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Curso Teórico de Manejo do Aleitamento Materno Conteudistas Amanda Souza Moura Ariane Tiago Bernardo de Matos Elsa Regina Justo Giugliani Lilian Cordova do Nascimento Renara Guedes Araújo Unidade 4 PROMOVENDO, PROTEGENDO E APOIANDO A AMAMENTAÇÃO NA MATERNIDADE UNIDADE 4 PROMOVENDO, PROTEGENDO E APOIANDO A AMAMENTAÇÃO NA MATERNIDADE Esta unidade dispõe de informações e práticas favoráveis e desfavoráveis durante a amamentação, desmistificando crenças e atitudes que podem prejudicar esse ato e ajudando a diagnosticar situações em que o bebê ou a mãe apresente dificuldades durante esse processo. Embasa-se no preparo do profissional, instruindo-o adequadamente para tranquilizar as nutrizes quanto à importância do aleitamento materno, evitando que a mãe decida oferecer alimentos suplementares desnecessários, bem como fazê-la compreender a introdução desses, quando isso for indispensável (situações em que o bebê, temporariamente ou definitivamente, não pode ser amamentado). Além disso, pretende ajudar o profissional a preparar a família para a alta da maternidade. Dessa forma, o ambiente familiar deve oferecer os cuidados necessários para a mãe e para o bebê. OBJETIVOS Oferecer orientações e aconselhamentos para o sucesso da amamentação, fortalecendo a segurança da mãe e garantindo bons resultados no crescimento e desenvolvimento do bebê, contínuo à alta da maternidade. 42 AULA 1 - CONHECIMENTOS BÁSICOS SOBRE A AMAMENTAÇÃO Esta aula contém informações básicas sobre a amamentação. Todo o profissional de saúde que assiste mães, bebês e suas famílias devem dominar esse conteúdo. Continuamos a acompanhar a história do casal Juliane e Fernando, e de sua filha Alice. Juliana e Alice estão em alojamento conjunto. Fernando foi escolhido por Juliana para ser o seu acompanhante. Juliana foi orientada a amamentar Alice em livre demanda, ou seja, sempre que ela solicitar, e que deveria ficar atenta aos sinais de que ela quer mamar, como fazer movimentos com a boca e as mãos, balbuciar e sugar a mão. Juliana não precisa esperar Alice chorar para dar de mamar, lembrando que o choro nem sempre é sinal de fome. Na primeira oportunidade, um membro da equipe foi até o leito de Juliana para um diálogo com ela e Fernando sobre aleitamento materno e fazer a observação da mamada. Juliana primeiramente externou a sua preocupação com o fato de que as suas mamas estavam “vazias”. Não se preocupe. O seu leite ainda não desceu. A descida do leite costuma ocorrer após 3 a 5 dias do parto. Você vai sentir. As mamas costumam ficar mornas, cheias e pesadas. Isso é normal. Mas as suas mamas não estão vazias. Você já está produzindo o colostro, um leite especial para os primeiros dias de um recém-nascido. Ele tem muito anticorpos que vão proteger Alice contra infecções, ajudando também no desenvolvimento das bactérias boas do intestino da criança. Ele é perfeito como primeiro alimento: tem mais proteínas e vitamina A e serve como laxante para eliminar o mecônio (as primeiras fezes escuras e pegajosas do bebê), ajudando a prevenir a icterícia (amarelão). Ele é produzido em pequenas quantidades, por isso você tem a sensação de que a sua mama está vazia. Nos primeiros dias de vida do bebê, o seu estômago é bem pequenininho, não sendo necessária grande quantidade de leite nesse momento. O profissional de saúde, então, explica para Juliana: 43 Atenção! Não é necessário o profissional apertar o seio da mãe para verificar se ela está produzindo colostro. Atenção Juliana ficou bem mais tranquila com o comentário do profissional. Mas continuava preocupada porque ela achava que Alice demorava muito para mamar. Então, Juliana tirou suas dúvidas com o profissional de saúde. O que você acha que o profissional respondeu? QUAL O TEMPO QUE UMA CRIANÇA DEVE MAMAR EM CADA PEITO EM UMA MAMADA? O tempo que um bebê fica no peito varia de criança para criança e pode inclusive variar na mesma criança, dependendo da fome e do “humor” na hora de mamar e do intervalo entre as mamadas. O importante é que você respeite o ritmo da Alice e dê a ela o tempo necessário para que ela retire bastante leite de uma mama antes de passar para a outra. Deixe Alice mamar até ficar satisfeita, ou seja, até que pare de sugar ou adormeça. Uma outra dica é começar a mamada pela mama oferecida por último ou que não tenha sido oferecida na mamada anterior. Qual a melhor posição para amamentar? Não existe uma “melhor” posição para amamentar. Você e Alice é que vão decidir. Você pode amamentar sentada, recostada, deitada ou em qualquer outra posição que lhe seja agradável, confortável, familiar e a mais adequada, na sua avaliação, para o momento. Lembrando que a amamentação não deve provocar dor. Caso isso esteja acontecendo, é importante observar a mamada para identificar qual o motivo da dor. Pode ser necessário corrigir a posição e a pega do bebê no peito. 44 O profissional mostrou à Juliana e Fernando as fotos de algumas posi- ções contidas em um álbum. Veja a seguir: Figura 1 - Posição Tradicional. Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde. Figura 2 - Posição Jogador de Futebol Americano. Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde. 45 Figura 3 - Posição Cavalinho. Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde. Figura 4 - Laid-Back Position. Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde. 46 Laid-back breastfeeding é um jeito de amamentar mais des- contraído. A expressão inglesa laidback significa, na língua portuguesa, devagar, relaxado, calmo, sem pressa. Em uma tradução literal, laid-back breastfeeding seria amamentação descontraída, tranquila. Ela vem sendo proposta com o objetivo de reduzir dificuldades do bebê em pegar a mama, sobretudo no início do aleitamento materno, além de ser muito prazerosa para algumas mulheres e bebês. Esse jeito de amamentar, na realidade, é um conjunto de posições que facilita a liberação de comportamentos ins- tintivos na mãe e na criança, favorecendo a amamentação. No laid-back breastfeeding a mãe assume uma posição reclinada, relaxada, com ombros, cabeça e pescoço bem apoiados; o bebê fica em cima da mãe, em posição longitudinal ou oblíqua, não havendo necessidade de apoiá-lo, mantendo-se fixado à mãe pela força da gravidade e livre da pressão das costas (essa pressão pode ser desconfortável para alguns bebês). As mãos da mãe podem ficar livres. Nessa posição, os bebês são mais autônomos. Por exemplo, essa posição promove a locomoção do bebê, ao mantê-lo incli- nado, com o corpo voltado para a mãe e firmemente aderido ao corpo dela e suas curvas, sem a pressão comumente exercida nas costas. Ele rasteja, acomoda-se e frequentemente pega sozinho a mama utilizando os seus reflexos inatos, inclusive os reflexos antigravidade que auxiliam a pega. Ou seja, o bebê nasce “equipado” para ter um comportamento mais ativo na amamentação, se lhe derem chance. Outra vantagem é a maior interação entre mãe e bebê, sobretudo se houver contato pele a pele, e maior foco da mãe no bebê. Algumas mães relatam que essa posição estabelece uma relação melhor, mais rápida com os seus bebês e lhe dão mais autoconfiança. Você sabia? Juliana ouviu falar numa posição diferente para amamentar, que tem o nome em inglês. A profissional perguntou se seria a laid- back breastfeeding. Juliana disse que sim e quis saber mais sobre esta posição. O que você diria à Juliana? 47 Retomando nosso caso de estudo, Fernando, meio sem graça, perguntou se, pelo fato de Juliana ter seios pequenos, ela teria leite suficiente para alimentar Alice. O profissional respondeu que a quantidade de leite produzida por uma mulher não depende do tamanho das mamas; que o leite é produzido pelas glândulas mamárias e não pela gordura acumulada nas mamas, que é o que determina o seu tamanho. E passou a explicar o que é mais importante para a produção do leite. Juliana comentou que sua mãe, Dona Helena, não conseguiuamamentá-la exclusivamente porque o seu leite era fraco, ralinho. Ela pergunta se essa característica pode ser transmitida de mãe para filha. Após pedir para Juliana falar mais sobre “leite fraco”, o profissional fez alguns comentários. Você sabe o que é mais importante para a mulher ter bastante leite? Vamos testar seus conhecimentos? Acesse a plataforma AVASUS e res- ponda à questão marcando a resposta que você acha ser a mais correta. TESTE A pergunta de Juliana é bastante pertinente. Na verdade, caro alu- no, todo leite materno é de boa qualidade. A natureza garante que as mulheres, sejam elas magras, gordas, negras, pardas, brancas, pobres ou ricas, produzam leite com calorias, nutrientes e água em quantidades adequadas, ou seja, as proteínas, gorduras, vitaminas e todo o resto de que a criança necessita. VÍDEO 5: Laid-back position Para uma compreensão ainda maior, assista o vídeo 5 na plataforma. Nele será retratado uma mãe praticando a Laid-Back Position. Vamos lá? 48 É comum as mulheres acharem que o seu leite é fraco por causa da cor. Por isso, é importante saber que todo leite materno é adequado para a criança, independente do seu aspecto, e que a sua cor e a sua composi- ção podem variar dependendo da dieta da mãe e, também, do momento de uma mamada. Em uma mamada, o leite que sai primeiro pode pare- cer “ralo” ou “fraco”, mas esse leite é muito rico em anticorpos para pro- teger a criança de infecções, além de água e sais minerais. Depois de a criança mamar por algum tempo, o leite pode ficar mais esbranquiçado e, mais para o final da mamada, mais amarelado. Isso porque esse leite, chamado de “leite posterior” contém mais gorduras. Por isso, é impor- tante que a mãe deixe a criança mamar bastante em uma mama antes de oferecer a outra, para que o bebê possa se beneficiar de tudo que o leite materno tem para oferecer. O leite