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Ministério da Educação Universidade Federal De Roraima Centro de Ciências Agrárias Departamento de Solos e Engenharia Agrícola Estudo De Impacto Ambiental – EIA e Relatório De Impacto Ambiental – RIMA: Implantação de uma Agroindústria Pesqueira de Boa Vista – RR Boa Vista-RR 2019 2 ANDREZA VERONICA DE SOUZA SILVA CAROLINA SOARES MARQUES JARDEANE SOARES DE OLIVEIRA LARISSA HOLZ CARVALHO FINCH MARCELO PALUDO NEIDE RIBEIRO DOS SANTOS RAYRA DE SOUZA RIBEIRO Estudo De Impacto Ambiental – EIA e Relatório De Impacto Ambiental – RIMA: Implantação de uma Agroindústria Pesqueira de Boa Vista – RR BOA VISTA-RR 2019 Trabalho apresentado ao Centro de Ciências Agrárias do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola do Curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima como requisito parcial para obtenção de nota da Disciplina AG092 - Avaliação de Impactos Ambientais. Professor Dr. Valdinar Ferreira Melo. 3 SUMÁRIO 1.0 IDENTIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 4 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................. 6 2.0 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 3.0 LOCALIZAÇÃO ....................................................................................................................... 13 4.0 CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO ......................................................................... 17 5.0 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS LOCACIONAIS .......................................................................... 22 6.0 ASPECTOS JURIDICOS ........................................................................................................... 25 7.0 MEIO FÍSICO .......................................................................................................................... 28 7.1 Componente Relevo ...................................................................................................... 28 7.2 Aspectos Geológicos ..................................................................................................... 29 7.3 Hidrografia .................................................................................................................... 31 7.4 Clima .............................................................................................................................. 32 8.0 IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE INFLUENCIA ....................................................................... 33 8.1 Meio Fisico .................................................................................................................... 34 8.2 Meio Biótico .................................................................................................................. 35 8.3 Meio Antrópico ............................................................................................................. 36 9.0 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE INFLUENCIA ..................................................... 37 9.1 Meio Biótico .................................................................................................................. 37 9.1.1 Flora ....................................................................................................................... 37 9.1.2 Fauna Terrestre ..................................................................................................... 41 9.1.2.1 Mastofauna ............................................................................... 41 9.1.2.2 Avifauna .................................................................................... 44 9.1.2.3 Entomorfauna ........................................................................... 49 9.1.3 Fauna Aquática ...................................................................................................... 49 9.1.3.1 Ictiofauna .................................................................................. 49 9.1.3.2 Hepertofauna ............................................................................ 51 9.2 Meio Economico ............................................................................................................ 52 10.0 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS E MEDIDAS MITIGADORAS . 53 10.1 Meio Fisico .................................................................................................................. 56 4 10.2 Meio Biológico ............................................................................................................. 57 10.3 Meio Antrópico ........................................................................................................... 84 11.0 PROGNÓSTICO AMBIENTAL ............................................................................................... 95 11.1 Programas Ambientais ........................................................................................... 98 12.0 MEDIDAS DE COMPENSAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................... 114 13.0 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 114 14.0 RIMA ................................................................................................................................. 116 14.1 Objetivos e Justificativas ...................................................................................... 116 14.2 Do Projeto............................................................................................................. 116 15.0 DESCRIÇÃO DO PROJETO .................................................................................................. 120 16.0 SINTESE DE IMPACTOS ..................................................................................................... 122 17.0 QUALIDADE AMBIENTAL FUTURA ................................................................................... 131 18.0 DESCRIÇÃO DO EFEITO PREVISTO DAS MEDIDAS MITIGADORAS PARA CADA IMPACTO ADVERSO ................................................................................................................................... 136 19.0 IMPLANTAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO............................................................ 143 20.0 MEDIDAS E PROGRAMAS ................................................................................................ 143 21.0 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 154 22.0 REFERENCIAS .................................................................................................................... 158 23.0 ANEXOS ............................................................................................................................. 165 5 1.0. IDENTIFICAÇÃO IDENTIFICAÇÃO DO EMPREENDEDOR Governo do Estado de Roraima Palácio Senador Hélio Campos, Praça Centro Cívico, 350 Boa Vista – RR - CEP 69.043-900 Fone/Fax: (095) 2121-3717 CONSULTORA RESPONSÁVEL Macunaíma Consultoria Piscicultura Ltda. Rua das Camélias, 492, Bairro Pricumã. Boa Vista – RR - CEP 69.510-540 6 Fone/ Fax: (095) 3245-7891 E-mail: macunaima_piscicultura@gmail.com EQUIPE TÉCNICA Coordenação Geral Bióloga MSc. Andreza Veronica de Souza Silva – CRBio 8.060-07/D Sub-Coordenação Engenheiro Sanitarista Marcelo Paludo – CREA 024920-7 SC S1 Meio Físico Geóloga Rayra de Souza Ribeiro – CREA 231-93/D Meio Biótico Bióloga MSc. Andreza Veronica de Souza Silva – CRBio 8.060-07/D Engenheirade Pesca e Engenheira Civil MSc. Carolina Soares Marques – CRBio 09.806-07/D Meio Antrópico Antropóloga PhD. Neide Ribeiro dos Santos Legislação Advogada Larissa Holz Crvalho Finch – OAB 14.465/PR Arqueologia Arqueóloga Jardeane Soares de Oliveira – CREA 72.663/ D-PR 7 APRESENTAÇÃO Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da implantação de uma Agroindústria Pesqueira para fabricação de produtos e subprodutos de peixes no Município de Boa Vista-RR. O EIA é um estudo realizado por uma equipe multidisciplinar de profissionais de diversas áreas de conhecimento: Engenheiros, Biólogo, Economista, Antropólogo/Sociólogo, entre outros que venham compor, em relação ao grau de necessidade. A situação ambiental do local previsto para a implantação do empreendimento é avaliada por esses profissionais, que analisam as alterações que poderão ocorrer durante a fase de implantação e monitoramento, preveem os impactos positivos e negativos que podem ocorrer no meio ambiente e propõem ações destinadas a p revenir, minimizar, monitorar e/ou compensar os impactos negativos que venham a ocorrer. São propostas também medidas de potencialização para os impactos positivos. ETAPAS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL O Estudo de Impacto Ambiental-EIA, foi elaborado de acordo com a Resolução do CONAMA, Nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Este Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) tem como finalidade informar a todos os interessados sobre: o empreendimento, o diagnóstico ambiental realizado na área de sua implantação, os impactos ambientais gerados durante as fases de implantação do empreendimento, as medidas que serão empregadas para minimizar, monitorar e/ou compensar tais impactos. Audiências Públicas Com a finalidade de esclarecer as dúvidas pertinentes e de despertar o interesse da comunidade do Município envolvido no projeto de implantação de uma Agroindústria Pesqueira para fabricação de produtos e subprodutos de 8 peixes no Município de Boa Vista-RR, à