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Caderno de Direito Constitucional I - Turma 180

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Caderno de Direito Constitucional – Turma 180
Temas: Poder Executivo, Poder Judiciário e Controle de Constitucionalidade
Poder Executivo
	À luz da teoria clássica, o Poder Executivo era um poder subalterno funcionalmente: era poder de execução. A função mais importante era a legislativa, pois o Estado não devia atrapalhar o desenvolvimento da sociedade – era um Estado policialesco (simples manutenção das fronteiras e da ordem pública, com auxílio da burocracia, das Forças Armadas, da polícia e dos serviços públicos).
	O Poder Público traçava as regras do jogo social pelas leis (arbitragem da sociedade). A lei era o mais importante já que representava a expressão da vontade geral (Estado legalista). O poder Executivo era subalterno à lei, pois a executava e zelava para que fossem acatadas. Era a espada (força) a serviço da lei – força subordinada ao Direito. Por fim, no Legislativo havia as eleições dos representantes, enquanto o Executivo dos primórdios do liberalismo era monárquico (não havia eleição: falta de legitimidade). Portanto, o papel secundário do Executivo valorizava a representação popular do Legislativo e o laissez-faire social e econômico.
	Essa separação clássica é atualizada com o Estado Social-Democrático. Aqui, há uma ampliação das funções do Estado, pois ele passa a impulsionar a sociedade (Estado Intervencionista). A participação pode ser direta (ele próprio cuida da obtenção e produção dos recursos), por planejamento ou por incentivo aos produtores e desincentivos para algumas atividades. Essa nova visão envolve uma atuação maior.
	É o Executivo quem executará as novas funções, intervindo. Ele passa a ser visto como poder de impulsão (movimentar o governo). Não é mais, para Loewenstein, Executivo, mas Governo (responsável pela função de governo). Isso ocorre porque sua estrutura concentrada lhe permitia decisões prontas e rápidas nos novos campos de atuação do Estado.
Ex.: Executivo cria a política monetária e fiscal, autarquias e empresas públicas.
Obs.: governo em sentido geral: conjunto de órgãos e instituições; governo em sentido mais restrito: atual Executivo com função de governo.
	O Estado se movimenta a partir do Executivo.
Ex.: crise energética por causa da alta do petróleo: cabe ao Governo identificar o problema, levantar as alternativas, movimentar o aparato técnico para uma decisão rápida, tomada por uma pessoa que planeja as respostas. É o Executivo quem toma decisões rápidas e técnicas.
	Ele começa o processo de exercício de governo pelo planejamento da ação, que orienta os instrumentos. Depois, faz uma série de medidas legislativas e administrativas para executar o plano. Por vezes, o Judiciário é chamado a apreciar a constitucionalidade do ato de acordo com a prática concreta (problema da inconstitucionalidade das Medidas Provisórias, por exemplo). O Executivo, então, é o impulsionador (função de governo).
	O Governo tem três funções essenciais:
- chefia de Estado: responsável pelo relacionamento com outros Estados. Se o Estado Liberal era patrimonialista no cenário internacional (aumento do poder do rei e disputas por poder internacional), hoje essa função de representação está revitalizada pelas associações de Estados (relações internacionais mais intensas a partir da 2ª Guerra);
- função de governo: escolha das grandes linhas de atuação (seleção de fins). Fixam-se as políticas públicas;
- função administrativa: execução dos planos de governo (meio para se atingirem as metas).
Obs.: com a separação entre chefe de Estado e chefe de Governo, a Chefia de Estado não é função mais do Governo.
ESTRUTURAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO GOVERNO
	Função de governo envolve planejamento de políticas. O governo é o órgão ou conjunto de órgãos a que pertence a representação do todo e a tomada das decisões fundamentais. A Função administrativa envolve seus instrumentos. É o conjunto de órgãos que propriamente acompanham a execução das leis ou que a preparam.
	O aparato técnico discute as opções para atingir objetivos (custos, rapidez, organização), todas com custos sociais variados, mas as decisões são de governo e tomadas pelo governante (envolvem questões políticas). Depois, os técnicos acompanham a execução para saber do êxito do projeto ou para corrigir rumos. O núcleo do Executivo se preocupa com a função de governo.