materno pode variar também de sabor de acordo com a alimen- tação da mulher. Por meio do leite materno o bebê entra em contato desde cedo com sabores dos alimentos ingeridos por sua mãe e família, o que influencia positivamente as reações da criança quando ela come- çar a recebê-los de fato, a partir dos 6 meses de idade. A COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO Nos primeiros dias, o leite materno é chamado colostro, que contém mais proteínas e menos gorduras do que o leite maduro, ou seja, o leite secretado a partir do sétimo ao décimo dia pós-parto. O leite de mães de recém-nascidos prematuros é diferente do de mães de bebês a termo. Veja na Tabela 2 as diferenças entre colostro e leite maduro, entre o leite de mães de prematuros e de bebês a termo e entre o leite materno e o leite de vaca. Esse tem muito mais proteínas que o leite humano e essas proteínas são diferentes das do leite materno. A principal proteína do leite materno é a lactoalbumina e a do leite de vaca é a caseína, de difícil digestão para a espécie humana. Tabela 1 - Composição do colostro e do leite materno maduro de mães de crianças a termo e pré-termo e do leite de vaca Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_ materno_cab23.pdf (p. 29) http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf 49 A concentração de gordura no leite aumenta no decorrer de uma mamada. Assim, o leite do final da mamada (chamado leite posterior) é mais rico em energia (calorias) e sacia melhor a criança, daí a importância de a criança esvaziar bem a mama. O leite humano possui numerosos fatores imunológicos que prote- gem a criança contra infecções. A IgA secretória é o principal anticorpo, atuando contra microrganismos presentes nas superfícies mucosas. Os anticorpos IgA no leite humano são um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, ou seja, ela produz anticorpos contra agentes infecciosos com os quais já teve contato, proporcionando, dessa maneira, proteção à criança contra os germens prevalentes no meio em que a mãe vive. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do primeiro mês, permanecendo relativamente constante a partir de então. Além da IgA, o leite materno contém outros fatores de proteção, tais como anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T, lactoferrina, lisosima e fator bífido. Esse favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria não patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, tais como Shigella, Salmonella e Escherichia coli. Alguns dos fatores de proteção do leite materno são total ou parcialmente destruídos pelo calor, razão pela qual o leite humano pasteurizado (submetido a uma temperatura de 62,5o C por 30 minu- tos) não tem o mesmo valor biológico que o leite cru. Texto retirado de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_ crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf (p. 29-30). http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf 50 Juliana disse que havia entendido, mas tinha outra dúvida: como saber se Alice está recebendo todo o leite que precisa? Você conseguiria responder a essa pergunta? Vamos ver o que um profissional de saúde responderia para Juliana? 51 Continuando nosso caso de estudo, com a ajuda de uma mama cobaia, chegou a hora de o profissional mostrar a Juliana e Fernando onde e como o leite materno é produzido e fornecido para a criança. Leia a explicação a seguir. As mulheres adultas possuem, em cada mama, entre 15 e 25 lobos mamários, que são glândulas túbulo-alveolares cons- tituídas, cada uma, por 20 a 40 lóbulos. Esses, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, estão as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, há tecido adiposo, tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, tecido nervoso e tecido linfático. O leite produzido é armazenado nos alvéolos e nos ductos. Os ductos mamários não se dilatam para formar os seis lactíferos, como se acreditava até pouco tempo atrás. O que ocorre é que durante as mamadas, enquanto o reflexo de ejeção do leite está ativo, os ductos sob a aréola se enchem de leite e se dilatam (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). A mama, na gravidez, é preparada para a amamentação (lactogênese fase I) sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, tais como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. Na primeira metade da gestação, há crescimento e proliferação dos ductos e formação dos lóbulos. Na segunda metade, a atividade secretora se ace- lera e os ácinos e alvéolos ficam distendidos com o acúmulo do colostro. A secreção láctea inicia após 16 semanas de gravidez. Com o nascimento da criança e a expulsão da placenta, há uma queda acentuada nos níveis sanguíneos maternos de progestogênio, com consequente liberação de prolactina pela hipófise anterior, iniciando a lactogênese fase II e a secreção do leite. Há também a liberação de ocitocina durante a sucção, hor- mônio produzido pela hipófise posterior, que tem a capacidade de contrair as células mioepiteliais que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contido. A produção do leite logo após o nascimento da criança é controlada principalmente por hormônios e a “descida do leite”, que costuma ocorrer até o terceiro ou quarto dia pós-parto, ocorre mesmo se a criança não sugar o seio. Após a “descida do leite”, inicia-se a fase III da lactogênese, também denominada galacto- poiese. Essa fase, que se mantém por toda a lactação, depende principalmente da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. 52 Quando, por qualquer motivo, o esvaziamento das mamas é prejudicado,pode haver diminuição na produção do leite, por inibição mecânica e química. O leite contém os chamados “peptí- deos supressores da lactação”, que são substâncias que inibem a produção do leite. A sua remoção contínua com o esvaziamento da mama garante a reposição total do leite removido. Outro meca- nismo local que regula a produção do leite, ainda não totalmente conhecido, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando assim um efeito inibidor da síntese de leite (VAN VELDHUIZEN-STAAS, 2007). Grande parte do leite de uma mamada é produzida enquanto a criança mama, sob estímulo da prolactina. A ocitocina, liberada principalmente pelo estímulo provocado pela sucção da criança, também é disponibilizada em resposta a estímulos condicionados, tais como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por outro lado, a dor, o desconforto, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança podem inibir a libera- ção da ocitocina, prejudicando a saída do leite da mama. Nos primeiros dias após o parto, a secreção de leite é pequena, e vai aumentando gradativamente: cerca de 40-50 mL no primeiro dia, 300-400 mL no terceiro dia, 500-800 mL no quinto dia, em média (CASEY, 1986). Na amamentação, o volume de leite produzido varia, depen- dendo do quanto a criança mama e da frequência com que mama. Quanto mais volume de leite e mais vezes a criança mamar, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta exclusiva- mente produz, em média, 800 mL por dia. Em geral, uma nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade necessária para o seu bebê. 53 Figura 5 - Local da pega correta do bebê Fonte: Brasil (2015, p. 25). Você saberia dizer qual é a importância da técnica adequada? Veja a res- posta no box a seguir. Após essa explicação, Alice acorda e dá sinais de que quer mamar. Juliana, você me permite observar a mamada? Com o consentimento de Juliana, foi feita a observação da mamada. Antes disso, o profissional explicou à Juliana e ao Fernando porque é importante a criança mamar com técnica adequada Claro. 54 Importância de uma técnica adequada durante a mamada • Retira com mais eficiência o leite da mama, ingerindo mais leite e gastando menos tempo na mamada. Como consequência, o ganho de peso é melhor. • Tem menos chance de machucar os mamilos da mãe. Vamos ver, agora, quais os principais itens que temos que observar em uma mamada. ITENS DE POSICIONAMENTO Quatro pontos chave de um posicionamento adequado 1. Corpo do bebê próximo ao da mãe, todo voltado para ela, barriga com barriga. 2. Cabeça e tronco do bebê alinhados (pescoço não torcido). 3. Bebê bem apoiado (o que não se aplica para a posição laid-back). 4. Rosto do bebê de frente para a mama, com o nariz na altura do mamilo. Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde. 55 ITENS DA PEGA Quatro pontos chave de uma pega adequada 5. Boca bem aberta, com o bebê abocanhando, além do mamilo, parte da aréola. 