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14-DireitoInternacional - Direito Descomplicado

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AN02FREV001/REV 3.0 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO ÚNICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
3 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO ÚNICO 
1 NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO INTERNACIONAL 
1.1 INTRODUÇÃO 
1.2 DIFERENÇAS ENTRE O DIREITO PÚBLICO E O DIREITO PRIVADO 
1.3 FUNDAMENTO E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO INTERNACIONAL 
1.3.1 Fundamento 
1.3.2 Características 
1.3.3 Conflito de Normas (Direito Interno e Internacional) 
1.4 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
1.4.1 Conceito 
1.4.2 A Relação do Direito Internacional com outras Disciplinas 
1.5 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
1.5.1 Conceito 
1.5.2 Objeto 
1.5.3 Conexão e seus Elementos 
1.6 NACIONALIDADE 
1.7 CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL 
1.7.1 Vistos de Entrada 
1.7.2 Tipos de Vistos 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
4 
 
MÓDULO ÚNICO 
 
 
1 NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO INTERNACIONAL 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
 
 
O Direito Internacional é tão antigo quanto a civilização em geral. Ele é uma 
consequência necessária e inevitável de toda a civilização, pois todo o 
relacionamento estabelecido entre grupos humanos organizados, desde que 
autônomos e de algum modo diferenciados entre si, implica a emergência de um 
Direito Internacional. 
Consiste em normas que governam as relações entre os Estados, mas 
compreendem, também, normas relacionadas ao funcionamento de instituições ou 
organizações internacionais, a relação entre elas e a relação delas com o Estado e 
os indivíduos. Além disso, certas normas do Direito Internacional abrangem 
indivíduos e entidades que não pertencem ao Estado, de tal maneira que seus 
direitos ou obrigações dizem respeito à comunidade internacional dos Estados. 
O Direito Internacional, entre outros atributos, estabelece normas relativas 
aos direitos territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e 
espacial), a proteção internacional do meio ambiente, o comércio internacional e as 
relações comerciais, o uso da força pelos Estados, os direitos humanos e o Direito 
Internacional humanitário. 
Assim, vem a ser o complexo dos princípios que regulam os direitos e as 
obrigações das nações entre si, como por exemplo, o princípio da territorialidade; em 
que o território é, a princípio, o lugar de aplicação de uma ordem jurídica estatal. 
Sendo assim, pelo princípio da territorialidade, todo sujeito de direito, uma vez 
encontrando-se em um determinado território, deve respeitar as leis que ali estão em 
vigor e, caso não o faça, poderá ser objeto de sanção. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
5 
Esse princípio admite, entretanto, exceções quando se trata, por exemplo, 
da área criminal. É frequente que legislações nacionais utilizem o vínculo de 
nacionalidade, seja do autor ou da vítima, como fundamento para o exercício de 
suas competências. Se o princípio da territorialidade não possui, de fato, um caráter 
absoluto em algumas searas específicas, isto não quer dizer que a 
extraterritorialidade seja admitida pelo Direito Internacional público. 
Ao contrário, os princípios gerais da não intervenção e da igualdade jurídica 
entre os Estados eivam de ilegalidade toda a ação de um Estado que vise a produzir 
seus efeitos jurídicos sobre a soberania, sem o consentimento desta. 
 
 
1.2 DIFERENÇAS ENTRE O DIREITO PÚBLICO E O DIREITO PRIVADO 
 
 
 O Direito Internacional subdivide-se em público e privado. Um conflito de 
fronteiras é regulado pelo Direito Internacional Público porque envolve os Estados 
na sua função natural. Já um inventário de uma pessoa falecida que deixa bens em 
vários países suscita problemas de Direito Internacional Privado, por se tratar de um 
interesse não dos Estados, nos quais esses bens estejam situados, mas 
principalmente dos particulares que se sucederão na propriedade dos bens. 
De acordo com a nossa concepção, o Direito Internacional Privado refere-se 
tão somente a relações jurídicas de direito privado com conexão internacional, não 
se adaptando à resolução do conflito de leis interespaciais de direito público. Mas 
não se pode negar que o direito público repercute e reflete de modo visível na nossa 
disciplina, influenciando fortemente a aplicação do Direito Internacional Privado. Por 
quê? 
Cada país conhece, no seu ordenamento jurídico, normas de direito público 
que reivindicam a sua aplicação imediata, por força de seu conteúdo imperativo e 
cogente, independentemente do direito aplicável a uma relação jurídica de direito 
privado com conexão internacional. Na doutrina tais normas são denominadas leis 
de aplicação imediata. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
6 
Ao analisar a relação entre Direito Internacional privado e direito público, 
devemos dirigir a atenção para o próprio conceito de direito privado e direito público, 
sendo necessário mencionar que nem em todos os sistemas jurídicos diferenciam-se 
os dois termos. No Brasil, tradicionalmente, usa-se a dicotomia direito privado e 
direito público. 
O critério básico para a distinção entre eles, ou seja, dos dois conceitos, é o 
de que o direito positivo define expressamente os conceitos ou declara quando uma 
matéria pertence ao direito privado ou ao direito público. Quando o direito positivo 
não contém qualquer manifestação a respeito, pode-se recorrer tanto à doutrina 
quanto à jurisprudência, posto que ambas desenvolveram várias teorias para 
distinguir os conceitos. 
De acordo com a teoria de subordinação, o direito privado soluciona 
principalmente relações entre particulares, enquanto o direito público tem como 
objeto a relação do cidadão com o poder público. Segundo a teoria dos interesses, o 
direito privado serve para a proteção de interesses particulares, enquanto o direito 
público procura servir aos interesses públicos. 
Finalmente, segundo a teoria funcional, as normas de direito público 
destinam-se, de imediato, à solução de um assunto público ou à satisfação de um 
interesse coletivo, ao passo que o direito privado está restrito às relações 
particulares. 
 
 
1.3 FUNDAMENTO E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO INTERNACIONAL 
 
 
1.3.1 Fundamento 
 
 
O fundamento explica a razão da existência do DIP. Duas vertentes 
doutrinárias explicam o seu fundamento, como veremos a seguir: 
 
x Doutrina voluntarista 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
7 
Para essa doutrina, as regras internacionais são produtos da vontade dos 
Estados, assim como o direito interno se funda na vontade dos cidadãos. O 
voluntarismo possui alguns desdobramentos, como a teoria da autolimitação, ou 
seja, não pode um Estado soberano se encontrar submetido à vontade que não 
fosse a sua própria, pois o Direito Internacional se fundamentaria na autolimitação 
do Estado (vontade estatal). 
E também na teoria da vontade coletiva, em que o Direito Internacional se 
basearia na vontade coletiva dos Estados, que se manifestaria no tratado e nos 
costumes. Assim, o Estado está comprometido tão somente com o direito que foi 
objeto de seu consentimento (teoria de autolimitação). 
 
x Doutrina objetivista 
 
Para o direito natural, a razão impõe um conjunto de regras às relações 
humanas que estendem na sua obrigatoriedade ontológica as relações entre os 
Estados. Apontamos a norma fundamental, da qual decorrem todas as regras 
jurídicas, como fundamento do DIP. Enfim, para a escola sociológica a regra de DIP 
origina-se no fato social, uma coerção que se impõe por si só aos indivíduos. 
Muitos consideram que a investigação do fundamento do direito, em 
qualquer de seus ramos, não é um problema jurídico, mas, sim, filosófico ou moral, o 
que preconizaria uma visão menos ampla do que deve ser o direito. Podendo 
prescindir de uma opção, constatando a existência da ordem jurídica internacional 
que, apesar de suas peculiaridades, é a realidade objetiva de uma longa construção 
histórica. 
 
 
1.3.2 Características 
 
 
x Obrigatoriedade- As regras do DIP são obrigatórias. Não se trata de 
cortesia internacional. Para Paul Reuter (1981), “o caráter jurídico de uma regra 
internacional decorre da objetividade do seu enunciado, da generalidade de sua 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
8 
aplicação e de sua compatibilidade com o conjunto das regras já admitido no 
sistema”. 
 
x Fragmentação – O alargamento do domínio material do DIP é fragrante, 
especialmente em decorrência do progresso técnico e da interdependência 
econômica entre os Estados. O caráter fragmentário das regras de DIP decorre 
ainda de suas condições de elaboração, vinculadas à convergência de interesses 
dos Estados ou de relações de força. É bom lembrar que mesmo as normas que 
resultam do costume podem merecer divergentes interpretações. 
 
x Consentimento – Para que um Estado se comprometa com a regra de um 
tratado ou para que uma norma seja reconhecida como costumeira, impõe-se o 
consentimento dos estados, inclusive daqueles que são diretamente interessados. 
 
O princípio do livre consentimento é consagrado pela Convenção de Viena 
sobre o direito dos tratados de 1969 e pela Corte Internacional de Justiça. Porém, a 
criação do Direito Internacional pode, em certos casos, prescindir do consentimento 
dos Estados, pois a mesma Convenção de Viena reconhece a noção de norma 
imperativa e de obrigações essenciais que se impõem ao conjunto dos estados. 
Trata-se de normas que não podem ser derrogadas de um tratado sob pena de 
nulidade. 
 
