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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II (1)

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, 
TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO SOCIAL II
PROFA. DANIELA SIKORSKI
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Olga Ozaí da Silva
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. INFLUÊNCIA DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA NO SERVIÇO SOCIAL – TOMISMO/NEOTOMISMO ............5
2. INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO E FUNCIONALISMO NO SERVIÇO SOCIAL ..................................................... 12
2.1 INTRODUÇÃO DO FUNCIONALISMO NO SERVIÇO SOCIAL............................................................................... 18
3. INFLUÊNCIA DA FENOMENOLOGIA NO SERVIÇO SOCIAL .................................................................................20
4. INFLUÊNCIA MARXISTA – MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO ..............................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................32
APORTES TEÓRICO-METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
 PROFA. DANIELA SIKORSKI
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a) do curso de Serviço Social da Uningá! A partir deste momento, 
você dará um passo a mais rumo à sua formação profissional.
Você perceberá que, a cada disciplina, estará compreendendo cada vez mais o que é o 
serviço social, sua história, construção, como ele se operacionaliza e as diferentes possibilidades 
de atuação.
Muitos profissionais que passam pela graduação infelizmente não chegam a compreender 
esta disciplina. Alguns acham-na complexa, outros alegam que a história da profissão não serve 
para muita coisa e outros ainda acham que a teoria nada tem a ver com a prática. No entanto, é 
importante conhecermos os processos históricos para compreendermos não só o que ocorreu no 
passado, mas para que entendamos o presente e planejemos o futuro. O estudo dos fundamentos 
de uma profissão permite o reconhecimento daqueles que nos precederam e que contribuíram 
para a consolidação da profissão.
O estudo das teorias nos permite perceber a cientificidade das ações e a leitura da 
realidade. A teoria embasa e orienta a prática. A prática produz conhecimentos que contribuem 
para a reelaboração das teorias.
Estudaremos a partir de agora os fundamentos do serviço social, que devem ser vistos 
como referência, um farol, uma matriz analítica, histórica e analítica explicativa da realidade e 
também da profissão. Uma interlocução entre o Serviço Social, a sociedade e a realidade onde ela 
está inserida. 
É no âmbito da disciplina de fundamentos que a profissão de serviço social foi 
incorporando as matrizes fundamentais do conhecimento sobre o ser social na sociedade 
burguesa. Os fundamentos são bastante amplos e constituídos por múltiplas dimensões: teóricas, 
históricas, metodológicas, políticas, éticas e operativas.
Na atualidade, esses fundamentos se expressam na abordagem histórico-crítica, fundada 
na teoria social de Karl Marx e na tradição marxista.
Na história do Serviço Social, houve fundamentos de diferentes ordens: doutrinárias, 
neotomistas, teóricas, positivistas, fenomenológicas etc. O objetivo principal desta unidade 
é compreender os aportes teórico-metodológicos do Serviço Social em diferentes épocas e 
contextos históricos, levando o aluno a compreender suas influências na atuação profissional do 
assistente social.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. INFLUÊNCIA DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA NO SERVIÇO SOCIAL 
– TOMISMO/NEOTOMISMO
Já de início, é importante pontuar que:
É, pois, na relação com a Igreja Católica que o Serviço Social brasileiro vai 
fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos políticos/sociais 
orientando‐se por posicionamentos de cunho humanista conservador contrários 
aos ideários liberais e marxistas na busca de recuperação da hegemonia do 
pensamento social da Igreja face à ‘questão social’. Entre os postulados filosóficos 
tomistas que marcaram o emergente Serviço Social temos a noção de dignidade 
da pessoa humana; sua perfectibilidade, sua capacidade de desenvolver 
potencialidades; a natural sociabilidade do homem, ser social e político; a 
compreensão da sociedade como união dos homens para realizar o bem comum 
(como bem de todos) (YAZBEK, 2009, p. 4).
 
Ao longo da sua história, o Serviço Social sofreu forte influência da Igreja, sobretudo da 
Igreja Católica, norteando durante muitos anos as ações dos profissionais, sobretudo em nosso 
País. Aqui no Brasil:
[...] é por demais conhecida a relação entre a profissão e o ideário católico na 
gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de expansão e secularização do 
mundo capitalista. Relação que vai imprimir à profissão caráter de apostolado 
fundado em uma abordagem da ‘questão social’ como problema moral e religioso 
e numa intervenção que prioriza a formação da família e do indivíduo para 
solução dos problemas e atendimento de suas necessidades materiais, morais e 
sociais. O contributo do Serviço Social, nesse momento, incidirá sobre valores e 
comportamentos de seus ‘clientes’ na perspectiva de sua integração à sociedade, 
ou melhor, nas relações sociais vigentes (YAZBEK, 2009, p. 3).
Esta Unidade 1 fará bastante sentido para você a partir desta reflexão:
Temos observado, em alguns profissionais e alunos do curso de Serviço Social, 
a presença de princípios cristãos em seus discursos, tais como justiça social, 
amor ao próximo, caridade, boa vontade, valores recebidos em seu processo de 
socialização os quais não são postos de lado no cotidiano da prática profissional. 
Se nos reportarmos à história do surgimento do Serviço Social no Brasil, 
verificaremos que, não por mera coincidência, estes mesmos ideais cristãos, 
amplamente difundidos pela IgrejaCatólica, estavam presentes em sua gênese 
(SILVA, 2003, p. 87).
O estudo da gênese (início, princípio) do Serviço Social e seus influenciadores é muito 
importante neste seu início de formação profissional. O primeiro ponto a se discutir é: “Qual a 
fundamentação desses ideais cristãos? Como se fizeram presentes na prática profissional e no 
pensamento das primeiras assistentes sociais?” (SILVA, 2003, p. 87).
A doutrina social da Igreja e seus postulados influenciaram o surgimento da profissão em 
todo o mundo. Mas você sabe o que é a doutrina social da Igreja?
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O Neotomismo é considerado uma das primeiras referências filosóficas do Serviço Social. 
Ele é derivado de outra corrente filosófica denominada Tomismo, em: 
[...] referência ao Santo Tomás de Aquino (1225) um teólogo dominicano que 
escreveu uma obra filosófica caracterizada por uma perspectiva humanista 
e metafísica do ser que vai marcar o pensamento da Igreja Católica a partir 
do Século XIII. Merece destaque na obra de Santo Tomás de Aquino a Suma 
Teológica (YAZBEK, 2009, p. 27).
O Tomismo, inspirado nos pensamentos de Santo Tomás de Aquino, foi uma filosofia 
medieval entre os séculos XII e XIII, com ideais cristãos que partem das reflexões estabelecidas 
por Aristóteles, procurando conciliar em suas ideias a fé e a razão, estando a fé acima da razão. O 
Tomismo, de acordo com Aguiar, consiste em uma:
Filosofia expressa por Santo Tomás de Aquino, no século XIII, que vigorou por 
muito tempo, sendo praticamente esquecida no século XVIII. Os principais 
pontos tratados pelo filósofo foram: ‘a relação entre Deus e o mundo, fé e 
ciência, teologia e filosofia, conhecimento e realidade’. O tomismo tinha como 
pressupostos: Deus, a pessoa humana e o bem comum. A racionalidade e a 
inteligência levam à dignidade e à perfeição da pessoa humana, e isto faz com 
que ela chegue até Deus. Essa racionalidade também leva o homem a um nível 
de desenvolvimento, que o leva a se tornar um ser social. Este ser necessita 
viver em sociedade e buscar o bem comum, fazer com que os benefícios sejam 
distribuídos a todos, garantindo o bem estar da sociedade (PORFÍRIO, 2020).
 
Santo Tomas de Aquino viveu em um período em que a história humana aos poucos 
estava se transformando. Um momento em que o feudalismo (modo de produção da época) 
passava por discussões e aos poucos se alterava. A religião e o clero também foram questionados, 
sofrendo perda de poder perante a sociedade da época e levando a Igreja Católica a defender seus 
dogmas e paradigmas.
A Igreja, que até então detinha o monopólio ligado à educação, precisava se reinventar. 
Nesse contexto, Santo Tomás cria, junto à Igreja Católica, sua obra bastante significativa, chamada 
de Suma Teológica. A partir dessa obra, Santo Tomás de Aquino passa a ser considerado um 
doutor da Igreja Católica, assim como Santo Agostinho.
Suma Teológica: escrita entre 1265 e 1274, período de maturidade de Tomás de 
Aquino, a obra trata da existência de Deus, da natureza do homem e da moralidade. 
É nesse escrito que são encontradas as Cinco Vias que Provam a Existência de 
Deus.
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Dentre os pensamentos tomistas, encontravam-se as seguintes ideias:
Figura 1 - Principais pensamentos e princípios tomistas. Fonte: Adaptado de Aguiar (2011).
Quanto à lei humana, apresentada na Figura 1, perceberemos que ela aponta para a 
comunidade e para as três leis que a regiam.
A fé orientaria a razão, assim como a razão comprovaria verdades doutrinais, 
possibilitando elaborar um discurso de caráter teológico. É importante salientar 
que, para ele, o saber teológico não supera o saber filosófico nem a fé substitui 
a razão: ‘o homem e o mundo gozam de uma relativa autonomia, sobre a qual 
deve-se refletir com os instrumentos da razão pura, fazendo frutificar todo o 
potencial cognoscitivo para responder à vocação original de conhecer e dominar 
o mundo’ (AMARAL, 1998).
