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HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO SUMÁRIO 1. Introdução e definição .............................................. 3 2. Aspectos gerais do trato gastrointestinal ........ 6 3. Cavidade oral ............................................................... 8 4. Faringe .........................................................................20 5. Esôfago ........................................................................22 6. Estômago ....................................................................27 7. Intestino delgado .....................................................36 8. Intestino grosso ........................................................43 9. Glândulas salivares .................................................50 10. Pâncreas ...................................................................57 11. Fígado .......................................................................64 12. Trato biliar e vesícula biliar .................................73 Referências bibliograficas .........................................77 3HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO O trato digestivo é formado pela cavi- dade oral, esôfago, estômago, intes- tinos delgado e grosso e canal anal, auxiliado pelas glândulas anexas, que são as glândulas salivares, fígado e pâncreas. Todas essas estruturas, em conjunto, permitem a quebra dos alimentos em unidades menores e absorção dos nutrientes, através dos movimentos peristálticos e secreção de hormônios e enzimas que digerem esses alimentos. Além disso, como o trato digestivo é um importante alvo de microrganismos invasores, que podem ser carregados pelos alimen- tos, seus tecidos precisam de um sis- tema de defesa especializado, o qual é chamado de GALT (tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal). Figura 1. Anatomia do trato digestivo. Fonte: https://bit.ly/3a7AMYt https://bit.ly/3a7AMYt 4HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A digestão começa na cavidade oral, a partir da mastigação do alimento, que o umedece e quebra em partículas menores. Na cavidade oral também se inicia a digestão de carboidratos, devido à amilase presente na saliva, formando o bolo alimentar. Daí, o ali- mento segue para o estômago, pas- sando pela faringe e esôfago, e de lá o alimento segue para o intestino del- gado, onde ocorre principalmente a absorção de nutrientes. Do intestino delgado, o alimento passa para o in- testino grosso, onde ocorre a forma- ção de fezes e absorção de água. As fezes seguem para o canal retal e são expelidas pelo ânus. Todas essas di- ferentes estruturas do trato gastroin- testinal (TGI) formam um tipo de tubo, da boca até o ânus, sendo separadas por esfíncteres, os quais controlam a velocidade com o que o alimento vai percorrer o TGI, a fim de que todas as etapas da digestão aconteçam de forma adequada. Os movimentos peristálticos aconte- cem com as contrações das cama- das muscular longitudinal e muscular circular, que fazem alimento seguir ao longo do TGI e ser jogado contra as paredes do trato, aumentando o contato do alimento com as paredes do tubo digestivo para que se mistu- re com o suco gástrico e intestinal e seja devidamente quebrado até suas menores frações (aminoácidos, mo- nossacarídeos, ácidos graxos livres). Esses movimentos acontecem con- trolados por um sistema nervoso pró- prio, que é o sistema nervoso entéri- co, composto por um plexo externo, chamado de plexo mioentérico (de Auerbach), que fica entre as camadas musculares longitudinal e circular, e um plexo interno, chamado de plexo submucoso (de Meissner), localiza- do na submucosa – o plexo de Auer- bach controla todos os movimentos gastrointestinais, enquanto o plexo de Meissner controla a secreção gas- trointestinal e o fluxo sanguíneo local. Vale ressaltar ainda que o trato diges- tivo é ricamente vascularizado, visto que as substâncias são absorvidas para a corrente sanguínea. 5HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL – TRATO DIGESTIVO TRATO DIGESTIVOTUBO DIGESTÓRIO GLÂNDULAS ANEXAS QUEBRA DOS ALIMENTOS ABSORÇÃO DE NUTRIENTES SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO MOVIMENTOS PERISTÁLTICOS GLÂNDULAS SALIVARES FÍGADO PÂNCREAS MUSCULAR CIRCULAR MUSCULAR LONGITUDINAL PLEXO DE MEISSNER PLEXO DE AUERBACH CAVIDADE ORAL FARINGE ESÔFAGO ESTÔMAGO INTESTINO DELGADO INTESTINO GROSSO CANAL RETAL 6HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 2. ASPECTOS GERAIS DO TRATO GASTROINTESTINAL Todas as estruturas do TGI apre- sentam algumas características em comum: um lúmen, que varia de di- âmetro, circundado por uma parede formada por mucosa, submucosa, muscular e serosa, nesta ordem de dentro para fora. A camada mucosa é formada por: re- vestimento epitelial, lâmina própria (tecido conjuntivo frouxo rico em va- sos linfáticos e sanguíneos, células musculares lisas, e algumas glân- dulas e tecido linfoide), e muscular da mucosa, que separa a mucosa da submucosa, sendo formada por duas subcamadas delgadas de cé- lulas musculares lisas, um circular in- terna e outra longitudinal externa. A lâmina própria é rica em macrófagos e células linfoides, algumas das quais produzem anticorpos, principalmente IgA, secretado no lúmen ligado a uma proteína produzida pelas células epi- teliais do revestimento intestinal – o complexo SIgA (proteínas + IgA) tam- bém existe nos tratos respiratórios e geniturinário e é resistente às enzi- mas digestivas. A camada submucosa é composta por tecido conjuntivo rico em vasos sanguíneos e linfáticos, e é onde se situa o plexo de Meissner, que o plexo nervoso que controla principalmen- te as secreções gastrointestinais e o fluxo sanguíneo local. Também pode conter glândulas e tecidos linfoides (nódulos linfáticos). A camada muscular possui células musculares lisas em espiral, divididas em duas subcamadas, diferenciadas por seu direcionamento – a subcama- da mais interna normalmente é circu- lar e a subcamada externa é longitu- dinal, e entre elas duas está o plexo de Auerbach, que controla os movi- mentos peristálticos, além de tecido conjuntivo rico em vasos sanguíneos e linfáticos. A camada circular realiza os movimentos que promovem a mis- tura do bolo alimentar com os sucos digestivos, enquanto a camada lon- gitudinal realiza os movimentos que impulsionam o bolo alimentar pelo tubo digestório. 7HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A camada serosa é formada por uma camada delgada de tecido conjuntivo frouxo, revestido por mesotélio (epi- télio pavimentoso simples). Na cavi- dade abdominal, a serosa é denomi- nada de peritônio visceral e parietal. O peritônio visceral é contínuo com o mesentério (membrana delgada re- vestida por mesotélio nos dois lados) e dar suporte aos intestinos, ficando em contato direto com as vísceras ab- dominais. O peritônio parietal reveste a parede da cavidade abdominal, ou seja, fica entre o peritônio visceral e a parede muscular. Em locais em que o órgão digestivo é unido a outras estruturas, a serosa é substituída por uma camada adven- tícia espessa, composta por tecido conjuntivo e tecido adiposo rico em vasos e nervos, mas sem mesotélio. Assim, o revestimento epitelial possui 4 funções principais: • Promover uma barreira seletiva- mente permeável entre o conteú- do do lúmen e os tecidos do orga- nismo - GALT • Facilitar o transporte e a diges- tão dos alimentos – Movimentos peristálticos • Favorecer a absorção dos produtos da digestão – Vasos sanguíneos • Produzir hormônios e secreções que regulem e auxiliem na ativida- de do sistema digestório – Plexo de Meissner Estômago Serosa Camada muscular longitudinal externa Plexo mioentérico Camada muscular circular interna Submucosa Plexo mucoso Vasos sanguíneos da submucosa Adventícia Muscular da mucosa Lâmina própria Epitélio de revestimento Camada mucosa Nódulo linfoide Figura 2. Camadas musculares do TGI. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 8HISTOLOGIA DO TRATODIGESTIVO MAPA MENTAL – CAMADAS DO TGI CAMADAS DO TGI EPITÉLIO MUSCULAR DA MUCOSA NÓDULOS LINFÁTICOS PLEXO DE AUERBACH PERITÔNIO PARIETAL LÂMINA PRÓPRIA PLEXO DE MEISSNER CIRCULAR INTERNA LONGITUDINAL EXTERNA PERITÔNIO VISCERAL SUBMUCOSA MUCOSA MUSCULAR SEROSA LÚMEN CIRCULAR INTERNA LONGITUDINAL EXTERNA 3. CAVIDADE ORAL A cavidade oral é revestida por epité- lio pavimentoso estratificado, que em algumas regiões é queratinizado e em outras não. As regiões de maior atrito com os dentes, como as gengivas e palato duro, são queratinizadas, en- quanto as áreas de menor atrito não são queratinizadas, como o assoalho da boca, palato mole e bochechas. A lâmina própria da cavidade oral contém várias papilas e fica em con- tato direto com o periósteo. Essas papilas são semelhantes às presente na derme e é contínua com a submu- cosa, que contém glândulas salivares 9HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO menores difusas. A cavidade oral também possui as glândulas saliva- res, que serão descritas na seção de glândulas anexas. Nos lábios, há uma transição do epi- télio oral não queratinizado para o epitélio queratinizado da pele, que reveste a porção externa dos lábios. O tecido conjuntivo abaixo desse epi- télio é do tipo denso não-modelado e possui pequenas glândulas salivares mucosas. O palato mole possui mús- culo estriado esquelético, além de muitas glândulas mucosas e nódulos linfáticos. Lábio superior Gengiva Dentes superiores Palato duro Palato mole Úvula Tonsila Língua (2/3 frontais) Trígono retromolar Mucosa oral Assoalho da boca Figura 3. Cavidade oral. Fonte: https://bit.ly/3fOWhAN A mucosa oral pode ser dividida em mucosa de revestimento (não quera- tinizada), mucosa mastigatória (que- ratinizada) e mucosa especializada, que contém os botões gustativos (su- perfície dorsal da língua, áreas do pa- lato mole e mucosa da faringe). Os lábios formam o limite anterior e os arcos palatoglossos formam o li- mite posterior da cavidade oral, cujas principais componentes, além dos lábios, são: dentes e suas estruturas associadas, palato e língua. 10HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL – CAVIDADE ORAL QUERATINIZADO CAVIDADE ORAL EPITÉLIO PAVIMENTOSO ESTRATIFICADO SUBMUCOSA MUCOSA 0RAL NÃO QUERATINIZADO GENGIVAS PALATO DURO BOCHECHAS ASSOALHO DA BOCA PALATO MOLE GLÂNDULAS SALIVARES MENORES LÂMINA PRÓPRIA MUCOSA DE REVESTIMENTO (NÃO QUERATINIZADA) PAPILAS MUCOSA MASTIGATÓRIA (QUERATINIZADA) MUCOSA ESPECIALIZADA (BOTÕES GUSTATIVOS) 11HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Dentes Os adultos possuem normalmente 32 dentes permanentes, dispostos em dois arcos, superior e inferior, bi- lateralmente simétricos nos ossos maxilar e mandibular, cada arco con- tendo: quatro incisivos, dois caninos, quatro pré-molares e seis molares permanentes – sendo que os dois últimos molares em cada arcada (si- sos) normalmente são extraídos e em algumas pessoas não nascem. 20 desses dentes permanentes são pre- cedidos por dentes decíduos (de lei- te), mas os molares permanentes não possuem decíduos. Cada dente tem uma porção que pro- jeta acima da gengiva, chamada de coroa, e um ou mais raízes abaixo da gengiva, que une os dentes aos al- véolos, alojamentos ósseos para os dentes. Abaixo da cora situa-se a dentina e a polpa dentária. Esmalte Dentina Coroa Raiz Forame apical Cemento Canal radicular Gengiva Osso alveolar Polpa Ligamento periodontal Figura 4: Partes do dente. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 12HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A coroa é coberta pelo esmalte, um tecido mineralizado, extremamente duro, e as raízes são revestidas pelo cemento, outro tecido mineralizado. Abaixo do esmalte e do cemento está a dentina, que também é um tecido mineralizado, o qual compõe a maior parte do dente. A dentina circunda uma região chamada de cavidade pulpar, preenchida por tecido con- juntivo frouxo muito vascularizado e inervado chamado de polpa dental. Essa cavidade possui uma porção co- ronária (câmara pulpar) e uma porção na raiz (canal radicular), que vai até o ápice do dente, onde o forame api- cal permite a entrada e saída de va- sos sanguíneos e linfáticos e nervos da polpa. O dente é fixado ao alvéolo pelo ligamento periodontal, que é um tecido conjuntivo com feixes grossos de fibras colágenas que se insere no cemento e no osso alveolar. A dentina é dura pois é formada prin- cipalmente por fibras colágenas tipo I, glicosaminoglicanos, fosfoproteínas, fosfolipídios e sais de cálcio na forma de cristais de hidroxiapatita. A matriz da dentina é secretada pelos odon- toblastos, que ficam na periferia da polpa. Cada odontoblasto tem uma extensão apical ramificada que pe- netra perpendicularmente a dentina, percorrendo sua extensão – prolon- gamento odontoblásticos (fibras de Tomes). Esses prolongamentos vão se alongando e à medida que a den- tina se torna mais espessa, passa a ocupar os túbulos dentinários, que se ramificam próximo a junção da denti- na com o esmalte. A dentina é sensí- vel a vários estímulos, como calor, frio, trauma e pH ácido, que causam dor. Embora a polpa seja bastante inerva- da, a dentina tem poucas fibras ner- vosas amielínicas. O esmalte é o componente mais duro do corpo humano, também formado por cristais de hidroxiapatita. Apenas durante o desenvolvimento do dente, o esmalte é produzido por células ec- todérmicas chamadas de ameloblas- tos. Casa ameloblasto possui uma extensão apical chamada de proces- so de Tomes, que possui grânulos de secreção contendo as proteínas da matriz do esmalte. Depois da síntese do esmalte, os ameloblastos formam um epitélio protetor que recobre a co- roa até a erupção do dente, prevenin- do defeitos no esmalte. 13HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A polpa dental é composta por tecido conjuntivo frouxo, formado por odon- toblastos, fibroblastos e matriz com fibrilas finas de colágeno e glicosami- noglicanos. É bastante vascularizado e inervado e por vasos e fibras mie- linizadas, que penetram pelo forame apical e ramificam-se. As fibras pul- pares são sensíveis à dor, única mo- dalidade sensorial reconhecida pelos dentes (não reconhece temperatura – estímulos de calor e frio são sentidos como dor). O dente é mantido nos ossos maxi- lar e mandibular pelo periodonto, que consiste no cemento, ligamento pe- riodontal, osso alveolar e gengiva. O cemento recobre a dentina radicular e é similar ao tecido ósseo, não pos- suindo vasos sanguíneos nem siste- mas haversianos (por onde passam vasos e nervosos nos ossos). – a falta de vasos é o que permite que os apa- relhos ortodônticos movimentem os dentes sem que haja reabsorção ra- dicular significativa. O cemento pode reabsorver o tecido antigo ou produ- zir tecido novo a partir dos estímulos que recebe. Sua produção contínua no ápice compensa o desgaste fisiológi- co dos dentes e mantém em contato as raízes dos dentes e seus alvéolos. O ligamento periodontal é formado por um tipo especial de tecido con- juntivo, com fibras arranjadas em fei- xes grossos (feixes de Sharpey) que Cemento Fibroblasto Cementoblasto Arteríola VênulaOsteoclasto Osteócito Osteoblasto Ligamento periodontalOsso alveolar Figura 5. Histologia dos dentes. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 14HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO possibilita o movimento limitado dos dentes e evita a transmissão direta da pressão para o osso, evitando uma reabsorção óssea localizada. O osso alveolar é um osso imaturo, que fica em contato com o ligamento periodontal, formado pelo osso mais próximo das raízes dos dentes. O osso alveolar é atravessado por va- sos sanguíneos para penetrar o liga- mento periodontal, formando os va- sos perfurantes. Por fim, a gengiva é uma membrana mucosa aderida ao periósteo dos os- sos maxilar e mandibular, composta por epitélio pavimentosoestratificado e lâmina própria rica em papilas con- juntivas. Entre o esmalte e o epitélio localizado acima do epitélio juncional (parte especializada do epitélio da gengiva) está o suco gengival, circun- dando a coroa. 15HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL - DENTE CADA ARCADA DENTE 4 INCISIVOS 2 CANINOS 4 PRÉ-MOLARES 6 MOLARES COROA RAIZ ESMALTE DENTINA POLPA TECIDO CONJUNTIVO FROUXO CEMENTO TECIDO ÓSEO HIDROXIAPATITA CÂMARA PULPAR CÂMARA RADICULAR CANAL RADICULAR PERIODONTO 16HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Palato O palato compreende o palato duro, o pato mole e a úvula. Essas estrutu- ras separam as cavidades oral da ca- vidade nasal. A mucosa mastigatória na face oral do palato duro é formada por epitélio pavimentoso queratiniza- do, recobrindo um tecido conjuntivo denso não modelado. Na porção la- tero-anterior, o palato duro apresen- ta agregados de tecido adiposo uni- locular, e na porção latero-posterior há ácinos mucosos de glândulas sa- livares menores, também chamadas de glândulas palatinas. A face nasal do palato duro é coberta por epitélio respiratório, podendo ocorrer áreas de epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado. O palato mole é coberto por mucosa de revestimento, composta por epi- télio estratificado pavimentoso não- -queratinizado e tecido conjuntivo denso não modelado, que também abriga pequenas glândulas salivares mucosas. O epitélio da face nasal é do tipo epitélio respiratório. A úvula tem estrutura similar a do palato mole, composta por epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado ape- nas – também possui glândulas sali- vares mucosas e musculo esqueléti- co, responsável por seus movimentos (o palato duro é imóvel). Figura 6. Divisão do palato. Fonte: https://bit.ly/2RIM6UD. https://bit.ly/2RIM6UD 17HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Língua A língua é uma massa de múscu- lo estriado esquelético revestida por uma mucosa que varia de acordo com a região. Suas fibras musculares se entrecruzam em três planos, sendo agrupadas em feixes separados por tecido conjuntivo. A camada mucosa é unida à musculatura graças ao teci- do conjuntivo da lâmina própria que penetra os espaços entre os feixes musculares. A superfície inferior da língua é lisa, enquanto a superfície dorsal é irre- gular, recoberta anteriormente pelas papilas. Na porção posterior, a lín- gua apresenta saliências compostas principalmente por nódulos linfoides e tonsilas linguais, onde os nódulos se agregam ao redor das criptas, que são invaginações da mucosa. MAPA MENTAL - PALATO EPITÉLIO PAVIMENTOSO NÃO- QUERATINIZADO PALATO GLÂNDULAS SALIVARES MUCOSAS TECIDO CONJUNTIVO DENSO NÃO-MODELADO EPITÉLIO RESPIRATÓRIO NA PORÇÃO NASAL ÚVULA MOLE DURO EPITÉLIO PAVIMENTOSO QUERATINIZADO GLÂNDULAS PALATINAS 18HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Existem 4 tipos de papilas linguais: • Filiformes: possuem formato côni- co alongado, são numerosas e fi- cam na superfície dorsal da língua. Sua função é de fricção e seu epité- lio de revestimento é queratinizado e não possui botões gustativos. • Fungiformes: são semelhantes a cogumelos, com base estreita por- ção superior dilatada e lisa. Essas papilas são irregularmente distri- buídas entre as papilas filiformes. • Foliadas: são pouco desenvolvidas em humanos, consistindo em duas ou mais rugas paralelas, separa- das por sulcos na superfície dor- solateral da língua, rica em botões gustativos. • Circunvaladas: possuem superfície achatada que se estende acima de outras papilas. São distribuídas na porção do V lingual (separa o terço posterior do dorso da língua dos dois terços anteriores). Essas papilas podem ser circundadas Papila filiforme Cripta da tonsila lingual Nódulos linfoides Ductos glandulares Glândulas mucosas Glândulas serosas Botões gustativos Lâmina própria Papila fungiforme Papilas circunvaladas Figura 7. Língua. