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direitos_humanos - resumo do livro da flavia piovesan

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Resumo do Livro Direitos Humanos e o Direito Constitucional 
Internacional de Flávia Piovesan 
 
 
Índice 
 
PRIMEIRA PARTE – A Constituição Brasileira de 1988 e os 
Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos 
 
Capítulo I – Introdução 
Capítulo II – Delimitando e Situando o Objeto de Estudo 
Capítulo III – A Constituição Brasileira de 1988 e o Processo de 
Democratização no Brasil – A institucionalização dos direitos e 
garantias fundamentais 
Capítulo IV – A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados 
Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos 
 
SEGUNDA PARTE – O Sistema Internacional de Proteção aos 
Direitos Humanos 
 
Capítulo V – Precedentes Históricos do Processo de 
Internacionalização e Universalização dos Direitos Humanos 
Capítulo VI – Estrutura Normativa do Sistema Global de 
Proteção Internacional dos Direitos Humanos 
Capítulo VII – Estrutura Normativa do Sistema Regional de 
Proteção dos Direitos Humanos – O Sistema Interamericano 
 
TERCEIRA PARTE – O Sistema Internacional de Proteção dos 
Direitos Humanos e a Redefinição da Cidadania no Brasil 
 
Capítulo VIII – O Estado Brasileiro e o Sistema Internacional 
de Proteção dos Direitos Humanos 
Capítulo IX – A Advocacia do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos: Casos contra o Estado Brasileiro perante a 
Comissão Interamericana de direitos Humanos 
Capítulo X – Encerramento: O Direito Internacional dos 
Direitos Humanos e a Redefinição da Cidadania no Brasil 
 
 
 
PRIMEIRA PARTE 
 
A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E OS 
TRATADOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 
 
A proposta do estudo do livro é 
analisar o modo pelo qual o direito brasileiro incorpora os 
instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, bem 
como em que sentido esses instrumentos podem contribuir para o 
reforço do sistema de implementação de direitos no Brasil, ou seja, 
verificar o modo pelo qual as normas de direito internacional 
podem, em dinâmica com a Constituição Federal, contribuir para a 
efetivação dos direitos internacionais no Brasil. 
 
Assim, o primeiro passo do 
trabalho é investigar a relação entre a Constituição Federal e os 
tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, 
vislumbrando sempre que a Constituição é um marco jurídico de 
transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos 
no Brasil. Para se chegar ao objetivo do trabalho, é importante se 
analisar se a Constituição, ao estabelecer novos princípios a reger as 
relações internacionais do Brasil e ao conferir tratamento especial 
aos Direitos Humanos, contribuiu para uma nova inserção do Brasil 
na sistemática internacional de proteção e quais as conseqüências e 
seus impactos. 
 
Neste diapasão, o livro busca analisar o modo pelo qual a 
Constituição incorpora os tratados internacionais de proteção aos 
direitos humanos, atribuindo-lhes um status hierárquico 
diferenciado, bem como analisando o modo como os tratados 
internacionais de direitos humanos são capazes de fortalecer o 
constitucionalismo de direito no país. Os tratado, apesar de serem 
direcionados aos Estados pactuantes, acabam por beneficiar os 
próprios indivíduos. Deste modo, a comunidade internacional tenta 
obrigar os Estados a melhorar as condições de vida dos indivíduos e 
a garantir a eles direitos fundamentais. 
 
A análise sobre a incorporação dos tratados internacionais de 
direitos humanos, lançando mão do exame de suas peculiaridades, 
limites e possibilidades, adotará como ponto de partida a reflexão 
sobre os antecedentes históricos do movimento de 
internacionalização dos direitos humanos. O estudo permitirá 
perceber que as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra 
Mundial foram as grandes impulsionadoras da universalização dos 
discursos sobre direitos humanos. 
 
A comunidade internacional passou a perceber que a proteção aos 
direitos humanos constitui questão de legítimo interesse e 
preocupação internacional, sendo motivo de transcender e 
extrapolar o domínio reservado ao Estado ou a sua competência 
nacional exclusiva. Sobre o tema, há a explanação de Richard B. 
Bilder, que assim expõe: 
 
“O movimento do Direito Humano é baseado na concepção de que 
toda nação tem a obrigação de respeitar os direitos humanos de seus 
cidadãos e de que todas as nações e a comunidade internacional têm 
o direito e responsabilidade de protestar, se um Estado não cumprir 
suas obrigações. O Direito Internacional dos Direitos Humanos 
consiste em um sistema de normas, procedimentos e instituições 
internacionais desenvolvidos para implementar esta concepção e 
promover o respeito dos direitos humanos em todos os países, no 
âmbito mundial. (...) Embora a idéia de que os seres humanos 
tenham direitos e liberdades fundamentais, que lhe são inerentes, há 
muito tempo tenha surgido no pensamento humano, a concepção de 
que os direito humanos constituem objeto próprio de uma regulação 
internacional, por sua vez, é bastante recente. (...)” 
 
A análise das normas internacionais buscará compreender a forma 
pela qual o sistema normativo de proteção internacional dos direitos 
humanos atribui aos indivíduos status de sujeito internacional, 
conferindo-lhes diretamente direitos e obrigações no plano 
internacional, com capacidade de possuir e exercer direitos e 
obrigações de cunho internacional. As atrocidades perpetradas 
contra os cidadãos na Segunda Guerra significaram uma verdadeira 
ameaça à paz e à estabilidade internacional, gerando uma revolução 
no direito internacional. Um novo Código Internacional foi 
desenvolvido, enumerando e definindo direitos e garantias 
fundamentais para todos os seres humanos, sendo certo que esses 
direitos não mais puderam ser concebidos como generosidades dos 
Estados soberanos, passando a serem inerentes aos indivíduos. 
 
O reconhecimento de que os indivíduos têm os direitos humanos 
como direitos inerentes à sua existência, implica a mudança na 
noção de soberania nacional. O Estado que se mostra omissa ou 
falha na tarefa de proteger os direitos humanos internacionalmente 
assegurados deve ser responsabilizado na arena internacional, 
havendo um monitoramento por parte da comunidade internacional. 
O sistema de proteção internacional, ao constituir uma garantia 
adicional de proteção, invoca dupla dimensão, quais sejam: a) 
parâmetro protetivo mínimo a ser observado pelos Estados, 
proporcionando avanços e evitando retrocessos no sistema nacional 
de direitos humanos, e b) instância de proteção dos direitos 
humanos, quando as instituições nacionais se mostram falhas ou 
omissas no dever de proteção desses direitos. 
 
Desse modo, a violação dos direitos humanos assegurados por meio 
de tratado internacional, anteriormente ratificado pelo Estado, é 
matéria de legítimo interesse internacional, acarretando a submissão 
à autoridade das instituições internacionais, o que vem a flexibilizar 
a noção de soberania nacional. Não basta para os princípios 
regedores dos direitos humanos apenas que o Estado cesse com as 
violações, mas também que este seja responsabilizado, se garantido 
os remédios adequados para se assegurar a justiça. 
 
Na parte final deste trabalho, passasse a analisar a posição do Brasil 
perante os tratados internacionais de direito humano, completando-
se o estudo com a observação sobre a advocacia do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos no âmbito brasileiro, com 
enfoque sobre as lides que tramitam perante a Comissão 
Internacional de Direito Humanos, analisando-se qual a advocacia 
exercida, quais os atoressociais envolvidos e quais os direitos 
humanos violados. 
 
 
CAPÍTULO II – DELIMITANDO E SITUANDO O OBJETO 
DE ESTUDO 
 
a) Delimitando o Objeto de Estudo: A Constituição brasileira e 
o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
O livro tem como objeto analisar a forma que a Constituição se 
relaciona com as normas de direito internacional de direitos 
humanos, a forma pela qual incorpora os tratados internacionais de 
direitos humanos e o status jurídicos que ela lhes atribui, sendo 
certo que o trabalho se interessa, ainda, pelo modo pelo qual as 
normas internacionais de direitos humanos contribuem para a 
implementação de direitos no âmbito brasileiro, reforçando, neste 
sentido, o constitucionalismo de direitos inaugurados pela 
Constituição de 1988. 
 
Adota-se no trabalho o entendimento contemporâneo de que os 
direitos humanos são concebidos como uma unidade indivisível, 
interdependente e inter-relacionada, na qual os valores de igualdade 
e liberdade se conjugam e se completam. Tendo a Constituição 
Federal como marco jurídico inicial da democratização, ao 
institucionalizar os direitos humanos no país, o estudo busca 
responder a 3 questões: 
 
1. Qual o impacto do processo de democratização do Brasil, 
iniciado em 1985, sobre a posição do país perante a ordem 
internacional? O processo de democratização implicou a reinserção 
do Estado brasileiro na arena internacional de proteção dos direitos 
humanos, estimulando a ratificação de instrumentos internacionais 
para esse fim? 
 
2. Como a Constituição brasileira de 1988 ser relaciona com 
o direito internacional de direitos humanos? De que modo incorpora 
os instrumentos internacionais de proteção de direitos humanos, 
como os tratados adotados pelas Nações Unidas e pela Organização 
dos Estados Americanos? 
 
