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R848 Rotinas em mastologia /Carlos H. Menke ... [et al.]. - 2. ed. - Porto Alegre : Artmed, 2007. 272 p. : il. ; 25 cm. ISBN 978-85-363-0734-3 1. Mastologia. 2. Ginecologia. I. Menke, Carlos H. CDU 618.19 Catalogação na publicação: Júlia Angst Coelho - CRB 10/1712 Carlos H. Menke Jorge V. Biazús Nilton L. Xavier José A. Cavalheiro Eliane G. Rabin Ana Bittelbrunn Rodrigo Cericatto em Reimpressão 2007 1 2ª Edição © Artmed Editora S.A., 2006 Capa: Paola Manica Preparação de originais: Bianca Taís Zanini Leitura final: Juliana Cunha da Rocha Supervisão editorial : Letícia Bispo de Lima Projeto gráfico e editoração eletrônica: TIPOS design gráfico editorial Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Angélica, 1091 - Higienópolis 01227-100 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Carlos Henrique Menke Fundador e Chefe do Serviço de Mastologia do HCPA!UFRGS. Professor Adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Doutor em Ciências Médi- cas. Professor Convidado da Faculdade de Medicina de Rosário, Argentina. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia (TEMA). Jorge Villanova Biazús Responsável pelo Setor de Cirurgia Reparadora do Serviço de Mastologia do HCPA/UFRGS. Professor Auxiliar do Departamen- to de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia (TEMA). Autor do livro Cirurgia da mama. Nilton Leite Xavier Responsável pelo Setor de Patologia Benigna do HCPA/UFRGS. Professor Adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Doutor em Ciências Médi- cas. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia (TEMA). José Antônio Cavalheiro Médico contratado do Serviço de Mastologia do HCPA/UFRGS. Responsável pelo Setor de Tratamento Complementar do Serviço de Mastologia do HCPA/UFRGS. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia (TEMA). Eliane Goldberg Rabin Enfermeira responsável pelo Setor de Reabilitação Psicossocial do Serviço de Mastologia do HCPA/UFRGS. Mestranda em Psi- quiatria. • VI AUTORES Ana Cristina Bittelbrunn Médica contratada, responsável pelo Setor de Genética em Cân- cer de Mama do Serviço de Mastologia do HCPA/UFRGS. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela PUCRS. Especialista em Genética Clínica pela Sociedade Brasileira de Genética Clínica ( SBGC ). Rodrigo Cericatto Médico contratado do HCPA/UFRGS. Mestre em Endocrinologia Ginecológica. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasi- leira de Mastologia (TEMA). ' A dignidade e à bravura das 2.600 mulheres que, ao longo de todos estes anos, lutaram contra o câncer de mama no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. ' As nossas famílias, pelo incentivo. Ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre e à Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul, pela acolhida. Aos professores, médicos contratados, residentes, enfermeiros, estudantes e funcionários do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HCPA e do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFRGS, pela amizade. Aos profissionais a seguir, cuja colaboração enriqueceu esta obra: A Angela Erguy Zucatto - Médica mastologista, ginecologista e obstetra. Especialista em Mastologia pela Sociedade Bra- sileira de Mastologia e Associação Médica Brasileira. Mestranda do Grupo de Pesquisa e Pós-graduação em Ciên- cias Médicas da Faculdade de Medicina da UFRGS. Dóris Baratz Menegon - Enfermeira do Serviço de Enferma- gem em Saúde Pública e do Serviço de Dermatologia e coor- denadora do Programa de Prevenção e Tratamento de Feridas do HCPA. Fernando Schuh- Médico mastologista, ginecologista e obs- tetra. Especialista em Mastologia pela Sociedade Brasileira de Mastologia e Associação Médica Brasileira. Mestrando do Grupo de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da UFRGS. Bolsista de Pesquisa do Serviço de Mastologia do HCPNUFRGS. Márcia Portela de Melo - Médica ginecologista e obstetra. Cursista do Serviço de Mastologia do HCPA. ''E as mamas que, suavemente, se levantam como as colinas do paraíso." Canção Estudantil Medieval '~s mamas, para as mulheres, encarnam literalmente a tensão existencial entre Eros e Tanatos - a vida e a morte - em uma forma visível e palpável." Marilyn Yalom, 1997 ' A ª EDI Passados seis anos, vem à luz a 2ª edição de Rotinas em mastologia, e, com ela, mais uma vez, o honroso convite para fazer a sua Apresentação. O tempo decorrido serviu para afirmar o sucesso da 1 ª edição e consolidar, mais ainda, pontos altos do Serviço de Mastologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre: excelência assistencial e acadêmica, espírito de equipe e profundo compromisso insti- tucional. Também, neste período, observando-se a trajetória individual dos autores, constata-se continuado progresso evidenciado, por exemplo, no doutoramento dos professores Carlos H. Menke e Nilton L. Xavier, ambos com larga folha de trabalho a inspirar • • os mais Jovens. A nova edição de Rotinas em mastologia seguiu a mesma con- cepção editorial, o mesmo modelo co-participativo da anterior. Todos os capítulos, os revisados e ampliados e os que se agrega- ram à presente edição, são frutos do trabalho conjunto de todos os autores. E o resultado é o fato de terem conseguido a proeza de fazer melhor o que já era excelente. Sérgio Pinto Machado Presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - APRE ENTA A:: DA 1 ª EDI São muitos os laços afetivos e profissionais que me ligam, de maneira geral, à Ginecologia como disciplina e, especificamen- te no nosso Hospital, ao Serviço de Ginecologia e Obstetrícia e ao novel Serviço de Mastologia. Isso deve ter tido alguma in- fluência no honroso convite para redigir a Apresentação desta importante e oportuna obra, Rotinas em mastologia. A mastologia como práxis - de assistência, ensino e pesquisa - desenvolve-se há 25 anos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Como um de nossos Serviços, constituiu-se em março de 1997. Naquela ocasião, coube-me a ventura de conduzir admi- nistrativamente sua criação oficial. Não menos significativa foi para mim a oportunidade de designar seu primeiro chefe, o pro- fessor Carlos Henrique Menke, exemplo de competência, dedi- cação e respeito. A equipe técnica, hoje em atividade, autora do presente livro é composta pelos professores Carlos H. Menke, Jorge V. Biazús e Nilton L. Xavier, pelo médico contratado José A. Cavalheiro, pela enfermeira Eliane G. Rabin, pela Dra. Ana Bittelbrunn, pelos Drs. Rodrigo Cericatto e Roberto K. Amoretti e, no dizer do pro- fessor Menke, ''mais todo o HCPA e a Faculdade de Medicina''. Sem dúvida, trata-se de um grupo que consegue bem marcar sua individualidade, ao mesmo tempo em que se integra har- moniosamente ao conjunto de nossas instituições maiores. Rotinas em mastologia é expressão marcante das características e do perfil do Serviço: funda-se na experiência de seus compo- nentes, com suas especificidades e diversidades, e resulta em um todo homogêneo, com um patamar de alta qualidade assis- tencial e acadêmica. Quem consultar esta obra, portanto, terá ao seu alcance informações sérias, confiáveis, com a marca de quem realmente conhece seu ofício e faz questão de disseminar, ao maior número possível de pessoas, o conhecimento adquirido e sistematizado em vários anosde destacado trabalho. Sérgio Pinto Machado Presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre , ' PREFA,_,,,_I:: A ª EDI Aqui estamos, seis anos depois, lançando a 2ª edição do Rotinas em mastologia. Nesse período, ocorreram significativos avanços na especialidade, e o interesse pelo câncer de mama cresceu de forma impressionante, tanto em nível médico como em leigo. As estatísticas do Instituto Nacional do Câncer para 2006 são impactantes, com quase 50 mil novos casos no Brasil, sendo que o Rio Grande do Sul e, especialmente, a região metropolitana de Porto Alegre apresentam elevadíssimas taxas brutas de inci- dência e mortalidade. Os tumores que nos chegam para trata- mento continuam avançados, e o seu tamanho médio, nos últi- mos anos, é de 2,8 cm. Foi assim que essa neoplasia se tomou o problema de saúde pública número um para a mulher brasileira e para milhares de profissionais da área. Esse interesse e a excelente acolhida do primeiro Rotinas em mastologia nos animaram a trazer à luz esta 2ª edição, alvo de consideráveis aperfeiçoamentos - quase um novo livro. A rápida evolução da Mastologia determinou mudanças no diagnóstico e manejo do câncer mamário, principalmente no ramo da biologia molecular, o que nos levou a remodelar a obra. Atualizamos conteúdos e acrescentamos novos capítulos, como os do linfonodo sentinela, da lesão não-palpável e do aconse- lhamento genético. Mantivemos, no entanto, a mesma linha editorial: um livro prático, de consulta rápida, não para ser internado em estante de biblioteca, mas para tornar-se ''ambulatório'', carregado por estudantes e residentes, servindo também de guia ágil, um tira- dúvidas até para os mais experientes. O gineco-obstetra é um dos grandes destinatários deste texto por ser o principal responsável pela prevenção secundária e pelo diagnóstico precoce do câncer de mama na mulher. Recentemente, os médicos generalistas e de família também se engajaram nessa batalha e, muito bem-vindos, podem buscar aqui informações para o seu cotidiano. Continuamos com a orientação inicial de que esta obra repre- senta o trabalho de toda a equipe do Serviço de Mastologia, sendo a única publicação brasileira, na especialidade, com essa característica. Reflete, em grande parte, a experiência de um grupo que vem atuando junto há 32 anos em uma instituição de ponta, que é o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. XViii PREFÁCIO A 2ª EDIÇÃO Ao