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CENTRO UNIVERSITÁRIO REDENTOR – PARAÍBA DO SUL Letícia de Oliveira Queiroga Rodrigo Soares Martins ESTUDO DE CASO REMOÇÕES FORÇADAS Paraíba do Sul 2017 ESTUDO DE CASO REMOÇÕES FORÇADAS Remoção de Famílias Comunidade do bairro Nova Niterói Cidade Três Rios-RJ Remoções Forçadas O tema abordado nos remete uma situação recorrente em nossa sociedade, com especulação imobiliária, o crescimento das cidades, jogos olímpicos e copa do mundo mudaram significativamente nossa realidade urbana e regional. Conhecendo Caso O Estudo de Caso foi realizado na BR 393 (Rodovia Ministro Lucio Meira) 173 km, bairro Nova Niterói cidade de Três Rios – RJ, fica localizado atrás do Fórum, o processo de reivindicação da faixa de domínio pela concessionária Acciona teve início no ano de 2009, um ano após ter assinado o contrato de licitação de concessão. Os moradores só ficaram sabendo da remoção devido às intimações enviadas pela justiça e vistorias pelos engenheiros, que logo depois fizeram várias visitas ao local, inclusive a equipe técnica da concessionária com o intuito de avaliar até onde seriam feitas as demolições. Os moradores da localidade foram se alojando ao longo de 20 a 15 anos atrás, construindo e chegando cada vez mais pessoas, acabaram permanecendo, outros foram oportunistas na situação. Uma realidade frequente em toda região é a omissão dos órgãos de fiscalizações que não cumprem com suas obrigações e consequentemente permitem as construções em áreas inadequadas para moradias como: construções em beira de rios, alto das encostas e propriedades particulares. A concessionaria assinou contrato de concessão com ANTT (Agencia Nacional de Transportes Terrestre) no dia 26 de março de 2008, resultado de um leilão da ANTT ocorrido no ano 2007, na bolsa de valores de São Paulo, que concedeu sete lotes de rodovias federais que compõem a 2º etapa do Programa Federal de Concessões Rodoviárias para serem exploradas e administrada pela iniciativa privada durante 25 anos. Seu trecho corresponde de Volta Redonda-RJ até Além Paraíba-MG totalizando 204 km, em toda sua margem são presenciadas várias construções em sua linha de domínio. A localidade na década de vinte encontrava-se um lixão, as construções estão em local desprovido de infraestrutura como calçamento, pavimentação e iluminação, uma área esquecida pela prefeitura. Anexo foto. As remoções solicitadas pela concessionaria Acciona, ocorrem da mesma estar em sua faixa de domínio e será realizada duplicação de todo seu trecho, será realizada uma obra de acesso da nova Rodoviária da cidade e isso está demandando de um afastamento maior que necessário. Visitando a localidade e presenciando os fatos, percebemos que as construções estão bem próximas da margem da rodovia, área de domínio da Concessionaria seria do eixo da pista, ou seja, 40 metros para cada lado de acordo com os advogados que montaram uma Associação em prol dos moradores; o problema ocorre quando eles alegam ter direito a mais 15 metros, totalizando 55 metros, esses 15 metros seria uma margem de área não edificante colocando todas as casas na linha de remoções. Remoção Dona Rita No dia 22 de março de 2016 uma residência com 2 pavimentos onde residia 6 pessoas, a mãe (Dona Rita) com o filho e a nora na casa de baixo, e a filha (Cristiane) com o marido e o filho pequeno. Foi executada decisão judicial para demolição da edificação, eles simplesmente chegaram com os funcionários, caminhões e as máquinas, Policia Rodoviária Federal, Policia Militar e Secretaria de Promoção Social. Os funcionários da concessionaria extremamente arrogantes e prontos para cumprir a ordem judicial determinada pelo Juiz. O vereador Francisco Carlos Gama conhecido como Bill foi o único representante da Casa Legislativa a estar acompanhando e auxiliando a família na remoção, a demolição estava marcada para acontecer durante a parte da manhã, porém o vereador com muito diálogo conseguiu adiar para o período da tarde, permitindo tempo