3. Qual o impacto jurídico e político do sistema 
internacional de proteção dos direitos humanos no âmbito da 
sistemática constitucional brasileira de proteção de direitos? Como 
esse instrumento internacional pode fortalecer o regime de proteção 
de direito nacionalmente previstos e o próprio mecanismo de 
accountability, quando tais direitos são violados? 
 
A partir dessas questões centrais, este trabalho pretende enfocar a 
relação entre dois termos: a Constituição brasileira de 1988 e o 
Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
b) Situando o objeto de estudo: os delineamentos do direito 
constitucional internacional 
 
O tema que se desenvolve neste item visa a inserir o estudo do livro 
em um ramo do direito, ponderando se o ramo é do direito 
internacional público ou no campo do direito constitucional. Ao 
tentar responder a questão mencionada, pondera, primeiramente, 
que, enquanto o Direito Internacional Público visa disciplinar 
relações de reciprocidade e equilíbrio entre Estados, por meio de 
negociações e concessões recíprocas que visam ao interesse dos 
próprios Estados pactuantes, o Direito Internacional dos Direitos 
Humanos objetiva garantir o exercício dos direitos da pessoa 
humana, o que, por si só já afasta o estudo do plano do direito 
internacional de direito público. 
 
Por sua vez o Direito Internacional de Direitos Humanos, ao 
concentrar o seu objeto nos direitos da pessoa humana, revela um 
conteúdo materialmente constitucional, apesar de possuir uma fonte 
de natureza internacional. Deste modo, o enfoque do trabalho, na 
verdade, é interdisciplinar. É uma interação entre o direito 
constitucional e o Direito Internacional dos Direitos Humanos, 
apontando para um resultado: Direito Constitucional Internacional. 
Isto é, o trabalho se atém a uma dialética da relação entre 
Constituição e Direito Internacional dos Direitos Humanos, no qual 
cada um dos termos da relação interfere no outro, com ele 
interagindo. 
 
C) Justificativa para a opção metodológica 
 
Primeiramente, no estudo que resultou no livro, houve uma 
avaliação dos avanços introduzidos pela Carta Magna de 1988 em 
relação aos direitos e garantias fundamentais, examinado como ela 
interage com os instrumentos internacionais de proteção dos 
direitos humanos, bem como o impacto desses instrumentos no 
direito brasileiro, suscitando uma abordagem aprofundada a 
respeito do sistema internacional dos direitos humanos. 
 
 
CAPÍTULO III – A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 
E O PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO NO BRASIL – A 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS. 
 
O objetivo do presente capítulo é avaliar o modo pelo qual a atual 
Constituição disciplina os direitos e garantias fundamentais, norma 
que rompeu com o regime autoritário militar, assegurando direitos 
fundamentais. Para tanto, faz-se necessário a compreensão do 
processo de democratização no Brasil. 
 
a) O processo de democratização no Brasil e a Constituição 
brasileira de 1988. 
 
Após vinte e um anos de regime militar ditatorial deflagrou-se o 
processo de democratização no Brasil, sendo certo que, segundo a 
classificação de Guillermo O’Donell, no processo de 
democratização há duas transições: uma primeira do regime 
autoritário anterior para a instalação de um Governo Democrático, 
sendo a segunda deste Governo Democrático para a efetiva vigência 
de um regime democrático. Neste sentido, sustenta-se que, embora 
a primeira etapa do processo de democratização já tenha sido 
alcançada, a segunda fase ainda está se concretizando. 
 
Com o processo de abertura iniciado pelos próprios militares em 
razão desses não mais conseguirem solucionar problemas internos, 
a sociedade civil começou a se organizar com mobilizações e 
articulações que permitiram a formação de um controle civil sobre 
as forças militares, exigindo-se, ainda, a elaboração de um código 
que refizesse o paco político-social. Tal processo culminou com a 
promulgação da Constituição de 1988. 
 
A Constituição de 1988 além de instituir um regime político 
democrático no Brasil, introduziu um avanço na consolidação 
legislativa das garantias e direitos fundamentais e nos setores 
vulneráveis da sociedade brasileira, sendo certo que, a partir dela, 
os direitos humanos ganham um grande relevo. A Carta de 1988 é o 
documento mais abrangente e pormenorizado sobre direitos 
humanos já adotado no Brasil. 
 
A consolidação das liberdades fundamentais e das instituições 
democráticas no país muda a política brasileira de direitos 
humanos, possibilitando um progresso significativo no 
reconhecimento dos direitos internacionais neste âmbito. O 
equacionamento dos direitos humanos na ordem jurídica interna 
serviu como medida de reforço para que questões dos direitos 
humanos se impusessem como tema fundamental na agenda 
internacional do país. Por sua vez, as repercussões decorrentes 
dessa nova agenda internacional provocaram mudanças no plano 
interno e no próprio ordenamento jurídico brasileiro. Essas 
transformações geraram um novo constitucionalismo, uma abertura 
à internacionalização da proteção dos direitos humanos. 
 
b) A Constituição brasileira de 1988 e a institucionalização dos 
direitos e garantias fundamentais. 
 
Primeiramente, importante salientar que a Constituição de 1988 
alargou significativamente o campo dos direitos fundamentais, 
colocando-se entre as constituições mais avançadas do mundo em 
relação à matéria. Se, no entender de Joaquim Gomes Canotilho, a 
juridicidade, a constitucionalidade e os direitos fundamentais são as 
três dimensões fundamentais do Estado de Direito, percebe-se que a 
Carta Magna de 1988 consagra amplamente este entendimento. 
 
Em nossa Constituição, dentre os fundamentos que alicerçam o 
EstadoDemocrático de Direito destacam-se a cidadania e a 
dignidade da pessoa humana, fazendo-se claro que os direitos 
fundamentais são elementos básicos para a realização do princípio 
democrático, além do que, pela primeira vez uma constituição 
nacional assinala especificamente objetivos ao Estado brasileiro, 
sendo certo que uns valem como base das prestações positivas que 
venham a concretizar a democracia econômica, social e cultural, a 
fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana. 
 
Infere-se desses dispositivos a preocupação da Constituição em 
assegurar os valores da dignidade e do bem-estar da pessoa humana 
como imperativo da justiça social. Sendo assim, o valor da 
dignidade da pessoa humana se impõe como núcleo básico e 
informador de todo o ordenamento jurídico, como critério de 
valoração e interpretação e compreensão do sistema constitucional. 
O valor da dignidade da pessoa humana informa a ordem 
constitucional de 1988, imprimindo-lhe um feição particular. 
 
Observando-se o prisma histórico, a primazia do valor da dignidade 
humana é uma resposta à profunda crise sofrida pelo positivismo 
jurídico, associada à derrota do fascismo, na Itália, e do nazismo, na 
Alemanha, movimentos que promoveram a barbárie em nome da 
lei. Neste contexto, ao final da Segunda Guerra Mundial, emerge a 
grande crítica e o repúdio à concepção positivista de um 
ordenamento jurídico indiferente a valores éticos, confirmando à 
ótica meramente formal. 
 
É sob o prisma da reconstrução dos direitos humanos que é possível 
compreender, no Pós-Guerra, de um lado, a emergência do 
chamado “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, e, de outro, 
a nova feição do direito constitucional ocidental, em resposta ao 
impacto das atrocidades então cometidas. No âmbito do direito 
constitucional ocidental, são adotados textos constitucionais abertos 
a princípios, dotados de elevada carga axiológica, com destaque 
para o valor da dignidade da pessoa humana. No caso brasileiro, e 
de toda América Latina, a abertura das constituições a princípios e a 
incorporação do valor da dignidade humana demarcarão o início do 
processo de democratização política. 
 
Há uma aproximação da ética com o direito, e, neste esforço, surge 
a força normativa dos princípios, especialmente do princípio da 
dignidade da pessoa humana. Há um reencontro dos pensamentos 
de Kant com a idéia de moralidade, dignidade, direito cosmopolita 
e paz perpétua. Para Kant as pessoas são um fim em si mesmas, não 
podendo ser usadas como meios, devendo tratar-se a humanidade 
na pessoa de cada ser, sendo certo, para Kant, que a autonomia é a 
base da dignidade humana e de qualquer criatura racional. 
 
Ao definir o que seja uma pessoa autônoma, Kant afirma que “uma 
pessoa é autônoma somente se tem uma variedade de escolhas 
aceitáveis disponíveis para serem feitas e sua vida se torna 
resultado das escolhas derivadas destas opções. Uma pessoa que 
nunca teve uma escolha efetiva, ou, tampouco, teve consciência 
dela, ou, ainda, nunca exerceu o direito de escolha de forma 
verdadeira, mas simplesmente se moveu perante a vida, não é uma 
pessoa autônoma”. 
 
O pensamento de Kant teve uma alta ingerência no plano 
internacional, concretizando a emergência do Direito Internacional 
dos Direitos Humanos, fundamentado no valor da dignidade 
humana como valor intrínseco à condição humana. Já no plano do 
constitucionalismo local, a vertente “kantiana” concretizou a 
abertura das constituições à força normativa dos princípios, com 
ênfase para o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Sendo 
assim, há uma verdadeira interação do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos com os direitos locais. 
 