folhearem estas páginas, vocês certamente sentirão, permeando-as, um pouco do amor, do orgulho e da amizade que nos une. Os autores , PREFA,_,,,_I:: DA 1 ª EDI Este livro tem uma característica ímpar e outra sentimental. , Impar porque não conhecemos nenhuma publicação, na especia- lidade, escrita por um único grupo que trabalha junto há tanto tempo, pois, quase invariavelmente, os livros de mastologia re- sultam de colaborações individuais, de experiências diversas, reunidas em capítulos por um coordenador-editor. Sentimental porque é o fruto de um trabalho acumulado ao longo de um quarto de século e lançado justamente no momento em que comemoramos o nosso 25° aniversário. O lema ''um por todos, todos por um'' é mais do que verdadei- ro neste Rotinas em mastologia, porque todos os capítulos contêm as sugestões, o amadurecimento e a revisão crítica de toda a equipe. Mais do que tudo, representam as nossas condutas as- sistenciais e de pesquisa, desenvolvidas e consolidadas nas últi- mas duas décadas e meia dentro destas duas instituições estimu- lantes e modelares: a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Muitas informações aqui contidas terão vida curta, viti- madas pela constante evolução da ciência; outras, no entanto, ficarão, solidamente avalizadas e consagradas. Dentro desse espírito, foi nossa intenção escrever o Rotinas de maneira simples e concisa para que atenda às necessidades daqueles colegas que desejam consultas rápidas e objetivas: estu- dantes, residentes, ginecologistas, obstetras e até mesmo mas- tologistas que queiram resolver uma dúvida ou buscar uma con- sultoria. Se, um dia, nos corredores de um hospital ou em uma sala de aula, avistarmos um residente ou um acadêmico com o Rotinas em mastologia debaixo do braço, poderemos dizer que a nossa meta foi alcançada. Carlos H. Menke ACO AEM AFBM AINE ANDI ASCO BCPT BIRADS BP Ca CASA CAT-D cc CDI CDIS CDI-SOE CEA CLIS CP EGF FA FDA FSH GCPD HCG HPL INCa IPVN LgFl LH MAR MBR MCA MMG MRM MS MT N - Anticoncepcionais orais -Auto-exame das mamas - Alterações funcionais benignas da mama - Antiinflamatório não-esteróide - Alteração do normal desenvolvimento e involução da mama - American Society of Clinica! Oncology - Breast Cancer Prevention Triai - Breast Imaging Reporting and Data Systems - Biópsia percutânea - Carcinoma - Cancer associates serun antigen - Catepsina-D - Craniocaudal - Carcinoma ductal invasor - Carcinoma ductal in situ - Carcinoma ductal invasor sem outra especificação - Carcinoembryonic antigen - Carcinoma lobular in situ - Citopatologia - Epithelial growth factor - Fibroadenoma - Food and Drug Administration - Hormônio folículo-estimulante - Gross cystic disease protein - Gonadotrofina coriônica humana - Hormônio lactogênico placentário - Instituto Nacional do Câncer " - Indice Prognóstico de Van Nuys - Insulin-like growth factor - Hormônio luteinizante - Margens de alto risco - Margens de baixo risco -Mucin-like carcinoma associates antigen - Mamografia - Mastectomia radical modificada - Mastectomia simples - Marcadores tumorais -Axila •• XXII ABREVIATURAS NSABP PO PS PSA PTH-rP QT RE RMM RP RT SERM T TAM TC TF TGF-a TGF-~ Tis TNF-a TNM TPS TRAM TRH TSG UICC us - National Surgical Adjuvant Breat Project - Pós-operatório - Papiloma simples - Antígeno prostático específico - Peptídeo tumoral/relacionado ao paratormônio - Quimioterapia - Receptores estrogênicos - Ressonância magnética mamária - Receptores de progesterona - Radioterapia - Selective estrogen receptor modulator -Tumor - Tamoxifeno - Tomografia computadorizada - Tumor filodes - Transforming growth factor-a - Transforming growth factor-~ - Tumor in situ - Serum tumor necrosis factor-a - Tumor, linfonodo, metástase - Tissue polypetide-specific antigen - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo abdominal - Terapia de reposição hormonal - Terapia de substituição glandular - União Internacional contra o Câncer - Ultra-sonografia 1 Anatomia, evolução e involução da mama I 25 2 Anomalias do desenvolvimento mamário I 35 3 Diagnóstico clínico I 43 4 Diagnóstico por imagem I 49 5 Punções e biópsias mamárias I 59 6 Conduta em nódulos de mama / 67 7 Conduta nos derrames papilares I 71 8 Conduta nas lesões mamárias não-palpáveis I 75 9 Processos inflamatórios da mama / 89 1 O Alterações funciona is benignas da mama I 103 11 Tumores benignos da mama / 109 1 2 Carcinoma intraductal e lesões de alto risco I 119 1 3 Etiologia e história natural do câncer de mama / 129 14 Epidemiologia, fatores de risco e aconselhamento genético I 135 1 5 Manejo do paciente de alto risco genético I 143 1 6 Classificação histológica e fatores prognósticos I 149 1 7 Estadiamento clínico e seguimento I 163 Caique Duarte Caique Duarte Caique Duarte Caique Duarte Caique Duarte 24 SUMÁRIO 18 Tratamento do câncer de mama/ 169 1 9 Tratamento cirúrgico do câncer de mama/ 175 2 O Linfonodo sentinela I 193 21 Radioterapia I 203 2 2 Quimioterapia e hormonioterapia I 209 2 3 Complicações clínicas do câncer de mama I 221 24 O câncer de mama em situações especiais I 231 2 5 Manejo de feridas no câncer de mama I 245 2 6 Reabilitação psicofísica e social I 249 Referências I 2 59 Índice I 267 ANAT~ EINV::L ........ Embriologia / 25 Desenvolvimento da mama / 26Mama adulta/ 27 Anatomia / 28 Vascularização da mama / 29 A mama e o ciclo menstrual/ 31 A mama na gestação e na lactação / 32 Puerpério I 33 A mama no climatério / 33 IA, EV: : L"""" - A: DA EMBRIOLOGIA A mama é considerada uma glândula sudorípara modificada coberta por pe le e por tecido subcutâneo, e seu desenvolvimento inicia precocemente na vida embrionária. Entre a quinta e a sexta semanas, desenvolve-se um espessamento ectodérmico em forma de linha longitudinal, de cada lado, na parte ventral do embrião, a chamada linha láctea. Da sétima à oitava semana, a linha láctea, que se estende da região axilar à região inguinal, regride em quase toda sua extensão, exceto a de localização torácica. A falha nessa regressão resulta em tecido mamário ectópico, que ocorre em 2 a 6% das mulheres. Quando há regressão da linha láctea (Figura 1.1 ), inicia-se, na área de espessamento epidérmico (local da mama definitiva), uma proliferação celular. Essa proliferação invade o mesoderma subjacente, formando o primórdio papilar. Por volta da 16ª semana, ocorre o crescimento de 15 a 25 cordões maciços para dentro do tecido conjuntivo dérmico com regressão do primórdio papilar e formação do primórdio ductal e da bolsa papilar. Da 20ª à 30ª semana, o primórdio ductal continua proliferan- do e sofre o processo de canalização, o qual permeabiliza os anti- gos cordões maciços que se exteriorizam, agora, através da bolsa papilar. Por volta da 30ª à 32ª semana, a bolsa papilar regride, forman- do o complexo areolopapilar, e o primórdio ductal proliferado dá origem ao primórdio lobular. Entre a 32ª e a 40ª semana, ocorre diferenciação das estru- turas lobulares, que podem conter colostro, há aumento no volume de tecido mamário em até quatro vezes e pigmentação do complexo areolomamilar. 26 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA Figura 1.1 Linha láctea. - ' • 11 ' • 1 1 1 1 ' • \ • 1 1 V -..... I ' I ,• I' ,, \i ' I , ., • • ' ' • 1 • ' ' • , ' • ' 1 1 • Na maioria dos neonatos, masculinos e fe- mininos, ocorre secreção de colostro de 3 a 7 dias pós-parto (''leite de bruxa''). Essa secreção diminui em 3 a 4 semanas com a queda gradual dos hormônios placentários. As mamas dos neonatos masculinos e f emi- ninos são idênticas, com estruturas dueto-al- veolares rudimentares, mas com duetos pérvios. Os duetos desembocam nos cerca de 1 S a 20 óstios localizados na papila, número correspon- dente ao de lobos mamários. Durante a infân-. , eia, as mamas permanecem em repouso ate que novos estímulos reiniciem seu desenvolvimento. DESENVOl.VIMENTO DA MAMA O desenvolvimento da mama ocorre por ocasião da puberdade, entre os 1 O e os 12 anos de idade. Nessa fase, acontece o amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, com produção e liberação hormonal. Os hormônios agem nos órgãos genitais e nas mamas, ocasionando seu desenvolvimento. Devido à ausência de ciclos ovulatórios no começo da puberdade, há, inicialmente, predo- mínio dos estrógenos sobre a progesterona. Os estrógenos promovem o crescimento longitudi- nal e a ramificação do sistema ductal, bem co- mo o desenvolvimento do tecido conjuntivo pe- riductal, a vascularização e a deposição de teci- do gorduroso e a pigmentação da aréola e da papila. Com os ciclos ovulatórios, os níveis de progesterona aumentam e, juntamente com os estrogênios, promovem o desenvolvimento dos ramos terminais do sistema ductal, formando os alvéolos. O desenvolvimento mamário, nessa fase, foi dividido por Tanner em cinco etapas, conforme as características morfológicas e sua relação com marcos importantes do desenvolvi- mento dos caracteres sexuais secundários, co- mo a menarca, a pubarca e o estirão puberal (Figura 1.2). O primeiro estágio de Tanner ( Ml) corres- ponde à elevação somente da papila, não se pal- pando tecido glandular, nem havendo pigmen- tação areolar; é também chamado de estágio pré-puberal. No segundo estágio da classifica- ção de Tanner (M2), ocorre o aparecimento do broto ou botão mamário (telarca), que corres- ponde à elevação discreta da mama e da papila, com aumento do diâmetro areolar. Em geral, a telarca, que constitui a primeira manifestação da puberdade nas meninas, se dá em torno dos 1 O a 11 anos de idade, seguindo-se, dentro do mesmo ano, o início do crescimento dos pêlos pubianos (pubarca). A menarca, que correspon- de à primeira menstruação, ocorre, em média, 2 a 3 anos após a telarca. No terceiro estágio da classificação de Tanner ( M3), há aumento do tecido glandular