6. Lábio inferior voltado para fora. 7. Queixo tocando a mama. 8. Mais aréola visível acima da boca do bebê. OUTROS ITENS PARA OBSERVAÇÃO Outros itens importantes de serem checados durante a observação da mamada • As roupas da mãe e do bebê são adequadas, sem restringir movimentos? • A mãe está confortavelmente posicionada, relaxada, bem apoiada, não curvada para frente? • A mãe segura a mama de maneira que a aréola fique livre? • Tem algo entre o corpo da mãe e o corpo do bebê atrapalhando a mamada (o braço do bebê, por exemplo)? • A mãe espera o bebê abrir bem a boca e abaixar a língua antes de colocá-lo no peito? • O pescoço do bebê está levemente estendido? • As narinas do bebê estão livres? Grande parte da aréola na boca do bebê, e não apenas o mamilo Queixo encostado no seio Barriga e tronco do bebê voltados para a mãe Lábios virados para fora Bochecha enche quando suga o leite Nariz não encosta no seio e respira livremente Boca aberta como “boquinha de peixe” 56 • A língua do bebê encontra-se sobre a gengiva inferior? • A língua do bebê está curvada para cima nas bordas laterais? • O bebê mantém-se fixado à mama, sem escorregar ou largar o mamilo? • As mandíbulas do bebê estão se movimentando? • A deglutição é visível e/ou audível? Agora que você já sabe os itens que devem ser observados em uma mamada, vamos realizar uma atividade na plataforma AVASUS. Acesse a plataforma e responda à questão solicitada. ATIVIDADE INTERATIVA Depois de observar Alice mamar no peito de sua mãe, o profissional de saú- de elogiou o casal e deu algumas sugestões para Juliana melhorar a técnica da mamada e se colocou à disposição para apoiar no que for preciso para que o início do aleitamento materno transcorra da melhor maneira possível. Assista ao vídeo “Amamentar é muito mais que alimentar a criança”, do Ministério da Saúde, que aborda a técnica da amamentação. https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE. Saiba mais https://www.youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE 57 AULA 2 - PRÁTICAS QUE DEVEM SER EVITADAS DURANTE A AMAMENTAÇÃO Nesta aula, vamos abordar as práticas que devem ser evitadas durante a amamentação, por terem o potencial de prejudicar a amamentação. Vamos retomar nosso caso de estudo e pensar um pouco mais sobre essas práticas? Alice já está com 36 horas de vida. Está sugando o peito com frequência e Juliana sente uma dor discreta ao amamentar, mas não está com os mamilos machucados. Informa que já está percebendo a mama mais cheia. Ontem, um profissional da equipe conversou com Juliana e Fernando sobre vários aspectos da amamentação e foram tiradas algumas dúvidas. O foco da conversa de ontem foi basicamente sobre como funciona a amamentação e como amamentar. Hoje, o mesmo profissional voltou para conversar com o casal, tendo como foco práticas que devem ser evitadas durante a amamentação. Vamos fazer uma reflexão e pensar sobre nossas práticas? Então, caro aluno, liste numa folha de papel as práticas que você acha que deve- riam ser evitadas durante a amamentação. Compare a sua lista com a que você vai encontrar na explicação a seguir. Talvez você não encontre nessa lista alguma prática que você tenha citado, pois iremos abordar apenas algumas, as mais comuns. Essas são algumas práticas que devem ser evitadas durante a amamen- tação e que foram discutidas com Juliana e Fernando. Vamos conhecer? USO DE OUTROS LEITES PARA “COMPLEMENTAR” O LEITE MATERNO É muito comum, por diversas razões, ser ofertado para a criança outro leite para “complementar” o leite materno. Essa prática é desaconselhada porque faz com que a criança mame menos, reduzindo o efeito protetor do leite materno contra doenças e causando diminuição na quantidade de leite produzido pela mãe, além dos malefícios que esses leites podem provocar à saúde das crianças. É comum, também, a criança receber fór- mula industrializada ou outro leite à noite para dormir melhor. De fato, 58 a criança pode fazer um intervalo maior entre as mamadas se receber esse leite, pois por ser de mais difícil digestão, deixa a criança saciada por mais tempo. Mas os riscos à saúde da criança e à própria amamen- tação não justificam essa prática. Na Aula 4 trataremos do uso de suple- mentos na maternidade. OFERECER LÍQUIDOS À CRIANÇA NA MAMADEIRA As maneiras de sugar o peito e a mamadeira são bem diferentes. Por isso, a criança que é exposta à mamadeira pode se confundir na hora de ir ao peito e acabar preferindo a mamadeira e recusar o peito. Além disso, o esforço muscular que a criança faz para retirar o leite do peito favorece o crescimento harmonioso da face e é importante para a boca e para os músculos do rosto, dando mais qualidade à respiração, à mastigação, à deglutição, àarticulação da fala e ao alinhamento dos dentes. Se a criança recebe mamadeira, os movimentos realizados para a retirado do leite desse artefato não só irão substituir os movimentos para a retirado do leite do peito, que são os mais adequados para o desenvolvimento orofacial, como podem causar problemas para esse desenvolvimento. OFERECER CHUPETA À CRIANÇA Já está comprovada a associação entre uso de chupeta e menor duração do aleitamento materno. Além disso, o hábito de usar chupeta pode cau- sar deformações no palato e mau alinhamento dos dentes. Veja, no destaque a seguir, os efeitos negativos da chupeta na saúde da criança. 59 Principais efeitos negativos do uso de chupeta na saúde da criança amamentada Efeito sobre a sucção A sucção não nutritiva (longos períodos de sucção sem receber alimento) leva à “saciedade neural” de sucção, cansaço muscular e não saciedade, e pode causar a “confusão de bicos”, influen- ciando negativamente na técnica de amamentação e no tempo de amamentação. Efeito sobre a mastigação e deglutição A qualidade da mastigação está diretamente relacionada com o padrão de aleitamento e com o uso de chupeta ou mamadeira. O uso de chupeta afeta a característica normal da mastigação. Efeito sobre a respiração A amamentação e o uso de bicos artificiais têm influência no padrão respiratório. A criança que usa chupeta frequentemente tem seu padrão respiratório nasal alterado para bucal ou misto. Efeito sobre a fala e linguagem oral O uso de chupeta pode interferir na articulação dos sons e da fala, pois modifica a configuração natural da cavidade oral e leva à vocalização distorcida, com impacto negativo sobre a aquisição e produção dos sons da fala. Efeito sobre dentição O uso de chupeta tem se mostrado fator de risco para as maloclusões dentárias, especialmente quando utilizada para além dos 3 anos. Maior ocorrência de otite média aguda O uso de chupeta aumenta em 33% a ocorrência de otite média em menores de 18 meses. Além disso, observa-se mais otite média recorrente entre as crianças que utilizam chupeta. Chupeta é um potencial reservatório de infecções O uso de chupeta favorece doença diarreica e mortalidade infan- til, aumento de hospitalizações, asma, dor de ouvido, vômitos, febre, cólicas, aftas e candidíase oral. Substâncias tóxicas como a N-nitrosamina presentes na borracha da chupeta podem trazer riscos à saúde da criança. Vícios orais na vida adulta O uso prolongado de chupeta parece favorecer o uso de cigarro na adolescência. Assim como o cigarro, a chupeta é utilizada para ajudar a acalmar a criança. 60 TABAGISMO As substâncias nocivas do cigarro, além de serem prejudiciais à mulher, passam para o leite materno. Por isso, as mulheres devem evitar o fumo durante a amamentação. Se, apesar de todos os esforços, a mulher não conseguir parar de fumar durante a amamentação, alguns cuidados devem ser tomados para minimizar eventuais danos à criança: fumar o menor número de cigarros que conseguir; fumar logo após as mamadas para dar um intervalo entre o fumo e a mamada seguinte; e não expor a criança à fumaça do cigarro. Apesar da mulher ser fortemente desen- corajada a fumar durante a amamentação, acredita-se que o risco de fumar e amamentar seja menor que o risco de desmamar a criança por causa do cigarro. O profissional pode ajudar as mulheres fumantes a pararem de fumar encaminhando-as ao Programa Nacional de Combate ao Tabagismo do SUS para tratar a dependência ao cigarro. CONSUMO DE ÁLCOOL O consumo de álcool pela mãe é desaconselhado durante a amamen- tação, pois as substâncias passam para o leite materno. Por isso, se a mulher que amamenta ingerir álcool, recomenda-se que ela fique um tempo sem amamentar até que o álcool seja metabolizado pelo organis- mo. Esse tempo varia dependendo do peso da mulher e da quantidade de álcool ingerida. Porém, de uma maneira geral, recomenda-se que a mulher fique 2 horas sem amamentar para cada drink consumido. Um drink corresponde a 340 mL de cerveja, 141,7 mL de vinho, 42,5 mL de bebidas destiladas. Como nem sempre a criança pode esperar esse tem- po, o melhor mesmo é não beber ou então a mulher retira leite antes de consumir álcool para oferecer à criança durante o período em que não é recomendado amamentar por causa do álcool. CONSUMO DE DROGAS ILÍCITAS O consumo de drogas ilícitas durante a amamentação, mesmo que eventual, é fortemente desaconselhado, sendo inclusive contraindica- da a amamentação em usuárias regulares de drogas. Se uma lactante fez uso eventual de uma dessas drogas, recomenda-se a interrupção temporária do aleitamento materno, sob supervisão de um profissional de saúde, pois o tempo que a mulher deve ficar sem amamentar varia dependendo da situação. Para manter a produção de leite e garantir o retorno da criança ao peito após o período de interrupção, a mulher deve retirar regularmente o seu leite e descartá-lo enquanto não estiver amamentando o filho. O período da gestação e amamentação é uma 61 janela de oportunidade para apoiar as mulheres a enfrentarem a depen- dência química. A possibilidade de amamentar costuma ser uma motiva- ção para o tratamento. Tabela 2 - Recomendações sobre o tempo de interrupção da amamentação após o uso de droga de abuso pela nutriz. Fonte: adaptado de Hale et al. (2005, p. 139). AUTOMEDICAÇÃO A maioria dos remédios pode ser consumida pela mulher que amamen- ta. No entanto, alguns não são recomendados, pois podem passar para o leite e afetar a criança. Por isso, é importante que a mulher não se automedique. Mais detalhes sobre o uso de medicamentos durante a amamentação serão vistos na Aula 5. AMAMENTAÇÃO CRUZADA Amamentação cruzada é quando uma mulher amamenta o filho de outra pessoa ou oferece o seu leite diretamente para outra criança, sem passar por um Banco de Leite Humano. Essa prática não é recomendada por causa do risco de transmissão de doenças pelo leite materno, como, por exemplo, o vírus da AIDS. Mesmo se esta mãe estiver com os exames normais ou se teve uma gravidez tranquila, ela pode estar em uma jane- la imunológica de alguma doença que possa ser transmitida pelo leite materno, e esse bebê correr o risco de contrair alguma doença. 