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TÉCNICAS E PROCESSOS DE SELEÇÃO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Deborah Riggenbach Ramiro Zinder CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof.ª Jeisa Benevenuti Sartorelli Revisão Gramatical: Prof.ª Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 331.125 R569t Riggenbach, Deborah. Técnicas e Processos de Seleção / Deborah Riggenbach [e] Ramiro Zinder. Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2009. x ; 76 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830- 209-2 1. Recursos Humanos 2. Seleção de Pessoas I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II. Zinder, Ramiro III. Núcleo de Ensino a Distância IV. Título Copyright © UNIASSELVI 2009 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Ramiro Zinder Deborah Riggenbach Possui graduação em Psicologia (2004) pela Universidade do Vale do Itajaí. É especialista em Psicologia Clínica (2005) pela PUC do Paraná, Mestre em Linguística (2007) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando em Psicologia na área de Aprendizagem, Processos Organizacionais e Trabalho. Atualmente leciona disciplinas relacionadas à área de Gestão de Pessoas, orientando trabalhos de conclusão de curso na área e é Coordenador de Curso de Pós-Graduação em Psicologia Organizacional e do Trabalho. Possui publicações em temas como trabalho em equipe, liderança e motivação. Possui graduação em Psicologia (2004) pela Universidade do Vale do Itajaí. É especialista em Gestão de Recursos Humanos (2005) pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestre em Psicologia na área de Aprendizagem, Processos Organizacionais e Trabalho (2007), pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é Psicóloga da Organização Não-Governamental, Irmandade do Divino Espírito Santo – IDES/PROMENOR, Professora da disciplina de Administração de Recursos Humanos, orientando trabalhos de conclusão de curso nessa área, e, na pós-graduação, leciona as disciplinas de Responsabilidade Social e Integração e Relacionamento Interpessoal. Possui publicações na área de liderança, criatividade e trabalho em equipe. Universidade do Vale do Itajaí. É especialista em Psicologia Clínica (2005) pela PUC do Paraná, Mestre em Linguística (2007) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando em Psicologia na área de Aprendizagem, Processos Organizacionais e Trabalho. Universidade do Vale do Itajaí. É especialista em Gestão de Recursos Humanos (2005) pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestre em Psicologia na área de Aprendizagem, Processos Organizacionais e Trabalho (2007), pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é Psicóloga da Organização Não-Governamental, Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Conceitos sobre Seleção de Pessoas ................................9 CAPÍTULO 2 Técnicas e Procedimentos de Seleção de Pessoas ........25 CAPÍTULO 3 Aspectos Éticos em Seleção de Pessoas ..........................51 CAPÍTULO 4 Seleção por Competências ..................................................65 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): A presente disciplina trata das técnicas e dos processos envolvidos na seleção de pessoas nas organizações. Na disciplina de Gestão de Pessoas você já deve ter estudado a relevância desta área para o sucesso das operações de uma organização. Quando falamos mais especificamente em seleção de pessoal, estamos nos referindo à “porta de entrada” das pessoas em uma organização. Quando existe um desalinhamento entre as expectativas e valores individuais e organizacionais ocorre a insatisfação no trabalho, a desmotivação e, por consequência, a baixa produtividade. O processo de seleção está diretamente relacionado a isso, e é o que você aprenderá nesta disciplina. Então, para uma maior compreensão dessa temática, no capítulo 1 se discorrerá sobre os conceitos referentes à seleção de pessoas, buscando promover uma maior compreensão sobre as definições relacionadas à mesma e fomentar a discussão sobre os processos de seleção no contexto organizacional, para que você possa estar apto a diagnosticar, planejar, executar e avaliar tal processo. O capítulo 2 irá abordar as técnicas e procedimentos em seleção de pessoas, clarificando as ferramentas estratégicas utilizadas pelos profissionais da área de gestão de pessoas e demonstrando como empregar técnicas e procedimentos de seleção, de acordo com cada cargo. O capítulo 3 apresenta os aspectos éticos na seleção de pessoas, possibilitando o esclarecimento da diferença entre os métodos adequados e inadequados em um processo de seleção, atualizando sobre as práticas contemporâneas desses processos e fazendo com que seja desenvolvida a capacidade de formação de profissionais com comportamentos éticos nessa área. Por fim, o capítulo 4 irá descrever a seleção por competências, conceito moderno, que, por sua vez, vem ganhando amplo espaço nas organizações por apresentar inúmeras vantagens que serão esclarecidas neste capítulo. Serão apresentados conceitos de técnicas de seleção por competências, esclarecendo a diferença entre os processos clássicos de seleção e o que se apresenta no último capítulo deste caderno de estudos. Os autores. CAPÍTULO 1 Conceitos sobre Seleção de Pessoas A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender as defi nições relacionadas à seleção de pessoas. Esclarecer a discussão sobre os processos de seleção dentro do contexto organizacional, refl etindo sobre o papel dos recursos humanos. Planejar os processos de seleção de pessoas nas organizações. Diagnosticar, executar e avaliar processos de seleção de pessoas nas organi- zações. 10 Técnicas e Processos de Seleção 11 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 ConteXtualiZação Este capítulo trata dos conceitos atribuídos à seleção de pessoas. Para que você possa ter uma maior compreensão das técnicas e procedimentos utilizados na área, que é o capítulo 2 desta apostila, dos aspectos éticos e da seleção por competências, que é o nosso último capítulo, é essencial o entendimento do que signifi ca este processo e da importância do mesmo para que a organização consiga com êxito atingir seus objetivos. Para tanto, inicialmente vamos discutir as diversas concepções sobre o processo de seleção, sua importância e o processo de delineamento do mesmo. A seleção de pessoas é um dos processos mais relevantes que envolvem a área de gestão de pessoas, pois se confi gura como a porta de entrada dos indivíduos na organização. Os gestores de forma geral têm procurado agregar à sua equipe pessoas que de fato tragam valor à organização, auxiliando-a a atingir com sucesso sua missão e visão. Sendo assim, se o processo de seleção não for devidamente estruturado e planejado, a organização e as equipes de trabalho que a compõem poderão ter seus desempenhos prejudicados. Você já deve ter vivenciado ou ouvido comentários de pessoas que passaram por processos de seleção mal planejados e que saíram frustradas e com uma imagem negativa da organização.Já deve ter visto também pessoas sem o perfi l para ocupar determinado cargo em uma organização, gerando confl itos tanto com os clientes externos quanto internos. Isso geralmente ocorre por um entendimento distorcido, por parte dos gestores, sobre o processo de seleção, pelo desconhecimento de suas características, técnicas e relevância. Sendo assim, no primeiro capítulo deste caderno de estudo você poderá ampliar suas aprendizagens estudando o que autores clássicos na área revelam sobre esse processo, em relação à sua defi nição e importância na gestão de pessoas nas organizações. ConcepçÕes Sobre a Seleção de Pessoas As organizações vêm procurando cada vez mais aprimorar seus processos, a fi m de utilizar o melhor método para a captação de pessoas que se adaptem à sua necessidade, tendo como objetivo selecionar pessoas com qualifi cação, potencial e, em especial, comprometidas. Algumas organizações enfrentam altos índices de rotatividade e absenteísmo no trabalho, o que acaba por prejudicar tanto o desempenho da organização no alcance de sua missão quanto o desempenho dos colaboradores, que por muitas vezes fi cam sobrecarregados e desmotivados com a ausência de pessoas que os auxiliem na execução de suas tarefas. Mas o que é rotatividade e o que é absenteísmo? 