participação, envolvimento e acompanhamento do licenciamento ambiental, a Câmara Municipal de Boa Vista, promoveu quatro audiências públicas nos meses de março, abril, maio e junho de 2019. Nessas audiências foram convidados representantes do poder público (Vereadores, Prefeita e Secretários Municipais), Instituições Governamentais atuantes, Associações comunitárias, Sindicatos de trabalhadores rurais, Associações empresariais, ONG´S, Universidades locais e a população diretamente afetada. A primeira audiência, em março de 2019, teve como objetivo a discussão do Termo de Referência para o desenvolvimento do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Nesta audiência foi feita a apresentação do empreendimento, do projeto, suas características básicas, os estudos de engenharia e avaliação ambiental de alternativas locacionais. Na oportunidade o público participante buscou informações e esclarecimentos, como também, expressou suas expectativas e preocupações em termos socioeconômicos. Em sequência foram debatidos temas para o Termo de Referência. Na segunda audiência, em abril de 2019, foram apresentados dados mais detalhados sobre o empreendimento e os resultados dos estudos ambientais realizados. Os participantes fizeram questionamentos sobre os resultados apresentados. Apresentaram suas preocupações como: Impactos sobre os recursos hídricos, flora e fauna e a absorção de mão-de-obra local, entre outros. Na terceira audiência, em maio de 2019, foram debatidos os assuntos sobre os impactos socioeconômicos sobre a Comunidade do Município e sobre à viabilidade econômica do projeto. Após essas considerações o projeto passou por votação e foi aprovado, com a ressalva de apresentação de resultados anuais sobre os impactos sociais e ambientais. 9 AGROINDUSTRIA PESQUEIRA DE BOA VISTA A empresa foi criada em 2019, no Município de Boa Vista-RR, Brasil, com sede na capital roraimense. A empresa foi criada da vontade dos parceiros de impulsionar o setor pesqueiro no estado de Roraima e aproveitar os benefícios que o mesmo proporciona para os que nele produzem além de fazer o escoamento de peixes in natura, processá-los para posterior exportação com alta qualidade e de forma sustentável. Os peixes são muito presente na culinária em restaurantes pela grande disponibilidade de nutrientes, sendo o Ômega 3 e 6, um dos principais fatores de seu consumo. PISCICULTURA RORAIMENSSE Clima favorável e cultura regional de consumo de peixes são os principais fatores que contribuíram para que Roraima se tornasse um dos maiores produtores de tambaqui e pirarucu, pescados nativos do Brasil. As informações são da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) com dados referentes a 2018. A principal produção de peixe do Estado é de tambaqui (Colossoma macropomum), com 98,4%, seguido do matrinxã (Brycon cephalus), com 1,6%. Também são produzidos tilápia (Oreochromis niloticus) e pirarucu (Arapaima gigas), mas esse último apresenta dificuldades para ser vendido em Roraima. Grande parte da produção hoje é comercializada na Semana Santa no mês de Abril. As principais produções de peixe em Roraima são feitas por comunidades indígenas, agricultura familiar e setor empresarial com pequeno, médio e grande produtor. São 1.131 agricultores catalogados pela Secretaria de Agricultura. Objetivos do empreendimento A “Agroindústria Pesqueira de Boa Vista” visa fabricar produtos e subprodutos oriundos de espécies aquáticas tanto nativos já explorados na 10 região, como espécies trabalhadas em cultivo intensivo e semi intensivo por piscicultores do Estado. Este empreendimento tem como um dos objetivos o escoamento em maior escala deste produto, além de agregar valor aos subprodutos de peixes, como hambúrgueres, salsichas, linguiças, calabresas, nuggets, filezinhos, entre outros. Outro ponto positivo no empreendimento é a geração de empregos à comunidade e a melhoria das vias de tráfego para o escoamento da produção. O objetivo principal é a obtenção de lucro na área alimentícia, com foco na sustentabilidade ambiental, além da geração de empregos, fornecimento de subsídios para pesquisas científicas e tecnológicas; auxílio em programas estaduais de controle ambiental e avaliação permanente da qualidade ambiental do Município. Importância do empreendimento para a Região Em relação à economia local e regional, haverá uma grande mudança devido ao aumento no número de empregos formais, mais diversificados em termos de remuneração. A arrecadação de impostos também terá aumento, propiciando maiores condições ao poder público para investimentos em serviços sociais básicos. Isso resultará em melhoria na qualidade de vida no Município de Boa Vista. O projeto se mostra compatível com a política de Governo Estadual e Municipal na busca da interiorização do desenvolvimento econômico. Integrando essa política, o Governo estabeleceu a importância de interligação da Região Norte ao Brasil e mundo. 11 2.0. INTRODUÇÃO O presente Estudo de Impacto Ambiental, documento do Empreendimento Macunaíma Piscicultura de Boa Vista-RR, foi elaborado considerando o que dispõe a Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, Art. 3º, Parágrafo único, que preceitua que o órgão ambiental competente definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento, considerando como instrumento norteador as especificações técnicas fornecidas pela SEAPA – Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Roraima e IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Segundo a Resolução do CONAMA de n.º 001, de 23 de janeiro de 1986: Art. 9º. – O Relatório de Impacto Ambiental – RIMA refletirá as conclusões do Estudo de Impacto Ambiental e conterá, no mínimo: I – Os objetivose justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais; II – a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão de obra, as fontes de energia, os processos e técnicas operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III – A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto; IV – A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação; V – A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como a hipótese de sua não realização; VI – A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado; VII – O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII – Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral). Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possa entender as vantagens e desvantagens do projeto bem como todas as 12 Segundo a Resolução do CONAMA de n.º 001, de 23 de janeiro de 1986 (artigo 2º), depende da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como, estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento, ferrovias, portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos, aeroportos, oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários, linhas de transmissão de energia elétrica acima de 230 KV, obras hidráulicas para a exploração de recursos hídricos, usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte primária acima de 10 MW, complexos e unidades industriais e agroindustriais, distritos industriais e zonas estritamente industriais e dentre outros, aterros sanitários. Vale aqui salientar que de acordo com o Decreto nº 5.231/2004, os Terminais Pesqueiros Públicos não são considerados portos. No entanto, ainda assim, são passíveis de licenciamento ambiental, devendo ser objeto de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental. De acordo com a Resolução CONAMA nº 01/1986, a Agroindústria Pesqueira de Boa Vista poderia ser enquadrado nas seguintes categorias: - Indústria de produtos alimentares e bebidas; - Transporte, terminais e depósitos. A implantação da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista prevê a utilização da área Caetano Filho (Beiral), área desativada há mais de 2 anos no bairro Calungá, no município de Boa Vista. Considerou-se, para a análise ambiental, o Projeto Executivo, elaborado pela Macunaíma Consultoria Piscicultura, para a referida Agroindústria Pesqueira. Desta forma, o presente Estudo e Relatório de Impacto Ambiental compreendem, em relação à alternativa selecionada para o desenvolvimento do empreendimento, a determinação da área de influência, os resultados do diagnóstico ambiental dos meios abiótico, biótico e antrópico, a análise dos recursos arqueológicos e dos aspectos jurídicos relacionados, além de identificar os potenciais impactos a ser gerado, indicar as medidas mitigadoras e 13 compensatórias, bem como os programas ambientais recomendados. São também apresentadas as relações entre o projeto e o município diretamente afetado (Boa Vista-RR) e suas potenciais consequências e a hipótese de não realização do projeto. O Relatório de Impacto Ambiental – RIMA ora apresentado em volume específico, vem disponibilizar para a sociedade a síntese dos estudos realizados e os respectivos resultados, de forma a subsidiar o conhecimento e a discussão sobre os potenciais impactos da implantação do empreendimento. Desta forma, cumpre-se o objetivo de, atendendo os requisitos legais pertinentes, subsidiar junto ao órgão competente o processo de licenciamento ambiental da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. 