Uma pessoa é substância individual (indivisa) de uma natureza racional
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De Santo Tomás de Aquino: 
[...] nos interessa a noção de pessoa humana e seu pensamento quanto às 
relações entre Igreja e Estado, aspectos que tiveram profundo significado para 
a formação profissional das primeiras assistentes sociais. Se nos detivermos nos 
discursos destas assistentes sociais que lecionavam para futuras profissionais, 
verificaremos que os postulados tomistas estavam presentes em seus discursos e 
em seu agir profissional (SILVA, 2003, p. 88).
Conseguimos perceber que o Serviço Social tem seu surgimento basicamente amparado 
e influenciado diretamente no âmbito dos trabalhos sociais da Igreja Católica. O cenário era 
o de transição do século XX para o XXI, quando o mundo presenciava o desenvolvimento do 
capitalismo, o agravamento da questão social e suas diferentes expressões/manifestações.
Nesse sentido, as próprias profissionais justificavam a necessidade de um assistente social 
junto aos trabalhadores e seus familiares com o objetivo de orientá-los nos aspectos moral e 
religioso (SILVA, 2003), trabalhando em prol de seu “ajustamento social e moral”.
Precisamos considerar o período histórico e, com ele, as relações sociais estabelecidas 
na época, considerando ainda que os profissionais do início do século XX também eram frutos 
da sua época, reflexo das relações sociais estabelecidas. Isso se refletia na formação e prática 
profissional. Não perca de vista que estamos tratando das décadas de 1930 e 1940.
Veremos a seguir o posicionamento e a formação de profissionais nessa época, a partir da 
produção literária do período:
A questão social, entretanto, é fundamentalmente uma questão moral. O 
trabalho é um ato humano, e como tal, regido pela moral que lhe impõe deveres 
correspondentes às necessidades da vida. O capital baseia-se no direito natural e 
é, portanto, justificado pela moral. [...] A ordem social só será possível quando se 
vir no homem uma personalidade natural anterior e superior àquela que a vida 
em sociedade lhe confere; um ser inteligente e independente que, dotado de uma 
consciência que lhe dá plena responsabilidade de seus atos, tende para seu fim 
natural e último – Deus (TELLES, 1939, p. 3).
Tomando por base essa colocação e o que já estudamos, podemos compreender que os 
profissionais tinham como orientação para o seu exercício profissional desvelar as causas que 
levariam o homem a não estar ajustado à sociedade na qual estava inserido. O que provocaria 
essa retomada e ajuste social seria a observância e o seguimento das leis de Deus e da Igreja. O 
ser humano e seus problemas sociais estariam mais bem adaptados e superariam seus problemas, 
econômicos e sociais, se seguissem a Deus.
O Serviço Social vai à causa das misérias e dos desajustamentos sociais, buscando 
os males em suas raízes; por isso mesmo é de ação curativa e preventiva. O 
assistido, o deficiente é elemento ativo no seu próprio reajustamento social. O 
Serviço Social não se limita a um auxílio paliativo, mas agindo sobre o indivíduo 
e a sociedade visa colocar o necessitado, tanto quanto possível, em condições 
normais de vida. O Serviço Social informado do amor de Deus e do próximo é 
em nossos dias a expressão mais alta da caridade cristã (CAMARGO, 1941, p. 
33, grifo do autor).
A citação anterior é parte do discurso de uma formanda em Serviço Social, da Escola de 
Serviço Social de São Paulo, no ano de 1940. Perceba que sua fala traz, de maneira muito clara, 
os fundamentos tomistas. Influência não somente vistano Brasil, mas em diferentes cidades do 
mundo.
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Seria o assistente social quem combateria no cenário de desajustamento, atuando sobre a 
sociedade e o homem. Para isso, seria:
[...] necessário pois ao assistente social um preparo especializado, tendo-se em 
vista o material com que trabalhará, porquanto, agindo sobre o homem, deverá 
conhecê-lo tal como é em suas partes constitutivas, corpo e espírito. Como 
reajustá-lo à sociedade se ignorar suas possibilidades e deficiências físicas ou 
espirituais? (MALHEIROS, 1939, p. 3).
Quanto ao Neotomismo, conhecê-lo-emos um pouco melhor a partir de agora e, em 
seguida, compreenderemos como ele influenciou o Serviço Social. O Neotomismo consiste na: 
[...] retomada do pensamento de Santo Tomás de Aquino a partir do papa Leão 
XIII em 1879 na Doutrina Social da Igreja e de pensadores franco belgas como 
Jacques Maritain na França e do Cardeal na Bélgica. Buscavam nesta Filosofia 
diretrizes para a abordagem da questão social (YAZBEK, 209, p. 27).
O Neotomismo surge a fim de atender a um chamado do Papa Leão XIII, com um propósito 
bem claro, que seria o de “[...] unir os pensadores católicos para a conquista do pensamento 
moderno” (AGUIAR, 2011, p. 40). E ainda:
Na Encíclica Rerum Novarum, Leão XIII codifica a Doutrina Social da Igreja 
e estabelece as normas que os patrões e os trabalhadores deveriam seguir nos 
aspectos moral e material. Para tanto, o Pontífice novamente busca na obra 
teológica de Tomás de Aquino fundamentos para a concepção de lei, justiça, 
Estado, autoridade e política (SILVA, 2003, p. 92).
Foi a partir do Código de Malinas (1920) que tanto a doutrina social da Igreja quanto a 
filosofia de Santo Tomás de Aquino influenciaram fortemente o Neotomismo e marcaram com 
grande força as ações sociais entre os católicos. “Este código iluminou a ação dos cristãos na 
chamada questão social e marcará também os assistentes sociais católicos brasileiros” (AGUIAR, 
2011, p. 44). 
O Brasil não ficou imune às ideias tomistas. Esse movimento se fez presente desde 
a época da colonização, quando os padres da Companhia de Jesus, em seus 
colégios, ministravam aulas de filosofia e teologia. No entanto, com a expulsão 
dos jesuítas do Reino Português (1759) e de suas colônias (dentre as quais, o 
Brasil), o ensino da filosofia tomista foi deixado de lado, dando lugar às ideias 
iluministas.
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Leia a seguir um trecho da introdução do Código de Malinas. Em seus escritos, 
conseguimos perceber as ideias que impactaram o Serviço Social da época.
1-O homem é criado à imagem e semelhança de Deus;
2-O homem é um ser social, não se basta sozinho;
3-O filósofo cristão distancia-se do individualismo e do coletivismo: ‘...atém-
se fortemente às duas extremidades da cadeia, isto é, à eminente dignidade da 
pessoa humana e à necessidade da sociedade para seu desenvolvimento integral’;
4-‘O homem, tendo um destino pessoa, a sociedade é para ele o meio necessário 
que o ajuda a atingir seu próprio fim’;
5-A economia e a moral estão interligadas. Daí se deduz: ‘A Igreja, guarda da 
moral, exerce uma fiscalização legítima sobre a vida econômica’ (AGUIAR, 
2011, p. 44).
A partir dos graves problemas ocasionados pela Primeira Guerra Mundial é que o 
Neotomismo começará a se propagar (AGUIAR, 2011).
O Neotomismo, considerado uma sustentação filosófica, contribuía para a formação 
da visão de homem e de mundo. A partir dos seus princípios (o homem é um ser livre, 
inteligente e social), a sociedade recorria aos meios necessários para a sua sobrevivência e pleno 
desenvolvimento como pessoa humana. Também subsidiava e dava sustentação para a formação 
e prática profissional dos assistentes sociais:
Além da ligação de sua prática, há sua ligação do ponto de vista teórico. Toda 
visão de homem se dará sob os quadros católicos, tendo como sustentação 
filosófica o Neotomismo. Dada essa postura, teremos um tipo de formação 
marcadamente clara e definida (AGUIAR, 2011, p. 31).
Nesse contexto, o Serviço Social deveria seguir “[...] os princípios de dignidade da pessoa 
humana, do bem comum, entre outros, hauridos em Santo Tomás, iluminaram a teoria e prática 
do assistente social desde 1936 até 1960, de maneira preponderante” (AGUIAR, 2011, p. 39). 
A partir de 1960, começa a haver ruptura por parte daqueles que começam a 
assumir uma postura na visão dialética, inclusive na sua versão materialista. É a 
partir da década de 60 que vemos o movimento chamado de reconceituação de 
Serviço Social (AGUIAR, 2011, p. 39).
O II Congresso Pan-Americano de Serviço Social realizou-se no ano de 1949, na cidade 
do Rio de Janeiro, tendo o seguinte discurso sido proferido por Nadir Kfouri:
A formação teórica fundamenta-se no conceito do homem e da sociedade, 
em função do qual os princípios filosóficos se assentam. Na maioria de nossas 
escolas, as bases morais e sociológicas do serviço social são informadas pela 
conceituação cristã de vida que tem suas fontes na doutrina social católica. 