Para Canotilho, enquanto o direito do Estado de Direito do século 
XIX e da primeira metade do século XX é o direito das regras do 
código, o direito do Estado Constitucional e de Direito leva a sério 
os princípios, é um direito de princípios. Consagra-se, assim, a 
dignidade da pessoa humana como verdadeiro superprincípio, a 
orientar tanto o direito internacional como o direito interno. O 
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, seja no âmbito 
internacional ou interno, unifica e centraliza todo o sistema 
normativo, assumindo especial propriedade. 
 
O sistema jurídico define-se, pois, como uma ordem axiológica ou 
teleológica de princípios jurídicos que apresentam verdadeira 
função ordenadora, na medida em que salvaguardam valores 
fundamentais. A interpretação das normas constitucionais advém, 
desse modo, de critério valorativo extraído do próprio sistema 
constitucional. Os princípios morais, são hoje, integrantes do 
sistema normativo. Sendo assim, o valor da dignidade da pessoa 
humana e dos direitos e garantias fundamentais vêm a constituir 
princípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça e 
dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema 
jurídico. 
 
A Constituição resguardar a dignidade da pessoa humana ao 
privilegiar os direitos fundamentais. Desse modo o Texto de 1988 
apresenta em seus primeiros capítulos avançada Carta de direitos e 
garantias elevadas a cláusulas pétreas, além de alargar a dimensão 
do que se entende por direitos e garantias fundamentas, incluindo, 
além dos direitos civis e políticos, os direitos sociais. Esta foi a 
primeira constituição brasileira a prevê os direitos sociais na 
declaração dos direitos. 
Nesta ótica, a Carta de 1988 conjuga o direito da liberdade ao da 
igualdade, não havendo como divorciá-los, além de garantir os 
direitos difusos e coletivos – aqueles pertinentes a determinada 
classe ou categoria social e estes pertinentes a todos e a cada um. A 
Constituição de 1988 estende a titularidade de direitos e, ao mesmo 
tempo, consolida o aumento da quantidade de bens merecedores de 
tutela, por meio da ampliação de direitos sociais, econômicos e 
culturais. 
 
Os direitos e garantias fundamentais são, assim, dotados de especial 
força expansiva, projetando-se por todo o universo constitucional e 
servindo como critério interpretativo de todas as normas do 
ordenamento jurídico. A Carta Magna de 1988 reforça, ainda, a 
imperatividade dos direitos e garantias fundamentais ao instituir o 
princípio da aplicabilidade imediata de tais normas, nos termos do 
art. 5º, §1º da CF/88, o que realça a força normativa de todos os 
preceitos constitucionais referentes a direitos, liberdades e 
garantias fundamentais. 
 
Ao tratar do tema J.J. Canotilho afirma que “os direitos, liberdades, 
garantias, são regras e princípios jurídicos imediatamente eficazes e 
actuais, por via direta da Constituição e não através de actoritas 
interpositivo do legislador. Não são simples norma normarum, mas 
norma normata, isto é, não são meras normas para a produção de 
outras normas, mas sim normas diretamente reguladoras de relação 
jurídico-materiais. (...) Aplicação direta não significa apenas que os 
direitos, liberdades e garantias se aplicam independentemente da 
intervenção legislativa. Significa também que eles valem 
directamente contra a lei, quando esta estabelece restrições em 
desconformidade com a Constituição” 
 
É neste contexto que se deve fazer a leitura dos dispositivos 
constitucionais pertinentes à proteção internacional dos direitos 
humanos, e neste tema a Constituição também registra inéditos 
avanços. 
 
c) Os princípios constitucionais a reger o Brasil nas relações 
internacionais. 
 
A Constituição de 1988 é a primeira a constituição nacional a trazer 
a prevalência dos direitos humanos como princípio a reger o Brasil 
na ordem internacional. Na realidade, foia primeira constituição a 
fixar valores a orientar a agenda internacional do Brasil. O art. 4º da 
CF/88 traz vários princípios que devem reger o Brasil nas relações 
internacionais, dentre eles encontra-se a prevalência dos direitos 
humanos (inc.II). 
 
De fato, a Constituição de 1988 introduz inovações extremamente 
significativas no plano das relações internacionais. Se, por um lado, 
esta Constituição reproduz tanto a antiga preocupação vivida no 
Império, que se refere à independência nacional e à não-
intervenção, como reproduz ainda os ideais republicanos voltados à 
defesa da paz, a Carta de 1988 inova ao realçar uma orientação 
nacionalista jamais vista na história constitucional brasileira. A 
orientação internacionalista se traduz nos princípios da prevalência 
dos direitos humanos, da autodeterminação dos povos, do repúdio 
ao terrorismo e ao racismo e da cooperação para o progresso da 
humanidade, nos termos do art. 4º, inc. II, III, VIII e IX. 
 
Ao romper com a sistemática das Cartas anteriores, a Constituição 
de 1988, ineditamente, consagra o primado do respeito aos direitos 
humanos como paradigma propugnado para a ordem internacional. 
Esse princípio invoca a abertura da ordem jurídica interna ao 
sistema internacional de proteção aos direitos humanos. A 
prevalência dos direitos humanos, como princípio a reger o Brasil 
no âmbito internacional, não implica apenas o engajamento do País 
no processo de elaboração de normas vinculadas ao Direito 
Internacional dos Direitos Humanos, mas sim a busca pela plena 
integração de tais regras na ordem jurídica brasileira. Implica, 
ademais, o compromisso de adotar uma posição política contrária 
aos Estados em que os direitos humanos sejam gravemente 
desrespeitados. 
 
Uma outra conseqüência da adoção da prevalência dos direitos 
humanos como fundamento das relações internacionais é uma 
mudança na concepção tradicional de soberania absoluta, haja vista 
que a soberania brasileira fica submetida a regras jurídicas, tendo 
como parâmetro obrigatório a prevalência dos direitos humanos. Há 
uma relativização e uma flexibilização em prol da proteção dos 
direitos humanos. 
Se para o Estado brasileiro a prevalência dos direitos humanos é 
princípio a reger o Brasil no cenário internacional, está-se 
conseqüentemente admitindo a concepção de que os direitos 
humanos constituem tema de legítima preocupação e interesse da 
comunicada internacional. Os direitos humanos, nesta concepção, 
surgem para a Carta Magna de 1988 como tema global. Cabe ainda 
ressaltar que o princípio da prevalência dos direitos humanos 
contribuiu de forma definitiva para o sucesso da ratificação, pelo 
Estado brasileiro, de instrumentos internacionais de proteção dos 
direitos humanos, como foi, por exemplo, com a Convenção 
Americana de Direitos Humanos – o Pacto de San José. 
 
 
CAPÍTULO IV - A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 
E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
a) Breves Considerações sobre Tratados Internacionais 
 
Os tratados internacionais, enquanto acordos internacionais 
juridicamente obrigatórios e vinculante (pacta sunt servanda), 
constituem hoje a principal fonte de obrigação do direito 
internacional, papel anteriormente ocupado pelo costume 
internacional. Tal como no âmbito interno, em virtude do 
movimento pós positivista, cada vez mais os princípios gerais do 
direito passam a ganhar maior relevância no direito internacional 
contemporâneo. 
 
Os tratados internacionais não necessariamente consagram novas 
regras de direito internacional. Há casos em que eles são criados 
apenas para codificar as regras preexistentes, consolidando os 
costumes internacionais ou, ainda, modificando-os. Diante da 
crescente utilização dos tratados como norma imperativa nas 
relações internacionais surgiu a necessidade de se regular o 
processo de formação dos tratados internacionais, o que aconteceu 
na Convenção de Viena, concluída em 1969. 
 
Pode-se dizer que a Convenção de Viena é a Lei dos Tratados 
Internacionais, contudo ela limitou-se a normatizar os tratados 
internacionais celebrados entre Estados, não incluindo aqueles dos 
quais participam organizações internacionais. Para o estudo do 
trabalho do livro, importa tão-somente os tratados celebrados entre 
Estados. Sendo assim, importa salientar que os tratados 
internacionais só se aplicam aos Estados-partes, ou seja, àqueles 
Estados que expressamente consentiram em sua adoção, não 
podendo criar obrigações para os demais Estados. 
 
Enfatize-se que os tratados são, por sua excelência, expressão de 
consenso. Apenas pela via do consenso podem os tratados criar 
obrigações legais, uma vez que Estados soberanos, ao aceitá-los, 
compromete-se a respeitá-lo, é o que prevê o art. 52 da Convenção 
de Viena. A Convenção de Viena determina, ainda, que “Todo 
tratado em vigor é obrigatório em relação às partes e deve ser 
cumprido por elas de boa-fé” e que “Uma parte não pode invocar 
disposições de seu direito interno como justificativa para o não-
cumprimento do tratado” (art. 27 da Convenção de Viena). 
Importante ressalta que, para contribuir para a adesão do maior 
número de Estados, permite-se que o tratado seja formulado com 
reservas. Nos termos da Convenção de Viena, reservas constituem 
“uma declaração unilateral feita pelo Estado, quando da assinatura, 
ratificação, acessão, adesão ou aprovação de um tratado, com o 
propósito de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas 
previsões do tratado, quando se sua aplicação naquele Estado”. 
Entretando, são inadmissíveis reservas que se mostrem 
incompatíveis com o objeto do tratado, nos termos do art. 19 da 
Convenção de Viena. 
 
b) O processo de formação dos tratado internacionais 
 
A sistemática de celebração dos tratados internacionais é deixada a 
critério de cada Estado, o que acarreta uma variação significativa 
em relação às exigências constitucionais para o processo de 
formação dos tratados. Em geral, o processo dar-se da seguinte 
forma: 
 
Primeiramente inicia-se com os atos de negociação, conclusão e 
assinatura, que são de competência do Poder Executivo. A 
assinatura do tratado significa um aceite precário e provisório, não 
implicando efeitos jurídicos vinculantes ao Estado. Via de regra, a 
assinatura do tratado indica apenas que o tratado é autentico e 
definitivo. O segundo passo é a apreciação e aprovação pelo Pode 
Legislativo. Após a apreciação pelos parlamentares vem a 
ratificação, sob a competência do Poder Executivo. A ratificação 
significa a confirmação formal por um Estado de que está obrigado 
ao tratado no plano internacional. É o aceito definitivo. 
 