palpável e do diâmetro e da pigmentação da aréola, man- tendo-se os contornos da aréola e da mama. É nessa fase que se dá o estirão puberal, sendo que a menarca ocorrerá dentro de um ano. No quarto estágio (M4 ), que corresponde, em mé- dia, à faixa dos 12 aos 13 anos, há aumento da aréola e de sua pigmentação. O complexo areo- lomamilar (CAM) projeta-se e separa-se do contorno da mama. Essa fase é concomitante • , ""--- _,,,., Figura 1 .2 1. Pré-puberal li. Botão mamário Ili. Crescimento contínuo IV. Aréola e papila formam elevação secundária V. Mamas femininas maduras; desenvolvimento da elevação secundária da aréola e da papila Estágios do desenvolvimento mamário conforme a classificação de Tanner. à menarca. O quinto estágio de Tanner ( M5) é a fase de desenvolvimento final, em que há o nivelamento do CAM ao contorno da mama, com projeção exclusiva do mamilo. ROTINAS EM MASTOLOGIA 27 MAMA ADUl.IA A mama adulta está localizada na parede ante- rior do tórax entre a segunda e a sexta costelas no eixo vertical e entre a borda do esterno e a linha axilar anterior no eixo horizontal. Na por- ção súpero-externa, o tecido mamário estende- se cranialmente em direção à axila, f armando um prolongamento mamário chamado cauda de Spence. A mama é composta por três estruturas: pele, tecido subcutâneo e tecido mamário. A pele é a estrutura de sustentação da ma- ma, sendo semelhante a do restante do corpo. Apresenta folículos pilosos, glândulas sudorí- paras e sebáceas e é diferenciada em sua parte central, onde forma o complexo areolomamilar. A aréola está situada na altura do quarto espaço intercostal em mamas não-pendulares e tem, em média, de 3 a 6 cm de diâmetro. Os tubérculos de Morgagni, localizados na periferia da aréola, são elevações f armadas pela abertura dos duetos das glândulas de Montgomery. Essas são glândulas sebáceas que aumentam durante a gestação e produzem secreção para lubrificar e proteger a papila. A papila, ou o mamilo, é uma f armação cilíndrica situada no centro da aréola, que possui de 15 a 20 óstios, nos quais desembocam os condutos galactóforos. O com- plexo areolomamilar possui uma fina camada muscular, responsável pela ejeção da secreção dos seios galactóf oras e pela ereção da papila, e uma rica rede de terminações nervosas sensi- tivas. O tecido mamário é composto por parênqui- ma e estroma. O parênquima, a glândula pro- priamente dita, é formado pelo sistema ductal e lobular, envolto pelo estroma, o qual é formado por tecido gorduroso, conjuntivo, vasos e nervos. O parênquima é dividido em 15 a 20 seg- mentos ou lobos, que drenam através de duetos coletores em direção à papila. Esse conjunto obtém configuração muito semelhante a uma ''couve-flor invertida''. Cada lobo é composto por 20 a 40 lóbulos (unidade morfofuncional da mama), e cada lóbulo é formado por 10 a 100 alvéolos. O sistema ductal é composto por um dueto coletor principal, formado por vários pequenos dúctulos intra e extralobulares. O dueto principal drena em direção à papila, on- 28 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA de se dilata, formando o seio galactóforo, em número de 10 a 20, e desembocando nos respec- tivos óstios da papila (Figura 1.3). ANATOMIA O tecido glandular está envolto e entremeado por tecido adiposo. Este é geralmente mais fino nos quadrantes superiores da mama e maises- pesso nos inferiores, sendo importante no mo- mento da cirurgia, quando se deve realizar um retalho cutâneo mais fino na parte superior da mama, evitando que permaneçam duetos junto à pele. Clavícula Pele Entre as estruturas fasciais, duas merecem destaque: a fáscia superficial e a fáscia do mús- culo grande peitoral. A f ás eia superficial divide- s e em dois folhetos, anterior e posterior, e enve- lopa toda a mama. As trabéculas fasciais que cruzam o parênquima mamário e unem as duas fáscias constituem os ligamentos de Cooper. Esses ligamentos, por estarem unidos à fáscia e, conseqüentemente, à derme, são os responsá- veis pela retração de pele quando estão compro- metidos por tumor ou fibrose peritumoral. O folheto posterior da fáscia superficial recobre a parte posterior da mama e está em contato dire- to com a fáscia do músculo peitoral. Essa fáscia, que envolve o músculo peitoral e insere-se na Cápsula superficial da fáscia Tecido adiposo e ligamentos suspensores Figura 1 .3 Costelas - ..... Espaço retromamário \ (lâmina de Chassaignac)I r,,./ . Í'. - ,, \ / ., //,. · ~,,_.... \ ' l Estrutura da mama. Tecido celular subcutâneo Seio lactífero Glândulas areolares · Dúctulo Tecido conjuntivo e adiposo Cápsula profunda da fáscia I clavícula, no deltóide e na borda medial does- terno, tem grande importância, pois deve ser ressecada nas cirurgias por câncer. VASCLJLARIZAÇÃO DA MAMA Irrigação arterial A irrigação arterial da mama deriva, principal- mente, da artéria torácica interna (também chamada mamária interna) e da artéria torácica lateral (mamária externa) (Figura 1.4 ). A torácica interna é ramo da artéria subclá- via, a qual emite ramos perfurantes que emer- gem do primeiro ao sexto espaços intercostais e irriga aproximadamente 60% da mama, prin- cipalmente sua parte medial e central. A mamá- ria interna também emite ramos mediastínicos e esternais entre outros, e, na altura do sexto espaço intercostal, divide-se na artéria muscu- lofrênica e na epigástrica superior. A artéria epi- gástrica superior corre junto ao músculo reto abdominal e, na cirurgia de reconstrução ma- mária com retalho miocutâneo abdominal (TRAM), ela é a responsável pela nutrição do retalho. A artéria torácica lateral, ramo da axilar, é responsável por aproximadamente 30% da irri- gação da mama, principalmente em sua parte ,,. supero-externa. As artérias intercostais posteriores, ramos da subclávia (os dois primeiros) e da aorta (do 3° ao 11° ramos), cruzam o músculo peitoral e irrigam a face profunda da mama, indo anas- , . . . . tomosar-se com as arter1as mtercosta1s anteno- res (ramos da torácica interna). Outras artérias que também irrigam a ma- ma, mas de menor importância, são as artérias toracoacromial, toracodorsal e subescapular. Drenagem venosa Todos os ramos arteriais citados anteriormente possuem um correspondente venoso responsá- vel pela drenagem sangüínea da mama. Cabe aqui ressaltar a importância da rede venosa na ROTINAS EM MASTOLOGIA 29 disseminação de células tumorais pelo organis- mo, a disseminação hematogênica. As principais vias de disseminação são a veia axilar, a veia mamária interna e as intercostais, que drenam a área mamária, estabelecendo conexão com a circulação sistémica. Drenagem linfática A drenagem linfática é feita por plexos superfi- ciais e profundos. O plexo subepitelial da mama comunica-se com o plexo subdérmico e com o plexo subareolar de Sapey (que drena a aréola e o mamilo). Esse sistema superficial é avalvu- lado e seu fluxo direciona-se ao plexo profundo da mama ( intraparenquimatoso e subcutâneo profundo). Do plexo profundo, ocorre a drena- gem da linfa preferentemente para a axila ( 95% da drenagem) - e para a cadeia da mamária in- terna, responsável por pequena parte da drena- gem, principalmente da parte medial da mama. Li nf on o dos axilares Os linfonodos axilares são divididos em grupos: • GRUPO APICAL OU SUBCLAVICULAR - encon- trado medialmente ao músculo pequeno peitoral, no ápice axilar. • GRUPO DA VEIA AXILAR- localizado ao longo da veia axilar entre o músculo pequeno peitoral e o limite lateral da axila. • GRUPO INTERPEITORAL OU DE ROTTER- locali- zado entre os músculos peitorais. • GRUPO SUBESCAPULAR - localizado na pa- rede posterior da axila, sobre o músculo subescapular. • GRUPO CENTRAL- localizado na gordura do centro da axila (é o mais facilmente pal- pado no exame físico). • GRUPO DA MAMÁRIA EXTERNA - localizado junto à parede interna da axila, acompa- nhando o trajeto da mamária externa. 30 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA . . Figura 1.4 Anatomia cirúrgica da mama. Veia axilar 1 '!-' i':' ; · l f/ 1 ; 1, I I .. , ; ; . / ' ... ,. / 1 .,. / .... Músculo abdominal oblíquo externo Normalmente é neste grupo que se iden- tifica o linfonodo sentinela. Os linf onodos axilares também podem ser divididos em três níveis, conforme a classifica- ção de Berg: • NÍVEL 1: inferiormente à borda lateral do músculo pequeno peitoral. • NÍVEL 2: atrás do músculo pequeno peito- ral. Artéria e veia tor~c ica lateral Músculo grande dorsal Nervo torácico longo Músculo serráti l anterior • NÍVEL 3: superiormente à borda do múscu- lo pequeno peitoral. A disseminação linfática do carcinoma geralmente é ascendente, atingindo primeiro o nível 1 e, por fim, o nível 3 (grupo subclavicular). Linfonodos da torácica interna Localizam-se nos espaços intercostais da região paraestemal, na gordura extrapleural próxima aos vasos mamários internos. Responsáveis por aproximadamente 3% da drenagem linfática da mama, sua exploração cirúrgica não é realizada como regra devido à morbidade e à pouca apli- cação clínica. Alguns protocolos de pesquisa têm avaliado cirurgicamente o linf onodo senti- nela da mamária interna quando este destaca- se na linf ocintilografia pré-operatória. Musculatura e inervação Os músculos importantes na região da mama são o pequeno e o grande peitoral, o serrátil anterior e o grande dorsal. O músculo grande peitoral está em contato com a maior parte da face profunda da mama. Suas fibras partem da clavícula, do esterno e das cartilagens costais, convergindo em direção à axila e inserindo-se no canal bicipital do úme- ro. Inervado pelo nervo do grande peitoral e o ramo do plexo braquial, age na flexão e na adução do úmero. Essas funções estão debi- litadas na cirurgia radical da mama (cirurgia de Halsted). O músculo pequeno peitoral está sob o gran- de