para a retirada de pertences, móveis, partes da esquadria e portas para serem reaproveitadas. Foi tudo carregado no caminhão da Prefeitura Municipal de Três Rios. Dona Rita inclusive chegou até a passar mal, porém o vereador com muita busca conseguiu uma casa para cada um no Conjunto Habitacional Habitat de um programa de moradia. Tomamos conhecimento de vizinhos na localidade e nos informamos que a moradora recebia as intimações judiciais, porém não acompanhava as audiências para entrar com recurso ou solicitar parecer de seus direitos. Entretanto, ainda tem mais 16 residências que estão dentro dessa faixa para serem demolidas, a casa da moradora Fátima é uma delas, a mesma recebeu uma intimação para sair de lá no máximo até um mês apenas, teve um casal que saiu do local também pois já não aguentavam mais a pressão de ter que ser despejado, e a Concessionaria junto com as ordens judiciais foram visitar o local recentemente sendo mal educados e ignorantes com essas pessoas dizendo que eles tem que sair mesmo e pronto, não procuraram conversar e muito menos proporcionar algum auxílio nem condições para os afetados. As Irregularidades Percebemos vários atos de desacordo com as orientações do Guia de remoções da ONU onde diz “toda pessoa tem direito à moradia adequada e desse direito decorre a proteção contra remoções forçadas” pag.4; enfatiza que é dever do Estado a obrigação de promover a proteção deste direito. O guia de remoções da ONU deixa bem claro “Não importa a forma legal da ocupação – as pessoas devem receber proteção mesmo que a casa ou terra onde vivam não sejam suas”. Pag. 09 Na ocorrência da Dona Rita percebemos que todo seu processo de remoção foi violado seus direitos constitucionais, mesmo ela não acompanhado os processos judiciais teria que haver uma assistência judicial gratuita no auxílio da defesa e medidas a serem tomadas junto a concessionaria, caso ocorra desacordo as decisões finais a serem tomadas deverá ser mediada por um órgão independente. Entidades que fornecem assistência judiciaria no Brasil: • Ministério Público, Comissões de Direitos Humanos • Defensorias Públicas • Conselho Tutelar • movimentos sociais de luta pela moradia • órgãos de comunicação social / imprensa • assistência jurídica em universidades Tomando de conhecimento da remoção, percebemos que a família retirada do seu lar foi penalizada, humilhada, excluída, discriminada e teve agravos aos direitos humanos e sociais com ações de autoritarismo cometidos pela autoridade responsável e despreparo dos órgãos de defesa. Foi notório a violência tomada na ação da gigantesca empresa privada Acciona perante uma família que desconhecia de seus direitos, isso é muito bem apresentado no anexo (foto 03), na localidade somente a residência de Dona Rita foi demolida, permanecendo as outras edificações aguardando suas determinações judiciais de remoções e demolições. Aprofundando no caso verificamos negligências do prazo e condições no tempo de preparo para o dia da remoção; Não foi realizado um levantamento de seus bens e direitos afetados; Não teve um acompanhamento de órgãos públicos e outras entidades; Desrespeito a situação especifica de grupos em condições de vulnerabilidade como idosos, crianças; No dia da ocorrência dos fatos foi um impacto muito grande, pois foi uma falta de respeito com o ser humano, arrogância, não tendo nenhuma ação de acordo como preceitua os marcos jurídicos perante o Guia de Remoções da ONU. Retificamos o despreparo dos órgãos de fiscalização pública como Prefeituras e órgãos Estaduais e Federais, tendo parcelas de falhas participativas na omissão em suas fiscalizações e notificações de casos de ocupações em locais de risco e desordenado aglomerado populacional participandona irregularidade, concedendo água, esgoto, luz e IPTU, o interesse de arrecadar e não fiscalizar. Caso cumprisse com suas atribuições e obrigações com a população, não teríamos ocupações, remoções e demolição de lares em locais indevidos. Maneiras Adequadas No caso analisado