	
Obs.: quem toma a decisão não precisa ser um técnico – o importante é ter sensibilidade política.
	O Governo tem figuras básicas: chefe de Estado, chefe de governo e ministros.
	A chefia do Estado envolve a representação formal do Estado e a manutenção de sua soberania. É a representação tanto externa quanto interna da unidade do Estado, e é a ele que cabe a arbitragem de eventuais conflitos entre poderes. Pode ser exercida junta ou separada do Governo (parlamentarismo). No parlamentarismo monárquico, há falta de legitimidade do monarca (papel formal do rei); no parlamentarismo republicano, o presidente tem papel mais atuante no cenário externo.
	A chefia de governo é a liderança na política nacional, que orienta as decisões gerais e direciona a máquina administrativa. Sua missão é política, na medida em que esta é escolha de fins e de meios adaptados a alcançá-los. A escolha do chefe de governo costuma ser feita pelo povo, pois na democracia o povo é soberano.
	Os ministros chefiam departamentos básicos da administração pública e conduzem o trabalho dos ministérios. Geralmente auxiliam o chefe de governo, assessorando-o e aconselhando-o. Têm papéis diferentes nos sistemas de governo:
- presidencialismo: auxiliares do presidente (agentes políticos) na função de governo (políticas públicas). Não são administradores.
- parlamentarismo: há uma maior autonomia, com um corpo de ministros comandado por um líder que os escolhe (Primeiro-ministro é o chefe do Governo). A maior autonomia deriva do fato de serem escolhidos parlamentares com liderança política, o que é bem diferente de se escolher um técnico qualquer. Os ministros, por outro lado, podem ser responsabilizados pessoalmente. Há um papel mais ativo, e o um ministério fraco cai como um todo. 
	
	Do ponto de vista estático há a dicotomia entre Executivo Monocrático e Executivo Dualista. O primeiro se refere a apenas um órgão (Presidente da República), enquanto o segundo se refere a dois órgãos (Chefia de Governo diferente de Chefia de Estado).	A vantagem de um ou de outro depende da análise dos sistemas de governo. Há um ganho no processo político pela separação: o Chefe de Estado deve observar os jogos políticos de fora, imparcialmente, de forma a arbitrar – nos momentos de crise exige o respeito das regras do jogo democrático, inclusive com uma relação íntima com as Forças Armadas, conciliando as com as forças políticas.
Obs.: a atribuição das Forças Armadas para um chefe de Estado evita golpes de Estado: embora os EUA sejam exceção por causa da força de outras instituições, o presidencialismo envolve a bajulação de quem tem o poder, que pode, com isso, usar o Exército para dar um golpe. Há momentos de intervenção militar (Getúlio Vargas, tentativa de golpe em Juscelino, golpes na própria ditadura, etc.) porque o presidente joga e arbitra ao mesmo tempo (perde-se o poder de arbitrar os conflitos de forma neutra).
BRASIL
	O Brasil Imperial, na Constituição de 1824, determinava um sistema de monarquia presidencialista (monarquia constitucional), com chefia de Governo e Estado nas mãos do imperador, D. Pedro I (Executivo Monocrático). D. Pedro II deu uma interpretação diferente, delegando a função de governo, mas mantendo o poder de avocá-la novamente em momentos de crise (prática parlamentarista às avessas num sistema presidencialista pela Constituição).
	Com a República, essa prática parlamentarista termina, e o Presidente é incontestavelmente o chefe de Governo e de Estado. Somente num intervalo entre 1961 e 1963 o parlamentarismo aparece no Brasil, mas não vingou em face do sistema presidencialista. O sistema de poder no Executivo, portanto, é monocrático.
	O presidente é chefe de Estado, chefe deGoverno e chefe da administração pública.
Art. 84 → “Compete privativamente ao Presidente da República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; 
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; 
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; 
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.”
