Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
É notório que o elemento fundamental dos pensamentos e obras do economista Ludwig Von Misses é a Liberdade. Para ele, o homem é livre quando ele pode escolher os fins e os meios que serão usados para atingir tais fins. No entanto, para manter essa liberdade, os indivíduos precisariam estar protegidos contra a tirania dos mais fortes. Desse modo, fica evidente a necessidade de um aparato social regulado por algumas regras, como é defendido por Misses, para contribuir com essa ideia de liberdade. Esse aparato é o governo. Nesse sentido, se o governo estiver fazendo mais do que sua função de proteger os indivíduos da violência, ele estará reduzindo a esfera da liberdade individual. E é justamente para que isso não ocorra que temos as constituições, leis e os direitos dos cidadãos, tudo isso representa um enorme significado para as lutas que os homens vêm realizando para conseguir a liberdade. De igual modo conseguimos vislumbrar um pouco dessa luta nos valores que estão consagrados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é só com ela que a livre iniciativa ganha um status efetivamente diferenciado passando a princípio fundamental, na forma do art. 1°, III, da Carta Maior, e o fundamento maior da Ordem Econômica, ao lado da valorização do trabalho humano, como estabelece o art. 170, caput, também da Lei Fundamental. Apesar de intensa discursão na Assembleia Constituinte a respeito do alcance e da importância que seriam dados ao princípio da livre iniciativa, como também de embates a respeito do papel do Estado no domínio econômico, a liberdade conseguiu prevalecer acima dos constituintes que defendiam um modelo de cunho mais intervencionista, relegando a liberdade de iniciativa empresarial. O modelo de Ordem Econômica mais liberal se tornou vencedora, com a justificativa do constituinte Rubem Medina: “A emenda preconiza a organização da atividade econômica à luz de dois princípios fundamentais: a liberdade de iniciativa e a valorização do trabalho humano. No anteprojeto do ilustre Relator a livre iniciativa é colocada em plano secundário, reconhecida apenas nos termos da lei. Entre as 11 diretrizes anunciadas no art. 6ª-02, tal atitude leva a uma distorção estatizante da ordem econômica. No moderno Estado Liberal o princípio da livre iniciativa convive harmonicamente com os postulados da justiça social”. Entra assim, uma nova ordem constitucional em vigor, a livre iniciativa tornou- se fundamento da Ordem Econômica do Brasil. Disso, resultam consequências como: I. Que a intervenção do Estado no domínio econômico deve dar-se, apenas, em caráter excepcional e subsidiário; II. Que qualquer restrição à livre iniciativa há de ser tida, prima facie, como suspeita; III. Que eventual restrição à livre iniciativa só há de ser admitida se tiver por fundamento alguma outra norma constitucional específica; IV. Que é dever do Estado justificar, adequadamente, toda e qualquer intervenção que venha a promover na Ordem Econômica, demonstrando, empiricamente, que a restrição à livre iniciativa é relevante para a proteção de algum outro interesse constitucionalmente tutelado; V. Que toda e qualquer restrição à livre iniciativa, ainda que constitucionalmente válida ou que nela encontre previsão expressa, deve ser interpretada restritiva mente. Como mencionados, é inegável que a Constituição de 88 trouxe impactantes modificações à Ordem Econômica em comparação às anteriores. Além disso, trouxe uma proteção e valorização do trabalho humano e o apontamento de qualquer intervenção estatal no âmbito econômico como suspeita, assim caso venha a promover alguma restrição à livre iniciativa, precisa demonstrar que protege o interesse contraposto constitucionalmente tutelado. Se não fizer, estará desrespeitando um dos fundamentos da Ordem Econômica. Visto isso, é preciso diferenciar a maneira como o Estado age nessas situações. No modelo intervencionista como o próprio nome sugere, o Estado intervém na economia do país e influência as alterações do comportamento do mercado por meio das medidas que ele toma, esse modelo acredita que a economia não pode caminhar sozinha, assim ele toma medidas que defende ser necessárias. Esse tipo de intromissão acaba atrapalhando a economia visto que o excesso de controle dificulta o empreendedorismo, a criação da riqueza e a livre iniciativa, nesse mesmo sentido os políticos que deveriam agir para fins de proporcionar um desenvolvimento econômico acabam agindo para interesses próprios. A possibilidade de um cidadão comum participar do mercado, abrir uma empresa, vender um produto e negociar o seu preço sem necessitar de autorização ou uma aprovação do Estado só ocorre devido ao princípio da livre iniciativa. Isso fica mais claro quando temos o Estado apenas com a atribuição de regular a economia, nesse modelo regulador o principal objetivo é a repressão ao abuso do poder econômico, ele maneja o poder econômico em prol da coletividade e do desenvolvimento econômico e social do país. Assim, tem tanto a exploração direta da atividade econômica pelo Estado, quanto o Estado agindo como agente normativo e regulador da atividade econômica. Logo, é notório que o papel Estado em face à atividade econômica deve ser preservada de maneira reguladora. Analisando a Constituição ressalta que ela reconhece as duas formas de ingerência do Estados na Ordem Econômica: a participação e a intervenção. O art. 173, caput da CF/88 descreve que ressalvados os casos previstos na Constituição: A exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definido em lei. Já no art. 174, caput, afirma que como a gente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá na forma de lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Por fim, compreendemos que uma economia de alto grau de liberdade, os agentes desfrutam de maior facilidade em iniciar e encerrar empresas, gastam poucos recursos escassos com burocracias governamentais, têm grande oferta de produtos e insumos, pagam menos impostos e têm mais facilidades. A ausência de monopólios ou setores regulados pelo governo permite que empresas mais eficientes prosperem, assim como os trabalhadores mais qualificados. O resultado final de tudo isso é a redução dos custos de transação das empresas, que ficam mais competitivas, eficientes e lucrativas. Ambientes mais livres atraem negócios, pois garantem maior segurança jurídica aos investidores e oferecem incentivos para a produtividade e qualificação profissional. A evidência empírica mostra que os benefícios da liberdade econômica superam amplamente os efeitos do controle estatal. Na verdade, há muito mais evidência de destruição de empregos e redução de bem estar social em países cujos governos se propõem a regular a economia e distribuir renda do que em países que promovem a liberdade econômica. Referencias: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. MISSES. Ludwig Von. As 6 lições. 1979.
Compartilhar