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115 - APOSTILA - ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

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Prévia do material em texto

Ensino Religioso 
no Brasil
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
AUTORAS
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
●	 Mestra	em	História,	Cultura	e	Narrativas	(PPH-Universidade	Estadual	de
●	 Maringá).
●	 Especialista	em	História	da	África	e	Cultura	Afro-brasileira	(DCS-Universidade	
Estadual	de	Maringá).
●	 Licenciada	em	História	(DHI-Universidade	Estadual	de	Maringá).
●	 Tutora	Educacional	no	Centro	Universitário	Cidade	Verde	(UniFCV).
●	 Professora	Conteudista	na	UniFatecie.
●	 Experiência	como	professora	de	História	da	Rede	básica	de	Educação	em	2016.
●	 Atuou	como	Pesquisadora	Bolsista	Capes	em	2018	e	2019.
●	 Coordenou	e	organizou	diversos	Projetos	de	Extensão	abordando	as	Religiões	
e	Religiosidades	Afro-brasileiras,	na	Universidade	Estadual	de	Maringá,	entre	
2015	e	2019.	
●	 É	integrante	do	Laboratório	de	Religiões	e	Religiosidades	da	Universidade	Es-
tadual	de	Maringá	(LERR/UEM).	
●	 É	integrante	do	Coletivo	Yalodê-badá.
Áreas	de	concentração:	História	das	Religiões	e	Religiosidades	com	ênfase
nas	Práticas	Afro-brasileira;	História	Cultural,	Epistemologias	decoloniais.
Endereço	para	acessar	este	CV:	http://lattes.cnpq.br/8724898233397030
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
●	 Especialista	em	Psicopedagogia	(UNASP)	
●	 Licenciada	em	Pedagogia	(Universidade	Estadual	de	Maringá)
●	 Experiência	como	professora	da	Educação	Infantil	nos	anos	de	2004	a	2011.
Áreas	de	concentração:	Educação	infantil;		Dificuldades	de	aprendizagem;	Alfabe-
tização	e	Psicologia	da	Educação.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja	muito	bem-vindo(a)!
Iniciamos	 agora	 uma	 jornada	 em	 busca	 de	 conhecer	mais	 sobre	 o	 universo	 do	
Ensino	Religioso	no	Brasil.	Se	você	chegou	até	aqui	já	é	motivo	de	muita	alegria,	denota	
seu	interesse	pelo	tema	e	desejo	de	formação	profissional	qualificada.	
Nosso	debate	parte	de	categorias	analíticas	e	apontamentos	teóricos	produzidos	
nas	Ciências	Humanas,	desenrolando-se	no	debate	científico	contemporâneo,	de	modo	in-
terdisciplinar.	Nosso	objetivo	é	instrumentalizar	você	para	conhecer	e	analisar	a	diversidade	
religiosa	nacional,	suas	manifestações	nas	diferentes	 regiões	do	país	e	sua	 importância	
para	a	formação	da	população	brasileira.	
Desse	modo,	trataremos	das	Religiões	Brasileiras	no	período	colonial,	na	Unidade	
I.	Buscaremos	estabelecer	as	noções	historiográficas	sobre	a	organização	institucional	da	
Igreja	Católica	na	América	Portuguesa	em	relação	com	outras	religiosidades,	em	especial,	
de	origens	africanas.
Já	na	Unidade	II	pensaremos	as	políticas	de	educação	para	os	espaços	escolares,	
em	especial	para	o	Ensino	Religioso	no	Brasil.	Nos	debruçaremos	sobre	as	principais	es-
truturas	normativas	de	organização	dessas	políticas	públicas	no	Brasil.	
Depois,	nas	Unidades	 III	e	 IV	vamos	pensar	a	 importância	da	Maçonaria	para	a	
construção	de	uma	educação	laica	no	Brasil	e	as	mudanças	sociais	que	permeiam	a	cons-
trução	de	religiões	Orientais	no	Brasil,	por	constituírem-se	como	religiões	não	hegemônicas.	
Nos	alegramos	com	a	sua	participação	nesse	processo	e	reforçamos	o	convite	para	
que	realize	o	exercício	da	reflexão,	juntamente	conosco,	sobre	tantos	assuntos	abordados	
no	presente	material.	
Esperamos	contribuir	para	seu	crescimento	pessoal	e	profissional.	
Muito obrigada e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE	I	...................................................................................................... 5
As Religiões Brasileiras
UNIDADE	II	................................................................................................... 26
Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
UNIDADE	III	.................................................................................................. 44
A Maçonaria
UNIDADE	IV	.................................................................................................. 60
Religiões Orientais – Mudanças Sociais
5
Plano de Estudo:
•	A	chegada	dos	portugueses	e	a	implementação	do	catolicismo	no	Brasil	Colonial.
Objetivos de Aprendizagem:
•	Refletir	sobre	a	organização	institucional	da	Igreja	e	o	processo	de	transposição	dessa	
instituição	para	o	Brasil	colônia;
•	Conceituar	e	contextualizar	a	construção	histórica	do	catolicismo	no	Brasil;
•Demonstrar	a	existências	de	práticas	religiosas	africanas	que	coexistiam	com	o	
catolicismo	no	Brasil	Colonial,	utilizando	como	exemplo	os	calundus.
UNIDADE I
As Religiões Brasileiras
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
6UNIDADE I As Religiões Brasileiras
INTRODUÇÃO
Olá,	estudante	da	disciplina	Ensino Religioso no Brasil.	Nesta	primeira	unidade	
abordaremos	as	Religiões brasileiras,	 buscando	apresentar	a	 formação	e	organização	
religiosa	do	país	no	período	colonial.		
Para	iniciar	nossos	estudos,	apresentaremos,	de	modo	introdutório,	a	organização	
institucional	da	Igreja	Católica	e	o	processo	de	transposição	dessa	instituição	da	Europa	
para	a	América	Portuguesa.
Em	 seguida,	 nos	 debruçaremos	 sobre	 a	 construção	 histórica	 do	 catolicismo	 no	
Brasil,	em	relação	a	outras	religiosidades,	em	especial,	de	origens	africanas.
Por	 fim,	 apresentaremos	 elementos	 que	 demonstram	a	 diversidade	 religiosa	 na	
formação	sociocultural	brasileira,	os	sincretismos,	os	embates	e	negociações	que	deram	
contorno	para	esse	processo	histórico.
Destacamos	que	não	temos	por	objetivo	esgotar	o	 tema	proposto,	 já	que	este	é	
extremamente	complexo	e	composto	por	diversos	aspectos	e	elementos	muito	particulares.	
Assim,	 realizamos	 alguns	 recortes	 e	 destacamos	 alguns	 estudos,	 aos	 quais	 atribuímos	
grande	 relevância.	Os	 trabalhos	apresentados	 trazem	 reflexões	que	pode	 ser	 utilizadas	
como	 ferramentas	para	ampliar	 seus	 conhecimentos,	 e	 suporte	 para	 você	 realizar	 suas	
pesquisas,	a	partir	de	uma	base	introdutória	conceitual	e	teórico-metodológica.
Bons estudos!
7UNIDADE I As Religiões Brasileiras
1 A CHEGADA DOS PORTUGUESES E IMPLEMENTAÇÃO DO CATOLICISMO
No	presente	 tópico	buscamos	apresentar	algumas	 reflexões	acerca	da	chegada	
dos	portugueses	e	do	processo	de	 tentativa	de	catequização	de	 toda	população,	com	a		
implementação	do	catolicismo	no	Brasil.	Sistematizamos	algumas	abordagens,	produzidas	
em	diferentes	tempos,	e	dentro	da	historiografia	especialista	em	História	do	Brasil.	Iremos	
explorar	algumas	correntes	teóricas,	passando	por	pesquisadores	conceituados	do	tema,	
que	balizam	até	o	presente	momento	as	reflexões	teóricas	do	tema.
Iniciando	o	estudo	reflexivo	da	bibliografia	especializada,	trazemos	o	trabalho	de	
Priore	(1994),	intitulado	Religião e Religiosidade no Brasil Colonial.	Apresentaremos	alguns	
dos	aspectos	destacados	nessa	obra	que	dialogam	com	o	tema	proposto	e	que	tangenciam	
a	questão	da	organização	institucional	da	Igreja	no	Brasil	colônia.	
Apontamos	tal	reflexão	destacando	que,	mesmo	que	originalmente	o	objetivo	dos	
portugueses	não	fosse	colonizar	as	novas	terras	descobertas	na	América,	esse	foi	o	pro-
jeto	desenvolvido	ao	longo	do	período	que	sucedeu	a	chegada	dos	europeus	no	Brasil.	A	
exploração	de	recursos	naturais	garantiu	recursos	para	a	Metrópole	Portuguesa	por	muitos	
anos,	motivo	que	levou	à	empreitada	da	colonização	brasileira,	em	1530,	por	intermédio	de	
Martim	Afonso	de	Souza.	A	historiografia	tradicional	brasileira	encara	sua	expedição	como	
a	primeira	expedição	colonizadora.
Considerando	que	a	justificativa	jurídica	para	a	colonização	de	terras	do	Novo	Mundo	
foi	a	missão	de	evangelizar	outros	povos,	o	tema	da	religiosidade	é	de	suma	importância	
https://pt.wikipedia.org/wiki/Historiografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B3nia
8UNIDADE I As Religiões Brasileiras
para	compreender	as	disputas	desse	período.	O	Reino	de	Portugal	era	um	dos	mais	fortes	
aliados	do	Papa	e	foi	um	dos	primeiros	a	aceitar,	incondicionalmente,	as	decisões	do	Con-
cílio	de	Trento	(1545-1563),	cujo	objetivo	era	reafirmar	todos	os	dogmas	da	Igreja	Católicadiante	da	Reforma	Protestante.	
Sendo	 assim,	 pensar	 as	 relações	 entre	 Igreja,	 Estado	 e	 a	 sociedade	 colonial	 é	
fundamental	para	pensar	religião	nesse	período.	Conforme	a	historiadora	Priore	(1994,	p.	
5	e	6):
[...]	o	estudo	das	religiões	e	religiosidades	é	fundamental	para	a	compreensão	
da	história	do	brasil,	além	de	ser	um	tema	de	grande	importância	entre	os	es-
tudiosos	de	história	de	todo	mundo.	O	universo	das	ideias,	das	mentalidades,	
das	crenças,	e	dos	ritos	faz	parte	integrante	do	cotidiano	e	da	consciência	de	
nossa	gente,	como	fazem	o	trabalho,	as	relações	sociais	ou	as	instituições	
políticas.	Além	disso,	a	religião	serviu	no	passado	(e	infelizmente	ainda	ser-
ve)	para	separar,	discriminar,	perseguir	e	punir,	merecendo	por	isso	um	olhar	
atento	e	crítico.	
1.1 Cristandade e Padroado Régio
Em	Porto	Seguro,	na	data	de	26	de	abril	de	1500,	houve	a	primeira	missa,	celebrada	
pelo	Frei	Henrique	de	Coimbra,	e	assistida	pelos	integrantes	da	expedição	de	Cabral.	Já	
no	dia	primeiro	de	maio,	ergueu-se	uma	grande	cruz	de	madeira	que,	posteriormente,	veio	
dar	nome	ao	Brasil,	Terra	de	Santa	Cruz.	Esse	momento	que	marca	a	chegada	dos	portu-
gueses	e	do	catolicismo	nas	Américas,	institui	também	o	início	de	um	processo	intenso	e	
complexo	em	que	paulatinamente	a	Igreja	logrou	cada	vez	mais	participação	nos	principais	
acontecimentos	do	Brasil	(DEL	PRIORE,	1994).
O	colonizador	 português	mantinha	uma	postura	de	 superioridade	e	 se	 colocava	
como	agente	responsável	pela	salvação	dos	nativos	indígenas.	Cabe	destacar	que,	atual-
mente,	 a	 literatura	 contemporânea	 identifica-o,	 também,	 como	 o	 principal	 responsável	
pelas	grandes	epidemias	que	foram	responsáveis	por	dizimar	os	povos	nativos	em	território	
brasileiro.	Conforme	Del	Priore	(1994),	os	portugueses	consideram	os	nativos	homens	de	
boa	 índole,	 cristãos	em	potencial.	 Isso	pode	ser	demonstrado	na	carta	de	Pero	Vaz	de	
Caminha,	escrivão	e	companheiro	de	Cabral,	o	qual	solicitou	ao	rei	Portugal	que	enviasse	
missionários	para	batizá-los.
9UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Figura 1 -	Carta	de	Pero	Vaz	de	Caminha	(1500).	Arquivo	da	Torre	do	Tombo,	Portugal
Fonte: Leal	(2019).
Para	a	historiadora,	é	fundamental	compreender	como	essa	relação	entre	Estado	e	
Igreja	era	particular	de	Portugal	naquele	período.	