	Como função de chefe de Estado aponta-se, por exemplo, o inciso VII (“acreditados” = “credenciados”), o inciso VIII, o IX (embora um pouco mais controvertido, seria a defesa da ordem), o inciso X e o XIII. Como função de chefe de Governo, tem-se o inciso III (chefe de Governo deve ter a lei para executar o plano), o inciso IV, o inciso VI, o inciso XXIII (enviar os orçamentos é enviar planos de ação). Como função administrativa, temos o inciso XXV, embora sejam menos casos por causa do menor impacto (a função é exercida pelos Ministros e funcionários do Ministério). O presidente pode, porém, avocar qualquer processo administrativo (hierarquia).
	Portanto, cabe a ele:
a) Como chefe de Estado: representar o Estado nas relações internacionais; constituir outros poderes do Estado;
b) Como chefe de Governo: orientar a política global; guardar a segurança nacional; defender o interesse público, em geral;
c) Como chefe da Administração: cuidar da administração do Estado.
	A eleição do Presidente está prevista no art. 76 e ss. O artigo 76 estabelece o Executivo Monocrático e a nomeação e exoneração dos Ministros (exoneração é diferente de demissão no campo administrativo: a primeira é a saída comum; a segunda é sanção disciplinar). A eleição está no art. 77: é feita por sufrágio universal e voto direto e secreto. Ganha em 1º turno o candidato que atingir maioria absoluta e, em 2º turno, quem obter maioria simples.
	A figura do vice-presidente não existe em várias democracias, pois é figura perigosa uma vez que não se envolve em muitas tarefas, podendo tramar contra o presidente em vários casos.
	Presidente e vice são eleitos em conjunto (não podem ser de chapas diferentes); as datas são matérias típicas de legislação eleitoral, mas mesmo assim estão presentes na Constituição; o modo de como se darão as eleições está previsto no §2º (a regra de 20 dias do §3º entra em conflito com as datas do caput, e poderia não existir). Há a previsão de 2º turno no §3º.
Art. 76 → “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.”
Art. 77 → “A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. 
§ 1º - A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado.
§ 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.
§ 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
§ 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.
§ 5º - Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.”
	Pelo Código Eleitoral, mais de 50% de votos nulos só anulam a eleição se houver defeito de forma. Como a contagem se faz apenas a partir dos votos válidos, a maioria de votos nulos por simples vontade dos eleitores não irá anular as eleições, somente com o vício de procedimento.
	A substituição, ligada ao impedimento do presidente (afastamento voluntário ou motivado por doença grave, seqüestro, etc.), ou a sucessão, ligada à vacância do cargo (impeachment, morte, renúncia, perda dos direitos políticos ou a perda de um dos requisitos de elegibilidade do art. 14), estão disciplinadas nos artigos 79, 80 e 81.
Art. 79 → “Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.”
Art. 80 → “Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.”
Art. 81 → “Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.”
	Somente o vice pode suceder o Presidente, e o faz automaticamente e definitivamente. Se não houver vice, deve haver eleições para o cargo – eleições diretas se ocorrerem na 1ª metade do mandato; eleições indiretas se forem na 2ª metade. Quaisquer outras pessoas (presidente da Câmara, do Senado ou do STF) que assumirem o cargo enquanto não forem realizadas as eleições somente poderão exercer o cargo temporariamente e só completarão o mandato (não há sucessão).
	Em caso de impedimento – licença médica, processo por crime comum de responsabilidade (afastamento por 6 meses), etc. –, ocorre substituição de cargo provido. O vice assume temporariamente a presidência. A substituição também ocorre na vacância dupla do cargo (presidente e vice) enquanto se aguardam as eleições (chefe interino é substituto de cargo vago). A substituição dá idéia de temporalidade do exercício, e o substituto não se torna Presidente, mas continua no seu cargo no exercício da Presidência da República.
	O mandato atual é de 4 anos, estabelecido por emenda em 1994, mas há previsão de reeleição para um período subseqüente (Art. 14, §5º: “O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.”). Há um risco de perpetuação do poder, o que não é grande problema se o presidente for só Chefe de Estado – no presidencialismo, há concentração dos poderes e controle sobre as Forças Armadas.
Obs.: o 3º mandato (12 anos) seria inconstitucional? É difícil se estabelecer um limite, mas o professor entende que seria inconstitucional porque afrontaria a rotatividade.
	Não há previsão de afastamento do cargo para disputa de reeleição para presidente.
