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Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP RESPOSTA IMUNE DE MUCOSAS Superfícies Mucosas: recobem estruturas dos tratos gastrointestinal, respiratório e genitourinário. ● A fragilidade e permeabilidade das mucosas criam uma vulnerabilidade à infecção. ● Superfícies úmidas e quentes → propício para o crescimento de patógenos PROPRIEDADES DO TGI A maioria dos antígenos do TGI são derivados de alimentos e bactérias comensais, e são altamente benéficos ao hospedeiro 1. Tolerância a antígenos alimentares (oral): estado de falta de resposta imune local e sistêmica específica a um determinado antígeno protéico. 2. Defesa contra agentes infecciosos: ativação de mecanismos inatos e adaptativos a fim de evitar a disseminação sistêmica. - Fatores de virulência→ capacidade de atravessar a barreira de muco→ ativa SI - Necessidade de reconhecer e combater o patógeno 3. Relação simbiótica com a microbiota local: regulação das respostas imunes locais e das bactérias comensais de maneira antígeno específica ANATOMIA DO TGI ● Presença de vilosidades distribuídas ao longo de todo o intestino, precedidas pelas criptas intestinais. ● Camada de células epiteliais assentadas sobre uma membrana basal → Barreira física. ● Abaixo do epitélio, há uma camada de tecido conjuntivo frouxo, a lâmina própria - Na lâmina própria ocorre a efetuação da resposta imune. - Presença de vasos sanguíneos, vasos linfáticos e GALTs (tecido linfóide associado a mucosa gastrointestinal). 1 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Placas de Peyer: tecidos linfóides associados à mucosa organizados sob a barreira epitelial (presentes na região de cúpula). - Estrutura de folículos linfóides: centro germinativos com linfócitos linfócitos B, linfócitos T auxiliares foliculares, células dendríticas foliculares e macrófagos. - Não encapsulados A distribuição de rede linfática desemboca nos linfonodos mesentéricos, estruturas encapsuladas (rede de drenagem). 2 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP IMUNIDADE INTESTINAL A imunidade intestinal nos protege contra as infecções ao mesmo tempo que permite a permanência de microrganismos comensais. 3 mecanismos principais: 1) Camada de muco 2) Peptídeo antimicrobiano: matam patógenos no lúmen ou diminuem a entrada no epitélio. 3) IgA (lâmina própria→ lúmen): neutraliza os patógenos CÉLULAS EPITELIAIS Grande diversidade de células epiteliais intestinais→ contribuem para a função de barreira da mucosa. ● Enterócitos: células epiteliais absortivas, com microvilosidades, e secretoras de enzimas hidrolíticas. ● Células de Paneth: produção de substâncias microbicidas; bases das criptas. ● Células M: células especializadas na amostragem de antígenos; cúpula das Placas de Peyer. ● Células Globosas / Caliciforme: secretoras de muco (aprisiona o patógeno, tornando a eliminação mais fácil); ápice das vilosidades. Células adjacentes unidas por tight junctions, impedindo o movimento de microrganismos entre as células e para dentro da lâmina própria. BARREIRA FÍSICA - MUCO Fluido viscoso, secretado pelas células caliciformes, contendo proteínas glicosiladas denominadas mucinas, podendo ser secretadas ou de superfície (glicocálice). ● Predomínio da MUC2 → formam um gel hidratado bem espesso. Funções: 1. Barreira física: prevenção do contato do patógeno com o epitélio. 2. Impede a translocação de toxinas e microrganismos para tecidos subjacentes. 3. Matriz de deposição e exposição de substâncias microbianas (IgA e AMP) 3 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP ● Intestino delgado: camada única de muco interno (+ densa e firme) ● Intestino grosso: camada de muco externo, acima do interno (- denso) → colonizável por bactérias comensais. Vários estímulos imunes e ambientais podem aumentar a produção de mucina, como citocinas*, produtos de neutrófilos e proteínas de adesão microbianas. * IL-1, IL-4, IL-6, IL-9, IL-13, TNF e IFN tipo I BARREIRAS QUÍMICAS Proteínas antimicrobianas As substâncias produzidas por células epiteliais intestinais, principalmente pelas de Paneth, protegem contra bactérias luminais, e os defeitos na sua produção estão associados à invasão e inflamação. Lisozima: enzima glicosidase, que atua clivando ligações do peptidoglicano presentes na parede celular bacteriana. ● Afeta mais gram-positivas (possuem camada mais espessa de peptidoglicano). 