14 3.0. LOCALIZAÇÃO História A cidade de Boa Vista se originou da sede de uma fazenda estabelecida no local no século XIX. Em torno da sede da fazenda, chamada Boa Vista do Rio Branco, surgiu um pequeno povoado, a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, que durante um bom tempo foi o único povoado em toda a região do alto Rio Branco. Em 1890, o povoado foi elevado à condição de vila, e em 1926 passou a ser município, adotando o nome da antiga fazenda, Boa Vista. Com a criação do Território Federal de Roraima, em 1940, a cidade foi escolhida para ser a capital. Geografia e transporte Com sua localização no extremo Norte da malha rodoviária brasileira BR- 174 (Norte), BR-401 (Boa Vista-Guiana Inglesa), Boa Vista pode ser facilmente acessada por vias terrestre, aérea e fluvial, sendo uma das principais entradas para toda a região norte. O acesso rodoviário, para quem vem do sul e centro-oeste do país, é feito pela BR 174 até a cidade de Pacaraima. Para as outras regiões como Cantá, Bonfim, o acesso é feito pela BR-401, chegando a Guiana Inglesa. A cidade conta com o Aeroporto Internacional de Boa Vista (Atlas Brasil Cantanhede), além de ser um ponto estratégico de acesso à região Norte através dos rios: Rio Branco e seus afluentes. 15 Tabela 01. Distância entre o município de Boa Vista e algumas capitais brasileiras. CIDADE DISTANCIA Belo Horizonte / MG 4.687,2 km Brasília / DF 4.177,8 km Curitiba / PR 4.830,2 km Florianópolis / SC 5.133,9 km Fortaleza / CE 4.912,6 km Goiânia / GO 3.989,8 km Teresina / PI 4.327,9 km Manaus / AM 748,9 km Porto Alegre / RS 5.223,9 km Porto Velho / RO 1.639,0 km Rio Branco / AC 2.150,2 km Rio de Janeiro / RJ 5.062,3 km São Paulo / SP 4.660,4 km Vitória / ES 5.216,2 km Macapá / AP 1.111 km A Agroindústria Pesqueira de Boa Vista encontra-se projetado junto ao Rio Branco, em parte do antigo terreno ocupado pelo Beiral (Caetano Filho), sendo que o cais projetado possui cerca de 12.500 metros. 16 A área prevista Agroindústria Pesqueira de Roraima liga-se às demais regiões do município de Boa Vista pela Rodovia 174, interligando-se à malha rodoviária brasileira através da Rodovia BR-174, principal eixo viário do Estado. O acesso rodoviário ao local ocorre através da Rodovia 174, via com pista simples de 7,5 metros de largura e acostamentos laterais que interliga Boa Vista- Venezuela, Boa Vista-Guiana Inglesa, Boa Vista - Manaus. Figura 01. Localização do projeto em relação a Caetano Filho e ao município de Boa Vista: A) Representação do Estado de Roraima em relação ao Brasil; B) Representação do Município de Boa Vista em Relação ao estado de Roraima; C) Representação do município de Boa Vista; D) Representação do local do empreendimento no Bairro Calungá, Caetano Filho(Beiral) e E) Localização no mapa do terreno do empreendimento e o tamanho da área. A B C D 17 E E 18 4.0. CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO Agroindústria Pesqueira de Boa Vista foi projetada em área urbana da cidade de Boa Vista,no centro de Boa Vista, com a finalidade de servir de entreposto de recepção e comercialização de pescados da região, bem como para beneficiamento desses produtos. Estão previstas para o empreendimento Agroindústria Pesqueira de Boa Vista, uma série de infraestrutura, distribuídas da seguinte forma: Tabela 1. Quadro Geral de Áreas CAIS - Faixa de Atracação Extensão 700,00 metros lineares Largura Média da Faixa do Cais 10,00 metros lineares Berços para Atracação (embarcações com 20 metros) 28,00 embarcações Área do Cais 5.315,00 m² Área da Faixa de Serviços 1.200,00 m² Tabela 2. Áreas Fechadas e Internas Edificações Área para Armazenagem (Câmaras Frias e Frigoríficas) 1.400,00 m² Área da Fábrica de Gelo 870,00 m² Área de Depósitos e Suprimentos para Embarcações 500,00 m² Área de manipulação e Triagem de Pescados 2.900,00 m² Área de Comercialização e Treinamento 1.800,00 m² Área de Vestiários, Enfermaria e Refeitório 650,00 m² Área de Depósito Temporário de Resíduos Sólidos 90,00 m² 19 Tabela 3. Áreas Abertas ou Cobertas não Fechadas Estação de Tratamento de Efluentes 3.200,00 m² Recepção e Lavagem de Pescados (coberta) 550,00 m² Estacionamento de veículos 1.500,00 m² Estacionamento de Caminhões 3.650,00 m² Vias Internas 20.000,00 m² Paisagismo e Arborização 4.000,00 m² Tabela 4. Total da área a ser utilizada pela Agroindústria Pesqueira de Boa Vista Área do Terreno 39.760,00 m² Área do Cais (sobre água) 5.315,00 m² TOTAL GERAL 45.075,00 m² Descrição geral do Empreendimento A Agroindústria Pesqueira de Boa Vista terá por finalidade servir de entreposto de recepção e comercialização de pescados da região, tendo ainda uma área de beneficiamento do produto. Visa fornecer uma alternativa para a valorização de pescados a partir da implementação de ações que proporcionem segurança sanitária e qualidade superior aos produtos comercializados atualmente. A infraestrutura prevista para a gestão da Agroindústria compreende um cais especialmente projetado para esta finalidade com área total de 5.315m² e instalações para o processamento de pescados. O processo produtivo inicia pela fase de recepção onde os pescados dão entrada na unidade. Na sequência um processo de triagem permitirá a segregação dos pescados em categorias, conforme a finalidade específica. 20 Todos os pescados serão destinados a um processamento primário, o qual compreende lavagem, a fim de remover os resíduos e as impurezas resultantes do acondicionamento e armazenamento nos barcos de pesca. A partir desta fase, parte dos pescados é conduzida diretamente ao resfriamento para comercialização in natura, sendo outra parte, direcionada para beneficiamento. Os pescados encaminhados para a área de beneficiamento estarão sujeitos a processamento secundário em área específica para evisceração, corte, filetização, embalagem e armazenamento, com área aproximada de 1.400 m2. Figura 2. Fluxograma dos processos previstos para a agroindústria Pesqueira de Boa Vista. Estruturas de apoio serão implementadas para dar suporte ao processamento dos pescados, entre estas uma fábrica de gelo que garantirá as condições para o resfriamento dos produtos, proporcionando condições 21 sanitárias adequadas para sua posterior comercialização, além de depósitos, estacionamento para veículos de carga e veículos utilitários. Serão também disponibilizadas instalações de apoio aos pescadores e pessoal lotado nas atividades de processamento, destacando-se um bloco com refeitório, vestiários, depósitos e um prédio administrativo com aproximadamente 900 m2. Controles Ambientais Estruturas de controle ambiental serão também implementadas, destacando-se especialmente a Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos e uma Central para Armazenamento de Resíduos Sólidos. São os efluentes líquidos e os resíduos sólidos que se caracterizam como os principais aspectos ambientais associados às atividades de processamento de pescados. Os efluentes líquidos são gerados na fase de processamento primário (lavagem de pescados), no beneficiamento (evisceração, corte e filetização), resfriamento, acondicionamento e armazenagem. Atividades de limpeza de pisos das áreas de processamento, vestiários, sanitários e áreas de trânsito em geral, proporcionam também efluentes a serem posteriormente tratados. Os esgotos sanitários, resultantes de pessoal fixo lotado nas áreas de processamento e aqueles gerados pela população dita flutuante, completam os efluentes líquidos gerados na unidade. Quanto aos resíduos sólidos, parte será resultante do processamento primário e para sua remoção, serão implementados dispositivos de gradeamento. Estes resíduos são pouco significativos em termos de volume e apresentam características inorgânicas e orgânicas. No processamento secundário serão gerados resíduos em maior quantidade e complexidade para seu tratamento, dada sua natureza eminentemente orgânica. São resíduos de vísceras, peles, sobras de cortes e escamas, que serão também retidos em sistemas de gradeamento a fim de evitar que sejam direcionados à Estação de Tratamento de Efluentes. Mesmo com a 22 segregação entre os resíduos sólidos e os resíduos líquidos do processamento, resultam em efluentes com as características orgânicas e com a presença de material sólido de pequenas dimensões. Em razão dessas características dos efluentes a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) compreenderá: Tratamento primário através de gradeamento fino e caixa de retenção de areia; Tratamento secundário a partir de processo anaeróbio através de reatores de leito fluidizado (UASB); Tratamento terciário a partir de processo aeróbio através de sistema do tipo LAB (Lodos Ativado por Batelada). Esta unidade de tratamento receberá além dos efluentes do processo, todos os outros efluentes líquidos gerados nas atividades diretas e indiretas da Agroindústria Pesqueira. Os resíduos sólidos gerados, aqueles oriundos do processamento são os mais representativos em termos quantitativos, dada as suas características de alta capacidade de degradação. Portanto, são estes resíduos que representam a maior preocupação em termos de gestão, haja vista a indisponibilidade na região de alternativa que permita sua utilização, como componentes alimentares do tipo ração ou farinha de peixe. Outros resíduos potencialmente gerados compreendem os resíduos sanitários, restos de alimentos de refeitório, materiais recicláveis (papel, papelão, plásticos diversos), resíduos especiais como óleo usado, embalagens contaminadas, lâmpadas queimadas, baterias, lodo de ETE entre outros. Esses resíduos serão adequadamente segregados, armazenados na central de armazenamento e deverão ser destinados à disposição final adequada, conforme a disponibilidade na região de forma a atender à legislação. As ações de controle e disposição de resíduos sólidos encontram-se previstas no Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos elaborado para a Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. 