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São Carlos 03/07/2015 GESTÃO DO FLUXO DE CAIXA EM UMA MICROEMPRESA DO SETOR COMERCIAL VAREJISTA DE PRESENTES Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais Paulo César Pereira Júnior ii PAULO CÉSAR PEREIRA JÚNIOR GESTÃO DO FLUXO DE CAIXA EM UMA MICROEMPRESA DO SETOR COMERCIAL VAREJISTA DE PRESENTES Projeto experimental apresentado ao Instituto Federal de São Paulo – Campus São Carlos, como parte das exigências para a conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. Orientadora: Profª. Msc. Carla Renata Rufo São Carlos – São Paulo 2015 iii PAULO CÉSAR PEREIRA JÚNIOR GESTÃO DO FLUXO DE CAIXA EM UMA MICROEMPRESA DO SETOR COMERCIAL VAREJISTA DE PRESENTES Projeto experimental apresentado ao Instituto Federal de São Paulo – Campus São Carlos, como parte das exigências para a conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. Data de aprovação: ____________________________________ ____________________________________________________ Orientadora - Profª Msc. Carla Renata Rufo IFSP – Campus São Carlos ____________________________________________________ Avaliador 1: Prof° Ms. André Luiz Mendes IFSP – Campus São Carlos ____________________________________________________ Avaliador 2: Profº Ms. Marcelo Batista Ferreira IFSP – Campus São Carlos iv A Deus, pelo dom da vida e saúde. A minha família, pelo entendimento da dedicação e apoio durante a pesquisa e a Profª Carla Rufo, cujo auxílio e apoio permitiram o término do projeto. v RESUMO As microempresas constituem setor com caráter único no país; a alta carga de impostos variados, a confusa definição de funções dentro da empresa e a alta taxa de rotatividade das mesmas representam um perigo para sua sobrevivência no curto prazo. Este trabalho teve como objetivo primário, entender o que é o fluxo de caixa e sua importância para uma microempresa na administração dos seus recursos. Posteriormente, foi exemplificado como se dá a montagem de um esquema de fluxo de caixa adaptado, dentre os vários modelos pré- existentes disponíveis, a todas as peculiaridades que uma microempresa tem nos dias de hoje. Após isso, foi descrito, através de um estudo de caso, o modo que uma microempresa do setor de comércio varejista se organiza quanto a essa questão com todo o singularismo e imparcialismo que é característico do modo de pesquisa aplicado ao trabalho. Por fim, foi feita uma proposta de melhoria no já citado processo, fundamentada e baseada no conteúdo bibliográfico levantado, visando uma aplicação desse conhecimento bibliográfico gerado em um contexto real e próximo do pesquisador. Observou-se que com a correta estruturação do Fluxo de Caixa é possível que a empresa tenha mais informações e que isso contribua com um melhor planejamento e controle dos seus recursos. Palavras chave: Fluxo de Caixa. Microempresa. Gestão. Mudança de processo. vi SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 6 1.1 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ..................................................................... 6 1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 7 1.3 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................................ 7 1.4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 8 2 REVISÃO TEÓRICA ........................................................................................................... 9 2.1 MICROEMPRESA .............................................................................................................. 9 2.2 O FLUXO DE CAIXA ....................................................................................................... 11 2.3 COMO GERENCIAR O FLUXO DE CAIXA: MODELOS ............................................ 15 3 ESTUDO DE CASO EM UMA MICROEMPRESA VAREJISTA ................................ 26 3.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE FLUXO DE CAIXA ................................................ 27 4 PROPOSTA DE MELHORIA PARA O FLUXO DE CAIXA DA EMPRESA ANALISADA .......................................................................................................................... 32 4.1 INFORMATIZAÇÃO DA PLATAFORMA DE ESTRUTURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA ...................................................................................................................................... 32 4.2 NOVO MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA PARA A MICROEMPRESA ANALISADA .......................................................................................... 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 39 6 1 INTRODUÇÃO Nos dias atuais, onde a competitividade pelo mercado é enorme e as grandes corporações instaladas em todo o território nacional promovem uma competição um tanto quanto injusta, as microempresas tentam se posicionar e sobreviver, disputando espaço entre si e buscando uma afirmação própria, apostando no contato próximo com o cliente e conhecimento da praça. De acordo com o SEBRAE (2011), as mais de nove milhões de micro e pequenas empresas somavam juntas 27% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, ante os 21% que representavam do total das riquezas produzidas em 1985. Outra informação relevante é que, o valor gerado pelas operações das micro e pequenas empresas, que era de R$ 144 bilhões em 2001, saltou para R$ 599 bilhões em 2011, com valores de moeda da época. Embora os números apresentem uma participação significativa das microempresas é fato que as dificuldades enfrentadas para sua manutenção também não são menores. Assim, este trabalho se propõe a entender como a correta estruturação do fluxo de caixa em uma micro empresa pode contribuir com melhor controle de recursos e gerar informações que possam ser utilizadas em previsões mais assertivas ou correções de cenário que ajudem na sua manutenção e sobrevivência. Para isso, além dessa introdução e a conclusão, o trabalho está estruturado em três partes. Na primeira é feito uma revisão bibliográfica sobre os principais conceitos envolvidos com o tema: microempresa, fluxo de caixa e alguns dos modelos já sugeridos. Para a segunda parte, o estudo de caso é melhor detalhado, caracterizando o negócio que está sendo analisado e o processo utilizado atualmente. Por fim, segue-se a proposição de melhoria do fluxo de caixa da empresa em questão. 