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MORFOSSINTAXE I Francisco De Souza Gonçalves Classes de palavras: pronome, numeral e verbo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as classes de palavras: pronomes, numerais e verbos. � Conceituar pronomes, numerais e verbos. � Relacionar e empregar aspectos linguísticos, semânticos e discursivos dos pronomes, dos numerais e dos verbos em situações concretas de interação verbal, orais ou escritas. Introdução O estudo das classes de palavras é marcado pela vontade do homem de compreender a realidade na qual está inserido e de tentar, de alguma maneira, controlá-la. Compreender a linguagem, em seus imbricados processos, sempre foi uma preocupação do ser humano. Analisar e ca- tegorizar foram os primeiros caminhos encontrados para compreender os mecanismos da fala e da escrita. Organizar as palavras em classes, mediante suas características, é uma evidência desse ímpeto humano (CUNHA; ALTGOTT, 2004). Neste capítulo, você estudará algumas importantes classes de palavras das quais se ocupa o estudo da morfologia, conhecendo, então, um pouco mais sobre os pronomes, os numerais e os verbos. Pronome A classe dos pronomes é aquela que agrupa palavras cuja função é substituir ou acompanhar o substantivo (nome) em uma oração (AZEVEDO, 2015). Primei- ramente, é possível distinguir dois tipos principais de pronomes: os pronomes substantivos e os pronomes adjetivos. Enquanto os pronomes substantivos exercem papel similar ao do substantivo, substituindo-o, os pronomes adjetivos acompanham ou modificam um substantivo ou um pronome substantivo. Os pronomes são flexionáveis em gênero, em número e de acordo com a pessoa do discurso. Exemplos: Ele era meu padrinho. (pronome substantivo) Minha caneta é azul, aquelas canetas são azuis. (pronome adjetivo) Classificação dos pronomes Os pronomes podem ser classificados de acordo com a função que exercem. Pronomes pessoais — Esse tipo de pronome é utilizado para representar as pessoas do discurso (1ª, 2ª ou 3ª, tanto do singular quanto do plural). Há os pronomes pessoais do caso reto e os pronomes pessoais do caso oblíquo. Os primeiros podem exercer função sintática de sujeito; são eles: eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas. Já os pronomes pessoais do caso oblíquo são aqueles que, numa oração, podem complementar os verbos: me, mim, comigo, nos, conosco; te, ti, contigo, vos, convosco; o, a, lhe, se, si, consigo, os, as, lhes, etc. Pronomes de tratamento — São pronomes que indicam o tratamento for- mal ou informal que é dado a um indivíduo (você, Vossa Excelência, Vossa Majestade, Eminência, Vossa Magnificência, etc.). Pronomes relativos — São aqueles usados para referir-se a um termo anterior- mente mencionado, sem precisar repeti-lo (que, cuja, cujo, o qual, as quais, quem, etc.). Flexionam-se em gênero e número, de acordo com o substantivo. Pronomes demonstrativos — Pronomes utilizados para situar algo no tempo e no espaço (este, isto, isso, aquilo, etc.). Pronomes possessivos — São aqueles que expressam uma relação de posse (meu, minha, teu, sua, nosso, vosso, etc.). Flexionam-se de acordo com o gênero, o número e a pessoa do discurso a que se referem. Pronomes indefinidos — São aqueles que substituem ou acompanham um nome, expressando de modo vago ou impreciso, a quantidade daquilo que representam (alguém, ninguém, qualquer, quaisquer, etc.). Classes de palavras: pronome, numeral e verbo2 Pronomes interrogativos — São os pronomes utilizados para a elaboração de interrogações. Geralmente, um pronome relativo converte-se em interrogativo para a construção de perguntas (quem, que, qual, etc.). Numeral Como o próprio nome já enuncia, nessa classe agrupam-se os termos que dizem respeito aos números. Essas palavras são instrumentalizadas para quantificar substantivos ou indicar posições numéricas ou ordinais de algo ou alguém. A representação gráfica do numeral pode se dar de forma simbólica, pelo número, ou em sua escrita por extenso (CEGALLA, 2004). O que difere o numeral um do artigo um é que, no contexto semântico, o artigo indica uma indefinição do substantivo, enquanto o numeral indica a quantidade do substantivo. Classificação dos numerais Convencionou-se classificar os numerais da seguinte forma: Cardinal — A forma mais comum, observada quando o numeral indica a quantidade do substantivo ou é utilizado para contabilizar alguma coisa. Um, três, cinco, quatro, dois. Podem cair mil à tua esquerda, Dez mil à tua direita (Livro de Salmos na Bíblia Sagrada) 3Classes de palavras: pronome, numeral e verbo Ordinal — Ocorre quando o falante ou o narrador deseja ordenar ou sequenciar alguma