peitoral e insere-se no processo coracóide da escápula. Inervado pelo nervo do pequeno peitoral, age auxiliando os movimentos de rota- ção do ombro. Na mastectomia radical modifi- cada de Pattey, ele é ressecado, facilitando o acesso ao ápice axilar. O serrátil anterior origina-se lateralmente nos oito primeiros arcos costais, inserindo-se na borda medial da escápula. Inervado pelo ner- vo torácico longo ou nervo de Bell, sua função é tracionar para baixo e estabilizar a escápula na parede torácica. Esse nervo é ramo do plexo braquial, cruza os vasos axilares e corre junto à parede torácica. Quando acontece a secção aci- dental do nervo de Bell na cirurgia, ocorre atro- fia muscular com perda da força do ombro e desestabilização da escápula, conhecida como escápula alada. O músculo grande dorsal origina-se nos pro- cessos espinhosos das últimas vértebras toráci- cas, das vértebras lombares, do sacro e da crista ilíaca, inserindo-se no úmero. Inervado pelo nervo toracodorsal, ramo do plexo braquial, seu ROTINAS EM MASTOLOGIA 31 rebordo faz o limite lateral na dissecção do cavo axilar, sendo importante sua identificação na cirurgia da axila, juntamente com o seu feixe vasculonervoso que corre na parte interna da borda lateral do músculo. O músculo grande dorsal tem importante utilidade nas reconstru- ções mamárias. Pode-se utilizá-lo como retalho cutaneomuscular para recobrir próteses desili- cone ou mesmo isoladamente, para reparar mastectomias ou grandes quadrantectomias. Os músculos retos abdominais também são ou- tra opção muito utilizada nas reconstruções mamárias com retalhos miocutâneos. A superfície cutânea da mama é inervada pelos nervos intercostais. O segundo e o terceiro intercostais emitem um ramo perfurante lateral que cruza a axila paralelamente à veia axilar, dirigindo-se para o braço, chamado nervo in- tercostobraquial (Figura 1.5). Ele inerva a face interna do braço e, quando seccionado durante a dissecção axilar, causa parestesia da região. A MAMA E O CICl .. O MENSTRUAI .. As mudanças cíclicas dos níveis de hormônios sexuais durante o ciclo menstrual têm grande repercussão na mama. Assim como a resposta endometrial à variação hormonal, o ciclo ma- mário pode ser dividido em fases: proliferativa, secretora e involu tiva. Na fase folicular do ciclo, ocorre a prolifera- ção do epitélio mamário sob a ação de estróge- nos principalmente. Após a ovulação, na fase luteal, a progesterona, produzida pelo corpo lú- teo, promove a dilatação dos duetos e a diferen- ciação das células alvéolo-ductais em secreto- . / ras, e, Juntamente com os estrogenos, promove outro pico de atividade proliferativa. Nos 3 a 4 dias pré-menstruais, a mama tem o seu fluxo sangüíneo aumentado, com acúmu- lo de secreção intraductal e edema interlobular, responsáveis pelo aumento e pelo desconforto mamário característicos dessa etapa. Com o início da menstruação, há uma queda dos níveis hormonais e uma regressão de todo o processo instalado. Assim, a mama apresenta seu menor 32 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA volume do quinto ao sétimo dias do ciclo. O ciclo mamário reinicia com o aumento dos ní- veis de estrogênios em nova fase folicular. A MAMA NA GESTAÇÃO E NA 1 ACTAÇÃO A mama, durante a gestação, é submetida à in- tensa ação hormonal dos mesmos hormônios que a formaram estruturalmente e que agora a de- senvolvem para sua função mais nobre, a ama- mentação. Além de estrogênios, progesterona e prolactina, há aumento nos níveis de HCG (go- nadotrofina coriônica), HPL (hormônio lactogê- nico placentário), hormônios tireoidianos e in- sulina, os quais atuam juntos com o objetivo de desenvolvimento e de maturação plenos da mama. Logo na terceira e quarta semanas de gesta- ção, se inicia a proliferação e o crescimento de dúctulos, bem como a formação lobular, sob ef ei- to estrogênico. Entre a quinta e a oitava semanas, já se evidencia aumento significativo das mamas, com dilatação de veias superficiais e aumento da pigmentação do complexo areolomamilar. Durante o segundo trimestre, continua a proliferação dueto-alveolar e se inicia o processo Figura 1.5 Inervação da axila: intercosto- braquial, toracodorsal e longo torácico. de secreção, evidenciado pela presença de co- lostro nos alvéolos. O colostro já pode ser se- cretado pela mama no segundo trimestre. O au- mento da mama, a partir da 20ª semana, resulta da dilatação dos alvéolos com secreção e hiper- trofia do tecido conjuntivo e gorduroso. Ocor- rendo interrupção da gestação, a partir da 16ª semana, a lactação pode ocorrer. No terceiro trimestre, intensificam-se os fe- nômenos secretórios, com acúmulo de lipopro- teínas e ácidos graxos. O fluxo sangüíneo au- menta em até duas vezes, há edema extracelu- lar e maior volume mamário. Os tubérculos de Montgomery estão mais proeminentes na peri- feria da aréola, e as veias superficiais da mama, o plexo vascular de Haller, estão bastante dilata- das e visíveis. A prolactina aumenta gradualmente duran- te a gestação e, no terceiro trimestre, apresenta níveis até cinco vezes maiores do que os pré- gravídicos. A prolactina auxilia os estrogênios e a progesterona no desenvolvimento e na dife- renciação dueto-alveolar e estimula a secreção dos ácinos. Durante a gestação, os altos níveis de estrógenos e de progesterona diminuem o número de receptores de prolactina, bloqueando seu efeito nos alvéolos e inibindo a produção de leite. O HPL é semelhante à prolactina, mas tem maior atuação no desenvolvimento da mama do que na lactogênese, bloqueando os receptores da prolactina na gestação. Assim, há apenas a produção de colostro durante a gestação, com- posto por epitélio descamado e transudato. PlJERPÉRIO Após o parto, ocorre queda súbita nos níveis de estrógenos, progesterona e HPL, permitindo a ação da prolactina nos receptores celulares gradativamente livres. A prolactina estimula a síntese de RNA para produção de proteínas do leite e aumenta a atividade de enzimas neces- sárias para a síntese de lactose e outros com- ponentes específicos do leite. Inicialmente, ocorre a secreção de colostro, mais espesso e amarelado, que se toma fluido e seroso, rico em lactoglobulinas. No segundo ou no terceiro dia, as mamas tomam-se maiores e ingurgita- das, devido ao acúmulo de secreções e à estase linfática. Nesse período, se dá o início da secre- ção de leite transicional ( colostro e leite) na pri- meira semana, adquirindo características defi- nitivas mais tardiamente. Independentemente da sucção mamilar, o leite é secretado durante as duas primeiras se- ROTINAS EM MASTOLOGIA 33 manas, período de níveis elevados de prolacti- na. Para a continuidade do processo, é funda- mental a sucção. Ela estimula fibras sensoriais do complexo areolomamilar que, via hipotála- mo-hipófise, mantêm os níveis de prolactina e de ocitocina necessários para a produção e a ejeção do leite. A MAMA NO CLIMATÉRIO O climatério é definido como a fase de transição entre o período reprodutivo e o não-reprodutivo na vida de uma mulher. A menopausa é um marco dentro dessa fase de transição, havendo a cessação permanente da menstruação. A ida- de média da menopausa é de 50 anos, sendo chamada de precoce quando se estabelece antes dos 40 anos e, de tardia, após os 55 anos. A partir dos 30 a 35 anos, a mama começa a sofrer, em grau e velocidade variáveis para cada mulher, o processo fisiológico da lipossubsti- tuição. Inverte-se, progressivamente, a propor- ção parênquima/gordura até que, na senectude, há adiposidade quase total. O lóbulo mamário entra em involução crescente, o revestimento cutâneo torna-se flácido, havendo a natural ptose das mamas. Esses fenômenos involutivos do lóbulo são tipicamente representados pelo As estruturas citadas a seguir compõem os limites na dissecção da axila e formam um triângulo cuja base (veia axilar) está voltada para cima: • limite lateral: borda do músculo grande dorsal e seu feixe vasculonervoso; • limite profundo: fossa subescapular, coberta pelo músculo subescapular; • limite medial: gradeado costal, onde corre o nervo de Bell, em sentido caudal ; • limite cranial: veia axilar. São importantes a identificação e a preservação de estruturas como o nervo de Bell, que inerva o músculo serrátil anterior e estabiliza a escápula. A lesão desse nervo provoca a conhecida escápula alada. O nervo intercostobraquial cruza o conteúdo axilar paralelamente à veia axilar e, quando seccionado, causa parestesia da face interna do braço. O feixe vasculonervoso do músculo grande dorsal deve ser preservado quando se pretende realizar reconstrução com esse músculo. 