Dentro desse espírito se procura estabelecer a convicção de que o Serviço 
Social se prende a um plano de reestruturação da sociedade e de formação dos 
quadros sociais, requerendo, consequentemente, a ação social. Firma-se assim, 
o princípio de que o trabalho social lança suas raízes na justiça, sobrelevada pela 
caridade cristã, sem o que é impossível se atingir o bem comum e viver-se numa 
sociedade democrática (KFOURI, 1949 apud AGUIAR, 2011, p. 36).
Fica evidente que a influência da Igreja Católica no processo de formação de assistentes 
sociais dessa época primava também por uma prática profissional de viés assistencialista e 
caritativo, como se pode observar ainda na mesma fala:
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Sem uma perspectiva moral, não existe prática profissional [...] quanto a 
formação moral propriamente dita terá que se basear nos princípios cristãos 
[...] Os ensinamentos cristãos representam a fonte onde os trabalhadores sociais 
irão abeberar-se; a moral cristã é aceita e reconhecida mesmo pelos não-cristãos, 
no sentido religioso da palavra. Por outro lado, impossível seria dissociar-se a 
Assistência Social do Cristianismo, pois este foi, na expressão feliz de Delgado 
de Carvalho, o movimento que revelou a verdadeira caridade entre os homens 
(KFOURI, 1949 apud AGUIAR, 2011, p. 36).
Ainda como marca da Igreja Católica, têm-se as seguintes ações: as convenções e encontros 
iniciavam-se sempre com uma missa; a IV Convenção da Associação Brasileira das Escolas de 
Serviço Social (ABESS), no ano de 1954, teve como tema central A Formação Cristã para o Serviço 
Social e a Metodologia do Ensino de Serviço Social de Grupo e Organização de Comunidade; em 
1959, ocorreu em Porto Alegre a IX Convenção, na qual se discutiram as disciplinas de Religião 
e Doutrina Social da Igreja, quando foram reafirmadas como disciplinas importantes para a 
formação profissional. Ressalte-se aqui parte do discurso final da IX Convenção, acerca da missão 
dos assistentes sociais: “[...] o cristianismo humanizante para a conquista da paz. E que a exemplo 
de Maria, os assistentes sociais têm a tarefa de ‘Anunciar a Redenção’” (AGUIAR, 2011, p. 38).
Na X Convenção, ocorrida em Fortaleza, em 1960, teve-se:
Quanto ao aspecto espiritual, enfatizou-se que o assistente social deve buscar a 
perfeição, seja iluminada pelo espírito comunitário e pela doutrina do Corpo 
Místico de Cristo e que as aulas de religião não tenham caráter apologético e 
valorizem as práticas tradicionais: a oração,o retiro, etc. (KFOURI, 1949 apud 
AGUIAR, 2011, p. 39).
 
Como você pode observar, a influência da Igreja Católica no Serviço Social era explícita, 
inclusive influenciando a composição das disciplinas e condutas éticas, morais e religiosas que 
os profissionais deveriam ter. Mais futuramente, começa a haver um movimento de ruptura com 
esse pressuposto filosófico (o que veremos em outro momento).
Ao observarmos os princípios do Tomismo e Neotomismo, podemos identificar que os 
princípios tinham característica humanista conservadora, destacando-se a moral, a religião e o 
humanismo.
O que percebemos no âmbito da formação profissional dos assistentes sociais 
neste período era a presença forte de postulados cristãos, bem como vocacional, 
tanto que um dos requisitos para que se fosse docente do curso de Serviço Social 
era que assumisse a doutrina social católica e que fossem católicos praticantes. 
Nesta perspectiva religiosa e vocacional de quem gostaria de ingressar a profissão 
de Serviço Social, a formação correspondia em 4 principais pontos, onde 
destacaremos dois: 1- A formação científica, que se dava por meio de disciplinas 
como a Sociologia, Psicologia e Biologia e também da Moral, e tinham como 
objetivo propor o conhecimento exato do homem e da sociedade, de todos os 
problemas que dele se originam e neles se refletem. 2- A formação pessoal, nesta 
a escola devia preocupar-se com o desabrochar da personalidade integral do 
aluno, dando ao aluno uma formação moral sólida nos pilares cristãos (AGUIAR, 
2011 apud YAZBEK, 2009, p. 5).
O foco dos profissionais que atuavam nesse período era integrar o homem à sociedade e 
ensinar-lhe valores, moral e costumes cristãos. O homem deveria ser perfeito e estar adequado à 
sociedade.
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Após todo o exposto, notamos que as grandes questões filosóficas sempre permearam a 
profissão, pois, enquanto os filósofos se preocupavam em problematizar (questionar) quem é o 
homem e suas relações em sociedade, o Serviço Social sempre trabalhou diretamente com esse 
homem que vive em sociedade e nela estabelece relações. Para isso, precisava de fundamentos 
para compreendê-lo e desenvolver suas estratégias de intervenção. Ainda hoje, a profissão possui 
influências do Neotomismo, mas em uma dimensão muito menor. 
Esta visão com relação à autoridade e ao Estado justifica a posição inicial do 
serviço social brasileiro de não questionamento da ordem vigente até suas raízes 
e de buscar sempre apenas reformar a sociedade, melhorando consequente a 
ordem vigente (AGUIAR, 2011, p. 43).
2. INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO E FUNCIONALISMO NO SERVIÇO 
SOCIAL
Dando continuidade aos estudos, vamos conhecer mais uma corrente filosófica 
que influenciou a profissão ao longo da sua trajetória histórica. Trata-se do positivismo e do 
funcionalismo.
O positivismo, presente nas ciências sociais, trazia reflexões que estavam pautadas na 
compreensão da realidade apresentada, buscando uma adequação social dos homens que a 
compõem.
Os grande influenciadores e pensadores do positivismo foram August Comte, que viveu 
entre os anos de 1798 a 1857, e Saint Simon, que viveu entre os anos de 1760 a 1825.
Ambos se dedicaram ao estudo da natureza humana bem como às marcas deixadas na 
sociedade a partir da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra. Com seus estudos, pretendiam 
propor um novo caminho para a racionalização de uma nova ordem social, visando a encontrar 
soluções para os problemas da época e, assim, restabelecer a ordem e a paz.
[...] fica evidente que o Serviço Social no Brasil se fez sob a 
inspiração e controle da Igreja Católica e o Neotomismo foi o 
inspirador de sua visão de homem e de mundo, que permanece até 
hoje, não, porém, com a mesma intensidade. A ideologia católica 
enfatiza a reforma social, tendo em vista a chamada questão social, 
a decadência dos costumes e o desenvolvimento do liberalismo 
e comunismo. Trata-se de reconstruir a sociedade, de curar as 
imperfeições da ordem social. Para desenvolver esses trabalhos, a 
Igreja arregimentará o laicato, formando vários organismos, entre 
eles a Ação Católica. E, nesse trabalho, o Serviço Social no Brasil 
era claro e definido: assumir sob os aspectos a doutrina (ideologia) 
católica. E a ideologia da reforma social encontrará fundamentação 
no Humanismo Integral de Jacque Maritain. O Neotomismo como 
seu humanismo integral é a ideologia que unifica, organiza, dirige 
a ação social da Igreja nessa época, e estrutura as instituições que 
cria (AGUIAR, 2011, p. 144).
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Um dos pontos altos do trabalho de August Comte consiste na defesa da evolução do 
pensamento humano, fundamentado no desenvolvimento científico ao longo da história humana. 
Segundo Comte, a organização racional de uma dada sociedade é que vai definir seu grau de 
habilidade para a superação dos problemas ocorridos em decorrência da complexidade social. 
Ele ainda estabelece uma relação direta entre os elementos que definem um corpo biológico do 
corpo social. 
A lógica racional fornece a dimensão exata da existência de todas as coisas materiais. 
Considerando o exposto até o presente momento, vamos entender um pouco mais sobre 
o Positivismo:
Foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e graças a ele. Passou 
a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda metade do século 
XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações em todos os países do 
mundo ocidental. A caraterística do Positivismo é a romantização da ciência, 
sua devoção como único guia da vida individual e social do homem, único 
conhecimento, única moral, única religião possível. Como romantismo em 
ciência, o Positivismo acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da 
organização técnico-industrial da sociedade moderna e expressa a exaltação 
otimista que acompanhou a origem do industrialismo (ABBAGNANO, 2015, 
p. 909).
O Positivismo foi a primeira corrente teórica a organizar e sistematizar princípios sobre 
as relações humanas em sociedade, na tentativa de explicá-las cientificamente. 
Esses pensadores defendiam a tese de que as ciências sociais, para serem consideradas 
como ciência, deveriam utilizar os mesmos métodos das ciências naturais, tais como: a 
observação, a comparação e a experimentação, identificando suas leis para promover o progresso 
e o desenvolvimento social. 
Figura 2 - As teses fundamentais do Positivismo. Fonte: Abbagnano (2015).
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É preciso ressaltar que, ainda nos dias atuais, vemos disseminadas as ideias de August 
Comte em nossa sociedade. Sobretudo as ideias de viés progressista, revolucionário e iluminista, 
além de ideias dos conservadores. August Comte acreditava ainda que as sociedades deveriam ser 
orgânicas, sendo suas partes perfeitamente integradas, sem a presença de conflitos, e comandadas 
pelas elites técnica e científica.