A ratificação é um ato necessário para que o tratado passe a ter 
obrigatoriedade tanto no plano internacional quanto no plano 
interno. Como etapa formal, o instrumento de ratificação deve ser 
depositado em um órgão que assuma a custódia do instrumento. 
 
No Brasil, a Constituição de 1988 determina que é de competência 
exclusiva do Presidente da República celebrar tratados, convenções 
e acordos internacionais, competindo exclusivamente ao Congresso 
Nacional resolver definitivamente sobre os tratados, acordos e atos 
internacionais. Há uma colaboração entre os Poderes Executivo e 
Legislativo na conclusão dos tratados internacionais. Logo, os 
tratados internacionais demandam, para seu aperfeiçoamento um 
ato complexo no qual se integram a vontade do Presidente da 
República, que os celebra, e a do Congresso Nacional, que os 
aprova por meio de decreto legislativo. A colaboração entre os 
Poderes Executivo e Legislativo é uma tradiçãona história das 
constituições do Brasil. 
 
O método adotado pelo Brasil é uma forma de descentralizar o 
poder de celebrar tratados, prevenindo o abuso desse poder. Para os 
constituintes, o motivo principal da instituição de uma particular 
forma de cheks and balances talvez fosse o de proteger os direitos 
de alguns Estados, mas o resultado foi o de evitar a concentração do 
poder de celebrar tratados no Executivo, como era então a 
experiência européia. 
 
Importante observar que a Constituição só prevê a sistemática da 
formação dos tratados internacionais em duas normas, quais sejam, 
o art. 84, inc. VIII e o art. 49, inc. I). Sendo assim, em relação ao 
tema em apreço a Carta Magna ficou lacunosa, sem haver uma 
normatização, por exemplo, do prazo para que o Congresso 
Nacional aprecie o tratado já assinado pelo Poder Executivo, ou um 
prazo para que o Presidente da República encaminhe ao Congresso 
Nacional o tratado já assinado. Essa falta de normas acaba por 
contribuir para a afronta ao Princípio da boa-fé que norteia o direito 
internacional. 
 
c) Hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos 
Diferentemente do que ocorria no passado, a relação ente Direito 
Internacional e Direito Interno não é mais uma problemática apenas 
acadêmica, mas sim bastante pragmática, haja vista a crescente 
adoção de tratados cujo escopo não é mais a relação entre Estados, 
mas a relação entre Estados e seus próprios cidadãos. A eficácia 
desses tratados depende essencialmente da incorporação de suas 
previsões no ordenamento interno de cada país. 
 
A Carta de 1988, ao fim da Declaração de Direitos, consagra que os 
direitos e garantias nelas previstos não excluem outros decorrentes 
do regime de princípios por ela adotado, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte, 
conforme art. 5º, §2º da CF/88. A Constituição de 1967, previa 
apenas que os direitos e garantias expressos naquela constituição 
não outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos 
princípios que ela adotava. Sendo assim, a Carta Magna de 1988 
inovou ao acrescentar entre os direitos constitucionalmente 
protegidos os direitos enunciados nos tratados internacionais. 
Pois bem, se a Constituição prescreve que os direitos e garantias 
expressos na Constituição não excluem outros direitos decorrentes 
dos tratados internacionais, a contrario sensu, a Carta de 1988 está 
a incluir, no catálogo de direitos constitucionalmente protegidos, os 
direitos enunciados nos tratados internacionais em que o Brasil seja 
parte. Esse processo de inclusão implica a incorporação pelo Texto 
Constitucional de tais direitos. Ela, ao efetuar a incorporação, 
atribui aos direitos internacionais uma natureza diferenciada, qual 
seja, uma natureza de norma constitucional. 
 
Fazendo-se uma interpretação axiológica e sistemática no Texto 
Constitucional, especialmente em face da força expansiva dos 
valores da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais, 
chega-se a conclusão de que os direitos enunciados nos tratados de 
direitos humanos de que o Brasil é parte integram, portanto, o 
elenco dos direitos constitucionalmente consagrados. Um outro 
argumento que reforça a idéia de que os direitos enunciados em 
tratados internacionais possuem hierarquia constitucional é o fato 
de que os direitos fundamentais possuem natureza materialmente 
constitucional. 
 
A Constituição assume expressamente no seu art. 5º, §2º o conteúdo 
constitucional dos direitos constantes dos tratados internacionais 
dos quais o Brasil é parte, ainda que não sejam enunciados sob a 
forma de normas constitucionais. Para J.J. Canotilho, “o programa 
normativo-constitucional não pode se reduzir, de forma positivista, 
ao ‘texto’ da Constituição. Há que densificar, em profundidade, as 
normas e princípios da constituição, alargando o ‘bloco de 
constitucionalidade’ a princípio não escritos, mais ainda 
reconduzíveis ao programa normativo-constitucional, como formas 
de densificação ou revelação de princípios ou regras constitucionais 
positivamente plasmadas”. Os direitos internacionais integrariam, 
assim, o chamado “bloco de constitucionalidade”, densificando a 
regra constitucional positivada no §2º do art. 5º da CF, 
caracterizada como cláusula constitucional aberta. 
 
José Afonso da Silva também defende o entendimento de que o art. 
5º, §2º da CF abre espaço para que hajam cláusulas abertas 
constitucionais ao lecionar o seguinte: “a circunstância de a 
Constituição mesma admitir outros direitos e garantias individuais 
não enumerados, quando, no parágrafo 2º do art. 5º, declara que os 
direitos e garantias previstos neste artigo não excluam outros 
decorrentes dos princípios e do regime adotado pela Constituição e 
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil 
seja parte”. Para o constutucionalista há 3 classes de direitos 
individuais: a) os expressos, explicitamente individuados no art. 5º; 
b) os implícitos, subentendidos nas regras de garantias; c) os 
decorrentes do regime e de tratados internacionais subscritos pelo 
Brasil. 
 
Contudo, a classificação supramencionada peca pelo fato de 
equiparar os direitos decorrentes dos tratados internacionais aos 
decorrentes dos princípios e dos regimes adotados pela 
Constituição. Enquanto estes últimos não são nem implícita nem 
explicitamente enumerados, sendo de difícil caracterização a priori, 
os direitos constantes dos tratados internacionais dos quais o Brasil 
seja parte são expressos, enumerados e claramente elencados, não 
podendo ser considerados de difícil caracterização a priori. 
Observe-se que, diferentemente da Constituição Portuguesa, onde a 
cláusula de abertura faz referência a todo o direito internacional, a 
Constituição brasileira refere-se especificamente aos tratados 
internacionais dos quais o Brasil seja parte. 
 
Há a proposta de uma nova classificação dos direitos previstos pela 
Constituição: a) os direitos expressos na Constituição; b) os direitos 
expressos em tratados internacionais nos quais o Brasil seja parte e 
c) os direitos implícitos, que são os direitos que estão subentendidos 
nas regras de garantias, bem como os decorrentes do regime e dos 
princípios adotados pela Constituição. Logo, os direitos implícitos 
são imprecisos, vagos, elásticos, enquanto os direitos expressos na 
Constituição e nos tratados internacionais de que o Brasil seja parte 
compõem um universo claro e preciso. 
 
A Constituição de 1988 recepciona os direitos enunciados em 
tratados internacionais de que o Brasil seja parte conferido-lhes 
natureza de norma constitucional. Tal interpretação é consoante 
com o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais. 
No dizer de Jorge Mirando, “a uma norma fundamental tem de ser 
atribuído o sentido que mais eficácia lhe dê; a cada norma 
constitucional é preciso conferir, ligada a todas as outras normas, o 
máximo de capacidade de regulamentação”. Para Konrad Hesse, 
“(...) A dinâmica existente na interpretação construtiva constitui 
condição fundamental da força normativa da Constituição e, por 
conseguinte, de sua estabilidade. Caso ela venha a faltar, torna-se 
inevitável, cedo ou tarde, a ruptura da situação jurídica vigente”. 
Importante salientar que toda norma constitucional são verdadeiras 
normas jurídicas e desempenham uma força útil no ordenamento. 
Nenhuma norma constitucional se pode dar interpretação que lhe 
retire ou diminua a razão de ser. Considerando os princípios da 
força normativa da Constituição e da ótima concretização da norma, 
à norma constitucional deve ser atribuído o sentido de maioreficácia lhe dê, especialmente tratando-se de norma de direito 
fundamental. Para Canotilho, “(...) no caso de dúvidas deve 
preferir-se a interpretação que reconheça maior eficácia aos direitos 
fundamentais”. Deste modo, ao entender que os direitos constantes 
dos tratados internacionais passam a integrar o catálogo dos direitos 
constitucionalmente previstos, está-se a conferir a máxima eficácia 
aos princípios constitucionais, em especial ao princípio do art. 5º, 
§2º da CF/88. 
É de suma importância enfatizar que, enquanto os demais tratados 
internacionais têm força de norma infraconstitucional, os direitos 
enunciados em tratados internacionais de proteção aos direitos 
humanos apresentam valor de norma constitucional. Observe-se que 
a hierarquia infraconstitucional dos demais tratados internacionais é 
extraída do art. 102, III, b da CF, norma que confere competência 
ao Supremo Tribunal Federal para julgar recurso extraordinário as 
causas decididas em única ou última instância, quando a decisão 
recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. 
 