coisa. Terceiro, décimo-segundo, enésimo, quinquagésimo-sétimo. Quando o segundo sol chegar, para realinhar as órbitas dos planetas (O segundo sol — Nando Reis) Multiplicativo — É utilizado quando se necessita enunciar cômputos multiplicativos. Triplo, dupla, dobro, sêxtuplo, décuplo, duodécuplo, tercio décuplo. Nem centavo, nem milhão Nem o dobro, nem metade Nem a prata, nem o ouro Nem o Euro, nem o Dólar Nem fortuna, nem esmola Nada do que eu conheço paga o preço de viver sem liberdade (Tudo certo — Gabriel o Pensador) Fracionário — Aparece na fala ou no texto quando o interlocutor necessita enunciar a parte de um todo ou as porções fracionadas deste. Classes de palavras: pronome, numeral e verbo4 Terço, quinto, oitavo, sexto, um terço, três quartos. Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, Esperando o ônibus da escola sozinha Cansada com minhas meias três quartos Rezando baixo pelos cantos Por ser uma menina má Quem sabe o príncipe virou um chato Que vive dando no meu saco Quem sabe a vida é não sonhar. (Malandragem — Cássia Eller) Coletivo — Lança-se mão desse tipo de numeral quando se precisa expressar um conjunto de algo. Dúzia, cento, dezena. O homem disse para o amigo: — Breve irei a tua casa e levarei minha mulher. O amigo enfeitou a casa e quando o homem chegou com a mulher, soltou uma dúzia de foguetes. (Sociedade — Carlos Drummond de Andrade) A língua é dinâmica e fluida, e a criatividade do falante é infinita. Dessa forma, o emprego dos numerais pode se dar de diversas formas. Para designar a sucessão de papas, de reis, de imperadores, dos séculos e de partes de alguma obra, são utilizados 5Classes de palavras: pronome, numeral e verbo os números ordinais até o décimo; depois, são empregados os números cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo. Quando se trata de leis, decretos e portarias, a gramática preconiza o uso do numeral ordinal até o nono, e do cardinal a partir do dez. Para os dias do mês, utilizam-se os cardinais, com exceção da indicação do primeiro dia, que é feita tradicionalmente pelo ordinal “primeiro”. Flexões do numeral De maneira geral, o numeral pode flexionar-se em gênero (feminino e mascu- lino) e número (singular e plural), de acordo com o substantivo que o determina, ou seja, pode flexionar-se de acordo com sua indicação quantitativa e com seu gênero (AZEVEDO, 2015). Os numerais cardinais são majoritariamente invariáveis. Todavia, em alguns casos, podem variar em gênero (um/uma, dois/ duas, duzentos/duzentas, trezentos/trezentas) e número (um/uns, milhão/ milhões). No caso dos numerais ordinais, as flexões são mais frequentes, ocor- rendo em função do substantivo que os determina. Podem ser de gênero e/ou de número (segundo/segunda/segundos/segundas). Os numerais multiplicativos são invariáveis quando desempenham função substantiva, ou seja, quando substituem um substantivo; se atuam em função adjetiva, podem-se flexionar em gênero e número (As senhoras leiloaram o dobro das joias para obter atenções triplas). Os numerais fracionários também podem variar em gênero e em número (um terço/dois terços/a terça parte, um oitavo/sete oitavos). Os numerais coletivos são inflexionáveis em gênero, mas flexionam-se em número (uma dúzia, duasdúzias, um milheiro). Verbo As palavras que pertencem a essa classe gramatical são aquelas que possuem conteúdo semântico de ação (pôr, comer), estado (permanecer, ser), fenômeno da natureza (anoitecer, trovejar) ou ocorrência (aconteceu, sucedeu). Na sintaxe, esses termos têm a função de núcleo do predicado de uma oração. Os verbos podem flexionar-se de inúmeras maneiras, já que sua conjugação é realizada por meio das variações de pessoa, número, tempo, modo, voz e aspecto (ALMEIDA, 2009). A estruturação de um verbo se dá a partir de três elementos básicos: radi- cal, vogal temática e desinências. O radical é a parte fundamental do verbo, Classes de palavras: pronome, numeral e verbo6 uma base a partir da qual ele se edifica morfologicamente. Ele contém a significação do termo. Radical: AND- (and-ar), CORR- (corr-er), PART- (part-ir). A vogal temática é a partícula que se une ao radical, a fim de que este possa se ligar às desinências e, desta maneira, promover a conjugação dos verbos. Ao produto da junção do radical à vogal temática, dá-se nome de tema (tema = radical + vogal temática). Tema: ANDA- (anda-r), CORRE- (corre-r), PARTI- (parti-r). É a vogal temática que determinará a conjugação a qual o verbo pertence: na primeira conjugação, agrupam-se os verbos cuja vogal temática é -A — falar, amar, beijar, dançar —; na segunda conjugação, estão os verbos cuja vogal temática são -E ou -O — correr, ler, ter, pôr —; finalmente, na terceira conjugação, figuram os verbos cuja vogal temática é -I — partir, definir, ir. A gramática organiza os verbos em três grupos de flexões, as quais denominamos conjugações. Esses grupos identificam-se pelas vogais temáticas -A, -E/-O e -I, respec- tivamente. Essas conjugações servem para indicar o paradigma, isto é, o modelo pelo qual são conjugados os verbos regulares. 