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Desenvolvimento Humano I Aula 10: Adolescência Apresentação A adolescência vem sendo considerada um período de transição da infância para a vida adulta. Essa fase do ciclo vital não deve ser vista de forma tão simplista, visto que apresenta mudanças signi�cativas no desenvolvimento do indivíduo, tanto na sua dimensão física quanto psicossocial. É importante ressaltar que, em nossas discussões ao falarmos em adolescência, na verdade, estamos nos referindo a “adolescências”, porque diante da diversidade de situações e contextos humanos não podemos generalizar. Sem dúvida, esse momento do desenvolvimento é de grande importância. Nele, muitas escolhas são feitas, e elas trarão consequências para a vida adulta. Objetivos Reconhecer o conceito de adolescência ao longo da história; Identi�car dos aspectos físicos, cognitivos e psicossociais deste período do ciclo vital; Descrever possíveis impactos das experiências da adolescência na vida adulta. Adolescência: um caminhar pela história Nossa caminhada pela história começa pelo signi�cado da palavra adolescência, advinda do latim adolescere que signi�ca crescer. Esse termo foi utilizado pela primeira vez, em 1430, e de�nia a adolescência pela faixa etária, homens entre 14 e 21 anos de idade, e as mulheres de 12 a 21 anos. Ao longo do percurso, veremos que esse conceito se modi�ca de acordo com as demandas da época. Em alguns momentos, sendo relacionado à capacidade física, em outros à intelectual, ou ainda a ambas. Vejamos como a adolescência era tratada ao decorrer dos tempos: Clique nos botões para ver as informações. No século IV a.C, Aristóteles considerava os jovens capazes de realizar escolhas, porém impulsivos, o que em certos casos comprometiam os resultados. No século IV a.C Na Grécia Antiga, a maioridade chegava aos 18 anos, mas a partir dos 16 já era permitido aos meninos falar em público, apresentando suas ideias. A ginástica era utilizada como uma forma de preparar os jovens �sicamente e moralmente para os seus afazeres. As meninas entre 15 e 16 anos já estavam aptas ao casamento e, portanto, à maternidade. Meninos e meninas, nesse momento da história, tinham seu caminho direcionado pelos adultos. Grécia Antiga Os jovens no Império Romano eram educados de forma mais objetiva, meninos voltados para ser agricultor, cidadão ou guerreiro. Aos 14, deixavam as vestes infantis e, aos 16, poderiam escolher entre as três alternativas para as quais foram preparados. Quanto às meninas sem direito de escolha, aos 14, no máximo, já deveriam estar casadas e procriando. O estudo tinha relevância como fator integrante do jovem na sociedade. Império Romano Quando pensamos na Idade Média, falamos em uma fase em que as crianças e jovens eram considerados adultos em miniatura. Uma vez vencidas as di�culdades com relação à mortalidade infantil e à superação dos desa�os quantitativos, como peso e altura, eram logo misturados aos adultos para aprendizagem das atividades de acordo com sua classe social. O casamento ainda acontecia entre os 12 e 15 anos. Idade Média Chegamos ao século XII, quando à igreja católica começa a celebrar somente casamentos em que os noivos estivessem de comum acordo, dando voz a esses jovens, o que na prática não trazia grandes mudanças, mas foi um começo. Para Jean Jacques Rousseau, um dos principais �lósofos do iluminismo, a adolescência era um período emocionalmente conturbado, in�uenciado pelas mudanças provocadas pela maturação biológica. Posteriormente, por questões religiosas relacionadas à necessidade de uma educação moral de crianças e jovens, o processo educacional passou a ser realizado em instituições fechadas, sem distinção de faixa etária e tampouco considerando os processos relacionados à puberdade. Nessa fase, os jovens são afastados do convívio com a família. Século XII Chegando no século XIX, o conceito de adolescência começa a ser separado da infância, sendo percebido como uma fase de potencial e riscos. Stanley Hall formaliza, em 1904, o termo adolescência através do lançamento de seu livro Adolescence. Ele inicia os estudos na área marcando uma nova fase na forma de pensar e cuidar desses sujeitos que atravessam um período tão crítico do seu desenvolvimento. Século XIX Como mencionado na Aula 2, nas culturas ocidentais industrializadas, as fases se de�nem em 8: 1 período pré-natal (concepção ao nascimento); 2 primeira infância (nascimento aos 3 anos); 3 segunda infância (3 a 6 anos); 4 terceira infância (6 a 11 anos); 5 adolescência (11 aos 20 mais ou menos); 6 início da vida adulta (20 aos 40 anos); 7 vida adulta intermediária (40 a 65 anos); 8 vida adulta tardia (65 em diante). Atenção Atualmente, é de�nida pela Organização Mundial de Saúde que toda pessoa entre 10 e 19 anos é considerada adolescente, essa faixa etária também serve de referência para o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geogra�a e Estatística. Para o Estatuto da Criança e Adolescente, a referência é a faixa etária entre 12 e 18 anos de idade. Puberdade A puberdade diferente da adolescência é o período caracterizado pelas transformações corporais, puramente de ordem �siológica. Começa a experiência de um corpo novo, tanto na parte estética quanto no seu funcionamento. Quando se inicia esse período? As meninas iniciam esse processo de transformação por volta dos 12 anos, com o aparecimento dos pelos, o crescimento dos seios. Um marco importante deste período é a primeira menarca ou menstruação, culturalmente a menina �ca “mocinha”, signi�cando já ter capacidade reprodutiva, o que ao longo da história a colocava em condições para o casamento. Por volta dos 13 anos, é a vez dos meninos que têm como momento de transição a primeira ejaculação, o que o coloca também em condições de reprodução. Assim como as meninas têm o crescimento dos pelos, e ainda alteração na voz, espinhas, entre outras modi�cações que marcam o início de seu processo de transição. O que ocorre nesse período? Durante esse período, também ocorre grande mudança no crescimento e na maturidade mental, a capacidade de raciocinar, de lembrar os acontecimentos e �xá-los, de estabelecer relações e tomar decisões muda. A informação emocional ainda é processada pela amígdala. Com isso, os julgamentos são menos racionais. Outra questão interessante nessa fase da vida é a condição de assumir riscos, que poderia ser explicada pelo processo inacabado do desenvolvimento dos sistemas corticais frontais relacionados à impulsividade. (Fonte: SofiaV / Shutterstock). Este é um momento difícil no processo de desenvolvimento humano, a perda do corpo infantil, mudanças �siológicas, hormonais e físicas, exigindo novas formas de se relacionar com ele mesmo, com o outro e o mundo. Esse processo do ciclo vital é considerado universal, pelas características da puberdade serem compartilhadas independentemente da cultura. Adolescências Nossa discussão sobre adolescência inicia com uma pergunta a ser respondida, será que, como a puberdade, a adolescência pode ser universalizada? Veremos que não. Há adolescentes e adolescências, que serão vivenciadas de acordo com as questões sociais, culturais e temporais. Stanlley Hall (1904) propõe que adolescência seria um momento do ciclo vital marcado por con�itos, em que é possível reviver as etapas anteriores do desenvolvimento de uma forma mais complexa e, ao mesmo tempo, com a possibilidade de resolver questões antigas fazendo novas escolhas. (Fonte: Sylverarts Vectors / Shutterstock). Esse momento passa a ser uma espécie de renascimento para a vida adulta, um processo que envolve questões psicossociais que precisam ser individualizadas, porque dizem respeito à forma como essa criança, hoje adolescente, percebeu o mundo a sua volta durante suas experiências através dos estímulos que lhe foram apresentados, dentro de seu meio social e cultural. Na parte cognitiva , chegamos ao estágio das operações formais de Piaget, no qual adquirea capacidade de pensar de forma abstrata, utilizar e compreender as metáforas, as emoções não �cam vinculadas somente a questões concretas, mas também a valores como justiça, lealdade, e o tempo não é só o de agora, mas também um tempo histórico. Adquirir essas habilidades lhe confere a capacidade de pensar sobre si mesmo e o mundo a sua volta, produzindo questionamentos que muitas vezes são vistos como a fase da “aborrecência”. Essa visão é equivocada, na medida em que nem todo adolescente tem que ser problemático para estar vivendo esse período. Esses estereótipos podem atrapalhar a comunicação entre pais e �lhos, alunos e escola, prejudicando a construção de um espaço para o diálogo e o desenvolvimento seguro desses jovens que estão construindo sua identidade. Para os psicanalistas Arminda Aberastury e Mauricio Knobel, os adolescentes compartilham algumas características, como: a busca de si e da identidade; tendência grupal; a necessidade de intelectualizar e fantasiar; as crises religiosas; a deslocalização temporal; a evolução sexual, do autoerotismo à heterossexualidade; atitude social reivindicatória; contradições