 
1.3.3 Conflito de Normas (Direito Interno e Internacional) 
 
 
Enquanto o direito interno subordina os sujeitos de direito a um poder central 
que estabelece a lei e o faz respeitá-la, graças a um aparelho institucional que pode 
recorrer à força, o Direito Internacional pressupõe a promulgação em comum, por 
meio de acordo, de uma regulamentação, cabendo a cada Estado avaliar a 
dimensão do dever que lhe incumbe e as condições de sua execução. 
A possibilidade de conflito entre uma norma internacional e uma norma 
interna poderá ocorrer existir. Quando ocorre, qual das duas normas vai prevalecer? 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
9 
Por exemplo, o Estado assina um tratado que entra em conflito com norma interna 
anterior. Assim, no que concerne às relações entre o direito interno e o Direito 
Internacional, duas são as concepções teóricas que convivem na doutrina, como 
veremos a seguir: 
 
x Dualismo 
 
O Direito Internacional e o direito interno são completamente independentes 
e a validade da norma de um não depende do outro. De acordo com a teoria 
dualista, para que uma norma internacional seja aplicada na ordem interna de um 
Estado, deve-se primeiramente transformá-la em norma de direito interno, 
incorporando-a ao seu ordenamento jurídico doméstico. Esta doutrina costuma ser 
chamada de teoria da incorporação. Em seus termos, por serem as duas ordens 
jurídicas completamente independentes, não existe a possibilidade de conflito entre 
si. O dualismo, com isso, nega o conflito, pois será utilizada a norma mais recente. 
 
x Monismo com supremacia do Direito Internacional 
 
A ordem jurídica é uma só, mas as normas de direito interno devem ajustar-
se ao Direito Internacional. Essa teoria parte do princípio de que os Estados são 
absolutamente soberanos. Não estão sujeitos a nenhum sistema jurídico que não 
tenha emanado de sua própria vontade. Assim, o monismo com supremacia do 
Direito Internacional não acata a existência de duas ordens jurídicas independentes, 
afirmando haver apenas uma única ordem jurídica, na qual o Direito Internacional é 
considerado superior ao direito interno. 
 
x Monismo com supremacia do direito interno 
 
É o inverso do anterior, ou seja, entende que o Estado é dotado de 
soberania absoluta e que, portanto, somente se sujeita a um sistema jurídico que 
emane de si próprio. Esta teoria vê a existência de uma única ordem jurídica, mas 
identifica-a com a interna. O Direito Internacional seria simplesmente a continuação 
do direito interno, aplicado às relações exteriores do Estado. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
10 
Em resumo, o Monismo sustenta de um modo geral a existência de uma 
única norma jurídica, sendo que existem duas posições: uma que defende a 
Primazia do Direito Internacional e outra a Primazia do Direito Interno. O monismo se 
manifesta pela introdução, mormente nos textos constitucionais dos Estados, de 
uma cláusula que estipula a supremacia de um direito sobre outro, hierarquizando 
suas fontes. 
Sendo assim, de acordo com os defensores do monismo, não seria possível 
o conflito entre o Direito Internacional e o direito interno, pois prevaleceria a norma 
hierarquicamente superior, ou seja, a do Direito Internacional. O predomínio do 
dualismo ou do monismo repercute em soluções práticas exigidas pelo convívio 
internacional. Ditas soluções se diferenciam quando se trata da aplicação, em seara 
interna, do costume internacional e dos tratados internacionais. 
No primeiro caso referente à primeira diferença, na ordem internacional o 
Estado é o único sujeito de Direito, enquanto na ordem interna acrescenta-se 
também o indivíduo como sujeito de direito. Quanto à segunda diferença, refere-se 
às fontes nas duas ordens jurídicas. Enquanto o direito interno é o resultado da 
vontade de um só Estado, o Direito Internacional tem como fonte a vontade coletiva 
dos Estados. 
E a terceira diferença está na estrutura das duas ordens jurídicas. Ou seja, 
na ordem internacional a estrutura está baseada na coordenação, enquanto na 
ordem interna, baseia-se na subordinação. Assim, verifica-se, que existem Estados 
que adotam em sua legislação, uma cláusula geral de adoção pura e simples do 
direito costumeiro internacional, como é o caso do Japão e da África do Sul. 
Outros Estados, exemplificado pela Alemanha, mas do que adotar 
globalmente o costume indica ainda a sua supremacia sobre o direito interno. 
Existem também nações que silenciam sobre o tema, por exemplo, a Inglaterra. Com 
relação aos tratados internacionais, pode haver também o silêncio dos textos 
constitucionais. São mais frequentes três modalidades de tratamento constitucional 
da matéria: 
 
x Primeiramente, há cláusulas que conferem aos tratados o valor de direito 
interno. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
11 
x Um segundo tipo de cláusula vai mais além, determinando a supremacia dos 
tratados sobre o direito interno. Esta supremacia poderá operar-se sobre a lei, 
ou sobre a Constituição, ou ainda sobre outros tratados, por exemplo, a 
prevalência dos tratados sobre direitos do homem relativamente a outros 
acordos internacionais. Finalmente, há cláusulas que preveem a necessidade 
de incorporação do texto do tratado ao ordenamento interno, logo a 
internalização do acordo, para que ele encontre sua vigência. Nesse caso, os 
tratados se equiparam à legislação ordinária. 
 
 
1.4 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
 
 
1.4.1 Conceito 
 
 
Existem diversos conceitos do DIP. Para Philippe Manin, 
 
O Direito Internacional é o conjunto de regras, aqui compreendidas as 
recomendações das organizações internacionais, que se aplicam às 
relações internacionais, ou seja, aquelas que ultrapassam a esfera de um 
Estado e que não se fundam no direito de um Estado, eis que o direito 
interno não tem vocação para vincular nenhum sujeito além de seu autor. 
(MANIN, 1997, p. 419). 
 
Acentuando, assim, o papel da fonte de direito, que deve ser internacional, 
Manin retém uma definição formal do DIP. Já para Franz Von Liszt (1928), “o DIP 
seria o conjunto de regras jurídicas determinantes dos direitos e deveres mútuos dos 
Estados que fazem parte da comunidade internacional, naquilo que se refere ao 
exercício de sua soberania. 
Diz que se encontra uma concepção material. A denominação correta do 
DIP seria então direito interestatal. A comunidade internacional seria delimitada por 
uma consciência jurídica comum,fundada tanto na civilização como no comércio. 
Como todo o direito é a expressão da vida social de uma sociedade, Paul Reuter 
(1981) sustenta que “o DIP é o conjunto de regras que presidem a existência e o 
desenvolvimento de uma comunidade internacional em constante mutação”. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
12 
Como condição de existência dos Estados, Raul Pederneiras (1976) diz que 
o Direito Internacional “visa ao conjunto dos princípios reguladores das relações 
entre eles. Tais relações, positivadas pelo consenso recíproco, estabelecem um 
conjunto de normas sobre a atividade jurídica, em situação estável”. Como vimos, 
em todas as definições do DIP está presente o Estado, como o principal membro da 
sociedade internacional e o primeiro sujeito do Direito Internacional público. 
Sendo assim, o Direito Internacional público, DIP, como é conhecido na 
atualidade, serve como uma tripla função. Primeiramente, assegura a partilha de 
competências entre os Estados soberanos, cada um possuindo uma base geográfica 
para sua jurisdição. Em segundo lugar, impõe obrigações aos Estados no exercício 
de suas competências, limitando a margem de discricionariedade da qual àqueles 
dispõem. Diante disso, a competência das organizações internacionais é igualmente 
delimitada pelo DIP. 
Sendo assim, este direito próprio das relações entre Estados recebe o nome 
de Direito Internacional público. Nas relações internacionais primou a força como 
princípio e a guerra como instrumento de política. É esta uma situação anômala, 
porque o sistema dos homens se relaciona e, em consequência, os povos não são a 
força nem a guerra, mas sim a justiça, o direito, cujo fruto é a paz e a solidariedade. 
Para que possa haver justiça é preciso que existam mecanismos de 
determinação do direito e de aplicação das leis, que sejam independentes dos 
Estados e com capacidade para submetê-los à ordem do direito e da lei. Faltavam 
instituições jurídicas e políticas internacionais. 
O Direito Internacional, como direito nacional, é em parte nacional e positivo. 
O direito positivo internacional tem como fontes principais o costume e, sobretudo, 
não havendo uma autoridade internacional, os tratados internacionais ou pactos 
entre Estados. Por ser o Direito Internacional público, o direito entre os Estados, os 
próprios sujeitos são os Estados. 
Não obstante, tal princípio já não é absoluto, porque existem tratados 
internacionais cujos objetos são as relações entre os nacionais e o Estado, dentro 
de cada um, por exemplo, a Convenção Europeia para a proteção dos direitos 
humanos e liberdades fundamentais. Neste tipo de tratados as partes continuam a 
ser os Estados, mas o que tem em vista não é tanto as relações entre Estados, 
como a relação cidadão-Estado. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
13 
Esta evolução é importante, porque supõe um forte despertar da consciência 
de que todos os homens formam uma mesma e única comunidade universal, de 
modo que as possíveis injustiças que um Estado inflija aos seus cidadãos não são 
indiferentes aos demais Estados nem aos demais homens. 
As regras de DIP são obrigatórias, pois não se trata de cortesia 
internacional, de conveniência ou comodidade. Assim, podemos definir o DIP como 
o conjunto de princípios ou regras destinadas a reger os direitos e deveres 
internacionais, tanto dos Estados ou outros organismos análogos, quanto dos 
indivíduos. 
 