4 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Peptídeos antimicrobianos (AMP): pequenos peptídeos catiônicos produzidos após ativação do receptor citosólico NOD2. ● Ex.: defensinas e catelicidinas ● Secretados constitutivamente e com regulação positiva em casos de infecções. ● A produção de AMP depende de receptores, mas a sua ação não. Defensinas→ inserção na membrana, formando poros⇒ Ruptura da membrana fosfolipídica externa do microrganismo. obs: não ataca células do hospedeiro, pois os fosfolipídios de bactérias são muito mais eletronegativos, e os das células do hospedeiro não são expostos extracelularmente. Expressão diferencial de TRL e NOD A expressão compartimentalizada e diferencial de receptores permitem o controle de resposta imune aos diferentes microrganismos → apenas patógenos que quebram a barreira epitelial induz resposta imune. ● A maior parte das bactérias luminais é comensal e permanece retida fora do epitélio, ainda que possam expressar os PAMPs de patógenos. ● As respostas mediadas por PRRs (receptores de reconhecimento de padrões) são reguladas por níveis de expressão ou expressão compartimentalizada apenas em determinados locais. Expressão extracelular basolateral: TLR-2 (reconhece peptidoglicano) e TLR-5 (flagelina). Expressão fagossomal: TLR-9 (DNA) Expressão intracelular citosólica: NOD-1 ou NOD-2 > Não há expressão de PRRs na membrana luminal. 5 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP TIPOS DE CÉLULAS LINFÓIDES INATAS (ILC) As ILCs são células derivadas da medula óssea com morfologia linfocítica e que atendem a diversas funções antimicrobianas. ● Desenvolvimento a partir de um precursor comum da medula óssea, identificado pelo fator de transcrição Id2. ● Cada subgrupo diferenciado é identificado pela expressão de diferentes fatores de transcrição e pelas citocinas produzidas quando ativados. ● Conferem resposta imediata, antes da ação da resposta adaptativa → respondem a sinais de citocinas locais secretando citocinas efetoras. ● O perfil de resposta se assemelha ao perfil dos linfócitos Th, porém não expressam o TCR. ILC1: Ativa fagócitos de atividade antiviral. ILC2: Estimula a proliferação do epitélio responsável pela secreção de muco; ativa eosinófilos e gera resposta inflamatória e envolve-se respostas alérgicas. - IL-5 ativa eosinófilos (enzimas que degradam tegumento do helminto) - IL-13 aumenta produção de muco ILC3: Auxilia na função de barreira por induzir a secreção de moléculas antimicrobianas e proteínas das junções de oclusão. - IL-17 promove resposta inflamatória aguda aos microrganismos - IL-17 e IL-22 intensificam a função de barreira da mucosa 6 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP RESPOSTA INATA NO TGI Reconhecimento: O antígeno é reconhecido por PRRs, principalmente TLRs e NLRs. Conter a infecção: com a fagocitose, há a possibilidade de eliminação do antígeno. Estimulação da função de barreira e sem indução da inflamação: - ↑ resistência das junções de oclusão - ↑ motilidade intestinal - ↑ proliferação do epitélio intestinal ILCs secretam IL-17 e IL-22, que induzem o aumento da função de barreira: - ↑ produção de muco e defensinas - ↑ função das junções de oclusão - ↑ transporte de IgA para a luz obs.: Só há produção de citocinas pró-inflamatórias em casos de reconhecimento de antígenos específicos de patógenos, ou se o reconhecimento ocorrer no polo basolateral ou no meio intracelular. RESPOSTA ADAPTATIVA NO TGI Características principais ● A principal forma de imunidade adaptativa é a imunidade