62 Retomando nosso caso de estudo, o profissional de saúde, após certificar-se que Juliana e Fernando não tinham dúvidas, despediu-se do casal e combinou que voltaria à tarde para conversar com eles na alta de Juliana e Alice, pois até o momento não havia nenhuma intercorrência que justificasse a permanência delas na maternidade. 63 AULA 3 - AVALIAÇÃO DO FRÊNULO LINGUAL (“LÍNGUA PRESA”) Nesta aula, você vai receber informações sobre avaliação do frênulo lin- gual. Você sabe para que serve essa avaliação? Denomina-se “avaliação do frênulo lingual” a avaliação feita com o obje- tivo de detectar a anquiloglossia, popularmente conhecida como “lín- gua presa”. Caracteriza-se por um frênulo lingual anormalmente curto e espesso ou delgado, que pode restringir em diferentes graus os movi- mentos da língua, podendo dificultar a amamentação. Pode ser classifi- cada em leve ou parcial (mais comum) e severa ou completa, condição rara em que há fusão da língua no assoalho da boca. Antes da alta, foi realizada a avaliação do frênulo lingual em Alice. Figura 6 - Avaliação do frênulo lingual Vamos agora ver alguns exemplos de anquiloglossia que estão dis- ponibilizados no Manual de Otorrinolaringologia Pediátrica da IAPO (Interamerican Association of Pediatric Otolaryngology). Os critérios propostos para o diagnóstico incluem o comprimento do frê- nulo lingual, a quantidade de movimento da língua, a aparência da ponta da língua semelhante ao “formato de coração” e a palpação de um tecido fibroso ao exame físico. (Figuras A até J) 64 Figura 7 - Exemplos de frênulos linguais Fonte: Levi e Kimberly (2016, p. 84). Existe uma lei (Lei nº 13.002, de 20 de junho de 2014) que define a obrigatoriedade de aplicação do Protocolode Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês em todos os hospitais e maternida- des do país. Para conhecê-la, acesse: http://www.planalto.gov.br/ CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13002.htm. Você sabia? K http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13002.htm http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13002.htm 65 Vamos conhecer os aspectos avaliados no Protocolo de Bristol e apren- der a interpretá-los? Figura 8 - Protocolo Bristol de avaliação da língua Fonte: NOTA TÉCNICA Nº 11/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. ANQUILOGLOSSIA E AMAMENTAÇÃO A anquiloglossia tem sido apontada como um dos fatores que pode inter- ferir na amamentação, diminuindo a habilidade do recém-nascido para fazer a pega, assim dificultando o esvaziamento da mama e causando desconforto nas mães durante a amamentação. Embora as evidências sobre a associação entre anquiloglossia e dificuldades na amamentação não sejam robustas, alguns testes de triagem da anquiloglossia têm sido propostos, a fim de facilitar a identificação de alterações no frênulo lin- gual que potencialmente podem interferir na amamentação. Continuando nosso caso de estudo, foi explicado a Juliana e Fernando o que é a avaliação do frênulo lingual e para que serve. Antes de autorizarem o teste, o casal quis saber como era feita a avaliação. O profissional explicou que existe mais de uma maneira de avaliar se a criança tem língua presa, mas que naquela maternidade eles usavam um teste muito simples chamado “Protocolo de Bristol”, que não causaria nenhum desconforto a Alice. 66 Os profissionais que integram a rede de assistência à saúde e de uni- dades de saúde das universidades precisam estar qualificados na ava- liação do frênulo lingual utilizando o Protocolo Bristol, assim reduzirá o sobrediagnóstico e evitar iatrogenias no âmbito do SUS, promovendo as melhores condições para a manutenção da amamentação exclusiva. AVALIAÇÃO DA MAMADA A conduta frente a uma suspeita de anquiloglossia deve sempre levar em consideração se essa condição está interferindo ou não na amamen- tação. Dessa forma, reitera-se a importância da avaliação da mamada como procedimento rotineiro a ser realizado pelos profissionais de saú- de que atendem o binômio mãe-bebê. Veja a seguir. Quadro 1 - Formulário de observação e avaliação da mamada Fonte: NOTA TÉCNICA Nº 11/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. 67 Voltando ao nosso caso de estudo, Fernando quis saber o que aconteceria com Alice caso a avaliação detectasse língua presa. O profissional respondeu que se a língua presa fosse grave, estaria indicado um procedimento para liberar a língua, de preferência já na maternidade. Mas se houvesse língua presa leve ou moderada, a conduta seria acompanhar Juliana e Alice para ver se a alteração está prejudicando a amamentação. Foi um alívio para Juliana e Fernando saber que a avaliação do frênulo lingual de Alice não detectou nenhum problema. 68 AULA 4 - USO DE SUPLEMENTO NA MATERNIDADE Nesta aula, vamos abordar em que situações o uso de suplemento na maternidade está indicado. Retomando nosso caso de estudo… Juliana está acomodada no Alojamento Conjunto em um quarto com mais duas puérperas. Durante a noite, o bebê de uma das puérperas chorou muito. A puérpera estava muito nervosa e pediu para a equipe de enfermagem dar fórmula para o bebê, porque ele devia estar com fome. A enfermeira plantonista explicou para a puérpera que os bebês choram por diferentes motivos e que nem sempre isso significa que o bebê tem fome. Se um bebê chora frequentemente, deve-se procurar encontrar a causa do choro. Os bebês podem chorar porque estão com sono, frio, calor, algum desconforto, fraldas sujas ou, o que é o mais comum, por necessi- dade de carinho e de atenção, aconchego, necessidade de sugar e, tam- bém, por estar com fome ou sede. Com o tempo, os pais/cuidadores aprendem a interpretar o compor- tamento da criança, identificando as suas necessidades e como ela as expressa. E logo perceberão que nem todo choro ou sinal de desconfor- to do bebê significa fome. 69 Por isso, é importante conversar com os pais sobre formas de acalmar o bebê. Veja algumas sugestões: • Deixar o bebê confortável, com fralda seca e limpa, mantas secas e não quentes demais. • As roupas do bebê devem estar apropriadas ao clima que elas vivem. • Colocar o bebê na mama. Ele pode estar com fome ou sede ou apenas que- rendo sugar para se sentir seguro. • Colocar o bebê no tórax da mãe, em contato pele a pele. • O calor, o cheiro e o batimento cardíaco da mãe ajudam a acalmar o bebê. • Conversar e cantar, balançar o bebê próximo à mãe. • Acariciar ou massagear gentilmente os braços, pernas e costas do bebê. • Reduzir a ingestão de café e outras bebidas com cafeína. • Pedir para alguém que esteja tranquilo segurar e cuidar do bebê por algum tempo. • Envolver os familiares nas orientações sobre amamentação para que a mãe não seja pressionada a oferecer alimentos suplementares desnecessários. • Segurar o bebê de modo a apoiar a cabeça, o corpo, as pernas e os braços, fazendo com que ele se sinta seguro. A enfermeira orientou a puérpera sobre o comportamento normal dos recém-nascidos, o que a deixou mais tranquila. Vamos descobrir, agora, quais são os aspectos relacionados ao compor- tamento normal de um bebê. COMPORTAMENTO NORMAL DO BEBÊ O entendimento da mãe e das pessoas que vão conviver com o bebê sobre as necessidades dele é fundamental para a tranquilidade de todos os membros da família. 70 O comportamento dos recém-nascidos é muito variável e depende de vários fatores, como idade gestacional, personalidade e sensibilidade do bebê, experiências intrauterinas, vivências do parto e diversos fatores ambientais, incluindo estado emocional da mãe. É importante lembrar 43 Saúde da Criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar à mãe que cada bebê é único, respondendo de maneiras diferentes às diversas experiências. Comparações com filhos anteriores ou com outras crianças podem atrapalhar a interação entre a mãe e o bebê. Algumas crianças demandam (choram) mais que outras e apresentam maiores dificuldades na passagem da vida intrauterina para a vida extrau- terina. Essas crianças, com frequência, frustram as expectativas maternas (a de ter um bebê “bonzinho”) e essa frustração muitas vezes é percebida pela criança, que responde aumentando ainda mais a demanda. Uma importante causa de desmame é o choro do bebê. As mães, com frequência, o interpretam como fome ou cólicas. Elas devem ser escla- recidas que existem muitas razões para o choro, incluindo adaptação à vida extrauterina e tensão no ambiente. Na maioria das vezes, os bebês se acalmam se aconchegados ou se colocados no peito, o que reforça a sua necessidade de se sentirem seguros e protegidos. As mães que ficam tensas, frustradas e ansiosas com o choro dos bebês tendem a transmitir esses sentimentos a eles, causando mais choro, podendo ins- talar se um ciclo vicioso. É comum algumas mães rotularem os seus bebês de “bravos”. Uma ati- tude de solidariedade e entendimento das necessidades dos seus bebês traria mais tranquilidade a ambos. A mãe provavelmente passaria a olhar de um modo diferente o seu bebê, não mais o rotulando de “bravo”, e sim como vivenciando uma experiência difícil em alguns momentos. Muitas mães queixam-se de que os seus bebês “trocam o dia pela noite”. Os recém-nascidos costumam manter, nos primeiros dias, o ritmo ao qual estavam acostumados dentro do útero. Assim, as crianças que no útero costumavam ser mais ativas à noite vão necessitar de alguns dias para se adaptarem ao ciclo dia/noite. Portanto, as mães devem ser tran- quilizadas quanto a esse eventual comportamento do bebê. A interação entre a mãe e o bebê nos primeiros dias é muito importante para o sucesso da amamentação e uma futura relação harmônica. A mãe deve ser orientada a responder prontamente às necessidades do seu bebê, não temendoque isso vá deixá-lo “manhoso” ou “superdependen- te” mais tarde. Carinho, proteção e pronto atendimento das necessida- des do bebê só tendem a aumentar a sua confiança, favorecendo a sua independência em tempo apropriado. 