 
1.4.2 A Relação do Direito Internacional com outras Disciplinas 
 
 
Diversas disciplinas mantêm acentuada interação com o DIP. A riqueza 
destes estudos não desmerece, entretanto, a sua especificidade. Ele não deve ser 
confundido com o direito das gentes, com as relações internacionais, nem com o 
Direito Internacional privado. Além disso, ele não pode ser reduzido ao direito das 
organizações internacionais. 
Quando cito o direito das gentes, é que o DIP foi denominado jus gentium 
por diversos autores de um passado remoto. Muitas críticas são dirigidas à tradução 
literal da expressão, direito das gentes, como sinônimo do DIP. Daí pode resultar 
uma confusão com o jus gentum. Do direito romano, que constituía o direito do 
Império, em oposição ao direito especial dos cidadãos. 
DIP é uma ordem jurídica existente ou positiva, ainda que incompleta sob 
certos aspectos. O direito das gentes, ao contrário, seria uma família de conceitos 
políticos que compreendem princípios do direito, da justiça e do bem comum. Assim, 
o direito das gentes contém princípios segundo os quais o Direito Internacional pode 
ser julgado. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
14 
1.5 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
 
 
1.5.1 Conceito 
 
 
Além do Direito Internacional Público, o que acabamos de definir, existe o 
Direito Internacional Privado, que é diferente. Esse é o ramo do direito que fornece 
os elementos para que se decida qual legislação deve ser aplicada ao caso 
concreto, para dirimir questões que envolvam partes de vários países. Surgiu 
simultaneamente com ideia de extraterritorialidade da lei, isto é, é a possibilidade da 
lei de um país ter efeitos em outro. 
O princípio da reciprocidade permite que se admita a aplicação de uma lei 
estrangeira em território nacional. As normas de Direito Internacional privado 
regulam situações entre particulares e tem por objeto a resolução de conflitos de leis 
de diferentes Estados, que podem dar-se a respeito de uma relação jurídica, por 
exemplo, um contrato que é válido segundo a lei de um país, poderá ter efeitos 
noutro país onde esse contrato seria nulo se ali fosse celebrado. 
As leis que o Direito Internacional privado estuda são, fundamentalmente, as 
leis de cada Estado sobre tais conflitos, mas existem também tratados internacionais 
com tal propósito. 
 
 
1.5.2 Objeto 
 
 
A internacionalização da vida e das atividades humanas acarreta uma série 
de fenômenos de natureza jurídica que devem ser enfrentados pelos estados 
isoladamente e pelas entidades regionais e internacionais no plano coletivo. Há 
várias concepções sobre o objeto do Direito Internacional privado. A mais ampla é a 
francesa, que entende abranger quatro matérias distintas, como a nacionalidade; a 
condição jurídica do estrangeiro; o conflito das leis e o conflito de jurisdição, que 
veremos a seguir: 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
15 
x A nacionalidade 
 
Cuida da caracterização do nacional de cada Estado, as formas originárias e 
derivadas de aquisição da nacionalidade, a perda da nacionalidade, ocasionando, 
respectivamente, a dupla nacionalidade, etc. 
 
x A condição jurídica do estrangeiro 
 
Versa os direitos do estrangeiro de entrar e permanecer no país, uma vez 
domiciliado ou residente no território nacional, trata de seus direitos no plano 
econômico (civil e empresarial); social (trabalhista e previdenciário); político 
(eleitoral), incluindo restrições que sofre em determinadas áreas da atividade 
humana. 
 
x O conflito de leis 
 
Estuda as relações humanas ligadas a dois ou mais sistemas jurídicos cujas 
normas não coincidem, cabendo-lhe determinar qual o sistema a ser aplicado. 
 
x O conflito de jurisdição 
 
Cuida de definir a competência do Judiciário de cada país na solução dos 
conflitos que envolvem pessoas, coisas ou interesses que extravasam os limites de 
uma soberania. 
 
Há, ainda, outra corrente, a teoria dos direitos adquiridos, como objeto do 
Direito Internacional privado, que versa a mobilidade das relações jurídicas, que às 
vezes nascem em uma jurisdição, repercutindo seus efeitos em outra, sujeita a 
legislação diversa. Por exemplo, a Alemanha restringe o objeto da ciência ao conflito 
das leis e os Estados Unidos denomina de “Conflict of Laws”, incluem em seu objeto 
o conflito das leis, o conflito das jurisdições e o reconhecimento de sentenças 
estrangeiras. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
16 
No Brasil divergem os autores, entendendo alguns que o objeto se 
circunscreve ao conflitode leis, aceitando que se estude a nacionalidade e a 
condição jurídica do estrangeiro como pressupostos didáticos da disciplina. Amilcar 
de Castro define a composição do tema da condição jurídica do estrangeiro com o 
do conflito de leis mediante o seguinte exemplo: 
 
Um estrangeiro de 17 anos, domiciliado em seu país, que de passagem 
pelo Brasil deseja fazer seu testamento. Pode efetuar o ato de testamento 
no Brasil ou estará este ato entre os vedados aos estrangeiros no país? A 
resposta é de que o estrangeiro tem condição jurídica para testar no Brasil. 
Segue-se a segunda questão: que lei civil, relativa à capacidade e às 
normas testamentárias, será aplicada ao testamento? (CASTRO, 1997, p. 
69). 
 
Responde o Direito Internacional privado que os aspectos formais são 
regidos pela lei local e os aspectos de substância e de capacidade pela lei do país 
em que o jovem está domiciliado. Se esta lei veda o testamento aos menores de 18 
anos, ele tem o gozo ao direito de testamento no Brasil, mas não poderá exercê-lo, 
enquanto que as pessoas domiciliadas no Brasil – e por isso regidas por nossa lei – 
podem testar a partir de 16 anos de idade, segundo o artigo 1.860, parágrafo único 
do CC. 
Assim, concebe-se a presença de todos os objetos acima enunciados em 
uma única hipótese, por exemplo: de um homem nascido em Paris, de pais 
brasileiros, casado com uma francesa em regime de separação de bens, que tenha 
firmado, na capital francesa, juntamente com sua esposa, um contrato de compra do 
controle acionário de uma sociedade brasileira, proprietária de um órgão jornalístico 
e que descumpre as obrigações assumidas com o vendedor no que tange ao 
pagamento parcelado do preço da aquisição. 
Temos aqui questões de nacionalidade no que tange ao varão (será 
brasileiro ou francês?) e de condição jurídica do estrangeiro no que tange à sua 
esposa que participou da operação adquirindo parte das ações transacionadas. 
Saber qual o tribunal competente para julgar a ação do vendedor contra o casal de 
compradores envolve conflito de jurisdição, eis que firmado o contrato em Paris por 
uma francesa. Sua justiça se considerará competente, mas como o contrato devia 
ser cumprido no Brasil, a justiça brasileira também se considerará como tal. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
17 
Decidida essa questão, caberá definir que lei será aplicada para o exame de 
validade formal do contrato, de sua substância, e interpretação de suas cláusulas, o 
entendimento dos direitos e obrigações das partes e as consequências de um 
eventual inadimplemento, sendo também necessário saber a possibilidade de se 
confirmar e executar a sentença prolatada em um dos países na jurisdição do outro. 
Portanto, temos aí os temas do conflito de jurisdição e do conflito de leis, eis 
que diversas normas regem estas matérias nos dois países. São dois problemas: a 
indicação do foro competente e da lei aplicável, que devem ser examinadas. Uma 
vez determinada a jurisdição competente, o tribunal assim designado decidirá sobre 
a lei aplicável. 
 
 
1.5.3 Conexão e seus Elementos 
 
 
Diante de uma situação jurídica conexa com duas ou mais legislações, que 
contém normas diversas, conflitantes, estabelece-se a dúvida sobre qual das 
legislações deva ser aplicada. Não cabendo ao jurista, no estrito campo do Direito 
Internacional privado, solucionar o conflito, sua missão se restringe a optar pelo 
sistema a ser aplicado dentre as várias legislações conectadas com a hipótese 
jurídica. 
Elemento de conexão é a circunstância ou dado que liga uma das leis 
conflitantes ao fato jurídico. O exame dos elementos de conexão é o sistema 
adotado para escolher a lei dominante aplicável ao caso concreto. Elementos de 
conexão adotados no Brasil estão discriminados na LICC (Lei de Introdução ao 
Código Civil) que devem ser atentamente examinados. Para verificar qual a 
legislação aplicável a um caso concreto, há duas etapas básicas que devem ser 
seguidas: 
 
x Qualificação do fato, isto é, se a questão é um problema sucessório, se é 
referente à forma de ato jurídico, à capacidade civil, etc. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
18 
x Definição da lei aplicável ao caso, pelo estudo do elemento de conexão que 
qualifica o fato ou a hipótese. 
 
O Direito Internacional privado, ao trabalhar com o conflito das leis, 
inegavelmente o campo mais amplo e importante de seu objeto, há de criar regras 
para orientar o juiz sobre a escolha da lei a ser aplicada. O conflito entre as 
legislações permanece, mas a situação concreta é resolvida mediante a aplicação 
de uma das leis, escolhida de acordo com as regras fixadas, seja pelo legislador, 
seja pela Doutrina ou pela Jurisprudência. 
 
 
1.6 NACIONALIDADE 
 
 
A nacionalidade é geralmente definida como o vínculo jurídico-político que 
liga o indivíduo ao Estado, ou, em outras palavras, o elo entre a pessoa física e um 
determinado Estado. Sob o ângulo de diversos ramos das ciências humanas, a 
nacionalidade está vinculada a um conjunto de tradições e costumes, em geral 
sintetizados em uma só língua, formando uma comunidade cujos laços derivam de 
uma origem comum: a Nação. Para o direito, contudo, a nacionalidade refere-se ao 
Estado. A nacionalidade resulta de um fato natural, qual seja o nascimento. 
Segundo Pontes de Miranda, 
 
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público interno que faz 
da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do 
Estado. Nacionalidade e cidadania são conceitos distintos. Afinal, nacional é 
o brasileiro nato ou naturalizado. Já cidadão é o nacional no gozo dos 
direitos políticos, portanto, partícipe da vida política do Estado. Reputa-se 
estrangeiro no Brasil quem tenha nascido fora do território nacional que, por 
qualquer forma prevista na Constituição, não adquira a nacionalidade 
brasileira. (MIRANDA, 1935, pág. 83). 
 