Sustenta-se, assim, que os tratados internacionais que não tratem de 
direitos fundamentais possuem a hierarquia de norma 
infraconstitucional, contudo com força supralegal. Esse 
posicionamento busca sua fundamentação no princípio da boa-fé, 
vigente no direito internacional (o pacta sunt servanda), e que tem 
reflexo no art. 27 da Convenção de Viena, segundo o qual não cabe 
ao Estado invocar disposições de seu direito interno como 
justificativa para o não-cumprimento de tratados. 
 
Contudo, a doutrina brasileira, ao interpretar o mencionado 
dispositivo constitucional, a tendência é acolher a concepção de que 
os tratado internacionais e as leis federais apresentam a mesma 
hierarquia jurídica, aplicando-se o princípio “lei posterior revoga lei 
anterior que seja com ela incompatível”. Essa concepção 
compromete não apenas o princípio da boa-fé do direito 
internacional, mas também afronta a própria Convenção de Viena. 
O STF, com base no raciocínio da maioria dos doutrinadores, vem 
adotando desde 1977 o entendimento de que as Leis Federais e os 
tratados internacionais têm a mesma hierarquia. 
 
Observe-se que, anteriormente a 1977 há diversos acórdãos 
consagrando o primado do Direito Internacional em que o tratado 
internacional não pode ser revogado por lei interna. Contudo, a 
tendência mais recente no Brasil é de que uma lei possa revogar um 
tratado anterior, posicionamento adotado a partir do julgamento do 
recurso extraordinário nº 80.004. Em seu voto, o Ministro Francisco 
Rezek ponderou que a lei interna revoga tratado internacional 
anterior com ele incompatível, sem embargos das conseqüências 
pelo descumprimento do tratado no plano internacional. 
 
Sendo assim, esse novo posicionamento adotado pelo STF a partir 
de 1977 desprestigia o princípio da boa-fé vigente no Direito 
Internacional, podendo acarretar sanções pelo descumprimento dos 
tratados. Vale dizer que, para o regime do direito internacional, 
apenas o ato de denúncia implica a retirada do Estado de 
determinado tratado internacional. Sem o mencionado ato de 
denúncia, persiste a responsabilidade do Estado na ordem 
internacional. 
 
O fundamento utilizado para, que na interpretação do art. 102, inc. 
III, alínea b da CF, houvesse uma equiparação hierárquica entre as 
leis e os tratados internacionais foi que inexiste, na perspectiva do 
modelo constitucional vigente no Brasil, qualquer precedência ou 
primazia hierárquico-normtiva dos tratados internacionais sobre o 
direito positivo interno, sobretudo em face das cláusulas inscritas 
no texto Constitucional, eis que a ordem normativa internacional 
não se sobrepõe ao que prescreve a Carta Magna. O livro, contudo, 
defende posicionamento contrário. Acredita-se que, ao conferir aos 
tratados internacionais de direitos humanos a hierarquia 
constitucional, com observância do princípio da prevalência da 
norma mais favorável, é interpretação que se situa em absoluta 
consonância com a ordem constitucional de 1988, bem como com a 
sua racionalidade e principiologia. 
 
Além de não concordar com o posicionamento do STF supra, 
insiste-se que, em relação aos tratados internacionais de direitos 
humanos não há como rechaçar o seu status constitucional. É 
aceitável que um tratado internacional comum tenha força de lei, 
mas em relação aos tratados internacionais de direitos humanos em 
que o Brasil seja parte não há como se rechaçar a sua hierarquia de 
norma constitucional. Este tratamento diferenciado, conferido pelo 
art. 5º, §2º da CF justifica-se na medida em que, enquanto os 
tratados internacionais comuns tratam de relações entre os Estados-
partes, os tratados internacionais de direitos humanos objetivam a 
salvaguarda dos direitos do ser humano, e não das prerrogativas dos 
Estados. O Estado que firma um tratado internacional de direitos 
humanos assume compromissos perante os cidadãos que se 
encontram sob a sua jurisdição e não em relação ao outro Estado. 
 
Ao lado do caráter especial dos tratados internacionais de direitos 
humano, pode-se acrescentar o argumento de que os tratados de 
direitos humanos apresentam caráter mais técnico, formando um 
universo de princípios que apresentam especial força obrigatória, 
denominada jus cogens. Na percepção crítica de Hilary 
Charlesworth e Christine Chinkin, “Jus cogens é definido como um 
conjunto de princípios que resguarda os mais importantes e valiosos 
interesses da sociedade internacional, como expressão de uma 
convicção, aceita em todas as nações, satisfazendo o superior 
interesse da comunidade internacional como um todo, como os 
fundamentos de uma sociedade internacional, sem os quais a inteira 
estrutura se romperia. Os direitos humanos mais essenciais são 
considerados parte do jus congens”. 
 
Em relação ao tema, os autores André Gonçalves e Fausto de 
Quadros que “um dos traços mais marcantes da evolução do Direito 
Internacional contemporâneo foi, sem dúvida, a consagração 
definitiva do jus congens no topo da hierarquia das fontes do 
Direito Internacional, como uma ‘supra-legalidade internacional”’. 
Com base nestes argumentos, pode-se sustentar que o direito 
brasileiro faz a opção por um sistema misto disciplinador dos 
tratados. Um regime aplicado aos tratados internacionais de direitos 
humanos, em que, por força do art. 5º, §2º da CF/88, apresentam 
hierarquia de norma constitucional, e um outro regime para os 
demais tratados internacionais, que apresenta hierarquia de 
infraconstitucional. Em suma, a hierarquia constitucionais das 
normas vinculadas por meio de tratados internacionais de direitos 
humanos emergem de uma interpretação axiológica e sistemática do 
art. 5º, §2º da CF em relação à Carta Magna, particularmente da 
prioridade que atribui aos direitos fundamentais e ao princípio da 
dignidade da pessoa humana. 
 
Importa salientar que, além das duas correntes já mencionadas, uma 
que entende que os tratados internacionais de direitos humanos 
devem ser recepcionados na norma interna com status de norma 
constitucional e a outra que, ao revés, entende que deva ser 
integrado ao sistema normativo interno com força equivalente a 
uma lei - esta última a corrente adotada pelo STF - há duas outras 
correntes. Uma sustenta que os tratados internacionais de direitos 
humanos possuem um status supraconstitucional, sendo certo que a 
outra entende que estas normas possuem força infraconstitucional, 
porém supralegal. 
 
Em relação à corrente que entende que os tratados internacionais de 
direitos humanos, os seus defensores fundamentam assuas teses em 
que os mencionados tratados, em verdade, são normas 
supranacionais, pois, ao observar que à expressão “não excluem” 
constante no art. 5º, §2º não pode ser concebido um alcance 
meramente quantitativo, devendo ser interpretada também em caso 
de conflito entre as normas constitucionais e o Direito Internacional 
em matéria de direitos fundamentais, devendo ser este último que 
deve prevalecer. 
 
Para os defensores da última corrente, qual seja, a que entende que 
os tratados internacionais de direitos humanos devem possuir uma 
hierarquia infraconstitucional, porém supralegal, equiparar os 
tratados internacionais de direitos humanos com as leis seria 
esvaziar em demasia o alcance do art. 5º, §2º da CF. Este grupo 
recusa a supremacia de qualquer convenção internacional sobre a 
constituição, porém não se deve chegar ao ponto de igualar o status 
das leis aos tratados internacionais de direitos humanos, defendendo 
a tese de que o art. 5º, §2º acabou por traduzir uma abertura dos 
direitos significativa ao movimento de internacionalização de 
direitos humanos. 
 
No intuito de dirimir as controvérsias doutrinárias e 
jurisprudenciais, foi criada na Emenda Constitucional nº 45 o §3º 
do art. 5º da CF, por meio do qual ficou determinado que os 
tratados internacionais de direitos humanos que formem aprovados 
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três 
quintos dos respectivos membros serão equivalentes às emendas 
constitucionais. Contudo, em face das argumentações já expostas, 
conclui-se que a hierarquia constitucional já se extrai de 
interpretação conferida ao próprio art. 5º, §2º da CF/88. Por força 
da indigitada norma, todos os tratados internacionais de direitos 
humanos são materialmente constitucionais compondo o bloco de 
constitucionalidade. O quorum requerido pelo §3º do art. 5º está 
apenas proporcionando a constitucionalização formal dos tratados 
de direitos humanos no âmbito interno. Sendo assim, á hierarquia 
dos valores deve corresponder a hierarquia das normas, e não o 
contrário. 
 