1.1 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS Demonstrar, através de um estudo de caso de uma microempresa do setor varejista, uma nova forma de estruturação das movimentações diárias de entradas e saídas de capital e a sua correta administração, tanto das disponibilidades quanto do capital excedente; ou seja, a utilização da gestão do fluxo de caixa como uma ferramenta de previsão no que diz respeito a falta ou excesso de capital e a possibilidade de se preparar para isso. Em outras palavras, demonstrar que o fluxo de caixa é algo 7 maior que apenas saber o quanto a empresa vendeu e sua dívida com fornecedores, mas que se trata de uma ferramenta de gestão dos diretos e obrigações. Especificamente espera-se: a) Exemplificar algumas formas jáexistentes de estruturação do fluxo de caixa. b) Aprofundar o conhecimento do pesquisador ao tema, visando aplicação. 1.2 JUSTIFICATIVA De acordo com o IBPT (2013) - Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário-, as microempresas correspondem mais de 77% do total das empresas brasileiras, e são consideradas como tal o negócio que aufira faturamento anual de até R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais). No entanto, ainda segundo o IBPT (2013), mais de 49% dessas empresas encerram suas atividades antes de atingirem seis anos de vida, atribuído, entre outros motivos, a falta de planejamento e informações do mercado, correspondendo esse o motivo como maior causador de falência no período (mais de 41%). Rosa e Silva (2002) acenam o planejamento financeiro como um dos processos mais importantes para a manutenção da empresa em um ambiente cada vez mais competitivo, já que este planejamento é o que de fato protege a empresa contra mudanças bruscas nos parâmetros do mercado e permite, quando necessário, que a empresa repense seu planejamento com antecedência. Dentro do planejamento financeiro, uma área que se destaca é o fluxo de caixa, cujo gerenciamento adequado se apresenta como “um retrato fiel da composição da situação financeira da empresa.” (ROSA E SILVA, 2002, p. 03). Serve também para justificar esse trabalho, o interesse pelo tema e a proximidade do pesquisador com a empresa estudada, onde o convívio diário entre as partes favorece a observação de um processo passível de melhoria, com anuência da empresa analisada e liberdade para propor melhorias a partir dessas observações. 1.3 PROBLEMA DE PESQUISA No universo das microempresas, o empreendedor muitas vezes é o gestor de recursos humanos, o diretor de marketing, o responsável pela logística, pela análise de mercado, entre outras funções. Tal concentração de atividades somada ao alto nível de 8 dedicação que o setor financeiro exige, leva muitas vezes à perda do controle da saudável gestão financeira do negócio e consequentemente a capacidade de observar o passado, controlar o presente e prever o futuro próximo. Desta forma a pergunta a que se pretende responder com a presente pesquisa é: como a correta estruturação do fluxo de caixa pode ajudar a empresa a controlar suas finanças e promover melhor controle? 1.4 METODOLOGIA A presente pesquisa tem caráter aplicado que, para Barros e Lehfeld (2000, p. 78 apud Vilaça, 2010, p. 64), “tem como motivação a necessidade de produzir conhecimento para aplicação de seus resultados, com o objetivo de contribuir para fins práticos”. Assim, o conhecimento será proveniente da pesquisa bibliográfica que será utilizada com objetivo de descrever um processo real existente e em seguida sugerir uma melhoria para o mesmo, caracterizando-se, desta forma, como uma pesquisa objetivada pelos métodos exploratório e descritivo. Para Gil (2002, p. 41), o método exploratório é o tipo de pesquisa que “visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses”. O método descritivo, por sua vez, é definido segundo Gil (2002, p.42) como aquele que “têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno [...]”. Destaca-se também a abordagem qualitativa, definida por Silva e Menezes (2000, p. 20) como o processo que: Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer os uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. A metodologia de caráter singular, característica do estudo de caso, analisa e descreve a gestão de como a empresa faz sua gestão de fluxo de caixa e, levando em consideração toda sua individualidade, sugere uma nova forma de estruturação aplicável apenas para aquele contexto, sendo assim impossível de criar qualquer tipo de maiores generalizações. 9 2 REVISÃO TEÓRICA O que vem a seguir é uma explanação de alguns termos que necessitam de uma explicação bibliográfica para o correto entendimento do presente trabalho, bem como do embasamento teórico para a proposta de melhoria, posteriormente contida dentro do estudo de caso. 2.1 MICROEMPRESA O primeiro conceito a ser explorado são as definições e características das microempresa de forma a entender as suas dificuldades. De acordo com a Constituição Federal (2006), através da Lei Complementar nº123, a diferenciação das microempresas é feita através da receita de suas atividades, quando diz que “no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)”. Visando uma maior facilitação para o estabelecimento e manutenção da microempresa, o Governo Federal criou o SIMPLES, definido de tal forma pela Receita Federal (2005): O Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples) é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido, aplicável às pessoas jurídicas consideradas como microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), nos termos definidos na Lei nº 9.317, de 1996, e alterações posteriores, estabelecido em cumprimento ao que determina o disposto no art. 179 da Constituição Federal de 1988. Constitui-se em uma forma simplificada e unificada de recolhimento de tributos, por meio da aplicação de percentuais favorecidos e progressivos, incidentes sobre uma única base de cálculo, a receita bruta. O SEBRAE (2015) também utiliza o critério do número de funcionários para diferenciar o porte das empresas que, embora não tenha fundamentação legal para fins da legislação do SIMPLES, é utilizado para fins bancários, ações de tecnologia, exportações e outros. 