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Infertilidade 1 Infertilidade Introdução INFERTILIDADE CONJUGAL → considera-se quando, no período de 1 ano, não ocorre gravidez em casal que mantenha relações sexuais frequentes e desprotegidas Segundo a FEBRASGO, a investigação antes de 1 ano se justifica em mulheres com mais de 35 anos, ciclos menstruais irregulares, história de doença inflamatória pélvica, diagnóstico ou suspeita de endometriose, cirurgias abdominais anteriores e problemas masculinos conhecidos. Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva corrobora com a FEBRASGO nos casos elencados de investigação de infertilidade com tempo inferior a 1 ano de tentativa. Probabilidade mensal de gestação em casais férteis está em torno de 20% (porém é progressivo com retirada de ACO, chegando há >90% em 1 ano - logo, deve-se tentar por 1 ano, com 2-3 relações por semana). Tanto o diagnóstico quanto o tratamento de infertilidade conjugal devem ter abordagem multifatorial, incluindo fatores dos planos fisiológico, psicológico, psicossocial e espiritual. No âmbito do SUS: Portaria MS 3149 → destina recursos financeiros aos estabelecimentos que realizam reprodução assistida. Hoje, a assistência pelo SUS é desenvolvida por alguns hospitais universitários, porém geralmente não 100% gratuito. Com o aumento da idade, diminuem as taxas de gravidez mensais naturais de mulheres, sendo 25% em mulheres ≤30 anos e reduzindo para <1% em mulheres ≥45 anos. Primeira abordagem do casal infértil Propedêutica mínima Propedêutica Básica do Fator Feminino de Infertilidade Propedêutica Complementar e Princípios da Terapêutica (clínica complementar e princípios do tratamento) Propedêutica Básica do Fator Masculino de Infertilidade (clínica complementar e princípios do tratamento) Propedêutica mínima Anamnese do casal Exame físico minucioso do casal Espermograma (com base morfológica) Avaliação da ovulação (clínica e dosagem de progesterona) Avaliação da cavidade uterina e permeabilidade tubária Propedêutica Básica do Fator Feminino de Infertilidade ANAMNESE → duração da infertilidade, abordagens e tratamentos prévios, história sexual, hábitos de vida, cirurgias prévias, antecedentes de ISTs e infecções recorrentes do trato urinário, atividade sexual, medicamentos de uso contínuo, patologias crônicas associadas, antecedentes ginecológicos e obstétricos como início e normalidade da puberdade, caracterização dos ciclos menstruais, gestação prévia, parto e puerpério EXAME FÍSICO → geral com especial atenção para peso, IMC, palpação da tireoide, ginecológicos com avaliação minuciosa da integridade morfofuncional da genitália externa e interna Propedêutica Complementar e Princípios da Terapêutica Avaliação da ovulação com dosagem de progesterona (principalmente, no 21° dia) Dosagens hormonais → hiperprolactinemia, disfunção tireoidiana e adrenal Avaliação da permeabilidade tubária → histerossalpingografia, cromotubagem pela laparoscopia e ultrassonografia com contraste Infertilidade 2 Avaliação de anormalidades uterinas → USG transvaginal, histerossonografia, histeroscopia é considerada padrão- ouro para avaliar cavidade uterina mas não é recomendada de rotina USG transvaginal → não é invasiva e apresenta relativo baixo custo, devendo ser solicitada de rotina na investigação inicial de infertilidade Avaliação de fatores peritoneais → pode ser considerada nos casos de infertilidade sem causa aparente Avaliação do potencial de resposta à estimulação ovariana: Dosagem de FSH e estradiol no 3° dia do ciclo → níveis elevados de FSH (10-20 IU/L) estão associados com pobre resposta à estimulação ovariana e falha em conceber; estradiol >60-80 pg/ml com FSH normal há evidência limitada de baixa resposta à estimulação ovariana obs.: FSH >20 = menopausa Contagem de folículos antrais (<5-7) e nível sérico de hormônio anti-mulleriano (<1 ng/ml) tem associação a pobre resposta à estimulação ovariana e menores taxas de gestação obs.: sem um ovário, outro supre (em casos de ooforectomia, há ovulação) Propedêutica do fator masculino de infertilidade ANAMNESE → duração da infertilidade, abordagens e tratamentos prévios, paternidade pregressa, anormalias congênitas, exposição a fatores de risco como radiação, quimioterápicos