Dois são os critérios utilizados para sua aquisição. A origem sanguínea, em 
função do vínculo decorrente da paternidade. E em função do nascimento no 
território do Estado considerado. A combinação destes critérios pode gerar duas 
figuras singulares: o polipátrida e o heimatlos. Polipátrida é todo aquele que tem 
mais de uma nacionalidade e heimatlos ou apátrida entende-se aquele que não 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
19 
possui nacionalidade. Segundo a Constituição de 1988 existem dois tipos de 
brasileiros: o nato e o naturalizado. Não se admite a criação, por lei, de outras 
modalidades de nacionais. 
São quatro as situações geradoras da condição de brasileiro nato: 
 
x Primeiramente, o nascido no Brasil, quer seja filho de pais brasileiros ou de 
pais estrangeiros, a não ser que estes últimos estejam em serviço oficial para 
seus países. 
x Segundo, os nascidos no exterior, de pai ou mãe brasileiro, desde que 
qualquer um deles esteja a serviço do Brasil. 
x Terceiro, os nascidos no exterior, de pai ou mãe brasileiros, desde que 
venham a residir no Brasil antes da maioridade e optem, em qualquer tempo, 
pela nacionalidade brasileira. 
x Quarto, os nascidos no exterior, registrados em repartição brasileira 
competente. 
 
 
1.7 CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL 
 
 
São estrangeiros aqueles que não adquiriram a nacionalidade brasileira. O 
estrangeiro não residente no país goza, como qualquer brasileiro, da liberdade de 
locomoção dentro do território nacional, desde que tenha ingressado no país de 
forma regular. Para a boa sistematização do estudo da condição jurídica do 
estrangeiro, dividiremos o assunto em: a entrada do estrangeiro, os direitos dos 
estrangeiros e a saída do estrangeiro, como veremos a seguir: 
 
x Entrada dos estrangeiros 
 
A entrada no Brasil é regida pelo Estatuto dos Estrangeiros e sua permissão 
se manifesta pela concessão de um visto de entrada, aposto no passaporte do 
estrangeiro, que deve ser apresentado às autoridades pátrias quando de seu 
ingresso em território nacional.AN02FREV001/REV 3.0 
20 
A Constituição de 1988 dispõe no art. 5º, XV, que é “a locomoção no 
território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, 
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Assim, a lei condiciona o 
direito de qualquer pessoa entrar no território nacional, nele permanecer ou dele 
sair, só ou com seus bens, segundo a Lei 6.815/80, alterada pela Lei 6.964/81. 
No plano internacional a Convenção de Havana, de 1928, sobre a condição 
dos estrangeiros, dispõe em seus art. 1º que “os Estados têm o direito de 
estabelecer, por meio de leis, as condições de entrada e residência dos estrangeiros 
em seus territórios”. A Declaração Universal dos Direitos dos Homens, dispõe em 
seu art. 13, alínea 2, que “toda pessoa tem o direito de sair de qualquer país, 
inclusive de seu próprio, e de regressar a seu país”. 
A entrada em outro país só aparece no caso especial de perseguição, é o 
que reza o art. 14 da Declaração que “toda pessoa, em caso de perseguição, tem o 
direito de buscar asilo e de desfrutá-lo em outro país”. A filosofia da atual legislação 
brasileira sobre a entrada e permanência de estrangeiro no Brasil inspira-se no 
atendimento à segurança nacional, à organização institucional e nos interesses 
políticos, socioeconômicos e culturais do Brasil, inclusive na defesa do trabalhador 
nacional. 
 
x O direito dos estrangeiros admitidos 
 
O Estado não tem obrigação de admitir estrangeiros em seu território. Mas 
uma vez admitidos devem-lhes ser concedidos um mínimo de direitos, ou seja, uma 
posição de igualdade com os cidadãos pelo menos no que tange à segurança de 
suas pessoas e propriedades, o que não significa que eles devam ter os mesmos 
direitos dos cidadãos. 
A Convenção de Havana, de 1928, sobre os direitos dos estrangeiros, 
determina a obrigação dos estados, ou seja, “concedendo aos estrangeiros 
domiciliados ou de passagem em seu território todas as garantias individuais que 
concedem a seus próprios nacionais e o gozo dos direitos civis essenciais.” Na 
legislação brasileira há dois momentos legislativos que nos dão uma vista 
panorâmica do estrangeiro no Brasil. Na Constituição, onde diz que, 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
21 
Art. 5º. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes.” 
 
E o Código Civil, quando diz que a lei não distingue entre nacionais e 
estrangeiros quanto à aquisição e ao gozo dos direito civis. Porém, existem 
limitações aos estrangeiros estabelecidas na Constituição, de sorte que podermos 
asseverar que eles só não gozam dos mesmos direitos assegurados aos brasileiros 
quando a própria Constituição (art. 172) autorize a distinção: “A lei disciplinará, com 
base no interesse nacional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os 
reinvestimentos e regulará a remessa de lucros”. 
Esse artigo determina que a legislação ordinária discipline os investimentos 
de capitais procedentes de outros países, ou ainda, de estrangeiros não residentes 
no Brasil (capital estrangeiro) e incentive o reinvestimento, ou seja, a reaplicação na 
economia nacional dos lucros obtidos pelo detentor do capital estrangeiro. Além 
disso, o legislador infraconstitucional deve regular a remessa de lucros para o 
exterior. 
Assim, a legislação brasileira contém uma série de restrições à atividade dos 
estrangeiros, umas decorrentes de vedações constitucionais, outras criadas pelo 
próprio legislador ordinário. Como, por exemplo, bancos, seguros, petróleo, minas, 
águas, energia, educação (o ensino de certas disciplinas, o ensino de certas 
profissões), etc. 
 
x Saída compulsória do estrangeiro 
 
Em matéria de remoção forçada da pessoa física do território de um país 
podemos citar: 
 
a) Extradição: que é o processo pelo qual um Estado atende ao pedido de outro 
Estado, remetendo-lhe pessoa processada no país solicitante por crime 
punido na legislação de ambos os países, não se extraditando, em regra, 
nacional do país solicitado. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
22 
b) Expulsão: que é o processo pelo qual um país expele de seu território 
estrangeiro residente, em razão de crime ali praticado ou de comportamento 
nocivo aos interesses nacionais, ficando-lhe vedado o retorno ao país de 
onde foi expulso. 
 
c) Deportação: que é o processo de devolução de estrangeiro que aqui chega 
ou permanece irregular, para o país de sua nacionalidade ou de sua 
procedência. 
 
Enquanto que na expulsão, a remoção se dá por prática ocorrida após a 
chegada e a fixação do estrangeiro no território do país, a deportação se origina 
exclusivamente de sua entrada ou estada irregular no país. O deportado poderá 
retornar ao Brasil, desde que atenda às exigências da lei. 
 
 
1.7.1 Vistos de Entrada 
 
 
Visto é um documento concedido pelas embaixadas e consulados brasileiros 
no exterior que autoriza a entrada de estrangeiros no território nacional. O visto 
consular configura mera expectativa de direito, a entrada ou estada do estrangeiro 
no Brasil pode ser vedada pela polícia imigratória. O legislador criou o Conselho 
Nacional de Imigração, vinculado ao Ministério do Trabalho e integrado por 
representantes dos Ministérios do Trabalho, Justiça, Relações exteriores, 
Agricultura, Saúde, Indústria e Comércio e do Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. 
Assim, satisfazendo as condições estabelecidas na lei, obtendo o visto de 
entrada, conforme o caso, não o concedendo aos menores de 18 anos e outros o 
visto não cria direito subjetivo, mas mera expectativa de direito. O menor de 18 anos 
só poderá viajar acompanhado de seu responsável ou com autorização expressa. 
Também não poderá obter o visto o estrangeiro processado ou condenado em outro 
país por crime. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
23 
Igualmente proíbe a legalização do clandestino e do irregular, bem como a 
transformação em permanente dos vistos de trânsito, turista, cortesia e temporário, 
exceto, nos casos do cientista, professor, técnico ou profissional e de ministro de 
confissão religiosa. As regras gerais e principais condições jurídicas do estrangeiro 
no Brasil estão resumidas em lei própria, designada como “Estatuto do estrangeiro”. 
 
 
1.7.2 Tipos de Vistos 
 
 
São vários os tipos de visto de entrada que podem ser concedidos ao 
estrangeiro. No Brasil poderão ser de turista, trânsito, de cortesia, temporário, 
permanente, oficial e diplomático, como verão a seguir: 
 
x Trânsito 
 
Destinam-se aos estrangeiros que passarão pelo Brasil quando em viagem 
entre o país de origem e outro, podendo se ausentar da área de trânsito do 
aeroporto. 
 
x Turista 
 
Destinado à viagem de caráter recreativo ou de visita, sem finalidade 
imigratória. 
 
x Temporário 
 
- Em viagem cultural ou missão de estudo, como por exemplo, pesquisadores, 
conferencistas. 
 
- Em viagens de negócios, ou seja, para aqueles profissionais que venham ao Brasil 
para negócios, sem a intenção de imigrar. 
 
 
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24 
- Artistas e desportistas são os que veem ao Brasil para participar de eventos afins, 
sem vínculo empregatício. 
 