Essa	 imediata	 preocupação	 de	 Caminha	 com	 a	 cristianização	 dos	 índios	
explica-se	pela	estreita	ligação	da	Igreja	com	o	Estado	português	na	defesa	
de	interesses	comuns	-	religiosos,	políticos,	e	econômicos.	Trata-se	de	uma	
relação	encontrada	 também	em	outras	nações	da	cististande	mas	que	em	
Portugal	era	acentuada	pela	completa	submissão	à	autoridade	papal	e	por	
uma	forte	aliança	com	Roma	(DEL	PRIORE,	1994,	p.	8).
A	aliança	particular	entre	Estado	português	e	Igreja	é	denominada	como	Padroado 
Régio	e	designa	essa	submissão	do	rei	ao	papa,	na	atuação	como	braço	religioso	e	moral	
nas	colônias.	Para	Del	Priore	(1994),	essa	união	fortaleceu	o	Estado	Português	e	lhe	deu	
condições	para	delinear	a	mentalidade	pela	qual	se	fez	a	catequese	no	Brasil.	Várias	bulas	
papais,	 as	 quais	 são	 importantes	 fontes	 historiográficas,	 demonstram	 que	 essa	 aliança	
entre	Estado	e	Igreja	impulsionou	a	expansão	do	império	marítimo	português	e	a	dilatação	
da	fé	católica.	
Conforme	Azzi	 (1981),	 é	 de	 suma	 importância	 contextualizar	 e	 conceituar	 essa 
cristandade	colonial	como	o	modelo	de	mais	longa	vigência	na	história	do	Brasil	(de	1500	
ao	final	do	século	XVIII).	Conforme	o	autor:
A	característica	principal	do	modelo	de	Cristandade	é	a	idéia	de	que	a	Igre-
ja	 institucional	 se	 identifica	 com	 a	 sociedade	 luso-brasileira.	 Esse	 espírito	
de	 união	 da	 instituição	 eclesiástica	 com	 a	 sociedade	 civil	 através	 da	 qual	
ela	 se	 implanta	 e	 se	 expande	 não	 é	 novo	 na	 história.	 Pode-se	 dizer	 que	
nasce	no	 século	 IV	 sob	os	 imperadores	 romanos	Constantino	e	Teodósio,	
ressurgindo	na	França	com	a	dinastia	carolíngia	em	meados	do	século	VIII,	
e	posteriormente	com	os	monarcas	germânicos	da	dinastia	dos	Otões	e	dos	
10UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Hohenstaufen.	Daí	a	idéia	do	Sagrado	Império	Romano-Germânico.	Em	con-
seqüência	desse	condicionamento,	a	mensagem	cristã	passa	a	ser	veiculada	
exclusivamente	 dentro	 das	 características	 culturais	 do	 povo	 com	 o	 qual	 a	
Igreja	se	identifica.	No	caso	concreto	do	Brasil,	o	veículo	difusor	da	fé	católica	
torna-se	a	cultura	lusa.	Pode-se	portanto	afirmar	que	o	catolicismo	do	período	
colonial	é	tipicamente	lusitano.	Em	vista	disso,	o	projeto	colonial	lusitano	era	
ao	mesmo	tempo	político	e	 religioso.	Daí	a	expressão	de	Camões:	 “dilatar	
as	 fronteiras	da	Fé	e	do	 Império”.	Em	outras	palavras:	a	 religião	era	parte	
integrante	da	expansão	colonial	portuguesa	(AZZI,	1981,	p.	7).	
Diante	da	disputa	com	outros	povos	e	suas	investidas	para	ocupar	o	território	bra-
sileiro,	como	os	 franceses,	a	coroa	portuguesa	 instituiu,	no	 início	da	década	de	1530,	o	
Governo	Geral.	Esse	episódio	marca,	para	a	historiografia,	o	controle,	de	fato,	da	colônia	
pela	metrópole	e	o	Início	do	período	chamado	de	Brasil	Colonial. O	primeiro	dos	governado-
res	gerais	do	Brasil	foi	Tomé	de	Souza,	escolhido	para	ser	governador	de	Dom	João	III,	em	
1548.	Com	o	cargo,	recebeu	o	regimento	em	que	o	rei	dizia	que	estava	povoando	as	terras	
brasileiras	para	catequizar	os	indígenas	à	fé	católica	(DEL	PRIORE,	1994).	
Nesse	momento,	esses	homens	assumiram	a	prerrogativa	de	que	todos	aqueles	
que	não	eram	católicos,	por	conseguinte,	eram	infiéis,	pagãos,	inimigos	e	um	perigo	para	
a	unidade	religiosa.	Assim,	é	possível	afirmar	que	o	rei	de	Portugal	assumia	formalmente	
sua	função	dupla	de	chefe	político	e	religioso,	com	o	aval	de	Roma.	Ou	seja,	demonstrava,	
na	prática,	o	processo	de	colonização	e	cristianização.	 “O	combate	contra	os	 indígenas	
assumia	o	caráter	de	uma	guerra	santa,	de	uma	cruzada:	cristãos	lutavam	contra	selvagens	
perigosos	e	incrédulos	pagãos”	(DEL	PRIORE,	1994,	p.	9).
1.2 A Companhia de Jesus e outros Movimentos Missionários
Conforme	Del	 Priore	 (1994),	 os	 primeiros	 jesuítas	 chegaram	 à	 Bahia	 em	 1549,	
segundo	ordens	de	Dom	João	III	à	Tomé	de	Souza.	Alguns	anos	depois	foi	designado	o	
primeiro	bispo	para	Salvador,	Dom	Pero	Fernandes	Sardinha.	O	bispo	era	muito	exigente	
e	não	tolerava	a	cultura	indígena,	nem	aprovava	o	modo	“cortês”	como	os	padres	estavam	
operando	a	catequese.	Ele	considerava	os	índios	animalescos	e	defendia	que	nem	mesmo	
Deus	haveria	de	querê-los	como	filhos.	O	clérigo	propagava	a	ideia	de	que	seria	melhor	
escravizá-los.	Defendeu	essa	ideia	em	diversas	ocasiões	com	o	Padre	Nóbrega,	superior	
dos	Jesuítas	no	Brasil.	Tantas	foram	as	reclamações	sobre	as	posturas	do	bispo,	que	ele	
acabou	sendo	convocado	para	retornar	a	Portugal.	Não	chegou	a	pisar	em	seu	país	nova-
mente,	na	viagem	de	volta	seu	navio	naufragou,	e	todos	os	tripulantes	caíram	em	poder	dos	
índios	caetés	que	lhes	tiraram	a	vida.	
11UNIDADE I As Religiões Brasileiras
De	acordo	com	a	historiadora,	os	principais	missionários	na	empreitada	de	cristiani-
zação	dos	indígenas	eram	os	Jesuítas,	considerados	os	“oficiais”	da	Coroa.	Eles	foram	os	
principais	responsáveis	pelas	construções	que	se	espalharam	rapidamente	pelo	território	
brasileiro	no	início	da	colonização,	como	capelas,	escolas,	oficinas,	hospitais,	asilos	e	pos-
tos	missionários.	Tais	estabelecimentos	se	concentravam,	principalmente,	na	Bahia	e	no	
Rio	de	Janeiro.	Em	1851,	contavam-se	140	construções.	
Cabe	assinalar	que	toda	organização	episcopal	vigente	em	Portugal	foi	transposta	
para	o	Brasil.	Mesmo	assim,	o	cotidiano	e	a	realidade	nas	Américas	modificam	consideravel-
mente	a	roupagem	das	instituições,	que	passaram	a	ser	caracterizadas	pelas	peculiaridades	
locais.	Ou	seja,	o	funcionamento	da	Igreja	no	Brasil	não	era	uma	mera	reprodução	idêntica	
do	funcionamento	da	Igreja	em	Portugal.	Enquanto,	na	Europa,	a	experiência	religiosaera	
norteada	pelos	numerosos	templos,	párocos	e	festas,	que	tornavam	os	rituais	e	sacramen-
tos	rigidamente	observados	e	controlados	pela	Igreja,	no	Brasil	não	era	assim.	As	paróquias	
estavam	distantes	e	espalhas,	além	disso	havia	poucos	clérigos,	por	 isso,	grande	parte	
da	população	ficava	anos	sem	acessar	um	sacerdote	ou	comungar	de	uma	liturgia	oficial.	
Outro	fator	importante,	é	que	as	grandes	marcas	de	desigualdade	sociais	e	raciais	isolavam	
a	elite	branca	em	seus	próprios	locais	de	culto,	erigidas	em	suas	próprias	terras.	Diferente	
do	que	ocorria	em	Portugal,	produziu-se,	no	Brasil,	uma	religiosidade	privada	e	classista,	
que	não	correspondia	à	reprodução	e	controle	dos	dogmas	católicos	(DEL	PRIORE,	1994).	
A	organização	da	Igreja	era	dividida	entre	o	clero	regular	–	as	diversas	ordens	reli-
giosas	que	se	instalaram	no	Brasil,	como	jesuítas, franciscanos, carmelitas, beneditinos 
e capuchinhos –,	e	o	clero	secular	–	os	que	não	pertenciam	às	ordens	religiosas,	mas	que	
zelavam	pela	liturgia	católica	nas	vilas,	cidades	e	capelas	rurais.	Essas	duas	frentes	nem	
sempre	 se	 relacionavam	 de	modo	 harmonioso,	 as	 disputas	 e	 conflitos	 eram	 eminentes	
(DEL	PRIORE,	1994).	
A	Companhia	 de	 Jesus	 foi	 a	 que	mais	 se	 destacou	 nesse	 processo	 de	missão	
jesuítica,	com	empreendimentos	em	toda	colônia.	Os	jesuítas	também	tiveram	monopólio	
sobre	a	educação	formal,	com	sua	sistemática	e	contínua	criação	de	escolas	e	seminários.	
Colégios	 de	 catecúmenos	é	 o	 nome	atribuído	aos	espaços	onde	as	 crianças	 indígenas	
aprendiam	a	ler,	contar	e	rezar	na	língua	do	colonizador.	Nessa	educação,	tinham	também	
incutidos	valores	e	costumes	da	cultura	europeia,	em	detrimento	de	sua	própria	cultura.	
Nas	vilas	e	cidades	coloniais	espalhavam-se	os	colégios	em	que	se	educavam	os	filhos	dos	
colonos.	Segundo	Del	Priore	(1994,	p.	12):
12UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Munidos	de	um	conjunto	de	normas	a	que	as	crianças	deveriam	se	submeter,	
os	 jesuítas	 ajudaram	 a	 fazer	 a	 passagem	 entre	 a	 escola	 da	 Idade	Média	
e	o	colégio	dos	tempos	Modernos.	Substituíram	a	instrução	técnica	dirigida	
indiscriminadamente	a	jovens	e	velhos,	por	uma	formação	social	e	moral	rigi-
damente	hierarquizada,	dada	em	classes	separadas	por	sexo	e	idade.	Foram	
eles	também	os	primeiros	educadores	a	dar	atenção	para	as	especificidades	
da	infância.
Os	Jesuítas	perderam	a	exclusividade	dessa	função	com	a	anexação	de	Portugal	à	
Espanha,	que	ocorreu	entre	1580	e	1640.	Com	essa	modificação	no	quadro	político	interna-
cional,	o	Brasil	passou	a	receber	outras	ordens	religiosas,	como	Franciscanos,	Beneditinos	
e	Carmelitas.	Cada	uma	dessas	ordens	tinha	características	particulares	e	atuavam	de	um	
modo	específico,	os	beneditinos,	por	exemplo,	eram	mais	dedicados	à	vida	contemplativa,	
os	carmelitas	tinham	caráter	mais	assistencialista.	
À	medida	que	a	colonização,	a	fome	e	as	guerras	dizimavam	os	índios	do	litoral	
e	que	os	negros	africanos	eram	catequizados	em	massa	-	sem	que	nenhum	
padre	 ou	 autoridade	 religiosa	 argumentasse	 contra	 sua	 escravização	 -	 os	
movimentos	missionários	se	deslocavam	para	o	interior	da	Colônia	à	procura	
de	outras	populações	nativas	(DEL	PRIORE,	2004,	p.	14).
Em	1853,	o	Padre	Antônio	Vieira,	membro	da	Companhia	de	Jesus	e	considerado	
um	dos	nomes	mais	importantes	para	o	instituto	no	norte	do	Brasil,	chega	ao	Brasil	para	
participar	 de	 tal	 movimento	 de	 cristianização	 nas	 Américas,	 ultrapassando	 Nóbrega	 e	
Anchieta	no	que	se	refere	à	literatura.	O	padre	considerava	o	nativo	como	possível	súdito	
do	rei,	tendo	na	sua	conversão	um	grande	passo	para	a	solidificação	do	domínio	português	
sobre	 o	mundo.	Tais	 afirmações	 estão	 presentes	 em	 suas	 cartas,	 como	 no	Sermão da 
Primeira Dominga da Quaresma,	datada	de	1643,	e	escrita	em	São	Luís	do	Maranhão,	em	
que	ele	afirma:	“Saiba	o	mundo,	saibam	os	hereges	e	os	gentios,	que	não	se	enganou	Deus	
quando	fez	aos	portugueses	conquistadores	e	pregadores	de	seu	santo	nome”	(VIEIRA,	
1951,	Tomo	III).			