10 Tabela 1 – Quanto ao número de Empregados Indústria Micro Com até 19 empregados Pequena De 20 a 99 empregados Média 100 a 499 empregados Grande Mais de 500 empregados Comércio e Serviços Micro Até 9 empregados Pequena 10 a 49 empregados Média De 50 a 99 empregados Grande Mais de 100 empregados Fonte: SEBRAE (2015), compilado pelo autor Ainda para o SEBRAE (2013), as dificuldades enfrentadas para a manutenção no negócio são variadas, mas algumas são recorrentes a boa parte dos microempreendedores que encontram muitas dificuldades em manter seu negócio ativo. Gráfico 1 – Dificuldades Enfrentadas Fonte: Adaptado de Sebrae (2013, p. 45) Observa-se pelo Gráfico 1 que, embora os microempreendedores pontuem que controlar o dinheiro da empresa não seja um problema principal para manutenção do 26,1% 21,2% 13,4% 6,7% 4,6% 3,6% 2,9% 2,7% 2,6% 2,2% 2,1% 1,6% 0,7% 9,6% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% Não sentiu dificuldade Conseguir crédito Conquistar clientes Administrar meu negócio Concorrência Entender/cumprir as obrigações legais Controlar o dinheiro da empresa Dificuldades com o ponto comercial Encontrar apoio Comprar bem/barato Empreender Inovar Planejar Outros 11 negócio, a dificuldade em conseguir crédito e conquistar clientes não são necessariamente dissociadas dos aspectos econômicos e financeiros. As mudanças constantes nas legislações, bem como a necessidade crescente de resposta rápida por parte da microempresa em relação as variáveis mercadológicas, resultaram segundo Porter (1989apud Gazzoni, 2003, p. 13), em “novos desafios à gestão de negócios, levando as empresas a reverem suas políticas gerenciais”. Pivetta (2005) ressalta ser difícil imaginar que uma microempresa, por menor que seja, consiga obter algum tipo de sucesso em sua área de atuação sem a utilização de um mínimo controle de fluxo de caixa dos seus recursos, colocando a utilização da ferramenta como um dos parâmetros que define o sucesso ou fracasso do negócio. A autora destaca ainda a simplicidade de estrutura das microempresas em nosso país, muitas vezes carentes de áreas especializadas e departamentalizadas, onde o grande objetivo do fluxo de caixa é compreender como as decisões tomadas afetam seu cotidiano e consequentemente sua saúde financeira no que diz respeito à disponibilidade ou falta de capital. Assim, o próximo tópico serão apresentados alguns conceitos sobre o fluxo de caixa. 2.2 O FLUXO DE CAIXA Rosa e Silva (2002) afirmam que o fluxo de caixa se divide em dois tipos, relacionados com o tempo de cobertura para o tratamento das informações: o fluxo de caixa histórico (ou passado) e o fluxo de caixa projetado (ou orçamento de caixa). Numa forma de obter uma melhor aplicação para o estudo de caso presente neste trabalho, será delimitado apenas o fluxo de caixa projetado, dividido em dois subtópicos, de acordo com Rosa e Silva (2002): o fluxo de caixa projetado de curto prazo e o fluxo de caixa projetado de longo prazo. No fluxo de caixa de curto prazo, diferem-se totalmente as informações disponíveis, quando, segundo Rosa e Silva (2002, p. 04) “busca-se identificar os excessos de caixa ou a escassez de recursos dentro do período projetado”. Para os autores: Normalmente, quando se projeta a curto prazo, as principais operações que vão provocar entradas e saídas de dinheiro já foram realizadas e a empresa trabalha com relativo grau de certeza dos recebimentos e/ou pagamentos dentro do período. (Rosa e Silva, 2002, p. 04) 12 Já no fluxo de caixa projetado de longo prazo, há a tentativa de alcançar alguns objetivos específicos, que são Verificar a capacidade da empresa de gerar os recursos necessários para custear suas operações; Determinar o capital em giro no período; Determinar o Índice de Eficiência Financeira da empresa. (IEF = capital em giro / capital de giro da empresa); Determinar o grau de dependência de capitais de terceiros da empresa; etc. (ROSA E SILVA, 2002, p. 04). Os mesmos autores (ibidem) concluem que o horizonte de análise da projeção a longo prazo é mais propenso a erros, já que é feito apenas sob a ótica das projeções que são, muitas vezes, inexatas; em um período maior de tempo, maiores são as chances de eventos variáveis que não eram de conhecimento da empresa exporem as falhas da projeção, comprometendo as previsões feitas anteriormente. Sendo assim, uma atualização constante das previsões de longo prazo deve ser feita, para minimizar o efeito de tais variáveis na projeção final e se aproximar o máximo possível da realidade. O fluxo de caixa é definido por Assaf Neto e Silva (1997, p. 35 apud Pacheco, 2007, p. 13) como “um instrumento que possibilita o planejamento e controle dos recursos financeiros de uma empresa”, onde podemos perceber o enfoque gerencial que a ferramenta toma como auxiliadora na tomada de decisão pois representa uma perspectiva “dos rumos financeiros dos negócios”. Oliveira (2013, p. 60), diz que o “fluxo de caixa é um instrumento de gestão financeira que projeta para os períodos futuros todas as entradas e as saídas de recursos financeiros da empresa, indicando como será o saldo de caixa para o período projetado”. Sobre o tempo de projeção, acrescenta: “No caso das empresas de pequeno porte, a projeção do fluxo de caixa para um período de quatro a seis meses é tempo suficiente para a gestão do capital de giro” (OLIVEIRA, 2013, p. 60). Zdanowicz (2004, p. 54) também ressalta a necessidade de adoção de um fluxo de caixa dentro da empresa, quando diz que: O fluxo de caixa é o instrumento essencial para a administração do disponível e sucesso da empresa em termos de planejamento e de controle financeiro. É o instrumento mais preciso