Ministros de Estado: arts. 87 e 88.
Art. 87 → “Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.”
Art. 88 → “A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública.”
	Os ministros são escolhidos pelo Presidente e devem ser brasileiro com idade mínima de 21 anos e pleno gozo dos direitos políticos. 
	Eles orientam e coordenam as atividades de seu Ministério (administração direta) e de entidades a ele vinculadas (autarquias, fundações, sociedade de empresa mista: administração indireta). Também expedem instruções por portarias (terceiro nível) para executar leis (primeiro nível: leis são primárias) e decretos (segundo nível: decretos são secundários); fazem relatórios e atribuições delegadas pelo presidente.
	Criar e extinguir os Ministérios é papel da lei, de iniciativa exclusiva do Presidente, mas a estruturação é feita por decreto regulamentar (art. 84, VI, a: “dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;”). Os órgãos a que se refere são os Ministérios.
ADMINISTRAÇÃO CIVIL
Governo x Administração
	Essas duas funções, embora estejam entrelaçadas, são separadas pedagogicamente. Elas compõem o núcleo do Executivo. A função do governo é a função de escolha dos fins buscados e dos meios necessários (escolha política). É o policy determination de Loewenstein. A administração é o apoio à função de governo, estabelecendo estratégias e dando suporte técnico às decisões (estudos e análises técnicas), além de corrigir os rumos dos programas durante sua execução.
	São os órgãos administrativos que, fazendo a análise técnica, redigem o texto normativo do ato jurídico ou da lei que servirá de instrumento de governo. Toda administração é hierarquizada, com quadros subordinados a chefias num esquema de pirâmide, culminando na autoridade do ministro.
	Num sistema administrativo é necessária a profissionalização da Administração. Na Idade Média, o Estado em crise não tinha essa profissionalização. Na Idade Moderna, a administração também não o era (ausência de critérios de contratação) porque o Estado era patrimonialista (confusão entre rei e Estado: o ingresso e a promoção de funcionários dependia da boa vontade dos governantes). Nos princípios da democratização também não se verifica essa profissionalização (falta de estabilidade dos funcionários por causa da mudança de presidente: mudava todo o quadro de funcionários). O profissionalismo ficou mais difícil ainda de ser implantado em países como o Brasil, sem tradição republicana (coisas públicas de todos) em que os funcionários tomam liberdade de se apropriar do que é de todos.
	A organização de carreiras públicas é o melhor sistema, o mais racional e garantidor da continuidade, uma vez que é natural da democracia haver mudanças de governo com as divisões ideológicas (prioridades diferentes dependendo da corrente política adotada). Decorre disso a idéia do concurso público, um mecanismo objetivo e racional de escolha. 
	Entretanto, há dois grandes problemas a serem enfrentados: a burocratização da administração pública (ineficiência) e a tecnicização.
Burocratização: o problema da administração pública é o seu grande porte, que exige uma formalização e um controle maior, principalmente com limites para quem governa. Quem trabalha, então, acaba se acomodando por causa da limitação na interferência (quem governa não pode interferir muito no trabalho dos funcionários) e por não haver busca do lucro nem ameaça de falência, como nas grandes empresas. No prazo de 3 anos, por exemplo, não se faz a análise da eficiência para conferir estabilidade ao funcionário. As carreiras formam corporações (corporativismo).
	A burocratização é a omissão na Administração Pública. As características de uma Administração excessivamente burocrática são:
- formalismo como aspecto principal e não instrumental;
- recusa de assumir responsabilidade: não se desvia do que está formalizado (falta de dinamicidade);
- inúmeras exigências formais para os atos;
- determinações contraditórias;
- execução inercial (não há criação de algo novo) que acaba culminando na aplicação do modelo errado ao caso em questão por não se considerarem as peculiaridades do caso concreto. É o desempenho maquinar e rotineiro das atividades;
- lentidão e demora nas decisões.
	A reforma da administração, como tentativa de acabar com a lentidão, não é enfrentada seriamente – ao invés de promover uma carreira por mérito, coloca-se o direito à razoável duração dos procedimentos, o que não resolve nada. A promoção por mérito, por exemplo, está prevista na organização judiciária, mas convive com a promoção por antiguidade – e mesmo a promoção por mérito se baseia nessa antiguidade. Assim, não há como a Administração funcionar eficientemente e também não há como mudar (corporativismo impede mudanças).