23 Infraestrutura de Saneamento Água O abastecimento de água na região do empreendimento é realizado pelo Sistema de abastecimento de água da CAER na. O consumo de água para o empreendimento será provido parte pela companhia de saneamento e parte por exploração de águas subterrâneas. Esgoto A localidade é desprovida de sistema de esgotamento sanitário coletivo, restringindo-se a soluções individualizadas de tratamento. Resíduos Sólidos Os serviços de coleta e tratamento de resíduos sólidos domiciliares são realizados pela municipalidade, através de empresa terceirizada. Os resíduos industriais são coletados por empresas especializadas. Um dos limitantes para a destinação de resíduos sólidos compreende a indisponibilidade de alternativas tecnicamenteseguras para sua destinação final. As soluções regionais passariam pela transferência de resíduos para outros estados, resultando em custos significativos ao empreendimento. Drenagem Urbana A localidade dispõe de uma estrutura de drenagem pluvial, porém carece de serviços de manutenção, o que proporciona acúmulo de resíduos nas caixas coletoras e consequentemente o entupimento das linhas de drenagem. Como consequência, tem-se situações de alagamento das vias, prejudicando o tráfego de veículos e pedestres na localidade. 5.0. ANÁLISES DE ALTERNATIVAS LOCACIONAIS Conforme determinado pela Resolução 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, um dos componentes imprescindíveis para o processo de licenciamento ambiental consiste na análise de alternativas locacionais para empreendimentos potencialmente degradadores. 24 Assim sendo, este item consiste em uma verificação da viabilidade da adoção de áreas alternativas para a implementação da T Agroindústria Pesqueira de Boa Vista, objetivando a seleção da localidade cujo impacto seja o mínimo possível. Para tanto, foram identificadas áreas potenciais às margens do rio Branco, inicialmente através de imagens de satélite, as quais indicaram áreas não edificadas, e, posteriormente, efetuou-se visitas de reconhecimento em campo. Contudo, em função da proximidade da região com o grande centro urbano de Boa Vista, o número de alternativas locacionais para o projeto é bastante reduzido. Ainda assim, foram identificadas três alternativas locacionais nessa região, tratadas como Localidade 1, Localidade 2 e Localidade 3. Para cada uma das mesmas, será apresentada seguir uma avaliação sucinta, localização e verificação da possibilidade de utilização para o empreendimento. Serão apontadas eventuais potencialidades e/ou impedimentos, considerando-se os potenciais impactos ambientais decorrentes da implementação da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. Localidade 1 (2°50'43.73"N 60°38'31.67"O) Situada na margem esquerda do rio Branco, esta área apresentou-se como alternativa locacional em função da ausência de edificações e ocupação urbana. O mesmo terreno, de propriedade particular, no entanto, dispõe de significativo remanescente de vegetação, com inúmeros indivíduos arbóreos. Há inclusive formações florestais em Área de Preservação Permanente (APP). Pontos favoráveis: ausência de edificações e proximidade com avenidas, facilitando a logística e o acesso à área. Pontos desfavoráveis: existência de bons remanescentes de Floresta, inclusive em Área de Preservação Permanente. 25 Localidade 2 ( 2°49'35.90"N 2°49'35.90"N) Também situada na margem esquerda do rio Branco, esta área não se encontra ocupada por edificações e ocupação urbana, estando – assim como a localidade anterior. Ao longo deste corpo, encontra-se vegetação florestal remanescente, com significativa qualidade ambiental. Pontos favoráveis: ausência de edificações e proximidade com rodovia. Pontos desfavoráveis: existência de bons remanescentes de Floresta, inclusive em Área de Preservação Permanente. Localidade 3 (2°48'41.11"N 60°40'12.08"O) Área delimitada entre o entre o rio Branco e a Avenina Sebastião Diniz. Destaca-se a condição antrópica da área, vegetação nos primeiros estágios sucessionais e Solo parcialmente impermeabilizado. Pontos favoráveis: terreno de domínio da União, degradado por uso anterior. Inexistem fragmentos significativos de vegetação nativa. Pontos desfavoráveis: potencial existência de passivo ambiental devido ao uso anterior. Frente às observações anteriormente apresentadas, verifica-se que a Localidade 3 representa a melhor opção locacional ao empreendimento. As duas primeiras alternativas dispõem de remanescentes de vegetação nativa em melhor estado de conservação, quando comparadas à Localidade 3. Essa última dispõe de áreas altamente antropizadas. O terreno da Localidade 3 conta com a vantagem de ser área de domínio público, não sendo necessário sua desapropriação e indenização. O acesso ao terreno é facilitado, tanto pela via terrestre quanto pela fluvial. Tal fato consiste em diferencial para sua seleção para implantação da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. 26 Figura 3. Alternativas locacionais avaliadas para a implementação da Agroindustria Pesqueira de Boa Vista . Fonte: Google Earth, 2019 Frente às observações anteriormente apresentadas, verifica-se que a Localidade 3 representa a melhor opção locacional ao empreendimento. As duas primeiras alternativas dispõem de remanescentes de vegetação nativa em melhor estado de conservação, quando comparadas à Localidade 3. Essa última dispõe de áreas altamente antropizadas, também situadas próximas à BR 174. O terreno da Localidade 3 conta com a vantagem de ser área de domínio público, não sendo necessário sua desapropriação e indenização. Ainda, em função de dispor de infra-estruras para a construção do empreendimento, o acesso ao terreno é facilitado, pela via terrestre. Tal fato consiste em diferencial para sua seleção para implantação do empreendimento Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. 6.0. ASPECTOS JURÍDICOS Na tentativa de implantar e utilizar efetivamente os instrumentos dispostos na Política Nacional do Meio Ambiente, a qual visa conciliar o bem estar e o desenvolvimento humano com a preservação do ambiente natural, inúmeras têm sido as normas jurídicas brasileiras que visam tal fim. Sendo assim, o Brasil assumiu o compromisso legal de proteger e assegurar a manutenção dos diversos ecossistemas que abrange, bem como respeitar todas as formas de A B C 27 vida existentes, independente de suas potencialidades para a humanidade. Para tanto, desde 1981, quando a Federação instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, o país tem elaborado uma extensa legislação ambiental, bem como criado e capacitado diversos órgãos e instituições responsáveis pela proteção e fiscalização dos ambientes naturais. A legislação ambiental brasileira, para atingir seus objetivos de preservação, criou direitos e deveres para todos os cidadãos, instrumentos de conservação do meio ambiente, normas de uso dos diversos ecossistemas, normas para disciplinar atividades relacionadas à exploração e utilização dos recursos ambientais e ainda implantar diversos tipos de áreas protegidas. Como legislação ambiental entenda-se aqui o conjunto de normas jurídicas, leis, decretos, resoluções, portarias, medidas provisórias e outras que estabelecem as ações necessárias à execução da política para o meio ambiente. Ressalta-se o enquadramento do ser humano, cidadão, como pertencente ao ambiente natural, tendo este amparo legal e obrigações para com a natureza. Dentre os direitos básicos humanos destaca-se o direito à vida, bem como o direito a um ambiente natural saudável, visto que este ser corresponde a mais uma espécie viva no planeta. Sendo assim, a legislação é postulada, ou seja, estabelecida para ordenar os variados assuntos de interesse comum da sociedade. De modo mais específico ainda, no que tange à legislação ambiental brasileira, esta é composta por numerosas leis (federais, estaduais e municipais) relativamente novas. O Direito brasileiro, nos últimos trinta anos, tem acrescentado novas concepções sobre a apropriação e uso dos bens naturais. Ainda, nos últimos anos tem se constatado um relevante fortalecimento da legislação ambiental brasileira, com um número cada vez maior de profissionais fazendo uso deste instrumento. Em contrapartida, também, crescem as ameaças ao patrimônio ambiental brasileiro, inchando a lista de espécies e ambientes sujeitos às alterações antrópicas. Neste contexto é que passam a atuar o Ministério do Meio Ambiente (MMA), máximo órgão legal de proteção e regulamentação do ambientenatural brasileiro, bem como instituições vinculadas, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o 28 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Em síntese, a questão ambiental passou a ter tratamento especifico e abrangente na constituição, a qual atribuiu ao Poder Público a responsabilidade pela defesa e preservação do meio ambiente. Tal fato significa dizer que a administração pública responsável passou a ter obrigações constitucionais na manutenção do equilíbrio ecológico. A forma de atuação dos estados e municípios passou - então - a abranger, necessariamente, o exercício efetivo de suas competências, seja protegendo o meio ambiente e combatendo a poluição, a fauna ou estabelecendo legislação de interesse. Dentre esta legislação, para o presente documento, destaca-se – em função de seu caráter - aquela que faz referência ao processo de licenciamento ambiental. Ou seja, aquela que concede licença legal para empreendimentos potencialmente causadores de degradação ou impacto ambiental. Um dos mais importantes passos no processo de licenciamento ambiental foi à obrigatoriedade de estudos ambientais pertinentes, os quais avaliam os danos causados sobre o ambiente e a população de uma determinada área. Dentre a legislação que discorre sobre a obrigatoriedade ou não de estudos ambientais, cita-se a Resolução do CONAMA 001/1986, a qual apresenta os parâmetros e definições para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental: dispõe sobre o EIA/RIMA. Aqui, destaca-se tal estudo em função da necessidade do mesmo para a viabilização do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Macunaíma Piscicultura no município de Boa Vista, Roraima. A implementação do empreendimento Agroindústria Pesqueira de Boa Vista, Roraima será objeto de um processo de licenciamento ambiental a ser conduzido pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima - FEMARH, devido ao seu porte e influência regional. 