humoral → anticorpos IgA diméricos secretados no lúmen intestinal, impedindo a colonização e invasão. ● Respostas imunes celulares→ Th17(>), Th1 e Th2. ● Ativação de células T reguladoras para controle de reações inflamatórias no intestino → necessidade de tolerância a antígenos alimentares e microrganismos comensais. TRANSPORTE DOS ANTÍGENOS A principal via de exposição do antígeno da luz para os tecidos linfóides é pelas células M, mas ocorre também por CDs. 7 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP As células M possuem microdobras especializadas na captura e se localizam na cúpula; apresentam funções de transporte transcelular (transcitose) do antígeno do lúmen intestinal, através da barreira epitelial, para as APCs do subepitélio (CDs). - Glicocálice delgado - Microvilos irregulares curtos → microdobras - Amplas fenestrações na membrana As células dendríticas são capazes de emitir dendritos entre os enterócitos em direção a luz e capturar os microrganismos ou esses chegam até as CD. Essas são recrutadas para a lâmina própria devido a secreção de quimiocinas pelas células epiteliais. 8 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP AMOSTRAGEM DE ANTÍGENOS As APCs migram para o vaso linfático do vilo, chegando até uma rede de vasos linfáticos interconectados, que se direciona a um tecido linfóide da mucosa intestinal. - Tecidos linfóides organizados → Placas de Peyer - Linfonodos mesentéricos - Folículos isolados na lâmina própria → GALTs obs.: Os tecidos linfóides das mucosas recebem os antígenos através do epitélio, não recebem pela circulação linfática ou sanguínea (como ocorre nos linfonodos e baço) Redes linfática (conexão) → Placas de Peyer* → Fase de indução imunidade adaptativa Perfil tolerogênico das células dendríticas As respostas pró-inflamatórias são indesejáveis na mucosa gastrintestinal devido aos danos epiteliais que podem provocar outras inflamações. No entanto, somos constantemente expostos a antígenos alimentares da dieta, os quais podem ser reconhecidos e desencadear respostas. Assim, há a necessidade de um perfil tolerogênico. 9 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP CD tolerogênica ● ↓ expressão de moléculas coestimuladoras (CD80 e CD86), necessárias para o 2° sinal de ativação dos linfócitos T. ● Produção de TGF-β Esse contexto permite uma diferenciação de T em linfócitos T reguladores (Treg), que inibem a resposta inflamatória por produzirem citocinas anti inflamatórias (IL-10 e TGF- β), inibindo a ativação de linfócitos Th e induzindo a troca de isotipo das Igs. Dessa forma, há captura e apresentação do antígeno, mas sem desenvolvimento de resposta imune (sem 2° sinal) ⇒ tolerância oral Tolerância oral: resposta fisiológica de não responsividade frente a antígenos alimentares e a bactérias comensais. HOMING INTESTINAL E DIFERENCIAÇÃO DE LINFÓCITOS Os linfócitos efetores gerados nos tecidos linfóides são marcados com propriedades seletivas de homing intestinal dependente de receptores de integrina e de quimiocina, e circulam a partir do sangue de volta para dentro da lâmina própria do intestino. ● As células dendríticas são induzidas pela TSLP e outros fatores a expressarem a enzima retinaldeído desidrogenase (RALDH), que converte a vitamina A em ácido retinóico (AR): Ácido retinóico atua: - Manutenção de um estado anti inflamatório na mucosa. - Junto com TFG-β, diferenciam Treg. ● Com a ativação dos linfócitos no GALT pela exposição ao antígeno, esses são expostos ao AR, induzindo a expressão do receptor de quimiocina CCR9 e da integrina α4β7. ● Os linfócitos efetores retornam a circulação e voltam para a região da lâmina própria que induziu a ativação ⇒ Combater o patógeno. Quimiocina CCL25 (ligante para CCR9) secretada constitutivamente pelos enterócitos. Molécula de adesão MadCAM (ligante de α4β7) são expressas no endotélio venular local. 