e medicamentos, antecedentes da doença febril prolongada, início e normalidade da puberdade, hábitos, cirurgias pregressas, trauma, torção de cordão espermático, hábitos e história sexual, antecedentes infecciosos, outros fatores como doenças sistêmicas que podem interferir na fertilidade EXAME FÍSICO → virilização do paciente, testículos epidídimos, ductos deferentes, escroto, pênis, toque retal Propedêutica complementar do fator masculino de infertilidade EXAMES COMPLEMENTARES → espermograma, espermocultura, dosagens hormonais, provas funcionais, análise da integridade do DNA seminal, biópsia testicular, exames de imagem (US escrotal e transretal e deferentografia), avaliação genética Infertilidade sem causa aparente Segundo Freitas, cerca de 20-30% dos casais inférteis não terão nenhuma anormalidade encontrada após completa avaliação e não terão nitidamente identificadas as causas de infertilidade, enquadrando-se no diagnóstico de infertilidade sem causa aparente ou fator desconhecido com critérios mínimos: Ciclo ovulatório normal Níveis adequados de prolactina e TSH Espermograma dentro da normalidade Comprovação de normalidade anatômica uterina e tubária por USG, histerossalpingografia e, idealmente, via laparoscópica Pesquisa de clamídia negativa O fator masculino responde por 35% dos casos de infertilidade conjugal (feminino também, o resto é sem causa aparente). A relação da idade do homem com a fertilidade envolve muitos fatores, entre eles hormônios sexuais, disfunção sexual, função testicular, alterações genéticas do sêmen e a fragmentação do DNA do espermatozoide. ÍNDICES ETIOLÓGICOS → varicocele 20-40%, infecção 15%, obstrução 10%, criptorquidia 5-10%, hormonal 5%, imunológico 5%, genético 5%, idiopático 25% FATORES CONGÊNITOS → criptorquidia e disgenesia testicular, ausência congênita dos vasos deferentes ANORMALIDADES UROGENITAIS ADQUIRIDAS → obstrução, torção testicular, tumor testicular, orquite INFECÇÕES DO TRATO UROGENITAL AUMENTO DA T°C ESCROTAL Infertilidade 3 DISTÚRBIOS ENDOCRINOLÓGICOS ANORMALIDADES GENÉTICAS FATORES IMUNOLÓGICOS → doenças autoimunes DOENÇAS SISTÊMICAS → DM, insuficiência renal e hepática, câncer, hemocromatose FATORES EXÓGENOS → medicamentos, toxinas, irradiação Abordagem da infertilidade masculina Anamnese Desenvolvimento puberal e dificuldades com a função sexual. Disfunção erétil, particularmente em combinação com crescimento inadequado da barba Disfunção ejaculatória (hipospádia) DSTs ou infecções geniturinárias frequentes (epididimite ou prostatite) Antecedentes pessoais de criprquidia, torção testicular ou trauma testicular. Histórico de varicocele Histórico de tratamentos oncológicos anteriores HAS, DM ou doença neurológica Uso de medicamentos, bebida, cigarro e uso frequente de esteroides anabolizantes Investigação Análise do sêmen Espermograma. A análise básica do sêmen avalia seu volume e a concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides. COLETA PARA ESPERMOGRAMA: Período de abstinência sexual de, no mínimo, 2 e, no máximo, 7 dias Coleta em frasco esterilizado, por meio de masturbação A coleta em casa e a partir de relação sexual com condom especial (que não seja de látex e sem lubrificante) pode ser feita apenas em situações especiais como a incapacidade de coletar por masturbação - em virtude do risco de contaminação da amostra, não é recomendável a relação sexual para coleta O estudo da amostra deve ser realizado no máximo 1h após a coleta Quanto à quantidade de espermatozoide, algumas definições importantes: NORMOZOOSPERMIA → ejaculado normal OLIGOSPERMIA → baixo volume de esperma ASPERMIA → ausência de ejaculado AZOOSPERMIA → ausência de espermatozoides no ejaculado Infertilidade4 OLIGOZOOSPERMIA → baixa concentração de espermatozoides no ejaculado (<20mi/ml); leve a moderada = 5-20 mi/ml de sêmen; grave = <5mi/ml Tratamento do casal infértil IMPORTANTES: Clareza da causa (primária e fatores de risco) Idade, anseio e angústia do casal - deve-se acompanhar com psicólogo Investimento e frustrações Opções: decisão compartilhada - deve-se conversar muito bem Planejamento Indução ovariana A disfunção ovariana é a indicação mais comum para uso de indutores da ovulação. Essa terapêutica também pode ser utilizada em mulheres