12 Técnicas e Processos de Seleção A rotatividade, também conhecida como turnover, refere-se às saídas e entradas de pessoas em uma organização. Existem organizações com índices muito altos de rotatividade e os gestores com frequência se perguntam o que fazer para que isso não ocorra. É o exemplo de organizações sobre as quais se diz que “ninguém para naquela vaga”. Para Chiavenato (1999, p. 69), a rotatividade “refere-se ao fl uxo de entradas e saídas de pessoas em uma organização, ou seja, as entradas de pessoas para compensar as saídas das pessoas das organizações”. O absenteísmo corresponde às faltas justifi cadas ou injustifi cadas, chegadas tardias ou perícia médica, que diminuem o fl uxo de trabalho na organização. Por exemplo, o funcionário chegar todos os dias uma hora mais tarde, faltar e não avisar o porquê, pegar excesso de atestado, dentre outros. Mas por que será que isso acontece? Muitas vezes isso ocorre por alguma difi culdade que a organização apresenta ao gerir suas pessoas, o que está diretamente relacionado à gestão de pessoas na organização, mas também pode ocorrer por um processo de recrutamento e seleção pouco estruturado, sem critérios e sem analisar o perfi l desejado e o perfi l que os candidatos apresentam. Para Marras (2000), a seleção de pessoas é uma atividade de responsabilidade do sistema de gestão de pessoas, e tem por fi nalidade escolher candidatos a emprego recebidos pelo setor de recrutamento para atender necessidades internas da organização. Sendo assim, o processo de seleção se baseia na análise comparativa de dois campos, nas exigências do cargo e nas características do candidato. As exigências do cargo são as características que o cargo exige do profi ssional, em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho satisfatório de suas funções. As características do candidato se referem ao conjunto de conhecimentos e atitudes que o candidato possui para desempenhar as suas tarefas. Por exemplo, para um cargo de auxiliar administrativo, o desempenho dessa função pode exigir conhecimentos de informática, almoxarifado, redação, matemática básica, além de habilidade em lidar com o público e digitação, sendo exigidas atitudes como proatividade, fl exibilidade, comprometimento e relacionamento interpessoal. Assim sendo, durante o processo seletivo, por meio da aplicação das mais diversas técnicas, que você verá com detalhes no próximo capítulo, será necessário observar qual candidato apresenta as características que venham ao encontro das exigências do cargo a ser ocupado. Figura 1 – A seleção como uma comparação Fonte: Os autores (2009). O processo de seleção se baseia na análise comparativa de dois campos, nas exigências do cargo e nas características do candidato. ESPECIFICAÇÕES DO CARGO (O que o cargo ou vaga requer) CARACTERÍSTICAS DO CANDIDATO (O que o candidato oferece) versus 13 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 A comparação pode ocorrer quando o candidato demonstrar características inferiores às da especifi cação do cargo, podendo-se afi rmar que o candidato não apresenta o perfi l para a vaga e deve ser eliminado do processo. A comparação também ocorre quando o candidato apresenta características similares às exigidas pelo cargo, entendendo-se que o mesmo apresenta o perfi l para o desempenho das funções, sendo um forte candidato à vaga. E por fi m, a comparação ocorre quando o candidato supera os requisitos do cargo, apresentando um desempenho além do esperado. Neste último caso, é necessária uma avaliação criteriosa, pois contratar alguém com um perfi l além do exigido para o cargo poderá frustrar o profi ssional, caso a organização não tenha um plano de carreira e desenvolvimento ou salário justo às competências do profi ssional, podendo ocorrer a baixa produtividade e até mesmo a falta de comprometimento. Certa vez, ao selecionar um profi ssional para a vaga de auxiliar de manutenção, havia um candidato com um perfi l abaixo do esperado, uma vez que não tinha experiências anteriores, que eram requisito da vaga, demonstrou certa agressividade nas técnicas aplicadas. Outro candidato atendia às exigências da vaga, e o terceiro apresentava um perfi l muito além da vaga, demonstrando conhecimentos de outras línguas, informática e já havia ocupado o cargo de gerente. Certamente, alguns selecionadores escolheriam o último, por ter um perfi l que iria além daquele desejado, mas é certo também que este funcionário não permaneceria no emprego, caracterizando o que chamamos de rotatividade. Isso porque possui conhecimentos que no cotidiano de trabalho não serão utilizados, o que acabará causando certa frustração e a convicção de que seu potencial é maior do que o aplicado na organização. Foi selecionado então aquele candidato que apresentava o que o cargo exigia, não tendo maiores pretensões de ascensão profi ssional, que neste caso a organização não oferecia. É relevante também que você compreenda a distinção entre a seleção e o recrutamento. O recrutamento consiste em abastecer o processo seletivo de candidatos, correspondendo ao anúncio da vaga, seja em revistas, jornais, televisão, dentre outros meios de comunicação. O objetivo da seleção consiste em, diante dos candidatos advindos por meio do recrutamento, aplicar técnicas e procedimentos adequados ao preenchimento de determinada vaga. A partir do momento em que o currículo ou a carta de apresentação estão sendo analisados, já se denomina de seleção de pessoas. A seleção de pessoas tem, portanto, a fi nalidade de apontar, dentre os candidatos que já foram recrutados, aqueles que apresentam as características de acordo com o perfi l desejado pela organização. Constitui-se, assim, na escolha dos candidatos mais aptos para realizar determinada função. É importante lembrar que o processo de selecionar pessoas está baseado em informações advindas da 14 Técnicas e Processos de Seleção análise e descrição dos cargos que a organização possui, incluindo também o aspecto salarial. Para se manterem competitivas no mercado, as organizações vêm procurando oferecer cada vez mais salários competitivos, além de benefícios diversos que atraiam os candidatos a trabalharem nesta empresa e não em outras da concorrência. Algumas empresas oferecem auxílio-creche, horários fl exíveis de trabalho, cestas básicas, dentre outros diferenciais, de acordo com a sua clientela interna. É importante que toda organização tenha uma descrição e análise de cargos bem delimitada, pois, além de auxiliar no processo de seleção, auxilia na dinâmicaorganizacional e na efi ciência dos processos. Algumas pessoas pensam que selecionar pessoas envolve então encontrar, entre todos os candidatos para determinada vaga, aquele que se destaque e que tenha muitos cursos, graduações ou experiências anteriores. Esse pensamento permeia os comportamentos de muitos gestores, que acreditam que selecionar alguém que possua muitos cursos ou experiência profi ssional seja encontrar a pessoa certa para o lugar certo. Selecionar envolve técnicas e procedimentos, que você irá ver no capítulo 2 deste caderno de estudos. Para Limongi-França e Arellano (2002), admitir um funcionário cujo potencial é maior do que a capacidade da organização de oferecer oportunidades de desenvolvimento e crescimento provavelmente levará à desmotivação. É o que vimos no exemplo, citado anteriormente, do candidato para auxiliar de manutenção. Todavia, admitir um colaborador sem a qualifi cação necessária poderá gerar tensão e ansiedade, estresse e até irritabilidade, se a admissão não for gerenciada adequadamente, investindo-se em treinamento e desenvolvimento. Imagine que o setor está sobrecarregado pela ausência de determinado funcionário e a organização contrata alguém sem os requisitos mínimos necessários. É só você pensar como você se sentiria. No caso dos funcionários, pode haver resistência e confl itos, e no do recém-contratado, frustração e medo, por não conseguir executar as tarefas diárias. Nesse caso, se a organização não tiver alternativa a não ser contratar tal pessoa, o essencial é que se invista em treinamento e também no desenvolvimento do funcionário, oportunizando que o mesmo desenvolva as suas competências e sinta-se satisfeito na função que exerce. Por sua vez, a organização terá maior produtividade e credibilidade por parte de seus colaboradores. 15 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 O Grupo Accor realiza um trabalho de preparação de gestores sabendo que eles têm um papel decisivo na escolha dos candidatos. Eles procuram mostrar que não é um candidato que está na frente do selecionador, mas uma pessoa, e o gestor deve buscar o que há de mais signifi cativo nela. Fonte: GESTÃO. Melhor Gestão de Pessoas, ano 15, n. 238, set. 2007, p. 18. Atividade de Estudos: Você sabia... 1) O que você entendeu sobre os conceitos relacionados à seleção de pessoas? Pense nisso e registre as suas ideias aqui: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ A ImportÂncia da Seleção de Pessoas As pessoas constituem o ativo mais importante de que as organizações dispõem e devem ser recrutadas e selecionadas por profi ssionais capacitados para tal, já que falhas neste processo podem ocorrer e por sua vez comprometer outras ações que a organização queira desenvolver. Por exemplo, uma empresa 16 Técnicas e Processos de Seleção que, durante o processo de seleção, expõe os candidatos, fazendo-os esperar por horas e horas além do horário determinado e não dá retorno para os candidatos sobre a resposta. Que imagem da organização essas pessoas levarão? O que dirão sobre essa empresa para outros colegas que queiram se candidatar a uma vaga na mesma? Se você já passou por algum processo seletivo em uma organização, com certeza levou uma boa imagem da empresa, ou total descrédito. Sendo assim, o processo de seleção deve ser levado a sério e bem planejado. É o que você verá na próxima seção. Com o objetivo de minimizar as falhas acima citadas no processo de seleção, o departamento de gestão de pessoas da organização deve atuar como uma área de apoio, ou staff , para as gerências de linha. Com a nova postura adotada em relação à gestão de pessoas, os processos de seleção em muitas organizações não vêm sendo mais confi ados a um órgão específi co, mas às