29 Em consulta prévia realizada junto a esse órgão, confirmou-se a necessidade de elaboração do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental – EIA- RIMA, para apresentação quando do requerimento da Licença Prévia. Após a análise desse estudo, em continuidade ao referido processo de licenciamento ambiental do empreendimento, outras exigências ou documentos poderão ser solicitados ao empreendedor, ouvidas as partes interessadas conforme a legislação vigente. 7.0. MEIO FÍSICO 7.1. COMPONENTE RELEVO A área em que se encontra o município de Boa Vista, está localizado no que é chamado de Planalto das Guianas que podem ser o Planalto Sedimentar Roraima e o Planalto do Interflúvio Amazonas. Somado a isso, a Superfície de Aplainamento do rio Branco com altitudes que variam de 80 à 115m. Na região está presente relevos dos mais variados, que podem ser planos, relevos residuais, pequenas ondulações e depressões incipientes. (HOLANDA org., 2014). A região de Boa Vista, em termos geomorfológicos, encontra-se em meio ao bioma amazônico, denominadas áreas de savana que são formados uma extensa superfície aplainada com suaves colinas, tabuleiros entremeadas de depressões, buritizais e manchas esparsas de floresta, como ilhas. Define-se savana amazônica formações abertas, não florestais. (VALE JUNIOR; SCHAEFER, 2010). Na área diretamente afetada se encontra é de domínio savânico, área de depressões devido ao curso do rio Branco (VALE JUNIOR; SCHAEFER, 2010), resta alguns indivíduos da mata ciliar original, de vegetação variada, nas proximidades do empreendimento. 30 7.2. ASPECTOS GEOLÓGICOS A área onde se encontra a cidade de Boa Vista está situada em posição geográfica, às margens do rio Branco. Encontra-se na Formação Boa Vista na unidade dos Patamares e Tabuleiros Sedimentares Terciário-Quartenários do Baixo Uraricoera, Tacutu e Rio Branco. Formada por de arenitos conglomeráticos e grauvacas, onde estão em avançado estado de alteração promovida pelo intemperismo. A sedimentação corresponde a leque aluvial médio e distal. Como visto na Figura 4, este possui uma vasta distribuição. (RIKER, 2005). As mesmas condições são encontradas na região de instalação do empreendimento. 31 Figura 4. Mapa Geológico da área estudada (RIKER, p. 25, 2005). 32 Solos de Roraima são bastante variados, de maioria coesa. Solos próximos a calhas dos rios Branco, Uraricoera, Tacutu, Surumu, Caumé e Mucajaí são de maioria NEOSSOLOS FLÚVICOS com formação derivada de sedimentos fluviais do Haloceno. Mas estes são comuns nas margens dos rios e igarapés da região, onde no período chuvoso ficam totalmente submersos, que é uma característica de extrema significância para esse tipo de solo. (VALE JUNIOR; SCHAEFER, 2010). Outra classe de solo presente na região de importância para o empreendimento do qual o empreendimento será instalado é o PLINTOSSOLO PÉTRICO, é originado de sedimentos pré-inteprizados argilo-arenosa, onde tem como característica morfológica uma profundidade em torno de 1,60 m, moderadamente drenado e com riscos de erosão laminar. Também é possível observar a presença de petroplintita. (BENEDETTI, 2007). 7.3. HIDROGRAFIA A bacia hidrográfica do município Boa Vista está inserida é denominada de bacia do Rio Branco com os rios Branco, Cauamé, Tacutu, Uraricoera e Amajarí. É a única fonte de água para abastecimento da população. Estes rios funcionam como drenos das regiões de planície. A drenagem é do tipo dendrítica com alto potencial. É comum não ver cursos de água por grandes extensões, mas é comum a presença de lagoas fechadas e interligadas, e estas por sua vez são responsável pela mantença de lençóis freáticos da região, mantendo assim o equilíbrio da bacia. (VALE JUNIOR; SCHAEFER, 2010). No local onde será instalado o empreendimento a água será fornecida através de tubulações pela companhia de tratamento de água da região. O único recurso hídrico, além dos lençóis freáticos presentes nas proximidades é o rio Branco e assim como os demais não serão afetados devido a rede de esgoto presente no estabelecimento. 33 7.4. CLIMA De acordo com a classificação de Köppen (in: IBGE, 1977), a região é Aw, de domínio Tropical Chuvoso, quente e úmido, com período seco nítido. Com temperatura média entorno de 25°C e a precipitação fica em torno de 1.350 a 1.920 mm com distribuição irregular, com dois períodos distintos (chuvoso e seco). A umidade relativa do ar varia de 70 a 80%, os períodos chuvosos variam dos meses de abril a setembro, onde esta concentrado os maiores índices pluviométricos cerca de 70% do total de chuva em um ano. Somado a isso no município de Boa Vista, após pesquisas de Rego et al. (2000), pode estabelecer informações específicas para a região como temperatura que varia entre 26 a 28,6°C e a precipitação pluviométrica que varia entre 1.500 a 2.000mm, com distribuição irregular com dois períodos distintos: seco e chuvoso, assim como na maioria do Estado, com os maiores índices entre os meses de maio a agosto concentrando cerca de 70% do total de chuva anual e o período seco de setembro a março. Tabela 6. Características climáticas para a cidade de Boa Vista, Estado de Roraima (REGO et al., p.9, 2000). 8.0. IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA 34 A delimitação das áreas de influência de um determinado projeto é um dos requisitos legais (Resolução CONAMA 01/86) para avaliação de impactos ambientais, constituindo-se em fator de grande importância para o direcionamento da coleta de dados, voltada para o diagnóstico ambiental. As áreas de influência são aquelas afetadas direta ou indiretamente pelos impactos, positivos ou negativos, decorrentes do empreendimento, durante suas fases de implantação e operação. Estas áreas normalmenteassumem tamanhos diferenciados, dependendo da variável considerada (meios físico, biótico ou antrópico). Classicamente, são utilizados os conceitos de: A Área Diretamente Afetada (ADA): corresponde à porção territorial do projeto sujeita à interferência direta das atividades de implantação e operação do empreendimento sobre os diversos componentes; Área de Influência Direta (AID): como sendo aquele território onde as relações sociais, econômicas, culturais e os aspectos físico-biológicos sofrem os impactos de maneira primária, tendo suas características alteradas, ou seja, há uma relação direta de causa e efeito; Área de Influência Indireta (AII): corresponde à região geográfica real ou potencialmente afetada pelos impactos indiretos do planejamento, sua implantação, operação e/ou desativação do empreendimento, cuja abrangência tem âmbito regional, com base na distribuição dos atributos fisiográficos presentes na área do empreendimento. Para o empreendimento em questão, que consiste na implantação de uma Agroindústria Pesqueira em Boa Vista-RR, as áreas de influência direta e indireta foram definidas identificando-se as ações resultantes da implantação e operação do Empreendimento sobre os recursos naturais (recursos hídricos interiores, recursos atmosféricos, flora e fauna terrestre) e os aspectos socioeconômicos (população atingida, vias de acesso, transporte de materiais e equipamentos, 35 infra-estrutura urbana social, absorção de mão-de-obra, economia local/regional). 