que ovulam, com o objetivo aumentar a probabilidade de gravidez em casais com outras causas de infertilidade ou com infertilidade inexplicável. obs.: deve-se acompanhar com USG seriado - fazer USG do 3°-5° dia do ciclo para controle da ovulação‼ Citrato de clomifeno Administrado VO entre 3° e o 5° dias após o início de menstruação. Inicia-se o tratamento com 1 comprimido diário de 50mg, durante 5 dias. As doses são aumentadas 50mg a cada ciclo subsequente, até que haja indução da ovulação. Quando confirmada a ovulação normal, a dose não deve ser mais aumentada (mas pode diminuir em casos de ovulação excessiva). Antes do início da terapia, é interessante a realização de USG com a finalidade de excluir sinais de maturação folicular espontânea significativa ou de cistos foliculares residuais. Além da realização de um teste de gravidez. Gonadotrofinas PROTOCOLO PROGRESSIVO → inicia com doses baixas, de 50-75 UI/dia, que devem ser aumentadas gradualmente se não houver resposta ovariana após alguns dias PROTOCOLO REGRESSIVO → com vantagem de menor duração de estimulação; porém o risco de resposta ovariana excessiva, como desenvolvimento de folículos múltiplos ou de sd. da hiperestimulação ovariana, é maior nesse método Inibidores da aromatase (letrozol) Letrozol 2,5-5 mg/dia VO, por 5 dias. Agem na inibição da aromatase, enzima que catalisa a etapa limitante da taxa de produção estrogênica. Complicação da indução ovariana 1. SD. DA HIPERESTIMULAÇÃO OVARIANA (SHO) A SHO é um complexo sintomático clínico associado ao aumento no volume do ovário resultante do tratamento com gonadotrofinas exógenas. SINTOMAS → dor e distensão abdominal, ascite, problemas gastrintestinais, comprometimento respiratório, oligúria, hemoconcentração e tromboembolismo CLASSIFICAÇÃO: GRAU 1 → distensão/desconforto abdominal GRAU 2 → grau 1 mais náusea e vômito ou diarreia; o tamanho dos ovários aumenta entre 5-12 cm GRAU 3 → evidência USG de ascite GRAU 4 → evidências clínicas de ascites, ou hidrotórax, ou dificuldade para respirar Infertilidade 5 GRAU 5 → todos os graus acima mais volume sanguíneo reduzido, hemoconcentração, perfusão e função renal reduzidas e anormalidades da coagulação Diagnóstico clínico. Tratamento de suporte. Correções cirúrgicas da infertilidade Anormalidades anatômicas: TUBÁRIAS → canulação, reconstrução ou reanastomose UTERINAS → leiomiomas, pólipos endometriais e sinéquias Tratamento da infertilidade masculina Aspermia Ausência total de sêmen. TRATAMENTO → orientação psicológica, tratamento da disfunção erétil com citrato de sildenafil; em alguns casos, a estimulação vibratória também pode ser eficaz Azoospermia Ausência de espermatozoides no sêmen. TRATAMENTO: Obstrução → cirurgia Congênita (ausência dos ductos deferentes) → ICSI Varicocele É a dilatação do plexo pampiniforme da v. espermática, geralmente do lado esquerdo. TRATAMENTO → ligação cirúrgica da v. espermática interna Atenospermia Motilidade reduzida. Não responde a tratamento direto. Conduta expectante. Inseminação intrauterina INDICAÇÕES: Infertilidade sem causa aparente Endometriose estádio I e II Fator cervical ou imunológico Fator masculino leve (são necessárias pelo menos 5mi de espermatozoides com movimentos progressivos por ml) Fertilização in vitro Técnica de reprodução assistida em que o óvulo é fertilizado pelo espermatozoide em laboratório. Infertilidade 6 Injeção intracitoplasmática de esperma - ICSI Laboratorial. Inserir o espermatozoide dentro do óvulo e inserir no útero. Considerações finais A infertilidade é rotina nos consultórios ginecológicos e podem ser das mais diferentes etiologias, tanto femininas, quanto masculinas ou mistas. Para que haja a correta fecundação e nidação, é necessário que todo o percurso e agentes estejam em sintonia e em estado fisiológico. Anamnese e exame físico são primordiais para orientar a abordagem do casal infértil. Exames laboratoriais e de imagem complementam a investigação e conduta. Assim como as causas são diversas, os tratamentos de infertilidade são múltiplos e dependem da causa diagnosticada. Ao médico generalista, cabe as orientações inicias e condutas investigatórias preliminares, bem como direcionamentos pertinentes.
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