Vieira	 teria	 grande	 importância	 acerca	 do	 debate	 da	 escravização	 de	 indígenas	
convertidos	e,	por	isso,	teria	se	tornado	alvo	dos	colonos.	A	escravização	dos	indígenas	se-
ria,	para	ele,	um	grande	entrave	à	catequese	e	conversão.	No	entanto,	seu	posicionamento	
desagradava	os	interesses	de	plantadores,	comerciantes	e	donatários	que	lucravam	com	a	
escravização	(DEL	PRIORE,	1994).
Em	06	de	 janeiro	de	1662,	dia	de	reis,	o	Padre	prega	o	Sermão	da	Epifania,	no	
qual	trata	da	situação	do	Maranhão.	Neste	sermão,	compara	os	jesuítas	com	a	estrela	que	
guiou	os	reis	magos,	e	os	colonos,	com	Herodes.	Destaca	também	a	dificuldade	do	trabalho	
missionário	da	Companhia	de	Jesus,	devido	à	infinidade	de	línguas	da	região,	pois:
13UNIDADE I As Religiões Brasileiras
[...]	aqueles	gentios	que	hoje	começaram	a	ser	homens,	ontem	eram	feras,	
eram	aqueles	mesmos	bárbaros,	ou	brutos,	que	sem	uso	da	razão,	nem	sen-
tido	de	humanidade,	se	fartavam	de	carne	humana;	que	das	caveiras	faziam	
taças	para	lhe	beber	o	sangue,	e	das	canas	dos	ossos	frautas	para	festejar	
os	convites	[...]	e	assim	nos	tratam	os	gentios	e	tais	gentios,	quando	assim	
nos	tratam	cristãos	e	cristãos	da	nossa	nação	e	do	nosso	sangue:	quem	se	
assombra	de	uma	tão	grande	diferença	(VIEIRA,	1951,	Tomo	II).	
Quando	D.	Afonso	VI	ascende	ao	trono,	Vieira	perde	seu	prestígio	na	corte,	conside-
rando	que	ele	era	apoiador	de	D.	Pedro,	adversário	do	rei	recém	entronado.	Sendo	assim,	
são	retiradas	dos	jesuítas	as	prerrogativas	temporais	sobre	as	missões	e	a	exclusividade	
missionária	na	região.	Nesse	momento,	Padre	Antônio	Vieira	é	proibido	de	seguir	com	sua	
tarefa	de	cristianização,	parte	para	Porto,	e	depois	para	Coimbra,	onde	sofre	seu	inquérito	
inquisitorial	(PÉCORA,1998).	
Em	21	de	Junho	de	1662,	 inicia-se	o	processo	Inquisitorial	contra	ele,	em	14	de	
Setembro	de	1665,	o	Padre	é	encarcerado	pela	Inquisição,	considerado	culpado	de	tentar	
conciliar	a	fé	católica	às	práticas	do	judaísmo,	com	o	objetivo	de	agradar	os	judeus	batiza-
dos,	também	chamados	pela	historiografia	de	“cristãos	novos”	(PÉCORA,1998,		p.	59).	
Figura 2 -	Ilustração	de	Pe.	Antônio.	Vieira	catequizando	indígenas
Fonte:	Muhama	(2017).
Não	seria	possível	nos	delongar	mais	na	biografia	e	 trajetória	de	Padre	Antônio	
Vieira,	mas	 consideramos	por	 bem	citá-la,	 porque	 sua	história	 ou	a	narrativa	produzida	
por	meio	dos	documentos	deixados	como	vestígios,	oferece-nos	um	amplo	pano	de	fundo	
acerca	da	profunda	 relação	entre	 Igreja	 e	Estado,	 as	disputas	em	 torno	da	Companhia	
de	Jesus,	e	as	dinâmicas	inerente	às	disputas	políticas	que	ocorriam	na	Europa,	as	quais	
influenciavam	diretamente	o	modo	como	o	catolicismo	se	expandia	e	se	institucionalizava	
no	Brasil.	
14UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Cabe	destacar	 também	que	essas	ordens	não	 recebiam	um	pagamento	 fixo	da	
Coroa	pela	missão	evangelizadora.	Por	isso,	realizavam	em	paralelo	à	função	catequética,	
bem	como	à	educacional	e	à	econômica.	Com	relação	ao	sustento	dos	Jesuítas,	Assunção	
(2004,	p.	155)	aponta	que	“a	Companhia	recebia	doações	régias,	doações	de	imóveis	da	
coroa,	isenção	de	impostos	e	também	recebia	doações	de	particulares”.
Uma	dessas	doações	recebidas	pela	Companhia,	que	gerou	grande	polêmica,	foi	o	
famoso	engenho	de	Sergipe	do	Conde	(BA),	que	admitia	mais	de	100	escravos	africanos.	
Fundado	em	1560	por	Mem	de	Sá,	foi	herdado	pelos	filhos	após	sua	morte,	e	posterior-
mente	doado	para	a	Irmandade	de	Misericórdia	de	Salvador	e	o	Colégio	Jesuítico	da	Bahia	
compartilharem.	Assunção	(2004,	p.	370)	descreve	a	propriedade:	
[...]	O	engenho	de	Sergipe	do	Conde	 localiza-se	aproximadamente	a	nove	
quilômetros	da	foz	do	rio	Sergipe,	possuindo	nas	adjacências	várias	fazendas.	
A	 região,	pela	 fertilidade	do	solo	Massapé,	 foi	uma	das	zonas	açucareiras	
mais	importantes	do	período	colonial.	
Além	dos	subsídios	régios	e	das	doações	de	terras,	tanto	da	coroaquanto	particu-
lares,	para	a	construção	de	escolas	e	igrejas,	das	isenções	alfandegárias,	a	Companhia	de	
Jesus	desenvolveu	o	seu	autofinanciamento	(ARÉCO,	2019).
1.3 Clero Secular: Irmandades e Religiosidade Popular
Uma	 das	 mais	 difundidas	 formas	 de	 terceirização	 da	 assistência	 religiosa	 se	
organizava	por	meio	de	Irmandades	e	Ordens	Terceiras.	Para	compreender	o	Brasil	Co-
lonial,	é	 indispensável	atentar	para	a	 função	e	o	caráter	dessas	 instituições,	e	de	como	
elas	contribuíram	para	delinear	o	catolicismo	urbano	dentro	de	relações	de	poder	bastante	
particulares	à	nossa	formação	religiosa.
Assinalamos	que,	para	a	Igreja	Católica,	o	clero	secular	era	visto	como	categoria	
abandonada	à	própria	sorte.	Criticava-se	publicamente	o	descaso	da	Coroa	e	depois	do	
Império	com	os	assuntos	religiosos	e	com	os	eclesiásticos	em	particular.	Destacamos	que	
a	igreja	tentou	normatizar	a	atuação	do	clero	e	a	vivência	leiga	do	catolicismo	de	diversas	
maneiras,	como,	por	exemplo,	por	meio			das	Constituições	Primeiras	do	Arcebispado	da	
Bahia,	bem	como	pela	criação	de	dioceses	e	seminários.	Sobre	as	funções	dessas	consti-
tuições,	Del	Priore	(1994,	p.	33)	escreve	que
Essa	Assembleia	realizada	em	Junho	de	2017,	serviu	para	ajustar	o	corpo	
de	leis	canônicas	às	circunstâncias	brasileiras,	para	fortalecer	as	instituições	
eclesiásticas	e	para	uniformizar	práticas	sacramentais,	como	o	batismo,	o	ca-
samento	entre	os	fiéis,	fossem	livres	ou	escravos.	Promulgou	uma	legislação	
que	dava	aos	membros	do	clero	todos	os	meios	e	recursos	necessários	para	
organizar-se	e	manter-se	como	um	clero	digno,	 instruído	e	 trabalhador:	as	
Constituições	primeiras	do	Arcebispo	da	Bahia.	
15UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Conforme	Gaeta	(1997),	as	Constituições	do	Arcebispado			da	Bahia	foram	consi-
deravelmente	tolerantes	no	que	tange	aos	aspectos			particulares	e	populares	das	manifes-
tações	religiosas,	buscando	discipliná-los,	mas	sem	considerável	severidade.	As	próprias	
Constituições	assinalavam:	
[...]	não	é	nossa	tenção	proibir	que	no	adro	se	possam	fazer	representações				
ao	Divino,	sendo	aprovadas	por	nós	ou	por	nosso	Provisor:	nem	que,	outros-
sim,	na	ocasião	de	festas	entrem	danças	e	folias	nas	Igrejas	sendo	honestas		
e	decentes,	enquanto	se	não	disser	Missa,	nem	se	celebrarem	os	Ofícios		
Divinos	(GAETA,	1997,	p.	226).
Souza	(1986)	e	Reis	(1991)	são	historiadores	que	estudam	a	religiosidade	popular,	
no	período	colonial	e	imperial,	respectivamente.	A	primeira	reflete	sobre	a	religiosidade	co-
lonial,	tendo	como	base	as	disputas	entre	os	projetos	institucionais	e			as			particularidades	
e	modos	de	vida	cotidianos,	que,	em	sua	visão,	se	caracterizam	pela	busca	de	respostas	
para	os	problemas	do	dia	a	dia,	na	feitiçaria	e	nas	práticas	mágicas	(SOUZA,	1986).		
Já	João	José	Reis	compreendia	que	o	catolicismo	popular,	em	especial	o	baiano	
(por	ser	o	seu	objeto	específico	de	estudo),	admitia	feitio	mágico	e	estava			“impregnado	
de	paganismo”,	sendo	“adotado	pelo	povo	e	mesmo	membros	da					elite”,	configurando-se	
como	“um		catolicismo	ligado	de	maneira	especial	aos	santos	de	devoção”	(REIS,	1991,		p.	
60).
Nesse	sentido,	a	historiografia	admite	as	irmandades	religiosas,	o clero secular,	
como	um	espaço	no	qual	era	possível	manifestar	as	práticas	populares	e	 leigas.	Alguns	
pesquisadores	 apontam	 as	 Irmandades	 como	Associações	 que	 reuniam	 devotos	 a	 um	
santo	protetor.	Essas	instituições	tinham	a	função	de	auxiliar	camadas	menos	privilegiadas	
da	população	no	Brasil	Colonial.	Essas	assistências	ocorriam	de	diversos	modos,	inclusi-
ve	com	o	financiamento	de	rituais	 funerários.	As	 irmandades	organizavam-se	a	partir	de	
um	grupo	 interessado	em	organizar	o	culto	de	algum	santo	específico,	sem	 intervenção	
eclesiástica.	 Construía	 igrejas,	 buscava	 recursos	 financeiros	 para	 realização	 das	 festas	
públicas	e	serviços	relativos	aos	ritos	fúnebres	(HOONAERT,	1987/1988).
Desse	modo,	pertencer	a	uma	 irmandade	significava	ter	algum	respaldo	e	apoio	
em	momento	de	necessidade,	como	na	doença.	Hoonaert	(1987/1988,	p.	33)	apontou	que	
elas	“cuidavam	de	importantes	aspectos	da	vida	escrava:	o	enterro	(a	compra	do	caixão),	a	
doença	(a	organização	de	uma	enfermaria)	[...]	a	velhice,	a	religião,	e	certamente	a	comu-
nicação	social	sobre	bases	africanas”.
16UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Assim,	as	irmandades	são	compreendidas	como	instituições	religiosas	reconheci-
das	pelo	Estado	e	pela	Igreja,	com	práticas	e	estatutos	próprios,	pois	cada	uma	delineava	
seus	objetivos	e	atuação.	
	Para	a	pesquisadora	Reginaldo	(2009),	as	irmandades	negras	surgiram	no	século	
XI,	 em	Portugal,	 com	a	 cisão	 com	 irmandades	 brancas.	Conforme	a	 autora,	 “em	1580,	
surgiram	em	Lisboa	confrarias	exclusivamente	de	negros	como	a	de	N.	S.	de	Guadalupe	e	
São	Benedito,	e	no	século	XVII	foi	criada	a	Irmandade	do	Rosário	dos	Pretos	no	Convento	
do	Salvador”	(REGINALDO,	2009,	p.	296).	