Segundo ele, a diminuição dos conflitos sociais se daria pela construção de uma sociedade 
moderna e industrial. A partir do aumento da produção de mercadorias, as necessidades humanas 
seriam sanadas.
A partir de 1945, o Serviço Social adota o modelo funcional estabelecido pelos Estados 
Unidos, afastando-se do doutrinarismo da Igreja Católica e introduzindo uma visão científica: 
a noção de dignidade da pessoa humana; sua perfeição; sua capacidade de desenvolver 
potencialidades; a sociabilidade natural do homem como um ser social e político; a compreensão 
da sociedade como união dos homens para realizar o bem; e a necessidade da autoridade paracuidar da justiça geral.
De acordo com os pensamentos de August Comte, para o perfeito funcionamento da 
sociedade, era necessário promover o bem-estar a todos por meio da compreensão da relevância 
da obediência e da hierarquia desde a infância, pois, somente a partir da ordem, seria possível o 
progresso de uma sociedade.
Segundo Durkheim, o positivismo “[...] não tem nada de revolucionário, pelo contrário, 
ele é essencialmente conservador, porque considera os fatos sociais como coisas cuja natureza, 
por mais maleável que seja, não pode ser modificada pela vontade humana” (LÖWY, 2008, p. 48).
Segundo Quiroga (2000, p. 49), “[...] o positivismo é, sucintamente, a observação 
daquilo que é concreto, correspondente à realidade externa, explicitando as relações entre esses 
fenômenos”.  Além de tudo:
O caráter conservador do positivismo relaciona-se a suas raízes históricas. 
Auguste Comte, um dos fundadores da teoria positivista, a fórmula em um 
período posterior à Revolução Francesa, quando a burguesia havia ascendido 
ao poder e lutava pela sua manutenção contra os interesses da nascente classe 
trabalhadora  – um momento de grandes convulsões sociais e políticas. Nesse 
período, desenvolvem-se ideologias para dar sustentação aos interesses que 
disputavam os rumos da história. Comte vincula-se à parcela da burguesia que 
defendia um regime ditatorial e buscava impedir qualquer ameaça revolucionária 
(CHAGAS, 2015, pp. 169-170).
A bandeira nacional brasileira, que possui a escrita “Ordem e Progresso”, é 
uma demonstração da doutrina positivista no País, mostrando sua aceitação e 
influência entre os republicanos históricos, que se preocupavam com a ordem 
social por meio do ajustamento do indivíduo. O lema central de nossa bandeira 
atual foi inspirado por uma frase de Augusto Comte: “O amor por princípio e a 
ordem por base, o progresso por fim”.
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No contexto apresentado e considerando as influências positivistas, o Serviço Social, 
na sua prática, deveria estudar, compreender e observar, com bases teóricas, a vida humana: a 
família, as relações de poder, a religião, a cultura, a saúde e outras esferas diferentes da realidade 
social. 
Neste sentido, o positivismo, sem dúvida, representa, especialmente por meio de 
suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia 
analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na 
lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o 
desenvolvimento do conhecimento (TRIVIÑOS, 1987, p. 41).
Vamos ainda considerar que a influência do positivismo na profissão de Serviço Social 
teve seu início quando a categoria profissional indaga e questiona os seus processos de intervenção 
até então estabelecidos. Os profissionais alegavam que sua prática estava permeada pelo excesso 
de burocracia. Eram indagações relacionadas ao fazer profissional e à maneira como era feito.
Não por acaso, o positivismo apresentou-se como uma das teorias sociais que 
embasaram os primeiros passos da construção de um referencial teórico para 
o Serviço Social brasileiro. Ambos, o positivismo e o Serviço Social, possuem 
raízes conservadoras que se expressam, entre outras formas, por meio da 
naturalização da existência da pobreza.  Com um projeto profissional enraizado 
no conservadorismo, ligado à Igreja Católica, os assistentes sociais brasileiros 
partiam do pressuposto de que as desigualdades sociais eram naturais e, portanto, 
insuperáveis (CHAGAS, 2015, p. 170).
Aguiar (2011), em seu livro Serviço Social e Filosofia: das origens à Araxá, esclarece 
que essa influência se deu a partir do momento em que brasileiros, indo estudar nos Estados 
Unidos, se depararam com o então chamado Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, técnica 
estruturada por Mary Richmond.
O intercâmbio sociocultural e técnico-científico entre os Estados Unidos e demais 
países subdesenvolvidos passou a fazer parte da agenda política destes países, 
materializado na concessão de bolsas de estudo e programas de qualificação da 
mão-de-obra, sobretudo aquela mais especializada. É nesse contexto, inclusive, 
que se ratifica a influência norte-americana no Serviço Social e a participação de 
muitos profissionais brasileiros em tais programas de aprimoramento (ORTIZ, 
2007, p. 93).
Esse questionamento acerca do fazer profissional, levantado pelos assistentes sociais, 
busca no positivismo um novo agir. Aguiar (2011) se manifesta acerca da articulação entre o 
discurso doutrinário da Igreja e os princípios positivistas, dizendo que:
Na segunda metade da década de 40 e no início da de 50, constatamos a presença 
da filosofia tomista aliada às técnicas norte-americanas. Nesse período não haverá 
ruptura radical da ideologia católica, pelo contrário haverá uma convivência 
das duas posições: o Serviço Social permanece na base dos princípios católicos 
e neotomistas, inclusive via Estados Unidos e ao mesmo tempo incorpora as 
técnicas norte-americanas (AGUIAR, 2011, p. 58).
No seio da profissão, havia discordâncias entre os aportes teórico-filosóficos que 
norteariam as ações profissionais. Alguns profissionais acreditavam nos princípios trazidos pela 
doutrina social da Igreja, e outros, na proposta trazida pelos princípios de leitura da realidade 
social apresentada pelo positivista.
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Esse movimento de discussão da categoria refletia um grande avanço, porém, não era 
unanimidade entre os próprios assistentes sociais, havendo muitas críticas vindas da parte de 
pesquisadores e estudiosos:
Yazbek (2009, p. 7) explica que a corrente de pensamento positivista não 
ultrapassa a aparência dos fenômenos que compõem a totalidade social, ficando 
restrita ao plano do imediato, das relações imediatas e na fragmentação da 
totalidade. O positivismo se ‘restringe a visão de teoria ao âmbito do verificável, 
da experimentação e da fragmentação. Não aponta para mudanças, senão 
dentro da ordem estabelecida, voltando-se antes para ajustes e conservação’ (Id. 
Ibid., p. 6). Em outras palavras, o positivismo se vincula ao desenvolvimento 
do capitalismo, sendo uma teoria que visa à manutenção da ordem e aponta 
a realidade como uma fatalidade, supondo que aquela é independente das 
ações do homem e tem seu desenvolvimento próprio. Nesta perspectiva 
teórica os fatores econômicos são eliminados da análise da realidade e há uma 
naturalização dos fatos sociais e a sua fragmentação, eliminando-se a relação 
entre eles (PEREIRA, 2013, p. 42, grifo da autora). 
Uma outra consideração crítica é apontada por Yazbek (2009) acerca da prática profissional 
a partir dos princípios positivistas. Para a autora: 
[...] As propostas de trabalho [pelos assistentes sociais eram] ajustadoras e 
[possuíam] um perfil manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos 
instrumentos e técnicas para a intervenção, com as metodologias de ação, com a 
‘busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise, diagnóstico e 
planejamento; enfim, uma tecnificação da ação profissional que é acompanhada 
de uma crescente burocratização das atividades institucionais’ (YAZBEK, 1984 
apud YAZBEK, 2009, p. 7).
A partir disso, a profissão estava caracterizada por uma característica de ajustamento social, 
ou seja, a atuação profissional consistia no estudo/análise da pessoa, detectando suas “falhas” 
e propondo ações que visavam a “corrigir o sujeito”, adequando suas ações e comportamento 
conforme exigido pela sociedade vigente. Ações positivistas não se pautavam em explicações 
religiosas ou no senso comum, mas em uma base científica e em determinantes sociais a partir 
da classe dominante burguesa.
Osaber positivo naturaliza a questão social e sugere a reforma para amenizar 
o sofrimento do proletariado. Essa compreensão arrefece a luta de classe e os 
movimentos sociais, destaca o olhar para o fenômeno desvinculada do conflito 
de classe e fragmenta as expressões da luta de classe. Perde-se então, a visão de 
totalidade e passa-se a pensar em sistemas, fatos, desvinculado da totalidade da 
questão social. [...] os intelectuais positivistas cumprem o papel de naturalizar as 
explicações em torno da Questão Social e suas expressões, tendo em vista que 
a preocupação é a manutenção e defesa da ordem burguesa. A Questão Social é 
naturalizada, tanto pelo pensamento positivista/conservador laico, quanto pelo 
pensamento confessional. Em síntese, segundo Netto (2001) o pensamento social 
busca uma reforma moral do homem e da sociedade para preservar/conservar 
a propriedade privada dos meios de produção (GONDIM; BEZERRA; COSTA, 
2018).
A classe dominante, detentora do capital e da contratação da força de trabalho, ditava 
os comportamentos adequados na sociedade. O “controle do desajuste” evitaria a desordem e 
contribuiria para o progresso e avanço de uma sociedade. 