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 19HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO por glândulas serosas (glândulas de von Ebner), num arranjo seme- lhante a um fosse, que possibilita um fluxo contínuo de líquido sobre uma grande quantidade de botões gustativos. Esse fluxo é importan- te na remoção de partículas de ali- mentos das adjacências dos bo- tões, permitindo que eles recebam os estímulos. As glândulas serosas também secre- tam lipases, que previne formação de camada hidrofóbica sobre os botões gustativos, o que poderia prejudicar suas funções. Essa lipase é ativa no estômago, participando da digestão de triglicerídios. O paladar humano pode diferenciar sabor salgado, azedo, doce, amargo e o saboroso, que podem ser percebidos em toda as regiões que existem os botões gustativos. Esses botões re- pousam sob a lâmina basal, e em sua porção apical, as células gustativas possui microvilosidades que se proje- tam para o poro gustativo. Há quatro tipos de células que constituem o bo- tão gustativo: células basais (tipo IV), células escuras (tipo I), células claras (tipo II) e células intermediárias (tipo III). As células basais têm função de suporte, sendo responsáveis pela re- posição do tecido, regenerando as células dos botões gustativos no pe- ríodo de 10 dias. Não se sabe a rela- ção entre as células dos botões gus- tativos, acreditando-se que as células basais originam as células escuras, as quais amadurecem e se tornam célu- las claras, que por sua vez se trans- formam em células intermediários e morrem, sendo regeneradas. 20HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL - LÍNGUA LÍNGUA FILIFORMES FUNGIFORMES FOLIADAS CIRCUNVALADAS CÉLULAS BASAIS CÉLULAS CLARAS CÉLULAS ESCURAS CÉLULAS INTERMEDIÁRIAS PAPILAS BOTÕES GUSTATIVOS LIPASES MUCOSA LÂMINA BASAL GLÂNDULAS SEROSAS MÚSCULO ESTRIADO ESQUELETICO BOTÕES GUSTATIVOS 4. FARINGE A faringe constitui uma região de transição entre a cavidade oral e os sistemas digestório e respiratório, formando uma área de comunicação entre a região nasal e a laringe, que participa do sistema respiratório. Com isso, pode ser dividida em nasofarin- ge, orofaringe e laringofaringe. A faringe é anatomicamente dividi- da em nasofaringe, orofaringe e la- ringofaringe. Com isso, esse órgão é revestido por epitélio pavimentoso estratificado não-queratinizado na porção contínua com o esôfago, que é a orofaringe, assim como na laringo- faringe. A nasofaringe é revestida por epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado contendo células caliciformes, caracterizando o epitélio respiratório. A faringe possui tonsilas na orofa- ringe e sua mucosa apresenta glân- dulas salivares menores de secreção mucosa na lâmina própria, composta por tecido conjuntivo. Externamente à essa camada, há os músculos cons- tritores e longitudinais da faringe. 21HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 8. Divisão da faringe. Fonte: https://bit.ly/2VzjRce SAIBA MAIS! A epiglote se localiza no início da laringe, sendo uma espécie de lâmina cuja função é fechar a ligação da faringe com a glote durante o processo de deglutição, evitando assim a comuni- cação entre os aparelhos respiratório e digestório. Quando a epiglote não fecha corretamente, pode ocorrer aspiração de líquidos e alimentos para os brônquios. https://bit.ly/2VzjRce 22HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 5. ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular, que transporta o alimento da boca (oro- faringe) para o estômago. Possui as mesmas camadas do tubo gastroin- testinal: mucosa, submucosa, muscu- lar e serosa. A mucosa do esôfago é constituída por epitélio pavimentoso estratifica- do não queratinizado relativamente espesso; lâmina própria e camada muscular da mucosa, que circunda a submucosa – uma camada circu- lar interna e uma longitudinal exter- na. Nessa camada se encontram as células de Langerhans, que sinteti- zam MHC classe II, participando da apresentação de antígenos para lin- fócitos, importante processo dade- fesa do trato gastrointestinal e do organismo no geral contra microrga- nismos carreados através de líquidos e alimentos. Na lâmina própria, for- mada por tecido conjuntivo frouxo, há as glândulas esofágicas da cárdia nas regiões mais próxima ao estômago e à faringe, as quais produzem muco protetor do tecido contra o atrito ge- rado pela passagem do bolo alimen- tar. A lâmina própria é fibroelástica e também pode conter nódulos linfoi- des (sistema GALT). Ao longo de sua extensão, a mucosa esofágica apre- senta pregas longitudinais com sulcos intermediários, que somem quando o MAPA MENTAL - FARINGE FARINGE NASOFARINGE OROFARINGE LARINGOFARINGE EPITÉLIO PSEUDOESTRATIFICADO CILÍNDRICO CILIADO EPITÉLIO PAVIMENTOSO ESTRATIFICADO NÃO-QUERATINIZADO GLÂNDULAS SALIVARES MENORES TONSILAS FARÍGEAS 23HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO esôfago é distendido, deixando o lú- men evidente, ou seja, o lúmen eso- fágico é “virtual”. A submucosa é constituída por tecido conjuntivo fibroelástico, mais fibroso que o tecido conjuntivo frouxo da lâ- mina própria, e nessa camada há as glândulas esofágicas propriamente ditas, cuja secreção auxilia no trans- porte do alimento e protege a mucosa do atrito dos alimentos, lubrificando- -a. Essas glândulas são formadas por dois tipos de células: células mucosas, que tem acúmulos apicais de grânulos de secreção cheios de muco; e células serosas, cuja secreção possui pepsi- nogênio e lisozima. O pepsinogênio, quando entra em contato com o ácido clorídrico no estômago se transforma em pepsina, enzima que atua na di- gestão de proteínas. A lisozima age contra muitas bactérias, a partir da destruição do esqueleto desses mi- crorganismos. O esôfago e o duodeno são as únicas regiões do TGI que pos- suem glândulas na submucosa. A túnica muscular externa do esôfa- go é formada por células musculares lisas e estriadas esqueléticas. Essa túnica é composta por duas cama- das, um circular interna e uma lon- gitudinal externa. A camada externa do terço superior do esôfago possui principalmente musculo esquelético, o terço médio é composto por mús- culo esquelético e liso, e o terço infe- rior é formado somente de músculo liso. O plexo de Auerbach fica entre as duas camadas musculares, circular e longitudinal O esôfago é coberto por peritônio (se- rosa) apenas na cavidade peritoneal, depois de ultrapassar o diafragma, o restante deste tubo é envolvido por tecido conjuntivo (adventícia), que se mistura com o tecido conjuntivo circundante. 24HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Epitélio estratificado pavimentoso Lâmina própria Glândulas esofágicas na submucosa Músculo estriado esquelético Figura 9. Camadas do esôfago. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. O esôfago não possui esfíncteres ana- tômicos, mas possui dois esfíncteres fisiológicos – o esfíncter farigoesofá- gico (esfíncter esofágico superior) e o esfíncter gastroesofágico (esfíncter esofágico inferior), que possui uma porção interna e outra externa. Es- ses esfíncteres previnem o refluxo do esôfago para a faringe e do estômago para o esôfago. O esfíncter gastroe- sofágico interno é formado por fibras musculares lisas e se localiza na por- ção onde esôfago ultrapassa o dia- fragma e se une ao estômago. Esse esfíncter mantém seu tônus exceto quando o bolo alimentar vai passar. Além disso, fibras estriadas esquelé- ticas do diafragma envolvem o esôfa- go e o fecham durante a inspiração e na elevação da pressão intrabdominal como na defecação e tosse. 25HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 10. Esfíncteres esofágicos. Fonte: https://msdmnls.co/3afLRXx SAIBA MAIS! O epitélio esofágico não é preparado para receber o suco gástrico do estômago, que possui pH ácido. Assim, indivíduos que sofrem de refluxo gastroesofágico podem desenvolver o chamado esôfago de Barret (síndrome de Barret), que consiste numa condição pré-maligna, na qual a porção inferior do epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado do esôfa- go é substituída por epitélio cilíndrico simples semelhante ao que reveste o estômago, que é mais resistente ao conteúdo ácido do estômago. O refluxo gastroesofágico é comum nos bebês, pois o esfíncter esofágico inferior pode não estar completamente formado, porém em adultos isso ocorre quando este esfíncter falha, o que pode ser provocado por vários fatores, como hérnia de hiato, acidez estomacal exagerada, compressão abdominal, entre outros. 26HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL - ESÔFAGO LONGITUDINAL EXTERNA ESÔFAGO TECIDO CONJUNTIVO FIBROELÁSTICO GLÂNDULAS ESOFÁGICAS SUBMUCOSA MUSCULAR SEROSAMUCOSA CÉLULAS MUCOSAS CÉLULAS SEROSAS PEPSINOGÊNIO LISOZIMA PORÇÃO ESOFÁGICA ABDOMINAL RESTANTE DO ESÔFAGO: ADVENTÍCIA CIRCULAR INTERNA SUPERIOR: MÚSCULO ESQUELÉTICO MÉDIO: MÚSCULO ESQUELÉTICO E LISO INFERIOR: MÚSCULO LISO LÂMINA PRÓPRIA: TECIDO CONJUNTIVO FROUXO EPITÉLIO: PAVIMENTOSO ESTRATIFICADO NÃO-QUERATINIZADO MUSCULAR: CIRCULAR INTERNA E LONGITUDINAL EXTERNA CÉLULAS DE LANGERHANS GLÂNDULAS ESOFÁGICAS DA CÁRDIA NÓDULOS LINFOIDES 27HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 6. ESTÔMAGO O estômago constitui uma dilatação do tubo digestório, que pode ser divi- dido em quatro regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro (antro). Esta porção do TGI é responsável pela digestão par- cial do alimento, através da secreção de enzimas e hormônios (digestão química) e movimentos musculares (digestão mecânica), que transforma o bolo alimentar recebido do esôfago no quimo. Todas as regiões gástricas apresen- tam rugas, que são pregas longitu- dinais da mucosa e da submucosa (transversais no antro), que desapa- recem quando estômago está disten- dido. Essas rugas permitem a expan- são do estômago com o enchimento com alimento e suco gástrico. Além disso, o revestimento epitelial do es- tômago invagina-se na mucosa for- mando as fossetas gástricas, que são mais rasas na região cárdicas e mais profundas na região pilórica. As fossetas gástricas aumentam a área da superfície do revestimento gástri- co e também apresentam glândulas gástricas. São as aberturas da fos- seta gástrica que dão o aspecto rico em invaginações da mucosa gástrica, e essas fossetas são recobertas pelo epitélio cilíndrico simples, que secre- tam muco alcalino (água, glicoproteí- nas e lipídios), o qual protege as célu- las epiteliais da acidez gástrica. A digestão química ocorre a partir da adição de HCl-, que torna o meio áci- do, ativando enzimas. Assim, no es- tômago é continuada a digestão de carboidratos, iniciada na boca, além de ocorrer a digestão parcial de pro- teínas, graças à ativação da pepsina, e digestão parcial de triglicerídios, pe- las lipases gástrica e lingual. O estô- mago também produz o fator intrín- seco, necessário para a absorção da vitamina B12. 28HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Fundo e corpo O fundo e corpo são histologicamen- te iguais. O revestimento do lúmen estomacal é feito por epitélio simples cilíndrico, formado por células de re- vestimento superficial, que produzem o muco visível, responsável por pro- teger a mucosa do suco gástrico, o qual poderia provocar sua autodiges- tão. Essas células de revestimento se continuam para o interior das fossetas gástricas, formando seu revestimento epitelial. A lâmina própria é compos- ta de tecido conjuntivo frouxo muito vascularizado, e essa porção da mu- cosa é rica em células imunes, fibro- blastos e algumas células muscula- res. Na lâmina própria também estão presentes as glândulas fúndicas (ou oxínticas). Na camada muscular da mucosa se iniciam as glândulas fúndicas, que se estendem até a base das fossetas gástricas. Essas glândulas são tubu- lares e possuem istmo, colo e base, que é mais comprida. O epitélio glan- dular é composto por seis tipos celu- lares: células de revestimento super- ficial, células mucosas do colo, células regenerativas, células parietais (ou oxínticas),células principais (ou zimo- gênicas) e células do sistema neuro- endócrino difuso (SNED). As células- -tronco (células regenerativas), que se proliferam para substituir as célu- las especializadas que revestem as Fundo Corpo Esfíncter cardíaco Esôfago Camada muscular oblíqua Camada muscular circular Camada muscular longitudinal Mucosa Submucosa Rugas Duodeno Esfíncter pilórico Piloro Abertura gastroesofageal Figura 11. Anatomia do estômago. Fonte: https://bit.ly/37SvmRF 29HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO glândulas fúndicas, fossetas gástri- cas e superfície luminal. O istmo possui células de revestimen- to superficial e células-tronco; o colo possui células-tronco, células mu- cosas do colo e células parietais; e a base possui células parietais e princi- pais. As células enteroendócrinas es- tão distribuídas por toda a glândulas, principalmente no colo e na base das glândulas. As células mucosas do colo ficam entre as células parietais do colo e possuem formato irregular, núcleos basais e grânulos de secreção próxi- mo à superfície apical. Essas células produzem um tipo de mucina diferen- te da que é secretada por células epi- teliais mucosas da superfície e possui propriedades antibióticas. Células mucosas do colo Figura 12. Células mucosas do colo. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. As células parietais (oxínticas) são ar- redondadas ou piramidais, com núcleo central e citoplasma bastante eosino- fílico (rosa). Essas células possuem invaginações na membrana plasmá- tica apical, que forma canalículos in- tracelulares, os quais são revestidos por microvilos. O citoplasma adjacen- te a estes canalículos é rico em vesí- culas tubulares e arredondadas, que compõem o sistema tubulovesicular. O número de microvilos e vesículas varia de acordo com a atividade de secreção de HCl. Durante a produção ativa de HCl, o número de microvilos aumenta e o sistema tubulovesicular diminui. Assim, a membrana, sendo armazenada como túbulos e vesícu- las, é provavelmente utilizada para a formação dos microvilos, aumen- tando a área da superfície da célula, 30HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO preparando-se para a produção de ácido clorídrico. Assim, as células principais são res- ponsáveis pela produção de H+ e Cl-, que formam o ácido clorídrico que promove a acidez gástrica, o que é estimulado pela gastrina, histamina e descargas parassimpáticas. Além disso, essas células também produ- zem o fator intrínseco gástrico, o qual é necessário para se absorver a vita- mina B12. Células parietais Figura 13. Células parietais (oxínticas). Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. SAIBA MAIS! A produção do HCL ocorre em três fases a partir de diferentes estímulos, que são a fase ce- fálica, fase gástrica e fase intestinal. A produção de HCl é iniciada com a ligação da gastrina, histamina e acetilcolina a seus receptores nas células parietais. A enzima anidrase carbônica facilita a produção do ácido carbônico (H2CO3), a partir de água e dióxido de carbono. Este ácido se dissocia em íons H+ e HCO3- (bicarbonato) no citoplasma das células parietais. Uma bomba H+, K+-ATPase bombeia o H+ para fora da célula, lançando-o no canalículo intracelu- lar, e transfere o íon potássio para dentro da célula. Assim, proteínas carreadoras bombeiam o K+ e o íon cloreto para fora da célula, lançando-o no canalículo intracelular, e com isso os íons Cl- e H+ se associam no lúmen do canalículo. A somatostatina, prostaglandina e o peptídeo inibidor gástrico (GIP) inibem a secreção do ácido clorídrico estomacal. 31HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO As células zimogênicas (principais), sintetizam e exportam proteínas, possuindo retículo endoplasmático granuloso bem desenvolvido, e por isso é muito basófila (roxa). Essas cé- lulas secretam pepsinogênio, que é convertido em pepsina no meio ácido, e esta por sua vez digere as proteínas. Também secretam a lipase gástrica, que digere triglicerídios, e renina, que participa da digestão do leite. Células zimogênicas Figura 14. Células zimogênicas (principais). Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. O pepsinogênio, assim como a lipase gástrica e renina, fica retido em grâ- nulos de secreção, e sua liberação é induzida por estímulos nervosos e hormonais, a partir do estímulo ner- voso vago e do hormônio secretina (duodeno). Assim, as células de revestimento e as glândulas do estômago produzem secreções no lúmen do estômago compostas de água, ácido clorídrico, fator intrínseco gástrico, pepsinogê- nio, renina, lipase gástrica, muco vi- sível e muco solúvel. O muco visível forma uma camada que protege o epitélio estomacal e serve como um ambiente favorável para a bactéria H. pylori, por apresentar pH mais neutro. O muco solúvel, por sua vez, se torna parte do conteúdo gástrico produzido pelas células mucosas do colo. Por fim, as células SNED, também chamadas de células enteroendó- crinas, ficam principalmente na base das glândulas e fazem parte do siste- ma APUD. Essas células, que são de vários tipos, secretam diversos hor- mônios, como a serotonina e a greli- na, secretadas no corpo do estômago, são os principais produtos secretados, e também há secreção de gastrina. A gastrina estimula a secreção do áci- do clorídrico e a motilidade gástrica. A grelina, que também é produzida pelo pâncreas, induz a sensação de fome quando o estômago está vazio. A se- rotonina atua na inibição do apetite. 32HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Cárdia A cárdia fica na transição entre o esô- fago o estômago. Possui em sua mu- cosa glândulas tubulares simples ou ramificadas, chamadas de glândulas da cárdia. Muitas células dessa região produzem muco e lisozima. A principal população celular das glândulas da cárdia são as células de revestimento superficial, além de células mucosas do colo e algumas células SNED. Há também algumas células parietais produtoras de H+ e Cl-, que formam ácido clorídrico no lúmen gástrico, mas não há células principais. CorpoAntro pilórico Célula mucosa de revestimento na fosseta Istmo Colo Base Muscular da mucosa Submucosa Nódulo linfoide Fosseta Glândula Lâmina própria Glândula Figura 15. Antro e corpo gástrico, evidenciando as partes das glândulas. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 33HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Piloro (antro pilórico) As fossetas da região pilórica são mais longas, estendendo-se até a metade da lâmina própria, e as glândulas são mais curtas. Essas glândulas secre- tam muco com lisozima e contêm os mesmos tipos celulares que as glân- dulas da região cárdica, porém o tipo celular predominante aqui são as cé- lulas mucosas do colo que produzem muco e lisozima. O piloro também possui células G, in- tercaladas com as células mucosas, e elas secretam gastrina, a qual ativa a produção de ácido clorídrico pelas células parietais e estimula o cresci- mento da mucosa gástrica. Em cada região do estômago as glân- dulas possuem características indivi- duais, mas todo o epitélio gástrico fica em contato com a lâmina própria, de tecido conjuntivo frouxo, que contém células musculares lisas e células lin- foides. A mucosa é separada da sub- mucosa pela muscular da mucosa. O estômago é revestido por uma mem- brana serosa delgada. A rede de vasos na lâmina própria e na submucosa garantem a nutri- ção e remoção de metabólitos tóxi- cos das células mucosas superficiais. Fosseta Glândulas em corte transversal Junção entre base da fosseta e glândula Lâmina própria Muscular da mucosa Cárdia Figura 16. Cárdia gástrica. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013 34HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A submucosa é formada por tecido conjuntivo modelado denso. A ca- madamuscular possui fibras mus- culares lisas orientadas em três dire- ções principais – a camada externa é longitudinal, a média circular e a in- terna é oblíqua. No piloro, a camada média é mais espessa para formar o esfíncter pilórico. SE LIGA! Os fatores que influenciam o esvaziamento do estômago são o seu grau de dis- tensão e a ação da gastrina, que estimula a contração da túnica muscular externa da região pilórica e o relaxamento do esfíncter pilórico. Os fatores que inibem o esvaziamento gástrico incluem a distensão do duodeno, excesso de gorduras, proteínas ou carboidratos, e o aumen- to da osmolaridade e acidez excessiva do quimo no duodeno. Esses fatores inibem o esva- ziamento através da liberação de colecistoquinina, que se contrapõe à gatrina, estimulando a liberação do peptídeo inibidor gástrico, que inibe as contrações gástricas. 35HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL - ESTÔMAGO ESTÔMAGO CAMADA INTERNA: CIRCULAR CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL CÉLULAS DE REVESTIMENTO (EPITÉLIO SIMPLES CILÍNDRICO) CÉLULAS-TRONCO CÉLULAS PARIETAIS CÉLULAS MUCOSAS DO COLO CÉLULAS DO SNED CÉLULAS ZIMOGÊNICAS CÁRDIA PILORO FUNDO E CORPOEPITÉLIO FOSSETAS GÁSTRICAS CÉLULAS G TECIDO CONJUNTIVO FROUXOLÂMINA PRÓPRIA CAMADA INTERNA: OBLÍQUA CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL CAMADA MÉDIA: CIRCULAR MUSCULAR DA MUCOSA MUCOSA TECIDO CONJUNTIVO MODELADO DENSOSUBMUCOSA MUSCULAR 36HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 7. INTESTINO DELGADO O intestino delgado é a porção do tubo digestório onde termina a diges- tão dos alimentos, ocorre a absorção de nutrientes e são secretados alguns hormônios que regulam o processo de digestão. Na verdade, na muco- sa gástrica já se inicia a absorção de alguns produtos alimentares e subs- tâncias como o álcool. O intestino delgado é segmentado em duodeno, jejuno e íleo, que formam um tubo relativamente longo. O com- primento do órgão é importante para o aumento da superfície, que permite maior contato com o bolo alimentar. A superfície intestinal, a olho nu, apresenta pregas circulares (valvas de Kerckring), que são dobras da mu- cosa e submucosa, mais evidentes no jejuno. Ao contrário do estômago, essas pregas são permanentes e ter- minam na metade proximal do íleo. Essas pregas são importantes para aumentar a superfície de contato com o bolo alimentar, favorecendo a digestão e absorção, e também dimi- nuem a velocidade do movimento do quimo ao longo do trato intestinal. Microscopicamente, a mucosa do in- testino delgado possui vilosidades (ou vilos), que são projeções alonga- das formadas pelo epitélio de reves- timento e lâmina própria, as quais ficam muito semelhantes a dedos à medida que se aproxima do íleo. Tam- bém são estruturas permanentes do intestino, ou seja, não somem quando este está distendido, e aumentam em cerca de 10 vezes a área de superfí- cie do intestino delgado. A membrana apical das células epiteliais apresen- ta microvilos, que revestem os vilos intestinais e aumentam em cerca de 20 vezes a superfície do intestino. Ou seja, vilos se refere às invaginações do epitélio, enquanto microvilos se refere às invaginações da membrana plasmática das células que compõem esse epitélio. O epitélio de revestimento dos vilos é do tipo cilíndrico simples, formado principalmente por enterócitos (célu- las absortivas) e células caliciformes. As invaginações deste epitélio para dentro da lâmina própria, por entre os vilos, formam as glândulas intestinais, chamadas de criptas de Lieberkuhn, ou seja, o epitélio de revestimento é contínuo com o epitélio das criptas. As criptas de Lieberkuhn são com- postas por células absortivas, célu- las caliciformes, células enteroendó- crinas (células do SNED), células de Paneth e células-tronco. Essas crip- tas representam o compartimento proliferativo do intestino e também aumentam a área de superfície do in- testino delgado. 37HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Túnicas musculares Criptas Vilosidades Figura 17. Vilosidades e criptas do intestino delgado. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013. 38HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO As células absortivas são células co- lunares altas, cuja membrana plásti- ca se projeta para o lúmen no ápice, formando microvilosidades, que em conjunto geram o aspecto de borda em escova do intestino. A membra- na celular envolve um eixo de mi- crofilamentos de actina associados à fimbrina e vilina, que são proteínas do citoesqueleto. A principal função dessas células é internalizar as molé- culas dos nutrientes ingeridos na ali- mentação, e para isso algumas secre- tam enzimas como dissacaridases e dipeptidases, que hidrolisam dissaca- rídeos e dipeptídeos em suas unida- des menores. A absorção ocorre por transporte ativo. SE LIGA! O organismo não é capaz de absorver os alimentos em suas molé- culas grandes. Assim, carboidratos são quebrados em monossacarídeos, as proteínas são reduzidas à aminoácidos e os lipídios são dissolvidos em ácidos graxos. A digestão de lipídios é feita principalmente pela lipase pancreáti- ca e pela bile produzida pelo fígado, as quais são lançadas no duodeno pelos ductos colédoco e pancreático. Assim, água, aminoácidos, ácidos graxos, íons e monossacarídeos entram nas células absortivas superficiais e são liberados no espaço intercelular através da mem- brana basolateral dessas células, per- mitindo que esses nutrientes tenham acesso ao leito capilar dos vilos e sejam transportados para o fígado, onde serão processados e lançados na circulação sistêmica ou excretados. As células caliciformes ficam entre as células absortivas, e sua quantida- de aumenta em direção ao íleo. Es- sas células produzem glicoproteínas do tipo mucina, que formam o muco, responsável por proteger e lubrificar o revestimento intestinal, facilitando a passagem do quimo, que no intestino delgado se transforma em quilo. As células de Paneth ficam na porção basal das criptas intestinais, e são cé- lulas exócrinas, com grandes grânu- los de secreção eosinofílicos em seu citoplasma apical. Esses grânulos são cheios de lisozima e defensina, que ajudam no combate de bactérias. 39HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Célula absortiva superficial Célula de Paneth Célula enteroendócrina Célula regenerativa Célula caliciforme Intestino delgado Cripta de Lieberkuhn Quilifero Cripta de Lieberkuhn Camada muscular da mucosa Nódulo linfoide Lâmina própria Figura 18. Células intestinais. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histologia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007. O intestino delgado possui ainda as células M (microfold), que são células epiteliais especializadas que reco- brem as placas de Peyer, que são acú- mulos de folículos linfoides presentes no íleo. Essas células possuem inva- ginações basais, que contêm muitos linfócitos e células apresentadoras de antígenos, como macrófagos, au- xiliando na montagem de resposta imunológica. A lâmina basal sob as células M é descontínua, facilitando o trânsito de células entre o tecido con- juntivo e as células M, ou seja, permi- te uma comunicação com vasos san- guíneos e outras células de defesa. O intestino possui células endócrinas distribuídas por todo tecido. Essas células podem ser classificadas em tipo aberto, nas quais o ápice da cé- lula possui microvilosidades e fica em contato direto com o lúmen, e do tipo fechado, nas quais o ápice celular está recoberto por células epiteliais. As células do tipo aberto são mais alongadas, possui microvilosidades irregulares na superfície apical e tem pequenos grânulos de secreção no ci- toplasma. A atividade dessas células é muito importante para a regulação do sistema digestivo, dentre elas es- tão as células S, produtoras de secre- tina. As células epiteliais produzem ainda a colecistocinina (CCK). 40HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A lâmina própria do intestino delga- da é constituída por tecido conjuntivo frouxo,com vasos sanguíneos e lin- fáticos, fibras nervosas e fibras mus- culares lisas. Essa camada preenche o centro das vilosidades intestinais, que são movimentadas ritmicamente pelas células musculares lisas, parti- cipando da absorção de nutrientes. A muscular da mucosa é semelhante às das outras porções do TGI – camada circular interna e longitudinal externa. Já submucosa do intestino delgado, na porção inicial do duodeno, apre- senta glândulas tubulares enoveladas ramificadas, que cobrem as glândulas intestinais, chamadas de glândulas duodenais, ou glândulas de Brun- ner. Essas glândulas secretam muco alcalino, que protege a mucosa duo- denal do suco gástrico ácido recebido com o bolo alimentar, e neutraliza o pH ácido a um nível ideal para ação das enzimas pancreáticas. Essas glândulas também secretam urogas- trona, também conhecido como fator de crescimento epidérmico humano, que inibe a produção de HCl e au- menta a velocidade da mitose das células epiteliais. A lâmina própria e a submucosa tam- bém possuem nódulos linfáticos do sistema GALT, que são mais nume- rosos no íleo, onde são chamados de placas de Peyer. Existem cerca de 30 placas de Peyer nos seres humanos, e seu revestimento é feito por células M e não células absortivas. Figura 19. Lâmina de intestino delgado evidenciando as camadas mucosa, submucosa, muscular e serosa. Fonte: https://bit.ly/2ykTS0j 41HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A inervação do intestino delgado é feita por um componente extrínseco, constituída pelo plexo de Meissner, que fica na submucosa, e outro in- trínseco, formado pelo plexo nervoso de Auerbach, que ficam entre as ca- madas muscular e longitudinal. Esses plexos recebem informações quanto à composição do conteúdo intestinal (quimiorreceptores) e quanto ao grau de expansão das paredes intestinais. A inervação intrínseca é responsável pelas contrações intestinais, enquan- to a inervação extrínseca pertence ao sistema nervoso autônomo, formada por fibras colinérgicas parassimpá- ticas, que estimulam a atividade da musculatura lisa, e fibras adrenérgi- cas simpáticas, que fazem a regula- ção negativa dessa musculatura lisa, ou seja, inibem sua contração. Um ponto importante sobre o intesti- no é que o duodeno é seu segmento mais curto, que recebe a bile do fígado e sucos digestivos do pâncreas atra- vés do ducto biliar comum (ducto co- lédoco) e do ducto pancreático. Esses ductos se abrem no duodeno na pa- pila de Vater. Além disso, o duodeno se difere das outras porções do intes- tino delgado pelo fato de seus vilos serem mais altos, mais largos e mais numerosos, possui menos células ca- liciformes e apresenta glândulas de Brunner na submucosa. Os vilos do jejuno são mais estreitos, mais curtos e mais esparsos que os do duodeno, e essa porção apresenta mais células caliciformes. Os vilos do íleo são se- melhantes aos vilos do jejuno, e sua característica mais marcante são as placas de Peyer na lâmina própria. SE LIGA! Há uma anomalia congênita muito comum chamada de divertículo de Meckel, que consiste em um rema- nescente do ducto vitelino, uma cone- xão embrionária entre o intestino médio e o saco vitelino. Esse divertículo é um prolongamento de abertura larga na re- gião distal do íleo, e na maioria dos ca- sos é assintomático, porém pode causar sangramento e obstrução intestinal em algumas situações. A obstrução é gera- da pelo prolapso do íleo para dentro do divertículo. 42HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL – INTESTINO DELGADO INTESTINO DELGADO MICROVILOS CÉLULAS DO SNED CÉLULAS DE PANETH CÉLULAS-TRONCO CÉLULAS ABSORTIVAS CÉLULAS CALICIFORMES CRIPTAS DE LIEBERKUHN VILOS PLACAS DE PEYER LÂMINA PRÓPRIA EPITÉLIO CAMADA INTERNA: CIRCULAR CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL GLÂNDULAS DE BRUNNER PLACAS DE PEYER CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL CAMADA INTERNA: CIRCULAR CÉLULAS M MUSCULAR DA MUCOSA MUCOSA SUBMUCOSA MUSCULAR 43HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 8. INTESTINO GROSSO O intestino grosso é segmentado em ceco, cólon (ascendente, transverso, descendente, sigmoide), reto e ânus. Sua mucosa não possui pregas, exce- to no reto, nem vilosidades, como no intestino delgado. O ceco e o colo são histologicamente iguais e o apêndice é uma evaginação em fundo cego do ceco possui algumas características distintas. As principais funções do in- testino grosso são: absorção de água, fermentação, formação da massa fe- cal e produção de muco, para facilitar a passagem e excreção do bolo fecal. Figura 20. Partes do intestino grosso. Fonte: https://bit.ly/2ym1SxU O colo recebe o quimo do íleo através da valva ileocecal, que impede o re- fluxo do conteúdo do ceco para o íleo. O colo não possui vilos, mas apresen- ta muitas criptas de Lieberkuhn, que se difere das criptas do intestino del- gado basicamente pela ausência das células de Paneth. A quantidade de células caliciformes aumenta do ceco para o colo sigmoide, mas as células absortivas são o tipo celular mais pre- dominante. Além dessas células, há algumas células do SNED e células regenerativas que substituem o re- vestimento epitelial das criptas e da superfície mucosa. https://bit.ly/2ym1SxU 44HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO As criptas de Lieberkuhn são constituí- das por glândulas tubulares simples, que ficam entre as vilosidades intestinais e secretam enzimas como a maltase, bem como hormônios e enzimas de defesa. Vale lembrar que essas glândulas pos- suem epitélio simples colunar e as células absortivas são colunares e apresentam microvilosidades curtas e irregulares. A lâmina própria é rica em células linfoi- des e nódulos (GALT), também presentes na submucosa, e isso é importante pela grande população de bactérias no intesti- no grosso. Assim, lâmina própria, a cama- da muscular da mucosa e a submucosa do colo assemelham-se às do intestino delgado. A camada muscular difere da camada muscular do intestino delgado porque fi- bras da camada longitudinal externa se unem para formar as três bandas longi- tudinais espessas chamadas de tênias do colo, cujo tônus constante formam as pregas do intestino, chamadas de sacu- lações do colo. A camada serosa é dife- renciada por pequenas protuberâncias pedunculadas de tecido adiposo, chama- dos de apêndices epiploicos. O apêndice possui lúmen é relativamen- te irregular, pequeno e estreito, graças à presença de abundantes nódulos linfoi- des em sua parede. Sua estrutura geral é semelhante à do intestino grosso, po- rém possui menos glândulas intestinais e estas, quando presentes, são menores. Além disso, o apêndice não possui tênias do colo. Devido à sua conformação, o apêndice pode ser obstruído pela massa fecal, gerando uma inflamação (apendici- te) que deve ser tratada rapidamente por remoção cirúrgica normalmente. As funções do colo são a absorção de água, eletrólitos e gases, assim como a compactação e eliminação das fezes. As fezes são compostas de água, bactérias mortas, fibras, gordura, substâncias inor- gânicas, proteínas não digeridas, células mortas e pigmentos da bile. A ação bac- teriana no colo produz gases, compostos de CO2, metano e H2, que são mistu- rados ao nitrogênio e oxigênio do ar in- gerido. O colo também secreta muco e bicarbonato. O muco não protege a mu- cosa como também auxilia na compac- tação das fezes. O bicarbonato, por sua vez, adere ao mudo e age como tampão, protegendo a mucosa contra os subpro- dutos ácidos do metabolismo bacteriano dentro das fezes. SAIBA MAIS! As células epiteliais do TGI são constantemente descamadas e novas células são formadas por meio de divisão das células-tronco, que ficam na camada basal do epitélio esofágico, istmo e colo das glândulas gástricas e porção inferior das criptas dos intestinos delgado e grosso. Essas células-tronco são colunares baixas, possuem núcleo oval, localizado próximo à base e apresentam alta taxa de mitose. As células mucosas são as que mais se renovam, o que ocorre no dentro de umperíodo de 4 a 7 dias. 45HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 21. Colo de um macaco. CL, criptas de Lieberkuhn; LP, lâmina própria; ME, túnica muscular externa; MM, cama- da muscular da mucosa; O, lúmen aberto das criptas de Lieberkuhn; SM, submucosa. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histologia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007 SAIBA MAIS! A diarreia ocorre quando ocorre irritação intensa da mucosa do colo, como na enterite, geran- do uma secreção de grande quantidade de muco, água e eletrólitos. Isso protege o organismo eliminando o irritante, porém em alguns casos é necessária uma terapia de reposição, pois diarreia de longa duração, com uma expressiva perda de fluido e eletrólitos pode resultar em choque circulatório 46HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Histologicamente, o reto se asseme- lha ao colo, porém as criptas de Lie- berkuhn são mais profundas aqui, e encontradas em menor número, não estando mais presentes na metade distal do canal. A mucosa apresenta ainda as colunas retais, que são dobras longitudinais, também chamadas de colunas retais de Morgani. Essas colunas se encon- tram formando evaginações seme- lhantes a bolsas, chamadas de valvas anais ou seios anais intermediários, os quais ajudam o ânus a suportar a coluna de fezes. A mucosa anal é revestida por epi- télio simples cilíndrico, do reto até a linha pectinada, ao nível das valvas anais. Da linha pectinada até o orifí- cio anal externo, o epitélio é estrati- ficado pavimentoso não-queratiniza- do, e a epiderme no ânus é revestida por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. Figura 22. Criptas de Lieberkuhn do colo de um macaco. E, células do SNED;L, lúmen da cripta; P, plasmócito. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histologia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007 47HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO A lâmina própria, formada por teci- do conjuntivo fibroelástico, possui as glândulas anais na junção retoanal, e glândulas circum-anais na porção distal do canal anal. O ânus também possui folículos pilosos e glândulas sebáceas. A camada muscular da mucosa é formada por camada circu- lar interna e uma camada longitudinal externa músculo liso. Essas camadas não se estendem para além da linha pectinada. A submucosa do canal anal também é composta por tecido conjuntivo fi- broelástico, e contém dois plexos venosos, os plexos hemorroidários interno e externo, situados acima da linha pectinada e na junção do canal anal com o ânus, respectivamente. A túnica muscular externa anal con- siste em uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. A camada circular interna se espessa na região da linha pectinada, formando o músculo do esfíncter anal interno. As células mus- culares lisas da camada longitudinal externa continuam como uma lâmina fibroelástica envolvendo o esfíncter anal interno. Os músculos esquelé- ticos do assoalho da pelve formam o músculo do esfíncter anal externo, que envolve a lâmina fibroelástica e o esfíncter anal interno. O esfíncter ex- terno está sob controle voluntário e possui um tônus constante, enquan- to o esfíncter interno tem controle involuntário. 48HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 23. Anatomia do canal anal. Fonte: https://vencerocancer.com.br/wp-content/uploads/2014/05/cap23-1-700px.jpg SE LIGA! As hemorroidas são formadas quando ocorre aumento do tamanho dos vasos dos plexos venosos da submucosa do anal, comum na gravidez e em pessoas com mais de 50 anos. As hemorroidas geram defecação dolorosa, coceira anal e aparecimento de sangue fresco nas fezes. 49HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL – INTESTINO GROSSO INTESTINO GROSSO RETO – LINHA PECTINADA EPIDERME DO ÂNUS CÉLULAS ABSORTIVAS LINHA PECTINADA – ORIFÍCIO ANAL EXTERNO CÉLULAS-TRONCO CÉLULAS DO SNED EPITÉLIO PAVIMENTOSO NÃO-QUERATINIZADO EPITÉLIO SIMPLES CILÍNDRICO EPITÉLIO PAVIMENTOSO QUERATINIZADO EPITÉLIO CRIPTAS DE LIEBERKUHN CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL NÓDULOS LINFOIDES MUSCULAR DA MUCOSA MUCOSA SUBMUCOSA MUSCULAR CÉLULAS CALICIFORMES CAMADA INTERNA: CIRCULAR LÂMINA PRÓPRIA CAMADA EXTERNA: LONGITUDINAL CAMADA INTERNA: CIRCULAR APÊNDICES EPICLOICOSSEROSA TÊNIAS DO COLO ESFÍNCTER ANAL INTERNO 50HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 9. GLÂNDULAS SALIVARES O corpo humano possui três pares de glândulas salivares maiores: glându- las parótidas, submandibulares e su- blinguais, e glândulas salivares meno- res. As glândulas salivares menores estão distribuídas em toda a muco- sa oral e submucosa e produzem cerca de 10% de toda a saliva, mas são responsáveis por quase 70% do muco secretado. Elas não são encap- suladas como as glândulas maiores, e a saliva é produzida por pequenas células secretoras, sendo conduzida para a cavidade oral através de duc- tos curtos, trajeto no qual sofre pou- cas alterações em sua composição. A maioria das glândulas salivares me- nores produzem muco, com exceção das glândulas serosas na parte pos- terior da língua. Além disso, essas glândulas também estão associadas a agregados de linfócitos e secreção de IgA. As glândulas salivares maiores são revestidas por uma cápsula de tecido conjuntivo rico em fibras colágenas e seu parênquima é formado por termi- nações secretoras e um sistema de ductos ramificados, que se organizam em lóbulos, separados por septos de tecido conjuntivo da cápsula. Essas terminações possuem dois tipos de células secretoras: serosas e muco- sas, além de células mioepiteliais, que não são secretoras. A porção secretora fica antes de um sistema de ductos, os quais modificam a saliva à medida que a conduz para a cavidade bucal. As células serosas costumam ter formato piramidal, com base larga e ápice com microvilos pequenos e ir- regulares voltados para o lúmen do ducto. Essas células apresentam ca- racterísticas de células polarizadas secretoras de proteínas, e são unidas entre si formando um ácino, com lú- men central. As células mucosas apresentam for- mato cuboide ou colunar, com núcleo oval pressionado junto à base da cé- lula. Elas possuem características de células secretoras de muco, conten- do glicoproteínas que participam da função lubrificante da saliva. A maio- ria dessas glicoproteínas é compos- ta por mucinas. As células mucosas normalmente se organizam em tú- bulos, arranjos cilíndricos de células secretoras circundando o lúmen, e no término deles existe um grupo de cé- lulas serosas que constituem as se- miluas serosas. As células mioepiteliais, por sua vez, são encontradas junto à lâmina basal de terminações secretoras e ductos intercalares, que formam a porção inicial do sistema de ductos. Duas ou três células mioepiteliais envolvem a terminação secretora, e nessa por- ção são bem desenvolvidas e rami- ficadas. Já nos ductos intercalares, 51HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO as glândulas mioepiteliais são mais alongadas e fusiformes, e ficam para- lelas ao comprimento do ducto. Essas células têm características de células musculares, como a capacidade de contração, mas elas fazem junções entre si (desmossomos) e com as cé- lulas secretoras. A principal função das células mioepiteliais parece ser a prevenção da distensão excessiva da terminação secretora durante a secreção de saliva, por conta do au- mento da pressão no lúmen do duc- to, assim, a contração dessas células nos ductos intercalares, aumenta o diâmetro luminal, ajudando a diminuir a pressão na porção secretora e tam- bém facilitando a secreção. As terminações secretoras se conti- nuam com os ductos intercalares, for- mados por células epiteliais cuboides. Muitos desses ductos se unem para formar um ducto estriado. Esses duc- tos são caracterizados por formar es- triações radiais, que se estendem da base das células até a altura dos nú- cleos, e essas estriações são invagi- nações da membrana plasmática ba- sal, ricas em mitocôndrias alongadas, estrutura característica de células transportadoras deíons. Os ductos intercalares e estriados também são chamados de ductos intralobulares. 52HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 24. Ácinos, ductos e tipos celulares das glândulas salivares. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histologia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007 53HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Os ductos estriados de cada lóbu- lo desembocam em ductos maio- res localizados nos septos de tecido conjuntivo, que separam os lóbulos, onde se tornam ductos interlobulares ou excretores. Inicialmente, eles são formados por epitélio cuboide estra- tificado, e suas porções mais distais são revestidas por epitélio colunar estratificado. O ducto principal de cada glândula salivar desemboca na cavidade oral e, no final, é revestido por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. Os vasos e nervos penetram as glân- dulas salivares maiores pelo hilo e gradualmente se ramificam até os lóbulos. As partes secretoras e duc- tais de cada lóbulo possuem um rico plexo vascular e nervoso, o qual par- ticipa da secreção da saliva após estí- mulo nervoso, realizado pelo sistema nervoso autônomo. SAIBA MAIS! O gosto do alimento ou seu aroma dispara um estímulo parassimpático, o qual provoca secre- ção abundante de saliva aquosa, preparando a cavidade oral para o recebimento do alimento. Já o estímulo simpático, ativado nas situações de luta-fuga, está associado à sensação de boca seca (xerostomia), porque a saliva produzida é viscosa e rica em material orgânico. Glândula Parótida A glândula parótida é uma glândula acinosa composta, cuja porção secre- tora é formada exclusivamente por células serosas, com grânulos de se- creção ricos em proteínas e amilase. Com isso, essas glândulas são mui- to importantes na digestão (hidróli- se) da maior parte dos carboidratos, que começa na boca e continua no estômago durante pouco tempo – o suco gástrico acidifica o bolo alimen- tar e com isso inativa a amilase. Assim como nas outras glândulas sa- livares, o tecido conjuntivo das glân- dulas parótidas é rico em plasmócitos e linfócitos. Os plasmócitos secretam IgA, o qual é resistente à digestão en- zimática e é importante na defesa do organismo contra invasores da cavi- dade oral. 54HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Glândula Submandibular (submaxilar) A glândula submandibular é uma glândula tubuloacinosa composta, cuja porção secretora é formada por células serosas e mucosas, com des- taque para as células serosas, que se diferem das mucosas pelo núcleo, que é arredondado, e citoplasma ba- sófilo (roxo – cora com hematoxilina). A maior parte das terminações secre- toras dessas glândulas é formada por ácinos serosos, enquanto o restante consiste em túbulos mucosos com semiluas serosas. As células secretoras dessas glându- las possuem extensas invaginações basais e laterais voltadas para o plexo vascular, que aumentam a superfície para transporte de íons, facilitando o transporte de água e eletrólitos. Es- sas invaginações tornam impossível identificar os limites entre as células. As células serosas produzem uma quantidade irrisória de amilase, en- quanto as células das semilulas sero- sas secretam lisozima. Além disso, al- gumas células acinosas e dos ductos intercalares também secretam lacto- ferrina, que se liga ao ferro, importante na nutrição de bactérias, ajudando na defesa contra esses microrganismos. Os ductos estriados são bastante vi- síveis nas glândulas submandibula- res, enquanto os ductos intercalares são bastante curtos. Figura 25. Glândula parótida. As setas apontam as glândulas seroas e os círculos os ductos. Fonte: https://histologiauff.files.wordpress.com/2016/06/parc3b3tida-1.jpg?w=900 55HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Glândula Sublingual Assim como a glândula submandibu- lar, a glândula sublingual é tubuloaci- nosa, formada por células serosas e mucosas. Porém, aqui predominam as glândulas mucosas, sendo que as células serosas são exclusivas das extremidades dos túbulos mucosos (semiluas serosas), e também secre- tam lisozima. Figura 26. Glândula submandibular. Fonte: https://bit.ly/2KcTfZ4 56HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 27. Glândula sublingual. As setas indicam os ductos estriados e os túbulos mucosos. Fonte: https://mol.icb.usp.br/wp-content/uploads/13-2-5a.jpg HORA DA REVISÃO! As células serosas se diferenciam das células mucosas devido ao fato de seu produto de secreção ser composto especialmente por proteínas, enquanto as glândulas mucosas produzem o muco, uma secreção de caráter mais viscoso. https://mol.icb.usp.br/wp-content/uploads/13-2-5a.jpg 57HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO MAPA MENTAL – GLÂNDULAS SALIVARES GLÂNDULAS SALIVARES MENORES MAIORES MUCO SECREÇÃO DE IgA AGREGADOS LNFÓCITOS ENCAPSULADAS CÉLULAS ORGANIZAÇÃO EM LÓBULOS SUBMANDIBULARES SUBLINGUAIS ACINOSA SEROSAS MUCOSAS MIOEPITELIAIS GLÂNDULAS SEROSAS TUBULOACINOSA GLÂNDULAS MUCOSAS CÉLULAS SEROSAS CÉLULAS SEROSAS E MUCOSAS 10. PÂNCREAS O pâncreas anatomicamente é divido em cabeça, corpo e cauda, constituin- do-se uma glândula mista, ou seja, composta por uma porção exócrina e outra endócrina. A porção exócri- na é responsável pela produção das enzimas digestivas, enquanto a por- ção endócrina produz hormônios envolvidos principalmente na regula- ção da glicemia, os quais são sinte- tizados num grupamento de células epiteliais chamados de ilhotas pan- creáticas (ilhotas de Langerhans). O pâncreas é revestido por teci- do conjuntivo, que forma septos, os quais subdividem este órgão em ló- bulos. As células da porção exócrina 58HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO são arranjadas em ácinos, enquanto a porção endócrina do pâncreas é uma glândula acinosa composta, seme- lhante à glândula parótida estrutural- mente, localizada entre os ácinos exó- crinos. Histologicamente, essas duas glândulas podem ser diferenciadas pela ausência de ductos estriados, no caso da glândula exócrina, e presença das ilhotas de Langerhans, nas glân- dulas endócrinas. Além disso, os duc- tos intercalares, que ficam entre os ácinos, penetram a porção inicial do lúmen dos ácinos, o que obviamente não ocorre