Na	 colônia,	 as	 Irmandades	 e	Ordens	Terceiras	 se	 organizavam	 de	 acordo	 com	
critérios	de	raça	e	posição	social.	Essas	instituições	tinham	um	alcance	local,	e	estavam	
sediadas	nas	vilas	e	cidades.	Eram	também	chamadas	de	confrarias,	por	seu	caráter	de	
assistencialismo	entre	 comunidades	 fraternas.	Em	um	 contexto	 de	 intenso	 processo	 de	
escravização	de	negros	africanos	no	Brasil,	as	irmandades	eram	um	instrumento	de	con-
ciliação	do	negro	com	a	religião	católica,	a	crença	oficial	da	metrópole.	Mesmo	assim,	eles	
souberam	moldar	a	religião	do	europeu	a	arquétipos	que	lhes	pareciam	mais	familiares.	Ou	
seja,	“os	negros	[...]	submersos	no	mundo	simbólico	dos	brancos,	especificamente	no	mun-
do	católico,	souberam	dar	novos	significados	a	esses	significantes	que	lhes	era	imposto”	
(HOORNAERT,	1987/1988,	p.	28)
Nas	irmandades,	era	possível	ser	devoto	de	santos	negros.	Forjava-se	um	espaço	
de	concretização	da	adoção	dos	negros	ao	cristianismo	a	partir	da	adoção	de	divindades	
negras	 para	 o	 seu	 culto.	 Segundo	Quintão	 (2002),	 a	mais	 conhecida	 dentre	 as	muitas	
irmandades	 de	 pretos	 era	 a	 de	Nossa	Senhora	 do	Rosário	 que	 já	 congregava	 homens	
negros	em	Portugal	desde	os	séculos	XV	e	XVI.
17UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Figura 3 -	Festa	de	Nossa	Senhora	do	Rosário,	Patrona	dos	Negros,	1935	
Fonte:	Estuda.com	(2019).
O	autor	também	aponta	para	a	crítica	em	torno	de	uma	possível	assimilação	pas-
siva	dos	negros	africanos	ao	culto	católico,	apontando	para	uma	subversão	em	relação	à	
ressignificação	do	culto	e	seus	elementos	europeus.
[...]	 as	 irmandades	 apresentaram	 sempre	 um	 caráter	 social	 e	 devocional.	
O	 fato	 de	 serem	 autorizadas	 e	 protegidas	 pela	 ação	 das	 autoridades	 fez	
com	 que	 muitos	 classificassem	 essas	 associações	 como	 “instrumento	 de	
alienação”	dos	negros	e	até	de	sua	pacificação.	No	entanto,	se	as	classes	
senhoriais	e	as	elites	quiseram	utilizar	as	irmandades	como	meio	de	controle	
e	 de	 integração	 do	 negro	 numa	 sociedade	 escravocrata,	 estes	 souberam	
transformá-la	 num	 espaço	 de	 sociabilidade,	 de	 reivindicação	 social	 e	 de	
protesto	 racial	 conseguindo,	 dessa	 forma,	 salvar	 a	 sua	 identidade	 e	 sua	
dignidade	(QUINTÃO,	2002,	p.	34).
Para	concluir	este	subtópico,	caro(a)	estudante,	destacamos	que	as	 irmandades	
podem	ser	consideradas	como	espaços	de	grande	importância	para	os	negros	escravos	
que	foram	trazidos	forçosamente	para	o	Brasil	no	período	escravocrata.	Esses	espaços	de	
sociabilidades	e	práticas	religiosas	deram	origem	ao	que	hoje	é	chamado	de	catolicismo	
popular.	 No	 entanto,	 alguns	 historiadores	 refletem	 sobre	 os	 limites	 que	 as	 irmandades	
impunham	às	práticas	religiosas	não	católicas,	ou	que	não	buscassem	minimamente	sin-
cretizar-se	com	as	crenças	católicas.	
Nesse	sentido,	podemos	pensar	que	as	irmandades	foram	também	um	ambiente	
estratégico	que,	mesmo	sem	 ter	 tido	100%	de	sucesso,	objetivou	 “domesticar”	o	negro,	
instruindo-o	nos	princípiosda	religião	católica	e,	consequentemente,	do	Estado.	
18UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Agora,	 nós	 estudaremos	 um	 pouco	mais	 sobre	 a	 presença	 de	 outros	 cultos	 no	
Brasil	colonial,	que	coexistiam	com	o	catolicismo,	mesmo	que	de	modo	camuflado.	
1.4 Calundus e Cultos Africanos no Brasil Colonial
É	 importante	 demarcar,	 caro(a)	 estudante,	 que	 o	 encontro	 entre	 colonizados	 e	
colonizadores	nunca	é	um	processo	simples	e	pacífico.	Neste	sentido,	apontamos	que	a	
Igreja	Católica	se	utilizou	de	muitos	artifícios	violentos	para	extinguir	os	cultos	africanos	e	
indígenas	na	América	Portuguesa,	e	tornar	todos	os	seus	habitantes	convertidos	ao	catoli-
cismo.
Contudo,	mesmo	que	as	dioceses	e	as	ordens	 religiosas	 tentassem	extinguir	as	
práticas	cotidianas	dos	moradores,	não	obtinham	total	êxito	em	evitar	os	sincretismos	e	a	
heterodoxia.	Cabe	destacar	aqui	que	o	pensamento	mágico	na	Europa	ainda	não	tinha	sido	
totalmente	extinto.	Havia	cultos	pagãos	que	se	misturavam	com	o	catolicismo,	tornando	o	
universo	da	religiosidade	popular	um	território	complexo	e	pluricultural,	como	aponta	o	his-
toriador	Ginzburg	(1988)	em	Os Andarilhos do Bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos 
XVI e. XVII.	
A	expansão	do	império	Marítimo	e	a	colonização	de	novas	terras	intensificaram	ain-
da	mais	essa	mentalidade,	considerando	seu	contato	com	o	arcabouço	religioso,	filosófico	
e	cosmológico	indígena	e	africano.	Acreditava-se	em	grandes	tesouros,	reinos	desconhe-
cidos,	paraísos	 terrestres	e	outros	elementos	do	pensamento	mágico	europeu	que	aqui	
foram	difundidos	e	reorganizados.	
Conforme	a	historiadora	Souza	(1993),	o	personagem	mais	temido	do	imaginário	
europeu	nos	séculos	XV,	XVI	e	XVII	era	o	Diabo.	Quando	os	Europeus	expandiram	seus	
domínios	para	o	Novo	Mundo,	admitiam	que	essa	divindade	também	passará	a	atuar	no	
Brasil.	Defendia-se	vigorosamente	que	o	Demônio	tinha	a	capacidade	de	possuir	o	espírito	
dos	nativos	e	testar	a	fé	dos	católicos.	Tomando	como	verdade	a	ideia	de	que	os	rituais	indí-
genas	e	africanos	cultuam	essa	força	maligna,	sem	nem	mesmo	considerar	que	o	demônio	
fosse	(e	é)	uma	divindade	da	mitologia	e	crença	judaico-cristã,	e	que	não	está	presente	nas	
culturas	indígenas	ou	africanas.
Nesse	sentido,	é	importante	apontar	que	a	historiografia	comprometida	com	pers-
pectivas	decoloniais	e	antirracistas	demarca	as	resistências	dos	calundus	e	outras	práticas	
religiosas	que	resistiram	às	opressões	do	colonialismo.	Esses	estudos	apontam	para	os	
diversos	modos	como	os	africanos	e	seus	descendentes	experienciaram	a	escravidão	nas	
19UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Américas.	Essa	perspectiva	abandona	as	generalizações	totalizantes	sobre	o	cativeiro	e	
busca	pautar	as	múltiplas	dinâmicas,	arranjos	e	configurações	regionais	que	permearam	as	
relações	entre	senhores	e	escravos	nas	sociedades	escravistas.
Desse	modo,	aponta-se	uma	gama	de	condições	particulares	que	evidenciavam	os	
vários	modos	como	grupos	escravizados	e	libertos	vivenciavam,	do	ponto	de	vista	cultural,	
psicológico	e	intelectual,	suas	relações	com	a	escravidão.		Dentro	desse	bojo	de	pesquisas,	
têm-se	uma	considerável	atenção	aos	calundus,	cerimônias	religiosas	conhecidas	na	Amé-
rica	portuguesa	nos	séculos	XVII	e	XVIII.	Encontra-se	uma	cultura	com	ideias	e	noções	de	
mundo	particulares	de	uma	parcela	de	escravizados	nos	elementos	ritualísticos	e	nas	con-
cepções	terapêuticas	e	cosmológicas	que	subjaziam	aos	calundus.	Pesquisadores	como	
Marcussi	(2018,	p.	21),	postulam	que	se	pode	“entender	como	a	experiência	religiosa	dos	
calundus	codificava,	na	prática,	um	complexo	entendimento	centro-africano	do	cativeiro	por	
meio	de	elementos	como	sintomas	patológicos,	parentes,	entidades	sobrenaturais,	danças	
e	remédios”.	O	pesquisador	define	assim:	
Os	calundus	eram	cerimônias	religiosas	praticadas	por	africanos	na	América	
portuguesa	entre	os	séculos	XVII	e	XVIII,	com	acompanhamento	de	música	
de	percussão,	cantos	e	danças	e	contando	frequentemente	com	fenômenos	
de	transe	espiritual	Sua	natureza	era	eminentemente	terapêutica,	na	medida	
em	que	um	sacerdote,	o(a)	“calunduzeiro(a)”,	curava	indivíduos	doentes	me-
diante	a	consulta	a	espíritos.	A	clientela	que	procurava	os	calundus	para	se	
curar	de	uma	série	de	enfermidades	era	bastante	heterogênea,	contando	não	
apenas	com	escravos,	mas	 também	com	clientes	brancos	que,	em	alguns	
casos,	pertenciam	às	elites	locais	(MARCUSSI,	2018,	p.	22).	
Na	documentação	 inquisitorial	 e	eclesiástica,	 no	que	se	 refere	à	América	portu-
guesa,	os	vocábulos	utilizados	para	definir	essas	manifestações	variaram,	de	acordo	com	
os	espaços	geográficos	e	momentos	históricos,	algumas	delas	são:	 “lundus”,	 “ulundus”,	
“colundus”,	“calandus”	ou	“calundus”.	Em	Angola,	cerimônias	com	elementos	em	comum	
foram	chamadas	de	“quilundos”	–	termo	do	qual	deriva	“calundu”	(MARCUSSI,	2018).
Em	 Utopias centro-africanas: ressignificações da ancestralidade nos calundus 
da América portuguesa nos séculos XVII e XVIII,	Marcussi	(2018)	apresenta	importantes	
noções	cosmológicas	das	práticas	ritualísticas	presentes	nos	calundus,	como,	por	exemplo,	
a	relação	que	era	estabelecida	com	os	antepassados	pelos	centro-africanos,	que	deram	
origem	a	esse	culto	no	Brasil	e	a	dificuldade	em	continuar	mantendo	sua	tradição	no	Brasil.	
As	formas	mais	significativas	de	culto	aos	antepassados	nas	sociedades	cen-
tro-africanas	dependiam	de	uma	estrutura	social	e	humana	conferida	pelos	
grupos	parentais.	Em	terras	portuguesas,	sob	o	cativeiro,	os	centro-africanos	
enfrentavam	desafios	consideráveis	para	garantir	sua	realização.	Em	primei-
ro	lugar,	havia	a	proibição	oficial	em	relação	aos	ritos	religiosos	não	católicos,	
que	 eram	 considerados	 diabólicos	 e	 sistematicamente	 perseguidos	 por	
agentes	da	justiça	eclesiástica	e	secular.	Em	segundo	lugar,	e	possivelmente	
20UNIDADE I As Religiões Brasileiras
mais	 importante,	 o	próprio	 funcionamento	do	 comércio	de	escravos	 criava	
entraves	 significativos	 para	 a	 realização	 das	 cerimônias	 públicas	 relativas	
aos	antepassados	(MARCUSSI,	2018,	p.	28).
Alguns	 autores	 sublinham	 o	 sincretismo	 entre	 as	 práticas	 bantus	 (africanas)	 e	
católica,	outros	rejeitam	essa	 ideia,	mesmo	que	considerem	o	contato	entre	elas.	Nesse	
sentido,	cabe	apontarmos	brevemente	como	é	apresentada	tipicamente	essa	religiosidade:
Segundo	a	tradição	religiosa	banto,	a	vida	é	sustentada	por	um	Ser	Supremo	
que	reina	sobre	o	universo	e	sobre	os	homens	de	modo	distante,	porém	be-
néfico.	Todos	os	povos	que	compartilhavam	a	cosmovisão	banto	acreditavam	
em	um	deus	único,	supremo	e	criador,	chamado	de	Kalunga,	Zambi,	Lessa	ou	
Mvidie,	entre	outros	nomes,	de	acordo	com	o	grupo	étnico	específico	e	com	
os	atributos	que	se	pretendia	destacar	nessa	divindade,	como	a	 totalidade	
da	vida,	a	superação	de	 tudo	em	 todos,	a	 força	e	a	 inteligência.	Segundo	
essa	crença,	após	a	criação	do	mundo,	o	Ser	Supremo	se	distanciou	dele,	
entregando	sua	administração	aos	ancestrais	fundadores	de	linhagens,	seus	
filhos	divinizados.	Por	ser	um	deus	distante,	ele	quase	não	recebia	culto	ou	
adoração,	nem	era	representado	por	 imagens.	Apesar	disso,	conservava	a	
dinâmica	e	a	ordem	do	cosmo,	mantendo	o	mundo	unido.	Como	um	Deus	
maior	e	criador	do	universo,	atuava	sobre	o	mundo	inteiro;	sendo	às	vezes	
concebido	 como	o	 ancestral	 original	 ou	 ancestral	 do	 primeiro	 ser	 humano	
(DAIBERT,	2015,	p.	11)
Marcussi	(2018)	defende	a	distância	entre	os	dois	universos	religiosos.	Para	ele,	
se	por	um	 lado	os	africanos	praticavam	o	catolicismo	de	modo	superficial,	por	outro,	as	
religiões	 africanas	 teriam	 permanecido	 intocadas	 e	 independentes	 em	 seu	 sistema	 de	
pensamento.	Assim,	o	autor	compreende	o	calundu	como	uma	religião	tipicamente	centro-
-africana	recriada	no	Brasil.	Em	sua	leitura	do	calundu,	de	Luzia	Pinta	(que	se	localizava	
em	Minas	Gerais),	no	século	XVIII,	um	dos	mais	discutidos	na	historiografia	precisamente	
peladocumentação	existente	sobre	ele,	Marcussi	(2006)	afirmou	que	a	angolana	ao	invés	
de	escolher	entre	duas	cosmologias,	classificando-as	como	verdadeira	e	profunda	ou	falsa	
e	superficial,	produziu	um	repertório	simbólico	utilizado	de	acordo	com	as	circunstâncias.	
