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CORPO ESTRANHO DE ORELHA

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CORPO ESTRANHO DE ORELHA 
Alan Paz 
2022 
 
Definição: pode ser entendido como a presença ou a penetração de um objeto, substância 
ou ser vivo em cavidades ou tecidos do corpo humano. 
O CE tem maior prevalência na orelha externa, mas pode acometer também a média e, 
mais raramente, a interna. Os CEs de orelha podem ser classificados em orgânicos ou 
inorgânicos, animados ou não, metálicos ou não, e higroscópicos ou não. 
Quadro clínico e diagnóstico: 
Na população pediátrica, em geral resultam do diagnóstico eventual durante o 
atendimento médico, enquanto, na população adulta, em geral são referidos. Na maioria 
das vezes, o CE de orelha é assintomático ou pouco sintomático. 
A queixa clínica de disacusia (termo aplicável a qualquer alteração da percepção sonora) 
é a mais comum, podendo ser caracterizada ainda, na história, hipoacusia (sensação de 
percepção em volume diminuído da fonte externa), autofonia (percepção aumentada da 
própria voz) e/ou percepção exacerbada de sons corpóreos (mastigação/pulsação de vasos 
sanguíneos). Sintomas de dor, otorragia e incômodo pela sensação de CE também podem 
ocorrer. 
Alguns sintomas e/ou sinais devem ser pesquisados no atendimento inicial, pois alertam 
para um possível agravamento do quadro. Zumbido intenso, tontura ou vertigem e teste 
de Weber sugestivo alertam para a ocorrência de perda auditiva neurossensorial, 
necessitando de avaliação emergencial por audiometria. Otorragia sugere possibilidade 
de lesão de membrana timpânica e de outras estruturas da orelha média. Já a otorreia e o 
edema do meato sugerem complicação infecciosa secundária, incluindo o relato de 
mastoidite. 1 Em todos esses casos, uma abordagem bastante criteriosa e cuidadosa deve 
ser adotada, tanto por questões médicas como legais, sobretudo em casos de manipulação 
prévia por outro profissional. 
O diagnóstico do CE de orelha em geral é definido pela simples otoscopia, que flagra a 
presença dele no meato acústico externo (MAE). Raramente são necessários exames de 
imagem para seu diagnóstico, mas estes podem ser úteis para uma avaliação mais 
detalhada e planejamento de sua retirada, sobretudo em casos com envolvimento da 
orelha média ou interna, ou por questões médico-legais. 
Tratamento: O tratamento habitual do CE de orelha é a sua remoção cuidadosa, que pode 
ser feita em geral por lavagem e/ou manipulação instrumental, com ou sem sedação. Em 
geral, a remoção pode ser feita por via transcanal, mas, eventualmente, sobretudo em 
casos com grande edema da pele do meato, pode ser necessária uma abordagem mais 
agressiva, com acesso retroauricular. 
Algumas situações particulares merecem destaque no planejamento da remoção do CE de 
orelha. No caso de CEs animados (insetos em geral), antes da remoção deve-se fazer a 
imobilização deste por "afogamento" em óleo mineral (vaselina) ou vegetal para evitar o 
desconforto do paciente pela sua movimentação espontânea. No caso de baterias elétricas, 
deve-se evitar a lavagem, pelo risco de oxidação, e realizar a remoção o mais breve 
possível. O extravasamento das substâncias químicas que compõem as baterias elétricas 
pode gerar grande componente inflamatório do MAE e dificultar sua remoção. 
 
 
A miíase é a presença de larva de inseto, sobretudo de moscas, e pode ser primária ou 
secundária. Na primária, a larva invade o tecido saudável e, assim, é obrigatoriamente 
considerada parasita, não sendo um CE. Sua apresentação mais comum é a furuncoloide, 
populannente conhecida como "berne". Já na secundária, as larvas são apenas parasitas 
ocasionais, pois se desenvolvem em tecidos necróticos e/ou cavidades corpóreas. 
Popularmente conhecida como ''bicheira", essa segunda apresentação é favorecida em 
casos de otite média crônica supurativa e/ou neoplasias de orelha externa. O tratamento 
em ambas as situações deve ser feito pela remoção das larvas, que é facilitada pelo uso 
de ivermectina (dose única, via oral, de 6 mg, a cada 30 kg de peso) e/ou aplicações 
tópicas repetitivas de iodofórmio em pó. Eventualmente também deve ser tratada a 
dermatite/celulite bacteriana secundária. 
 
 
A presença de CE na orelha média pode gerar reação inflamatória crônica, inclusive com 
formação de granuloma. Essa situação é relativamente comum em casos de ferimentos 
por anna de fogo no osso temporal, onde resíduos do projétil alojados na fenda e/ou 
mastoide podem, ao longo do tempo, acarretar inclusive o surgimento de colesteatoma.

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