- Estudantes de cursos regulares (fundamental, médio, superior, pós-graduação e 
outros. 
 
- Trabalho, destinado a estrangeiros que venham ao Brasil para exercer suas 
atividades junto a empresas brasileiras. 
 
- Jornalista, para correspondentes de jornais, revistas, televisão, rádio, etc. 
 
- Missão religiosa, aplica-se àqueles que viajam com atribuições de ministro de 
confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada ou de ordem 
religiosa. 
 
x Permanente 
 
Destinado ao estrangeiro que pretenda fixar-se definitivamente no Brasil. 
 
x Cortesia 
 
Concedidoaos empregados domésticos estrangeiros dos chefes de missão 
e de funcionários diplomáticos e consulares e também a autoridades estrangeiras 
em viagem não oficial ao Brasil, e aos dependentes de portadores de visto oficial ou 
diplomático. 
 
x Oficial 
 
Aos funcionários de organismos internacionais em missão oficial e 
funcionários de embaixadas e consulados que possuam status de diplomata, bem 
como aos seus cônjuges e filhos. 
 
 
 
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25 
x Diplomático 
 
Destina-se aos diplomatas e funcionários com status de diplomáticos e aos 
chefes de escritórios de organismos internacionais, os filhos e seus cônjuges. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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26 
 
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em Transformação. São Paulo: Renovar, 2002. 
 
 
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Respostas de Direito Internacional Público e Privado. Rio de Janeiro: Forense, 
2000. 
 
 
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado. São Paulo: Renovar, 1997. 
 
 
LITRENTO, Oliveiros. Curso de Direito Internacional Público. Rio de Janeiro: 
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 AN02FREV001/REV 3.0 
27 
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REUTER, Paul. Direito Internacional Público. Lisboa: Presença, 1981. 
 
 
RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado (teoria e Prática). 2. 
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REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público (Curso Elementar). 8. ed. 
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RODAS, João Grandino. Direito Internacional Brasileiro. São Paulo: Revista dos 
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SEITENFUS, Ricardo. Introdução ao Direito Internacional Público. Porto Alegre: 
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SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de Direito Internacional Público. São 
Paulo: Atlas, 2002. 
 
 
VERDROSS, Alfred. Derecho Internacional Público. Tradução de Antonio truyol y 
Serra. Madrid: Aguillar, 1972. 
 
 
 
 
 
 
---------------------FIM DO CURSO!----------------------- 
 
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2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTES DO DIREITO 
INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO ÚNICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
3 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO ÚNICO 
1 NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
1.1 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL 
1.1.1 Definição de Fontes 
1.1.2 Fontes no Direito Internacional 
1.2 CONVENÇÃO DE VIENA DE 1969 
1. 3 TRATADOS INTERNACIONAIS 
1.3.1 Definição de Tratado 
1.3.2 Elementos Essenciais e Classificação 
1.3.3 Requisitos da Validade 
1.3.4 Celebração dos Tratados 
1.3.5 Incorporação de Tradados no Direito Brasileiro 
1.3.6 Modificação, Extinção, Anulabilidade e Nulidade 
1.4 COSTUME INTERNACIONAL 
1.4.1 Noções Gerais 
1.4.2 Costume internacional 
1.5 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 
1.6 ATOS UNILATERAIS 
1.7 MEIOS AUXILIARES 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
4 
 
MÓDULO ÚNICO 
 
 
1 NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
 
 
1.1 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL 
 
 
1.1.1 Definição de Fontes 
 
 
A palavra fonte etimologicamente está vinculada a fenômenos da natureza, 
indicando a origem ou nascimento de um curso de água. Em Direito, a palavra liga-
se também a ideia de origem ou nascimento. Costuma-se classificar as fontes do 
Direito em materiais e formais. 
As fontes materiais são as responsáveis pela elaboração do Direito. A 
palavra material vem de matéria, substância, essência, razão pela qual é usada para 
indicar aquelas fontes que verdadeiramente têm substância de fonte. Por esse 
motivo, também são chamadas “fontes substanciais ou de produção”. 
As fontes formais, de fonte só têm a forma, nada, porém, de conteúdo. 
Aparentemente, o Direito tem origem nas fontes formais, mas na verdade, elas 
apenas o tornam conhecido, por isso são também chamadas “fontes de 
conhecimento”. As fontes materiais, substanciais ou de produção dividem-se em 
imediatas e mediatas. 
x Imediata: (que está mais próxima) cria as normas jurídicas. Os órgãos 
legiferantes do Estado, ou seja, aqueles que, segundo a ordem constitucional, tem a 
função de legislar, tanto no Poder Legislativo como no Poder Executivo. Assim, o 
Poder Legislativo elabora e faz entrar em vigor as leis. O Poder Executivo e o 
judiciário excepcionalmente legislam. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
5 
x Mediata (mais distante). Fonte material mediata ou remota é a sociedade, 
pois o direito emana do grupo social. 
 
As fontes formais também se dividem em imediata e mediata. 
x Imediata é constituída pela Lei. 
x Mediatas são as fontes subsidiárias (costumes, jurisprudência, doutrina, 
princípios gerais do direito, analogia). 
 
 
1.1.2 Fontes no Direito Internacional 
 
 
Conhecidas as noções elementares do Direito Internacional Público, é 
momento de mostrarmos suas fontes, isto é, conhecer o mecanismo pelo qual se 
opera a criação deste direito. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça fornece 
uma definição, no seu art. 38, das fontes do Direito Internacional. Assim, segundo a 
CIJ de 1945, sediada na cidade de Haia, as fontes são: “as convenções 
internacionais, o costume internacional e os princípios gerais do direito. O Estatuto 
não estabeleceu qualquer hierarquia entre as fontes de Direito Internacional”. 
Portanto, a Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito Internacional 
as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará as fontes acima. A CIJ 
reconhece um elenco de fontes formais, que devem ser aplicadas de maneira 
universal, pois vinculam os Estados-membros da Organização das Nações Unidas. 
A lei é a fonte primária do Direito Internacional privado na maioria dos 
países. E é esta que, se existente, na prática, deve ser consultada em primeiro lugar 
diante de uma relação jurídica de direito privado com conexão internacional. Na 
realidade, houve várias tentativas de submeter a legislação em vigor a uma revisão 
geral, pois estas foram elaboradas em 1945, sendo incompletas para os dias de 
hoje. Por isso, doutrina e jurisprudência apontam o art. 38 como rol exemplificativo e 
não taxativo das fontes de Direito Internacional. 
 
 
 
 
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6 
1.2 CONVENÇÃO DE VIENA DE 1969 
 
 
Entrou em vigor apenas em 1980, quando atingiu o número mínimo de 35 
ratificações, exigida em seu art. 84. Por meio da mensagem nº 116, o Poder 
Executivo brasileiro encaminhou, em 22 de abril de 1992, o texto da Convenção de 
1969 para aprovação do Congresso Nacional; sendo transformado em projeto do 
decreto legislativo nº 214/92. Assim, pendente de aprovação pela Câmara dos 
Deputados do Congresso Nacional brasileiro desde 1992. 
Apesar de não ratificada pelo Estado brasileiro era, em grande parte, 
cumprida por este em suas relações com outros Estados. Após 40 anos sem ser 
assinada, o Presidente da República promulgou a Convenção sobre o Direito dos 
Tratados, celebrada em Viena na data de 23 de maio de 1969. A Convenção sobre 
tratados adotada pelo Brasil entrou em vigor por meio do Decreto 7.030, em 14 de 
dezembro de 2009. 
A Convenção de Viena determinaque as leis internas de um país não 
podem permitir o descumprimento de um tratado internacional do qual ele seja 
signatário. Desse decreto decorrem três importantes efeitos, como veremos a seguir: 
 
I) o tratado internacional é efetivamente promulgado; 
II) seu texto é publicado oficialmente; 
III) sua executoriedade passa a vincular e a obrigar no plano do Direito 
interno. (CONVENÇÃO DE VIENA, 1969). 
 
A Convenção de Viena é muito importante no processo de elaboração dos 
tratados, pois além de positivar normas costumeiras aceitas e eficazes, busca 
harmonizar os procedimentos de elaboração, ratificação, denúncia e extinção 
desses atos jurídicos internacionais. A seguir, iremos analisar as principais fontes do 
Direito Internacional, segundo ao art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de 
Justiça. 
 