Por	 isso,	o	autor	vê	no	calundu,	de	Luzia	Pinta,	uma	ferramenta	de	mediação	simbólica	
por	meio	de	uma	interpretação	própria	das	duas	tradições	em	diálogo,	“um	texto	cultural	
particular,	nem	bem	português,	e	nem	exatamente	angolano,	mas	um	texto	próprio	da	zona	
de	mediação	intercultural	na	qual	viveu”	(MARCUSSI,	2006,	p.	122).
21UNIDADE I As Religiões Brasileiras
Figura 4 -	Retrato	imaginário	de	Luzia	Pinta	(Fundo:	Sabará,	por	A.	V.	Guignard)
Fonte: Paula	(2017).
Caro(a)	estudante,	apresentamos	o	trabalho	de	Marcussi	(2006;	2018),	entre	tantos	
outros	possíveis,	mostra-se	bastante	interessante	para	pensarmos	a	inserção	do	calundu	
de	Luzia	no	mundo	atlântico,	como	um	exemplo	revelador	desses	processos	de	encontro	
e	afastamento	entre	colonizados	e	colonizadores	e,	por	conseguinte,	entre	catolicismo	e	
práticas	africanas,	ou	mesmo	indígenas.	
É	 sabido	 que	 houve	muitas	 outras	 práticas	 religiosas	 africanas	 e	 indígenas	 no	
Brasil	 no	 período	 Colonial,	 mas	 não	 seria	 possível	 nos	 debruçar	 sobre	 todas	 elas,	 por	
isso	o	 inevitável	 recorte.	Nosso	objetivo	com	esse	último	subtópico	 foi	o	de	demonstrar	
a	existências	de	práticas	religiosas	africanas	que	coexistiam	com	o	catolicismo	no	Brasil	
Colonial,	utilizando	os	calundus	como	exemplo	histórico.
Acreditamos	que,	para	o	profissional	que	trabalhará	com	Ensino	Religioso,	é	 im-
portante	a	apropriação	desse	constructo	histórico	dos	embates,	sincretismos,	negociações	
e	distanciamentos	entre	diferentes	religiosidades	e	instituições	religiosas	na	formação	do	
Brasil	Colonial.	
22UNIDADE I As Religiões Brasileiras
SAIBA MAIS
“Luzia	era	natural	de	Luanda,	Angola,	onde	viveu	antes	de	ser	levada	para	o	Brasil	pelo	
tráfico	negreiro	no	início	do	século	XVIII.	Os	inquisidores	tentavam	desvendar	os	signi-
ficados	dos	serviços	espirituais	que	ela	prestava	à	população	de	Minas	Gerais	em	um	
ritual	identificado	como	calundu.	O	recurso	à	tortura	era	usado	para	descobrir	possíveis	
evidências	de	um	pacto	demoníaco	em	suas	práticas	religiosas.	Ao	final,	ela	conseguiu	
escapar	da	morte,	mas	não	foi	considerada	inocente.	Na	ausência	de	provas	explícitas,	
seu	pacto	 foi	 presumido.	Sentenciada	pela	 “abjuração	de	 leve	 suspeita	 de	 ter	 aban-
donado	a	fé	católica”,	Luzia	foi	para	sempre	proibida	de	retornar	a	Sabará,	e	foi	ainda	
condenada	a	quatro	anos	de	degredo	no	Algarve.	De	alguma	forma,	as	perguntas	sobre	
o	significado	do	calundu	de	Luzia	Pinta	e	de	outros	escravizados	que	transplantaram	
crenças,	rituais	e	significados	religiosos	africanos	para	o	Brasil	atravessaram	os	sécu-
los	seguintes.	Ao	menos	desde	a	década	de	1980,	esse	ritual	tem	sido	interpretado	de	
forma	variada	e	continua	suscitando	discordâncias	e	novas	interpretações	por	parte	dos	
historiadores”.
Fonte:	Daibert	(2015).	
REFLITA 
Os	elementos	presentes	dos	calundus	e	citados	ao	longo	do	texto	permanecem	esbo-
çando	alguns	aspectos	centrais	do	repertório	simbólico	da	cosmovisão	banto	que	serve	
de	matriz	até	os	dias	atuais	para	alguns	grupos	religiosos,	de	algumas	linhas	da	Umban-
da,	por	exemplo.	Somente	por	meio	do	conhecimento	das	tradições	religiosas	bantos	é	
possível	situar	e	entender	os	calundus	no	Brasil	colonial	e	algumas	práticas	que	com-
põem	o	imaginário	religioso	brasileiro	na	contemporaneidade.	
Fonte:	a	autora.
23UNIDADE I As Religiões Brasileiras
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciamos	nossos	estudos	apresentando	algumas	reflexões	acerca	da	chegada	dos	
portugueses	e	do	processo	de	catequização	de	toda	população,	com	a	implementação	do	
catolicismo	no	Brasil.	Conceituamos	a	noção	de	Cristandade	e	Padroado	Régio.	Destaca-
mos	a	importância	de	algumas	ordens	religiosas	nesse	processo	missionário,	em	especial	
os	Jesuítas	e	a	Companhia	de	Jesus.
Refletimos	 também	sobre	o	Clero	Secular	e	a	 importância	das	 Irmandades	para	
construção	de	um	catolicismo	heterodoxo,	que	daria	origem	ao	que	hoje	 chamamos	de	
catolicismo	popular.		
Por	fim,	refletimos	sobre	a	existência	de	cultos	africanos,	como	os	calundus,	que	
resistiram	às	investidas	das	dioceses	e	ordens	religiosas	que	buscava	extinguir	as	práticas	
religiosas	não	oficiais	da	Coroa	Portuguesa,	o	catolicismo	romano.	
Entendemos	que,	mesmo	com	a	imposição	e	oficialização	forçada	do	catolicismo	
romano,	 o	 Brasil	 Colonial	 foi	 palco	 de	 uma	 enorme	 diversidade	 religiosa	 composta	 por	
práticas	heterodoxas	e	seitas	sincréticas	que	 fugiam	ao	controle	das	autoridades	civis	e	
eclesiásticas.	As	instituições	europeias	trazidas	para	a	América,	foram	obrigadas	a	se	mol-
darem	às	condições	locais,	cujas	populações	eram	versadas	em	inventividades,	espertizes	
e	 estratégias	 para	 delinear	 essas	mesmas	 instituições	 à	 realidade	 colonial.	No	próximo	
capítulo	realizaremos	um	debate	um	pouco	mais	técnico	no	que	concerne	ao	histórico	das	
políticas	públicas	que	normatizam	o	Ensino	Religioso	no	Brasil.	
Caro(a)	 estudante,	 apontamos	 a	 importância	 desse	 debate	 historiográfico	 para	
você,	 já	 que	 o	 profissional	 que	 trabalhará	 com	Ensino	 Religioso	 deve	 compreender	 os	
processos	históricos	de	continuidade	e	ruptura,	embates,	sincretismos,	negociações	e	dis-
tanciamentos	entre	diferentes	religiosidades	e	instituições	religiosas	na	formação	do	Brasil.	
Bons estudos!
24UNIDADE I As Religiões Brasileiras
LEITURA COMPLEMENTAR
BOSCHI,	C.	C.	Os Leigos e o Poder.	Irmandades	Leigas	e	Política	Colonizadora	em	Minas	
Gerais.	São	Paulo:	Ática,	1986.	
MOTT,	L.	Cotidiano	e	Vivência	Religiosa:	entre	a	Capela	e	o	Calundu.	In:	SOUZA,	L.	de	M.	
e.	História da Vida Privada no Brasil.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	1997.
SWEET,	J.	H.	Recriar África:	cultura,	parentesco	e	religião	no	mundo	afro-português	(1441-
1770).	Lisboa:	Edições	70,	2007.
25UNIDADE I As Religiões Brasileiras
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
•	Título:	Negociações	e	Conflito:	a	resistência	negra	no	Brasil	es-
cravista
•	Autor:	João	José	Reis	e	Eduardo	Silva
•	Editora:	Companhia	das	Letras
•	Sinopse:	A	historiografia	brasileira,	por	muito	tempo,	encarou	a	
escravidão	de	forma	bastante	rígida.	O	escravo	foi	visto	alterna-
damente	como	herói	ou	vítima	e,	sempre,	como	objeto,	fosse	de	
seus	senhores,	de	seus	próprios	impulsos	ou	mesmo	da	História	
que	se	propunha	a	estudá-lo.	Negociação e conflito propõe	uma	
nova	e	iluminadora	abordagem	do	tema,	resgatando	as	pequenas	
e	grandes	conquistas	do	dia-a-dia	daqueles	que,	inversamente	ao	
que	até	hoje	se	supôs,	resistiam	a	se	tornar	meras	engrenagens	
do	sistema	que	os	escravizara.	Eduardo	Silva	e	João	José	Reis	
mostram	que,	entre	a	passividade	absoluta	e	a	agressividade	cega	
que	os	historiadores	acostumaram-se	a	atribuir	ao	escravo,	havia	
uma	posição	 intermediária:	a	da	negociação,	a	do	compromisso	
com	 o	 sistema,	 a	 da	 engenhosidade	 no	 sentido	 de	 conquistar,	
em	meio	a	 todas	as	adversidades,	um	espaço	onde	se	pudesse	
construir	o	próprio	viver	[…].
FILME/VÍDEO 
•	Título:	A	missão	
•	Ano:	1986
•	Sinopse:	O	Padre	Jesuíta	Gabriel	(Jeremy	Irons)	vai	para	a	terra	
dos	Guaranis,	na	América	do	Sul,	com	o	propósito	de	converter	os	
nativos	 ao	Cristianismo.	Rapidamente	 ele	 constrói	 uma	missão,	
juntamente	 com	Rodrigo	Mendoza	 (Robert	De	Niro),	 um	comer-
ciante	 de	 escravos	 em	busca	 de	 redenção.	Quando	 um	 tratado	
transfere	a	terra	da	Espanha	para	Portugal,	o	governo	português	
quer	capturar	os	nativos	para	o	trabalho	escravo.	Mendoza	e	Ga-
briel	protegem	a	missão,	discordando	da	realização	da	tarefa.
•	Link	do	vídeo:	https://www.youtube.com/watch?v=cqcLJopZJ2A
https://www.youtube.com/watch?v=cqcLJopZJ2A
26
Plano de Estudo:
•	Histórico	sobre	as	políticas	de	educação	para	os	espaços	escolares.
•	Panorama	das	políticas	de	educação	para	o	Ensino	Religiosono	Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
•	Compreender	o	conceito	de	Políticas	Públicas.
•	Apresentar	e	analisar	algumas	Políticas	Públicas	de	Educação	no	Brasil.
•	Conhecer	algumas	Políticas	Públicas	de	Educação	específicas	para	o	Ensino	Religioso	
no	Brasil.
UNIDADE II
Políticas Públicas de Educação para o 
Ensino Religioso no Brasil
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho
Professora Esp. Thaís Fialho Lisboa
27UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
INTRODUÇÃO
Olá,	estudante	da	disciplina	Ensino Religioso no Brasil.	Nesta	segunda	Unidade	
abordaremos	as	Políticas	Públicas,	buscando	conceituar	tal	termo,	em	sua	historicidade,	
bem	como	contextualizar	tais	construções	no	que	tange	o	Ensino	Religioso	em	nosso	país.
Para	 iniciar	nossos	estudos,	abordaremos	de	modo	 introdutório	as	definições	de	
Políticas	públicas	para	a	Educação	no	Brasil,	visto	que	é	 fundamental	compreendermos	
o	que	constitui	tal	atividade	governamental	que	regulamente	a	nossa	educação,	e	de	que	
modo	elas	são	produzidas	e	implementadas	em	nosso	país.	
Em	seguida,	nos	debruçaremos	sobre	as	principais	estruturas	normativas	de	orga-
nização	dessas	políticas	públicas	no	Brasil.	