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É nesse sentido que é nos moldes conservadores do positivismo, do neotomismo 
e da psicologia que o projeto profissional do Serviço Social se volta para um 
tratamento moral dos conflitos e das contradições sociais, onde a educação 
moral é vista como ação superadora da ‘desordem’ e promovedora de uma coesão 
social. A educação moral, fundada em princípios e valores tradicionais em que se 
recupera a defesa da família nos moldes tradicionais, volta-se, principalmente, 
para a formação de uma moralidade feminina, onde a mulher é considerada 
como o esteio moral da família. Considerando o exposto, o projeto profissional 
dos assistentes sociais, que se pauta pelos valores e teorias conservadoras aliadas 
ao tecnicismo [...], intervirá, principalmente, sobre as mulheres e as crianças. 
Isto é, este projeto profissional, ao ser permeado pelo pensamento conservador, 
dará ênfase à família e à mulher. A mulher será considerada como responsável 
por manter o núcleo familiar ‘ajustado’, devido as suas qualidades ‘natas’, onde 
é considerada possuidora de ‘virtudes’ que lhe conferem o papel de cuidadoras, 
caridosas e responsáveis pela educação moral dos filhos, sendo, portanto, peça 
chave para receber a educação moral e manter a família em ‘harmonia’ 
(BARROCO, 2008 apud  PEREIRA, 2013, p. 45, grifo do autor).
Observe com bastante atenção os pontos grifados no trecho anterior. Veja como eles 
apontam para a ideologia de família tradicional, em que a responsabilidade pela harmonia e 
consistência familiar é a mulher, responsável também pela educação, transmissão dos valores 
morais e respeito à hierarquia e à ordem vigente.
Em síntese, o perfil profissional que se forma neste período e o projeto 
profissional conservador que o conforma vão incidir sobre intervenções 
profissionais realizadas ainda hoje no Serviço Social, onde pode-se observar 
que mesmo com todos os avanços teórico-metodológicos dentro da profissão 
e mesmo com as mudanças sócio-históricas em que as políticas sociais vão 
aparecer como direitos, ainda assim existem profissionais que reforçam o caráter 
de profissional da ‘ajuda’ no seu atendimento as demandas dos usuários. Estas 
condutas reforçam a naturalização das desigualdades sociais e contribuem para 
formar identidades subalternas (PEREIRA, 2013, p. 48).
Por fim:
[...] o que se pôde observar até aqui é que o projeto profissional deste período – 
embasado pelas doutrinas conservadoras e tecnicistas – direcionava os assistentes 
sociais para intervenções pautadas na psicologização das demandas sociais, 
gerando sentimentos de cuidado e de conforto aos sujeitos atendidos por estes 
profissionais, o que esvaziava o significado sócio-histórico destas demandas. Isto 
significa que os conflitos gerados na relação de produção e reprodução social 
eram revertidos em problemas pessoais, onde os assistentes sociais através 
de ações educativas tinham como objetivo buscar uma relação de harmonia 
entre trabalhadores e capitalistas em prol da produtividade. Desta maneira, o 
Serviço Social buscava contribuir com os empregadores no sentido de amenizar 
os conflitos sociais, considerando as bases da organização social como dada e 
não passível de questionamentos, limitando-se, portanto, a reforma do homem 
dentro da sociedade. Em síntese, a atuação profissional era marcadamente de 
cunho educativo, moralizador e higienista (PEREIRA, 2013, p. 49).
Para contribuir com a sistematização do conteúdo apresentado, dizemos que essa matriz 
oferecia uma posição contrária à razão, teologia e metafísica. Compreendia de forma imediatista 
as relações sociais e o ser social, considerando aquilo que era aparente e possível de ser verificado. 
As mudanças deveriam se dar dentro da ordem social estabelecida, devendo o homem ajustar-se 
a ela, tornando-se funcional a ela (assunto que veremos a seguir).
 
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O Positivismo de Comte considerava estática a estrutura social e, nela, o homem deveria 
se inserir. Ao considerar que tal estrutura não sofre alterações e mudanças, era necessário ater-se 
aos fatos apresentados; logo, sua análise se dava a partir de fatos visíveis. 
O Serviço Social, considerando estática a sociedade e o sistema social em que se 
desenvolve como acabado e insuperável, só poderia ter como objetivo eliminar 
qualquer disfuncionalidade desta ordem social perfeita e sem mudanças (LIMA, 
1978, p. 26).
Logo, podemos imaginar que, dentro do positivismo, tinha-se a ideia de sociedade como 
uma grande engrenagem, na qual cada um possuía um papel, pois deveria fazer parte dela. Qualquer 
desajuste deveria ser corrigido para, então, voltar a fazer parte dessa “máquina”, adaptando-se ao 
meio. Meio esse em que as relações sociais se apresentavam de maneira hierarquizada: quem 
possuísse mais capacidade governava, e os menos providos deveriam se encaixar em segmentos 
hierárquicos inferiores, pois apresentavam incapacidades com as quais os assistentes sociais 
deveriam contribuir.
Mesmo com forte dose de doutrinarismo e conservadorismo, o positivismo se apresenta 
como a primeira orientação que contribuiu ao Serviço Social e a uma formulação de mundo 
mais sistematizada ao contexto vivido. Desse modo, não formulou políticas, ocupando-se 
exclusivamente de sua operacionalização.
Não fixou metas para o desenvolvimento social, mas cegamente tentou consegui-las por 
meio de mecanismos e procedimentos. Sua formulação teórica e os propósitos conscientes de 
trabalho não ultrapassaram a particular tarefa do momento.
2.1 Introdução do Funcionalismo no Serviço Social
Surgido por volta dos anos 1950, o funcionalismo se dá a partir do positivismo de August 
Comte.
O funcionalismo coloca em evidência os sistemas, levando em consideração as partes que 
compõem um todo e as funções dessas partes. No entendimento do funcionalismo, a sociedade é 
composta por diferentes partes com funções específicas, e todas essas partes compõem um todo: 
a sociedade.
Segundo Yasbek (2009, p. 71), o funcionalismo no Serviço Social se dá por meio de uma 
proposta de trabalho profissional a partir da intenção ajustadora e de maneira manipulatória. 
É nesse período que se busca, no seio da profissão, o aperfeiçoamento dos instrumentos e 
técnicas para a intervenção profissional, almejando melhorar a eficiência na análise, diagnóstico 
e planejamento das ações profissionais. 
Para ampliar seus conhecimentos sobre a influência do positivismo no Serviço 
Social, leia o artigo:
CHAGAS, B. Positivismoe marxismo: o debate sobre a neutralidade científica e a 
construção do projeto profissional do Serviço Social brasileiro. Serviço Social em 
Revista, Londrina, v. 17, n. 2, 2015. 
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Basicamente, o funcionalismo busca um modelo que auxilie na explicação do 
funcionamento da sociedade, de maneira macro e microssocial. O serviço social se vale de tais 
princípios. Contudo, a aplicação de teorias particularistas, fundadas em parcialidades que não 
transcendem a aparência mediante simples esquemas operatórios, não garante eficiência às 
funções primordiais do Serviço Social.
O Serviço Social é considerado como compensação das carências e terapia dos desvios 
sociais. A mudança é concebida como integração ao sistema, como se o próprio sistema não fosse 
fruto das relações sociais. “O objetivo dessa prática era eliminar carências, disfunções, problemas 
de adaptação, problemas de condutas desviadas. Buscava-se melhorar a sociedade existente, sem, 
entretanto, colocá-la em questão” (FALEIROS, 1982, p. 65).
Pode-se assim dizer que a atuação do assistente social se dava, em sua grande parcela, na 
esfera microssocial, ou seja, na execução terminal das políticas, e não na sua esfera macrossocial, 
onde as ações estão voltadas para a formulação das políticas sociais.
Ao manter o contato direto com seus usuários, diz Hamilton (1958, p. 38) que “[...] esse 
controle social exercido pressupunha a integração do indivíduo ao bom funcionamento de uma 
sociedade proposta pela classe dominante.” 
O funcionalismo ganha força por corresponder aos interesses burgueses presentes na 
sociedade civil e também junto ao Estado.
[...] mesmo promovendo a melhoria do nível de vida de famílias, individualmente, 
ou conseguindo obter padrões mais adequados de ajustamento no lar ou no 
trabalho, ou mesmo ainda, minimizando os sofrimentos dos desvalidos, as 
ações profissionais dos assistentes sociais atendiam muito mais aos interesses do 
capitalista do que aos do proletariado enquanto classe (MARTINELLI, 2008, p. 
130).
Tendo ainda as ações profissionais as seguintes características:
Eram ações que tinham por real objetivo a real manutenção da ordem social e 
do equilíbrio necessários à expansão do capital. O discurso humanitário que as 
envolvia procurava ocultar suas reais intenções, além de recobrir as profundas 
desigualdades que caracterizam o sistema capitalista. Assim, se atender às 
necessidades do trabalhador e sua família era a expressão de um interesse 
fraternal e cristão para os agentes, para a classe dominante tal atendimento se 
posicionava como uma estratégia de consolidação de seu poder hegemônico 
(MARTINELLI, 2008, p. 130).
