjuntivo frouxo da mama durante a sua proliferação e desenvolvimento e são secretados por células glandulares, como ocorre nas glândulas salivares e no intestino (ROSS, 7ª ed.). ↠ À medida que essas células diminuem de número após o parto, a produção de colostro cessa, e ocorre produção de leite rico em lipídios (ROSS, 7ª ed.). ↠ O aporte calórico do leite materno deve-se essencialmente à gordura (que representa 50% da energia) e, mais propriamente, aos triglicerídeos, que representam 98% da fração lipídica (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ Dentre a composição nutricional do leite, o conteúdo de gorduras é o que sofre a variação mais acentuada, onde sua concentração aumenta de forma progressiva desde o início até o final de cada amamentação (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ No que respeita às proteínas, o leite materno é constituído por caseínas (28%) e proteínas do soro (72%). As proteínas do leite materno fornecem todos os aminoácidos essenciais (isoleucina, leucina, lisina, valina, entre outros) e ainda outros não essenciais (GUINÉ; GOMES, 2020). ↠ A lactose constitui o principal carboidrato do leite humano, estando presente em concentrações mais baixas no colostro do que no leite maduro. A lactose fornece ao redor de 50% do conteúdo energético total do leite materno (FERNANDES; SANTANA, 2020). ↠ O leite humano possui uma composição nutricional balanceada, na qual inclui todos os nutrientes essenciais. Este é composto basicamente por proteínas, carboidratos, minerais, vitaminas e enzimas, sendo suficiente para suprir as necessidades das crianças, a Organização Mundial da Saúde preconiza aleitamento materno exclusivo até seis meses de vida, com a complementação de outros alimentos a partir do sexto mês até pelo menos dois anos de idade, devido a sua importância e seus benefícios (FERNANDES; SANTANA, 2020). Não só o leite fornece ao recém-nascido os nutrientes adequados, como também proporciona uma proteção importante contra infecções. Por exemplo, vários tipos de anticorpos e outros agentes anti-infecciosos são secretados no leite, em conjunto com outros nutrientes. Além disso, diversos tipos de leucócito são secretados, incluindo neutrófilos e macrófagos, alguns dos quais são especialmente letais a bactérias que poderiam causar infecções mortais aos recém- nascidos. Particularmente importantes são anticorpos e macrófagos que destroem a bactéria Escherichia coli, que, com frequência, causa diarreia letal em recém-nascidos (GUYTON, 13ª ed.). No auge da lactação na mulher, 1,5 litro de leite pode ser formado a cada dia (e até mais se a mulher tiver gêmeos). Com esse grau de lactação, grande quantidade de energia é drenada da mãe; aproximadamente 650 a 750 quilocalorias por litro (ou 19 a 27,15 quilocalorias por grama) estão contidas no leite materno, embora a composição e o teor calórico do leite dependam da dieta da mãe e de outros fatores, como a dimensão dos seios (GUYTON, 13ª ed.). Grandes quantidades de substratos metabólicos são perdidas da mãe. Por exemplo, cerca de 50 gramas de gordura que entram no leite todos os dias, bem como cerca de 100 gramas de lactose, que deve ser derivada da conversão da glicose materna. Além disso, 2 a 3 gramas de fosfato de cálcio podem ser perdidos por dia; a menos que a mãe beba grandes quantidades de leite e tenha uma ingestão adequada de vitamina D, o débito de cálcio e fosfato pela nutriz, geralmente, será bem maior do que a ingestão dessas substâncias. Para suprir as necessidades de cálcio e fosfato, as glândulas paratireoides aumentam bastante, e os ossos são progressivamente descalcificados. Normalmente, a descalcificação óssea materna não representa grande problema durante a gravidez, mas pode tornar-se mais importante durante a lactação (GUYTON, 13ª ed.). 9 Júlia Morbeck – 2º período de medicina @jumorbeck ARTIGO: Leite humano em diferentes estágios de lactação: composição nutricional no município de Cuité (FERNANDES; SANTANA, 2020) O levantamento de dados foi referente ao período de setembro de 2012 a abril de 2013. Uma amostra de 23 lactantes no primeiro mês da coleta de dados, o que correspondeu a 19,66% das mães registradas nas USF do município de Cuité. Na realização da segunda coleta de dados em domicílios registrou-se uma perda de seguimento em 10 mães que informaram a inexistência da demanda de leite para a coleta de amostras, permanecendo assim 13 mães no quarto mês delactação para coleta de dados. A composição média obtida para o leite humano nos diferentes estágios de lactação é apresentada na Tabela 1. Em seus resultados ocorreu variação significativa nos itens proteína, lactose e valor calórico para o leite do primeiro mês de lactação em relação ao leite do quarto mês (p < 0,005). Para gordura, umidade, cinzas e acidez as concentrações não apresentaram variação significativa entre si (p > 0,005). Com relação às características físico-químicas, foi dada ênfase a acidez em ácido láctico que é um parâmetro qualitativo e apresentou um valor médio de 5 ºD no primeiro mês de lactação e de 6 °D no quarto mês de lactação. Segundo a RDC 171, de 4 de setembro de 2006 o limite estabelecido para grau de acidez em leite humano é inferior a 8°D. Esta investigação foi realizada pelo fato de que a acidificação do leite pode levar à redução dos componentes nutricionais - principalmente a diminuição da biodisponibilidade do cálcio e fósforo presentes e imunológicos e desqualificar sua utilização Referências VIEIRA; L. G.; MARTINS, G. F. Fisiologia da mama e papel dos hormônios na lactação, 2018. GUINÉ, R. P. F.; GOMES, A. L. A nutrição na lactação humana, Millenium, 2015. FERNANDES, D. P.; SANTANA, C. M. Leite humano em diferentes estágios de lactação: composição nutricional no município de Cuité, Revista Interdisciplinar em Saúde, 2020. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008. REGAN, J.; RUSSO, A.; VVANPUTTE, C. Anatomia e Fisiologia de Seely, 10ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. PAWLINA, W. Ross Histologia: Texto e Atlas, 7ª edição. Guanabara Koogan, RJ, 2016 GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 MOORE et. al. Moore Anatomia Orientada para a Clínica, 8ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
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