no pâncreas endócrino. Figura 28. Anatomia histológica do pâncreas. Fonte: https://bit.ly/2XWnrQD 59HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO O pâncreas exócrino produz um fluido rico em bicarbonato, contendo proen- zimas digestivas. Essa glândula é for- mada ácinos (células acinosas), como já mencionado, cujo lúmen é composto por 3 ou 4 células centroacinosas, que representam o início do sistema de duc- tos do pâncreas. Essas células são ex- clusivas dos ácinos pancreáticos. As células acinosas possuem forma- to de pirâmide, cuja base é apoiada na lâmina basal, separando as células aci- nosas do tecido conjuntivo, e o núcleo (arredondado) é basal e circundado por citoplasma basófilo. O citoplasma api- cal, voltado para o lúmen do ácino, con- tém grânulos de zimogênio (grânulos de secreção), proenzima precursora do pepsinogênio (transformado em pepsi- na no estômago, a qual digere proteí- nas). O número de grânulos de secreção varia de acordo com a fase digestiva, sendo máximo durante o jejum. O sistema de ductos do pâncreas se inicia com os ductos intercalares, inicial- mente formados pelas células centroa- cinosas, e esses ductos se unem entre si, formando os ductos intralobulares, que convergem e formam os ductos interlobulares. Estes ductos (interlobu- lares) são envolvidos por tecido con- juntivo e liberam seu conteúdo no duc- to pancreático principal, que se une ao ducto biliar comum, o qual se abre no duodeno pela papila de Vater. Figura 28. Tipos celulares dos ácinos secretores e ilhotas de Langerhans. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histolo- gia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007 60HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO O pâncreas exócrino produz diversas proteínas, sendo as mais importantes a amilase e lipase, e a maioria delas é armazenada na forma inativa (pré- -enzimas)dentro dos grânulos de secreção das células acinosas, sendo ativadas apenas no lúmen do intes- tino delgado. Isso é importante para proteger o pâncreas da ação dessas enzimas, que são podem “digerir” esse órgão se ativadas indevidamen- te dentre dele (pancreatite). As células acinosas possuem recep- tores para colescistonina (CCK) e acetilcolina, enquanto as células cen- troacinosas e os ductos intercalares possuem receptores para secretina e às vezes para acetilcolina. A secretina estimula a produção da bile, enquanto a CCK promove contrações da vesí- cula biliar, gerando o relaxamento do esfíncter de Oddi e liberação da bile. A liberação de secretina é estimula- da pela presença de ácido no intes- tino. Esse hormônio promove secre- ção fluida, pobre em enzimas e rica em bicarbonato, sendo assim impor- tante na neutralização do pH do qui- mo, possibilitando a ação das enzi- mas pancreáticas que requerem pH neutro. A secreção de CCK é estimulada pela presença de ácidos graxos de cadeia longa (gordura), ácido gástrico e ami- noácidos no lúmen intestinal, e pro- move secreção pouco abundante e rica em enzimas. Esse hormônio atua principalmente na extrusão dos grâ- nulos de zimogênio. Esses hormônios (CCK e secretina), produzidos pela mucosa intestinal, controlam a secreção exócrina do pâncreas. Além disso, a secreção das enzimas pancreáticas também é re- gulada por estímulo parassimpático (nervo vago). 61HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 30. Ligação pancreática com o intestino. Fonte: https://bit.ly/2CuC19d MAPA MENTAL – PÂNCREAS EXÓCRINO PÂNCREAS EXÓCRINO ORGANIZAÇÃO EM ÁCINOS AMILASE LIPASE CÉLULAS ACINOSAS CÉLULAS CENTROACINOSAS DUCTOS INTERCALARES DUCTOS INTRALOBULARES DUCTOS INTERLOBULARES DUCTO PANCREÁTICO PRINCIPAL 62HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO O pâncreas endócrino, formado pelas ilhotas de Langerhans, fica disperso entre os ácinos serosos, cuja maior concentração é na cauda do pân- creas. As ilhotas de Langerhans são compostas 5 tipos celulares: células beta (β), células alfa (α), células delta (δ) (células D e D1), células PP (pro- dutoras do polipeptídeo pancreático) e células G (produtoras de gastrina), as quais não podem ser diferenciadas pela técnica de coloração HE. As principais células do pâncreas en- dócrino são as células α e células β, produtoras de glucagon e insulina respectivamente. A insulina se liga à vários tipos celulares, principalmente no tecido muscular, tecido adiposo e fígado, regulando a entrada e meta- bolismo da glicose. O diabetes melli- tus é provocada quando as células se tornam insensíveis à insulina ou quando a produção de insulina é in- suficiente. O glucagon, por sua vez, atua principalmente nos hepatócitos, levando à ativação de enzimas gli- coneolíticas, que quebram o glicogê- nio (estoque de glicose gerado pela insulina) em glicose – glicogenólise, além de ativarem as enzimas hepáti- cas responsáveis pela gliconeogêne- se. Vale pontuar que tanto a insulina quanto o glucagon são sintetizados em ritmo basal e armazenados em grânulos intracelulares, sendo libera- dos em resposta aos estímulos gera- dos pelo aumento ou diminuição da glicemia. Porém, além disso, o pâncreas endó- crino produz outros hormônios, como a somatostatina, produzida pelas cé- lulas δ (D), que regula a liberação dos hormônios produzidos pelas células α e células β (efeito parácrino) e tam- bém age sobre as células muscula- res lisas do trato digestivo e vesícula biliar, reduzindo a motilidade desses órgãos. As células δ (D1) também produzem o peptídeo intestinal vaso- ativo (VIP), o qual induz a glicogenó- lise e hiperglicemia, além de também participar da regulação da motilidade intestinal e do tônus muscular da pa- rede intestinal. As células G produzem gastrina, hor- mônio que estimula a liberação de HCl pela mucosa gástrica, impor- tante para a acidez do suco gástrico, além de regular a motilidade e esva- ziamento gástrico e a taxa de divisão celular das células regenerativas do estômago. Por fim, as células PP produzem o polipeptídeo pancreático, o qual inibe as secreções exócrinas do pâncreas, estimula a liberação de enzimas pelas células principais do estômago e di- minui a liberação de HCl pelas células parietais gástricas. 63HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO Figura 31. Imagem histológica do pâncreas.Fonte: https://bit.ly/3ctkevQ MAPA MENTAL – PÂNCREAS ENDÓCRINO PÂNCREAS ENDÓCRINO GLUCAGON INSULINA SOMATOSTATINA POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO VIP GASTRINA CÉLULAS α CÉLULAS β CÉLULAS PP CÉLULAS G CÉLULAS δILHOTAS DE LANGERHANS 64HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO 11. FÍGADO O fígado é dividido em lobos direito, esquerdo, quadrado e caudado, sen- do os dois primeiros sua maior parte. Este órgão é responsável por sinteti- zar muitas proteínas sanguíneas, es- pecialmente a albumina e proteínas carreadoras, bem como metabolizar os nutrientes advindos da alimenta- ção, transformando e neutralizando- -os para sua eliminação de substân- cias tóxicas. Assim, similarmente ao pâncreas, o fígado é uma glândula mista, com funções endócrinas e exó- crinas, a diferença é que a mesma cé- lula que produz a bile, importante na digestão de gorduras, também gera os outros produtos endócrinos e neu- traliza as substâncias tóxicas. Todos os nutrientes absorvidos no intestino passam pelo fígado através da veia porta, a principal responsável pelo seu suprimento sanguíneo (80% de sangue pouco oxigenado), exceto lipídios complexos, que são absorvi- dos através da artéria hepática direita e esquerda (20% de sangue rico em oxigênio). A eliminação dos metabóli- tos, por sua vez, é feita pela bile, que é direcionada para a vesícula biliar através dos ductos hepáticos direito e esquerdo. Assim, o fígado possui duplo suprimento sanguíneo, e a dre- nagem sanguínea é feita pelas veias hepáticas. O fígado é completamente envolvido pelo peritônio (exceto pela área nua), e revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso não modelado, cha- mada cápsula de Glisson, que torna mais espesso no hilo, através do qual a veia porta e artéria hepática pene- tram no fígado e por onde saem os ductos hepáticos direito e esquerdo, além dos ductos linfáticos. Os hepatócitos são organizados em lóbulos hepáticos (lóbulos hepáti- cos clássicos), que ficam em contato entre si, sem divisão aparente. Cada lóbulo hepático é composto por cor- dões de hepatócitos, dispostos ra- dialmente, uma veia centrolobular, e os espaços porta. O fígado humano possui de 3 a 6 espaços porta por lóbulo, localizados em sua periferia, cada um contendo um ramo da veia porta, um ramo da artéria hepática, um ducto (parte do sistema de duc- tos biliares), além de vasos linfáticos – a tríade portal pode conter apenas a veia porta e o ducto biliar. Porém, além da divisão clássica, os hepatócitos também podem ser orga- nizados segundo o conceito de lóbulo portal, o qual é definido como uma re- gião triangular cujo centro é o espaço porta e a periferia é formada pelas li- nhas que unem as três veias centro- lobulares, formando os três ápices do triângulo. E há ainda um terceiro con- ceito, o de ácino hepático (ácido de Rappaport), que é baseado no fluxo sanguíneo da arteríola distribuidora, 65HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTIVO ordem na qual os hepatócitos de- generam após agressões (ver mais adiante). O ácino hepático é formado por três regiões concêntricas mal de- finidas, circundando uma artéria dis- tribuidora em posição centrolobular, chamadas de zonas 1, 2 e 3 (mais in- terna para mais externa, respectiva- mente). Com isso, a zona 3 é a mais pobre em oxigênio, enquanto a zona 1 é a mais rica. Figura 32. Lóbulos hepáticos. Fonte: GARTNER, et al. Tratado de Histologia em Cores. 3ªed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2007 A veia porta, como já mencionado, recebe sangue do intestino, além do pâncreas e baço, do qual recebe san- gue rico em ferro, graças à degra- dação de hemácias velhas. A artéria hepática
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