71 Hoje se sabe que os bebês têm competências que antes eram ignoradas, e as mães (e pais e familiares) devem saber disso para melhor interagi- rem com eles, além de tornar a interação mais gratificante. O melhor momento de interagir com a criança é quando ela se encontra no estado quietoalerta. Nesse estado, o bebê encontra-se quieto, mas alerta, com os olhos bem abertos, como se estivesse prestando atenção. Na primeira hora de vida, esse estado de consciência predomina, favo- recendo a interação. A separação da mãe e do bebê e a sedação da mãe logo após o parto privam a dupla desse momento tão especial. Ao longo do dia e da noite a criança encontra-se no estado quieto-alerta várias vezes, por períodos curtos. Durante e após intensa interação, os bebês necessitam de frequentes períodos de repouso. Para uma melhor interação com o bebê, é interessante que a mãe, o pai e outros familiares saibam o que alguns bebês recém-nascidos a termo são capazes, em situações especiais (principalmente no estado quieto-alerta): • Ir ao encontro da mama da mãe por si próprios logo após o nascimento, se colocados em seu tórax. Dessa maneira, eles decidem por si o momento da primeira mamada, que ocorre em média aos 40 minutos de vida; • Reconhecer a face da mãe após algumas horas de vida. O bebê enxerga melhor a uma distância de 20 a 25 cm, a mesma que separa os olhos do bebê e o rosto da mãe durante as mamadas; • Ter contato olho a olho; • Reconhecer e mostrar interesse por cores primárias – vermelho, azul e amarelo; • Seguir um objeto com os olhos e, às vezes, virar a cabeça na sua direção; • Distinguir tipos de sons, tendo preferência pela voz humana, em especial a da mãe, e pelos sons agudos; • Determinar a direção do som; • Reconhecer sabores, tendo preferência por doces; • Reconhecer e distinguir diferentes cheiros; com um ou dois dias de vida reconhece o cheiro da mãe; • Imitar expressões faciais logo após o nascimento; • Alcançar objetos (BRASIL, 2015, p. 44). 72 A paciência e a habilidade do profissional de saúde evitaram o uso des- necessário de fórmula nesse caso. É muito importante que se evite o uso de suplementação desnecessária para os recém-nascidos a termo, em alojamento conjunto. O uso de fórmulas e outros líquidos à base de água, na maternidade, têm associação com a interrupção precoce da amamentação, e o efeito desse uso impacta na redução das taxas de amamentação exclusiva ao longo de vários meses. A perda de peso nos primeiros dias de vida e a hipoglicemia do recém-nascido são dois moti- vos que levam ao uso de suplementação, muitas vezes sem necessidade, durante a internação de recém-nascidos em alojamento conjunto. Veja mais detalhes no box a seguir. Com o apoio da enfermeira, a puérpera amamentou o bebê de maneira satisfatória e ele finalmente dormiu. • Perda de peso nos primeiros dias de vida – A diurese fisiológica dos fluidos extracelulares e a eliminação de mecônio, e o pequeno volume de colostro recebido pelo recém-nascido nos primeiros dias resultam em uma perda de peso no início da vida de bebês sadios. A perda de peso de recém-nascidos saudáveis varia de 5% a 10% do peso ao nascer, que é recuperado ao longo dos primeiros 21 dias de vida nos bebês em amamentação exclusiva. • Hipoglicemia – Não há consenso sobre o ponto de corte do valor da glicemia que determina o tratamento ou não de um recém-nascido com glicemia baixa. Não há evidências de que um bebê hipoglicêmico assintomático se beneficiará com o tratamento. A amamentação exclusiva dos bebês a termo saudáveis sem fatores de risco para hipoglicemia supre as suas necessidades de glicose, assim não sendo necessário o monitoramento da glicemia em bebês assintomáticos. 73 A decisão de suplementação com fórmula ou não de um recém-nascido sadio a termo sempre deve ser tomada levando-se em consideração razões médicas aceitáveis, além dos riscos e os benefícios. Para conhecer possíveis indicações criteriosas de prescrição de suplemento lácteo para recém-nas- cidos sadios a termo na maternidade, depois de esgotadas todas as tentati- vas de aumentar a ingestão de leite materno, veja o destaque a seguir. Indicações relacionadas à criança • Hipoglicemia assintomática detectada por medida de glicemia em laboratório que não responde a mamadas frequentes. • Hipoglicemia sintomática <25mg/dL nas primeiras 4 horas ou <35mg/dL após 4 horas de vida. Tratar com glicose endovenosa e manter a amamentação. • Sinais ou sintomas que indiquem ingestão insuficiente de leite: desidratação significativa, perda de peso ≥8-10% no 5º dia de vida, ou perda de peso acima do percentil 75 para a idade. • Menos que quatro evacuações no 4º dia de vida ou fezes com mecônio no 5º dia. • Hiperbilirrubinemia entre os dias 2-5, com perda de peso persistente, evacuações limitadas e urina com cristais de ácido úrico. Indicações relacionadas à mãe • Demora na secreção do leite para além do 3o-5o dia pós-parto, com ingestão insuficiente pelo bebê. • Insuficiência glandular primária, que acomete menos de 5% das mulheres. • Doença ou cirurgia mamária que resultem em produção de leite insuficiente. • Interrupção temporária da amamentação por uso de medicamentos ou separação mãe-bebê sem condições de expressão do leite. • Dor insuportável nas mamadas, que não responde à intervenção. 74 AULA 5 - QUANDO O BEBÊ NÃO PODE SER AMAMENTADO Nesta aula, vamos aprender como manejar as situações em que o bebê, temporariamente ou definitivamente, não pode ser amamentado. A indicação de não iniciar a amamentação ou de interrompê-la deve ser feita com extrema cautela e apoiada em justificativas muito bem funda- mentadas. Lembre-se sempre que: • Alguns bebês não podem ser alimentados diretamente na mama, mas o leite materno continua sendo o alimento indicado para eles; • Alguns bebês não podem receber leite materno; • Alguns bebês não têm leite materno disponível, por qualquer razão; • Algumas situações maternas impossibilitam a amamentação temporaria- mente e outras impossibilita definitivamente; • Algumas mães não desejam amamentar seus filhos. Vamos conhecer algumas situações maternas que necessitam de sus- pensão? Veja no box a seguir algumas situações que exigem suspensão temporária da amamentação. 75 Situações que necessitam suspensão temporária da amamentação • Infecção herpética, quando há vesículas localizadas na pele da mama. A amamentação deve ser mantida na mama sadia. • Varicela: se a mãe apresentar vesículas na pele 5 dias antes do parto ou até 2 dias após o parto, recomenda-se o isolamento da mãe até que as lesões adquiram a forma de crosta. A criança deve receber Imunoglobulina Humana Antivaricela Zoster (Ighavz), que deve ser administrada em até 96 horas do nascimento, aplicada o mais precocemente possível. • Consumo eventual de drogas de álcool e/ou drogas de abuso (Já abordado na AULA 7). • Drogas radioativas. • Doença de Chagas, na fase aguda da doença ou quando houver sangramento mamilar evidente concomitante. • Tuberculose ativa sem tratamento. • Hanseníase virchowiana não tratada ou com tratamento inferior a 3 meses com sulfona ou inferior a 3 semanas com rifampicina ou com lesões de pele na mama. • Brucelose antes do tratamento. • Leptospirose na fase aguda. • Listeriose em lactantes gravemente doentes. • Coqueluche no período neonatal até 5 dias após o início do tratamento. • Mulher com doença muito debilitante (ex.: doença grave e invasiva por estafilococo áureo, estreptococo do grupo B, meningococo). • Citomegalovirose para recém-nascidos com peso<1.000g e/ou idade gestacional < 30 semanas. São poucas as situações em que há indicação médica para a substituição total do leite materno. São elas:• Mães infectadas pelo HIV (no Brasil). • Mães infectadas pelo HTLV1 e HTLV2. • Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação. Alguns fárma- cos são considerados contraindicados absolutos ou relativos ao aleitamento materno, como por exemplo, os antineoplásicos e radiofármacos. Como essas informações sofrem frequentes atualizações, recomenda-se que previamen- te à prescrição de medicações a nutrizes o profissional de saúde consulte o manual “Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias”. • Criança portadora de galactosemia, doença rara em que ela não pode inge- rir leite humano ou qualquer outro que contenha lactose. 76 Para saber mais, acesse o material produzido pela Organização Mundial de Saúde: “Razões médicas aceitáveis para o uso de substitutos do leite materno” http://apps.who.int/iris/ bitstream/handle/10665/69938/WHO_FCH_CAH_09.01_por. pdf?sequence=2. Saiba mais No segundo dia de alojamento conjunto, um profissional da equipe convidou Juliana para participar do grupo de puérperas. No grupo, ele explicou que quando, por alguma razão da mãe ou do bebê, a amamentação ao peito não for possível, é importante a mulher saber o que fazer para manter a lactação e continuar oferecendo seu leite ao filho. Uma das maneiras de retirar o leite da mama é realizando a expressão manual. Vamos conhecer mais sobre as razões pelas quais a mulher realiza expressão manual do leite? Veja no box a seguir. http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/69938/WHO_FCH_CAH_09.01_por.pdf?sequence=2 http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/69938/WHO_FCH_CAH_09.01_por.pdf?sequence=2 http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/69938/WHO_FCH_CAH_09.01_por.pdf?sequence=2 77 Veja, a seguir, o que foi orientado às participantes do grupo de puérperas. - Utilizar vidro esterilizado para receber o leite materno, preferencial- mente vidros de boca larga com tampas plásticas que possam ser sub- metidos à fervura durante mais ou menos 20 minutos. - Procurar um local tranquilo para esgotar o leite; - Prender os cabelos e usar touca ou um lenço limpo na cabeça; - Usar máscara ou lenço na boca, e evitar