Obs.: grandes empresas também precisam de controle para garantir a eficiência, mas o dono tem poucos limites e maior poder de ingerência e controle de eficiência.
Tecnicização: a tecnocracia é o ativismo do burocrata. O técnico impõe suas decisões no lugar do político. É o inverso da burocratização. O problema é a falta de legitimidade e de sensibilidade políticados técnicos nas tomadas de decisão (não avaliam corretamente os custos sociais). Além disso, há falta de responsabilidade perante o povo, pois o técnico não compromete sua carreira política com os atos que toma.
Ex.: questão dos decretos do Governo Serra em relação à USP foi demonstração de insensibilidade política.
	A tecnocracia pode deixar o governante em apuros. É o governante quem deve decidir, sem ignorar a matéria técnica. Deve haver um equilíbrio entre governo e administração.
GREVE DO FUNCIONALISMO
	A Constituição Federal estabeleceu o direito de greve. O problema é que não houve separação entre o regime privado e o regime público, que são diferentes. No âmbito privado, a organização dos trabalhadores em sindicatos foi capaz de favorecer as negociações por meio das greves – que tiram os lucros do empresário. No âmbito público, não só não há prejuízo para quem governa como há serviços essenciais que tornam a questão da greve mais delicada.
	Na Constituição, o direito à greve é norma de efeito limitado, tendo que ser regulamentada por lei. Não havendo a lei de greve, não há direito de greve para o funcionalismo público. Algumas categorias profissionais entraram com mandado de injunção no STF para que houvesse a formulação da lei. Se antes o entendimento era ser apenas uma recomendação, hoje se entende que tem força normativa e, inclusive, o STF determinou a aplicação da disciplina da greve do setor privado para o setor público. O ideal é que o Congresso legisle levando em consideração as peculiaridades do serviço público.
ESTATUTO DO SERVIDOR
	O artigo 37 trata do estatuto do servidor. Porém, também é importante por enumerar os princípios gerais da administração pública em um único artigo. São eles:
- legalidade: respeito à lei;
- hierarquia: eficiência e velocidade em decisões tomadas por uma pessoa;
- impessoalidade: isonomia na contratação com procedimentos objetivos e escolha por critérios técnicos;
- moralidade administrativa: observância da lei e de seus objetivos para impedir o desvio da finalidade e o abuso do direito;
- publicidade: tudo tem que ser público, com meios diferentes de dar publicidade aos atos;
- eficiência: diminuir a burocracia e melhorar a relação custo-benefício.
	Esses princípios exigem uma legislação infra-constitucional para conferir concretude.
	
	O sistema de carreira pública tem dois pontos básicos: o ingresso e as promoções. 
	Cada vez mais se restringem os cargos de nomeação livre em detrimento dos concursados. Diminui-se a quantidade de cargos de confiança (art. 37, V), e os cargos de confiança que não aqueles previstos na Constituição serão inconstitucionais (limite aos abusos dos cargos de confiança). O cargo efetivo (art. 37, II) depende de aprovação prévia em concurso público. Além disso, após três anos o funcionário concursado se torna estável e só pode ser exonerado por livre escolha ou por processo administrativo (art. 41). O cargo comissionado, por outro lado, não tem essa estabilidade (funcionário é contratado e destituído do cargo livremente).
Art. 37, II e V → “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;”
Art. 41 → “São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. 
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. 
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço. 
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo. 
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade.”
	Assim, trocam-se os governantes, mas as carreiras continuam, dando um padrão de atuação mais harmônico. Foi uma grande contribuição da Constituição de 1988, evitando os abusos tradicionais do sistema brasileiro. A manutenção da máquina administrativa permite acabar com diversos problemas, como o processo inflacionário.
	O modo de promoção, como já dito, também é problema de difícil solução. O mérito deveria ser o único critério, mas freqüentemente é desvirtuado pelos chefes e políticos no governo. O critério da antiguidade é tão ruim quanto as desvirtuações.