e útil para levantamentos financeiros a curto e longo prazo. Ou seja, a demonstração de fluxo de caixa é um instrumento de análise não apenas do resultado da receita recebida subtraída da despesa gerada pela operação, mas sim, segundo Corrêa (2005), um indicador que demonstra toda a origem da 13 movimentação de entrada do capital em caixa e também toda a aplicação do capital que saiu do caixa no período desejado e coberto pela simulação. Contudo, a utilização do fluxo de caixa em uma empresa por si só não garante o sucesso em sua área financeira e como forma consequente de todas as outras, mas é o primeiro passo para a correta análise e observação da situação real de seus ativos financeiros, conforme dizem Dahmer e Casturino (2013, p. 03): Não se pretende dizer que o orçamento e o planejamento, bem como a implantação do Fluxo de Caixa numa organização, eliminarão as dificuldades financeiras de uma empresa. Certamente a visualização das entradas e saídas futuras de caixa permitirão antecipar a decisão de alocação de recursos. Portanto, as empresas que adotarem o fluxo de caixa podem facilitar e organizar seus dados em relação a recebimentos e pagamentos, visando um equilíbrio financeiro. Há também algumas limitações quanto à utilização do fluxo de caixa, conforme dizem Rosa e Silva: (2002, p. 03) A incapacidade de fornecer informações precisas sobre o lucro e sobre os custos dos produtos da empresa. Isto porque as apurações e demonstrações são realizadas pelo regime de caixa e não pelo regime de competência. Assaf Neto e Silva (1997 apud Pacheco, 2007, p. 11), oferecem uma visão crítica na necessidade de parâmetros de manutenção de caixa bem definididos quando ressaltam a “manutenção do saldo em caixa no vencimento dos compromissos como condição básica para a empresa continuar operando”, e acrescentam que “sem liquidar seus compromissos, a descontinuidade do ciclo operacional da companhia pode ocorrer por falta de crédito e materiais [...]” Outra visão interessante de fluxo de caixa é a trazida por Pivetta (2005, p. 04), que da seguinte maneira elenca alguns objetivos para serem alcançados: • saldar as obrigações da empresa nas datas de vencimento; • planejar pagamentos em datas certas para não incorrer em inadimplemento; • ter um fundo com saldo de caixa para eventuais despesas; • quando tem caixa elevado programar para uma melhor aplicação e pelo tempo que depois de analisado o fluxo pode se deixar; • buscar perfeito equilíbrio entre ingressos e desembolsos de caixa da empresa; • analisar fontes de crédito que oferecem empréstimos menos onerosos – em caso de necessidade – com tempo já previsto. Pode-se observar o aliado que a ferramenta se transforma no que diz respeito à previsão do futuro próximo, isto é, da capacidade de simulação das situações possíveis usando provisões de períodos anteriores, acerca da falta ou excesso de caixa disponível e a possibilidade de planejar ações estratégicas menos onerosas possíveis com isso em 14 mente, conforme pode ser visto abaixo, em trecho citado de Sanvicente e Santos (2000, p. 156 apud Pacheco 2009, p. 13): Conhecendo de antemão as prováveis faltas de caixa, a administração financeira poderá avaliar cuidadosamente as alternativas disponíveis para resolver esse problema e solucionar, dentre elas, aquela que melhor atenda aos interesses da empresa. Muitas dessas alternativas podem exigir providências imediatas por parte da empresa, antes da efetivação das insuficiências de caixa.[...]. Por outro lado, a projeção do fluxo de caixa permite a identificação dos excessos de caixae possibilita a análise prévia das alternativas de aplicação desses excedentes. Pode-se ainda observar diferenças entre o fluxo de caixa e outros demonstrativos financeiros, como dizem Friedrich e Brondani (2005, p. 03): O fato das demonstrações contábeis representarem uma situação da empresa em um determinado momento, levou a que se adotassem os fluxos, a fim de melhor embasar as Demonstrações Contábeis. Esta prática propicia a melhor compreensão das modificações ocorridas no patrimônio da empresa. Pois o Balanço Patrimonial representa os bens, direitos e obrigações de uma empresa em um determinado momento. Tendo isso em mente, pode-se observar que o enfoque do fluxo de caixa está num ambiente que vai além da correta estruturação de entradas e saídas, mas que também pode ser utilizado como uma ferramenta que leva em conta sua relação com os stakeholders da empresa, no que diz respeito à necessidade, imediata ou futura, de possíveis empréstimos bancários e/ou financiamentos de terceiros. Piveta (2005, p 05) é um dos autores que ressaltam que “muitas instituições de crédito exigem a sua apresentação antes de concederem empréstimos ou financiamentos a seus clientes”. Assim, observa-se que as demonstrações contábeis obrigatórias para fins de fiscalização, como o Balanço Patriomonial e o DRE (Demonstração de Resultados do Exercício), mostram apenas a situação da microempresa em um determinado momento - geralmente a situação contábil na data de fechamento do exercício - o que de certa maneira pode mascarar a informação correta da atual situação de seus direitos e obrigações, o fluxo de caixa por outro lado, é uma ferramenta dinâmica que classifica e organiza “as entradas e saídas dos recursos financeiros que tenham ocorrido em um determinado intervalo de tempo” (PIVETTA, 2005, p 02). Desta forma, considera-se importante que sejam apresentados, no próximo tópico, modelos que possam exemplificar como ocorre o gerenciamento do fluxo de caixa. 