falar, espirrar ou tossir enquanto esti- ver retirando o leite; - Ter à mão pano úmido limpo e lenços de papel para limpeza das mãos; - Lavar cuidadosamente as mãos e antebraços. Não há necessidade de lavar os seios frequentemente; - Secar as mãos e antebraços com toalha limpa ou de papel; - Posicionar o recipiente em que será coletado o leite materno (copo, xícara, caneca ou vidro de boca larga) próximo ao seio; - Massagear delicadamente a mama como um todo com movimentos circulares da base em direção à aréola; - Procurar estar relaxada, sentada ou em pé, em posição confortável. Pensar no bebê pode auxiliar na ejeção do leite; Retomando nosso caso de estudo, durante as atividades do grupo de puérperas, Juliana aprendeu como fazer a expressão manual das mamas, como administrar o leite ao bebê por copinho e como armazenar o leite excedente. • Para o conforto das mamas quando muito cheias, para aliviar o ingurgitamento ou bloqueio de ductos; • Para encorajar o bebê a mamar. Recomenda-se retirar o leite e aplicar sobre o mamilo para que o bebê cheire e prove; • Para suavizar a aréola de uma mama cheia e facilitar a pega do bebê; • Para manter uma boa produção de leite quando o bebê não está sugando; • Para obter leite caso o bebê não consiga mamar, ou se o bebê é pequeno e cansa com facilidade, quando mãe e bebê estão separados ou para doar leite a um Banco de Leite Humano; • Para pasteurizar o leite para o bebê; • Para doar o excesso de leite a um Banco de Leite Humano. 78 - Curvar o tórax sobre o abdômen, para facilitar a saída do leite e aumen- tar o fluxo; - Com os dedos da mão em forma de “C”, colocar o polegar na aréola ACIMA do mamilo e o dedo indicador ABAIXO do mamilo na transição aréola mama, em oposição ao polegar, sustentando o seio com os outros dedos; - Usar preferencialmente a mão esquerda para a mama esquerda e a mão direita para a mama direita, ou usar as duas mãos simultaneamente (uma em cada mama ou as duas juntas na mesma mama – técnica bimanual); - Pressionar suavemente o polegar e o dedo indicador, um em direção ao outro, e levemente para dentro em direção à parede torácica. Evitar pressionar demais, pois pode bloquear os ductos lactíferos; - Pressionar e soltar, pressionar e soltar. A manobra não deve doer se a técnica estiver correta. A princípio o leite pode não fluir, mas depois de pressionar algumas vezes o leite começará a pingar. Poderá fluir em jorros se o reflexo de ocitocina for ativo; - Desprezar os primeiros jatos, assim, melhora a qualidade do leite pela redução dos contaminantes microbianos; - Mudar a posição dos dedos ao redor da aréola para esvaziar todas as áreas; - Alternar a mama quando o fluxo de leite diminuir, repetindo a massa- gem e o ciclo várias vezes. Lembrar que extrair o leite de peito adequa- damente leva mais ou menos 20 a 30 minutos, em cada mama, especial- mente nos primeiros dias, quando apenas uma pequena quantidade de leite pode ser produzida; - Podem ser retirados leite materno dos dois seios simultaneamente em um único vasilhame de boca larga ou em dois vasilhames separados, colocados um embaixo de cada mama. O leite materno retirado deve ser oferecido à criança de preferência utilizando-se copo, xícara ou colher. Para isso, é necessário que o profissional de saúde demonstre como ofe- recer esse leite à criança. A técnica recomendada é a seguinte: - Acomodar o bebê desperto e tranquilo no colo, na posição sentada ou semi-sentada, sendo que a cabeça forme um ângulo de 90º com o pescoço; - Encostar a borda do copo no lábio inferior do bebê e deixar o leite materno tocar o lábio. O bebê fará movimentos de lambida do leite, seguidos de deglutição; - Não despejar o leite materno na boca do bebê (BRASIL, 2015, p. 50). 79 Veja, a seguir, orientações sobre a técnica de administração de leite materno por copinho. Vamos lá? Técnica de administração de leite materno por copinho • Acomodar o bebê desperto e tranquilo no colo, na posição sentada ou semi- -sentada, sendo que a cabeça forme um ângulo de 90º com o pescoço; • Encostar a borda do copo no lábio inferior do bebê e deixar o leite materno tocar o lábio. O bebê fará movimentos de lambida do leite, seguidos de deglutição; • Não despejar o leite na boca do bebê para evitar engasgos. Vamos, agora, ver isso na prática? Então, acesse o vídeo 6 na plataforma. VÍDEO 6: Técnica de administração de leite materno por copinho Juliana pôde praticar a expressão manual das suas mamas com a facilitadora do grupo, até se sentir segura para fazer isso sozinha. Sua mãe, que a estava visitando, também aprendeu, o que a deixa mais tranquila porque sabe que se precisar de ajuda, Dona Helena está preparada. Juliana também recebeu as seguintes orientações sobre o uso de copinho para oferecer o leite retirado da mama para o bebê. 80 AULA 6 - AMAMENTAÇÃO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS Nesta aula, vamos discutir como podemos apoiar a amamentação de bebês com necessidade de cuidados especiais. Voltando ao nosso caso de estudo, uma das puérperas com quem Juliana está dividindo o quarto no Alojamento Conjunto está sem o seu bebê no quarto. Ele nasceu prematuro e está recebendo cuidados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. A seguir, vamos saber como podemos ajudar essa puérpera com a amamentação. BEBÊS PREMATUROS, DE BAIXO PESO OU DOENTES O aleitamento materno é especialmente importante nessas situações. Esses bebês precisam tanto ou mais do que bebês saudáveis. Saiba por quê. IMPORTÂNCIA DO LEITE MATERNO PARA LACTENTES PREMATUROS, DE BAIXO PESO OU DOENTES • O leite materno contém: fatores imunológicos protetores, que ajudam a prevenir infecções; fatores de crescimento que ajudam o intestino do bebê e outros sistemas a se desenvolverem ou se curarem após um episódio de diarreia; enzimas quefacilitam a digestão e absorção do leite; ácidos graxos essenciais especiais que ajudam o desenvolvimento cerebral. • Acalma o bebê e reduz a dor da coleta de sangue e outros procedimentos ou a dor da própria doença do bebê. • Proporciona à mãe um papel importante no cuidado com o seu bebê. • Conforta o bebê e mantém o vínculo com a família. 81 APOIANDO A AMAMENTAÇÃO COM BEBÊS PREMATUROS, DE BAIXO PESO OU DOENTES Como o bebê vai se alimentar vai depender de sua maturidade e condição: há aqueles que não podem ser alimentados por via oral; outros bebês que podem ser alimentados por via oral, mas não conseguem sugar ou sugam debilmente; também existem os que conseguem sugar bem; e, finalmen- te, os que não podem receber leite materno. Saiba como você pode apoiar a amamentação nessas situações. Clique em cada ação para saber mais. ESTIMULE O CONTATO ENTRE MÃE E BEBÊ DE DIA E À NOITE Incentive a mãe a visitar, tocar e cuidar de seu bebê sempre que possível. A mãe produz anticorpos contra bactérias e vírus com os quais entra em contato. Quando ela passa tempo com seu bebê numa unidade de tratamento intensivo neonatal, por exemplo, seu corpo pode produzir anticorpos contra os micro-organismos aos quais seu bebê é exposto na unidade. O contato pele a pele ou Método incentiva a mãe a segurar seu bebê (apenas de fralda) por baixo da sua roupa, próximo à mama. O bebê pode buscar a mama sempre que quiser. O contato pele a pele aju- da a regular a temperatura do bebê e a sua respiração, além de ajudar no seu desenvolvimento e aumentar a produção de leite. Método canguru Desde o ano 2000, o Ministério da Saúde vem adotando o Método Canguru como política pública. Ele é um dos compo- nentes da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno, pois essa prática estimula o início e a manutenção da amamentação. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_ politica_aleitamento_materno.pdf. Para saber mais sobre o Método Canguru, acesse o: Capítulo 33 – Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humani- zada_recem_nascido_canguru.pdf. Volume 4 - Coleção Atenção à Saúde do Recém-Nascido – Guia para os Profissionais de Saúde h t t p : / / b v s m s . s a u d e . g o v . b r / b v s / p u b l i c a c o e s / atencao_saude_recem_nascido_v4.pdf. Saiba mais http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_recem_nascido_canguru.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_recem_nascido_canguru.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_v4.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_v4.pdf 82 Figura 9 - Mãe e bebê vivenciando o Método Canguru com o apoio da família Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde CUIDE DA MÃE A mãe é muito importante para o bem-estar e a sobrevida do bebê. • Ajude a mãe a permanecer no hospital enquanto o seu bebê ficar internado. • Se a mãe precisar vir de longe para visitar seu bebê, certifique-se de que ela tenha um lugar para descansar enquanto está no hospital. • Certifique-se de que a mãe tem um assento adequado perto do bebê. • Estimule o hospital a oferecer alimento e bebida para a mãe. • Responda às perguntas dos pais e explique as coisas com paciência. Os pais podem estar tristes, sobrecarregados e amedrontados quando seu bebê está doente. • Informe aos pais que o leite materno e a amamentação são muito importan- tes nesse momento. AJUDE A ESTABELECER O ALEITAMENTO MATERNO • Ajude a mãe a retirar seu leite, começando até 6 horas após o parto e fazen- do a retirada seis ou mais vezes em cada 24 horas. 