	Os cargos públicos são acessíveis igualmente a todos os brasileiros e, após a Emenda Constitucional n° 19, aos estrangeiros, na forma da lei.
Ex.: contratação de professores estrangeiros para trazer novos conhecimentos ao país.
	Há dois institutos que asseguram a permanência do funcionário:
- vitaliciedade: só se perde o cargo por decisão judicial (nem mesmo por processo administrativo). Acabou no funcionalismo público desde 1967, mantendo-se apenas na magistratura.
- estabilidade: ocorre após três anos do ingresso no serviço público. O funcionário só pode perder o cargo se for submetido a processo administrativo ou judicial. Por processo administrativo deve ter a possibilidade de ampla defesa e pode questionar a demissão em juízo (inafastabilidade da tutela jurisdicional para atos administrativos). No Estatuto dos Funcionários Públicos há a ineficiência culposa (não faz porque não consegue, porque é incompetente). Não há infração disciplinar porque não foi regulamentado (é norma inerte na Constituição).
	
Obs.: se o cargo for extinto, ficará o funcionário em disponibilidade remunerada até ser aproveitado em cargo compatível com o que ocupava.
	A aposentadoria é o final da carreira (art. 40). É o direito de ser remunerado após deixar de prestar trabalho para ente público.
	São três as causas de aposentadoria: além da invalidez permanente e da idade fixada (70 anos), o funcionário também pode se aposentar a partir do tempo de serviço (somente a partir do pedido do interessado e cumpridos no mínimo 10 anos de exercício no serviço público). 
	Não era um regime contributivo até recentemente, mas agora se equipara ao setor privado quanto à obrigatoriedade de contribuir. Diferentemente da privada, porém, a aposentadoria pública envolve paridade entre o que se ganha na ativa e o que se ganhará como aposentado.
	Há uma divisão inicial em aposentadoria compulsória e voluntária.
	A compulsória é por limite de idade ou invalidez. 
- pela idade, o servidor a partir de 70 anos deve se aposentar, não só por presunção de incapacidade como para que haja uma renovação dos quadros de funcionários. Há emendas que buscam aumentar a idade da aposentadoria por causa da maior expectativa de vida, mas esbarra no problema do mesmo aumento para os ministros no STF.
- por invalidez terá provimentos proporcionais ao tempo de contribuição, salvo se decorreu de acidente no trabalho (proteção ao empregado), caso em queserá integral.
	Na voluntária, há o direito adquirido à aposentadoria, mas pode ser exercido ou não. Devem-se preencher os requisitos do artigo 40, §1°, III. Os provimentos serão integrais se a pessoa contribuiu pelo tempo mínimo (35 anos para homens e 30 para mulheres) ou proporcionais ao tempo de contribuição se não atingir o mínimo.
Art. 40, §1º, III → “Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;”
II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição;
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.”
Obs.: 1) O direito adquirido é algo patrimonializável e deve preencher todos os requisitos para não ser mera expectativa de direito. A pessoa já tem direito adquirido ao preencher os requisitos integralmente. Para os casos fáticos, a própria legislação cria regras de transição, por exemplo, para aqueles que por muito pouco não possuem o direito adquirido e seriam afetados por mudanças. Por outro lado, não há como alegar direito adquirido para não contribuir com a previdência.
2) No funcionalismo público, a aposentadoria é calculada pelo último vencimento.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO SERVIDOR PÚBLICO
	A responsabilidade está prevista no art. 37, §6º.
Art. 37, §6º → “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”
	Abrangem-se pessoas jurídicas de direito público e pessoas de direito privado que prestam serviço público. Difere-se por ser uma responsabilidade objetiva, mas pode haver regresso se for por culpa ou dolo do funcionário: o Estado paga ao terceiro lesado e, por processo administrativo, tem direito de regresso contra o funcionário ou terceiro que foi responsabilizado. 
	Isso vale para atos comissivos, não para atos omissivos, casos em que se verifica o caso concreto (responsabilidade subjetiva no caso concreto por culpa do serviço).
Ex.: enchente causada por negligência da prefeitura, que não limpou o córrego.
	É um regime especial de responsabilidade que afasta a disciplina do Direito Civil.
