1 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Distúrbios Funcionais da Tireoide INTRODUÇÃO • Transtornos da tireoide: o São divididos em distúrbios da função e distúrbios da forma da tireoide → Esses 2 tipos são relativamente independentes, não necessariamente ocorrem os 2 ao mesmo tempo ▪ Podemos ter distúrbio da forma sem qualquer alteração da função ▪ Podemos ter distúrbio da função sem alteração da forma (menos frequente) o As alterações de função são as que, em geral, tem um tratamento clínico o As alterações de forma, na maioria das vezes, são cirúrgicas • Alterações de função da tireoide: o Hipotireoidismo o Hipertireoidismo HIPOTIREOIDISMO • Sinais e sintomas clássicos: o Existem vários sinais e sintomas que podem ser atribuídos ao hipotireoidismo ▪ Fadiga e fraqueza ▪ Redução da capacidade de concentração ▪ Obstipação ▪ Rouquidão, pele seca e “infiltrada” ▪ Irritabilidade e depressão ▪ Menorragia ▪ Artralgia e mialgia ▪ Fácies mixedematose e madarose o Hoje em dia, fazemos diagnóstico tão cedo, já que os exames da tireoide são acessíveis e de rotina, que dificilmente os pacientes terão sintomas floridos atribuíveis à doença da tireoide (maioria assintomático) o Todos esses sintomas são apenas possivelmente atribuídos à tireoide, tendo em vista que são muito comuns, então podem estar relacionados a outros fatores ▪ Só confirmamos que veio do hipotireoidismo quando tratamos e há melhora dos sintomas o OBS.: Hipotireoidismo não causa obesidade → Pode diminuir o metabolismo (existem pessoas que quando desanimadas, com baixo metabolismo, podem acabar emagrecendo e outras podem acabar engordando) • Classificação: o Hipotireoidismo primário → Por problemas próprios da tireoide (95% dos casos) PROFA. EVERLAYNY FIOROT 2 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Hipotireoidismo secundário/central → Por falta de estímulo central à tireoide (hipotalâmico ou hipofisário) o OBS.: É muito importante diferenciar principalmente porque a forma de seguimento do tratamento muda HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO • Etiologia: o Tireoidite crônica linfocítica (tireoidite de hashimoto) → Principal causa de hipotireoidismo primário ▪ A tireoidite não necessariamente evolui para hipotireoidismo o Radioterapia ou tireoidectomia prévias o Tireoidites (subaguda, pós-parto, Graves) o Medicamentos (amiodarona, lítio, interferon alfa) o Deficiência de iodo (bócio endêmico) → Hoje em dia, quase não existe o Hipotireoidismo congênito → Detectamos no teste do pezinho • Tireoidite de Hashimoto: o Sinônimo de tireoidite linfocítica crônica autoimune o Pode cursar com aumento do volume da tireoide (bócio) inicialmente, com tendência a evolução para fibrose e atrofia (volume reduzido) o Pode resultar em hipotireoidismo ou não o Principal marcador diagnóstico → Anticorpo anti-tiroperoxidase (anti-TPO) o É mais comum em pessoas com outras doenças autoimunes e cromossomopatias (Sd. Down, Sd. Turner etc.) AVALIAÇÃO LABORATORIAL • Autoanticorpos tireoidianos: o Não tem razão para solicitar exame desses autoanticorpos quando queremos avaliar função da tireoide ▪ Não fazem parte da avaliação inicial e diagnóstica do paciente ▪ Eles podem estar presentes na população geral → Pode confundir o diagnóstico o Servem apenas para classificação etiológica o Temos principalmente o TRAb, o antiTG e o antiTPO ▪ TRAb (anti-receptores de TSH) → Marca principalmente a Doença de Graves ▪ AntiTG (anti-tireoglobulina) → TG é a proteína molde dos hormônios tireoidianos ▪ AntiTPO (anti-tiroperoxidase) → TPO é uma das principais enzimas na síntese dos hormônios tireoidianos o Na tireoidite autoimune, praticamente todos autoanticorpos serão positivos (principalmente antiTPO e antiTG) o Na doença de Graves, o principal anticorpo é o TRAb, mas é muito comum os outros estarem positivos também o Dos parentes de pacientes com Doença de