podemos apreciar maneiras adequadas de como as autoridades poderiam proceder, da seguinte maneira: Que no início de todo processo a família fosse atendida por um Defensor Público, acompanhamento psicológico, encaminhada ao Serviço Social; Avaliação do impacto não meramente econômico, mais sim cobrindo aspectos sociais e culturais considerando convivências e pré-existentes; Providenciado uma nova residência o mais próximo possível do local retirado; Amparo e ajuda em todo processo de remoção, antes, durante e depois; Rodovia e Suas Faixas “Faixa de Domínio é a área compreendendo a rodovia e suas instalações correlatas e faixas adjacentes legalmente delimitadas, de propriedade ou sob domínio ou posse do órgão rodoviário, e sobre a qual se estende sua jurisdição." Faixa não edificável, diferentemente da Faixa de Domínio, é a faixa de terra com largura de 15 (quinze)* metros contados a partir da linha que define a faixa de domínio da rodovia. Esta faixa de terra está dentro da propriedade, mas não é permitido construir. Esta área foi estabelecida pela Lei Federal para Parcelamento do Solo n° 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Conclusão Tendo em vista as questões abordadas, podemos concluir que todo ato de remoção ou realocação de moradias, gera um desgaste emocional psicológico em todo ser humano, temos que introduzir toda a população no conhecimento dos seus direitos, os poderes de maior capacidade atuando com medidas precisas a serem executadas, fiscalizando e capacitando pessoas a negociar todo processo de intervenção a remoção. Com empenho da sociedade sendo efetivamente participativa e fiscalizadora. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm Anexo Fotos Foto 01: Local da intervenção: BR 393 Foto 02: Residência antes Foto 03: Residência depois Localização da Remoção Mapa de faixa de domínio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROLNIK, Raquel et al. Difundindo Práticas e Instrumentos Operacionais para Promover o Direito à Moradia Adequada. Revista de Cultura e Extensão USP, v. 4, p. 69-78, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.usp.br/rce/article/view/498/497. Acesso em 12 novembro 2017. ROLNIK, Raquel. Como atuar em projetos que envolvem despejos e remoções. Guia, São Paulo: Relatoria especial da ONU para moradia adequada, 2007. Disponível em: https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2010/01/guia_portugues.pdf. Acesso em 12 novembro. 2017. GALIZA, Helena; VAZ, Lilian Fessler; DA SILVA, Maria Laís. Grandes Eventos, Obras e Remoções na Cidade do Rio de Janeiro, do Século XIX ao XXI. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON MEGAEVENTS AND THE CITY, II, Rio de Janeiro. 2014. Disponível em: http://megaeventos.ettern.ippur.ufrj.br/sites/default/files/artigos- cientificos/grandes_eventos_obras_e_remocoes_na_cidade_do_rio_de_janeiro_do_seculo_xix _ao_xxi.pdf. Acesso em: 12 novembro 2017. G1 Globo – Sul do rio e costa verde [Internet]. Disponível em: http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2016/03/imoveis-em- faixa-de-dominio-da-br-393-sao-demolidas-em-tres-rios.html. Acesso em: 12 novembro 2017. Acciona Concessões - Rodovia do Aço [Internet]. Disponível em: http://www.rodoviadoaco.com.br/site/sobrearodoviadoaco.asp. Acesso em: 12 novembro 2017. EGR - Empresa Gaúcha de Rodovias [Internet]. Disponível em: http://www.egr.rs.gov.br/lista/469/faixa-de-dominio. Acesso em: 12 novembro 2017. http://www.periodicos.usp.br/rce/article/view/498/497 https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2010/01/guia_portugues.pdf http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2016/03/imoveis-em-faixa-de-dominio-da-br-393-sao-demolidas-em-tres-rios.html http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2016/03/imoveis-em-faixa-de-dominio-da-br-393-sao-demolidas-em-tres-rios.html http://www.rodoviadoaco.com.br/site/sobrearodoviadoaco.asp http://www.egr.rs.gov.br/lista/469/faixa-de-dominio
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