Isso evidencia a prática do Serviço Social com a teoria funcionalista e, como consequência, 
olha o indivíduo com atenção a partir do meio em que vive e sua relação específica na sociedade. 
No caso de uma desordem da própria sociedade, o Serviço Social intervém, reintegrando esse 
indivíduo novamente à sociedade.
Gordon Hamilton, pensador e autor funcionalista da história, traz essa ideia e concepção 
adaptativa do homem, visando à harmonia entre os atores sociais e entendendo a sociedade como 
funcional, inspirado nos moldes norte-americanos pelos quais o Brasil também foi influenciado, 
bem como os profissionais de Serviço Social da época.
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Gordon, ao endossar a concepção de Mary Richmond (o Serviço Social como 
‘processo pelo qual se desenvolve a personalidade, através de ajustamentos 
realizados conscientemente entre os indivíduos e seu meio ambiente [...]), reduz 
a real dimensão histórica do projeto humano. Isso se dá na medida em que se 
propõe, claramente, o ajustamento consciente do indivíduo à sociedade, o que 
priva de sua verdadeira riqueza existencial e política. O ser humano aqui não é 
visto como um projeto que se realiza existencial e politicamente; ao invés, seu 
objetivo – para a autora [Mary Richmond] – deve ser o ajustamento, o que se 
pressupõe a presença de uma sociedade justa (ou ao menos razoavelmente sadia 
e justa), à qual faz sentido esse ajustamento (FERREIRA, 1985, p. 86, grifo da 
autora).
A ideia de ajustamento impossibilita o ser humano de se desenvolver, pois traz consigo 
ações que massificam, impessoalizam e alienam. Ideia essa que em breve será discutida amplamente 
pela categoria profissional, trazendo uma concepção inteiramente inversa. A categoria começa 
a desvelar um projeto que esteja voltado para a descoberta histórica, política e social real do 
Serviço Social e seu compromisso com a sociedade.
3. INFLUÊNCIA DA FENOMENOLOGIA NO SERVIÇO SOCIAL
Fenomenologia é o estudo dos fenômenos ou ciência dos fenômenos. Tem sua origem na 
filosofia de Edmund Husserl, que viveu entre os anos de 1859 a 1938, na Alemanha. 
Para a fenomenologia, a consciência é sempre intencional, está direcionada para algo, e 
os fenômenos só existem enquanto fenômenos que se dão para a consciência. Nenhum tipo de 
conhecimento torna-se possível se a consciência não se dirige, não se sente atraída para algo.
 
De acordo com Triviños (1987):
Husserl pretendeu inicialmente fazer da filosofia uma ciência rigorosa. Mais 
tarde, o que significou uma renúncia às suas declarações primeiras voltou-se 
para a investigação do ‘mundo vivido’ pelos sujeitos considerados isoladamente 
(TRIVIÑOS, 1987, p. 43).
A fenomenologia trazia a questão das condições históricas, permitindo a relatividade do 
conhecimento. Processos psicológicos também eram responsáveis pela construção do saber a 
partir do vivido. Logo, a fenomenologia também se relacionava ao ceticismo e psicologismo, 
opondo-se ao catolicismo, considerando suas concepções.
O rigor da fenomenologia consiste em afastamento e aproximação da realidade. A 
fenomenologia investiga o vivido para obter a universalidade das essências.
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A fenomenologia:
[...] visa descrever os fenômenos tais como são vividos, tais como se mostram em 
si mesmo no mundo da vida. A fenomenologia, portanto, mostra, explicita, aclara, 
desvela as estruturas em que a experiência se verifica, deixando transparecer, na 
descrição da experiência, estruturas universais (CAPALBO, 1991, p. 26).
O início da pesquisa social com base na fenomenologia começou no final dos anos 1970, 
como uma forma de fazer frente à leitura positivista da realidade, pois a leitura positivista se 
contentava com o fato dado.
O método fenomenológico consiste numa redução fenomenológica (ou eidética), que 
significa colocar o mundo natural entre parênteses com o objetivo de investigar os objetos em si 
mesmos, tal como se apresentam à consciência.
 
O mundo da vida é, pois, o mundo do ser dos entes, que somos nós, que aí estão, 
que são presença nesse fluxo do tempo, no fluxo da história, e que se mostram, 
tais como são, tais como estão, para a consciência de todos nós. Somos, portanto, 
o ser que aí está em situação, em face ao mundo, dos outros, e que se coloca para 
a nossa ação de transformação histórico-social (CAPALBO, 1991, p. 28).
 
Husserl considerava que a atitude fenomenológica consistia em uma consciência pura 
que visava ao transcendental, o fenômeno na sua pureza absoluta, a essência. 
A consciência [diz Husserl] é intencional. Ou seja, toda consciência é consciência 
de algo, voltada para algo. Este algo, para o qual a consciência se volta, é 
desprovido de sentido. Ou seja, todo sentido é ato do sujeito. Todo sentido é 
uma atribuição que o sujeito faz para atribuir, doar sentido a algo. O sentido é, 
portanto, um atode atribuição realizado pelo sujeito. 
A consciência só pratica esse ato de atribuição de sentido porque a coisa, nela 
mesma, desprovida de sentido, no entanto aí está posta, se mostrando para nós.
É essa presença da coisa nela mesma que Husserl denomina de fenômeno. Ou 
seja, o que aparece, que aí está, no seu ser, se mostra para nós como tal, ou seja, 
se faz fenômeno para nós (CAPALBO, 1991, p. 29).
 
De acordo com Husserl (2000, p. 22), “[...] a fenomenologia é uma doutrina universal das 
essências, em que se integra a ciência do conhecimento”. No Serviço Social, aparece em meados 
dos anos 1970, quando algumas autoras e pesquisadoras começam a lançar suas publicações, 
a exemplo de Ana Maria Brás Pavão e Anna Augusta de Almeida, que se debruçaram sobre os 
estudos de Edmund Husserl e Heidegger.
A fenomenologia conforma uma crítica ao positivismo e a toda análise cuja 
lógica é a decomposição da natureza para explicá-la. A Fenomenologia não 
se constitui como teoria explicativa da realidade social: é filosofia e método 
compreensivo – enfatizando e compreendendo as possibilidades de tomada de 
decisão do ser humano e não as causalidades do fenômeno social. Compete à 
fenomenologia descrever o fenômeno, este dado que é apresentado, revelado à 
consciência, este dado que nos faz pensar nele e do qual falamos (TORRES, 2006, 
p. 343, grifo da autora).
 
Considerando o exposto sobre a fenomenologia, cabe ainda ressaltar que ela parte das 
coisas como se apresentam. Olhando para o Serviço Social, seria necessário compreender as 
coisas como são e como se apresentam, observando e escutando a fala do sujeito a partir da sua 
consciência. Para tanto, faz-se necessário compreender sua intencionalidade, elemento central 
para uma compreensão fenomenológica.
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[...] o conhecimento em geral é um problema, uma coisa incompreensível, carente 
de elucidação, duvidosa quanto à sua pretensão [...] as configurações intelectuais, 
que realmente levo a cabo, são-me dadas, contanto que eu reflita sobre elas, as 
receba e ponha tal como puramente as vejo [...] posso efetuar, concretamente 
uma percepção e olhar para ela; [...] mas a percepção está por assim dizer, 
diante dos meus olhos como um dado atual, ou como dado da fantasia. E assim 
para toda a vivência intelectiva, para toda a configuração intelectual cognitiva 
(HUSSERL, 2000, pp. 54-55).
Ao trazer a intencionalidade, precisamos ter a ciência de que ela é captada pelo sujeito 
que fala a partir da sua vivência e objetividade. De acordo com Torres (2006, p. 344), “[...] esse 
pressuposto da fenomenologia é apropriado pelo Serviço Social e dá sustentação à metodologia 
proposta para a intervenção profissional”. Sobre a intencionalidade, vemos a seguir como ela foi 
captada pelos profissionais de Serviço Social.
Seu ponto de partida são experiências do ser humano consciente que vive e age 
em um outro mundo, que ele percebe e interpreta e que faz sentido para ele [...] 
os atos perceptivos do sujeito consciente de alguma coisa têm caráter direcional, 
que implica movimento ativo da consciência para além de si mesma e na direção 
de um objeto intencionado (PAVÃO, 1981, p. 18).
Além da apropriação do Serviço Social no que diz respeito à intenção de intencionalidade 
na fenomenologia, podemos ainda ressaltar que houve apropriação do método.
[...] como método, sua preocupação é mostrar, compreender, descrever e não 
demonstrar, explicar. Por isso, trabalha com os fenômenos vividos, que ganham 
significado por intermédio dos atos da consciência humana. Pode-se afirmar 
então que a fenomenologia não tem a pretensão de alterar a originalidade 
dos fenômenos, mas compreender – partindo da consciência do sujeito – sua 
essência e manifestação. É por isso que Husserl [...] afirma que a consciência é 
intencional (TORRES, 2006, p. 345).
Assim sendo, compreender também está na dependência do mundo cultural do sujeito.
O contexto cultural onde se apresentam os fenômenos permite, através da interpretação 
deles, estabelecer questionamentos, discussões dos pressupostos e uma busca dos significados da 
intencionalidade do sujeito frente à realidade (TRIVIÑOS, 1987, p. 48).