Importa salientar que deve ser rechaçado o entendimento de que os 
tratados que já foram ratificados devem ser recepcionado com força 
de lei em razão de não terem o quorum determinado pelo §3º do art. 
5º da CF. Observe-se que os tratados internacionais de proteção aos 
direitos humanos ratificados anteriormente à EC nº 45 contaram 
com a ampla maioria dos deputados e senadores, sendo certo que 
em muitos casos houve a superação do quorum de 3/5, não havendo 
apenas a votação em dois turnos porque na época não havia esta 
previsão. 
 
Celso Lafer, ao defender o entendimento que os tratados 
internacionais, mesmo os ratificados antes da EC nº 45/2004 já 
possuem status de norma constitucional, argumenta que p novo 
parágrafo 3º do artigo 5º da Constituição pode ser considerado 
como uma lei interpretativa, destinada a encerrar as controvérsias 
doutrinárias e jurisprudenciais suscitadas pelo parágrafo 2º. Para a 
doutrina, lei interpretativa é aquela que tão somente declara uma 
situação pré-existente, ao clarificar a lei existente. 
 
Os argumentos que fundamentam o entendimento de que os 
tratados internacionais de direitos humanos ratificados antes da EC 
nº 45/2004 possuem força constitucional são os seguintes: a) a 
interpretação sistemática da Constituição, de forma a dialogar os §§ 
2º e 3º do art. 5º da CF/88, já que o último não revogou o primeiro, 
mas deve ser interpretado à luz do sistema constitucional; b) a 
lógica e racionalidade material que devem orientar a hermenêutica 
dos direitos humanos; c) a necessidade de evitar interpretações que 
apontem a agudos anacronismos da ordem jurídica; e d) a teoria 
geral da recepção do direito brasileiro. 
 
Sendo assim, com o advento do §3º do art. 5º da CF/88 por meio da 
EC 45/2004, surgem dois tipos de tratados internacionais de direitos 
humanos, quais sejam: a) os materialmente constitucionais, que são 
os que possuem, que por força do § 2º do art. 5º é norma 
materialmente constitucional independentemente do seu quorum de 
ratificação; b) os materialmente e formalmente constitucional, que 
são os tratados internacionais de direitos humanos que tenham sido 
ratificado com o quorum exigido pelo § 3º do art. 5º da CF/88. 
Neste último caso, além de natureza material constitucional, a 
norma será formalmente constitucional. 
 
Resta salientar que entre os tratados internacionais de direitos 
humanos que são meramente materialmente constitucionais e os 
que são materialmente e formalmente constitucionais há uma 
diferença de regimes jurídicos que se aplica aos tratados. Enquanto 
os tratados materialmente constitucionais podem ser suscetíveis de 
denúncia, os tratados materialmente e formalmente constitucionais 
não podem ser objeto de denúncia. Atente-se, ainda, que ao se 
admitir a natureza constitucional de todos os tratados internacionais 
de direitos humanos, estar-se-á a admitir que os direitos neles 
vinculados, assim como os demais direitos e garantias consagrados 
pela Constituição, tornar-se-ão cláusulas pétreas, nos termos do art. 
60, § 4º da CF, não podendo vir a serem modificados por meio de 
Emenda Constitucional. 
 
Cabe apontar, contudo, que, embora os direitos internacionais sejam 
alcançados pelo art. 60, §4º da CF, e não possam ser eliminados por 
Emenda Constitucional, os tratados internacionais de direitos 
humanos materialmente constitucionais são suscetíveis de denúncia 
por parte do Estado signatário. Os direitos internacionais 
apresentam esta peculiaridade. Tendo sido prevista a regra da 
denúncia no tratado, o Estado parte pode denunciá-lo a fim de não 
mais ficar vinculado às obrigações assumidas quando da ratificação 
do tratado internacional de direitos humanos sem o quorum do § 3º. 
 
Devido à peculiaridade mencionada, considera-se mais coerente a 
aplicação ao ato da denúncia o mesmo procedimento aplicável ao 
ato de ratificação, ou seja, se para a ratificação é necessário um ato 
complexo, fruto da conjugação das vontades do Poder Executivo 
com o Legislativo, para o ato de denúncia mister a aplicação do 
mesmo procedimento. Entretanto isso não ocorre no Brasil. No 
direito brasileiro, a denúncia continua a ser ato privativo do 
Executivo, sem qualquer participação do Legislativo. 
 
Importante salientar que aos tratados internacionais de direitos 
humanos materialmente e formalmente constitucionais não podem 
ser objeto de denúncia. Isto se deve ao fato de que os direitos nele 
enunciados receberam assento no Texto da Constituição não apenas 
pela materialidade que o vincula, mas também pelo alto grau de 
legitimidade popular contemplado pelo especial e dificultoso 
processo de sua aprovação. Sendo assim, não há como se admitir 
que, após a passagem por um difícil processo de aprovação, um ato 
isolado do Presidente da República possa subtrair tais direitos do 
patrimônio popular. 
Para finalizar, importa examinar de forma breve o modo pelo qual o 
direito comparado trata da interação dos tratados internacionais de 
direitos humanos e a ordem jurídica nacional. A sistemática 
constitucional introduzida pela Constituição de 1988 se situa num 
contexto em que inúmeras Constituições latino-americanas buscam 
dispensar aos preceitos constantes dos tratados internacionais de 
direitos humanos uma natureza jurídica privilegiada. 
 
Na Constituição da Argentina, após a reforma constitucional de 
1994, enquanto os tratados internacionais em geral possuem uma 
hierarquia infraconstitucional, porém supralegal, os tratados 
internacionais de direitos humanos possuem uma força de normaconstitucional, completando os direitos e garantias 
constitucionalmente reconhecidos. Na Constituição da Venezuela, 
os tratados internacionais de direitos humanos subscritos pela 
Venezuela têm hierarquia constitucional e prevalecem sobre a 
ordem interna, na medida que contenham normas sobre o seu gozo 
e exercício mais favoráveis às estabelecidas pela Constituição e são 
de aplicação imediata e direta pelos tribunais e demais órgãos do 
poder público. 
 
No Peru, a sua atual Constituição de 1993 consagra que os direitos 
internacionalmente reconhecidos devem ser interpretados consoante 
a Declaração Universal de Direitos Humanos e os tratados 
internacionais de direitos humanos ratificados pelo Peru. Na 
Nicarágua, a sua Constituição confere hierarquia constitucional aos 
direitos constantes dos instrumentos internacionais de proteção dos 
direitos humanos. Um outro exemplo é a Constituição da 
Guatemala, na qual se prevê que os direitos e garantias nela 
previstos não excluem outros, adicionando, ainda, que os tratados 
internacionais de direitos humanos têm preeminênica sobre o 
direito interno. Também a Constituição do Chile, reformada em 
1989, consagra o dever dos órgãos do Estado de respeitar e 
promover os direitos garantidos pelos tratados internacionais 
ratificados por aquele país. 
 
É nesse contexto que se insere a inovação do art. 5º, § 2º da CF/88. 
Ao estatuir que os direitos e neles expressos não excluem outros, 
decorrentes de tratados internacionais em que o Brasil seja parte, a 
Constituição de 1988 passa a incorporar os direitos enunciados nos 
tratados de direitos humanos ao universo dos direitos 
constitucionalmente consagrados. 
 
d) A incorporação dos tratados internacionais de direitos 
humanos 
 
O art. 5º, § 1º da CF/88 consagra o princípio da aplicabilidade 
imediata dos direitos e garantias fundamentais. Ora, se as normas 
definidoras dos direitos e garantias fundamentais demandam 
aplicação imediata e se, por sua vez, os tratados internacionais de 
direitos humanos têm por objeto justamente a definição de direitos 
e garantias, conclui-se que tais normas merecem aplicação 
imediata. 
 
Sendo assim, diferentemente do que ocorre com os tratados 
internacionais em geral, para os quais se exige a intermediação pelo 
Poder Legislativo de ato com força de lei para que as suas 
disposições tenham vigência no ordenamento interno, para os 
tratados internacionais de direitos humanos em que o Brasil é parte, 
os direitos fundamentais neles assegurados passam a integrar os 
direitos constitucionalmente consagrados imediatamente. É o que se 
extrai da interpretação do art. 5º, §§ 2º e 3º. Em outras palavras, não 
será mais possível a sustentação da tese a qual, com a ratificação, os 
tratados obrigam diretamente os Estados, mas não geram direitos 
subjetivos. Torna-se possível a invocação imediata dos tratados de 
direitos humanos sem a necessidade de edição de ato com força de 
lei. 
 
A incorporação imediata gera pelo menos 3 conseqüências: a) o 
particular pode invocar diretamente os direitos e liberdades 
internacionalmente assegurados; b) proíbe condutas e atos 
violadores a esses mesmos direitos, sob pena de invalidação e c)a 
partir da entrada em vigor do tratado internacional, toda norma 
preexistente que seja com ele incompatível perde automaticamente 
a sua vigência. Ademais, passa a ser recorrível qualquer decisão 
judicial que violar as prescrições do tratado, haja vista o Recurso 
Especial a ser interposto contra decisão contrariar tratados, nos 
termos do art. 105, III, a da CF. 
 