lideranças imediatas. Porém, nem sempre as pessoas às quais são atribuídas essas atividades dispõem dos conhecimentos e da experiência necessários, e por isso o setor de gestão de pessoas atua como um departamento de apoio às gerências. Quando o processo de seleção ocorre com falhas, e quando as gerências não possuem o conhecimento necessário para realizar tal processo, são empregadas pessoas sem a qualifi cação necessária para o desempenho das funções, o que custa caro à organização e pode acarretar problemas na produção e no relacionamento com os clientes externos e internos, gerando hostilidade por parte dos clientes e dos fornecedores e favorecendo confl itos interpessoais e intergrupais, o que acaba por aumentar a rotatividade de pessoal e gerar outras complicações (GIL, 2001). Sendo assim, a seleção passa a ter um papel fundamental na renovação de pessoas na organização e no prosseguimento da estratégia adotada pela mesma. Para você obter mais informações, bem como o acesso a artigos e cases da área, você pode acessar os sites: www.rh.com.br www.guiarh.com.br http://revistavocerh.abril.com.br/ http://revistamelhor.uol.com.br/ Como vimos, a seleção é fundamental no processo de renovação de pessoas, e quando estas ingressam na organização trazem consigo seus valores Os processos de seleção em muitas organizações não vêm sendo mais confi ados a um órgão específi co, mas às lideranças imediatas. 17 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 e crenças. Para Zanelli e Silva (2008, p.41), fi rma-se um contrato psicológico entre funcionário – organização, e no desenvolvimento dessas relações os trabalhadores constroem convicções sobre os deveres deles com a organização e vice-versa. Assim, sempre existem expectativas dos dois lados, da empresa e do funcionário: [...] geralmente as violações ou rupturas do contrato psicológico enfraquecem as relações de confi ança entre as partes envolvidas, repercutindo negativamente em processos psicológicos básicos como: motivação (conjunto de fatores internos e externos ao indivíduo que infl uenciam seu comportamento), satisfação no trabalho (prazer provocado pela atividade desempenhada) e comprometimento organizacional (grau de lealdade e outros aspectos do vínculo entre trabalhador e organização). (ZANELLI; SILVA, 2008, p.41). Dessa forma, ao selecionar pessoas, deve-se essencialmente verifi car ambas as expectativas, da organização e do candidato, visando a que o contrato psicológico não seja rompido ou violado. Para Dutra (2002), é importante a gestão do movimento de pessoas na organização, pois esta deve ter clareza de sua necessidade de pessoal ao longo do tempo, tanto em termos quantitativos (quantas pessoas) quanto em termos qualitativos (quais características/competências). A capacitação de pessoas, realizada com o conhecimento de necessidades futuras ou excessos presentes, garante seu alinhamento com a estratégia organizacional, além de permitir melhor utilização das pessoas disponíveis tanto interna quanto externamente. Atender expectativas individuais e organizacionais também garante a efetividade do processo. Vistos então os conceitos relacionados à seleção de pessoas, a seguir trataremos do planejamento desse processo, que é fundamental para minimizar as falhas que foram discutidas anteriormente. O PlaneJamento do Processo de Seleção de Pessoas Ao selecionar candidatos, é essencial realizar um plano de ações a ser aplicado durante o processo. É importante que a seleção de pessoas possibilite relacionar as atribuições e responsabilidades de cada cargo. Assim sendo, a descrição e a análise dos cargosdevem ser bem detalhadas para fornecer subsídios aos processos de agregar pessoas para a organização. Planejar, em recursos humanos, envolve um processo decisório sobre as pessoas necessárias para atingir os objetivos da organização em um determinado período de tempo. 18 Técnicas e Processos de Seleção Visa também a verifi car as necessidades futuras de pessoas, as vagas que serão abertas e o potencial desejado para a ocupação da vaga. Quando a organização não se preocupa com o planejamento, pode promover para o cargo alguém sem o perfi l adequado, ou contratar alguém e em poucas semanas ter que demitir. Para planejar, também é importante observar os índices de absenteísmo e rotatividade da organização, procurando identifi car o porquê disto e minimizar por meio de um processo de seleção adequado. Quando você, atuando como selecionador de pessoas, tiver clareza do cargo e do que ele exige do candidato, poderá realizar alguns questionamentos a fi m de ampliar a sua refl exão sobre esse processo. São eles: a) Quais conhecimentos a pessoa deve ter? b) Ela deve ou não ter alguma experiência anterior? c) É necessária alguma característica pessoal, como disciplina, paciência, iniciativa, espírito de equipe, dentre outras? Imagine você contratar uma telefonista que tenha pouca paciência! d) Quais aptidões são necessárias? Mecânica, uso de números, facilidade na escrita? e) Outras? Quais? Atividade de Estudos: 1) Essas são apenas algumas questões que o selecionador poderá fazer, dentre várias. Experimente e faça alguns questionamentos que você acredita que sejam relevantes no processo de planejamento de uma seleção. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Quando a organização não se preocupa com o planejamento, pode promover para o cargo alguém sem o perfi l adequado, ou contratar alguém e em poucas semanas ter que demitir. 19 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 Você deve ter visto que são inúmeros os questionamentos que podem ser feitos, mas o mais importante é que o processo de seleção sempre esteja alinhado à cultura da organização, ou seja, aos seus valores, normas e costumes. De nada adianta planejar uma seleção de pessoas sem levar em conta os valores organizacionais, aquilo em que ela acredita e que pauta as suas ações, a missão da organização, o porquê de sua existência e por fi m a visão da organização, aonde ela quer chegar. Dessa forma, é importante que a pessoa que irá realizar o planejamento e o processo de seleção em si tenha um amplo conhecimento das necessidades da organização e do perfi l de profi ssional que se enquadraria na mesma, evitando assim difi culdades futuras, como a contratação inadequada de pessoas que, com o passar do tempo, passam a se sentir desmotivadas no contexto de trabalho, apresentando um baixo rendimento nas atividades. Tudo isso pode ser evitado por meio de um planejamento do processo de seleção de pessoas. Planejar consiste, então, em saber: a) Qual é a vaga em questão? b) Quais são os requisitos mínimos para o preenchimento da mesma? É importante saber os requisitos tanto físicos quanto mentais exigidos para determinada vaga. c) A vaga foi aprovada pelo responsável? É importante verifi car se os setores responsáveis já estão a par de tal contratação, visando evitar constrangimentos. d) Em que dia será realizado o processo de seleção? É importante verifi car o período de tempo que levará o processo, se um ou mais dias. e) Quem irá realizar o processo de seleção? Antes da realização do processo, devem estar bem delineadas as pessoas que irão participar e quais as suas funções. f) Em qual horário será realizado o processo? Será longo, curto? O selecionador deve ter clareza de quanto tempo durará o processo, informando para os candidatos à vaga. g) Qual será o local? É adequado ao número de candidatos? O local deve ser agradável e deixar a pessoa o mais tranquila possível, minimizando a sua ansiedade. Deve-se ter cautela para não colocar pessoas demais em um local pequeno e pouco arejado, ou poucas pessoas em uma sala muito grande. h) Quais as técnicas que serão utilizadas? Deve-se planejar as técnicas que serão utilizadas e o que se almeja observar com cada uma delas. Existem diversas técnicas, como entrevistas, testes, dinâmicas de grupos, dentre outras que você verá no capítulo 2. 