Poder Judiciário
	Ferreira Filho diz que a função jurisdicional e a executiva são iguais quanto à natureza ontológica (modo de ser): são funções de aplicação da lei. Porém, há uma diferença muito grande de regimes, e se diferenciam pelo modo de executar a lei – o Judiciário aplica a lei contenciosamente, isto é, com a possibilidade de debate entre as partes interessadas no litígio.
	Apontam-se como características da função jurisdicional:
- substitutividade: o Judiciário, ao aplicar a lei, substitui a administração no julgamento da causa para dar um processo mais justo e igualitário. Há substituição do Poder Público interessado pelo juiz, que aparece como parte imparcial (ao contrário da parte representante da administração). É o Estado-juiz em contraposição ao Estado-parte. No processo administrativo, por outro lado, não há essa substitutividade;
- inércia da jurisdição: na administração pública há a atuação ex officio, automática, a fim de apurar o ilícito a partir da decisão do administrador. O Judiciário, por outro lado, não age a não ser que tenha sido invocado. O juiz só age se provocado, mesmo no caso da jurisdição excepcional (controle abstrato de inconstitucionalidade). A administração aplica a lei de ofício;
- definitividade: as decisões jurisdicionais equacionam uma lide, isto é, solucionam os litígios (a aplicação da lei é gênese), enquanto a finalidade da Administração Pública é prestar serviços materiais (a lei é instrumento da ação). O Judiciário dá a palavra final, impedindo a eternização dos conflitos. A coisa julgada é instituto da definitividade. Ela será formal quando o processo não tem mais recurso; será material quando os efeitos se projetam para fora e regulam o processo. Na administração há a preclusão, que impede que o problema seja novamente julgado na esfera administrativa, mas não exclui a apreciação pelo Judiciário (definitividade apenas na esfera administrativa).
- contraditório: princípio inerente ao Judiciário. Ele atua como contraposição de argumentos para decidir os litígios de modo civilizado. A função administrativa envolve, às vezes, o contraditório (processos sancionatórios do processo administrativo, como o disciplinar, o ambiental, etc.). Porém, há atividades da administração que são unilaterais, como a apreensão de produtos ou o inquérito policial;
- efeitos inter partes: é comum ao processo judicial ordinário, embora haja uma importância maior dos processos coletivos. Tradicionalmente diz-se que o Judiciário pratica atos inter partes, e que a Administração age para a coletividade.
	O objeto da função jurisdicional é sempre a legalidade – busca fazer sempre a lei prevalecer. Não é função que envolve escolhas com base em critérios de oportunidade e conveniência. É o fundamento do problema do ativismo judicial.
Ex.: sentenças aditivas: são medidas excepcionais que não podem estar sujeitas a um subjetivismo da Corte.
	Em alguns momentos a aplicação da lei não é tão objetiva, quando se trata da legitimidade ou da moralidade de um ato, que envolvem sim questão de ilegalidade, mas também envolve questões sobre o mérito.
GARANTIAS DO JUDICIÁRIO
	Servem para que o Judiciário exerça sua função de forma independente. Dividem-se em:
1) garantias institucionais: são do próprio Judiciário (art. 96, I) e visam a estabelecer sua independência frente aos outros Poderes e frente ao próprio tribunal supremo.
Art. 96, I → “Compete privativamente:
I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados;”
	Há o autogoverno (escolhados próprios dirigentes) e a auto-organização. O Poder Judiciário pode elaborar regimentos internos sobre sua própria organização. Não é função legislativa. É normação de caráter secundário, subordinada à lei (CPC, lei de organização do judiciário). Também há a auto-administração dos tribunais e dos juízes subordinados administrativamente a eles (provimento de cargos, realização de concursos, ou concessão de férias).
	O artigo 96, II, cuida da participação na função legislativa.
Art. 96, II → “ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; 
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;”
	Volta-se somente aos Tribunais Superiores e de Justiça. Assim, por exemplo, qualquer criação de cargos públicos exige lei, e o Judiciário tem iniciativa privativa nesse processo legislativo. Em matéria de organização judiciária, o próprio Judiciário pode iniciar o processo legislativo porque está intimamente ligado à matéria.