Importa mencionar a lição de Agustín Gordillo, para quem, “não 
apenas o Tribunal nacional, mas também e especialmente o 
Tribunal internacional competente, estão expressamente facultados 
a declarar a antijuridicidade da conduta e, conseqüentemente, 
invalidá-la, aplicando ainda sanções pecuniárias em favor da pessoa 
físicas que sofreu violação a direito fundamental, por atos, ações ou 
omissões de sua país, no plano interno”. 
 
Mister ressaltar que além da sistemática da incorporação automática 
do direito internacional, há a sistemática da incorporação 
legislativa. Pela primeira, o Estado reconhece a plena vigência do 
direito internacional na ordem interna a partir da ratificação do 
tratado, passando a viger ao mesmo tempo tanto na ordem jurídica 
internacional como na interna. Não há a necessidade de uma norma 
de direito interno. Essa sistemática de incorporação imediata reflete 
a concepção monista, pela qual o direito internacional e o interno 
compõem a mesma unidade, uma única ordem jurídica. Já na 
sistemática da incorporação legislativa, o Estado recusa a vigência 
imediata do direito internacional na ordem interna, necessitando da 
sua reprodução por uma norma interna. Neste sistema a ordem 
internacional e a interna são duas ordens jurídicas distintas, 
refletindo a concepção dualista há duas ordens jurídicas 
independente e autônomas. 
 
Em caso de conflito entre as normas nacionais e as internacionais, 
há de ser perquirir, inicialmente, qual a sistemática adotada pelo 
país, a monista ou a dualista. Caso seja a dualista não há maiores 
esclarecimentos a serem feitos, haja vista que, por este sistema há 
inteira independência entre as ordens jurídicas nacionais e 
internacionais. Vindo a ser adotada pelo Estado a sistemática 
monista, há de se observar se o monismo é com o primado do 
direito nacional ou se é um monismo com primado da norma 
internacional. No primeiro caso, em caso de conflito entre a norma 
internacional e a interna, prevalece a norma interna, já no segundo 
caso, prevalece a norma de direito internacional. 
Diante dessas duas sistemáticas, conclui-se que no Brasil adota-se 
uma sistemática mista, na qual, para os tratados internacionais de 
direitos humanos, por força do art. 5º, § 1º da CF/88, têm vigência 
imediata, enquanto para os demais tratados se aplica a sistemática 
da incorporação legislativa, fazendo-se necessário a intermediação 
de um ato normativo para tornar o tratado obrigatório na ordem 
interna. Diferentemente do que ocorre em relação aos tratados de 
direitos humanos, em que há norma expressa na Constituição que 
determina a sua incorporação imediata ao sistema jurídico interno, 
art. 5º, §§ 1º e 2º da CF, em relação aos demais tratados não há 
qualquer menção sobre a sua vigência no ordenamento interno. Por 
isso a maioria dos doutrinadores entendem que em relação aos 
tratados internacionais em geral aplica-se a sistemática dualista, ou 
seja, há a necessidade de uma norma interna a fim de que o tratado 
passe a ter vigência interna. 
 
Porém para o trabalho, em se tratando de tratados sobre direitos 
humanos, os mesmos têm aplicação imediata, sem a necessidade da 
expedição do Decreto de Execução, conforme determina o art. 5º, § 
1º da CF/88. Já para os demais tratados o Decreto de Execução é 
imprescindível para que as normas internacionais tenham vigência 
no direito interno. No que pese as argumentação explanadas no 
presente trabalho, para a jurisprudência do STF a expedição do 
decreto é essencial para que o tratado internacional seja incorporado 
ao ordenamento interno. 
 
Em síntese, em relação aos tratados internacionais de direitos 
humanos, a Constituição, em seu art. 5º, § 1º, acolhe a sistemática 
da incorporação automática, refletindo a sistemática monista, 
conferindo-lhes, ainda, o status de norma constitucional, por força 
do art. 5º, §§ 2º e 3º. O regime diferenciado, todavia, não se aplica 
aos tratados internacionais tradicionais, havendo a necessidade, 
para a sua vigência no ordenamento jurídico interno,da expedição 
de uma norma interna, além de não possuírem força hierárquica 
constitucional. 
 
Importa salientar que a sistemática de incorporação automática tem 
sido uma tendência de algumas Cartas Contemporâneas, como 
ocorre na Constituição portuguesa, na alemã, na espanhola, na 
francesa, na holandesa. Diante do que foi exposto, cabe ao Poder 
Judiciário e aos demais Poderes Públicos assegurar a implantação 
no âmbito nacional das normas internacionais de direitos humanos 
ratificados pelo Brasil. As normas internacionais que consagram os 
direitos humanos tornam-se passíveis de vindicação e pronta 
aplicação ou execução perante o Poder Judiciário. Os indivíduos 
tornam-se, portanto, beneficiários dos direitos de instrumentos 
internacionais votados à proteção dos direitos humanos. 
 
e) O impacto jurídico dos tratados internacionais de direitos 
humanos no direito interno brasileiro. 
 
Em relação ao impacto jurídico dos tratados internacionais de 
direitos humanos no direito brasileiro, levando-se em conta a 
hierarquia constitucional desses tratados, três são as hipóteses que 
podem ocorrer, quais sejam, o direito enunciado no tratado: a) 
coincidir com o direito assegurado na Constituição; b) integrar, 
complementar e ampliar o universo de direitos constitucionais 
previstos; ou c) contrariar preceitos internos. 
 
No caso de coincidir o direito assegurado pelo tratado internacional 
com o direito assegurado pela Constituição não apenas reflete o fato 
de o legislador nacional buscar inspiração nesse instrumento 
internacional, como também revela a preocupação do legislador em 
equacionar o direito interno, de modo a ajustá-lo, com harmonia e 
consonância, às obrigações internacionalmente assumidas pelo 
Estado brasileiro. Nesse caso, os tratados internacionais de direitos 
humanos estarão a reforçar o valor jurídico de direitos 
constitucionalmente assegurados, de forma que eventual violação 
do direito importará em responsabilização não apenas nacional, mas 
também internacional. 
O segundo impacto jurídico decorrente da incorporação do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos pelo direito interno resulta do 
alargamento do universo dos direitos nacionalmente garantidos. 
Vários são os casos em que direitos, embora não previstos no 
âmbito nacional, encontram-se enumerados nesses tratados, assim, 
passando a incorporar ao direito brasileiro. Na medida em que os 
direitos assegurados pelos tratados não são previstos no direito 
interno, eles inovam e ampliam o universo de direitos 
nacionalmente assegurados. O Direito Internacional dos Direitos 
Humanos inova, estende e amplia o universo dos direitos 
constitucionalmente assegurados. 
 
O Direito Internacional dos Direitos Humanos ainda permite, em 
determinados casos, o preenchimento de lacunas apresentadas pelo 
direito brasileiro. Um exemplo foi o julgamento pelo Pleno do STF 
do habeas corpus em que o Ministro Sidney Sanches, relator para o 
acórdão. O caso tratava-se da existência jurídica do crime de tortura 
contra criança e adolescente. O Estatuto da Criança e do 
Adolescente prevê em seu art. 233 o crime de prática de tortura 
contra a criança e o adolescente, porém instaurou-se a polêmica 
dado o fato de esta ser um “tipo penal aberto”. Ocorre que o STF 
entendeu que os instrumentos internacionais de direitos humanos 
permitem a integração da norma penal em aberto, a partir do 
reforço do universo conceitual relativo ao termo tortura. Neste caso 
ficou comprovado que os tratados internacionais de direitos 
humanos podem integrar e complementar as normas internas. 
 
Sendo assim, quando as normas dos tratados internacionais de 
direitos humanos coincidam com os preceitos assegurados na 
constituição ou quando integrem, complementem ou ampliem as 
normas constitucionais, elas terão a função de reforçar a 
imperatividade das normas garantidas e de preencher as lacunas do 
direito interno, respectivamente. Contudo ainda se faz possível uma 
terceira hipótese: eventual conflito entre o Direito Internacional de 
Direitos Humanos e o direito interno. 
 
Para solucionar o possível conflito entre as normas do tratado 
internacional de direitos humanos e as normas de direito interno, 
pode-se imaginar, como primeira alternativa, a adoção do critério 
“lei posterior revoga lei anterior com ela incompatível”, 
considerando a natureza constitucional dos tratados internacionais 
de direitos humanos. Porém, um exame mais cauteloso do assunto 
aponta para outro critério de solução. É a escolha da norma mais 
favorável à vítima. Prevalece a norma que mais beneficia o 
indivíduo, titular do direito. O princípio da aplicação dos 
dispositivos mais favorável à vítima é consagrado tanto pelos 
próprios tratados internacionais de proteção aos direitos humanos 
quanto pela jurisprudência dos órgãos de supervisão internacionais. 
 
No plano de proteção dos direitos humanos interagem o direito 
internacional e o direito interno movidos pelas mesmas 
necessidades de proteção, prevalecendo as normas que melhor 
protejam o ser humano, tendo em vista que a primazia é da pessoa 
humana. Os direitos internacionais constantes nos tratados de 
direitos humanos apenas vêm a aprimorar e fortalecer, nunca a 
restringir ou deliberar, o grau de proteção dos direitos consagrados 
no plano normativo constitucional. Logo, em caso de conflito entre 
as normas de direito internacional sobre direito humanos e as 
normas internas, adota-se o critério da prevalência da norma mais 
favorável. 
 