20 Técnicas e Processos de Seleção i) Quando será informado o resultado fi nal aos candidatos aprovados e não aprovados? Como serão avisados? Por e-mail, por telefone ou pessoalmente? É muito importante que os candidatos tenham clareza de quando terão a resposta sobre o processo, informando também aos que não foram selecionados. j) Quando o funcionário irá iniciar? Deve-se deixar claro ao candidato quando ele deverá iniciar as atividades. Alguns ainda estão vinculados a outros empregos ou compromissos profi ssionais e necessitam saber quando iniciarão para poderem se planejar. A organização também deverá estar ciente da data do início das atividades do novo colaborador, a fi m de socializá-lo na organização de forma adequada. Planejar é uma condição básica para o sucesso de qualquer ação. Organizar o processo de seleção facilita para o selecionador, para a organização e para os candidatos. Veja agora um modelo de fi cha de especifi cação do cargo que pode ser utilizada no processo de seleção: Figura 2 – Ficha de especifi cações de cargo Fonte: Os autores (2009). Critérios de Seleção: Escolaridade: _________________________________________________ Experiência Profi ssional: ________________________________________ Condições de Trabalho: _________________________________________ Tipo de Tarefa: ________________________________________________ Características Psicológicas: ____________________________________ Características Físicas: _________________________________________ Relacionamento Humano: _______________________________________ Conhecimentos Necessários: ____________________________________ Provas ou Testes a serem aplicados: _______________________________ ____________________________________________________________ Indicações: __________________________________________________ Contra-indicações: _____________________________________ Descrição do Cargo: _________________________________________ __ __________________________________________________________ Ficha de Especifi cações de Cargo Título do Cargo: _______________________________________________ Departamento: Escolaridade: __________________________________ 21 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Com base nas questões acima sobre o planejamento, delineie, com os conhecimentos que obteve até esta seção, um processo de seleção para uma organização do ramo da hotelaria, para o cargo de camareira. AlGumas ConsideraçÕes Neste capítulo, você pôde examinar os conceitos relacionados à seleção de pessoas, a sua importância para a organização e a necessidade de planejamento do processo, visando estruturá-lo para possibilitar uma comparação mais efetiva entre os candidatos, além de uma melhor resposta àquilo que a organização de fato procura. Você também pôde ver que este processo está sujeito a falhas que podem prejudicar o desempenho tanto do indivíduo quanto da organização de forma geral. Com o estudo deste primeiro capítulo, você foi capaz de compreender o processo de seleção dentro de uma organização, refl etindo sobre o papel dos recursos humanos dentro deste contexto. Com os conceitose atividades propostas, foi dada a você a possibilidade de planejar os processos de seleção de pessoas nas organizações, sabendo diagnosticar as necessidades de pessoas, executar a seleção e avaliar esse processo. Agora você já está apto para, após a atividade a seguir, iniciar o estudo do próximo capítulo, que trata das técnicas e procedimentos em seleção de pessoas. Segue, assim, uma atividade de fechamento deste capítulo, para que você possa discorrer sobre o que foi até agora visto. ORGANIZAÇÃO: HOTÉIS ESTRELA _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ 22 Técnicas e Processos de Seleção Atividade de Estudos: Visto que o processo de seleção envolve a escolha dos candidatos recrutados mais adequados ao cargo, leia trechos do texto de Sílvia Fernanda Bueno. A seguir, destaque cinco ideias centrais no mesmo, conforme o que já foi visto até o momento. Ao tomarmos as pessoas como ponto de partida de sucesso de toda e qualquer organização, torna-se fundamental conhecermos profundamente termos defi nidos e padronizados os processos de ingresso e de admissão. O profi ssional de RH, de Recrutamento e Seleção, entre outras diversas nomenclaturas existentes para esse cargo, deve ter em mãos e saber como utilizar as inúmeras ferramentas e os instrumentos para poder adequar a pessoa certa ao lugar certo. Partindo-se do pressuposto de que a procura pela mão-de-obra está menor do que a oferta, esse objetivo pode ser atingido através do uso de métodos, de instrumentos e de técnicas atuais e efi cazes para cada tipo de organização e principalmente para cada função ou vaga a ser preenchida, bem como através do profi ssional adequado e qualifi cado para realizar essa árdua tarefa de Recrutamento e Seleção. Como são as pessoas que formam as organizações, nada mais adequado do que se investigar os processos de Recrutamento e Seleção dentro da área de Recursos Humanos, visto que essa apresenta fundamental importância para a vida de toda e qualquer empresa, pois a área tem como objetivo o bem-estar completo dos funcionários e a sua adaptação ao mundo do empregador. De forma global, vale ressaltar a grande importância que tem o departamento de Recursos Humanos e o departamento pessoal dentro das organizações, pois esses dois tratam da vida de cada colaborador ao gerenciar a admissão, os benefícios, a motivação, os salários e, consequentemente, a demissão. Sob esse ponto de vista, é necessário que existam profi ssionais qualifi cados e experientes para atuar nestas áreas. [...] as empresas precisam ter defi nidos alguns itens como, por exemplo, a descrição de cargos, para que o recrutador saiba quem está procurando. Para isso, utilizam-se também diversos tipos de formulários para candidatura, solicitação de empregos e variados tipos de currículos. Portanto, é um subsetor de extrema importância, pois é onde tudo começa: a busca pelo novo colaborador que irá contribuir para o crescimento e o desenvolvimento da empresa. Porém, na prática, nem sempre é isso que ocorre. 23 CONCEITOS SOBRE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 1 Pode-se, portanto, concluir que: o profi ssional de Recursos Humanos deve ser bastante fl exível, qualifi cado e usuário de uma gama de recursos, técnicas e instrumentos para que atinja seus objetivos, ou seja, contratar a pessoa certa para o lugar certo. Importante salientar, ainda, que tudo varia de empresa para empresa, conforme a cultura, os objetivos, as metas, as necessidades e até mesmo os custos destinados ao processo de R&S. Portanto, o profi ssional que atuar nesta área deve ser facilmente adaptável, possuir visão futurista e ser um bom negociador. FONTE: BUENO, Fernanda Sílvia. O administrador de recrutamento e seleção. RH.com. br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ Portal/Recrutamento_Selecao/Artigo/3944/o-administrador-de- recrutamento-e-selecao.html>. Acesso em: 20 mai. 2009. 1) Agora escreva aqui uma análise crítica desse texto, relacionando ao que vimos a respeito dos conceitos sobre seleção, a sua importância e o planejamento deste processo: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 24 Técnicas e Processos de Seleção ReFerências CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. DUTRA, J. de S. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2002. GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profi ssionais. São Paulo: Atlas, 2001. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; ARELLANO, E. B. Os processos de recrutamento e seleção. In: FLEURY, M. T. L. (Org.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. p.63-72. MARRAS, J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. São Paulo: Futura, 2000. ZANELLI, J. C.; SILVA, N. Interação humana e gestão: a construção psicossocial das organizações de trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. CAPÍTULO 2 Técnicas e Procedimentos de Seleção de Pessoas A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Examinar o conhecimento de técnicas e procedimentos utilizados para a seleção de pessoas. Discutir sobre as ferramentas estratégicas utilizadas pelas organizações no processo de seleção de pessoas. Planejar as técnicas e procedimentos de seleção de acordo com cada cargo. Diagnosticar, executar e avaliar processos relacionados às técnicas e procedimentos de seleção de pessoas nas organizações. 26 Técnicas e Processos de Seleção 27 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 ConteXtualiZação Agora que você já estudou os conceitos que norteiam a prática da seleção de pessoas, podemos estudar as principais técnicas e procedimentos para realizarmos um processo de seleção satisfatório. Uma regra fundamental é que não existe uma técnica melhor que outra, o que vai defi nir a efi cácia da técnica é se ela é apropriada para determinado perfi l do cargo. Por exemplo, cargos com alto nível de exigência em conhecimentos específi cos devem utilizar provas de conteúdo em sua seleção, enquanto cargos que exigem boa forma física devem utilizar testes físicos, como no caso de bombeiros e policiais. Você estudou, no capítulo anterior, que a seleção de pessoas tem, como fi nalidade central, escolher candidatos que atendam às necessidades internasda organização, podendo ser defi nida como uma comparação, ou seja, as exigências do cargo e as características do candidato. Entretanto, você irá compreender, com o estudo do capítulo 2, que as técnicas adotadas neste processo, bem como os procedimentos para a realização do mesmo, são fundamentais para que o gestor de pessoas consiga encontrar o candidato mais adequado para determinada função. Este capítulo auxiliará você a compreender quais técnicas devem ser utilizadas, em quais situações e com quais cargos. Logo, não existe receita para se fazer uma boa seleção. O sucesso neste procedimento depende da capacidade do avaliador em escolher boas técnicas e aplicá-las de maneira adequada. Após compreender as técnicas do processo de seleção, você poderá compreender os próximos capítulos, sobre os aspectos éticos em seleção de pessoas e sobre a seleção por competências. Técnicas de Seleção Técnicas de seleção consistem em instrumentos de que o profi ssional da área de gestão de pessoas dispõe para auxiliá-lo na escolha do candidato. Imagine um gestor que decida optar por um candidato apenas analisando seu currículo e, quando este candidato ingressa na organização, o gestor começa a perceber que o indivíduo não era nada daquilo que estava escrito? Ou então selecionar pessoas apenas entrevistando as mesmas, mas sem critério, como uma conversa informal e sem foco? Se não forem utilizadas técnicas adequadas para selecionar o profi ssional, e nem padronizadas para todos os candidatos a uma determinada Não existe uma técnica melhor que outra. 