7Classes de palavras: pronome, numeral e verbo As desinências são elementos que, juntamente ao tema (radical + vogal temática), facultam as conjugações. Podem ser de dois tipos: � Modo-temporais: indicam o modo e o tempo em que uma ação ocorre. � Número-pessoais: indicam o número e a pessoa. Andávamos va → desinência que indica o tempo pretérito perfeito do modo indicativo mos → desinência que indica 1ª pessoa do plural (nós) Correrei re → desinência que indica tempo futuro do presente do modo indicativo i → desinência que indica de 1ª pessoa do singular (eu) Partamos a → desinência que indica o tempo presente do modo subjuntivo mos → desinência de 1ª pessoa do plural Para se conjugar um verbo, é preciso levar em conta as seguintes flexões: 1. Pessoa: 1ª (eu, nós); 2ª (tu, vós) e 3ª (ele, eles). 2. Número: singular (eu, tu, ele) e plural (nós, vós, eles). 3. Tempo: presente, pretérito e futuro. 4. Modo: indicativo, subjuntivo e imperativo. 5. Voz: voz ativa, voz passiva e voz reflexiva. Classificação dos verbos A classe dos verbos é a que tem o maior número de flexões em nossa língua. Os verbos podem ser classificados como regulares, irregulares, defectivos ou abundantes. Essa classificação toma por critério as flexões verbais, e não o significado dos verbos. Estes flexionam-se em número (singular e plural), pessoa (1ª, 2ª e 3ª), modo (indicativo, subjuntivo, imperativo), tempo (presente, pretérito, futuro) e voz (ativa, passiva, reflexiva) (AZEVEDO, 2015). Classes de palavras: pronome, numeral e verbo8 Verbos regulares — Verbos cujo radical não se altera; seguem um modelo de conjugação. Exemplos: falar, torcer, tossir. Verbos irregulares — Verbos cujo radical altera-se na conjugação; não se- guem um paradigma de conjugação como os regulares. As irregularidades aparecem no radical, nas terminações ou em ambos. Exemplos: dar, caber, medir. Observação: se a alteração do radical é muito profunda, esses verbos passam a ser chamados de verbos anômalos, casos dos verbos ser e vir. Verbos defectivos — Verbos que não se conjugam em todas as pessoas, tempos e modos. Essas pessoas nas quais os verbos não se flexionam simplesmente inexistem. Os verbos defectivos podem ser de três tipos: � Impessoais: aqueles que indicam, especialmente, fenômenos da natureza. Só podem ser conjugados na 3ª pessoa do singular, já que não possuem sujeito. Exemplos: chover, trovejar, amanhecer. � Unipessoais: aqueles que definem sons feitos por animais. São conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural. Exemplos: ladrar, miar. � Pessoais: verbos que não são conjugados em todos os tempos e todas as pessoas do discurso. Exemplos: banir, falir, reaver. A linguagem conotativa permite que esses verbos sejam usados em outras pessoas do discurso, já que outorga a aplicação deles a situações que envolvam seres humanos: Eu ladrei, mas não pude morder: o divórcio saiu. 9Classes de palavras: pronome, numeral e verbo Verbos abundantes — São aqueles que permitem ao falante duas ou mais maneiras de flexão. Exemplos: aceitado/aceito, inserido/inserto, segurado/ seguro. Compreender melhor as classes gramaticais, como o numeral, o pronome e o verbo é de suma importância para o estudo da língua portuguesa, especialmente para os estudos da morfologia vernácula. Os pronomes e os numerais, como acessórios linguísticos, complementam o sentido das sentenças. Os verbos são o cerne das orações, a alma das línguas, os termos que dão movimento e vida aos textos (CUNHA; ALTGOTT, 2004). ALMEIDA, N. T. Gramática de língua portuguesa para concursos, vestibulares, ENEM, colégios técnicos e militares. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. AZEVEDO, R. Português básico. Porto Alegre: Penso, 2015. CEGALLA, D. P. Nova minigramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004. CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Camara. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Leituras recomendadas CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2008. DICIONÁRIO Priberam da língua portuguesa. c2018. Disponível em: <https://dicionario. priberam.org>. Acesso em: 5 jan. 2019. HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olym- pio, 2011. Classes de palavras: pronome, numeral e verbo10 Conteúdo:
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