 
 
 
 
 
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7 
1.3 TRATADOS INTERNACIONAIS 
 
 
1.3.1 Definição de Tratado 
 
 
Tratado identifica todo e qualquer acordo internacional, independentemente 
de sua formulação. Portanto, pode designar o conteúdo do acordo, bem como o 
instrumento que o formaliza. O tratado internacional é a fonte mais importante do 
Direito Internacional na atualidade. O Estatuto de Haia não estabelece nenhuma 
hierarquia entre as fontes de Direito Internacional, mas reconhece que os tratados, 
os costumes e os princípios gerais do direito são fontes fundamentais e os demais 
meios auxiliares. 
São acordos concluídos entre dois ou mais sujeitos de Direito Internacional, 
ou seja, é todo acordo formal e escrito, celebrado entre Estados ou organizações 
internacionais, que busca produzir efeitos em uma ordem jurídica de Direito 
Internacional. Sendo acordo, pressupõe manifestação de vontade bilateral ou 
multilateral. Assim, os tratados destinam-se a produzir efeitos jurídicos e são regidos 
pelo Direito Internacional. 
Esta percepção se coaduna com a definição prevista pelo art. 2º, I, da 
Convenção de Viena sobre os direitos dos Tratados, de 1969: “um acordo 
internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, 
quer inserido num único instrumento, quer em dois ou mais instrumentos conexos, 
qualquer que seja a sua designação específica”. 
Os tratados internacionais dependem, no Brasil, de promulgação e 
publicação para a sua vigência. A publicação é adotada por todos os países. É 
conduta essencial para o tratado ser aplicado no âmbito interno, pois por intermédio 
dela se leva ao conhecimento de todos a existência desta norma internacional. Para 
que todos os tratados de Direito Internacional passem a ter força de lei é 
indispensável a aprovação do Congresso Nacional. O mesmo procedimento abrange 
emendas e a revisão ou reforma de um tratado em vigor no país. 
O Brasil pode excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do 
tratado mediante uma declaração unilateral, que é a reserva, se o próprio tratado a 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
8 
tolerar. Reserva só é possível em tratados multilaterais ou convenções, podendo ser 
feita por ocasião do término das negociações de um tratado, quando o texto já é 
definitivo e está assinado pelos negociadores, ou, ainda, durante o processo de 
aprovação legislativa. Existem acordos internacionais que, em regra, não estão 
submetidos à aprovação do Congresso Nacional. São os chamados acordos 
executivos. 
Na teoria, dentro da definição de tratado, podem celebrar tratados os 
sujeitos de Direito Internacional, os Estados, organizações, indivíduo e coletividade 
humana. Atualmente, não apenas os Estados celebram tratados internacionais, mas 
também outros sujeitos de Direito Internacional, como as Organizações 
Internacionais. 
Várias expressões designam tratado como, por exemplo: convenção, 
estatuto, carta, declaração, pacto, acordo. Porém, não é a mesma coisa, pois cada 
qual com suas particularidades. Historicamente, convenção era destinada aos 
tratados multilaterais. Protocolo era um documento escrito, mas sem o caráter 
obrigatório do tratado. A declaração era um substitutivo de uma convenção, sem ter 
caráter obrigatório: uma declaração de princípios. Assim, declaração e protocolo não 
são considerados documentos em que se tem vontade efetiva de se assumir um 
compromisso, mas sim, cumpri-lo. 
O tratado é um acordo que gera a obrigação, o direito, a vontade efetiva de 
se assumir um compromisso. Para resolver essas polêmicas de terminologias foi 
elaborada a Convenção de Viena em 1969. Por exemplo, MERCOSUL, tratado de 
Assunção, Protocolo de Ouro Preto e etc. São documentos sem qualquer distinção 
entre si. 
 
 
1.3.2 Elementos Essenciais e Classificação 
 
 
Conforme a definição trazida pela Convenção de 69, um tratado deve conter 
os seguintes elementos essenciais: acordo internacional; celebração por escrito 
(acordo formal); capacidade para concluir tratados entre Estados e também entre 
organizações internacionais e Santa Sé; tem que ser regido pelo Direito 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
9 
Internacional; celebrado em instrumento único ou em dois ou mais instrumentos 
conexos, pois além do texto principal podem existir outros instrumentos que o 
acompanham, como protocolos, adicionais, anexos e ausência de denominação 
específica, pois várias expressões designam tratado como, por exemplo, convenção, 
estatuto, declaração, acordo. 
A Santa Sé é equiparada aos Estados. É a cúpula governativa da Igreja 
Católica, instalada na cidade de Roma. Apesar de não se identificar com os Estados 
comuns, possui, por legado histórico, personalidade jurídica de Direito Internacional. 
São utilizados alguns elementos para a classificação dos tratados. 
 
x A qualidade das partes – em que os signatários podem ser Estados e 
organizações internacionais. 
x O número de partes – em que os tratados podem ser bilaterais (duas partes) 
ou multilaterais (três ou mais). 
 
Os tratados multilaterais podem ser fechados ou abertos. Os primeiros não 
contemplam cláusula permitindo a participação de outros Estados além dos 
signatários. Os abertos, ao contrário, permitem a adesão, sob condições, de novas 
partes contratantes. Assim, o tratado aberto tem cláusula de adesão, ou seja, admite 
adesão posterior à sua entrada em vigor. O tratado fechado não permite adesão 
posterior, ou seja, não possui cláusula de adesão. 
 
x O procedimento adotado – em que os tratados podem ser concluídos por 
forma simplificada ou exigir um procedimento solene de conclusão. O rito 
enseja diferenças no que atine à obtenção do consentimento das partes, ou 
seja, a forma de internalização do tratado na ordem jurídica nacional das 
partes. 
 
O tratado é ato de vontade, livre consentimento, pois não pode sofrer 
nenhum vício, erro, dolo, corrupção ou coação. Será celebrado por escrito (acordo 
formal). Essa formalidade o distingue do costume. A diferença procedimental entre 
os dois tipos, por si só, não faz do acordo de forma simplificada um ato jurídico de 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
10 
menor relevância, desfrutando este do mesmo valor jurídico do tratado de rito 
complexo. 
Vários motivos levam o executivo a sustentar a adoção de acordos de forma 
simplificada: amplo leque de objetos dos acordos internacionais, seu caráter técnico, 
a rapidez na consecução, os ajustes complementares de tratado firmado 
anteriormente, a necessidade de conservar um grau de sigilo e a multiplicação do 
fenômeno contratual. 
Sendo assim, podemos chamar de tratados bifásicos (procedimento 
complexo) àqueles que dependem de duas fases de expressão do consentimento no 
plano internacional, que seria a assinatura e a ratificação. E temos também os 
tratados unifásicos (procedimento simples, em forma simplificada, acordos 
executivos), ou seja, apenas uma fase de consentimento no plano internacional, que 
seria a assinatura = ratificação, independe da aprovação congressual. Apesar das 
críticas de grande parte da doutrina a esse tipode tratado, são eles às vezes 
utilizados na prática diplomática brasileira. 
 
 
1.3.3 Requisitos da Validade 
 
 
Genericamente, válido é o que é feito com todos os seus elementos 
essenciais. Por sua vez, entende-se por elementos essenciais os requisitos que 
constituem a própria substância da coisa, sem os quais ela não existiria. Assim, 
suponhamos, um contrato no qual uma das partes é incapaz não é válido, pois lhe 
falta um dos elementos essenciais, qual seja: a capacidade da parte. 
Em direito, para que um ato ou negócio seja considerado válido terá que 
revestir-se de todos os seus elementos essenciais, pois faltando um deles o negócio 
será inválido, nulo, não obtendo êxito. Diante disso, a validade decorre do ato haver 
sido executado com a satisfação de todas as exigências legais. 
Assim, uma norma é considerada eficaz quando é respeitada por seus 
destinatários ou quando a sua violação é efetivamente punida pelo Estado. Exemplo: 
se todos os motoristas que ultrapassem o limite de velocidade nas estradas 
brasileiras forem efetivamente punidos, então é possível afirmar que as normas em 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
11 
questão são plenamente eficazes. O mesmo aconteceria se todos os motoristas 
respeitassem estas normas, não ultrapassando os limites de velocidade. 
 
São pré-requisitos para a validade de um contrato: 
 
x Capacidade Civil - é aquela matéria que classifica a capacidade que as 
pessoas têm perante o direito de acordo com sua idade natural. 
 
x Objeto lícito e possível – o objeto do contrato deve ser possível de ser feito e 
seu objeto não pode ser contra a lei, como o trabalho de matador de aluguel, 
ou ainda, contar as estrelas do céu. 
 
x Consentimento livre e consciente – O consentimento deve ser dado de forma 
livre e consciente para o contrato ter validade, nada de linhas pontilhadas, 
contratos desconhecidos, ou assinar o contrato bêbado ou forçosamente. 
 
x Forma não defesa ou prescrita em lei – No caso, é sobre a forma que o 
contrato é realizado, por exemplo, nos contratos de vendas de bens imóveis é 
obrigatoriedade que eles sejam realizados por meio de escritura lavrada em 
cartório, no contrato da compra e venda de um chiclete apenas o direito não 
estabelece qualquer tipo de forma obrigatória, podendo ser realizado 
verbalmente. 
 
Em relação a um contrato internacional, para que seja válido é necessário 
que as partes que o ratificaram sejam capazes, que o consentimento tenha se 
manifestado de forma regular e que o objeto do tratado seja lícito. Então, a 
capacidade de celebrar tratados vincula-se à existência da qualidade de sujeito do 
direito do Direito Internacional. 
 
Três são os seus sujeitos: 
 
x Todo Estado tem capacidade para concluir tratados (art. 6º da Convenção de 
Viena) sem limitação de domínio. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
12 
x No caso dos Estados federados, as unidades de federação podem ser 
capazes caso a Constituição assim o decida, o que é raro no cenário mundial. 
Em qualquer circunstância, os tratados ratificados pelo poder central lhes são 
imputáveis. 
x Já as Organizações Internacionais possuem uma capacidade parcial que é 
decorrente de seu tratado constitutivo. 
 
Importante destacar que para que seja válido o tratado ainda é preciso que 
seu objeto seja lícito. Não servindo como parâmetro a definição interna de licitude, a 
referência deve ser buscada no conceito de ordem pública internacional. O tratado 
será inválido caso seus dispositivos confrontem-se com as normas imperativas, 
como as liberdades individuais. Por exemplo, direito à vida, liberdade de circulação, 
de comércio e de estabelecimento. 
Sendo assim, precisa haver capacidade das partes (estados e OIs), agentes 
legalmente habilitados para celebrá-los. Sendo habilitados, têm plenos poderes, ou 
seja, competência negocial, mútuo consentimento, objeto lícito e possível. 
 