34 ANATOMIA, EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO DA MAMA aparecimento dos micro e macrocistos, que cos- tumam regredir espontaneamente na pós-me- nopausa. Esses cistos, além da ansiedade gera- da pela formação de uma área nodular, podem ocasionar mastalgia de significado clínico. Ou- tras alterações aparecem nessa fase: a involu- ção ductal, que determina retrações mamila- res; a fibrose estromal; a dilatação dos duetos ou ectasia ductal, que pode vir a infectar-se; e as hiperplasias ductal e lobular simples, cujo grau máximo são as hiperplasias atípicas, lesões pré-malignas. Também são mais comuns no cli- matério o papiloma intraductal, a necrose gor- durosa e o tumor filodes. AN : : ALIA,,,,,,., D r' .. ... , DEENV:: LVI ENT: ...... ARI:: Anomalias congênitas I 35 Anomalias adquiridas / 38 As anomalias do desenvolvimento mamário podem ser divididas em congênitas, adquiridas e secundárias a alterações endócrinas: • Ial - Anomalias congênitas (mastogênese anômala): - Amastia - Amazia - Hipomastia - Simastia - Atelia - Politelia - Polimastia - Síndrome de Polland • Ia2 - Anomalias adquiridas/distúrbios endócrinos: - Hipomastia - Hipertrofia - Gigantomastia - Ginecomastia - Telarca precoce ANOMAl .. IAS CONGÊNITAS Amastia Corresponde à ausência congênita de todas as estruturas mamá- rias, podendo ser uni ou bilateral. A amastia unilateral é mais comum. Resulta da falha do desenvolvimento da linha láctea durante a sexta semana embrionária ou de sua completa invo- lução. Geralmente, está associada a outras lesões anatômicas; entre as já descritas, pode-se citar: fenda palatina, hiperteloris- 36 ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO mo e nariz em sela, anomalias da musculatura peitoral, da ulna, da mão, do pé, das orelhas e do trato geniturinário. Amazia "' E a ausência adquirida ( iatrogênica) - mais co- mum - ou congênita do tecido mamário, com a presença do complexo areolomamilar (CAM). Assim como a amastia, é um achado clínico ex- tremamente raro. A forma iatrogênica é conse- qüência, em geral, de cirurgias, de trauma ou de queimaduras sobre o botão mamário, impe- dindo o desenvolvimento da mama no período puberal. Hipomastia (h ipotrofia/hi poplasia) Há desenvolvimento incompleto da mama, po- dendo ser uni ou bilateral; pode ter origem con- gênita, endócrina ou adquirida (trauma, cirur- gia, queimadura, radioterapia, iatrogenia). Não costuma responder a tratamento hormonal (Fi- gura 2.1 ). O tratamento proposto para os casos de amastia, amazia e hipomastia corresponde à in- clusão de próteses de silicone diretamente ou após o uso de expansores de tecido. Simastia Corresponde à confluência medial das mamas, ou seja, uma ponte de tecido na linha média une as duas mamas. Está associada a mamas hipertróficas, geralmente simétricas. Tem ori- gem congênita. É observada, em geral, nas pa- cientes que procuram o cirurgião plástico para mamoplastias redutoras. O seu tratamento é cirúrgico, utilizando técnicas de cirurgia plás- tica. Atei ia "' E a ausência do complexo areolomamilar, de extrema raridade. Politelia ou mamilos , . supranumerar1os ou mamilos acessórios "' E a alteração congênita mais comum, da mes- ma forma que a polimastia (mamas supranu- merárias) ocorre no trajeto da ''linha do leite''. Com maior freqüência, é encontrada na região do abdome superior e, em 50% dos casos, são bilaterais. A politelia pode estar associada a ou- tras alterações congênitas, como anomalias ver- tebrais, arritmias cardíacas e estenose do piloro. Nas crianças com mamilos acessórios, têm sido Figura 2.1 Hipomastia direita. relatadas altas incidências de alterações renais e de neoplasias (testículos e rins). A exérese cirúrgica dos mamilos acessórios ,,,,,, ,,,. - ,,, . so e necessar1a por questoes estet1cas ou nas raras vezes em que há, associadamente, derra- me papilar e formação nodular ou cística. Polimastia Corresponde à presença de mais de duas glândulas mamárias, podendo ser completa (com o complexo areolomamilar), ou somente com o parênquima glandular. Mais freqüente- mente, são encontradas na região axilar, sendo notadas pela primeira vez, em geral, durante a gravidez (Figura 2.2). O estímulo hormonal gra- vídico intensifica o aumento das suas dimen- sões, causando desconforto, dor e, às vezes, até galactoceles. Preconizamos a exérese cirúrgica das mamas supranumerárias, sob anestesia geral, por razões estéticas e para a profilaxia do carcinoma. Durante o período gravídico- puerperal, a maioria dos casos é manejada con- servadoramente. Já nos casos de gestantes e puérperas, com mamas acessórias e com forma- ções nodulares, ou densidades sugestivas de comprometimento neoplásico, deve-se proce- der à elucidação diagnóstica. ROTINAS EM MASTOLOGIA 37 Síndrome de Poland Foi primeiramente descrita por Alfred Poland, em 1841, e representa um conjunto de altera- ções congênitas restritas à parede torácica com ou sem envolvimento da extremidade superior ipsilateral. Inclui graus variados de acometi- mento da parede torácica e dos membros supe- riores, e diferentes graus de hipoplasia mamária e amas tia. O espectro de deformidades varia da simples ausência da porção esternocostal do músculo grande peitoral até a ausência total de todos os componentes da parede torácica, ,, com exceção da pele e da membrana pleural. E sempre de acometimento unilateral, duas vezes mais comum à direita do que à esquerda; tem incidência maior no sexo feminino e é muito rara: 1 :30.000 nascidos vivos. Há relatos fami- liares, associados à transmissão autossômica dominante; outros autores consideram-na uma disembrioplasia esporádica. O tratamento é sempre cirúrgico e depende do grau e do núme- ro de anomalias presentes. Expansores de teci- do e inclusão posterior de próteses de silicone e enxertos para a reconstrução do gradeado cos- tal podem ser utilizados. O Serviço de Masto- logia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre tem quatro casos de síndrome de Polland trata- dos, dois compatíveis com a síndrome de Figura 2.2 Hipertrofia e mamas axilares. 38 ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO Polland incompleta e dois com o quadro clássi- co, inclusive com sindactilia homolateral. Nas quatro pacientes, foram utilizadas técnicas de cirurgia plástica para reconstrução mamária e/ ou simetrização das mamas. AtillMAUAS ADQUIRIDAS Hipertrofia mamária Corresponde a mamas de grande volume, uni ou bilaterais - mais freqüentemente -, que, além de conseqüências estéticas e psicológicas, produz defeitos posturais e até discopatias. A hipertrofia mamária na adolescência (hipertro- fia virginal) é a mais comum, ocorrendo após o primeiro ciclo menstrual, em geral entre 11 e 19 anos, com um desenvolvimento exagerado das mamas. Outros tipos de hipertrofias descri- tas incluem a infantil e as associadas à gravidez e à obesidade. A etiologia para tal crescimento tem teorias variadas, sendo aventada principal- mente a do distúrbio dos receptores hormonais mamários. Algumas drogas, como cimetidina, hidantoína, digitálicos e D-penicilamina, tam- bém têm sido associadas às hipertrofias mamá- rias. O termo gigantomastia também pode ser aplicado às hipertrofias, principalmente às que ocorrem na adolescência e às associadas à ges- tação (Figura 2.3). O crescimento mamário exces- sivo durante a gestação é de ocorrência rara e de etiologia desconhecida. Geralmente se dá nos primeiros meses de gravidez, progredindo algumas vezes com áreas de sofrimento cutâ- neo, ulceração, necrose, infecção e/ou hemorra- gia. No período puerperal, as mamas tendem a retornar às suas dimensões normais. A conduta recomendada na gravidez é a orientação sobre adequada nutrição e higiene, além do uso de um sutiã apropriado para o suporte das mamas. Em casos extremos, são necessárias cirurgias. A paciente também deve ser orientada sobre o fato de que, nas gestações subseqüentes, prova- velmente haverá recorrência do gigantismo ma- mário. A obesidade acentuada também pode provocar o desenvolvimento de mamas volu- mosas. A orientação dietética e até cirurgias fazem parte do seu tratamento. O tratamento das hipertrofias na adolescên- cia inclui o uso de técnicas cirúrgicas para redu- ção mamária, não havendo uma idade mínima para sua indicação; cada caso deve ser avaliado individualmente. A técnica utilizada deve sem- pre levar em conta a possibilidade de amamen- tação no futuro. Com freqüência, mais de uma cirurgia redutora é necessária. Figura 2.3 Gigantomastia. ROTINAS EM MASTOLOGIA 39 O desenvolvimento mamário pode ser comprometido por influências congênitas, endócrinas ou adquiridas. Correspondem a processos benignos, quepodem causar, dependendo do grau de deformação mamária, importante morbidade, tanto do ponto de vista estético como do ponto de vista psicológico. Seu manejo depende da anomalia encontrada, variando desde pequenos procedi- mentos de exérese sob anestesia local, como nos casos de politelia, até cirurgias complexas de reconstrução do gradeado costal e da mama, nos casos de síndrome de Polland completa. O manejo dos distúrbios secundários às patologias endócrinas deve ser individualizado. G i necomastia O termo ginecomastia traduz o crescimento be- nigno do tecido glandular ( estromal e ductal) da mama masculina, podendo variar desde um pequeno botão de tecido na região retroareolar até dimensões semelhantes às de uma mama feminina. Corresponde à condição mais comum que afeta as mamas masculinas. Sua ocorrência é mais freqüente na adolescência, principal- mente entre 13 e 14 anos (Figura 2.4), e na se- nectude, correspondendo a processos transitó- rios. Apresenta-se clinicamente como um au- mento da mama, normalmente unilateral, que por vezes é doloroso. Seu diagnóstico diferencial deve ser feito com o carcinoma da mama mas- culina e com a pseudoginecomastia secundária à obesidade (Fluxograma 2.1 ). Outras causas de ginecomastia, ditas secundárias, podem ser vis- tas na Tabela 2 .1. De acordo com sua etiologia, os casos de gi- necomastia podem ser distribuídos por ordem de freqüência, conforme a Tabela 2.2. O tratamento da ginecomastia depende de sua provável etiologia. Nos casos de ginecomas- tia transitória da adolescência ou da senectude, pode-se proceder a seu acompanhamento até a remissão espontânea. Nos casos em que as dimensões das mamas estejam interferindo nas atividades sociais do paciente, deve-se proceder à mastectomia subcutânea através de incisão periareolar, quando possível, associada à lipoas- piração do tecido adiposo subglandular adja- cente. Tratamento medicamentoso com modu- ladores seletivos do receptor estrogênico ( SERMs) Figura 2.4 Ginecomastia em adolescente. 