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ACADÊMICO Renato Barbosa de Oliveira R.A 2797441 DISCIPLINA Saúde Coletiva e Políticas Públicas em Saúde Curso Enfermagem Comparação dos Sistemas de Saúde Há mais de 2300 anos, Sócrates idealizou o Estado perfeito, harmonioso e justo; descrito na obra utópica, A República, de seu discípulo Platão, onde o filósofo não deixa de abordar também o tema Saúde Pública, que de acordo com suas observações já era motivo de preocupação para os governantes da época. Pode-se interpretar que Sócrates acreditava que toda a produção e meio de produção era e deveria ser de caráter privado, sendo que os serviços prestados deveriam ser ofertados pelo estado; e dentre estes serviços estava a medicina. A preocupação com a saúde preventiva para o bom funcionamento da sociedade pode ser observado no Livro 2, capítulo XIV, onde ele diz “Poderia haver prova maior num Estado de uma educação má e indecorosa que o fato de haver necessidade de peritos em jurisprudência e em medicina, não somente para os cidadãos mais simples e para os artesãos, mas também para aqueles que se vangloriam de ter recebido uma educação liberal? ”. O trecho fora do contexto pode dar a impressão de que a medicina e a promoção da saúde não eram importantes, mas se analisarmos o Livro 1, capítulo XIII, veremos que o aumento na demanda de médicos se dá principalmente por consequência dos vícios e intemperanças da sociedade em diferentes classes sociais. Trazendo a discussão para o cenário atual, percebe-se que o desafio do Estado continua sendo o mesmo: Encontrar uma maneira justa e eficiente de promover a saúde para todos, independentemente de ser este um serviço universal ou segmentado. No estudo de Eleonor Minho Conill, vemos a França apresentar os melhores resultados na análise dos sistemas de saúde, mas convém observar que no gráfico da OECD de 2005, já se previa problemas com custos elevados e baixa adesão a medicina preventiva. No Canadá e Reino Unido, que também apresentam excelentes resultados, não devemos ignorar que o gráfico também informa a dificuldade ao acesso do sistema de saúde. E então eu me pergunto: Grandes investimentos em saúde pública são realmente a solução para o sistema perfeito? A resposta fora respondida pelos gregos em tempos remotos, quando apontavam para uma política de educação e reeducação da sociedade. A previsão para o gráfico da OECD é simples, pois sabemos o resultado da dificuldade de acesso ao serviço de saúde e a baixa adesão a medicina preventiva. Se eu tivesse de escolher em que serviço de saúde eu seria atendido em 2005, eu certamente escolheria aquele que apresentava os melhores resultados, ou seja, o serviço francês, que ao meu ver possuía, o que de acordo com Roemer, são os quatro componentes fundamentais de um sistema de saúde: recursos, organização, financiamento e gestão. No documentário SiCKO, 2011, de Michael Moore, ficava evidente que o sistema de saúde francês alcançava o que Roemer chama de “prestação de serviço em resposta às necessidades da população”. Porém em 2014 o presidente François Hollande, do Partido Socialista, iniciou uma nova visão – considerada “liberal” pelos analistas – focada na redução de gastos estatais. Naquele ano o país fez reformas que visavam reduzir o déficit da previdência social, onde os custos chegavam a 600 bilhões de euros somados aos custos da saúde pública que também eram um grande gerador de gastos, motivo de questionamentos por considerável parcela da população. O governo francês previa um corte de 3,8% em investimentos na saúde, para aquele ano, devendo se manter contínuo e gradativo até 2040. Em 2019, a França já anunciava que seu sistema de saúde já acumulava dívidas de aproximadamente 30 bilhões de euros. Em 2020 a pandemia do coronavírus revelou hospitais públicos franceses, que já foram considerados os melhores do mundo, em péssimo estado. Além da falta de material de proteção, como máscaras e blusas, e de medicamentos, a crise evidenciou a diminuição de leitos, principalmente em UTIs, e a pauperização dos profissionais de saúde. Os salários das enfermeiras francesas se tornaram os mais baixos entre os países europeus da OCDE. E a situação piora ao fim do primeiro semestre de 2020, quando os profissionais da saúde franceses passam a reivindicar aumentos salariais. Em mensagens compartilhadas nas redes sociais, eles perguntavam "se ficar sem dinheiro, posso pagar com aplausos?". A pergunta remetia aos aplausos diários que recebiam dos franceses às 20h, em agradecimento aos esforços na luta contra a Covid- 19. A mesma crise se via ao redor do globo, nos serviços de saúde que outrora serviam de modelo para o mundo. A visão equivocada de saúde socialista e assistencialista francesa nos faz refletir sobre Foucault, que dizia que ”os traços biológicos de uma população se convertem assim em elementos pertinentes para uma gestão económica, e é necessário organizar em torno deles um dispositivo que assegure a sua submissão, e sobretudo o incremento constante da sua utilidade. ” E foram a partir dos estudos de Foucault que foram pensadas e executadas medidas concretas de saúde pública diretamente voltadas para as células familiares, sobretudo no âmbito do complexo de relação pais-filhos, onde os Estados europeus começaram a encarar a medicalização das famílias e o reforço das obrigações parentais como funções obrigatórias para assegurar o privilégio da infância como núcleo fundamental da saúde familiar. Mas onde erraram os perfeitos sistemas de saúde europeus? Seguiram ao pé da letra Foucault? Acredito que julgaram mal o que era utilidade x necessidade. Com base nessa análise, se eu tivesse de escolher um serviço de saúde para me atender hoje, eu escolheria o SUS brasileiro, que mesmo carecendo de boa gestão, tem se desenvolvido bem nos últimos 30 anos, desde sua criação. De acordo com o mesmo gráfico OECD, de 2005, que apontava problemas de desigualdade, que infelizmente não foram superados, ainda assim o sistema de saúde brasileiro tem buscado formas de promover e expandir a medicina preventiva familiar, como reconheceu a revista The Lancet, edição 11 de julho de 2019, que destaca ainda o melhor serviço de vacinação do mundo aqui nas terras de vera cruz. Vale lembrar também que ainda somos um país em desenvolvimento e com dimensões continentais. Ou seja, com uma boa dose de pensamento crítico e boa gestão, podemos oferecer uma ótima qualidade de vida e saúde ao nosso povo.
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