8.1. MEIO FÍSICO Para a delimitação das áreas de influência da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista-RR no que concerne ao meio físico, foram determinados alguns critérios relativos às características físicas do ambiente e às características do empreendimento. Área Diretamente Afetada (ADA): essa área de influência abrange o espaço onde está prevista a implantação da Agroindústria Pesqueira, ou seja, o espaço que conterá as edificações, os atracadouros dos barcos, a área a sofrer dragagem e o local de deposição do material resultante da dragagem; Área de Influência Direta (AID): considerou-se como área de influência direta a distância de 500 metros de raio no entorno da área de influência direta; Área de Influência Indireta (AII): como área de influência regional considerou-se uma extensão de três (3) quilômetros de raio a partir da área de influência direta. Na fase de implantação, as emissões atmosféricas apresentam baixa potencialidade de se dispersarem além da área de construção do empreendimento, havendo possibilidade de pequeno acréscimo nas concentrações de PTS, PM10 e SO2, que deverão ser os poluentes emitidos como resultado das intervenções no solo e nas movimentações de veículos, máquinas e equipamentos. Os potenciais efeitos adversos mais significativos e com maior área de abrangência, concernentes às emissões atmosféricas decorrentes do projeto, dizem respeito à alteração da qualidade do ar em consequência da operação das máquinas. Com respeito à abrangência de ruído, considerando os resultados das medições existentes e as especificações dos equipamentos a serem 36 implantados no presente projeto e que serão novas fontes de ruídos, definiu-se como área de influência direta a área interna do empreendimento. Com relação aos recursos hídricos, a Resolução CONAMA 01/86 indica considerar a bacia hidrográfica. Desta forma foi considerada como área de influência indireta, a bacia hidrográfica do rio branco por ter eventual potencial para sofrer reflexos da implantação do empreendimento. Ainda, devido a sua proximidade, foram considerados alguns córregos. Para os demais aspectos do meio físico não se justifica a delimitação de uma Área de Influência Indireta, visto que as áreas previstas para alterações e impactos já foram inclusas na AID. 8.2. MEIO BIÓTICO A delimitação das áreas de influência do empreendimento relativo ao meio biótico considerou a qualidade ambiental da região e as características do empreendimento, sendo estabelecidas conforme apresentado abaixo. Área Diretamente Afetada (ADA): essa área de influência abrange o espaço onde está prevista a implantação da Agroindústria Pesqueira propriamente dita, ou seja, o espaço que conterá as edificações e os atracadouros dos barcos; Área de Influência Direta (AID): consideraram-se como área de influência direta 500 metros de raio no entorno da área de influência direta; Área de Influência Indireta (AII): como área de influência regional considerou-se uma extensão de três (3) quilômetros de raio a partir da área de influência indireta. Para a fauna aquática consideram-se os peixes e alguns outros organismos encontrados no rio. Para o meio biótico, a cobertura vegetal e fauna terrestre, exceto para mamíferos, consideraram-se como Área de Influência Direta as áreas previstas para a implantação do projeto, bem como 100m no seu entorno imediato, pois 37 será a área com previsão de supressão vegetal, trânsito de máquinas e equipamentos, circulação de pessoas, etc. Para a fauna de mamíferos, considera-se a área transitada por alguns animais domesticados como cachorros. Existe também a presença de algumas aves. Para os ecossistemas aquáticos, a área de influência direta coincide com a área de influência indireta dos recursos hídricos interiores, isto é, o próprio rio Branco. 8.3. MEIO ANTRÓPICO Componente Social Área Diretamente Afetada (ADA): área receptora e redistribuidora, referida neste texto como a área de instalação do projeto de Agroindústria Pesqueira – a região Caetano Filho, do Bairro Calungá (beiral). Área de Influência Direta (AID): corresponde à área de Boa Vista. Área de Influência Indireta (AII): corresponde às áreas pesqueiras que estão fora de Boa Vista. Componente Econômico 38 As áreas de influência para o componente econômico encontram-se indicadas no ANEXO 01: Anexo 01. Diagrama de limite de influência da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista. Área Diretamente Afetada (ADA): compreende a área destinada à implantação da Agroindústria Pesqueira propriamente dita; Área de Influência Direta (AID): pela inserção territorial do projeto, o estado de Roraima está sendo classificado como área de influência direta, haja vista localizar-se ali o empreendimento em pauta; 9.0. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA 9.1. MEIO BIÓTICO 9.1.1. Flora Considerações Gerais Em função da forte correlação existente entre os diversos grupos biológicos e a vegetação, a composição das espécies de plantas de uma determinada área é de fundamental relevância para compreender a dinâmica do ambiente. A forma com que essas se apresentam em uma área, com seus diversificados hábitos, em muito modifica a paisagem, possibilitando inúmeras fisionomias distintas. De modo especial para a grande formação Amazônica, em função de seu destaque e relevância para a conservação da biodiversidade, o estudo do componente florístico de áreas sujeitas a impactos potenciais é 39 indispensável em qualquer processo licitatório. Sendo assim, o presente item deste Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) irá apresentar - de modo sucinto - os resultados obtidos no diagnóstico ambiental da área de implantação do Macunaíma Psicultura, bem como sua área de influência, referente à flora remanescente. O conjunto de espécies de plantas encontradas no terreno, aqui designadas como fitocomunidades, foi predominantemente representado por espécies pioneiras, de ocupação inicial, frequentemente encontradas em terrenos abandonados. A grande maioria dos indivíduos encontrados foram herbáceos (ervas) e arbustivos (arbustos), sendo encontrado um número restrito de espécies arbóreas (árvores). Objetivos Frente à caracterização das fitocomunidades existentes no interior de Boa Vista, bem como às disposiçõesexigidas pela legislação referente ao licenciamento ambiental de obras potencialmente causadoras de impactos ambientais, os seguintes objetivos foram pré-estabelecidos: - caracterizar a vegetação eventualmente existente na área destinada ao empreendimento, bem como sua área de entorno; - identificar as diferentes fisionomias vegetacionais existentes na área diretamente afetada pelo empreendimento; - apresentar uma lista de espécies de plantas identificadas no terreno, indicando espécies chaves, de interesse ou potencialmente indicadoras da qualidade ambiental; - avaliar os eventuais impactos (diretos e indiretos) sobre a vegetação, decorrentes da implantação e operação da Agroindústria Pesqueira de Boa Vista; - uma vez identificados os impactos, propor medidas para a mitigação dos mesmos, visando minimizar os danos sobre a vegetação existente. 40 Metodologia Aplicada No intuito de atender plenamente aos objetivos anteriormente elencados, para a realização do diagnóstico ambiental fez-se uso de duas metodologias complementares, sendo uma baseada na obtenção de dados secundários, atualmente existentes em ampla bibliografia, bem como em dinâmica de reconhecimento em campo. Revisão Bibliográfica Foram consultados documentos de caráter técnico-científico, referentes à área de abrangência, de modo mais específico as espécies e formações vegetais ocorrentes na região de Boa Vista. Foram consultados arquivos tanto impressos quanto digitais, como artigos, periódicos, monografias, teses, dissertações e demais documentos pertinentes, não referentes somente à flora local, mas sim a toda diversidade biológica e de ambientes da região. Reconhecimento de Campo O trabalho de reconhecimento de campo consistiu em percorrer as áreas do terreno, seu entorno e as alternativas locacionais, visando avaliar o estado de conservação, formações ecológicas existentes e demais particularidades. Na tentativa de caracterizar a vegetação existente na área prevista para instalação do projeto, foi realizada uma coleta botânica, verficando-se os tipos de vegetação existentes, bem como seus estágios sucessionais. O material botânico foi identificado, quando possível em campo ou com apoio de consulta a museus e herbários especializados. A identificação objetivou o reconhecimento do material coletado ao nível de espécie. No entanto, na impossibilidade de fazê- lo, o material botânico foi identificado ao menor nível possível. Compilação de dados e elaboração de listagens de espécies A partir das informações obtidas em campo, com auxílio da bibliografia pertinente, foram apontadas as espécies ocorrentes na área diretamente afetada pelo projeto, bem como seus estágios sucessionais. Desse modo foi possível elaborar uma listagem das espécies encontradas, bem como a relativa importância das mesmas na caracterização do atual estado de conservação da 41 área. De posse desta lista, foram feitas inferências sobre os eventuais impactos do empreendimento, em suas diversas etapas, sobre a vegetação local. As espécies de plantas identificadas para a área do empreendimento previsto foram: Mangifera indica, Ageratum conyzoides, Baccharis trimera, Bidens alba, Chaptalia sp., Elephantopus mollis, Emilia fosbergii, Cleome spinosa, Senna hirsuta, Commelina sp., Cyperus sp., Cyperus luzulae, Rhynchospora corymbosa, Scleria melaleuca, Croton sp., Ricinus communis, Desmodium sp., Zornia reticulata, Hyptis atrorubens, Andropogon leucostachyus, Brachiaria sp., Hymenachne amplexicaulis, Paspalum sp., Pontederia rotundifolia, Talium paniculatum, Thelypteris dentata, Cecropia pachystachya. Resultados A vegetação original há muito foi removida, restando apenas alguns exemplares arbóreos isolados. Fisionomia A vegetação local, encontra-se nos primeiros estágios da sucessão ecológica. Para muitos ecólogos, poderia ser classificada como vegetação secundária. Inexiste uma situação climáxica. Representada pelo predomínio de indivíduos herbáceos, arbustivos e alguns elementos arbóreos isolados. Estrutura A inexpressiva presença de indivíduos arbóreos acarreta em uma condição de ausência de estrato superior, dossel e, até mesmo, de um estrato mediano. A maior parte do terreno assemelha-se a um “campo”, onde predominam espécies pioneiras, graminóides, de sucessão inicial. Destaca-se a existência apenas de um estrato baixo, predominantemente herbáceo, com elementos arbóreos esparsos. 