15 2.3 COMO GERENCIAR O FLUXO DE CAIXA: MODELOS Segundo Friedrich e Brondani (2005), o planejamento do fluxo de caixa deve ser feito da forma mais simples possível, de maneira que seja uma ferramenta confiável e de fácil interpretação dos futuros ingressos e dispêndios de capital da empresa. Pode até mesmo ser definido pela seguinte função genérica: SFC = SIC + I – D Onde: SFC = Saldo final de caixa; SIC = Saldo inicial de caixa; I = Ingressos D = Desembolsos. (Friedrich e Brondani,2005, p. 7 e 8, grifo nosso) Mesmo destacando e respeitando a singularidade de cada microempresa, há vários modelos de estruturação de fluxo de caixa genéricos, onde, segundo Pivetta (2005), sua forma de utilização varia de acordo com o porte da empresa e seu processo atual de comercialização. Um modelo, elucidado por Beuren et al (2003), traz a elaboração de um fluxo de caixa projetado para uma empresa comercial varejista do ramo de confecções, que sugere a correta estruturação de seu fluxo financeiro, apresentados no Quadro 1. A primeira explanação é sobre o saldo inicial, que segundo Beuren et al (2003, p. 139) “corresponde ao saldo final do fluxo de caixa do mês [período] anterior, o qual poderá ser tanto positivo quanto negativo.” Para o cálculo das entradas, Beuren et al (2003) soma o valor das entradas de dinheiro referentes a pagamentos à vista no período, bem como o valor de recebimento de vendas a prazo. Com relação as saídas, Beuren et al (2003) dá ênfase maior aos dispêndios de capital fixos e variáveis no período de cobertura do fluxo de caixa, como “compras, comissões, impostos a recolher, folha de pagamento, aluguel, água, luz e telefone, entre outros.” (Beuren et al, 2003, p. 139) 16 Quadro 1 – Proposta de uma sistemática de fluxo de caixa Fluxo Obs. "n" períodos 1 Saldo inicial 2 Entradas 2.1 Faturamento a vista 2.2 Recebimento de vendas a prazo 3 Saídas Gastos variáveis 3.1 Compras 3.2 Comissões % 3.3 ICMS a recolher % 3.4 PIS,COFINS, C. Social e Lucro Presumido % Gastos fixos 3.5 Folha de pagamento 3.6 INSS e FGTS % 3.7 13º Salário 3.8 Aluguel 3.9 Água e luz 3.10 Telefone 3.11 Material de escritório 3.12 Serviços contábeis e de terceiros 3.13 Gastos com veículos e transportes 3.14 Juros 3.15 Outros 4 Variação (+/-1 + 2 + 3) 5 Retiradas 6 Novos investimentos 7 SALDO FINAL (+/-4 - 5 - 6) OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES Saldo bancário Saldo de estoques (a preço de venda) Saldo de estoques (a preço de reposição) Saldo de duplicatas a receber Saldo de duplicatas a pagar DADOS OPERACIONAIS RELEVANTES Faturamento Mark-up médio Prazo médio de pagamento Dias Prazo médio de recebimento Dias Prazo médio de estocagem Dias Taxa financeira da aplicação % Fonte : Beuren et al. (2003). 17 Outro modelo, elucidado por Dahmer e Casturino (2013, p. 03), apresenta uma forma de estruturação, de acordo com as Figuras 1 e 2, que segundo eles, permite visualizar de antemão a falta ou necessidade de capital na empresa, defendida pelos mesmos, como “uma das mais importantes ferramentas para o gestor financeiro da empresa.”. Figura 1 – Controle de fluxo de caixa diário proposto Fonte: Dahmer e Casturino (2013, p. 06). 18 Figura 2 – Modelo Adaptado de Fluxo de Caixa Mensal Proposto Fonte: Dahmer e Casturino (2013, p. 06). Os autores defendem a utilização do esquema sugerido devido a seu fácil entendimento, ao mesmo tempo em que oferece ferramentas poderosas para a tomada de decisão, quando dizem que: O Fluxo de Caixa proposto neste estudo pode ser utilizado de forma adaptada por qualquer empresa por ser de fácil aplicação. Toda organização pode elaborar seu orçamento e planejar seu futuro a partir de dados históricos, projetar seus fluxos e promover seus ajustes possibilitando com isso rever seus orçamentos na medida das ocorrências. (DAHMER E CASTURINO, 2013, p. 03) Oliveira (2013, p. 61), por sua vez aprofunda mais esses modelos ao separar a estruturação do fluxo de caixa projetado em cinco parâmetros base: 4.1 Previsão de vendas e os respectivos prazos de recebimentos. 4.2 Previsão das compras e os respectivos prazos de pagamento aos fornecedores. 4.3 Levantamento dos valores a receber dos clientes, das vendas já realizadas. 4.4 Levantamento dos compromissos a pagar aos fornecedores e pagamento de despesas operacionais mensais. 4.5. Levantamento das disponibilidades financeiras existentes. Sobre a previsão de vendas, Oliveira (2013, p. 62) ressalta que se a empresa já trabalha com previsão, estabelecendo metas de venda, basta calcular o valor que se espera vender nos meses seguintes; caso contrário, a empresa poderá considerar as vendas realizadas no mesmo período do ano anterior como ponto de partida, projetando as expectativas do cenário atual. Sugere assim, o seguinte modelo na Figura 3, para a previsão de vendas: 19 Figura 3 – Previsão de Vendas Fonte: Oliveira (2013, p. 63). Já sobre as previsões das compras (Figura 4) e os respectivos prazos de pagamento aos fornecedores (Figura 5), Oliveira (2013, p. 63) pontua que, primeiramente, é necessário calcular a previsão ou metas de compras mensais 1 . Figura 4 – Previsão de Compras Mensais Fonte: Oliveira (2013, p. 64). 1 Considerando que a empresa que o autor utilizou de modelo, 35% do valor das vendas são os custos das matérias-primase que o prazo de pagamento dos fornecedores são: 30% a vista; 20% com 60 dias, 40% com 90 dias e 10% com 120 dias. 20 Figura 5 – Cálculo de Pagamentos Previstos Fonte: Oliveira (2013, p. 65). O terceiro parâmetro relatado por Oliveira (2013, p. 66) é o levantamento do contas a receber de clientes. Segundo o autor, se a empresa vendeu a prazo o controle do contas a receber fornecerão informações mais precisas para o fluxo de caixa e propõe o seguinte modelo na Figura 6, não considerando os valores em atraso: Figura 6 – Posição dos valores a receber Fonte: Oliveira (2013, p. 66). 21 O levantamento dos compromissos a pagar, segundo Oliveira (2013, p. 68) englobam o contas a pagar que a empresa tem com fornecedores, impostos, financiamentos, despesas, entre outros. Sugere assim, o seguinte modelo na Figura 7: Figura 7 – Valores a Pagar Fonte: Oliveira (2013, p. 68 e 69). 22 Por fim, como o quinto parâmetro descrito, Oliveira (2013, p. 71) cita o levantamento das disponibilidades financeiras existentes como cheques, dinheiro, aplicações financeiras, entre outros, que será o saldo inicial do fluxo de caixa. Finalmente, as Figuras 8, 9, 10 e 11, apresentam o modelo do Fluxo de Caixa que será então preenchido com todos os dados recolhidos nas demais planilhas anteriores: Figura 8 – Fluxo de Caixa Fonte: Oliveira (2013, p. 72). 