83 • Incentive os bebês a passarem tempo na mama o mais cedo possível, mesmo que ainda não consiga sugar bem. Se o bebê tem maturidade para lamber, procurar, sugar e deglutir na mama, fará isso sem qualquer dano. • Descreva esses momentos iniciais na mama como ‘uma apresentação à mama’, em vez de esperar que o bebê faça mamadas inteiras na mama imediatamente. • O bebê pode ir para a mama enquanto recebe alimentação por sonda para associar a sensação de saciedade com a mama. • O peso não é uma medida precisa de habilidade de amamentar. A maturida- de é um fator mais importante. • Até que o bebê consiga mamar no peito, ele pode receber leite materno por sonda ou copo. Não é recomendado o uso de bicos artificiais ou mamadeiras. AUXILIE A COLOCAR O BEBÊ NA MAMA • Coloque o bebê na mama quando ele estiver prestes a acordar, ou seja, fazendo rápidos movimentos dos olhos sob as pálpebras. Quando estiver pronto para se alimentar, o bebê pode fazer movimentos de sucção com sua língua e boca. O bebê também pode levar a mão à boca. Ajude a mãe a aprender como identificar os sinais de fome do bebê para evitar que ele gaste energia chorando. • Mostre à mãe como segurar e posicionar seu bebê. Uma maneira de segurar um bebê pequeno é apoiar sua cabeça sem agarrá-la com a mão. A mãe pode apoiar sua mama com a outra mão em forma de “c” para ajudar o bebê a mantê-la na boca. Exemplifique para mãe como fazer a forma em “c”: colocar quatro dedos embaixo e o polegar em cima da mama. Figura 10 - Posição correta do bebê na mama Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde 84 • Para ajudar a aumentar o fluxo de leite, massageie e comprima a mama cada vez que o bebê fizer uma pausa entre as sucções (a não ser que o fluxo já seja superior ao que o bebê consegue engolir). EXPLIQUE ÀS MÃES O QUE DEVEM ESPERAR NUMA MAMADA • Que o bebê provavelmente vai mamar durante um longo tempo e fará pau- sas frequentes para descansar durante uma mamada. Por isso, deve plane- jar mamadas silenciosas, tranquilas e longas. • Que haverá um pouco de engasgos porque o tônus muscular do bebê é baixo e sua sucção não é coordenada. • Que deve ficar atenta aos bebês prematuros e de baixo peso quanto à frequ- ência das mamadas nos primeiros meses. Se o bebê estiver muito sonolento e com mamadas muito espaçadas, é importante que seja estimulado a mamar. • Que o ambiente para a mulher amamentar seja o mais tranquilo possível, e acolhedor, com controle de ruído e luminosidade, sempre respeitando o ciclo de sono e vigília do recém-nascido. PREPARE A MÃE E O BEBÊ PARA A ALTA • O bebê pode estar pronto para sair do hospital se estiver realizando a alimentação com eficiência e ganhando peso. Em geral, precisa pesar pelo menos 1.800 g a 2.000 g para receber alta, mas isso varia de hospital para hospital e conforme as condições de saúde do bebê. • Estimule o hospital a oferecer um lugar para a mãe ficar com o bebê 24 horas por dia durante 1 ou 2 dias antes da alta. Isso ajuda a aumentar a sua confiança e a produção de leite a atingir o nível necessário para suprir as necessidades do bebê. • Certifique-se de que a mãe sabe reconhecer os sinais de fome, sinais de ingestão adequada e de que ela consegue posicionar e ajudar o bebê a pegar a mama. • Certifique-se de que a mãe sabe como buscar assistência para cuidar do seu bebê depois de ir para casa. Combine com a mãe como será o acompanhamento. 85 SITUAÇÕES ESPECIAIS DE AMAMENTAÇÃO Existem outras situações especiais em que o apoio do profissional de saúde é muito importante para que as mulheres consigam amamentar. Veja o boxe para saber mais sobre cada uma dessas situações. AMAMENTAÇÃO DE GÊMEOS Com o advento da inseminação artificial, o nascimento de múltiplas crianças se tornou mais frequente. Se por um lado o nascimento de gêmeos é uma dádiva, por outro é um grande desafio, que pode ser mais bem enfrentado se a família, em especial a mãe, receber ajuda inclusive dos profissionais de saúde. Esses devem estar preparados para acolher e aconselhar as famílias nas diversas situações envolvendo gêmeos, incluindo o aleitamento materno.Além de todos os benefícios já amplamente reconhecidos do aleitamento materno, a amamentação de crianças gemelares tem vantagens adicionais tais como: maior eco- nomia, haja vista o gasto com outros leites ser o dobro (ou mais) caso as crianças não sejam amamentadas; facilitar os cuidados de gêmeos, já que o aleitamento materno previne doenças, as quais exigem cuidados intensificados; auxiliar no atendimento das necessidades dos bebês com relação à atenção e ao afeto da mãe, pois por mais boa vontade que ela tenha, ela não tem condições de atender duas ou mais crianças da mes- ma maneira que atenderia uma só; e contribuir para o reconhecimento das necessidades individuais de cada gêmeo, acelerando o processo de enxergar cada criança como um indivíduo. Há séculos se sabe que é possível uma mãe amamentar plenamente dois ou mais bebês, uma vez que as mamas são capazes de responder às demandas nutricionais das crianças. Se há duas ou mais crianças sugan- do o peito da mãe, espera-se que ela produza leite suficiente para cada uma delas. O maior obstáculo à amamentação de bebês múltiplos, na realidade, não é a quantidade de leite que pode ser produzida, mas a indisponibilidade da mulher. Assim, é fundamental que as mães de par- to múltiplo tenham suporte adicional. Algumas orientações, além das habituais para qualquer gestante, são úteis para mulheres que estão esperando gêmeos. A “preparação física” das mamas (estimulação de qualquer tipo dos mamilos), não mais reco- mendada em qualquer gestação, deve ser particularmente desaconse- lhada em gestações múltiplas, pelo risco de parto prematuro. É importante discutir com a gestante a necessidade de ajuda, principalmente após o nascimento das crianças. Ter alguém para ajudar nas tarefas de casa antes e após o nascimento de gêmeos não é um luxo, mas uma necessidade. 86 Mães que já vivenciaram a experiência de ter gêmeos sugerem que as mulheres, na gestação, estabeleçam como meta inicial para a duração da amamentação das suas crianças pelo menos seis semanas, tempo míni- mo necessário para que a mulher se recupere do parto e que todas as pessoas envolvidas aprendam e se adaptem à situação especial que é amamentar duas ou mais crianças. O período de “aprendizagem” compre- ensivelmente é maior na amamentação de gêmeos quando comparado ao de recém-nascidos únicos. Após o período estipulado (que pode ser maior ou menor) a situação deve ser reavaliada e nova meta estipulada. O melhor momento de iniciar o aleitamento materno de gêmeos é logo após o nascimento, sempre que possível. Se um ou mais bebês não está em condições de ser amamentado, a mulher deve iniciar a extração manual ou com bomba de sucção o mais precocemente possível. Por mais difícil que possa ser, é muito importante que as crianças sejam amamentadas em livre demanda. Somente haverá produção de leite suficiente para cada uma das crianças se a mãe amamentar (ou retirar leite) com frequência e em livre demanda. No caso de extração do lei- te, desenvolver uma rotina que mimetize as mamadas dos bebês é útil. Para isso, é necessário fazer o esvaziamento das mamas no mínimo 8 a 9 vezes ao dia, totalizando 100 a 120 minutos. Coordenar as mamadas de duas ou mais crianças pode parecer uma tarefa quase impossível, mas após um período de aprendizagem (que pode durar meses), muitas mulheres surpreendem-se com sua extraor- dinária capacidade de adaptação. Mães de gêmeos tendem a usar uma das seguintes variações para amamentar os seus bebês: • Alternância de bebês e mamas em cada mamada. Dessa maneira, se o bebê “A” começou a mamar na mama direita em uma mamada, na próxima ele deverá iniciá-la na mama esquerda, independentemente se os bebês mamarem em uma só mama ou nas duas. Uma variação desse método é oferecer o peito mais cheio ao primeiro bebê que mostrar interesse em mamar. A alternância de bebês e mamas em cada mamada é muito utilizada nas primeiras semanas após o parto, especialmente se um dos bebês tem sucção menos eficiente ou quando um ou mais bebês querem mamar nas duas mamas. • Alternância de bebês e mamas a cada 24 horas. Nesse caso, o bebê “A” inicia todas as mamadas do dia em uma determinada mama e, no dia seguinte, inicia as mamadas na outra mama. Muitas mães gostam desse método por acharem mais fácil lembrar quem mamou, onde e quando. • Escolha de uma mama específica para cada bebê. Nessa circunstância, cada mama se adapta às necessidades de cada bebê. Porém, pode haver diferença no tamanho das mamas, diminuição da produção leite se uma das crianças não sugar eficientemente e recusa dos bebês em mamar na mama do “outro” em caso de necessidade. Se a mãe opta por essa modalidade, então recomenda-se 87 que ela alterne posições de vez em quando para que os olhos da criança ao mamar recebam estímulos semelhantes ao se ela mamasse nas duas mamas. A amamentação simultânea, ou seja, a amamentação de dois bebês ao mesmo tempo economiza tempo e permite satisfazer as demandas dos bebês imediatamente. Além disso, há evidências de que a mulher produz mais leite quando amamenta simultaneamente dois bebês. No entanto, algumas mães (ou bebês) só se sentem prontas para praticar amamentação simultânea algumas semanas depois do parto, após con- seguir manejar algumas dificuldades iniciais, tais como problemas de posicionamento e técnica. Há basicamente três posições para a amamentação simultânea: tradicio- nal, jogador de futebol americano e combinação de ambas. Na posição tradicional, a mãe apoia a cabeça de cada criança no ante- braço do mesmo lado da mama a ser oferecida e os corpos dos bebês ficam curvados sobre a mãe, com as nádegas firmemente apoiadas. Uma variante dessa posição é a do cavaleiro, ou seja, as crianças ficam sentadas nas pernas da mãe, de frente para ela. Na posição de jogador de futebol americano as crianças ficam apoia- das no braço do mesmo lado da mama a ser oferecida, com a mão da mãe apoiando as cabeças das crianças e os corpos mantidos na lateral, abaixo das axilas. A mãe pode amamentar uma das crianças na posição tradicional e a outra na posição de jogador de futebol americano (posições combinadas). Principalmente nos primeiros dias ou semanas, a mãe pode precisar de uma pessoa para lhe ajudar no posicionamento adequado das crian- ças. Assim, essa pessoa deve receber orientação prévia e periódica da equipe de profissionais. Toda criança experimenta períodos de aceleração do crescimento, o que se manifesta por um aumento da demanda por leite. Esse período, que dura de 2 a 3 dias, pode ser mais prolongado em gêmeos. Muitas vezes, as mães de gêmeos, ao vivenciarem essa situação, pensam que não estão sendo capazes de produzir leite suficiente para os bebês e tendem a suplementar com outros leites. Esses períodos podem ser antecipa- dos, diminuindo a ansiedade das mães e preparando-as para uma maior demanda, o que pode significar ajuda e apoio extras. Em geral, ocorrem três episódios de aceleração do crescimento antes dos 4 meses: o pri- meiro entre 10 e 14 dias de vida, outro entre 4 e 6 semanas e um terceiro em torno dos 3 meses. Bebês prematuros podem experimentar vários períodos de aceleração do crescimento nos primeiros meses. 