42 Composição Florística Por tratar-se de uma área altamente impactada, sujeita ao constante processo de antropização, a diversidade florística existente no terreno tende a ser baixa. As espécies de ocupação inicial, mais tolerantes com relação às condições do terreno, passam a dominar a paisagem, ampliando sua distribuição. Sendo assim, há o predomínio de algumas poucas espécies, fazendo com que a diversidade local seja baixa. 9.1.2. Fauna Terrestre 9.1.2.1. Mastofauna O Brasil é um dos países com maior diversidade do planeta, abrigando entre 10 a 20% do número de espécies conhecidas pela ciência, e cerca de 30% das florestas tropicais do mundo (MMA, 1998). Possui a maior riqueza de mamíferos em toda a região Neotropica, totalizando 524 espécies. Este total representa cerca de 13% de todos os mamíferos do mundo. O grau de endemismos (espécies que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo) dos mamíferos brasileiros é também bastante alto, tendo como destaque os primatas, dos quais aproximadamente 50% estão restritos aos ecossistemas dos biomas brasileiros (Fonseca et al., 1996). A lista de mamíferos vem aumentando com a intensificação de trabalhos em áreas antes desguarnecidas, e também pelas descrições de espécies novas, correções de distribuições geográficas e revalidação de táxons. No entanto, ainda há uma lacuna enorme de conhecimento sobre os mamíferos do Bioma Amazônia (Silva et al., 2004). A Amazônia é o maior bioma brasileiro em extensão e ocupa quase metade do território nacional (49,29%). Sessenta por cento da bacia amazônica se encontra em território brasileiro, onde o Bioma Amazônia ocupa a totalidade de cinco unidades da federação (Pará, Acre, Amapá, Amazonas e Roraima) (IBGE, 2004). Detentora de uma grande biodiversidade faunística e florística, a floresta amazônica também se expressa por seus distintos ecossistemas: florestas densas de terra firme, florestas estacionais, florestas de igapó, campos 43 alagados, várzeas, savanas, refúgios montanhosos e formações pioneiras (MMA/PROBIO, 2006). Segundo Silva et al. (2004) atualmente existe uma estimativa de 311 espécies de mamíferos registrados para a Amazônia, destas, 22 espécies são de marsupiais (mucuras e cuícas), 11 de edentatos (tamanduás e tatus), 124 de morcegos, 57 de primatas (macacos), 16 de carnívoros (gatos, cachorros, lontra e guaxinim), 2 de cetáceos (golfinhos e baleias), 5 de ungulados (anta, caititu e veados), 1 sirenio (peixe-boi), 72 roedores (ratos, esquilos, cutias e pacas) e 1 lagomorfo (coelho). O estudo da mastofauna para a implantação do Agroindústria Pesqueira em Boa Vista consistiu de levantamentos secundários (bibliografias) e uma avaliação de hábitats realizada na área do empreendimento. De acordo com os vestígios encontrados e a literatura relacionada, a fauna de mamíferos está representada por apenas 3 ordens: Didelphimorphia (mucuras e cuícas), Chiroptera (morcegos) e Rodentia (ratos, esquilos, cutias, capivaras e pacas). Dentro destas, estão distribuídas 4 famílias e 9 espécies. Tabela 7. Espécies estimadas para o Macunaíma Piscicultura. Nome Comum Nome Científico - ORDEM DIDELPHIMORPHIA - Família Didelphidae Mucura Didelphis marsupialis - ORDEM CHIROPTERA - Família Phyllostomidae Morcego-vampiro Desmodus rotundus Morcego Artibeus lituratus Morcego Artibeus obscuros Morcego Artibeus jamaicensisMorcego Carollia perspicillata - Família Noctilionidae Morcego Noctilio leporinus 44 Morcego Noctilio albiventris - ORDEM RODENTIA - Família Muridae Rato-do-mato Oryzomys sp. - Família Caviidae Capivara Hidrochoerinae hydrochoerus A estimativa da ocorrência de 9 espécies na área estudada representa apenas aproximadamente 3% dos mamíferos que ocorrem no Bioma Amazônia (Silva et al., 2004). Esta baixa riqueza em espécies é esperada para a área analisada, devido às condições atuais de intensa descaracterização dos ecossistemas originais, as quais têm consequências diretas na alteração da composição mastofaunística original da região e dos processos atuantes sobre a mesma, refletindo-se em última instância na baixa riqueza relacionada. As espécies relacionadas são as que possuem ampla plasticidade, ou seja, possuem ampla distribuição e se adaptam a condições mais alteradas do ambiente, sendo normalmente mais abundantes. Na área do empreendimento a floresta original não existe mais, o que promoveu a descaracterização completa do hábitat. Como mencionado anteriormente, este ambiente depauperado reflete a baixa riqueza em espécies comparando-se ao valor de diversidade biológica encontrada em áreas mais conservadas da floresta amazônica. Foram consultadas as listas de espécies ameaçadas da fauna regionalmente (SEMA/MPEG/CI-BRASIL, 2007), nacionalmente (Machado et al., 2005) e globalmente (IUCN, 2007). Sendo que no presente estudo não foram registradas espécies de mamíferos ameaçados de extinção. Os impactos negativos provocados pelo empreendimento sobre a mastofauna, durante as fases de implantação do empreendimento estão relacionados à perda de hábitat, geração de estresse sobre a mastofauna e alteração dos hábitats devido a contaminação do solo e de recursos hídricos. Já na fase de operação do empreendimento os impactos estão relacionados à 45 proliferação de espécies exóticas devido à disposição inadequada de resíduos. Na fase de desativação do empreendimento não há previsão de impactos. A maioria dos impactos gerados pelo empreendimento sobre os mamíferos podem ser associados à medidas mitigadoras, sendo não-mitigável apenas o impacto provocado pela perda de hábitat na fase de implantação. 9.1.2.2. Avifauna Os resultados do diagnóstico realizado em relação as aves (avifauna) da área de influência do projeto são aqui apresentados. A composição da avifauna está diretamente ligada às características ambientais de determinada área, sendo que a diversidade de espécies varia de acordo com seu estado de conservação (Almeida, 1986). Para a área de influência de implantação da Agroindústria Pesqueira em Boa Vista, a atual configuração ambiental é a condicionadora da diversidade de espécies presentes. Em vista da intensa alteração que o avanço da urbanização gerou aos ambientes primitivos, a quantidade de espécies da avifauna original que ainda persiste é relativamente baixa. A supressão da cobertura vegetal primitiva provocou uma série de impactos sobre a avifauna autóctone, culminando com a erradicação de muitas espécies que outrora habitavam a área, sendo essas substituídas por espécies oportunistas e sinantrópicas, mais comuns a ambientes alterados, como é o caso do urbano. Para a realização do presente estudo, toda a área de influência do projeto foi visitada durante campanha de campo, o que permitiu a caracterização da avifauna presente e a indicação das espécies de maior probabilidade de ocorrência considerando-se os conhecimentos existentes das preferências ambientais e distribuição geográfica da maioria das espécies que compõe a avifauna brasileira. 46 Objetivos Os objetivos do presente diagnóstico consistiram de: • descrever a atual situação ambiental da área de influência do projeto; • caracterizar a avifauna de ocorrência para a área do projeto com base na situação ambiental registrada; • avaliar os impactos que serão gerados a avifauna pela implantação do projeto; • propor medidas mitigadoras em relação aos impactos a serem provocados; • apresentar programas de monitoramento. Metodologia Aplicada A metodologia aplicada para a obtenção de dados para caracterização da avifauna e análise de impactos sobre esse grupo animal constou de: - revisão bibliográfica: onde foram obtidos dados secundários que subsidiaram a elaboração do diagnóstico referente à composição da avifauna local, - caminhada pelo campo: efetuou o reconhecimento da área de influência do projeto do Macunaíma Piscicultura e adjacências. Além disso, a obtenção de dados primários, ou seja, de registros de espécies em campo através de técnicas usualmente utilizadas em estudos ornitológicos, constando essas técnicas de observação direta e reconhecimento auditivo de espécies enquanto eram feitos percursos aos diferentes ambientes presentes na área. Com base nos resultados fez-se a análise dos impactos ambientais a serem gerados para a avifauna e a indicação de medidas de mitigação. Resultados A área de abrangência do projeto encontra-se inserida na seção ecológica (macro-região) da Floresta Pluvial Amazônica (Sick, 1997), considerado um dos sistemas ambientais mais complexos em diversidade de vida do planeta. Para o 47 mesmo autor, não existe outro lugar no mundo com quantidade de espécies de aves tão expressiva, muitas das quais, endêmicas dessa região fitoecológica. No entanto, o fato da cidade de Boa Vista ter registrado um rápido crescimento nos últimos anos, fez com que os ambientes naturais sofressem severas alterações, com a vegetação sendo suprimida para dar lugar à urbanização. Isso provocou o desaparecimento local de várias espécies, em especial, daquelas dependentes de habitats naturais específicos ou com hábitos alimentares e reprodutivos restritos. Embora os impactos gerados pela urbanização tenham sido adversos para muitas espécies, algumas, no entanto, conseguiram se adaptar as novas condições ambientais oriundas da ação antrópica, demonstrando com isso, uma aptidão de sobrevivência em espaços alterados. Quanto à área de influência do projeto (diretamente afetada, de influência direta e de influência indireta) essa se apresenta bastante desfigurada em relação à paisagem primitiva. Por esse motivo, como já relatado anteriormente, a redução de espécies e populações da avifauna original foi grande, afetando principalmente espécies dependentes de habitantes florestais com condições ecológicas primitivas, e também, de espécies que necessitam de grandes extensões para formação de seu território. A atual situação ambiental da área favorece apenas a espécies sinantrópicas e generalistas, que se adaptam melhores a áreas antropizadas, onde se incluem os centros urbanos. Espécies mais exigentes a ambientes florestais podem ocorrer apenas nos esparsos e reduzidos fragmentos de floresta presentes na área de influência indireta, os quais também já se encontram alterados. Das três áreas de influência definidas, a área diretamente afetada (ADA) é a que se encontra mais desfigurada em relação à cobertura vegetacional primitiva. A vegetação foi praticamente toda suprimida, sendo substituída por gramíneas (estágio de sucessão secundária inicial). A diversidade de espécies que habita essa área é muito baixa, além do que, compõe-se de elementos adaptados a áreas abertas e urbanizadas. 