28 Técnicas e Processos de Seleção vaga, o gestor poderá realizar escolhas equivocadas, mais baseadas na intuição do que de fato nos conhecimentos, habilidades e atitudes dos candidatos. As técnicas de seleção permitem que o profi ssional que irá selecionar as pessoas observe determinadas características, que você compreenderá ao longo deste capítulo, além de proporcionar mais seriedade ao processo perante os candidatos, bem como uma melhor precisão de que aquela pessoa que foi selecionada de fato irá agregar valor à organização, conseguindo desempenhar com qualidade as funções atribuídas a determinado cargo. Para Chiavenato (1999), as informações sobre o cargo a ser preenchido, ou seja, a descrição e a análise dos cargos deverá ser a base de todo o processo de seleção e da escolha das técnicas a serem aplicadas. As técnicas permitirão identifi car as características pessoais de cada indivíduo por meio de amostras de seu comportamento. Sendo assim, uma técnica de seleção torna-se válida quando consegue medir as características que de fato são relevantes para o desempenho das funções do cargo a ser ocupado. A primeira técnica de seleção de que iremos tratar neste tópico é a análise de currículo. Seguem, então, as características desta técnica: a) Análise de currículo Em 99,9% dos processos de seleção, a primeira ferramenta a ser solicitada para o candidato e analisada pelo avaliador é o currículo. Ele é um instrumento útil para a obtenção de informações do candidato, porém, estas são insufi cientes para proporcionar uma visão real do candidato. Isso porque os currículos são excelentes fontes de informações sobre os conhecimentos (cursos, formação escolar, treinamentos, etc.) e habilidades (experiências, empregos anteriores, etc.), entretanto, não evidenciam as atitudes dos candidatos, por isso, convém combinar seu uso com o de outras técnicas, como a entrevista, por exemplo. Embora seja comum o relato de características pessoais nos currículos, como “sou proativo”, “busco sempre o melhor”, ou “sou dinâmico e perspicaz”, na qualidade de avaliador, não se deve levar a sério esse tipo de anúncio. Uma técnica capaz de analisar comportamentos é mais adequada do que acreditar nas próprias palavras do candidato. Outro aspecto a ser destacado é que os currículos devem ser objetivos, ou seja, não devem ultrapassar três páginas. Currículos muito extensos podem indicar má-fé do candidato. 29 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 Para Pontes (2004), o desemprego, os cortes de pessoal ocorridos nas organizações e a procura de novas colocações pelos indivíduos fazem com que muitas vezes os candidatos exagerem algumas qualidades ou omitam outras, na tentativa de impressionar a organização. O currículo consiste no instrumento inicial para a seleção de pessoas nas organizações. Com exceção dos cargos menos complexos, que não exijam muito em termos de conhecimentos do profi ssional, a seleção inicia pela análise de currículos. O currículo deve conter uma visão ampla da trajetória profi ssional e acadêmica do candidato, deve ser claro, coerente e bem redigido. Geralmente os tópicos que constam na elaboração de um currículo são os dados pessoais; os objetivos pretendidos (posição desejada, área de interesse ou cargo); a formação escolar; experiência profi ssional (últimos três empregos, constando o porte da organização, atividades desenvolvidas e resultados alcançados); habilidades e qualifi cações profi ssionais (capacidades, competências e cursos de aperfeiçoamento). Para Pontes (2004), ao analisar o currículo, deve-se ter clareza do perfi l desejado do candidato, uma vez que, nas entrelinhas, este pode revelar determinada estagnação em empregos anteriores, ou instabilidade, baixo ou alto grau de especialização profi ssional, redação adequada ou inadequada, desorganização ao ordenar as idéias, dentre outros aspectos. O currículo deve ser ainda utilizado no momento das entrevistas, no qual o avaliador faz perguntas sobre as informações que constam no documento, servindo como um guia. Isso ajuda também a detectar possíveis informações falsas que podem constar no currículo, visto que existem indícios de que muitos candidatos mentem em seus currículos no intuito de se mostrarem mais capacitados do que realmente são. Mas, afi nal, o que deve ser analisado no currículo? Basicamente, os requisitos exigidos pelo cargo! Por exemplo: No caso deste anúncio, teríamos que analisar no currículo informações que comprovem ou deem indícios de que a candidata saiba costurar à mão e Costureira P/artesanato. Necessário saber costurar bem à mão e à máquina, ser organizada, capricho- sa e rápida. Sálario R$400 F: 3018-1565 Publicado em 27/01/2009. 30 Técnicas e Processos de Seleção à máquina, como cursos ou empregos anteriores, por exemplo. Aquelas que atendessem os requisitos estariam aptas para a próxima etapa da seleção; as que não se encaixassem nos requisitos estariam fora. Mas, digamos que nenhum candidato atenda os critérios do cargo. O que fazer? Nesse caso, selecionamos os “menos piores”, ou seja, aqueles que mais se aproximam dos requisitos exigidos. Caso isto ocorra, é pertinente que se avalie a forma como a empresa está recrutando seus candidatos, para que isso não aconteça novamente. Portanto, ao analisar um currículo, todos os detalhes devem ser observados. Pontes (2004) revela que a omissão de certos dados pode ser uma tentativa do candidato em encobrir alguns problemas, por exemplo, não aparecem datas de entradas e saídas de empregos anteriores, o que pode indicar uma pessoa instável nos empregos, e omissão de instrução, o que pode indicar que a pessoa não apresenta a escolaridade mínima para a função. O currículo deve ser analisado em termos de consistência, observando se o crescimento profi ssional ocorre de forma hamônica, o estilo das organizações anteriores em que o sujeito trabalhou, as datas de entrada e saída em empregos, eventuais crescimentos nos cargos anteriores ocupados em outras organizações, e, em especial, as realizações profi ssionais do candidato. Deve-se verifi car também se a escolaridade e o perfi l profi ssional do sujeito correspondem ao perfi l exigido. Anote os aspectos que chamem a sua atenção no currículo para posteriormente questionar ao candidato e, por fi m, verifi que também a redaçãodo candidato e a forma como ele organiza suas ideias e experiências profi ssionais ao longo do documento. Selecionados os currículos, é dada então sequência ao processo de seleção, aplicando as demais técnicas que você verá a seguir. Antes, porém, resolva uma atividade sobre o que foi visto a respeito dos currículos. 31 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Analise os pontos fracos do currículo a seguir, tendo em vista as aprendizagens obtidas em relação a esta técnica de seleção. CURRICULUM VITAE 1. Dados Pessoais Nome: Maria José da Silva CPF: 12.369.896.569-00 Nacionalidade: Brasileira Endereço: Rua: Costa e Silva, 245 – Tapera _ Florianópolis – SC. Idade: 50 anos Estado Civil: Separada 2. Formação: Ensino Médio Completo Superior Incompleto em Pedagogia 3. Experiência Profi ssional Auxiliar de Sala – 10/02/1984 a 10/10/1990 Telefonista – 01/03/1994 a 01/03/2004 4. Cursos Atendimento ao público (1990) Gestão de pessoas (1994) Pretendo uma vaga relacionada à Pedagogia. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 32 Técnicas e Processos de Seleção Agora, analisaremos a carta de apresentação, que é outro instrumento utilizado para selecionar pessoas. b) Carta de apresentação É a correspondência enviada pelo candidato, juntamente com seu curriculum vitae, atendendo a uma solicitação explicitada no recrutamento, formalizando seu interesse e sintetizando as qualifi cações que, na opinião do candidato, são relevantes. Expectativas quanto ao trabalho a ser realizado, à carreira e ao pacote de remuneração podem ser incluídas no conteúdo da carta. É importante destacar que somente se deve enviar a carta de apresentação se a organização exigir este documento. Na carta de apresentação, verifi camos se as expectativas em relação ao emprego e à qualifi cação do candidato correspondem às expectativas da empresa. Veja a carta de apresentação a seguir: Fonte: Adaptado de Oliveira e Cavallini (2009). São Paulo, 19 de julho de 2003. Senhores: Estou à procura de novos desafi os profi ssionais na área de Recursos Humanos e acredito que sua empresa possa ter interesse por minhas qualifi cações. Sou graduada em Comunicação Social e História, com pós-graduação em Administração. Atuo na área de Recursos Humanos há nove anos, com destaque para o desenvolvimento e coorde- nação de atividades de treinamento, tenho inclusive obtido a certifi cação ISO-9001. Envio anexo o meu currículo para fazer parte de seu banco de dados e coloco-me à disposi- ção para uma entrevista pessoal, quando poderei fornecer mais informações sobre minha experiência profi ssional. Atenciosamente, Amélia Machado. 