O próprio art. 29 da Convenção Americana de Direitos Humanos 
estabelece que “nenhuma disposição da Convenção pode ser 
interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de qualquer 
direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis 
de qualquer Estados-partes ou em virtude de Convenções em que 
seja parte um dos referidos Estados”. A escolha da norma mais 
benéfica ao indivíduo é tarefa que caberá fundamentalmente aos 
Tribunais nacionais e a outros órgãos aplicadores do direito, no 
sentido de assegurar a melhor proteção possível ao ser humano. 
 
Exemplificando os casos de conflitos entre normas internacionais 
de direitos humanos e normas de direito interno, coloca-se o caso 
do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que estabelece 
o direito de toda pessoa a fundar, com outras, sindicatos e de filiar-
se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente às 
restrições previstas em lei e que sejam necessárias para assegurar os 
interesses de segurança nacional ou da ordem pública, ou para 
proteger os direitos e liberdades alheias. Já a Constituição Nacional 
consagrou o Princípio da unicidade sindical, que prevê a proibição 
de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, 
representativa da categoria profissional ou econômica, na mesma 
base territorial. 
 
Acolhendo o princípio da prevalência da norma mais favorável ao 
indivíduo e considerando que os direitos previstos em tratados 
internacionais incorporam a constituição com aplicação imediata, 
conclui-se que a ampla liberdade de criar sindicatos merece 
prevalecer, até porque as exceções previstas no Pacto Internacional 
dos Direitos Civis e Políticos não são observadas no Brasil, ou seja, 
no Brasil, a restrição à liberdade de sindicalização não se dá em 
razão da necessidade de assegurar os interesses de segurança 
nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e 
liberdades alheias. Como não houve qualquer reserva por parte do 
Brasil ao ratificar o mencionado pacto internacional, aceitou-se a 
plena liberdade de criação de sindicatos. 
 
Um outro caso quemerece enfoque refere-se à previsão que consta 
no art. 11 do Pacto Internacional de Direito Humanos. Pela norma, 
“Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma 
obrigação contratual”. Enunciado semelhante é o do art. 7º da 
Convenção Americana, que estabelece que ninguém deve ser detido 
por dívida, acrescendo apenas uma exceção, qual seja, a dívida de 
créditos alimentícios. A Constituição Nacional consagra o princípio 
da proibição por dívida, contudo admite não apenas uma exceção, 
como na Convenção Americana, mas sim duas: dívida de crédito 
alimentício e depositário infiel. 
 
Pois bem, se o Brasil ratificou os dois instrumentos internacionais 
sem qualquer reserva no que tange à matéria, é de questionar a 
possibilidade de prisão civil de depositário infiel. Pelo critério da 
prevalência da norma mais favorável ao indivíduo no plano da 
proteção dos direitos humanos, conclui-se que merece ser afasta tal 
possibilidade de prisão. Observe-se que se a situação fosse inversa, 
se as normas constitucionais fosse mais benéfica que a norma 
internacional, aplicar-se-ia Constituição Federal. As próprias regras 
de direito internacional levam a esta interpretação ao afirmarem que 
os tratados internacionais só se aplicam se ampliarem e estenderem 
o alcance da proteção nacional de direitos humanos. 
 
Em resumo do presente tópico pode-se afirmar que, considerando a 
natureza constitucional dos direitos enunciados nos tratados 
internacionais de proteção dos direitos humanos, três hipóteses 
poderão ocorrer. O direito enunciado no tratado internacional 
poderá: a) reproduzir direitos assegurados na Constituição; b) 
inovar o universo dos direitos constitucionalmente previstos e c) 
contrariar preceito constitucional. Na primeira hipótese, os tratados 
de direitos humanos estarão a reforçar o valor jurídico de direitos 
constitucionalmente assegurados. Na segunda, esses tratados 
estarão a ampliar e estender o elenco dos direitos constitucionais, 
complementando e integrando a declaração constitucional de 
direitos. Por fim, quanto à terceira hipótese, prevalecerá a norma 
mais favorável à proteção da vítima. Vale dizer, os tratados 
internacionais de direitos humanos inovam significativamente o 
universo dos direitos constitucionalmente consagrados, ora 
reforçando sua imperatividade, ora adicionando novos direitos, ora 
suspendendo preceitos que sejam menos favoráveis à proteção dos 
direitos humanos. Em todas as três hipóteses, os direitos 
internacionais constantes dos tratados internacionais de direitos 
humanos apenas vêm aprimorar e fortalecer, nunca restringir ou 
debilitar o grau de proteção dos direitos consagrados no plano 
normativo interno. 
 
 
SEGUNDA PARTE 
 
O SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO AOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
CAPÍTULO V - PRECEDENTES HISTÓRICOS DO 
PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E 
UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. 
 
Enquanto o objetivo da primeira parte do trabalho foi o modo pelo 
qual a Constituição de 1988 se relaciona com os tratados 
internacionais de direitos humanos, nesta segunda parte o objetivo é 
aprofundar os estudos do sistema internacional de proteção dos 
direitos humanos, tanto do âmbito global quanto no regional. Neste 
primeiro capítulo desta segunda parte, o objetivo é desvendar os 
precedentes históricos que permitiram a deflagração do processo de 
internacionalização e universalização dos direitos humanos. 
 
a) Primeiros Precedentes do processo de internacionalização 
dos direitos humanos – o Direito Humanitário, a Liga das 
Nações e a Organização Internacional do Trabalho. 
 
Sempre se mostrou intensa a polêmica sobre a natureza dos direitos 
humanos, se eles são naturais e inatos, direitos positivos, direitos 
históricos ou direitos que derivam de determinado sistema moral. 
Tal polêmica ainda hoje é bastante intensa. O presente trabalho 
defende a historicidade dos direitos humanitários, na medida em 
que estes não são um dado, mas construído, uma invenção humana, 
em constante processo de construção e reconstrução. Na lição de 
Norberto Bobbio, os direitos humanos nascem como direitos 
naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos 
particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de 
Direitos) para finalmente encontrar a plena realização como direitos 
positivos universais. Preleciona ainda Bobbio que, não obstante a 
importância do debate a respeito do fundamento dos direitos 
humanos, o maior problema hoje “não é mais o de fundamentá-los, 
e sim o de protegê-los”. 
 
Os primeiros marcos do processo de internacionalização dos 
direitos humanos foram o Direito Humanitário, a Liga das Nações e 
a Organização Internacional do Trabalho. Foi necessário uma nova 
definição do âmbito e o alcance do tradicional conceito de 
soberania estatal, a fim de permitir o advento dos direitos humanos 
como questão de legítimo interesse internacional. Foi preciso, 
ainda, a redefinição do status do indivíduo no cenário internacional, 
para que se tornasse o verdadeiro sujeito de direito internacional. 
 
Direito Humanitário é o direito que se aplica na hipótese de guerra, 
a fim de limitar a atuação do Estado e assegurar a observância de 
direitos fundamentais. A proteção humanitária se destina, em casos 
de guerra, a militares postos fora de combate (feridos, doentes, 
náufragos, presioneiros) e à população civil. A Liga das Nações foi 
criada após a Primeira Guerra Mundial, possuindo como finalidade 
promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando 
agressões externas contra a integridade territorial e a independência 
política dos seus membros. Era também um meio de reforçar a idéia 
de relativizar a soberania dos Estados, incorporando em seu 
conceito compromissos e obrigações de alcance internacional no 
que diz respeito aos direitos humanos. Além do Direito 
Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do 
Trabalho também contribuiu para a internacionalização dos direitos 
humanos. Criada após a Primeira Guerra Mundial, tinha por 
finalidade promover padrões internacionais de condições de 
trabalho e bem-estar. 
 
Apresentando o breve perfil da Organização Internacional do 
Trabalho, da Liga das Nações e do Direito Humanitário, pode-se 
concluir que tais institutos, cada qual ao seu modo, contribuíram 
para o processo de internacionalização dos direitos humanos, seja 
ao assegurar parâmetros globais mínimos para as condições de 
trabalho no plano mundial, seja ao fixar como objetivos 
internacionais à manutenção da paz e segurança internacional, seja 
ainda ao proteger direitos fundamentais em situações de conflito 
armados. Tais institutos se assemelham na medida em que protejam 
o tema dos direitos humanos na ordem internacional. 
 
Com o advento dos institutos supramencionados, chega-se ao fim a 
época em que o Direito Internacional era confinado a regular 
meramente relações entre Estados. Passa-se a não mais visar apenas 
arranjos recíprocos, mas sim o alcance de obrigações internacionais 
a serem garantidos coletivamente. Essas obrigações visam a 
salvaguardar direitos do ser humano e não prerrogativas dos 
Estados. Os novos institutos rompem, ainda, com a antiga 
concepção de soberania nacional absoluta, na medida que admitem 
intervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos 
humanos. Aos poucos emerge a idéia de que o indivíduo não é 
apenas objeto, mas também sujeito do Direito Internacional, 
passando-se a se aceitar a capacidade processual internacional dos 
indivíduos, bem como a concepção de que os direitos humanos não 
mais se limitam à exclusiva

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