Por	fim,	analisaremos	as	Políticas	Públicas	para	a	Educação	que	normatizam	espe-
cificamente	o	Ensino	Religioso.	Para	isso,	apresentaremos	um	panorama	histórico	dessas	
Políticas	Públicas,	demonstrando	como	a	aplicação	delas	incide	sobre	o	Ensino	Religioso	
na	Educação	básica.	
Destacamos	que	não	temos	por	objetivo	esgotar	o	tema	proposto,	por	outro	lado,	
esses	estudos	apresentados	são	algumas	ferramentas	que	você	pode	utilizar	para	ampliar	
seus	conhecimentos,	e	continuar	realizando	suas	pesquisas	a	partir	de	uma	base	introdu-
tória	conceitual	e	teórico-metodológica.
Bons estudos!
28UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
1 HISTÓRICO SOBRE AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PARA OS ESPAÇOS ESCOLA-
RES
1.1 Definições de Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso
Em	nosso	cotidiano	estamos	rodeados	de	regras	e	condutas	idealizadas	pelas	polí-
ticas	públicas.	Nossa	maneira	de	viver,	de	agir,	até	mesmo	de	pensar	são	norteadas	por	leis	
e	determinações	públicas.	Mas,	segundo	os	pesquisadores	deste	tema,	como	poderíamos	
defini-las?	Segundo	Santos	(2017,	p.	5):	“Políticas	públicas	são	ações	geradas	na	esfera	
do	Estado	e	que	têm	como	objetivo	atingir	a	sociedade	como	um	todo	ou	partes	dela”.	Em	
outras	palavras,	é	um	processo	de	organização	de	leis	que	pretende	encontrar	soluções	
para	um	problema	público.
Outra	definição	ainda	mais	abrangente	é	a	formulada	por	Souza	(2006,	p.	26):	
[Política	Pública	é]	O	campo	de	conhecimento	que	busca,	ao	mesmo	tempo,	
colocar	o	governo	em	ação	e/ou	analisar	estas	ações	(variável	ou	indepen-
dente).	A	formulação	de	políticas	públicas	constitui-se	no	estágio	em	que	os	
governos	democráticos	traduzem	seus	propósitos	e	plataformas	eleitorais	em	
programas	e	ações	que	produzirão	resultados	ou	mudanças	no	mundo	real.
Assim,	a	partir	dos	estudos	apresentados,	é	possível	apontar	que	o	governo	deveria	
possibilitar,	por	meio	da	gestão	dos	setores	públicos,	a	oportunidade	de	avanços	sociais,	
utilizando	as	Políticas	Públicas	como	ferramenta	para	as	melhorias	na	qualidade	de	vida	da	
população,	na	economia	e	educação.	
29UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Desta	maneira,	cabe	aos	governantes	direcionarem	as	ações	e	regulamentá-las.	
No	entanto,	nem	sempre	eles	estão	comprometidos	com	os	interesses	públicos.	Segundo	
Caldas	(2008,	p.	5),	“o	bem	estar	da	sociedade	é	sempre	definido	pelo	governo	e	não	pela	
sociedade”.	Para	esse	autor,	 isto	acontece	porque	não	há	participação	da	população	de	
forma	integral.	Os	projetos	são	majoritariamente		pautados	em	quem	os	promove.	O	que	
suscita	 em	parte	 considerável	 da	 sociedade	descrença,	 indignação	e	 uma	continuidade	
nesse	ciclo	de	não	participação	e	formação	política.
Refletindo	ainda	sobre	as	definições	destacadas,	encontramos	um	outro	questiona-
mento.	Como	se	organizam	essas	ações	governamentais?	Esta	organização	é	dividida	em	
fases.	Segundo	Caldas	(2008,	p.	7),	são	cinco	os	estágios	de	formulação	de	uma	política	
pública:
●	 Primeira	fase	–	Formação	da	agenda	(seleção	de	prioridades);
●	 Segunda	fase	–	Processo	de	tomada	de	decisão	(apresentação	de	soluções	ou	
alternativas);
●	 Terceira	fase	–	Escolha	das	ações;
●	 Quarta	fase	–	Implementação	(ou	execução	das	ações);
●	 Quinta	fase	–	Avaliação.
A	formação	de	agenda	acontece	por	meio	das	classificações	e	definições	de	que	
assuntos	ou	demandas	seriam	mais	urgentes.	Na	segunda	fase	de	formulação,	define-se	
quais	ações	podem	ou	não	ser	 levadas	adiante.	Já	no	próximo	estágio,	os	governantes	
escolhem	alternativas	para	resolução	do	problema.
A	implementação	se	caracteriza	pela	realização	das	ações	e,	finalmente,	a	avaliação,	
que	acontece	ao	longo	de	cada	fase	que	consiste	em	identificar	a	eficácia	e	as	falhas	das	
ações	implementadas.	Conhecer	esse	processo	possibilita,	à	cada	cidadão,	compreender	
a	sua	própria	importância	de	atuação	política,	dentro	do	sistema	político	de	representação.	
Nesse	sentido,	destacamos	que	também	é	papel	do	educador(a)	apresentar	tais	processos	
no	 âmbito	 escolar	 e	 colaborar	 para	 a	 formação	 de	 cidadãos	mais	 conscientes	 de	 seus	
direitos	e	responsabilidades	coletivas.	
1.2 Estruturas de Organização e Regulamentação das Diretrizes para a Educação no 
Brasil, Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
Caro(a)	 estudante,	 a	 partir	 de	 agora	 vamos	 apresentar	 algumas	 estruturas	 que	
direcionam	 as	 leis	 para	 a	 Educação	 no	 Brasil.	 Vamos	 analisar	 trechos	 da	 Constituição	
30UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Federal	e	das	Leis	de	diretrizes	e	bases	para	educação	(LDB).	Nesse	sentido,	destacamos	
que	as	políticas	públicas	aparecem	no	contexto	social	em	que	a	população	demandava	
a	 necessidade	 de	 organização	 de	 novas	 atribuições	 do	 estado	 a	 partir	 da	 democracia.	
Segundo	Caldas	(2008,	p.	5)
A	função	que	o	Estado	desempenha	em	nossa	sociedade	sofreu	 inúmeras	
transformações	 ao	 passar	 do	 tempo.	 No	 século	 XVIII	 e	 XIX	 seu	 principal	
objetivo	 era	 a	 segurança	 pública	 e	 a	 defesa	 externa	 em	 caso	 de	 ataque	
inimigo.	Entretanto,	com	o	aprofundamento	e	expansão	da	democracia,	as	
responsabilidades	 do	 Estado	 se	 diversificaram.	 Atualmente	 é	 comum	 se	
afirmar	que	é	função	do	Estado	promover	o	bem-estar	da	sociedade.	Para	
tanto,	ele	necessita	desenvolver	uma	série	de	ações	e	atuar	diretamente	em	
diferentes	áreas,	tais	como	saúde,	educação,	meio	ambiente.
A	Constituição	Federal	é	um	documento	promulgado	em	5	de	outubro	de	1988	e	é	
com	base	nela	que	são	organizadas	as	leis,	normas	e	regimentos	dos	estados	e	municípios	
do	nosso	país.	Esse	documento	estabelece	a	identidade	democrática	de	um	estado	e	têm	
por	objetivo	manter	a	ordem	e	o	progresso.
Organizada	em	mais	de	200	artigos,	a	constituição	procura	de	maneira	abrangente	
alcançar	as	inúmeras	dimensões	da	organização	do	país.	No	entanto,	vamos	nos	deter	ao	
capítulo	III,	especificamente	a	seção	I,	que	diz	respeito	à	educação,	seus	princípios	funda-
mentais,	e	objetivos.	Os	artigos	205	a	214	são	os	que	norteiam	as	demandas	educacionais	
no	Brasil.	O	artigo	205	diz	o	seguinte:	“A	educação,	direito	de	todos	é	dever	do	estado	e	da	
família,	será	promovida	e	 incentivada	com	a	colaboração	da	sociedade,	visando	o	pleno	
desenvolvimento	da	pessoa,	seu	preparo	para	exercício	da	cidadania	e	sua	qualificação	
para	o	trabalho”	(BRASIL,	1988).
Assinalamos	que	temos	uma	seção	inteira,	neste	documento,	dedicada	à	Educa-
ção,	 pois	 a	 constituição	 valoriza	 sua	 importância	e	 destaca	 seus	princípios	norteadores	
como	o	desenvolvimento	pleno	do	indivíduo,	o	preparo	para	a	cidadania	e	a	qualificação	
adequada	para	o	trabalho.
A	constituição	garanteque	a	educação	seja	um	direito	de	todos	e	dever	do	estado.	
Assim,	a	partir	de	1988,	o	estado	passa	a	se	responsabilizar	formalmente	por	esse	acesso	
democrático	ao	estudo.	Esse	documento	garante	o	ensino	primário,	fundamental	e	médio	
a	todas	as	crianças	de	4	a	17	anos	e	determina	que	ele	seja	gratuito	para	todos,	visto	que	
outrora	era	gratuito	apenas	para	aqueles	que	comprovassem	carência	de	recursos.
Cabe	destacar	um	fator	que	diferencia	esse	documento,	que	é	o	da	participação	de	
grupos	civis	em	sua	elaboração.	Associações	científicas,	especialistas	e	grupos	da	comu-
nidade	nacional	puderam	participar	desse	processo.
31UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
1.2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB
No	mês	de	dezembro	de	1961,	o	presidente	João	Goulart	promulgou	a	primeira	
Lei	de	Diretrizes	e	Bases	para	a	educação	com	base	na	Constituição.	A	LDB	foi	uma	das	
maiores	articulações	para	educação	no	Brasil,	e,	ao	longo	do	tempo,	passou	por	inúmeras	
modificações	que	trouxeram	benefícios	à	população	brasileira	no	que	tange	a	educação.	
Foram	três	documentos	promulgados,	um	em	1961,	outro	em	1971	e,	finalmente,	em	1996.
No	que	se	 refere	à	educação,	a	LDB	constitui-se	 como	o	 conjunto	de	 leis	mais	
importante.	Foi	organizada	para	garantir	o	direito	educacional	para	a	população,	para	valo-
rizar	os	profissionais	desta	área,	e,	por	fim,	implementar	o	dever	dos	municípios,	do	Estado	
e	da	União	à	educação	pública	e	gratuita.
Por	 sua	vez,	 referente	ao	Ensino	Religioso,	a	primeira	LDB	diz	o	seguinte,	no	
artigo	97:
O	ensino	religioso	constitui	disciplina	dos	horários	das	escolas	oficiais,	é	de	
matrícula	facultativa,	e	será	ministrado	sem	ônus	para	os	poderes	públicos,	
de	acordo	com	a	confissão	 religiosa	do	aluno,	manifestada	por	ele,	 se	 for	
capaz,	ou	pelo	seu	representante	legal	ou	responsável.	§	1º	A	formação	de	
classe	para	o	 ensino	 religioso	 independe	de	número	mínimo	de	alunos.	 §	
2º	O	 registro	dos	professores	de	ensino	 religioso	será	 realizado	perante	a	
autoridade	religiosa	respectiva	(BRASIL,	1961).
No	 período	 conhecido	 como	 ditadura	 militar,	 foi	 organizada	 a	 segunda	 LDB	
(5992/71),	nesta,	há	uma	mudança	na	intencionalidade	da	disciplina	de	Ensino	Religioso,	
que	passa	a	ser	nomeada	como	Educação	Moral	e	Cívica.	Diante	disso,	seu	objetivo	passa	
a	ser	educar	para	o	patriotismo	e	submissão	ao	Estado.	
Art.	7º	Será	obrigatória	a	 inclusão	de	Educação	Moral	e	Cívica,	Educação	
Física,	Educação	Artística	e	Programas	de	Saúde	nos	currículos	plenos	dos	
estabelecimentos	de	lº	e	2º	graus,	observado	quanto	à	primeira	o	disposto	no	
Decreto-Lei	n.	369,	de	12	de	setembro	de	1969.	Parágrafo único.	O	ensino	
religioso,	de	matrícula	facultativa,	constituirá	disciplina	dos	horários	normais	
dos	estabelecimentos	oficiais	de	1º	e	2º	graus	(BRASIL,	1971).
Por	fim,	destacamos	aquela	que	é	conhecida	como	Carta	Magna	da	educação	no	
Brasil,	a	Lei	9394,	de	1996,	que	propôs	inovações	e	permitiu	avanços	significativos	para	o	
sistema	educacional.	Sobre	o	Ensino	Religioso	a	Lei	diz:
O	ensino	religioso,	de	matrícula	facultativa,	constitui	disciplina	dos	horários	
normais	das	escolas	públicas	de	ensino	fundamental,	sendo	oferecido,	sem	
ônus	para	os	cofres	públicos,	de	acordo	com	as	preferências	manifestadas	
pelos	alunos	ou	por	seus	responsáveis,	em	caráter	facultativo:
I	 -	 confessional,	 de	 acordo	 com	 a	 opção	 religiosa	 do	 aluno	 ou	 do	 seu	
responsável,	 ministrado	 por	 professores	 ou	 orientadores	 religiosos	 prepa-
rados	e	credenciados	pelas	 respectivas	 igrejas	ou	entidades	 religiosas;	ou	
II	 -	 interconfessional,	resultante	de	acordo	entre	as	diversas	entidades	reli-
giosas,	 que	 se	 responsabilizarão	 pela	 elaboração	 do	 respectivo	 programa	
(BRASIL,	1996).
32UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Uma	das	militâncias	quanto	a	disciplina	de	Ensino	Religioso	é	o	Fórum	Nacional	
Permanente	do	Ensino	Religioso	(FONAPER),	que	apresenta	uma	proposta	de	práticas	do-
centes	vinculadas	às	ciências	das	religiões,	prezando	pela	diversidade	cultural	e	religiosa.
1.2.2 Base Nacional Comum Curricular - BNCC
Mais	 recentemente,	em	dezembro	de	2017,	a	BNCC	 foi	homologada	pelo	MEC,	
com	intuito	de	organizar	e	melhorar	a	qualidade	de	ensino	no	Brasil.	Entre	seus	objetivos	
estão:	contribuir	para	melhor	elaboração	dos	currículos	locais,	formação	inicial	e	continuada	
dos	professores,	material	didático,	avaliação	e	apoio	pedagógico	aos	alunos.	
O	documento	também	relata	a	respeito	do	Ensino	Religioso	o	seguinte:
Proporcionar	 a	 aprendizagem	 dos	 conhecimentos	 religiosos,	 culturais	 e	
estéticos,	 a	 partir	 das	 manifestações	 religiosas	 percebidas	 na	 realidade	
dos	educandos;	b)	Propiciar	 conhecimentos	 sobre	o	direito	à	 liberdade	de	
consciência	e	de	crença,	no	constante	propósito	de	promoção	dos	direitos	
humanos;	c)	Desenvolver	competências	e	habilidades	que	contribuam	para	
o	 diálogo	 entre	 perspectivas	 religiosas	 e	 seculares	 de	 vida,	 exercitando	 o	
respeito	à	liberdade	de	concepções	e	o	pluralismo	de	ideias,	de	acordo	com	
a	Constituição	Federal;	d)	Contribuir	para	que	os	educandos	construam	seus	
sentidos	pessoais	de	vida	a	partir	de	valores,	princípios	éticos	e	da	cidadania	
(BRASIL,	2017,	p.	434).
O	documento	apresenta	o	respeito	à	diversidade	e	a	importância	do	conhecimen-
to	das	 inúmeras	 crenças,	a	 liberdade	da	população	de	escolher	 suas	crenças,	além	de	
promover	o	desenvolvimento	de	habilidades	para	a	interação	entre	a	população	quanto	a	
diversidade	religiosa	no	país.
Neste	tópico,	conhecemos	sobre	as	políticas	públicas	do	Brasil	para	a	educação	e	
trilhamos	o	caminho	pedagógico	da	disciplina	de	Ensino	Religioso.	Compreendemos	suas	
políticas	públicas,	as	principais	leis	que	regulamentam	o	ensino	e	como	essa	disciplina	tem	
sua	relevância	na	sociedade.	Encerramos	com	a	citação	da	BNCC:
A	área	do	Ensino	Religioso	não	se	reduz	à	apreensão	abstrata	dos	conheci-
mentos	religiosos,	mas	se	constitui	em	espaço	de	vivências	e	experiências,	
intercâmbios	 e	 diálogos	 permanentes,	 que	 visam	 ao	 enriquecimento	 das	
identidades	culturais,	 religiosas	e	não	religiosas.	 Isso	não	significa	a	 fusão	
das	 diferenças,	 mas	 um	 constante	 exercício	 de	 convivência	 e	 de	 mútuo	
reconhecimento	das	raízes	culturais	do	outro/a	e	de	si	mesmo,	de	modo	a	va-
lorar	identidades,	alteridades,	experiências	e	cosmovisões,	em	perspectivas	
interculturais.	(BNCC,	2016,	p.170).
33UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
2 PANORAMA DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PARA O ENSINO RELIGIOSO NO 
BRASIL
Para	compreender	a	situação	atual	do	Ensino	Religioso	no	Brasil	é	 fundamental	
que	se	faça	uma	retrospectiva	histórica,	problematizando	de	que	maneira	essa	disciplina	foi	
se	organizando	ao	longo	da	história	de	nosso	país,	em	diálogo	com	as	contínuas	disputas	
de	poder	institucional	e	sócio-políticas.
Conforme	Junqueira	(2015),	nos	séculos	XV	a	XIX,	o	ensino	religioso	foi	conduzido	
e	ministrado	majoritariamente	pelos	Jesuítas.	Ou	seja,	o	governo	não	intervinha	conside-
ravelmente	na	filosofia	educacional.	Essa	tarefa	era	realizada	pelos	religiosos	eclesiásti-
cos.	O	ensino	religioso	era	uma	ferramenta	de	doutrinação	que	se	praticava	por	meio	da	
catequese,	um	aparelho	 ideológico.	Assim,	a	função	do	ensino	religioso	era	doutrinar	os	
povos	escravizados,	trazidos	forçosamente	para	o	Brasil,	e	os	povos	indígenas	(primeiros	
habitantes	das	Américas).	Esse	ensino	impunha	e	mantinha	uma	ordem	estabelecida.
Como	 consequência	 dessa	 doutrinação,	 ainda	 hoje,	 segundo	 Borin	 (2018),	 inú-
meros	professores,	por	não	 terem	um	referencial	 teórico	em	suas	práticas	pedagógicas,	
ficam	perdidos	no	ensino	da	disciplina,	suas	aulas	são	planejadas	com	base	em	valores	
cristãos,	desvinculados	dos	novos	paradigmas	educacionais.	Paradigmas	de	emancipação	
e	liberdade	religiosa.
Já	no	período	da	monarquia,	o	impériodetermina	que	o	Ensino	Religioso	no	Brasil	
deve	ser	orientado	segundo	as	doutrinas	da	Igreja	Católica	Apostólica	Romana.	As	aulas	
34UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
eram	direcionadas	por	padres	por	meio	de	catequeses	e	novamente	com	o	intuito	de	dou-
trinar	índios,	negros	e	os	menos	favorecidos.	Conforme	relata	Casseb	(2009),	o	texto	da	
Carta	Magna	de	1824	mantinha	a	Religião	Católica	como	a	Religião	oficial	do	Império,	o	
Ensino	Religioso	era	desenvolvido	como	meio	de	evangelização	dos	gentios	e	catequese	
dos	negros	(aparelho	ideológico),	em	concordância	com	os	acordos	estabelecidos	entre	o	
Sumo	Pontífice	e	o	Monarca	de	Portugal.
Nesse	contexto,	o	ensino	religioso	ultrapassa	suas	possíveis	 intenções	de	trans-
cendência,	visto	que	após	a	Independência,	a	Constituição	Imperial	de	1824	ainda	restrin-
gia	as	vivências	de	outras	religiões,	bem	como	o	culto	doméstico	ou	individual.	O	Ensino	
Religioso,	da	maneira	como	foi	organizado	e	utilizado,	apresentava	opressão	e	violência,	
pois	o	credo	e	a	religião	foram	impostos	de	forma	abusiva.	
Embora	tenha	sido	utilizado	para	doutrinar	e	catequizar	no	período	colonial	e	mo-
narca,	hoje,	de	acordo	com	as	possibilidades	que	o	Estado	oferece,	os	professores	e	edu-
cadores	têm	a	responsabilidade	de	proporcionar	aos	educandos	um	ensino	que	possibilite	
ampliar	suas	vivências	e	experiências,	com	objetivo	de	alcançar	uma	aprendizagem	mais	
significativa.	O	Ensino	Religioso	pode	sim	contribuir	para	a	formação	básica	de	um	cidadão,	
como	prevê	a	no	artigo	32	da	Lei	de	Diretrizes	e	Bases	da	Educação	(BRASIL,	1996):
I.	 o	desenvolvimento	da	capacidade	de	aprender,	 tendo	como	meios	básicos	o	
pleno	domínio	da	leitura,	da	escrita	e	do	cálculo;	
II.	 a	compreensão	do	ambiente	natural	e	social,	do	sistema	político,	da	tecnologia,	
das	artes	e	dos	valores	em	que	se	fundamenta	a	sociedade;	
III.	o	desenvolvimento	da	capacidade	de	aprendizagem,	tendo	em	vista	a	aquisição	
de	conhecimentos	e	habilidades	e	a	formação	de	atitudes	e	valores;	
IV.	o	fortalecimento	dos	vínculos	de	família,	dos	laços	de	solidariedade	humana	e	
de	tolerância	recíproca	em	que	se	assenta	a	vida	social.
O	quadro	a	seguir,	organizado	por	Borin	(2018),	auxilia	na	compreensão	do	pano-
rama	histórico	do	ensino	religioso.
35UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Quadro 1 -	Primeira	fase	do	ensino	religioso	no	Brasil
Fonte:	Borin	(2018).
Chegamos	então	no	período	republicano,	marcado	pela	separação	do	Estado	e	da	
Igreja.	Neste	período,	a	Constituição	da	República	de	1824	defende	a	laicidade,	ou	seja,	
neutralidade	do	Estado	para	com	assuntos	religiosos.	Reconhecendo	de	certa	forma	que	
outrora	utilizava	do	mesmo	como	forma	de	manipulação.
Segundo	Borin	(2018),	a	primeira	constituição	não	teve	muito	sucesso	no	período	
da	“República	velha”,	de	1889	a	1930,	visto	que	o	catolicismo	exercia	muita	influência	sobre	
o	ensino	religioso	no	Brasil.	Um	exemplo	disso	aconteceu	em	Minas	Gerais,	no	qual	a	Lei	
nº	1092,	de	12	de	outubro	de	1929,	permitiu	o	ensino	religioso	nas	escolas	públicas,	no	
horário	das	aulas	convencionais.	Com	o	passar	do	tempo	e	a	chegada	da	revolução,	novas	
mudanças	aconteceram	em	relação	ao	ensino	religioso	nas	escolas	públicas.	Mais	próximo	
do	governo	de	Getúlio	Vargas,	a	igreja	católica	novamente	legitimou	a	instrução	religiosa	
nos	bancos	escolares	por	meio	do	decreto	nº	19.941	do	dia	30	de	abril	de	1931.	Porém,	o	
ensino	religioso	agora	foi	implantado	de	modo	facultativo	nos	níveis	primário,	secundário	e	
normal.
O	 próximo	 documento,	 conhecido	 como	 carta	 Magna,	 também	 não	 aprimora	 a	
legislação	da	disciplina,	visto	que	no	artigo	97	está	registrado:
Art	97:	O	ensino	religioso	constitui	disciplina	dos	horários	das	escolas	oficiais,	
é	de	matrícula	facultativa,	e	será	ministrado	sem	ônus	para	os	poderes	públi-
cos,	de	acordo	com	a	confissão	religiosa	do	aluno,	manifestada	por	ele,	se	for	
capaz,	ou	pelo	seu	representante	legal	ou	responsável.
1º	A	formação	de	classe	para	o	ensino	religioso	independe	de	número	mínimo	
de	alunos.
2ºO	 registro	 de	 professores	 de	 ensino	 religioso	 será	 realizado	 perante	 a	
autoridade	religiosa	respectiva.	(BRASIL,	1961).
36UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Notamos	que	a	organização	legal	desse	componente	curricular	está	permeada	e	
vinculada	à	religião	e	não	aos	saberes	e	o	entendimento	das	tradições	e	do	sentido	da	vida.	
Pois	essa	maneira	de	organizar	o	ensino	tem	por	finalidade	tornar	as	pessoas	religiosas.
Quadro 2 -	Segunda	fase	do	ensino	religioso	no	Brasil
 
Fonte:	Borin	(2018).
Após	o	período	 republicano,	 chegamos	ao	período	da	ditadura	militar	 em	1964,	
e	a	educação	ganha	novos	formatos	e	intenções.	Mudanças	aconteceram	primeiramente	
no	ensino	superior	com	objetivo	de	condicionar	e	difundir	novos	valores	de	cidadania	ao	
povo.	É	nesse	período	que	uma	nova	disciplina	passa	a	fazer	parte	da	proposta	curricular,	
a	disciplina	de	Moral	e	Cívica.	Com	intenção	de	valorizar	o	civismo	e	o	patriotismo,	ficam	
evidentes	as	intenções	do	governo	autoritário	nas	palavras	de	Filgueiras	(2006,	p.	3377-
3378):
Os	militares	utilizaram	a	educação	de	forma	estratégica,	controlando‐a	polí-
tica	e	 ideologicamente.	A	concepção	de	educação	do	regime	militar	estava	
centrada	na	formação	de	capital	humano,	em	atendimento	as	necessidades	
do	mercado	e	da	produção.	A	escola	era	considerada	uma	das	grandes	di-
fusoras	da	nova	mentalidade	a	ser	inculcada	–	da	formação	de	um	espírito	
nacional.	A	reforma	do	ensino	propôs	um	modelo	de	socialização,	que	tinha	
como	estratégia	educar	as	crianças	e	jovens	nos	valores	e	no	universo	moral	
conformando	os	comportamentos	do	homem,	da	mulher	e	o	vínculo	familiar.	