23 Figura 9 – Fluxo de Caixa (continuação) Fonte: Oliveira (2013, p. 72). 24 Figura 10 – Fluxo de Caixa (continuação) Fonte: Oliveira (2013, p. 73). 25 Figura 11 – Fluxo de Caixa (continuação) Fonte: Oliveira (2013, p. 73). Naturalmente muitos outros modelos são sugeridos na literatura, porém considerou-se que os modelos de Beuren et al (2003) de Dahmer e Casturino (2013) e Oliveira (2013) servem como um bom parâmetro para a proposta de melhoria que seguirá na próxima parte desse trabalho. 26 3 ESTUDO DE CASO EM UMA MICROEMPRESA VAREJISTA O método escolhido para a análise do processo foi a observação direta não participante, além da análise documental, no caso, o livro usado para a escrituração dos dados utilizado pela microempresa base para o estudo. O presente estudo de caso se baseou em uma empresa cuja razão social e atual localização, a pedido de seus sócios, foram omitidos em sua descrição, sendo apenas caracterizada como uma microempresa do setor varejista de presentes. A empresa, que no momento de seu nascimento tinha apenas um sócio, localizava-se na cidade de São Carlos em um local alugado no centro da cidade, e se dedicava exclusivamente a linha de presentes mais refinados, tais como variados kits de cozinha importados, uma linha de joias e semi joias, além de um setor direcionado para revenda de bolsas importadas. Em meados de 2013, a empresa necessitou mudar sua sede para uma cidade de menor porte, ainda pertencente à microrregião de São Carlos, e, com ela, houve uma grande remodelagem em seus processos, a começar pelo número de sócios, que aumentou para três. Houve mudanças também na linha de produtos, pois após a instalação na nova praça, a empresa passara a se dedicar em revender produtos populares como bolsas, carteiras, sapatos e uma linha de semi joias folheadas dedicadas ao público feminino, com uma consequente alteração de preços, que passaram a ser adaptados à seu novo público-alvo. Além disso, passou a comercializar produtos para a área de escritório e principalmente a de material escolar em certos períodos do ano, numa tentativa de variar seu leque de negócios e aproveitar a demanda sazonal desse mercado. Atualmente a empresa possui dois funcionários que são responsáveis pelo atendimento ao cliente, sendo um deles também responsável pelo setor financeiro (inclusive o controle do fluxo de caixa) da empresa que posteriormente é repassada aos três sócios para que decidam em conjunto os próximos passos do negócio como novos pedidos de compra, viagens a centros atacadistas fora da microrregião de atuação, entre outros. Tais compras variam quanto ao produto que almejam revender. Para a linha de sapatos, tanto femininos quanto masculinos, os sócios recorrem a vendedores viajantes, em sua maioria representates de lojas oriundas de dois grandes centros atacadistas do setor e já muito famosos, um no interior do estado de São Paulo e outro na região do 27 triângulo mineiro, em Minas Gerais, que visitam a loja e oferecem seus produtos em grandes catálogos. Mais uma vez, os sócios, em conjunto com uma funcionária, decidem modelos e quantidades de compra. Para a parte de escritório e material escolar, um representante de uma grande empresa do ramo visita a loja semanalmente, e uma vendedora é responsável pelo pedido, de acordo com a necessidade de compra. Para os demais produtos, como bolsas, carteiras e presentes variados como caixas de som, relógios e copos personalizados de times de futebol, entre outros, os próprios sócios decidem, em momentos esporádicos, fazer viagens à cidade de São Paulo para comprar mercadorias. A microempresa não possui veículo próprio. Sendo assim, tendo em mente a necessidade de compras de mercadoria em centros atacadistas, os sócios planejam entre si uma espécie de rodízio em seus veículos para a viagem, onde gastos com gasolina, pedágio e alimentação são posteriormente repassados a funcionária responsável, que desconta os valores correspondentes do caixa da empresa. Toda a contabilidade da microempresa, para fins de fiscalização e recolhimento de tributos é terceirizada, ficando totalmente a cargo de um escritório de contabilidade situado no município em questão. O prédio onde a empresa exerce suas atividades é alugado, através de contrato firmado e reconhecido em cartório. 3.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE FLUXO DE CAIXA A observação do fluxo de caixa da empresa analisada demonstrou a utilização de um sistema singular de anotação das despesas e receitas, feito manualmente por um dos vendedores, em um caderno escolar simples, conforme pode ser visto nas Figuras de 12 a 14. Destaca-se o pedido da microempresa em questão para a manutenção do sigilo sobre os dados. Desta forma, observa-se que os valores monetários foram apagados, mas mantida a estruturação do fluxo de caixa utilizando até então. 28 Figura 12 – Fluxo de caixa diário utilizado Fonte: Reprodução própria. 29 Figura 13 – Demonstração das despesas realizadas no mês de maio Fonte: Reprodução própria. 30 Figura 14 – Fluxo de caixa mensal realizado Fonte: Reprodução própria. 31 Sobre a Figura 12 (p. 28), pode-se observar os quatro tópicos principais que permeiam a ferramenta utilizada diariamente para o controle atual na empresa, que são as seguintes: Abriu com: Refere-se ao valor que o caixa fechou no dia anterior. Ao final do expediente, a funcionária responsável faz a contagem do dinheiro disponível no caixa, fato posteriormente repetido na manhã seguinte, à fim de verificar se os valores são os mesmos. Troco: Refere-se ao valor monetário disponível em caixa ao final do dia. Observa-se que o item “Troco” do dia em questão necessariamente será o item “Abriu com” do dia seguinte. Vendeu: O resultado monetário das atividades diárias da empresa, isto é, apenas transações realizadas em espécie. Cartão: O montante de vendas realizado atráves de transações feitas com cartões bancários. Na mesma Figura 12 (p. 28), pode-se observar o item Duplicata, que representa o valor que a empresa precisa ter no dia em questão para honrar compromissos com fornecedores, simbolizando que naquela data haverá pagamentos a serem efetuados.A Figura 13 (p. 29), por sua vez, representa esses desembolsos que foram efetuados dentro do mês enquanto a Figura 14 (p. 30) representa o fluxo de caixa realizado como controle mensal do caixa. A seguir são apresentadas as sugestões de melhoria do fluxo de caixa da microempresa analisada. 