33 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 No caso de a organização optar por alguém formado em Administração ou Psicologia, esta candidata já estaria fora do processo. Caso a experiência seja o fator a ser analisado pela empresa, ela possui grandes chances, já que conta com nove anos de experiência. Zucarello (2008) revela que a carta de apresentação deve reter a atenção do gestor para que este a leia até o fi nal e queira entrar em contato com o candidato. Dessa forma, as cartas de apresentação devem ser breves, objetivas e focadas em resultados. A carta deve demonstrar os pontos fortes do candidato, revelando motivação e interesse do indivíduo em trabalhar na organização. Deve conter também as habilidades do candidato, de forma que o selecionador comece a considerá-lo para determinado cargo, algum conhecimento da missão da organização e a capacidade do indivíduo de crescer junto à mesma, auxiliando no alcance da missão. Aspectos positivos que não estejam relacionados ao cargo pretendido não devem ser mencionados. Dessa forma, assim como no currículo aspectos tais como organização, redação, habilidades e conhecimentos devem ser avaliados, na carta de apresentação esses mesmos aspectos também merecem atenção e podem indiciar já algum perfi l do candidato. Por exemplo, candidatos que focam a sua carta de apresentação mais em aspectos pessoais e eventuais promessas para a organização podem estar omitindo determinados aspectos profi ssionais. Analisada a carta de apresentação, a palestra informativa consiste em outro procedimento utilizado na seleção de pessoas. c) Palestra informativa A palestra informativa consiste na apresentação dirigida pelo representante da organização (ou o selecionador) que deve conter informações sobre as características da empresa, dos cargos, condições de trabalho, política de carreira, remuneração, entre outros. É o momento em que o candidato pode esclarecer dúvidas e decidir pela sua participação, ou não, no processo seletivo. É muito utilizada em um grande volume de contratações, principalmente em programas de trainees e estagiários. A palestra proferida pelo representante deve relatar características reais da cultura da organização, para evitar a formação de expectativas equivocadas nos candidatos em relação à empresa. Um diretor de uma grande empresa de bebidas dizia em sua palestra informativa: “aqueles que não conseguem lidar com suas frustrações não devem trabalhar nesta corporação”. Para alguns, isso pode soar 34 Técnicas e Processos de Seleção agressivo, todavia, ele apenas estava relatando a realidade daquela organização e aqueles que, de fato, não se encaixavam nesse perfi l poderiam desistir do processo seletivo. Você sabia? Alguns especialistas em comportamento organizacional denominam de “esquizofrenia organizacional” o fato de a empresa possuir um determinado discurso e, na prática, realizar o contrário daquilo que prega. Exemplo: empresas que pregam o respeito ao ser humano e praticam assédio moral. A seguir, trataremos de outra técnica de seleção, a prova de conhecimento ou de capacidade. d) Provas de conhecimentos ou de capacidade Para Chiavenato (1999), as provas de conhecimentos consistem em instrumentos utilizados para avaliar o nível de conhecimentos gerais e específi cos exigidos pelo cargo a ser preenchido pelos candidatos. As provas procuram mensurar os conhecimentos profi ssionais e técnicos, bem como a habilidade do candidato para desempenhar determinadas tarefas, por exemplo, informática e contabilidade, dentre outras. Esta técnica é bastante comum em concursos públicos, no qual se exigem conhecimentos em português, matemática, lógica e conhecimentos específi cos nas determinadas áreas. Como o próprio nome diz, a técnica é capaz de avaliar o conhecimento do candidato, porém, não é capaz de verifi car sua habilidade, muito menos seu comportamento. As provas podem ser orais ou escritas. Chiavenato (1999) revela que as provas orais são aquelas aplicadas por meio de perguntas e respostas orais. São similares a uma entrevista padronizada, mas com questões específi cas. As provas escritas consistem em perguntas e respostas realizadas por escrito, sendo utilizadas comumente no meio acadêmico para avaliar os conhecimentos dos discentes. As provas devem ser elaboradas de acordo com os conteúdos que serão 35 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 utilizados no cargo. Como exemplo, citamos o caso de uma empresa que elaborava catálogos telefônicos e cobrava questões de geografi a em sua prova de seleção, visto que estes conhecimentoseram necessários para os colaboradores dessa organização. No item de abrangência, as provas podem ser gerais e específi cas. Para Chiavenato (1999), as provas gerais são as avaliações que abordam questões culturais e de conhecimento geral, e as provas específi cas abordam questões técnicas e específi cas, relacionadas diretamente ao cargo que se pretende preencher. Limongi-Franca e Arellano (2002) revelam que as provas gerais visam avaliar o grau de cultura geral do candidato. Pode ser, por exemplo, uma redação, para verifi car a fl uência escrita, o conhecimento da língua portuguesa e a ordenação de ideias e pensamentos, ou uma prova de matemática, nos diversos níveis de complexidade, de acordo com a escolaridade exigida para o cargo. Essas provas têm baixa correlação com o desempenho profi ssional imediato, porém servem para entender melhor o universo do candidato e sua atitude pessoal e profi ssional. As provas específi cas visam avaliar os conhecimentos profi ssionais que o candidato possui, imprescindíveis para o bom desempenho da função. Podem ser de cálculos matemáticos, matemática fi nanceira, mecânica, idiomas e afi ns, de acordo com o exigido pela função. É importante que esses instrumentos sejam desenvolvidos e avaliados internamente na empresa, para não eliminar bons candidatos. As provas também podem ser classifi cadas quanto à organização, podendo ser tradicionais ou objetivas. As provas tradicionais, segundo Chiavenato (1999), consistem em avaliações dissertativas e expositivas, exigindo assim respostas longas, explicativas e por isso envolvem um número menor de questões. Entretanto, sua avaliação é demorada, exigindo um especialista no assunto. As provas objetivas referem-se a avaliações planejadas e estruturadas, tendo rápida aplicação e facilidade na correção. A próxima técnica de seleção são os testes. Porém, é importante enfatizar que por si eles não “dizem nada” e não predizem algum comportamento. Devem sempre estar aliados a outras técnicas de seleção. e) Testes Os testes são instrumentos que possibilitam auxiliar o processo de seleção. Para Marras (2000), os testes psicológicos e os demais testes são considerados elementos adjetivos, complementares aos demais instrumentos. 36 Técnicas e Processos de Seleção A aplicação dos testes, segundo Pontes (2004, p. 148), deve ser a mais humana possível, não sendo utilizada como ferramenta única. O autor cita um pensamento de Maslow: “Se a única ferramenta que você tiver for um martelo, tende a tratar tudo como se fosse um prego”. Os resultados dos mesmos também devem ser comunicados com cautela ao candidato, evitando atuar de forma desumana. É comum ouvir relatos de candidatos que saem desmotivados de um processo seletivo, relatando que foram reprovados em algum teste, em especial no psicológico. É importante frisar que um teste não reprova ou aprova, apenas indica caminhos e capacidades do candidato. Vamos conhecer alguns tipos de testes descritos por Marras (2000): • Teste prático – é utilizado, em geral, para avaliar um determinado conhecimento ou prática de trabalho. Adequado para atividades técnicas e operacionais, tais como, digitação, atendimento, motoristas, etc. Por exemplo, para a vaga de telefonista, o selecionador pode solicitar que o candidato ou candidata atenda algumas ligações, anote recados, organize documentos, visando à observação de seu desempenho. • Teste de simulação – tem a propriedade de avaliar candidatos em determinadas situações práticas do dia a dia. Atualmente são utilizados diversos programas em computador para colocar o candidato frente a situações problemáticas para avaliar sua rapidez e efi cácia na tomada de decisão. Esse teste é comumente utilizado para pilotos, uma vez que um teste prático talvez pudesse se confi gurar como um risco. • Testes psicológicos (aptidão, personalidade, etc.) – são o instrumento que permite ao psicólogo prospectar, mensurar e avaliar características específi cas do indivíduo. Os testes de aptidão buscam avaliar características naturais dos candidatos e traços que identifi quem tendências claras de capacidade para a realização de determinadas tarefas. Os testes de personalidade são utilizados para conhecer o funcionamento psíquico dos indivíduos, formado por características que determinam o perfi l comportamental de cada um. Alguns tipos de testes são: o Rorscharch, de Hermann Rorschach, que visa avaliar a estrutura da personalidade do indivíduo e o funcionamento de sua dinâmica interna; Wartegg, de Ehrig Wartegg, que consiste em uma prova gráfi ca projetiva de personalidade, e o Teste de Apercepção Temática – TAT, de Murray Henry e Morgan, que consiste em uma técnica projetiva com dez a doze quadros, em que o sujeito deve relatar o que cada um signifi ca. Somente psicólogos com registro profi ssional podem aplicar esses tipos de testes. É importante frisar que um teste não reprova ou aprova, apenas indica caminhos e capacidades do candidato. 