48 Dentre as poucas espécies registradas para essa área são exemplos: Coragyps atratus (urubu-comum), Vanelus chilensis (quero-quero), Columbina talpacoti (rolinha), Troglodytes musculus (corruíra), Pitangus sulphuratus (bem- te-vi), Volatinia jacarina (tiziu) e Astrilda astrild (bico-de-lacre), Guira guira (anu- branco), Crotophaga ani (anu-preto), Tyrannus savana (tesourinha) e Progne chalybea (andorinha-grande). Brotogeris versicolurus (periquito-de-asa-branca), Amazilia sp.(beija-flor), Tachyphonus surinamus (pipira-daguiana), Tyranus melancholicus (suiriri), Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira), Parula pitiayumi (mariquita). Às margens do rio Guamá em praias formadas pelo recuo da maré, as espécies Charadrius semipalmatus (batuira-de-bando), Tringa solitaria (maçarico-solitário), Calidris sp. (maçarico), Egretta thula (garça-branca- pequena), Egretta alba (garça-branca-grande) e Tachycineta albiventer (andorinha-de-rio). A área de influência direta (AID) é ambientalmente similar à diretamente afetada, contando, no entanto, com pequenas manchas florestais de maior tamanho. Assim sendo, pode-se considerar que a composição de espécies entre essas duas áreas é aparentemente semelhante. Os registros de espécies em campo nessa área foram poucos, sendo que as registradas são comumente encontradas em ambientes urbanos. A falta de uma vegetação arbórea contínua somada ao tráfego contínuo de veículos e a presença constante de pessoas afugenta espécies não adaptadas às áreas urbanas. Nessa área de influência foram registradas dentre outras espécies as seguintes: Patagioenas plumbea (pombaamargosa), Eupetonema macroura (beija-flor-rabo-de-tesoura), Anthracothorax nigricollis (Beija-flor-preto), Piaya cayana (alma-de-gato), Turdus leucomelas (sabiá-branco), Rupornis magnirostris (gavião-carijó) Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira), Camptostoma obsoletum (risadinha), Cyclarhys gujanensis (pitiguari), Chaetura brachyura (andorinhão-de-caudacurta), Brotogeris versicolorus (periquito-de-asa-branca), Carcara plancus (carcara), Milvago chimachima (gavião-pinhé), Cathartes aura (urubu-de-cabeça- vermelha), Butorides striatus (socozinho) e Falco sparverius (quiri-quiri). Para a área de influência indireta (AII), a situação ambiental também se caracteriza pela grande alteração dos ambientes primitivos. Comparada às duas anteriores, essa, no entanto, ainda apresenta remanescentes florestais de 49 tamanhos diferenciados que se encontram espalhados por entre setores residenciais, o que, em consequência, condiciona a manutenção de uma maior riqueza de espécies de aves. Somado aos fragmentos naturais de vegetação nativa, também a presença de jardins contendo plantas frutíferas em muitas residências contribui para a atração da avifauna e consequente aumento de diversidade nessa área de influência. Exemplos de espécies que ocorrem na área de influência indireta são: Veniliornis affinis (pica-pau-de-asa-vermelha), Trogon curucui (surucuá-de-coroa-azul), Coccyzus melacoryphus (papa- lagarta), Florisuga mellivora (beija-flor-azul-de-rabo-branco), Thalurania furcata (beija-flor-de-barriga-violeta), Nyctidromus albicollis (curiango), Geotrygom montana (pariri), Aramides mangle (saracura-do-mangue), Laterallus viridis (sana-castanha), Buteo nitidus (gavião-pedrez), Elanoides forficatus (gavião- tesoura), Ictinia plúmbea (gavião-sovi), Megarhynchus pitangua (neinei), Legatus leucophaius (bem-te-vipirata), Empidonomus varius (peitica), Tityra cayana (anambé-branco-de-rabo-preto), Chiroxiphia pareola (tangará-de-costa-azul), Pyriglena leuconota (papa-taoca), Stelgidopteryx ruficollis (andorinha-de- barranco), Thraupis palmarum (sanhaço-daspalmeiras), Thraupis episcopus (sanhaço-azul), Tachyphonus surinamus (pipira-da-guiana), Ramphocelus carbo (pipira-vermelha), Dacnys cayana (saí-azul), Saltator maximus (tempera-viola), Cacicus cela (xexéu), Picumnus cirratus (pica-pau-anão-barrado), Aratinga solstitialis (jandaia), Pionus menstruus (maitaca-de-cabeça-azul), Tyto alba, (suindara), Pipra rubrocapilla (dançador-de-cabeça-encarnada) e Myiodynastes maculatus (bem-te-vi rajado). Medidas de compensação e programas de monitoramentos Pelo fato da obra de implantação da Agroindústria Pesqueira em Boa Vista ter sido projetado para construção em área bastante alterada, o diagnóstico realizado com a avifauna demonstrou que a geração de impactos deverá ser mínima e de baixíssima magnitude. Por esse motivo, considerou-se que para a avifauna não procede à adoção de medidas de compensação para a reparação de danos a ambientes provocados pela obra, e nem de programas de monitoramento. 50 Prognóstico Para a avifauna, o prognóstico realizado estabelece que em vista da atual caracterização ambiental da área do projeto, não haverá melhorias nem pioras para com a diversidade de espécies presentes desse grupo animal em toda a área de influência. Por ser uma obra de médio porte e ocupar um espaço de dimensões reduzidas, e, além disso, se encontrar dentro de uma área urbanizada, significa que para a avifauna os impactos (negativos e positivos) a serem provocados não interferirão quanto a acréscimos ou diminuições de populações da maioria das espécies. A ressalva é em relação a aves necrófagas que poderão sofrer aumento populacional caso não sejam tomadas as medidas mitigadoras pertinentes. 9.1.2.3. Entomofauna Foi realizado um levantamento sobre os insetos em Roraima, caracterizando as ordens predominantes na região: Odonata (libélulas), Orthoptera (Gafanhotos e esperanças), Mantodea (louva-Deus), Blattodea (baratas), Isoptera (cupins), Hemiptera (percevejos e barata d'água), Homoptera (cigarras, pulgões e cochonilhas), Colleoptera (besouros e serrapaus), Diptera (moscas e mutucas), Lepdoptera (Borboletas e mariposas), Hymenoptera (Formigas, abelhas e vespas). 9.1.3. Fauna Aquática 9.1.3.1. Ictiofauna A ictiofauna do Estado de Roraima possui elevada riqueza de espécies (586), como relatado por Ferreira et al (2007). As 586 espécies de peixes da bacia do rio Branco estão distribuídas em onze ordens, sendo as ordens Characiformes (43,5%; 255 espécies), Siluriformes (34,6%; 203 espécies) e Perciformes (11,1%; 65 espécies) as mais representativas. Tal riqueza representa cerca de 9,7% das 6.025 espécies de peixes existentes nas Américas 51 do Sul e Central (REIS, KULLANDER E FERRARIS, 2003) e cerca de 24,4% das 2.400 espécies de peixes existentes na região Neotropical, conforme citado por Lowe-McConnel (1999). Das famílias de peixes ocorrentes na bacia do rio Branco destacam-se: Characidae (128 espécies; 21,8%), Loricariidae (61 espécies; 10,4%), Cichlidae (57 espécies; 9,7%), Pimelodidade (33 espécies; 5,6%), Doradidade (28 espécies; 4,8%), Auchenipteridae (24 espécies; 4,1%); e Anostomidae, Crenuchidae e Curimatidae (23 espécies; 3,9%, cada qual). Ressalte-se o fato de que os Characidae, mesmo apresentando maior frequência de ocorrência de espécies dentre as diferentes ordens, são menos importantes em termos de interesse comercial (pesca) do que os Pimelodidae, fato este que não difere de modo marcante dos outros sistemas amazônicos. A maior parte das espécies da família Characidae encontradas na bacia do rio Branco é de pequeno e médio porte, não apresentando atrativos para a pesca comercial. Ainda, nos igarapés pequenos, Ferreira et al. (op. cit.) indicam a ocorrência em bancos de folhiço de peixes bentônicos, tais como sarapós, indivíduos jovens de mussum, siluriformes de pequeno porte, pequenos curimatídeos detritívoros, certas piabas especializadas (e.g crenuquídeos), certos jacundás, várias espécies de Apistogramma e acará-xadrez. Neste tipo de ambiente, em locais de correnteza, são encontrados pequenos bagres cetopcídeos e o sarapó Steatogenys duidae. A lista nacional da fauna aquática ameaçada de extinção (MMA, 2004), não registra elementos da ictiofauna de Roraima ameaçados ou em risco, porém esta mesma lista cita espécies ameaçadas de sobrepesca, tais como Arapaima gigas (pirarucu), Semaprochilodus insignis e S. taeniurus (jaraquis), B. rousseauxi (dourada) e Zungaro zungaro (jaú). 9.1.3.2. Herpetofauna Dadas às características biológicas dos anfíbios e repteis, estes animais estão sofrendo declínios e extinções em escala mundial. Diversas populações de répteis
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