A respeito do método fenomenológico, Gil (1994) faz um registro interessante:
[...] [o] método fenomenológico não é dedutivo, nem empírico. Consiste em 
mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica mediante as leis 
nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está 
presente à consciência, o objeto [...] não se pode negar a adoção de uma postura 
fenomenológica possa ser enriquecedora para o pesquisador [porque, enquanto 
preocupado com a captação do essencial] o pesquisador evitará o parcelamento da 
pesquisa e atomização dos dados (GIL, 1994, pp. 33-34).
É uma busca em perspectiva que, ao mesmo tempo, consiste num caminho rigoroso do 
sujeito que faz perguntas à realidade, que procura ir além da aparência desta e que revela novas 
apreensões a fazer parte de uma só essência.
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Seguem alguns pontos importantes sobre a fenomenologia:
• Fenômeno: o que se mostra em si mesmo, o patente, o manifesto.
• Fenomenologia: fazer ver o que mostra e tal como se mostra em si mesmo.
• Objetivo: análise da existência.
• Conhecimento e angústia fazem parte da ontologia humana. 
• O pensamento metodológico da fenomenologia = reflexão sobre o modo de ser-no-
mundo, inclusive tal como desdobramento na tradição da civilização.
• O ser está na aparência. O ser carrega em si seu ser, seu aparecer e desaparecer. Está no 
ente, e não na sombra.
• O lugar de acontecimento do ser dos entes é o próprio mundo, o ser-no-mundo.
O recurso à fenomenologia aparece como um insumo para a elaboração teórica e prática 
da profissão. Surge como uma faceta mais proeminente dos autores que se colocam opostos quanto 
à perspectiva do conservadorismo da profissão, tanto quanto ao seu viés religioso como quanto 
à influência positivista, pois os mesmos não davam conta da realidade vivida, não conseguiam 
explicar a realidade.
Porém, alguns autores entendem que a perspectiva fenomenológica consiste numa 
reatualização do conservadorismo (PAULO NETTO, 2005).
 A perspectiva fenomenológica aparece num momento de transformação social, quando 
a categoria profissional também clamava por ações sociais que, com sucesso, alcançassem a 
transformação social.
De acordo com Paulo Netto (2005), os pressupostos fenomenológicos representam a 
tentativa da recuperação explícita dos valores tradicionais da profissão (conservadorismo). 
Contudo Pavão (1981) considera que:
Método DEDUTIVO = faz a análise partindo do geral para o específico.
Método INDUTIVO = faz a análise partindo do particular para o geral.
O que é o ente para a fenomenologia?
Ente = o que é, em qualquer dos significados existenciais de ser, “[...] é o que e 
como nós mesmos somos” (ABBAGNANO, 2015, p. 387).
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[...] o princípio da autodeterminação se desvela numa perspectiva de 
conscientização [...] supõe atitude teórico-reflexiva de mundo, em que o homem, 
como se atuante e participante, torna-se ser-consciente-no-mundo [...] o homem, 
como sujeito, implica necessariamente o ser livre, e essa ideia fundamental o 
sentido da liberdade das ações humanas (PAVÃO, 1981, p. 12).
Essa foi parte da introdução da autora Ana Maria Braz Pavão (1981), que se dedicou aos 
estudos da fenomenologia e do Serviço Social. Segundo a autora:
O Serviço Social, ao possibilitar condições para que o homem aja livree 
conscientemente, preocupa-se em elevar o seu nível de consciência, para torná-
la crítica e reflexiva, face à realidade em que está inserido. Então ambas as partes 
dessa ação social (Assistente Social – homem) transformam a realidade e são 
transformadas por ela, mediatizadas pelo mundo e influenciadas pela própria 
consciência que possuem neste mundo (PAVÃO, 1981, p. 12).
A autora explica ainda que o homem, para agir livre e conscientemente, necessita de uma 
atitude reflexiva que, a partir de situações vividas, possa levá-lo a buscar novos modos de ser. E 
o Serviço Social deve proporcionar condições para que esse homem aja livre e conscientemente, 
tendo a dignidade inerente a todo ser humano como um dos valores essenciais.
[...] nessa perspectiva, o Serviço Social supõe, como premissa básica, que toda 
pessoa tem uma habilidade inata para a autodeterminação, isto é, liberdade e 
capacidade de fazer suas próprias escolhas, o que constitui um fim último de 
sua atuação. Cabe, portanto, ao Assistente Social, ajudar ‘seus clientes’ a fazer 
escolhas, preservando seu direito à autodeterminação, como salvaguarda básica 
da sua identidade (PAVÃO, 1981, p. 68).
 
No relacionamento que existe entre o assistente social e o sujeito (considera-se aqui o 
sujeito como foco intencional da ação do profissional), evidenciava-se e manifestava-se a apreensão 
da realidade, cujo significado deveria ser buscado dentro daquilo que fosse se manifestando, mas 
sempre com a preocupação de percebê-la (a realidade) em sua totalidade. Para isso, o assistente 
social necessitava ter um posicionamento filosófico. 
O profissional “[...] deveria ir às coisas, nelas mesmas, sem ideia preconcebida” (PAVÃO, 
1981, p. 29), considerando como premissa:
[...] de que o homem como ser sujeito é existência, supõe que ele está no 
mundo, comprometendo-se numa situação física e social, exprimindo que 
a subjetividade humana não é real sem o mundo. Isso significa que o mundo 
pertence à essência do homem e que o característico do homem é ser consciente 
no mundo. [...] o mundo é uma estrutura de relações significativas, e a sociedade, 
assim expressa, consiste em pessoas que compartilham valores, atitudes e 
padrões de comportamento universalmente aceitos. Esses caracteres sociais 
são demonstrados pelos indivíduos em interação. Desta forma, a essência da 
sociedade se constitui num reflexo da qualidade humana nela inserida (PAVÃO, 
1981, p. 29).
De acordo com o método filosófico, o assistente social deveria partir da própria 
realidade apresentada, daquilo que poderia ver e alcançar diretamente, com isenção de ideias 
preconcebidas, que deveriam estar sempre alheias à própria coisa. “A base de sustentação dessa 
metodologia é: o diálogo, a pessoa e a transformação social [...] partindo dos pressupostos teóricos 
da fenomenologia” (TORRES, 2006, p. 346).
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Quanto ao diálogo, na fenomenologia, entende-se que a:
[...] ajuda psicossocial constitui-se num processo onde o assistente social e 
cliente realizam uma experiência com todo o seu ser no contexto da história 
humana [...] mas também, e acima de tudo, em tornar o cliente sujeito de uma 
experiência [...] O diálogo como processo gerador de transformação social [...] 
como forma de ajuda profissional [...] a metodologia do diálogo exigem que se 
parta de um conhecimento [...] que permita o equacionamento do problema 
eleito para o estudo. Assim, o diálogo não pode prescindir do conhecimento 
profissional do assistente social nem do conhecimento profissional do assistente 
social nem do conhecimento de que o cliente é portador [....] a falta do 
conhecimento do saber do cliente no processo de diálogo, para a proposta, é 
considerada erro profissional. [....] o assistente social, no diálogo, também sofre 
a mesma experiência (ALMEIDA, 1989, pp. 116-117).
É preciso considerar que o diálogo oportuniza o encontro de diferentes saberes, 
experiências e conhecimentos tanto da parte do usuário (no contexto histórico denominado 
cliente) quanto da parte do assistente social. É por meio do diálogo (o que é dito e o que é ocultado) 
que o profissional pode conhecer a realidade apresentada pelo usuário.
 
[...] o movimento do diálogo [...] leva a uma atitude reflexiva sobre a realidade 
concreta, permitindo assim a descoberta da consciência de si próprio e sua 
estrutura de valor, da consciência crítica e do sentido da responsabilidade 
social. [...] os sujeitos dialogantes desvelam mutuamente a realidade e refletem 
criticamente sobre ela, elaborando juntos o projeto de transformação, que 
enfatiza o homem como existência, capaz de ser mundo e pronunciar o mundo. 
Supõe um compromisso histórico do homem em executar esse projeto de uma 
transformação, visando a sua própria humanização (PAVÃO, 1981, p. 31).
Deve-se considerar o relacionamento profissional entre assistente social e sujeito, um 
momento importante e rico no processo de autonomia do sujeito e transformação social. 
Por fim, considerando o conteúdo apresentado acerca do método fenomenológico, a 
seguir apresentamos algumas orientações nas quais se pautavam os assistentes sociais:
• As ações se davam a partir de uma tomada de decisão do cliente, considerando alternativas 
viáveis, geralmente estabelecidas pelo assistente social.
• Implicava a busca de participação do cliente na solução de seus problemas.
• Quanto ao princípio da autodeterminação, via-se como um direito do “cliente” a sua 
própria liberdade de decidir o que era melhor para si. A tomada de decisão do “cliente” 
deveria ser feita a partir do que ele mesmo queria.
• Considerava-se a relação de troca, com aprendizado mútuo (profissional – sujeito), 
valorizando a atitude do diálogo, respeito ao outro e a consciência crítica de sua posição 
no mundo.
A partir do apresentado até aqui, observamos que, desde o seu surgimento, o Serviço 
Social passou por diferentes perspectivas teóricas, que orientaram o agir profissional dos 
assistentes sociais em contextos históricos diferentes, com posicionamentos também diferentes 
dos profissionais. 