37 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 Para Pontes (2004), os testes psicológicos visam avaliar as características individuais do candidato em relação ao cargo, podendo mensurar a possibilidade de adaptação entre candidato, cargo e organização. Anastasi e Urbina (2000) revelam que os testes não possuem critérios predeterminados de aprovação ou reprovação, mas consistem em ferramentas de medição psicológica, e, como qualquer instrumento, podem tanto fazer o bem quanto o mal, dependendo da forma como forem aplicados. A função dos testes consiste em medir diferenças individuais e as reações dos indivíduos em situações diversas. Os testes psicológicos são instrumentos padronizados que servem de estímulo a determinado comportamento do examinado. Visam predizer o comportamento humano com base no que foi revelado na situação de teste. Os testes podem ser divididos em psicométricos e de personalidade. Os testes psicométricos são aqueles que medem as aptidões individuais, determinando um índice comparado com escores ponderados e validados anteriormente. Os testes de personalidade identifi cam traços de personalidade, aspectos motivacionais e interesses (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002). Por serem de uso exclusivo do psicólogo, foi apresentada neste tópico apenas uma breve caracterização de sua função. Para mais informações sobre os testes psicológicos, você pode acessar o site do Conselho Federal de Psicologia: www.pol.org.br As dinâmicas de grupo, também conhecidas como técnicas vivenciais, confi guram-se como uma técnica de seleção comumente utilizada pelos selecionadores. Segue a sua caracterização. f) Dinâmica de grupo ou técnicas vivenciais Nesta técnica, os candidatos são reunidos em uma sala onde, sob a coordenação de um profi ssional especializado e alguns assistentes, serão submetidos a um exercício ou teste situacional que permita avaliar as ações e reações de cada um com relação a um perfi l esperado. É recomendado que somente um profi ssional com formação nesse tipo de 38 Técnicas e Processos de Seleção técnica faça sua aplicação, pois a má utilização pode permitir a externalização de sentimentos desconhecidos pelos candidatos, como emoções ou ódio retidos que podem vir à tona. Isso nos lembra a seguinte situação: certa vez uma profi ssional mal preparada aplicou uma técnica que trazia conteúdos da infância dos candidatos, ocasionando em uma das candidatas uma crise de choro que obrigou a profi ssional a encerrar o processo seletivo naquele dia. Esta técnica, desde que bem utilizada, permite ao avaliador reconhecer perfi s comportamentais dos candidatos que, pelas técnicas estudadas até o momento, não seria possível identifi car. As técnicas vivenciais exigem respostas a situações de forma que os candidatos interajam e participem ativamente delas. Por se tratar de atividades que envolvem atuação e muitas vezes simulações de uma circunstânciaprofi ssional, o controle da situação por parte do candidato pode fi car minimizado e os resultados podem ser mais visíveis e espontâneos. Essas técnicas necessitam de estruturação anterior e devem ser aplicadas por profi ssionais qualifi cados, capazes de controlar a situação e evitar confl itos ou descontrole emocional de algum participante. A dinâmica em grupo envolve jogos de grupo com situações estruturadas, relativas ou não ao cargo, nas quais os integrantes interagem. É uma técnica muito utilizada, pois permite observar padrões de relacionamento, integração social, liderança e demais aspectos. (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002). Para Orlickas (2001), as vivências grupais consistem em uma situação de integração grupal, que envolve os candidatos a determinada vaga, podendo ser estimulada por meio de textos, técnicas específi cas ou fi lmes. O objetivo central desta técnica é consolidar hipóteses sobre aspectos da personalidade dos candidatos, identifi cados em etapas anteriores do processo seletivo. Apresentamos a seguir alguns exemplos de vivências grupais. Porém, cabe ressaltar que devem ser adaptadas para cada organização, para cada cargo e ser aplicadas com cautela e profi ssionalismo. Por exemplo: para um cargo de telefonista, alguns aspectos específi cos devem ser avaliados, diferentemente do que aconteceria em uma seleção para um pedagogo para atuar na área da infância. As atitudes esperadas de um ou outro cargo diferem. Também devem ser observados os valores organizacionais, identifi cando nos candidatos se estes apresentam um perfi l desejado para trabalhar na organização. As técnicas abaixo foram adaptadas pelos autores do seu caderno de estudos. • Jogo das fi guras: Selecionar de revistas várias fi guras contendo pessoas e lugares. Deixar no chão da sala e solicitar que cada candidato selecione uma fi gura com a qual se identifi que, devendo se apresentar por meio da fi gura escolhida. Você poderá, por meio desta dinâmica, observar a ansiedade dos 39 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 participantes, a forma como se expressam, a capacidade de criatividade, dentre outros aspectos relacionados às características do cargo em questão. Por exemplo, para uma função que demande trabalhar com crianças, pode ser relevante expor fi guras de crianças e verifi car de que forma ocorre a identifi cação do candidato. • Jogo dos bichos: Dizer aos candidatos que o Rei Leão está se aposentando como rei da selva e que deverá ser escolhido um novo rei. Distribuir aos participantes papéis, contendo diversos bichos, tais como barata, lagarto, cobra, rinoceronte, macaco, formiga, tamanduá, dentre outros. Cada candidato deverá defender seu ponto de vista argumentando o porquê de determinado bicho ser o novo rei da Selva. Ao fi nal, todos deverão entrar em consenso e decidir quem será o novo rei. Nesta dinâmica você poderá observar a capacidade de criação, criatividade, tolerância, persistência, comunicação, relação interpessoal, liderança, capacidade de tolerância à frustração, trabalho em equipe, dentre outros aspectos. • Jogo do balão: Divida os participantes em grupos de 5 e diga a eles que todos estão em um balão. Porém, o balão teve um problema e irá pegar fogo se continuar com tal capacidade, devendo apenas fi car com duas pessoas. As outras três pessoas deverão se jogar do balão e não irão sobreviver. Dê ao grupo um tempo de 15 minutos para a decisão. Cada participante deverá argumentar o motivo da permanência no balão. Nesta dinâmica, você poderá avaliar capacidade de frustração, trabalho em equipe, comunicação, trabalho com prazo/tempo, persistência, liderança, dentre outros. Esses foram apenas alguns exemplos de técnicas que costumamos utilizar ao realizar um processo de seleção. Cada técnica é adaptada ao grupo, ao cargo almejado e às características que se deseja observar. Existem diversos livros que trazem inúmeras dinâmicas de grupo. Procure a biblioteca da sua universidade, ali certamente você encontrará vários deles. Alguns sites interessantes também trazem dinâmicas de grupo. Vale a pena acessar! http://www.formador.com.br/ http://www.cdof.com.br/ http://www.chittoni.com.br/ Após termos estudado as vivências grupais, segue a descrição de outra técnica, o teste grafológico. 40 Técnicas e Processos de Seleção g) Teste grafológico Análise da escrita (grafi a) individual, através da qual se pode concluir sobre traços da personalidade. Para isso os grafólogos solicitam ao candidato para escrever o que desejarem, numa folha em branco, sem linhas, nem parágrafos, numa redação de 20 ou mais linhas, assinando ao fi nal. Interpretam-se diversas variáveis como tamanho da letra, inclinação, direção, altura, pressão, velocidade, etc. Em alguns casos, o conteúdo da redação não é levado em conta. Em outros casos, pede-se ao candidato para escrever apenas uma frase. Veja o exemplo de uma solicitação de exame grafológico retirado da prova de um concurso público da Escola de Administração Fazendária (2006): 3. Transcreva a frase abaixo para o local indicado no seu CARTÃO DE RESPOSTAS em letra cursiva, para posterior exame grafológico: “Certas derrotas preparam-nos para grandes vitórias.” Para Luginger (2005), a grafologia é uma técnica que permite estudar e analisar a caligrafi a, tendo como objetivo principal determinar estados físicos, mentais e emocionais do escritor. Para uma análise grafológica, geralmente é solicitada a construção de um texto de vinte linhas, em papel branco não pautado, sendo possível assim observar aspectos da personalidade do sujeito. Por exemplo, a qualidade da linha ou do curso do que fora escrito pode revelar tendências emocionais, hesitação, dentre outros aspectos. Agora você vai ver a principal técnica utilizada no processo de seleção, em que você consegue, frente a frente com o candidato, conhecê-lo melhor: a entrevista. h) Entrevista Representa a técnica de seleção mais utilizada, por isso, utilizaremos um bom espaço de nosso caderno para discutir esta técnica. De acordo com Haguette (1999, p. 86), “A entrevista pode ser defi nida como um processo de interação social entre duas pessoas, na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. 