88 Pode-se sugerir que a mãe ou outra pessoa anote as mamadas e o núme- ro de fraldas molhadas e sujas de cada criança. Isso pode ajudar a mãe a verificar se a criança está recebendo leite suficiente. Amamentar plenamente um dos bebês e dar exclusivamente leite artifi- cial ao outro deve ser evitado. Tal atitude pode contribuir para diferen- ças de sentimentos maternos com relação aos seus filhos. Quando um dos filhos não puder ser amamentado, por alguma condição que impos- sibilite o aleitamento materno, a mãe deve ser orientada a aumentar o contato físico com essa criança; pode-se recomendar o Método Canguru, independentemente da idade gestacional da criança. Em resumo, é possível e desejável a amamentação plena de múltiplas crianças.Para isso a mãe deve estar preparada e receber auxílio adicio- nal. O profissional de saúde pode auxiliar a mãe nessa tarefa, aconselhan- do-a desde o pré-natal até o desmame. Saber ouvir, entender, ser empá- tico, oferecer orientações úteis e, sobretudo, respeitar as opções das mães são condições indispensáveis para o sucesso do aconselhamento. Fonte: Brasil (2015, p. 70-73). AMAMENTAÇÃO DE DUAS CRIANÇAS COM IDADES DIFERENTES De uma maneira geral, não há necessidade de a mulher interromper a amamentação de um filho quando nasce um irmãozinho. Ela é capaz de satisfazer as necessidades de ambas as crianças. Se for o desejo da mãe e da criança manter a amamentação após o nascimento de um outro filho, a mulher poderá fazê-lo, desde que não prejudique o recém-nasci- do, que deve ter sempre a preferência para mamar. AMAMENTAÇÃO DE CRIANÇAS COM MALFORMAÇÕES OROFACIAIS É importante que as crianças com malformações orais sejam amamen- tadas, porque o aleitamento materno diminui as infecções do ouvido médio e reduz a inflamação da mucosa nasal causada por refluxo do leite, comum nessas crianças. A amamentação também promove o equilíbrio da musculatura orofacial, favorecendo o adequado desenvolvimento das estruturas do sistema motor-oral, que estão afetadas nessas crianças. Mãe, bebê e família necessitam de auxílio para que a amamentação seja bem sucedida, tanto com relação à técnica da amamentação quanto a aspectos emocionais, pois a aparência da criança pode resultar em sen- timentos de culpa, vergonha e frustração, acarretando consequências emocionais, comportamentais e cognitivas. As incertezas da mãe quanto a sua capacidade de cuidar do filho com dificuldades também podem 89 afetar o vínculo com o bebê. O aleitamento materno favorece maior con- tato entre mãe e filho, colaborando para estreitar o vínculo entre ambos. É comum as crianças com malformações de mandíbula, nariz e boca apresentarem dificuldades para amamentar. Crianças com fissuras que não envolvem o palato têm um grau de dificuldade menor para mamar que as que possuem fissura palatal. A criança com fissura labial que envolve narinas e arcada dentária tem dificuldade de realizar a pega do mamilo e aréola, além da possibilidade de ter refluxo de leite para as narinas. As fendas labiais bilaterais são responsáveis pela perda de con- tinuidade do músculo orbicular dos lábios, comprometendo o vedamen- to anterior durante a amamentação. A fissura somente palatal, também chamada de “goela de lobo”, pode envolver o palato duro, o palato mole ou ambos. As fissuras posteriores pequenas muitas vezes não causam problemas para a amamentação, podendo passar despercebidas por vários dias. Já nas fissuras palatais mais extensas, a língua não encontra apoio para compressão do mamilo e da aréola, limitando a compressão dos seios lactíferos para extração do leite, dificultando a amamentação. As principais dificuldades na amamentação relatadas pelas mães de bebês com malformações orofaciais são: sucção fraca, dificuldade de pega, refluxo de leite pelas narinas, engasgos do bebê, ganho de peso insuficiente, pouco leite, ingurgitamento mamário e trauma mamilar. Tais dificuldades podem ser minimizadas com a expressão manual do leite para amaciar mamilo e aréola; oclusão da fenda com o dedo da mãe, durante a mamada; aplicação de compressas mornas nas mamas para facilitar a saída do leite; posicionamento do mamilo em direção ao lado oposto à fenda; e utilização da posição semi-sentada para o bebê, para evitar refluxo de leite pelas narinas. Na presença de fissuras labiopalatais, a dupla mãe/bebê necessita de orientação constante e de muito apoio por parte de equipe multipro- fissional especializada. Quando a malformação é identificada durante a gestação, a equipe pode iniciar precocemente a orientação aos pais. Quando a mãe recebe apoio efetivo nos primeiros dias de vida, a dura- ção da amamentação da criança com fenda labial é a mesma do que a das crianças sem esse tipo de malformação. Fonte: Brasil (2015, p. 73-74). AMAMENTAÇÃO DE CRIANÇAS PORTADORAS DE DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS Crianças que sofreram asfixia perinatal grave, portadoras de síndromes genéticas, com diversos tipos de infecções congênitas e com malfor- mações do sistema nervoso central podem ter distúrbios neurológicos. Frequentemente elas não têm coordenação motora-oral, dificuldades 90 na deglutição e na sucção, na coordenação de ambas com a respiração, refluxo gastroesofágico, além de eventualmente não aceitarem a ali- mentação, com risco de se desnutrirem. Quando a criança não tem condições de sugar a mama ou tem sucção fraca, a mãe deve ser orientada a realizar a extração manual ou por bom- ba com frequência e oferecer o leite extraído, além de estimular a região perioral da criança e incentivar a sucção introduzindo o dedo mínimo na sua cavidade oral. Se a criança estabelecer coordenação entre sucção, deglutição e respiração, a mãe pode oferecer cuidadosamente o seio, com supervisão profissional. A hipotonia característica das crianças portadoras de síndrome de Down costuma ser um dos fatores que dificultam o aleitamento materno. Assim como nos diferentes distúrbios neurológicos, o acompanhamento cuidadoso da dupla mãe/bebê por equipe multiprofissional, somado a orientações adequadas e ajuda efetiva favorece o estabelecimento e a manutenção do aleitamento materno. Fonte: Brasil (2015, p. 74). AMAMENTAÇÃO DE CRIANÇA COM REFLUXO GASTROESOFÁGICO Uma das manifestações gastrointestinais mais comuns na infância é o refluxo gastroesofágico. Muitas vezes essa condição resolve-se espon- taneamente com a maturação do mecanismo de funcionamento do esfíncter esofágico inferior, nos primeiros meses de vida. Nas crianças amamentadas no peito, os efeitos do refluxo gastroesofágico costumam ser mais brandos que nas alimentadas com leite não humano, devido à posição supina do bebê para mamar e aos vigorosos movimentos peris- tálticos da língua durante a sucção. Os episódios de regurgitação são mais frequentes em lactentes com aleitamento artificial quando compa- rados a bebês amamentados no peito (GIOVANNI, 2000). Assim, é recomendado que a criança com refluxo gastroesofágico rece- ba aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses e comple- mentado até os dois anos ou mais. Fonte: Brasil (2015, p. 74-75). 91 Ao receber alta da maternidade, Juliana e Fernando estão preparados e seguros para voltar para casa com Alice. A permanência em alojamento conjunto deu a oportunidade a Juliana e Fernando de aprenderem muitas coisas sobre o comportamento de Alice, como satisfazer as suas necessidades, quais os cuidados que ela necessita e como amamentá-la. A maternidade onde Alice nasceu cumpre o determinado pela Portaria nº 2.068, de 2016, que institui diretrizes para a organização da atenção integral e humanizada à mulher e ao recém-nascido no Alojamento Conjunto, atendendo os critérios de alta da puérpera e do recém-nascido. AULA 7 - PREPARANDO A MÃE E O BEBÊ PARA A AMAMENTAÇÃO APÓS A ALTA Esta aula tem por objetivo ajudar o profissional a preparar a família e seu bebê para a alta da maternidade. Vamos retomar nosso caso de estudo? 92 COM RELAÇÃO À PUÉRPERA: • Sem intercorrências mamárias como fissura, escoriações, ingurgitamento ou sinais de mastite, e orientada nas práticas de massagem circular e retirada do leite materno; • Bem orientada para continuidade dos cuidados em ambiente domiciliar e referenciada para Unidade Básica de Saúde; • Estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê. COM RELAÇÃO AO RECÉM-NASCIDO: • Com sucção ao seio, com pega e posicionamento adequados, com boa coordenação sucção/deglutição, salvo em situações em que há restrições ao aleitamento materno. • Em uso de substituto do leite humano/fórmula láctea para situações em que a amamentação é contraindicada de acordo com atualização OMS/2009 “Razões médicas aceitáveis para uso de substitutos do leite materno” (http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/69938/WHO_FCH_
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