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4. INFLUÊNCIA MARXISTA – MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO 
Ao longo do seu processo de formação profissional, você se deparará por diversas vezes 
com os escritos e pensamentos de Marx, suas ideias e concepções acerca da realidade. 
A abordagem marxiana, expressa nos estudos de Marilda Vilela Iamomoto da década 
de 1980, afirma o caráter histórico e político do Serviço Social, levando ao entendimento de 
que a profissão resulta das relações históricas, sociais, políticas, econômicas e culturais. As 
relações moldam a realidade social e suas características, definindo seus usuários. As profissões 
são também fruto de construções históricas, contextualizadas, que se situam em processos mais 
amplos de produção da própria sociedade capitalista.
A vertente marxista aparece como direção que visa a romper com as matrizes conservadoras 
vistas anteriormente. Ela se deu no seio profissional de forma heterogênea e, de certa maneira, 
indeterminada. A teoria social apresentada por Karl Marx revela alto grau de complexidade no 
que diz respeito à sua leitura da realidade, envolvendo conhecimentos acerca de vários aspectos 
da sociedade.
Podemos entender o marxismo como um conjunto de afirmações, argumentos e hipóteses 
sobre o mundo, o ser humano, a vida e a história, conjunto elaborado e apresentado por Karl Marx 
no século XIX (1818 – 1883). O marxismo consiste num método, numa maneira de organizar o 
conhecimento para compreender o real. Nesse sentido, sua obra transcendeu o século XIX. Marx 
não foi um autor que explicou como era a vida naquele século: ele tenta compreendera história 
do mundo a partir de uma aproximação materialista, acreditando que o fundamento da história e 
da sociedade está na maneira como os seres humanos produzem sua existência a cada momento.
O pensamento de Marx funda uma teoria social: toda a sua pesquisa está 
centrada na análise radicalmente crítica da emergência do desenvolvimento, da 
consolidação e dos vetores de crise da sociedade burguesa e do ordenamento 
capitalista [...] o traço peculiar e decisivo refere-se ao seu cariz histórico-
ontológico (PAULO NETTO, 1989, p. 92).
Em meados dos anos 1960 e 1970, a partir do Movimento de Reconceituação da Profissão 
(Serviço Social) na América Latina, profissionais se mostraram também resistentes às novas 
reflexões propostas. Pensava-se no fortalecimento do projeto ético-profissional em detrimento 
de um projeto societário até então constituído pela classe burguesa.
As influências desta corrente filosófica trazem para o Serviço Social, de imediato, 
o entendimento de que a sociedade não é estática e nem a-histórica. Contribui 
ainda para que o Serviço social desenvolva sua dimensão crítica e política, não 
mais considerando a sociedade como um todo harmônico (LIMA; COSTA, 
2016, p. 7).
Se você deseja ampliar seus conhecimentos sobre o assunto, acesse:
CARIA, T. U. L.; SACRAMENTO, O. J. do; SILVA, P. G. Etnografia de práticas de 
serviço social: fenomenologia, holismo e poder. Textos & Contextos, Porto Alegre, 
v. 17, n. 2, 2018.
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 A teoria social de Marx vem possibilitar ao Serviço Social enquanto categoria 
profissional a compreensão acerca das múltiplas relações sociais e suas dimensões da vida social. 
Outro elemento a ser considerado no que diz respeito ao marxismo é que os assistentes sociais 
começam a refletir sobre a sua condição enquanto trabalhadores e sobre a própria categoria de 
trabalho.
[...] resgatar a prática do Serviço Social enquanto trabalho significa recuperar no 
âmbito das particularidades profissionais aquelas forças e relações e seus sujeitos 
de classes. É revisitar a história do Serviço Social [...] ao se preocupar com a 
totalidade do ser e dos seus fenômenos sociais, busca reunir e reinterpretar o que 
ficou disperso e fragmentado nesta trajetória de pensar e fazer do Serviço Social 
(CARDOSO et. al, 1997, p. 28).
O que estamos fazendo até agora não é diferente: estamos conhecendo o processo 
histórico, teórico e social da profissão de Serviço Social.
De acordo com Löwy (2008), Marx não era neutro, considerava em seus pensamentos a 
contradição de classes, conceito de trabalho e as contradições estabelecidas na sociedade a partir 
da ascensão do sistema capitalista de produção: 
[...] Marx considerava sua ciência como revolucionária e, como tal, oposta (e 
superior) à ciência conservadora e burguesa dos economistas clássicos. O ‘corte’ 
entre Marx e seus predecessores é para ele um corte de classe no interior da 
história da ciência econômica (LÖWY, 2008, p. 19).
Marx traz as contradições entre a classe burguesa e proletária, procurando expor a 
realidade e seus impactos sociais na sociedade.
A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. Produção 
de mercadorias e circulação desenvolvida de mercadorias, comércio, são 
pressupostos históricos sob os quais ele surge. Comércio mundial inaugura no 
século XVI a moderna histórica da vida do capital (MARX, 1983, p. 125).
De acordo com Marx, o dinheiro é a forma inicial do capital, sendo transformado em 
capital na relação empregador-trabalhador, e dele advém o acréscimo conhecido como lucro.
[...] a criação da classe operária e do capital é simultânea. O capital surge, 
e ao surgir, cria a classe operária, neste sentido; cria o trabalhador coletivo. 
Mas ao criar o trabalhador coletivo, o capital cria o seu outro, seu oposto. Os 
trabalhadores se organizam, descobrem no seu cotidiano a existência de uma 
identidade de princípios e, sobretudo, uma identidade objetiva, que é o fato de 
que se descobrem solidários contra aquele que os oprime, que os explora, etc. 
(DANTAS, 1991, p. 71).
Num momento em que se encontra firmemente estabelecido o idealismo alemão de Hegel, 
Marx e seu companheiro Engels teorizam sobre a realidade histórico-concreta. Contrariando o 
pensamento dominante de então, eles fundamentam a sua concepção materialista da história na 
dialética e lógica formal, procurando analisar o homem a partir dessa perspectiva, e não mais do 
conceito metafísico ou idealista.
A proposta dialética marxiana é a de teorizar a realidade que se apresenta para entendê-la 
(não como no sentido idealista). O trabalho é entendido como esse processo de criação das coisas 
que se dá na realidade concreta, necessário à existência humana. Nele, o homem humaniza-se e, 
ao mesmo tempo, socializa a natureza.
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A importância do trabalho para a vida social demonstra-se na sua atividade transformadora, 
na sua práxis, mas que, para além disso, é uma atividade pensada, idealizada. O trabalho é o 
agente transformador do mundo, é sustentáculo e fundamento essencial à própria vida social, 
dentro da perspectiva materialista da história e num cenário de ascensão capitalista de produção.
Para que ocorra o capitalismo, duas coisas se fazem necessárias: o trabalho assalariado e 
a extração do excedente sob a forma da mais valia, que ocorre por um mecanismo estritamente 
econômico. A mais valia é o grande segredo do capitalismo, pois é ela que acabará se transformando 
em capital.
O capitalismo é um processo civilizatório que, nos dias atuais, invade todo o mundo, 
envolve o intercâmbio universal e cria bases para um novo mundo, influenciando, destruindo ou 
recriando outras formas sociais de trabalho e de vida e outras formas culturais e civilizatórias. 
O capital surge da relação social estabelecida entre o capitalista e o trabalhador, em que se 
obtém dinheiro com o trabalho não pago, ou seja, é uma relação de classes em que se destacam 
as diferenças, as desigualdades e as contradições, o que torna o conflito inerente à existência das 
classes sociais.
Marx foi o primeiro autor a utilizar com intensidade a expressão ‘classes sociais’. 
Para ele, as classes sociais são expressão do modo de produzir da sociedade 
no sentido de que o próprio modo de produção se define pelas relações que 
intermedeiam, entre as Classes Sociais, e tais relações dependem da relação 
das Classes com os instrumentos de produção. Numa sociedade em que o 
modo de produção capitalista domine, sem contrastes, em estado puro, as 
classes se reduzirão fundamentalmente em duas: a burguesia, composta pelos 
proprietários dos meios de produção, e o proletariado, composto por aqueles 
que, não dispondo dos meios de produção, têm de vender ao mercado sua força 
de trabalho (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1993, p. 171).
A exploração e a dominação estão inseridas exatamente nessa relação de poder. A lógica 
do capitalismo (ou do capital) é a de que o dinheiro se converta em capital e cresça (o que só 
ocorre com a exploração do trabalho alheio), ou seja, o dinheiro só se transforma em capital 
quando ele consegue se valorizar. Por isso, não é inerente ao capital a preocupação em produzir 
para satisfazer as necessidades humanas, mas, sim, para satisfazer sua própria “fome” de lucro.
A classe dominante usa a força de trabalho dos proletários para fazer funcionar seus 
meios de produção e, dessa forma, produzir mercadorias com a finalidade de obter lucros. Com 
esse lucro, além de viver com qualidade, os burgueses melhoram em quantidade e qualidade os 
seus mecanismos produtivos, com o propósito de produzir mais mercadorias e obter, com isso, 
maiores lucros.
[...] o marxismo é um

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