41 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 O primeiro procedimento a ser feito é o de elaborar o roteiro de entrevista e delimitar os objetivos desta atividade. O entrevistador deve esclarecer para si mesmo quais dados ele deseja levantar nesta técnica, de acordo com o perfi l exigido pelo cargo. Em seguida, deve-se entrar em contato com o possível entrevistado e marcar um horário para o encontro. O roteiro é elaborado com base no currículo do candidato e nos requisitos do cargo e da organização. Nunca se esqueçam de que, às vezes, o melhor candidato para o avaliador não é o melhor candidato para o cargo ou para a organização. Cada cargo possui características muito peculiares e cada organização possui uma cultura fortemente arraigada, portanto, para que o candidato se torne um colaborador parceiro da empresa, ele deve ir ao encontro dos objetivos da mesma. Outro fator importante sobre as perguntas é que elas devem ser realizadas para obter informações sobre as atitudes e os comportamentos dos candidatos. O local da entrevista deve ser discreto e reservado, pois as informações passadas em uma entrevista podem ser confi denciais. Não é recomendado realizar essa técnica em locais com trânsito frequente de pessoas ou salas em que existem outras pessoas trabalhando. Deve-se tentar ao máximo deixar o candidato o mais confortável possível. A entrevista é recomendada quando o número de pesquisados não for elevado. Em caso contrário, devem ser utilizadas outras técnicas, como a dinâmica de grupo, por exemplo, até chegar por eliminação a um número menor de candidatos,viabilizando sua aplicação. De acordo com Goldenberg (2000), existem algumas vantagens e desvantagens na utilização de entrevistas: • Vantagens da entrevista: - Tem um índice alto de resposta. - A estrutura fl exível permite a expressão de comportamentos, ou seja, você pode ir e vir nas perguntas de acordo com o comportamento apresentado pelo candidato. - Não exige habilidade de ler e escrever do candidato, mas de comunicação e expressão. - Permite orientação do entrevistador para a compreensão das perguntas. Nunca se esqueçam de que, às vezes, o melhor candidato para o avaliador não é o melhor candidato para o cargo ou para a organização. Entrevista é recomendada quando o número de pesquisados não for elevado. 42 Técnicas e Processos de Seleção • Desvantagens da entrevista: - Exige tempo maior. Uma entrevista não dura menos que 30 minutos. - Exige maior habilidade para a aplicação. O selecionador deverá ter técnica, domínio de tempo, das perguntas a serem realizadas, dentre outros aspectos. - Não pode ser enviada por correio (e-mail), nem entregue em mãos, é feita pessoalmente. - Apresenta difi culdade ao ser aplicada a um grande número de pessoas ao mesmo tempo. O entrevistador deve obter e manter a confi ança do entrevistado, promovendo um clima de informalidade durante a técnica. Lembremos que a maioria dos candidatos chega para a entrevista com um nível de ansiedade muito alto, o que prejudica o seu desempenho. Para diminuir a ansiedade dos candidatos, é comum que, antes de iniciar as perguntas, o entrevistador faça uma espécie de rapport, ou seja, converse sobre temas do dia a dia como, por exemplo, futebol, política, previsão do tempo, o que ele fez no dia, se encontrou o local com facilidade, etc., a fi m de estabelecer um vínculo e um clima agradável para iniciar a entrevista. Vale salientar que alguns cargos exigem capacidade de lidar sob pressão e outras competências desse tipo; nesse caso, não é necessário o rapport, visto que o modo como o candidato lida com a ansiedade já é parte da técnica de seleção. Um exemplo seria uma vaga para delegado de polícia. É conveniente apresentar primeiro as perguntas mais neutras, que causem menos impacto ao pesquisado e ir gradativamente fazendo perguntas mais específi cas. É importante lembrar que o entrevistador deve fi car atento às contradições que porventura possam aparecer no discurso do pesquisado. Seguem abaixo algumas questões sugeridas pelos autores deste caderno de estudos, que podem ser realizadas pelos gerentes antes da condução de uma entrevista. São elas: • Como você está visualizando a pessoa que ocupará este cargo? Que competências este candidato deverá apresentar? • Quais são as maiores forças e fraquezas da sua organização? • Você tem uma descrição das atividades do cargo? • Qual é o aspecto ou característica mais importante da pessoa que você deseja admitir? • Quais são as expectativas da organização em relação a esta contratação? • Quais são as expectativas das pessoas que atuam na área em que a pessoa atuará sobre este candidato? • Quais são as maiores responsabilidades inerentes ao cargo? É importante lembrar que o entrevistador deve fi car atento às contradições que porventura possam aparecer no discurso do pesquisado. 43 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Capítulo 2 Esses são questionamentos centrais que o gestor deve fazer antes de realizar a entrevista. É importante ter clareza de qual local a pessoa escolhida para determinada vaga ocupará na organização e de que forma ela poderá auxiliar a organização a alavancar os seus processos. Tendo em mente os requisitos do cargo, refl ita sobre o que você quer da entrevista e escolha a melhor estratégia. Se você souber que as habilidades técnicas do candidato são satisfatórias, talvez seja preferível se concentrar nas características emocionais ou testar as reações do candidato em situações de pressão. Durante a entrevista, convém dispor-se a ouvir mais do que falar, pois o que interessa é o que o entrevistado tem a dizer (CERVO; BERVIAN, 1996). O entrevistador deve baixar a sua ansiedade em relação às respostas e permitir que o candidato fale abertamente, deixando-o livre para realizar qualquer comentário. Alguns avaliadores fi cam ansiosos e completam as frases pelo candidato, ou olham o relógio constantemente, ou até mesmo interrompem com outras perguntas, fugindo do foco e prejudicando a efetividade da técnica. Uma entrevista não é uma prova de fogo ou um exercício para o ego! É uma chance para que você encontre alguém com os conhecimentos e as habilidades necessárias para a organização apresentar um desempenho ainda melhor, e para que o candidato escolhido encontre um trabalho que o ajude a desenvolver e pôr em prática suas competências. Não esqueça: antes de realizar a entrevista, faça um roteiro com perguntas- chave e mantenha esse roteiro com todos os candidatos. É por meio dele que você terá subsídios para poder comparar o desempenho dos entrevistados. De nada adianta fazer questões muito divergentes para os candidatos. Ao fi nal do 44 Técnicas e Processos de Seleção processo, você não terá clareza de que forma deverá realizar alguma comparação entre eles. Algumas perguntas são mais comuns na condução de uma entrevista e auxiliam o selecionador a ter uma melhor compreensão sobre o candidato. Veja algumas delas, elaboradas pelos autores deste caderno: • Por qual motivo você saiu de seu emprego anterior? É importante que essa pergunta seja feita ao candidato. Nela podem ser observadas as expectativas do candidato e também a sua ética em relação às empresas anteriores. Se ele criticar e abrir informações confi denciais a você, certamente fará isto com a sua empresa caso algum dia seja demitido! • Quais características você considera importantes em um funcionário? • O que você sente difi culdade em realizar? Quais são as suas limitações? Nesta pergunta pode-se observar se o candidato apresenta humildade e permite que suas limitações sejam expostas, ou se tenta “maquiar” sua imagem e vendê-la. • Que tipo de pessoa você se considera no ambiente de trabalho? • Quais são as suas principais qualidades? De que forma você procura aplicá- las no dia a dia? • Em que tipo de organização você espera trabalhar? Podem ser observadas nesta questão as expectativas do candidato, e, dependendo das mesmas, verifi que se a sua organização poderá ou não supri-las. • Como descreveria uma organização ideal para você trabalhar? Da mesma forma que na pergunta acima, esta pergunta permite observar se existe um alinhamento entre os valores e expectativas organizacionais e individuais. • Quais são as suas atividades em seu tempo livre? Questões deste tipo auxiliam a observar aspectos pessoais do candidato. • Nos empregos anteriores, quais foram as maiores difi culdades que você encontrou e o que fez para superá-las? • Nos empregos anteriores, quais foram as suas maiores contribuições? • Por que você escolheu esta profi ssão? • Por que a organização deveria dar esta vaga a você e não a outro candidato? Esta pergunta mostra-se sempre muito interessante no processo de seleção. É nela que podemos observar a capacidade de argumentação do candidato e o quanto ele acredita em seu potencial. Fizemos esta pergunta em um processo seletivo e pedimos que respondessem a ela por escrito, aproveitando também para observar este aspecto. Uma das candidatas disse que mereceria a vaga porque sua mãe estava com uma grave doença e ela precisava deste emprego, sendo que no meio do processo seletivo sua mãe já havia ligado para seu celular duas vezes e ela tinha atendido as ligações. A outra candidata disse que merecia a vaga porque tinha potencial e acreditava nele, que era competente e, além disso, gostaria de poder realizar trocas de aprendizagens com uma organização. Qual candidata você selecionaria? Muitos
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