 
1.3.4 Celebração dos Tratados 
 
 
O estudo da processualística de celebração de tratados tem início com a 
análise de seu processo de formação, conclusão e entrada em vigor no âmbito 
internacional, de acordo com a Convenção de Viena sobre direito dos tratados. Para 
a existência de um tratado é preciso alguns termos como aceitação, aprovação, 
assinatura, ratificação, adesão, reserva e denúncia. 
 
x Aceitação e aprovação 
 
São formas positivas de manifestação. Em geral, aprovação indica que o 
tratado resultou de uma deliberação ou votação, pois quando se diz que um tratado 
foi aprovado, conclui-se que ele foi deliberado ou votado. 
 
 
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13 
x Assinatura 
 
A simples assinatura do representante do Estado considera que um tratado 
foi aprovado e, consequentemente, adotado. 
 
 
x Ratificação 
 
É a confirmação da vontade do Estado em obrigar-se internacionalmente, 
consentimento definitivo, vínculo jurídico, ou seja, confirma a assinatura. Se não 
obtiver a ratificação, poderá ocorrer um problema, por exemplo, o Brasil se 
comprometeu a não emitir poluentes no ar a partir de 2005. Para que isso seja 
possível, há que se adotarem medidas legais, ou seja, aprovação de leis que 
estabeleçam proibição da emissão de poluentes, aplicação de multas e que deem 
incentivos às empresas para que utilizem determinado produto e deixem de usar 
outros. 
Portanto, para fugir de problemas o país precisa adotar uma série de 
medidas internas para dar implementação ao tratado. Se o Congresso não ratificar, 
nem inserir essa norma no plano interno e sequer estabelecer medidas para sua 
complementação, o Executivo, que se comprometeu com um acordo, não poderá 
cumpri-lo, pois no Direito, se não cumprir o acordo, pode gerar responsabilidades; 
facultando aos outros Estados exigir sanções contra esse Estado. 
 
x Adesão 
 
Indica manifestação de vontade posterior à celebração. Acontece quando 
três Estados discutem e elaboram um tratado. Posteriormente, um quarto Estado 
pretende fazer parte desse tratado, o que se dará por meio da adesão, que é a 
manifestação da vontade em período posterior à celebração, à manifestação 
original, por exemplo, a UNIÃO EUROPEIA, ONU, MERCOSUL etc. 
 
x Reservas 
 
 
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14 
São atos unilaterais estatais, pelos quais os estados se eximem de cumprir 
uma determinada cláusula. É como se a cláusula reservada não existisse. Admitidas 
em qualquer momento antes da troca ou depósito dos instrumentos de ratificação e 
apenas se o tratado permitir. É a manifestação da vontade parcial, uma vez que o 
Estado não se obriga a todas as disposições, mas apenas por uma parte delas, 
como, por exemplo, em um tratado que contivesse 20 regras, um Estado se 
dispusesse a aceitar e cumprir apenas 19 delas. 
A reserva pode ser aposta pelo Poder Legislativo (fase interna), nesse caso, 
o Poder Executivo está atrelado à delimitação do Legislativo. 
Havendo dúvida de aplicação de reserva haverá uma regra geral que dirá: a reserva 
não pode atingir o objeto e a finalidade do tratado, de acordo com a Convenção de 
Viena; necessitando haver obrigação de compatibilidade da reserva com o objeto e a 
finalidade do tratado. 
 
x Denúncia 
 
É a forma pela qual a parte manifesta vontade com o fim de obter a extinção 
dos efeitos do tratado sobre a parte requerente. Em caso de tratado bilateral, 
extingue o acordo. Em caso de tratado multilateral, o pactuado deixa de surtir efeito 
para o Estado que o denunciou, continuando vigente para as demais partes. É forma 
de cessação dos efeitos jurídicos de um tratado. É arbitrário porque é uma decisão 
de vontade. De forma geral, está prevista a possibilidade (ou não) no tratado, sendo 
esse tratado omisso, conforme o art. 56 da Convenção de Viena de 1969. 
Uma saída para um país que não pode cumprir um acordo é a denúncia, já 
que não se trata de nulidade. A denúncia não acarreta sanção e deve ser expressa. 
Analisamos acima a fase interna do tratado, que necessitade negociações, 
assinatura (aprovação parlamentar, ratificação, promulgação e publicação). 
Passemos à análise das fases internacionais de celebração de tratados, levadas a 
cabo pelo Poder Executivo dos estados, as quais se desdobram nas negociações 
preliminares, na assinatura e na ratificação. 
Nas negociações, a competência, em geral, é do Presidente da República ou 
do Ministro das Relações exteriores. Varia de país para país. No Brasil, as 
negociações são acompanhadas por funcionário diplomático, o texto final deve ser 
 
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15 
aprovado pela Consultoria jurídica do Itamaraty (aspecto jurídico) e pela Divisão de 
Atos Internacionais (aspecto processual). O término do texto fica com as partes que 
o compõem. A assinatura dá apenas a autenticidade ao tratado. Autenticidade essa 
que exterioriza interesse em participar do tratado, ou seja, sinaliza um futuro e 
eventual engajamento definitivo daquela parte. 
Antigamente, bastava a assinatura para tornar um tratado obrigatório. Com a 
democracia, o tratado passou a ser aprovado pelo poder Legislativo, pois houve a 
separação dos poderes. Hoje, a assinatura é quase sempre um referendum, 
necessitando do aval definitivo posterior do Estado, que se expressa pela ratificação. 
Assim, dentro da lógica democrática, do princípio da separação dos poderes e da 
teoria dos atos complexos, prevalece hoje a tese de que os tratados internacionais 
devem, antes de serem ratificados, passar pelo crivo do Congresso Nacional, que 
deverá autorizar ou não a ratificação do tratado. 
Na história das relações internacionais, o momento do consenso das partes 
passou da assinatura para a troca ou depósito dos instrumentos de ratificação, 
sendo o momento mais importante da processualística de celebração dos atos 
internacionais. A menos que o tratado dispunha de outra forma, a ratificação não 
tem efeitos retroativos. A ratificação é um ato discricionário, mas uma vez levada a 
efeito é irretratável. O Governo não pode voltar atrás para se desvincular da 
denúncia no depósito ou troca de instrumentos de ratificação. A troca são os 
tratados bilaterais. O depósito são os tratados multilaterais. 
Quanto ao depositário, pode ser: um funcionário (depositário-funcionário), 
por exemplo, secretário-geral de uma Organização Internacional, uma organização 
(depositário-organização) ou um estado (depositário-Estado). O depositário do 
tratado guarda o texto original do tratado e recebe os instrumentos de ratificação, 
comunica às demais partes do tratado sobre novas ratificações e sobre eventuais 
reservas apresentadas. 
Assim, o tratado é um ato solene, com formalidades rigorosamente distintas 
e sucessivas, ou seja, atos jurídicos que vão se encadeando e se entrelaçando 
desde a sua celebração até sua entrada em vigor, passando pela fase de 
negociações preliminares e assinatura; com a aprovação parlamentar (referendum) 
por parte de cada Estado interessado em se tornar integrante do tratado, finalizando 
com a ratificação ou a adesão do texto convencional, concluída com a troca ou 
 
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16 
depósito dos instrumentos que a consubstanciam. E, finalmente, com a promulgação 
e publicação do texto convencional no Diário Oficial do Estado. 
Esta última fase é apenas complementar às demais e visa dar aplicabilidade 
interna ao compromisso internacional firmado. Aqui o juiz já pode decidir conforme o 
tratado, pois já teremos aplicabilidade interna. As fases de conclusão dos tratados 
são divididas em internas e internacionais. Essa conjugação de fases faz nascer um 
procedimento complexo, ou seja, dá um viés mais democrático ao processo de 
celebração de tratados; sendo essa conjugação de vontades do Poder Executivo e 
do Poder legislativo. 
A convenção de Viena de 1969 não cuida das fases internas de celebração 
de tratados, parte deixada ao Direito Constitucional. 
 
 
1.3.5 Incorporação de Tradados no Direito Brasileiro 
 
 
Até a década de 70, a jurisprudência brasileira consagrava o monismo 
internacionalista como primazia do Direito Internacional. Depois, a decisão do STF 
passou a adotar o dualismo, permitindo que um tratado fosse incorporado com 
status de lei interna, valendo o critério cronológico. Os dualistas sustentam a 
autonomia das duas ordens jurídicas: a interna e a internacional. São 
independentes, autônomas, separadas. 
A teoria da incorporação dizia que para valer no plano interno o tratado deve 
ser incorporado com lei interna, podendo ser revogado por uma posterior conflitante. 
A Constituição de 1988, em seu art. 84, inciso VIII, diz que compete privativamente 
ao Presidente da República “celebrar tratados, convenções e atos internacionais, 
sujeitos a referendo do Congresso Nacional”. 
O exame da Constituição vigente permite constatar que a execução dos 
tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no 
sistema adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da 
conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, 
definitivamente, mediante decreto legislativo sobre tratados, acordos ou atos 
internacionais, conforme o art. 49, inciso I, que diz que é da competência exclusiva 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
17 
do Congresso Nacional “I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos 
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio 
nacional”. 
E, ainda, do Presidente da República que, além de poder celebrar esses 
atos de Direito Internacional, dispõe, enquanto chefe do Estado, da competência 
para promulgá-los mediante decreto. O item procedimental de incorporação dos 
tratados internacionais, superadas as fases prévias de celebração da Convenção 
internacional, de sua aprovação congressional e da ratificação pelo chefe de Estado, 
conclui-se com a expedição, pelo Presidente da República, de decreto, de cuja 
edição derivam três efeitos básicos que lhes são inerentes: a promulgação do 
tratado internacional; a publicação oficial de seu texto; e a executoriedade do ato 
internacional, que passa, então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo 
interno. 
No sistema jurídico brasileiro os tratados ou convenções internacionais estão 
hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da 
República. Em consequência, nenhum valor jurídico terá os tratados internacionais, 
que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou 
materialmente, o texto da carta política. 
 