32 4 PROPOSTA DE MELHORIA PARA O FLUXO DE CAIXA DA EMPRESA ANALISADA Após a revisão bibligráfica, bem como a descrição do atual processo de controle do fluxo de caixa utilizado pela microempresa, ficam claros alguns pontos possíveis de mudança para uma melhor visualização da situação financeira da mesma, utilizando o fluxo de caixa como uma ferramenta de auxílio na gestão de capital no dia-a-dia. No presente trabalho, foram apresentadas duas sugestões para um melhor aproveitamento da ferramenta e assim uma melhor visão da situação financeira da microempresa no presente e no futuro próximo, servindo assim de grande valia para sua gestão no curto prazo. Ressalta-se que, a funcionária responsável pela escrituração na microempresa analisada não precisa necessariamente ser uma contadora, ou ter grandes conhecimentos em administração e gestão de capital. Um entendimento do dinamismo da ferramenta é suficiente, para que haja uma fidelidade em seguir a risca os corretos lançamentos de entradas e saídas de capital, isto é, disciplina por parte dela em alimentar o fluxo corretamente e assim mantê-lo atualizado e de fato fidedigno com a realidade, para melhor proveito de todas as vantagens que o modelo sugerido traria. 4.1 INFORMATIZAÇÃO DA PLATAFORMA DE ESTRUTURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA Primeiramente, conforme observações feitas pelo pesquisador, um simples caderno escolar não é a ferramenta mais adequada para a visualização dos dados que podem ser gerados a partir do fluxo de caixa e a sua consequente utilização na tomada de decisão. Logo, uma mudança de plataforma de escrituração é o primeiro passo para a melhoria do processo. Foi observado que há um computador de posse da microempresa, que fica diariamente na loja, mas que, por algum motivo, ainda não é utilizado para estruturar seu fluxo de caixa. Logo, parte-se da informatização da ferramenta como o primeiro passo de mudança do atual processo, onde pode-se observar além de tudo, uma maior segurança e sigilo de dados que dizem respeito à situação financeira da microempresa, 33 já que no atual modo, o caderno em questão fica livremente no balcão onde são feitos os pagamentos. Outra vantagem da informatização é que ela também traria a possibilidade de utilizar backups dos dados, que poderiam ser salvos em diversos endereços diferentes, ficando dessa maneira imunes a qualquer tipo de perdas de dados importantes. Além disso, informatizar o controle do fluxo de caixa, utilizando programas operacionais simples e de fácil entendimento, possibilitará desmembra-lo em modelos mais elaborados que o utilizado até então, difíceis de imaginar sendo utilizados se escriturados a mão. Já está claro até então que o modelo atual utilizado pela empresa não permite fazer simulações de eventos num futuro próximo, ou seja, que o fluxo de caixa projetado ainda não é feito por ela, registrando apenas os fatos ocorridos. Isto leva à segunda sugestão de melhoria, um modo de controle do fluxo de caixa mais elaborado do que o descrito anteriormente, aproveitando todas as vantagens que a escrituração digital fornece em uma diferente visualização da saúde financeira da empresa. 4.2 NOVO MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA PARA A MICROEMPRESA ANALISADA Para que o novo método obtenha o maior sucesso possível, foi analisada e respeitada a atual fase do empreendimento. Tendo em mente tal análise, foi definido que a simulação cobrirá apenas três meses. Isso se deve ao fato que, mesmo que o ponto principal seja a adoção do fluxo de caixa projetado, até então inexistente na empresa, a margem de análise para o futuro, a princípio, não poderá ser muito extensa pois a microempresa passa por uma fase de reformulação de atividades, com grandes investimentos em sua linha de sapatos. Devido a isso, observa-se que será mais difícil prever e calcular os futuros recebimentos dentro do período projetado, pois mesmo os dados do mesmo período no ano anterior podem ser inexatos, pela quantidade inferior de produtos oferecidos na época e a consequente menor entrada de capital, o que distorceria a previsão. Foi tomado como base o modelo disponibilizado por Oliveira (2013), que a princípio, cita cinco parâmetros base para a estruturação do fluxo de caixa projetado, mas com o objetivo de diferenciá-lo, este foi modificado para que atenda todas as 34 peculiaridades da microempresa em questão, no que diz respeito ao acréscimo ou decréscimo das informações consideradas na simulação. Parte-se então da premissa de atualizações constantes da planilha mensal da previsão de vendas, utilizando uma planilha semanal para controle deste setor. Planilha 1 – Projeção do recebimento de vendas Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 63). Planilha 2 – Auxiliar semanal na projeção de vendas Fonte: Elaboração própria Na Planilha 1, pode-se observar a necessidade do cálculo do prazo médio de recebimento, para preenchimento das tabelas de períodos de simulação posteriores enquanto na Planilha 2, vê-se uma ferramenta de auxílio para a planilha principal, numa forma de distribuir o objetivo mensal da estimativa de vendas em metas menores para serem acompanhadas no andamento do mês. Há também a separação dos produtos comercializados em quatro grandes categorias, que abrangem todo o portfólio de produtos ofertados pela microempresa varejista, o que permitiria uma análise muito mais ampla do que de fato é o principal produto da empresa, e o que apresenta um menor giro de estoque, fato que se torna perigoso já que se trata de dinheiro alocado em mercadorias. Mês Previsão de Vendas Totais Previsão de recebimento de vendas Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês “n” 1 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 