Novamente,	nesse	período,	há	uma	aproximação	entre	Igreja	e	Estado,	visto	que	
a	igreja	seria	responsável	pela	disciplina	Educação	Moral	e	Cívica,	que	pretendia	educar	
o	caráter	dos	estudantes	a	fim	de	moldá-los	para	atender	suas	responsabilidades	com	o	
37UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Estado	segundo	o	modelo	militar.	Mesmo	assim,	a	disciplina	de	Ensino	Religioso	não	se	
tornou	obrigatória,	permanente,	e	de	matrícula	facultativa.
A	educação	foi	utilizada	nessa	época	como	forma	de	preparar	os	estudantes	para	
o	 trabalho	e	atender	a	demanda	da	economia,	em	virtude	de	o	país	estar	em	crescente	
industrialização.
Foi	nesse	momento	histórico	que	a	Lei	de	diretrizes	e	bases	da	educação	foi	edi-
tada	(Lei	nº	5.692),	e	a	partir	dela,	o	Ensino	Religioso	passou	a	ter	o	objetivo	de	preparar	o	
cidadão	para	cumprir	suas	obrigações,	mantendo	o	respeito	pelas	autoridades.	A	lei	propõe	
que	os	cidadãos	vivenciem	valores	morais	e	espirituais.
Quadro 3 -	Terceira	fase	do	ensino	religioso	no	Brasil
Fonte:	Borin	(2018).
Por	sua	vez,	após	o	regime	militar,	nas	décadas	de	1980	e	1990,	muitas	mudanças	
aconteceram	no	panorama	social	e	histórico	do	país,	devido	aos	novos	princípios	de	edu-
cação	e	suas	práticas.	A	partir	da	Lei	nº	9.394	(BRASIL,	1996)	e	da	Constituição	de	1988,	
houve	uma	abertura	social	e	política	aparentemente	emancipadora.
Conforme	Mocellin	 (2008),	 a	 carta	Magna	 recupera	 propostas	 que	 permitem	ao	
educando	vivenciar	na	escola	uma	experiência	de	conhecimento	mais	amplo,	dando-lhe	
oportunidades	de	encontrar	respostas	para	questões	existenciais	no	encontro	e	na	convi-
vência	com	as	diferenças.
Por	meio	dessas	mudanças	 sociais	 e	 políticas,	 a	 disciplina	 de	Ensino	Religioso	
também	poderia	contribuir	para	um	processo	de	educação	mais	autônomo,	visto	que	os	
38UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
princípios	 dos	 documentos	 citados	 apresentavam	 esse	 caráter.	 Conforme	Borin	 (2018),	
a	educação	no	mundo	contemporâneo	busca	conduzir	os	alunos	a	uma	percepção	mais	
ampla	do	ser	humano	e	não	os	conduzir	pela	catequese.
Um	exemplo	destas	mudançasé	notório	na	Lei	nº	9475/97	da	LDB,	no	artigo	33.	O	
artigo	assegura	o	respeito	à	diversidade	cultural	religiosa.
Art.	 33.	 O	 ensino	 religioso,	 de	matrícula	 facultativa,	 é	 parte	 integrante	 da	
formação	básica	do	cidadão	e	constitui	disciplina	dos	horários	normais	das	
escolas	públicas	de	ensino	fundamental,	assegurado	o	respeito	à	diversidade	
cultural	religiosa	do	Brasil,	vedadas	quaisquer	formas	de	proselitismo.	(Reda-
ção	dada	pela	Lei	nº	9.475,	de	22.7.1997)	
§	 1º	Os	 sistemas	de	 ensino	 regulamentarão	 os	 procedimentos	 para	 a	 de-
finição	dos	conteúdos	do	ensino	 religioso	e	estabelecerão	as	normas	para	
a	 habilitação	 e	 admissão	 dos	 professores.	 (Incluído	 pela	 Lei	 nº	 9.475,	 de	
22.7.1997)
§	2º	Os	sistemas	de	ensino	ouvirão	entidade	civil,	constituída	pelas	diferentes	
denominações	religiosas,	para	a	definição	dos	conteúdos	do	ensino	religioso	
(BRASIL,	1997).
Porém	alguns	pontos	do	artigo	parecem	contraditórios.	A	disciplina	de	Ensino	Re-
ligioso	é	apresentada	como	forma	integrante	da	formação	do	cidadão,	mas	permanece	de	
caráter	facultativo.	Desta	forma,	não	contempla	a	formação	proposta	pela	lei	e	nem	respeita	
a	formação	integral	do	ser	humano.	A	disciplina	que	poderia	contribuir	para	formação	de	
valores,	virtudes	e	propiciar	uma	nova	reflexão	sobre	o	sentido	da	vida	não	corresponde	a	
seu	propósito	maior.
Outro	aspecto	presente	na	lei	é	vedar	o	proselitismo	(conversão	para	uma	religião),	
ou	seja,	o	objetivo	com	as	práticas	educacionais	para	o	Ensino	Religioso	não	são	ensinar	
para	converter	para	uma	religião,	mas	sim	explorar	a	diversidade	de	crenças.	Suas	bases	
deveriam	estar	 na	questão	do	 sentido	da	 vida	e	na	dimensão	do	 sagrado	nas	diversas	
concepções	e	tradições	religiosas.
Podemos	concluir	que	a	trajetória	da	proposta	curricular	para	o	Ensino	Religioso	
apresentou	avanços,	visto	que	possibilita	ao	educando	uma	visão	mais	ampla	para	o	as-
sunto,	dando-lhe	possibilidades	de	escolha	 religiosa.	Mas,	seu	conteúdo	ainda	se	 limita	
ao	desenvolvimento	de	valores	e	conhecimento	sobre	a	história	de	como	as	crenças	se	
desenvolveram	ao	longo	do	tempo.	
No	entanto,	segundo	os	pesquisadores	a	disciplina,	poderia	ampliar	ainda	mais	seu	
significado	e	abrangência,	pois	em	nosso	país	há	muitos	tipos	de	crenças,	porém	grande	
preconceito	e	intolerância	entre	os	diferentes	grupos	religiosos.	Borin	(2018)	enfatiza	que	
seria	necessário	conhecer	mais	profundamente	os	valores	espirituais	e	éticos	que	permeiam	
a	vida	de	todos	os	seres	humanos,	aqueles	valores	fundamentais,	para	que	houvesse	mais	
respeito	e	harmonia	na	sociedade,	no	que	tange	às	relações	inter-religiosas.
39UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
Quadro 4 -	Quarta	fase	do	ensino	religioso	no	Brasil
Fonte:	Borin	(2018).
40UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
SAIBA MAIS
Se	o	Ensino	Religioso	está	presente	nas	escolas,	como	ele	se	manifesta	ou	é	exposto?
Em	pesquisa	com	os	diretores	de	escolas	públicas,	o	questionário	da	provinha	Brasil	
indica:
●	 66%	ministram	aulas	de	Ensino	Religioso.
●	 51%	têm	o	costume	de	fazer	orações	ou	cantar	músicas	religiosas.
●	 22%	têm	objetos,	imagens,	frases	ou	símbolos	religiosos	expostos.
Fonte:	Questionário	Diretor	Prova	Brasil	(2011).	Recuperado	de:	https://novaescola.org.br/conteudo/74/
ensino-religioso-e-escola-publica-uma-relacao-delicada	
REFLITA
O	Ensino	Religioso	como	é	organizado	no	Brasil	produz	resultados	satisfatórios	na	so-
ciedade?	Você	acha	que	ele	deveria	ser	repensado	ou	deveria	ser	extinto	das	escolas?	
Se	repensado,	como?	Se	extinto,	por	quê?
Fonte:	a	autora.	
https://novaescola.org.br/conteudo/74/ensino-religioso-e-escola-publica-uma-relacao-delicada
https://novaescola.org.br/conteudo/74/ensino-religioso-e-escola-publica-uma-relacao-delicada
41UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a)	estudante,	no	decorrer	desta	unidade,	pudemos	ver	como	a	disciplina	de	
Ensino	Religioso	se	organizou	ao	longo	da	história	do	Brasil.	Entendemos	que	as	mudanças	
curriculares	são	organizadas	pelas	políticas	públicas	e	que	estão	sujeitas	à	organização	
política,	ou	seja,	atreladas	ao	poder.
No	primeiro	 tópico,	conhecemos	o	que	é	uma	política	pública	no	Brasil	e	enfati-
zamos	as	principais	 leis	para	a	educação.	Também	 trilhamos	o	caminho	pedagógico	da	
disciplina	de	Ensino	Religioso,	compreendendo	suas	implicações	sociais,	as	principais	leis	
que	 normatizam	o	 ensino	 e	 como	essa	 disciplina	 tem	adquirido	mais	 relevância	 para	 a	
sociedade.	
Em	seguida,	 realizamos	um	panorama	histórico	de	 como	o	Ensino	Religioso	 se	
apresentou	no	período	Colonial,	Monarquia,	República	até	nossos	dias.	Percebemos	que	o	
Ensino	Religioso	foi	utilizado	como	ferramenta	ideológica,	mais	que	com	o	desenvolvimento	
da	sociedade	também	foi	se	modificando	e	ganhando	novas	dimensões.
Porém,	 segundo	 os	 pesquisadores,	 a	 disciplina	 poderia	 ampliar	 ainda	mais	 seu	
significado	e	abrangência,	visto	que	em	nosso	país	há	muitos	tipos	de	crenças,	mas	pre-
conceito	entre	a	população	religiosa.	Borin	(2018)	enfatiza	que	seria	necessário	conhecer	
mais	profundamente	os	valores	espirituais	e	éticos	que	permeiam	a	vida	de	todos	os	seres	
humanos,	aqueles	valores	fundamentais,	para	que	houvesse	mais	respeito	e	harmonia	na	
sociedade,	no	que	tange	às	relações	inter-religiosas.	
Na	 próxima	 unidade	 realizaremos	 um	 debate	 historiográfico	 no	 que	 concerne	 a	
importância	da	maçonaria	e	sua	postura	anticlerical	para	o	ensino	laico	no	Brasil.
42UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
LEITURA COMPLEMENTAR
Políticas	e	práticas	curriculares:	a	formação	dos	professores	de	ensino	religioso:	https://sa-
pientia.pucsp.br/bitstream/handle/10018/1/Lurdes%20Caron%20desp%20(sem%20o%20
anexo%203).pdf	
Hegemonia	e	confronto	na	produção	da	segunda	LDB:	o	ensino	religioso	nas	escolas	pú-
blicas:	https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8642484
A	luta	pela	ética	no	ensino	fundamental:	religiosa	ou	laica?
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742009000200005&script=sci_arttext
Liberalismo	Político,	constitucionalismo	e	democracia:	a	questão	do	ensino	religioso	nas	
escolas	públicas.	https://repositorio.unb.br/handle/10482/2664
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/10018/1/Lurdes%20Caron%20desp%20(sem%20o%20anexo%203).pdf
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/10018/1/Lurdes%20Caron%20desp%20(sem%20o%20anexo%203).pdf
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/10018/1/Lurdes%20Caron%20desp%20(sem%20o%20anexo%203).pdf
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8642484
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742009000200005&script=sci_arttext
https://repositorio.unb.br/handle/10482/2664
43UNIDADE II Políticas Públicas de Educação para o Ensino Religioso no Brasil
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
•	Título:	Ensino	Religioso	no	Brasil
•	Sérgio	Rogério	Azevedo	Junqueira	
•	 Sinopse:	Ao	 longo	 da	 história	 do	 Brasil,	 o	 ensino	 religioso	 foi	
permeado	pelas	culturas	indígenas,	africanas	e	pelo	cristianismo.	
Este	encontro	religioso	provocou	um	sincretismo	que	não	permite	
uniformização	 religiosa.	O	 livro	 indicado	 trata	 da	 importância	 de	
conhecer	e	respeitar	esta	diversidade	em	nível	 legislativo	e	geo-
gráfico.
FILME/VÍDEO
•	Título:	O	auto	da	compadecida
•	Ano:	2000
•	 Sinopse:	O	 filme	mostra	 as	 aventuras	 de	 João	Grilo	 e	 Chicó,	
dois	nordestinos	pobres	que	vivem	de	golpes	para	sobreviver.	Eles	
estão	sempre	enganando	o	povo	de	um	pequeno	vilarejo	no	sertão	
da	Paraíba,	 inclusive	 o	 temido	 cangaceiro	Severino	 de	Aracaju,	
que	os	persegue	pela	região.	Somente	a	aparição	da	Nossa	Se-
nhora	poderá	salvar	essa	dupla.	O	filme	apresenta	a	religiosidade	
da	época	de	forma	peculiar.
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Plano de Estudo:
•	A	Maçonaria	e	a	relação	com	o	catolicismo.
Objetivos de Aprendizagem:

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