10 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP ● O homing de plasmócitos para o cólon requer também a expressão de CCR10 e da quimiocina CCL28. IMUNIDADE SECRETÓRIA Produção de IgA ● A IgA é produzida em maiores quantidades do que outros isotipos de anticorpos. ● A troca de isotipo para IgA (induzida por TGF-β) ocorre T-dependente e T-independente. T-dependentes: estimulada pela ligação do CD40L (LT) ao CD40 (LB), somado à ação do TGF-β. - IgA de alta afinidade 11 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP T-independente: CDs ativadas pelo ligante de TLR passam a expressar citocinas que levam à troca de classe para IgA (antes IgM ou IgD). - IgA de baixa afinidade A IgA é produzida por plasmócitos na lâmina própria do tecido mucoso e se dimerizam, mantendo-se unidas pela cadeia J, ligadas covalentemente às regiões Fc. 12 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP O complexo é transportado através da célula epitelial por transcitose. ● Transcitose de IgA e IgM pelo receptor poli-IgR (transporta Ig poliméricas) presentes nas células epiteliais intestinais. ● A IgA secretada na lâmina própria se liga ao receptor poli-Ig através da cadeia J. ● Complexo é endocitado e se fundem à membrana plasmática apical. Após proteólise de parte do receptor, o complexo é liberado no lúmen intestinal. Componente secretor permanece ligada à IgA dimérica no lúmen→ protege IgA contra proteólise de enzimas bacterianas MECANISMOS EFETORES DA sIgA: 1. Neutralização (aderência e invasão) ● IgA passa por transcitose e fica aderida, pelo muco, a célula no lúmen ● Na presença de patógenos ou produtos microbianos, liga-se a esses, impedindo a aderência e invasão. 2. Remoção de microrganismos ● Remove um microrganismo que cruzou o epitélio ● IgA reconhece o patógeno e faz transporte retrógrado, levando-o de volta para o lúmen 3. Captação por células M Facilitar a transcitose de antígenos captados por células M, atuando indiretamente na imunomodulação por auxiliar na apresentação à CDs. 13 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP > IgA tem ↓ capacidade de ativar sistema complemento Se o complemento fosse ativado sempre que houvesse produção de IgA no intestino, haveria uma ativação basal de complemento, aumentando as reação imunológica e os processos inflamatórios, o que seria danoso. DOENÇA RELACIONADAS A RESPOSTAS IMUNES NO INTESTINO DOENÇA CELÍACA Condição inflamatória da parte superior do intestino delgado causada por uma resposta imune direcionada ao glúten. ● Resposta imune à gliadina: fração protéica do glúten, rica em prolina e glutamina, tornando-a resistência à degradação. A enzima transglutaminase 2A (TG2) desamina resíduos de glutamina da gliadina, tornando-a mais favorável (- carregado) de interagir com o HLA-DQ2 e ser apresentada por uma APC. IMUNOPATOLOGIA: ● Mecanismos imunológicos Ativação de linfócitos T CD4 produtores de IFN γ e de linfócito B secretores de IgA (anti-TG2 = contra enzima). ● Inflamação crônica com perda das vilosidades intestinais ⇒ Atrofia Vilosa Sintomas: dor abdominal, diarreia e perda ou dificuldade de ganhar peso 14 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP INTOXICAÇÃO ALIMENTAR Infecções bacterianas ou virais induzidas por microrganismos ingeridos na dieta. ● Microrganismos que expressam fatores de virulência, permitindo-os atingir o epitélio e seus tecidos subjacentes, gerando inflamação. Mecanismo imunológico: produção de citocinas inflamatórias e recrutamento de neutrófilos Manifestações clínicas (localizadas): febre, diarreia e vômitos ● Produtos microbianos (como LPS, PGN, DNA, RNA) atuam como PAMP, ativando CDs via TLR, que fagocitam esses microorganismos. Maturação da CD: ↑ CD80 86 e produção de IL-12 (diferenciação de Th1 ⇒ IFN-γ) IFN γ ativa macrófagos⇒ ↑ propriedade fagocítica e microbicida. - Ativação de outros tipos celulares REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abbas, Abul K. Imunologia Celular e Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Grupo GEN, 2019. 15
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