40 ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO Dosagens hormonais a solicitar: HCG, LH, testosterona (T) e E2 (estradiol) • HCG elevado: avaliação dos testículos com ecografia pela possibilidade de tumor testicular germinativo ou de tumor germinativo extragonadal (raio X de tórax, ecografia ou tomografia computadorizada [TC] ou ressonância magnética [RM] do abdome). • LH elevado e T baixa: hipogonadismo primário. • LH baixo ou normal e T baixa: solicitar prolactina - se elevada = tumor hipofisário secretante de prolactina; se normal = hipogonadismo secundário (alteração hipotalâmica ou hipofisária). • LH e T elevados: medir T4 e TSH - se normais, corresponde à resistência androgênica; se T4 elevado e TSH baixo = hipertireoidismo. • E2 elevado e LH baixo ou normal: ecografia de testículo - se massa testicular = tumor de Leydig ou Sertoli, se normal = avaliar adrenal com TC ou RM. Se há massa na adrenal, corresponde à neoplasia adrenal; se normal, trata-se de aumento extraglandular da atividade da aromatase. • Se todos exames estão normais, trata-se de ginecomastia idiopática (-25 a 50o/o, conforme as séries da li- teratura). Fluxograma 2.1 Avaliação dos pacientes com ginecomastia após exclusão da ginecomastia transitória da adolescência ou senectude, ou da secundária ao uso de medicamentos ou a doenças crônicas (cirrose, desnutrição, IRC). é uma opção nas ginecomastias não muito volu- mosas. Os mais efetivos são o tamoxifeno e o raloxifeno, por períodos de 3 a 9 meses. O uso de inibidores da aromatase também é descrito em outros estudos. Telarca precoce ,, E uma das anomalias ditas transitórias do de- senvolvimento das mamas, correspondendo ao desenvolvimento mamário, uni ou bilateral, na ausência de outros caracteres sexuais secundá- Tabela 2.1 CAUSAS ASSOCIADAS À GINECOMASTIA SECUNDÁRIA 1. Diminuição dos andrógenos - Produção reduzida: anarquia congênita, anormalidades cromossômicas, criptorquidismo bilateral, orquite virai, torção bilateral, insuficiência renal. - Resistência androgênica: feminilização testicular. 2. Estrógenos aumentados - Secreção aumentada: tumores testiculares, carcinoma pulmonar. - Aumento da aromatização periférica: hepatopatia ou doença das adrenais, t ireotoxicose, desnutrição. 3. Indução por drogas - Andrógenos (aumento da aromatização periférica [?]). - Antiandrógenos: ciproterona, espironolactona, flutamida. - Agon istas estrogênicos: digitálicos, griseofulvina. - Alteração do controle das gonadotrofinas: fenotiazinas, reserpina, tricícl icos, cimetidina, ranitid ina, omeprazol, metildopa, nifedipina, captopril, enalapril, isoniazida, metoclopramida, etc. - Adição à maconha, heroína, metadona, anfetaminas. Fonte: Adaptada e modificada a partir de Hughes, L.E.; Mansel, R.E.; Webster, D.J.T. The male breast. ln: Hughes, L.E.; Mansel, R.E.; Webster, D.J.T. (org.} Benign disorders and diseases of the breast. Londres: Bailliére Tindall-WB Saunders, 1989, p.167-17 4 e Braunstein, G.D. Gynecomastia. ln: Harris, J.R.; Lippmann, M. E.; Morrow, M. et ai. (org.} Diseases of the breast. Filadélfia: Lippincott-Raven, 1996, p. 54-60. ROTINAS EM MASTOLOGIA 41 Tabela 2.2 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE GINECOMASTIA CONFORME SUA ETIOLOGIA, POR ORDEM DE FREQÜÊNCIA APROXIMADA Puberal ou da senectude 25o/o Idiopática 25% Secundária ao uso de drogas 10-20°/o Cirrose ou desnutrição 8°/o Hipogonadismo primário 8% Tumores testiculares 3% Hipogonadismo secundário 2°/o Hipertireoidismo 1,5°/o Doença renal 1°/o Outros ••• Fonte: Braunstein, G.D. Gynecomastia. ln: Harris, J.R.; Lippmann, M .E.; Morrow, M. et ai. (org.). Diseases of the breast. Filadélfia: Lippincott- Raven, 1996, p. 54-60. rios, em meninas com menos de oito anos de idade. Geralmente, é diagnosticada nos dois pri- meiros anos de vida, sendo um achado raro após os quatro anos. Na maioria dos casos, tem regressão espontânea em poucos meses, embo- ra possa persistir por anos. Após sua regressão, a puberdade ocorre dentro da faixa etária habi- tual na maioria dos casos. Entre as várias teorias sobre sua etiologia, destaca-se a da maior res- ponsividade do tecido glandular aos estímulos gonadotróficos transitórios. O tratamento cor- responde à orientação e à tranqüilização dos familiares e ao acompanhamento de sua evolu- ção a cada seis meses. , Anamnese / 43 Exame físico / 44 Auto-exame / 46 , ....._LI N 1 r ' O diagnóstico clínico é feito por meio da anamnese, do exame físico e, por extensão, do auto-exame. ANAMNESE A qualidade da coleta de dados por meio de boa história é impor- tante para o desenvolvimento do raciocínio clínico correto. Há até bem pouco tempo, os três grandes motivos de consulta em mastologia eram dor, nódulo e derrame, nessa ordem de freqüên- cia. Nos últimos anos, com a progressiva conscientização do pú- blico feminino e a explosão do rastreio mamográfico, dois novos motivos incorporaram-se à clínica: a mamografia anormal e o alto risco, ou seja, pacientes totalmente assintomáticas que vêm ao consultório buscando investigar mamografia alterada ou es- clarecer o seu risco para câncer de mama (Tabela 3.1 ). Além dos aspectos gerais de qualquer história clínica, os seguintes itens devem ser enfatizados: • DOR: data de início, intensidade e duração, localização e irradiação, relação com atividade física, ciclo menstrual e traumatismo, presença de hipertermia e uso de fármacos. • NÓDULO: data da percepção, velocidade de crescimento, localização, consistência e relação com traumatismos ou com o ciclo menstrual. • DERRAME PAPILAR: início, cor, uni ou multiductal, espontâ- neo ou provocado, uni ou bilateral, uso de medicamentos. • ANTECEDENTES GINECO-OBSTÉTRICOS: além dos habituais, tem particular interesse a idade da primeira gestação a termo. Lactações: duração e intercorrências. 44 DIAGNÓSTICO CLÍNICO Tabela 3.1 MOTIVO DE CONSULTA NO AMBULATÓRIO DE MASTOLOGIA DO HCPA,POR ORDEM DE FREQÜÊNCIA Até 1990 De 1990 a 2005 Dor Nódulo Derrame papilar Dor Nódulo Mamografia anormal Derrame papilar Alto risco • ANTECEDENTES MASTOLÓGICOS: cirurgias prévias (estéticas, biópsias), punções, mamografias prévias e tratamentos ef e- tuados. • ANTECEDENTES FAMI LIARES: pesquisar carci- noma de mama e eventual associação com câncer de ovário e de colo na família, inclusive na linhagem paterna. Verificar a idade e a ocorrência de bilateralidade. • PERFIL PSICOSSOCIAL: tabagismo ( quantida- de e duração), uso de álcool e drogas. EXAME FÍSICO Minucioso exame físico é a chave para um diag- nóstico correto (Quadro 3.1 ). Ele é feito em três etapas, descritas a seguir. Inspeção estática Paciente sentada, tórax desnudo, braços pen- dentes, diante de boa iluminação. Observar vo- lume, forma e simetria das mamas, assim como alterações da rede venosa, da pele e do comple- xo areolomamilar. Procurar retrações e abaula- mentos. Sinais de edema e hiperemia devem ser anotados. Inspeção dinâmica A paciente eleva os braços acima da cabeça ou repousa-os sobre esta. Pesquisar, novamente, abaulamentos e retrações. Repetir o exame com a paciente apertando os quadris, a fim de con- trair os peitorais. A inclinação do tronco para a frente acentua os achados. A inspeção deve ser executada com muita atenção, pois, às vezes, as retrações são muito sutis. Palpação Com a paciente ainda sentada, palpam-se as fossas supraclaviculares, de frente ou por abor- Quadro 3.1 EXAME FÍSICO Vantagens Desvantagens Teste de base para os casos sintomáticos Detecta 80°/o dos tumores candidatos a tratamento conservador Praticável em qualquer lugar Repetível Baixo custo Sensibilidade reduzida em tumores <1 cm Sensibilidade reduzida em mulheres jovens Ausência de sinais específicos para tumores pequenos Subjetividade do examinador dagem posterior, ficando o examinador às cos- tas da examinada. Prossegue-se com a palpação das regiões axilares, que deve ser feita com o braço da paciente apoiado no ombro do médico ou segurado por ele, para relaxar a musculatura peitoral. Explora-se a axila com movimento de cima para baixo, como se estivesse escavando esta e exercendo suave pressão sobre a parede ' torácica. As vezes, é necessário executar tais movimentos com maior vigor e trazer o mem- bro superior da paciente em direção à linha mé- dia para facilitar o relaxamento muscular. Ob- servam-se o número, o tamanho, a consistência e a mobilidade dos gânglios. A palpação das mamas é feita com a paciente deitada e as mãos atrás da cabeça, pois, assim, elas se acomodam sobre a parede torácica anterior de maneira uni- forme. O examinador sempre deve postar-se do lado a ser palpado. Começa-se pela palpação superficial, empregando as polpas digitais e os movimentos circulares no sentido horário e exercendo uma leve pressão para determinar a característica dominante daquela mama: lipos- substituída ou fibroglandular (Figura 3.1 ). Continuando, repete-se a manobra aumen- tando a pressão da palpação, percorrendo d- etalhadamente toda a anatomia da superfície ROTINAS EM MASTOLOGIA 45 mamária, não esquecendo a região areolar. Anotar as descobertas anormais em diagrama para referência futura, identificando a localiza- ção topográfica, o tamanho em milímetros, a consistência, a fixação e os limites. Se a queixa for de derrame papilar, procede-se à expressão radiada: palpação com a ponta dos dedos, se- guindo os diferentes raios para identificar o se- tor comprometido e orientar eventual cirurgia. A sensibilidade da palpação como instrumento diagnóstico é diretamente proporcional ao ta- manho do tumor e inversamente proporcional à idade da paciente. Considera-se, generica- mente, como 1 cm o limiar palpatório, depen- dendo da profundidade do tumor (Tabela 3.2). O exame físico apresenta melhor rendimento na primeira fase do ciclo menstrual, de modo que, se houver dúvidas diagnósticas e a mulher esti- ver no pré-mênstruo, convém repeti-lo em épo- ca mais propícia. Os nódulos são descritos como achados palpatórios tridimensionais, enquanto os adensamentos (espessamentos) são percep- tíveis em apenas duas dimensões. Todas as alte- rações do exame físico são mais suspeitas quan- do assimétricas e solitárias, pois, de um modo geral, em semiologia da mama, tudo o que se repete tranqüiliza. Figura 3.1 Palpalção correta das mamas. 