sucessivas nas manifestações de conduta; separação progressiva dos pais e constantes �utuações do humor e do estado de ânimo. Exemplo Buscando exempli�car as características mencionadas acima, a tendência grupal seria o movimento do adolescente em busca de identi�cação, pertencimento e segurança por meio dos grupos. Com a maturidade e sua identidade construída, a ideia de grupos se modi�ca. A necessidade de intelectualizar e fantasiar surge como alívio para as tensões provocadas pela angústia sentida nesta fase. As crises religiosas iniciam com a capacidade para pensar sobre a �nitude e a divindade. Em relação ao tempo, tudo para o adolescente é urgente. A deslocalização temporal indica que o tempo é baseado principalmente em suas necessidades. No que diz respeito à evolução sexual, estamos falando das experiências com o corpo, a saída das descobertas por meio do próprio corpo para as experiências através do corpo do outro. Fonte: nasharaga / Shutterstock. Na atitude social reivindicatória, contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta, separação progressiva dos pais e constantes �utuações do humor e do estado de ânimo, o adolescente busca por espaço, querendo ser independente e, ao mesmo tempo, não querendo abrir mão do lado bom de ser dependente. Precisa se distanciar das �guras parentais, para se descobrir, mas não quer deixar de ser amado. São tantos os lutos vivenciados durante esse período que seu humor oscila tanto que coloca em risco a paciência de quem está ao seu redor, e sua própria saúde mental. As experiências da adolescência e a vida adulta A forma como essas experiências serão vivenciadas e internalizadas pelo adolescente será determinante para a construção de sua identidade. Já vimos que esse período é marcado por muitos lutos. Como disse Stanley Hall é o momento de recomeçar, a possibilidade de fazer escolhas que possam garantir uma vida adulta de sucesso. Mas como ajudar os adolescentes contribuindo para sua saúde mental e assim promovendo a saúde do adulto e consequentemente a do idoso? A resposta poderia ser observando, escutando e acolhendo esse adolescente, sem pré-julgamentos. Desta forma, contribuímos na descoberta e fortalecimento das suas habilidades sociemocionais, ajudando na construção de estratégias que possam ser utilizadas ao longo de sua vida para lidar com as adversidades. Ao conhecer suas fragilidades, tem- se a oportunidade de encontrar meios para que elas não os atrapalhe e, ao se apropriem das potencialidades, possam criar oportunidades. Um adolescente que vivencia esta etapa do ciclo vital e constrói uma autoestima que o sustente perante a ele mesmo, ao outro e ao mundo, terá mais condições de manter sua saúde mental nas próximas etapas do desenvolvimento humano. Comentário Esse ganho é muito importante para garantir a vida, os órgãos internacionais, como a OMS, apontam para o crescimento do comprometimento da saúde mental das crianças e adolescentes. As estatísticas indicam um aumento para o número de casos de depressão e suicídio, principalmente em países subdesenvolvidos. Promoção e prevenção da saúde são urgentes. Finalizando, ao longo das aulas, falamos do desenvolvimento infantil e do adolescente. Na verdade, nos referimos à base para a construção de um adulto e também da possibilidade de um processo de envelhecimento saudável, seguindo os parâmetros da Organização Mundial de Saúde, que de�ne a saúde como um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de doença. Atividade Qual a diferença entre a faixa etária proposta pela Organização Mundial de Saúde e o Estatuto do Adolescente para a adolescência? Diferencie puberdade de adolescência. De acordo com Arminda Aberastury e Mauricio Knobel, a adolescência apresenta algumas características, mencione três delas. Notas Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Referências ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Trad. S. M. G. Ballve. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. HABIGZANG, Luísa, F.; DINIZ, Eva; KOLLERS, Silvia H. Trabalhando com adolescentes: teoria e intervenção psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2014. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Próxima aula Explore mais Assista ao documentário The call to courage (O poder da coragem) – Brené Brown, exibido em 2019 pela Net�ix com duração de 1h e 16 min.; Leia ao artigo Crise e saúde mental na adolescência: a história sob a ótica de quem vive. javascript:void(0);
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