 
1.3.6 Modificação, Extinção, Anulabilidade e Nulidade 
 
 
Um tratado permanece inalterado e em plena vigência até respeitar o 
momento em que uma causa, reconhecida pelo Direito Internacional, provoque sua 
modificação ou extinção. O tratado é o reflexo jurídico das condições que as partes 
aceitaram respeitar em suas relações recíprocas. Em face de condições novas ou 
diferentes deve-se admitir que as partes possam, igualmente, introduzir mudanças 
no texto contratual. 
A própria Convenção de Viena, em seu art. 39, reconhece este direito às 
partes para que possam emendar o tratado de comum acordo. Essas modificações 
são denominadas de cláusulas de revisão. As modificações nos tratados bilaterais 
mostram-se geralmente simples, pois o respeito ao princípio do consentimento exige 
 
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18 
que ambas as partes concordem com a emenda. Situação distinta encontra-se nos 
tratados multilaterais, caracterizados pela universalidade. 
A Convenção de Viena, em seu art. 40, estipulou um procedimento de 
modificações, restringindo o bloqueio de atualização dos tratados pelos Estados, 
objetivando, assim, resguardar os direitos das partes que não desejam emendar o 
tratado. Vimos que, para ser válido, o tratado deve ser pautado no livre 
consentimento. Dessa forma, são anuláveis os tratados cujo consentimento foi 
viciado por erro, dolo ou corrupçãode representantes de um Estado, conforme os 
arts, 48,49 e 50 da Convenção de Viena. 
A nulidade ocorre se houver coação sobre o representante de um Estado, 
sobre o próprio Estado ou se conflitar com a norma imperativa de Direito 
Internacional geral. Os tratados se extinguem por vários meios, podendo também ter 
seus efeitos suspensos entre as partes, como por exemplo: rompimento de relações 
diplomáticas e consulares, por extinção em virtude de tratado posterior, ab-rogação, 
estado de guerra, descumprimento do tratado por uma das partes, etc. Sendo assim, 
considera-se o término do tratado. 
 
 
1.4 COSTUME INTERNACIONAL 
 
 
1.4.1 Noções Gerais 
 
 
Nas sociedades modernas o costume cedeu lugar à lei e ocupa posição 
secundária entre as fontes do Direito, ou seja, nas sociedades modernas o costume 
pode ter uma função supletiva, quando invocado para suprir a lei, e interpretativa, 
quando invocado para aclarar a lei. Não possui mais força revocatória da lei: entre o 
costume e a lei escrita prevalece esta. 
O costume é representado por uma série de atos semelhantes, uniformes e 
constantemente repetidos. Assim, para haver costume é preciso uniformidade na 
série de atos, não bastando a repetição de atos diferentes; que essa repetição seja 
constante, ininterrupta, praticada com regularidade e certa duração, não sendo 
 
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19 
suficiente a repetição eventual; que a prática constante e uniforme seja também 
geral, isto é, praticada pela generalidade do grupo e não apenas por alguns dos 
seus membros. Existem três tipos de costumes: 
 
Secundum legem - É o costume que serviu de apoio ao ditame legislativo 
regular, ou surgiu como complemento deste. O costume deve ser observado e até 
exigido, porque encontra respaldo na própria lei. Exemplo dessa espécie de costume 
é a chamada praxe forense: muitos atos praticados diariamente no foro não são 
expressamente regulamentados, realizam-se de acordo com costumes que servem 
de complemento à lei. 
Praeter legem - É o costume que funciona como fonte supletiva, na qual a lei 
nada dispôs. 
Contra legem - É o costume que se opõe à lei, introduz uma nova norma 
contrária às disposições legislativas ou faz os preceitos legais vigentes não serem 
aplicados, caindo em desuso. 
 
 
1.4.2 Costume internacional 
 
 
O costume internacional é uma prática geral aceita como sendo o direito. 
Possui elemento material e subjetivo. O elemento material é a própria prática, ou 
seja, a repetição, ao longo do tempo, de um determinado modo de proceder, atuar, 
diante de um determinado fato. Traduz-se pela repetição de atos, comportamentos e 
opiniões, na administração de suas relações externas ou da organização interna, 
pelos sujeitos de Direito Internacional. 
A afirmação material de um costume provém de sua prática constante e 
efetivamente cumprida. Trata-se da uniformidade e da concordância dos atos 
emanados dos sujeitos de Direito Internacional. O segundo elemento, de caráter 
subjetivo, é a convicção de que essa forma de agir é a mais justa e necessária 
(opinio júris). Manifesta-se pela existência, livremente consentida, ou seja, a 
convicção do direito ou da necessidade. Sua obrigatoriedade a distingue das regras 
de cortesia internacional. 
 
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20 
1.5 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 
 
 
Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas 
(expressão que representa a sociedade dos Estados, em seu conjunto) são as 
proposições jurídicas gerais, por exemplo, convicções jurídicas generalizadas 
(provenientes de todos os ramos do direito, como civil, penal, processual, 
constitucional). 
Esses princípios gerais são aceitos por todas as nações, todos os 
ordenamentos jurídicos, como a boa-fé, direito adquirido, coisa julgada, não 
agressão, solução pacífica dos litígios, autodeterminação dos povos, desarmamento, 
proibição de propaganda de guerra, igualdade entre os Estados. O artigo 38 do 
Estatuto da CIJ aponta os princípios gerais do direito, reconhecidos pelas nações 
civilizadas como fonte autônoma e primária do Direito Internacional. 
O CIJ deixou evidente que estes princípios devem ser considerados como 
elemento subsidiário, além dos tratados e do costume, para inspiração do juiz 
internacional. A principal característica da principiologia é a sua estabilidade, na 
medida em que se trata de valores já existentes, reconhecidos e respeitados pelos 
principais sistemas jurídicos mundiais. 
Tem um papel supletivo no Direito Internacional, cuja finalidade é preencher 
eventuais lacunas do Direito Internacional, evitando a possibilidade de um não 
julgamento por parte do Direito Internacional, ou seja, introduz a noção de equidade, 
que pode corrigir o direito positivo (infra legem) ou suprir suas lacunas (praeter 
legem), mas jamais afastar o direito positivo (contra legem). O Direito Internacional 
moderno depende cada vez menos desta fonte de Direito Internacional, pois a 
maioria dos princípios gerais do direito já se encontra fixado no direito 
consuetudinário ou no direito dos tratados. 
 
 
 
 
 
 
 
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21 
1.6 ATOS UNILATERAIS 
 
 
Trata-se da manifestação de vontade de um sujeito internacional, seja o 
Estado ou organização internacional, expressa por escrito, o que configura a maioria 
dos casos, oralmente ou pelo silêncio. São manifestações que não possuem vínculo 
com um tratado ou com o costume. Materialmente, os atos unilaterais dos Estados 
são assim classificados: 
 
x Silêncio – assimilado à aceitação. É um ato unilateral tácito. 
 
x Notificação - trata-se de um ato condição na medida em que dele depende a 
validade de outros atos. Ou seja, é um ato pelo qual um Estado leva ao 
conhecimento de outro um fato determinado, que pode produzir efeitos 
jurídicos. 
 
x Reconhecimento – É o principal ato unilateral, pois constata a existência de 
certos fatos ou de atos jurídicos, e admite sua imputabilidade. Assim, o 
reconhecimento é um ato unilateral por meio do qual um sujeito de Direito 
Internacional, sobretudo, o Estado, constatando a existência de um fato novo. 
 
x Protesto – É o contrário do reconhecimento, pois por intermédio dele o Estado 
pretende resguardar seus próprios direitos, em face de pretensões de outro 
Estado, ou perante a criação de uma norma jurídica. Não se trata de uma 
sanção, mas de uma manifestação real de vontade. Seu elemento essencial é 
a permanência de atitude. 
 
x Renúncia – a renúncia deve ser expressa e significa o abandono voluntário de 
um direito, por parte de um sujeito de Direito Internacional. 
 
Contestada por parte da doutrina, a denúncia constitui-se um ato unilateral 
quando é feita por represália, ou quando atua como uma via de fato consumado. O 
 
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22 
não exercício de um direito por um Estado não deve ser assimilado à renúncia deste 
direito. 
 
x Promessa - faz surgir novos direitos em benefício de terceiros. Ao contrário 
dos atos unilaterais precedentes, que referiam fatos e atos já existentes, a 
promessa vincula-se à atitude futura do Estado. Por esta razão, ela é pouco 
utilizada. Todavia, quando o é, ela compromete o sujeito de direito, como se 
ele tivesse se envolvido pelo acordo. Deve ser executada de boa-fé e pode 
ocasionar sanções em caso de violação. 
 
Os atos unilaterais produzidos pelas organizações internacionais são 
numerosos e de difícil classificação. A distinção mais adequada são as resoluções. 
Pode ter um caráter impositivo ou facultativo. As resoluções de caráter obrigatório 
são denominadas decisões. As resoluções de caráter facultativo são denominadas 
recomendações. Elas somente convidam o destinatário a adotar um comportamento 
determinado, de ação ou de omissão, não possuem força jurídica e seus 
destinatários não cometem ilícito, caso não as observem. Sua obrigatoriedade surge 
somente quando o destinatário a aceitou

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