46 DIAGNÓSTICO CLÍNICO Tabela 3.2 RELAÇÃO ENTRE IDADE E SENSIBILIDADE DO EXAME FÍSICO DAS MAMAS Idade (anos) Menos de 30 30-39 30-49 50-59 60-69 > 69 Total Número de casos 9 113 355 373 353 200 1.403 Sensibilidade (º/o) 55 53 81 91 95 96 87 Fonte: Ciatto S. Benign Breast Diseases. The Parthenon, 1994. ALJTO-EXAME O auto-exame de mamas (AEM) consiste em incentivar a mulher a examinar suas próprias mamas de modo sistemático e metódico, a fim de que ela descubra nódulos mais precocemen- te. Isso se baseia na constatação prática de que, aproximadamente, 70% dos tumores são detec- tados pela própria paciente. Por que, então, não estimulá-la a fazê-lo mais cedo? Suas vantagens são a simplicidade, o custo inexistente e o fato de que pode ser repetido a qualquer momento. As desvantagens são a baixa sensibilidade, o temor que as pacientes têm de encontrar algu- ma alteração e a incerteza na interpretação dos achados, o que pode levar à cancerofobia. Tais inconvenientes fazem com que o índice de ade- são seja em torno de apenas 20%. O maior estu- do mundial sobre AEM é o chamado Estudo de Shangai, randomizado, controlado, que re- crutou 210 mil mulheres, às quais foi ensinada intensivamente a técnica do exame e não se encontrou diferença na mortalidade entre o grupo que praticava o AEM e o grupo-controle (Thomas DB, 2003 ). Mesmo assim, defendemos a idéia de que ele possa fazer um rebaixamento no estágio dos tumores, aumentando o número de cirurgias conservadoras pela descoberta de lesões menores e evitando a mutilação da mas- tectomia, além de ser a porta de entrada para a prevenção e saúde mamárias. Esse fato tem im- portância em um país como o nosso, onde, aproximadamente, 50% dos casos de neoplasia mamária vêm à consulta em estágios avança- dos. A técnica do AEM (Figura 3.2) é simples e segue os mesmos passos do exame clínico (ins- • Dor, nódulo, derrame, mamografia anormal e alto risco são os principais motivos de consulta em mastologia. • A história familiar é importantíssima: pesquisar associação com câncer de ovário e de colo, inclusive na linhagem paterna. Verificar a idade e a ocorrência de bilateralidade. • A informação sobre o tabagismo é necessária por sua relação com os processos inflamatórios. • A sensibilidade da palpação é diretamente proporcional ao tamanho do tumor e inversamente proporcional à idade da paciente. • Achados palpatórios assimétricos e solitários são os mais suspeitos. • Em caso de dúvida no exame físico, repeti-lo no pós-mênstruo. • O auto-exame é um método de autoconhecimento corporal que, se não reduz a mortalidade, pode levar a uma diminuição de estágios avançados e, por conseqüência, aumentar o número de cirurgias conservadoras. ROTINAS EM MASTOLOGIA 47 Diante do espelho Durante o banho Deitada Figura 3.2 Auto-exame de mama. peção e palpação). O momento mais natural e descomplicado de executá-lo é durante o ba- nho, de tal forma a ser incorporado como um hábito de saúde - um autoconhecimento corpo- ral. A periodicidade deve ser mensal, nos 1 O dias que se seguem à menstruação. As meno- páusicas estabelecem qualquer dia do mês para . -memor1zaçao. Mamografia / 49 Mamografia digital / 52 Ultra-sonografia / 53 , Ressonância magnética / 54 Tomografia por emissão de pósitrons (PET) / 56 .. ... p r ' Os exames complementares por imagem desempenham impor- tante papel no rastreamento, na propedêutica complementar de pacientes com sinais ou sintomasmamários, assim como no seguimento de pacientes com patologias mamárias. Existem for- tes evidências de que o diagnóstico e o tratamento precoces au- mentam a cura da doença e que a detecção precoce do câncer permite a realização de cirurgia conservadora, evitando a mas- tectomia. O câncer de mama representa a principal causa de morte por câncer entre as mulheres brasileiras, sendo o tipo de câncer mais incidente na cidade de Porto Alegre (UNIMED, 2005 ). Vários exames de imagem podem ser utilizados na avaliação das mamas. Atualmente, a mamografia (MMG) e a ultra-sono- grafia (US) mamária são os mais importatntes; outros, como a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons (PET), estão em franco desenvolvimento e em breve poderão ser incorporados à propedêutica de rotina. Vamos abordar mais detalhadamente os três principais exames. MAMOGRAFIA A abordagem de doenças de natureza neoplásica requer o desen- volvimento de técnicas que permitam um diagnóstico cada vez mais precoce das neoplasias, preferencialmente ainda em fase pré-clínica. Rastrea menta Há evidências científicas suficientes para justificar o rastrea- mento periódico do câncer de mama com mamografia. A mamo- grafia é o exame mais confiável para a detecção do câncer de mama pré-clínico, sendo o único exame de imagem apropriado 50 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM para rastreamento de carcinoma mamário (Bar- ros, 2001; Heywang-Kõbrunner, 1999; UNIMED, 2005 ). Ensaios clínicos randomizados e estu- dos observacionais demonstraram que a detec- ção precoce do câncer de mama reduz a mortali- dade e melhora a sobrevida de mulheres entre 50 e 74 anos (Basilion, 2001; Schall, 2001; UNIMED, 2005). Apesar de a diminuição da mortalidade ser inferior na faixa etária entre 40 e 49 anos, nosso serviço, de acordo com as diretrizes internacionais e o Projeto Diretrizes do Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira, recomenda o rastreamento anual a partir dos 40 anos de idade. A mamo- grafia permanece com a única modalidade de screening que demonstrou diminuir a mortalida- de por câncer de mama (Esserman, 2005 ). A mamografia tem possibilitado que se ofe- reça a uma importante parcela das pacientes com câncer de mama um diagnóstico, muitas vezes, ainda em fase inicial, ou mesmo pré-in- vasora. Isso repercute intensamente no prog- nóstico dessas pacientes que podem chegar a altos índices de cura com tratamentos cirúrgicos conservadores e, freqüentemente, sem necessi- dade de tratamentos adjuvantes sistêmicos. Em pacientes com familiar de primeiro grau afeta da pelo câncer de mama, o rastreamento imaginológico deve iniciar 10 anos antes da ida- de em que a familiar teve o diagnóstico (UNI- MED, 2005). Para as pacientes portadoras de mutações nos genes BRCAl ou 2, é recomendado o scree- ning a partir dos 30 anos de idade (Esserman, 2005 ). Avaliação complementar Está indicada a avaliação mamográfica em toda paciente com alguma queixa mamária. A can- cerofobia pode também justificar a realização do exame por pacientes assintomáticas. Seguimento Pacientes com patologias mamárias sem indica- ção cirúrgica necessitam de acompanhamento mamográfico e/ou ultra-sonográfico em espa- ços de tempo determinados pela natureza da lesão que está sendo acompanhada. Pacientes, por exemplo, com mamografia classificada co- mo BIRADS 3 (achados provavelmente benig- nos), têm indicação de nova avaliação mamo- gráfica no prazo máximo de seis meses. O seguimento de pacientes com câncer de mama é de fundamental importância. Pacien- tes com câncer de mama têm risco de recidiva na mama submetida a tratamento conservador, assim como de acometimento da mama con- tralateral. Essa é a recorrência passível de cura; portanto, o diagnóstico precoce da recorrência local também é fundamental. Assim, o segui- mento dessas pacientes com câncer de mama tratado com cirurgia conservadora é realizado com base em mamografias seriadas a cada seis meses nos três primeiros anos e, após, anual- mente (Quadro 4.1 ). Técnica A mamografia será, sempre que possível, bilate- ral e constituída de quatro clichês: dois na inci- dência oblíqua-médio-lateral (OML) e dois na incidência craniocaudal ( CC). O exame deve ser sempre comparativo entre os dois lados e com os anteriores. Na incidência OML, é sempre Quadro 4.1 INDICAÇÕES DA MAMOGRAFIA • Rastreio (screening) • Mama sintomática • Tumor clinicamente suspeito • Seguimento após cirurgia conservadora • Alto risco • Controle pós-punção • Orientação de biópsias • Planejamento cirúrgico • Cancerofobia • Pesquisa de sítio primário nos casos de carcinoma oculto importante visualizarmos a musculatura peito- ral até, pelo menos, a metade da mama para que tenhamos certeza de que o tecido mamário não deixou de ser avaliado. Na incidência cra- niocaudal, também deve-se incluir todo o corpo da glândula com a gordura retromamária me- dial e lateral. Incidências adicionais podem ser feitas con- forme o caso: magnificação, compressão focal, perfil 90° ( Heywang-Kõbrunner, 1999). A magnificação visa a melhor definição de detalhes, incluindo inf armações mais detalha- das em uma mesma área de filme. A compressão focal dispersa o parênquima, facilitando a diferenciação entre áreas densas que resultam da soma de imagens sobrepostas de áreas de distorções parenquimatosas reais (Heywang-Kõbrunner, 1999). A incidência em 90° nos permite localizar melhor lesões, assim como contribui no diag- nóstico de microcalcificações intracísticas (Hey- wang-Kõbrunner, 1999) . ROTINAS EM MASTOLOGIA 51 O laudo mamográfico deve seguir as orien- tações do Colégio Americano de Radiologia, que classifica os resultados da mamografia confor- me o sistema de BIRAD S ( Breast Imaging Repor- ting and Data System) (Quadro 4.2). Classificação BIRADS (Breast lmaging Reporting and Data System) • CATEGORIA O - necessita de estudo com- plementar: comparação com exames mamográficos anteriores, compressão localizada ou spot, ampliação ou magni- ficação, incidências mamográficas adi- cionais e ultra-sonografia mamária. • CATEGORIA 1 - exame normal. • CATEGORIA 2-achados mamográficos be- • n1gnos. • CATEGORIA 3 - achados