Graves ou tireoidite autoimune, pelo menos metade também terão os autoanticorpos positivos e não necessariamente terão as doenças 3 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Na população geral, encontramos 10 a 20% dos anticorpos positivos, mesmo sem doença o Autoanticorpos, principalmente em baixos títulos, não conferem diagnóstico de tireoidite autoimune • Diagnóstico de hipotireoidismo: o É um diagnóstico laboratorial e não clínico o Em triagem inicial, é baseado no T4 livre e no TSH ▪ Hipotireoidismo primário “franco/clínico” → ↓ T4 Livre e ↑ TSH ▪ Hipotireoidismo secundário/central → ↓ T4 Livre e TSH normal ou ↓ ▪ Hipotireoidismo primário “subclínico” (mais frequente) → T4 Livre normal e ↑ TSH HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO SUBCLÍNICO • Características do hipotireoidismo subclínico: o Não é subclínico por ter pouco sintoma e sim pelo laboratório com T4 livre normal e TSH elevado o O TSH deve estar acima do valor de referência ▪ Para o hipotireoidismo subclínico consideramos um limite para o TSH aumentado até 20 (em gestantes, até 10) → Acima disso, geralmente, suspeitamos de outras doenças associadas ▪ O intervalo normal de TSH na maioria dos laboratórios é entre 4,5 e 5,5 ❖ Crianças até 4 anos muitas vezes têm TSH entre 5 e 11 sem significar problema ❖ Idosos também podem possuir TSH um pouco mais elevado normalmente ▪ Há algumas outras causas possíveis para elevação de TSH sem ser hipofunção da tireoide ❖ “Set point” diferente de TSH ❖ Fase de recuperação de tireoidite subaguda ❖ Reação cruzada com anticorpos heterófilos (falha/viés técnico-laboratorial) → Falso TSH elevado ❖ Crianças e idosos → Fisiologicamente têm o TSH alterado (adaptação fisiológica) ❖ Obesidade → Provavelmente por alguma ação hipotalâmica ❖ Mutações do receptor de TSH → Resistência ao TSH (raro) ❖ Hipotireoidismo subtratado • Conduta: o Na conduta no hipotireoidismo subclínico não é necessário encaminhar todos casos para o endocrinologista o Devemos primeiramente repetir o TSH e o T4 livre em 3 meses o Avaliar a gravidade → É mais relevante a preocupação em um TSH > 10 o Avaliar risco de progressão para o hipotireoidismo franco (em geral, o risco é de 2 a 6% por ano) ▪ Se TSH < 7, 46% dos casos normalizam em 2 anos ▪ Das crianças, 88% irão normalizar ▪ Fatores de risco de progressão → Sexo feminino, TSH > 10, autoimunidade tireoidiana (ATPO+) e USG típico de tireoidite (controverso, porque é examinador-dependente) 4 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Risco x benefício do tratamento: o Risco de tratamento desnecessário → Osteoporose, arritmias e catabolismo muscular o Benefícios comprovados do tratamento → Em geral, apenas em TSH > 10 o Consenso (2013) → Tratar apenas se confirmou que é um hipotireoidismo subclínico persistente (3-6 meses), com TSH > 10 ou um alto risco de progressão ▪ Pacientes < 65 anos com TSH de 7-10 podemos fazer um teste terapêutico ▪ Pacientes > 65 anos e crianças → Em geral só trata com TSH > 10 o Em gestantes, os pontos de corte são um pouco diferentes (pecamos mais pelo excesso) TRATAMENTO DO HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO • Base do tratamento: o Repor levotiroxina em jejum ▪ Hipotireoidismo franco → 1,6 a 1,8 mcg/kg/dia ▪ Hipotireoidismo subclínico → 1,1 a 1,2 mcg/kg/dia ▪ Iniciar com baixas doses em idosos e/ou cardiopatas o Monitoramento de TSH ▪ 50-60 dias após mudança de dose ▪ TSH ideal → 0,5-2,5 (< 60 anos), 3-4 (60-70 anos) ou 4-6 (> 70 anos) ▪ Hipotireoidismo secundário monitoramos com T4 livre • Situações/medicamentos que podem diminuir eficácia: o Antiácidos/acloridria o Ferro e cálcio → Dar intervalo pelo menos de 4h da administração da levotiroxina o Anticonvulsivantes (↑ excreção biliar) → Em geral, teremos que aumentar um pouco a dose o Síndrome de má absorção TIREOTOXICOSES • Características gerais: o O termo correto