2 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 3 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 SOMA R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Semana Sapatos Bolsas e Carteiras Papelaria 1 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 2 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 3 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 4 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 SOMA R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Previsão de vendas na semana Presentes em Geral R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 35 Mês Mês 1 Mês 2 Mês 3 1 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 2 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 3 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 SOMA R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00R$ 0,00 Previsão de compras R$ 0,00 Previsão de pagamento das compras Cálculo dos pagamento das compras previstas R$ 0,00 R$ 0,00 Planilha 3 – Posição dos Valores a Receber Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 66) Na Planilha 3 observa-se o modelo para os controles de contas a receber que fornecerão as informações para o fluxo de caixa, ou seja, os valores do contas a receber que serão levados para a planilha do fluxo de caixa. Planilha 4 – Planilha auxiliar para cálculo das compras previstas Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 64 e 65). A Planilha 4 contempla os cálculos para a previsão dos dispêndios de compras. Naturalmente o percentual que se refere as compras com relação ao valor das vendas necessitará de outros cálculos mais apurados mas que podem ser melhorados com o tempo e as informações geradas. Na Planilha 5 observa-se o levantamento dos compromissos já assumidos com os fornecedores enquanto a Planilha 6 apresenta o levantamento dos custos e despesas: Mês 1 2 3 R$ 0,00 R$ 0,00 Percentual para compras (%) - 2 0,00% 0,00% 0,00% Previsão de vendas (R$) - 1 R$ 0,00 R$ 0,00 Previsão ou meta de compras (R$) - 3 = (1x2)/100 R$ 0,00 R$ 0,00 Mês 1 Mês 2 Mês 3 TOTAIS R$0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Cartão de crédito R$ 0,00 Outros R$ 0,00 SOMA R$ 0,00 Tipo de Documento Valores já vencidos Crediário R$ 0,00 Cheques pré-datados R$ 0,00 36 Planilha 5 – Demonstração dos compromisso com fornecedores Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 68) Planilha 6 – Levantamento dos custos e despesas a pagar Fonte: Adaptado de Oliveira (2013, p. 68) Data do Vencimento Categoria do produto Valor R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 TOTAL DO PERÍODO R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Valor acumulado R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 COMPROMISSO Mês 1 Mês 2 Mês 3 Total da projeção Fornecedores R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Folha de pagamento R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Retiradas dos sócios R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Alíquota do imposto (SIMPLES) R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Aluguel R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Energia elétrica R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Telefone R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Serviços de contabilidade R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Férias R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 13º salário R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Empréstimos bancários R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Despesas financeiras R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Material de Limpeza R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 Aluguel da máquina de fotocópia R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 VENCIMENTOS 37 Observa-se assim que, uma vez que a ferramenta utilizada esteja informatizada e que todos esses dados estejam lançados em cada uma dessas planilhas, é possível associá-las entre si e extrair os mais variados tipos de informação. Entre os diversos modelos de Fluxo de Caixa apresentados, sugere-se a utilização do próprio modelo de Oliveira (2013), mas outros podem ser construídos a partir das informações geradas e combinadas. Assim, é possível perceber que o fluxo de caixa é uma aliado na informação de questões importantes da gestão financeira da empresa e que seu uso não precisa muitos conhecimentos práticos; uma vez estruturado, requer apenas disciplina no lançamento dos dados. 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta deste trabalho foi demonstrar, através de um estudo de caso de uma microempresa do setor varejista, uma nova forma de estruturação das movimentações diárias de entradas e saídas de capital e a sua correta administração, tanto das disponibilidades quanto do capital excedente e esperava-se que pudessem ser exemplificadas algumas formas já existentes de estruturação do fluxo de caixa, bem como que fossem aprofundados o conhecimento do pesquisador ao tema, visando aplicação. Considera-se assim que os objetivos propostos foram atendidos mas que, por se tratar de um tema complexo, muito mais ainda poderá ser realizado por pesquisas futuras. Observou-se, por fim, que com a correta estruturação do Fluxo de Caixa é possível que a empresa tenha mais informações e que isso contribua com um melhor planejamento e controle dos seus recursos. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NETO, Alexandre Assaf; SILVA, Cesar Augusto Tibúrcio. Administração de capital de giro. Editora Atlas, São Paulo, 1997. BEUREN, Ilse Maria; PORTON, Rosimere Alves de Bona; RAUPP, Fabiano Maury; SOUSA, Marco Aurelio Batista de. Proposta de uma sistemática de fluxo de caixa projetado para uma empresa de pequeno porte do setor varejista: o caso de uma empresa comercial do ramo de confecções. Contabilidade Vista & Revista, vol. 14, núm. 2, agosto, 2003, pp. 125-144. Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais, Brasil. BRASIL. Constituição (2006). Lei nº 123, de 14 de dezembro de 2006. 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