provavelmente be- nignos. Há baixa suspeição de maligni- dade (em tomo de 2%), e, para tais le- sões, é recomendado o controle mamo- Quadro 4.2 MANEJO CLÍNICO CONFORME BIRADS BIRADS O Necessidade de complementação BIRADS 1 Mamografia normal BIRADS 2 Achados benignos BIRADS 3 BIRADS 4 (A,B,C) BIRADS 5 Achados provavelmente benignos Achados suspeitos para malign idade A - Baixa suspeita B - Intermediária suspeita C - Moderada suspeita Achados alta mente suspeitos para malignidade BIRADS 6 Malignidade já comprovada 2o/o 5o/o (2-10) 25% (11-40) 70% (41-74) 85% Solicitar ultra-sonografia e/ou incidências complementares, ampliações ou compressões focais Anual Anual Semestral Avaliação histológica Avaliação histológica Conforme o caso 52 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM gráfico a curto prazo para estabelecimen- to da sua estabilidade. Em casos selecio- nados de pacientes mais ansiosas ou de alto risco, está justificada a correlação histológica. • CATEGORIA4-lesões suspeitas para malig- nidade - Categoria 4A: há baixa suspeição para malignidade (5%) e está indicada a verificação histológica. Em casos se- lecionados e após discussão com a paciente, pode-se realizar um contro- le a curto prazo (seis meses). - Categoria 48: lesões com suspeita inter- mediária de malignidade (25%) e que necessitam de uma correlação patoló- • g1ca. - Categoria 4C: lesões de suspeição eleva- da, mas ainda sem os achados típicos de malignidade (70%). Necessitam de uma correlação patológica. • CATEGORIA 5- achados altamente suspei- tos de malignidade. A probabilidade de malignidade está em torno de 95%. In- dicada a verificação histológica (Figura 4.1). • CATEGORIA 6 - malignidade histologica-mente comprovada. Sempre que a lesão em questão tratar-se de nódulo de mama, deve-se solicitar ultra-sono- grafia para definir se se está frente a nódulo sólido ou lesão cística. A sensibilidade e a especificidade da ma- mografia é diretamente influenciada por carac- terísticas da paciente e do próprio tumor. A ida- ,, de parece ser o fator mais importante. E sabido que, em pacientes jovens com mamas densas (Figuras 4.2 e 4.3), há menor acuidade do método. ... A medida que se instala o processo de lipossubs- tituição do parênquima mamário, a mamogra- fia vai aumentando sua eficácia. De modo geral, a mamografia tem uma sensibilidade em torno ,, de 90%. E importante não esquecer que a qua- lidade do equipamento utilizado e a experiência do examinador também têm influência direta na sensibilidade do exame (Heywang-Kõbrun- ner, 1999) (Quadro4.3). MAMOGRAFIA DIGITA Embora apresente vantagens - como redução na repetição de imagens; armazenamento digi- tal; possibilidade de transmissão digital e ava- liação à distância; e otimização da imagem para auxiliar a interpretação e a visualização de le- sões -, a mamografia digital ainda não se apre- sentou como superior em qualidade à mamo- grafia usual que utiliza filmes (Esserman, 2005; Heywang, 1999). Apresenta maior rendimento e capacidade diagnóstica em mulheres abaixo dos 50 anos com mamas densas ( Pisano, 2005). Existem situações especiais em que a ma- mografia apresenta menores sensibilidade e es- pecificidade, tais como em mamas densas, ir- Figura 4.1 Tumor espiculado e com com- ponente intraductal. Figura 4.2 Mama densa aos 23 anos. radiadas, operadas e com implantes mamários. Nesses casos, devemos lançar mão de outros métodos diagnósticos por imagem, como ultra- sonografia e ressonância magnética, na com- plementação da avaliação por imagem. Ul.IRA-SONOG RAEIA A ultra-sonografia (US) é o segundo método por imagem mais importante na propedêutica mamária. Ela teve notável avanço nos últimos anos com a introdução de equipamentos de alta resolução (transdutores de 7,5 e 10 mHz), am- ROTINAS EM MASTOLOGIA 53 Figura 4.3 Mama lipossubstituída aos 60 anos. pilando as suas indicações além da clássica dife- renciação entre nódulos sólidos e císticos (Figura ,, 4.4). E um valioso complemento à MMG, in- crementando sua sensibilidade e especificidade e sendo superior a ela na avaliação de mamas densas de jovens e de grávidas. Não há base ainda na literatura para que a ultra-sonografia seja solicitada de rotina noras- treamento do câncer de mama, mas está em andamento um estudo do American College of Radiology que testa essa possibilidade compa- rativamente à mamografia ( Berg, 2006). A ul- tra-sonografia mamária deve ser empregada e interpretada sempre em conjunto com a ma- mografia. (Heywang-Kõbruwnner, 1999; Sihn, 2000; UNIMED, 2005) (Quadro 4.4 ). Em mamas densas, a ultra-sonografia pode trazer informações importantes na comprova- ção da existência de uma lesão suspeita. Tem como grande limitação o fato de não identificar microcalcificações e de ser examinador e equi- pamento-dependente (Heywang-Kõbrunner, 1999). 54 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Quadro 4.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SCREENING Vantagens Desvantagens Redução absoluta da mortalidade Redução absoluta do número de casos avançados Aumento absoluto do número de casos iniciais Aumento da cirurgia conservadora Redução da terapia sistêmica Redução da ansiedade com o screening negativo A diferenciação entre as variações normais do tecido mamário e as alterações patológicas pode ser difícil. Na avaliação das pacientes, é fun- damental que se esteja familiarizado com os as- pectos ultra-sonográficos das lesões mamárias benignas e malignas (Sihn, 2000) (Quadro 4.5). Salientamos que nenhum critério ultra-so- nográfico permite uma diferenciação 100% se- gura entre um achado maligno ou benigno. A Figura 4.4 US de lesão líquida, anecóica. Custo elevado Diagnóstico excessivo (lesões benignas) latrogenia das biópsias negativas Aumento da ansiedade devido ao screening Quadro 4.4 INDICAÇÕES DA ULTRA-SONOGRAFIA • Diferenciação entre lesões sólidas e císticas • Complementação à mamografia • Avaliação de mamas densas • Detecção de lesões intracísticas • Punção e demarcação pré-operatória de lesões impalpáveis avaliação deve ser feita rotineiramente em con- junto com a mamografia. A classificação BIRADS ultra-sonográfica está sendo incorporada à roti- na clínica com as mesmas categorias da radiolo- gia (Quadro 4.6). RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A ressonância magnética ( RM) pode ser con- trastada ou não. A RM sem contraste é empre- gada exclusivamente na avaliação de pacientes com prótese mamária, tendo demonstrado ser o método de maior acurácia na identificação de defeitos, extravasamentos e rupturas. ( Heywang-Kõbrunner, 1999). ROTINAS EM MASTOLOGIA 55 Quadro 4.5 ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS DAS LESÕES MAMÁRIAS Lesão benigna Lesão maligna Contornos regulares/definidos Diâmetro horizontal > vertical Reforço acústico posterior Homogênea A utilização da ressonância magnética na detecção de carcinoma mamário foi descrita pe- la primeira vez nos anos 80 e tem se desenvolvi- do como uma modalidade promissora na de- tecção precoce do câncer de mama, principal- mente em pacientes jovens de alto risco ( Schall, 2001). A RM tem uma sensibilidade de 96% e uma especificidade de 72% em diferenciar le- sões mamárias benignas de malignas ( Schall, 2001). As lesões que se impregnam pelo con- traste rapidamente (menos de dois minutos) e " . que em pouco tempo retomam sua caractenst1- ca basal (em menos de cinco minutos) costu- mam se correlacionar com alterações neoplá- Contornos irregulares/indefinidos Diâmetro vertical > horizontal Sombra acústica posterior Heterogênea sicas malignas. Enquanto isso, as lesões que se impregnam lenta e progressivamente pelo con- traste costumam ter natureza benigna (Figura 4. 5). Pacientes de alto risco para câncer de mama costumam apresentar a doença mais precoce- mente, quando as mamas ainda são densas e a sensibilidade da mamografia está prejudicada. A ressonância magnética é, provavelmente, a ferramenta mais sensível na avaliação de um carcinoma mamário já conhecido, na extensão local da doença e no screening de pacientes jo- vens com mutações BRCA. Contudo, sua falta de especificidade limita suas indicações na prá- Quadro 4.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ULTRA-SONOGRAFIA Vantagens Desvantagens Diferenciação cisto x sólido Aval iação de mamas densas Método simples para marcação e punção de lesões não-palpáveis Detecção de lesões intracísticas Baixo custo Inócua Repetível Não-detecção de microcalcificações isoladas Sensibilidade reduzida em mamas adiposas Operador-dependente Não seNe para screening 56 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM tica clínica (Essennan, 2005 ). Faz-se necessário desenvolver métodos que levem à diminuição dos resultados falso-positivos. A ressonância magnética tem sido utilizada cada vez mais para melhor avaliar os tumores mamários, a sua multicentricidade e a resposta à quimioterapia (Basilion, 2001 ). A RM está indicada somente quando a avaliação do caso se encontra limitada pelos métodos convencio- nais e quando acreditamos que ela possa nos trazer inf armações adicionais com repercussões Figura 4.5 RMN com gadolínio. no manejo clínico da paciente (Heywang-Kõ- brunner, 1999). Uma das aplicações da RM é para a detecção de carcinomas ocultos não- identificados na mamografia. Dispositivos de orientação para biópsia já foram desenvolvidos e incorporados ao arsenal propedêutico, possi- bilitando uma avaliação histológica menos agressiva. O Colégio Americano de Radiologia recomenda o uso da classificação de BIRADS para RM das mamas para uniformizar a infor- mação (Quadro 4.7). ROTINAS EM MASTOLOGIA 57 Quadro 4.7 INDICAÇÕES E LIMITAÇÕES DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Indicações
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