2) garantias da magistratura: defendem os próprios magistrados. São três garantias fundamentais:
Art. 95 → “Os juízes gozam das seguintes garantias:
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I”
a) vitaliciedade:o magistrado não pode perder o cargo senão por força de decisão judiciária. A regra dos dois anos só serve para o 1° grau. No 2° grau, a vitaliciedade é inerente ao cargo. No período de 2 anos que o juiz não adquire o vitaliciamento, ele pode ser exonerado por processo administrativo. Após adquirir a vitaliciedade, só poderá sair por decisão judicial transitado em julgado;
b) inamovibilidade: o juiz não pode ser removido de sua sede de atividades a não ser que queira. Contra a sua vontade, só o poderá ser por interesse público, de acordo com o artigo 93, VIII;
c) irredutibilidade: não podem ter salários reduzidos. Repercute na isenção de todos os impostos, salvo os gerais e os extraordinários. A irredutibilidade dos vencimentos possui uma série de ressalvas (há um teto salarial) e até mesmo questões sobre imposto de renda, que deve ser pago.
	Há quem fale em garantias de imparcialidade que, na verdade, são proibições. Elas estão no parágrafo único do art. 95.
Art. 95, parágrafo único → “Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.”
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
	O Judiciário tem organização compatível com a Federação. A função judiciária se entrelaça entre Justiça Federal (órgãos federais) e Estadual (órgãos estaduais) – há sempre a possibilidade de transitar entre os ramos (unicidade da função jurisdicional). Não há Justiça Municipal. Ela é Estadual ou Federal.
	A Justiça Estadual é tradicionalmente a Justiça Comum, ordinária. A Justiça Federal atua a partir de competências determinadas e específicas (determinadas na Constituição), e a Estadual é suplementar (competências que restam). A divisão não se faz pelo tipo de lei – a Justiça Estadual aplica tanto a legislação estadual como a federal –, mas sim na organização administrativa: a Estadual está dentro do Estado; a Federal é um dos Poderes da União.
	A Justiça Federal Comum tem competências especificadas, mas não possui uma matéria única. Também há as Justiças Especiais, cada uma com uma matéria específica.
	Na Justiça Estadual há, em 1º grau, os juízes. Em 2º grau, há os Tribunais de Justiça. Os juízes são classificados na carreira de acordo com a entrância da comarca, estabelecida a partir do movimento processual (entrância inicial, intermediária e final).
Obs.: comarca é divisão judiciária e pode abranger vários municípios (divisão político-administrativa).
	Na Justiça Federal Comum há os juízes federais (1º grau), os TRFs (2º grau), que abrangem vários Estados. Cabe a ela julgar causas em que a União ou entidade a ela ligada figure como parte interessada, em que haja lides com Estados estrangeiros, crimes internacionais, etc. As competências estão nos artigos 108 e 109.
	Na Justiça do Trabalho há os juízes de trabalho (1º grau), os TRTs (2º grau) e o TST (3º grau).
	Na Justiça Militar há as auditorias militares (1º grau), os Tribunais de Justiça Militar (2º grau) e o STM (3º grau). Julgam crimes militares (cometidos por militar e incriminados pela lei penal militar)
	Na Justiça Eleitoral o movimento é maior nas eleições e, por isso, tomam a estrutura emprestada das outras (não tem quadro e carreira própria). A competência gira em torno das eleições, que prepara, realiza e apura. Organiza-se em Juntas Eleitorais (1º grau), TREs (2º grau) e o TSE (3º grau)
	Os tribunais superiores podem ter um 4º nível, o STF, em caso de matéria constitucional (ofensa à Constituição). O processo, então, pode passar por até quatro graus, a partir de recurso ao STF.
Obs.: Justiça Eleitoral se refere à matéria eleitoral (partidos, organização das eleições, crimes eleitorais); a Justiça Militar julga crimes militares federais (os estaduais são julgados pelo Tribunal de Justiça estadual); na Justiça do Trabalho a matéria é de vínculo funcional regido pela CLT, excetuando-se, portanto, os litígios que envolvam funcionários públicos subordinados a regime administrativo. São as chamadas Justiças especializadas, pois não compreendem mais que determinada matéria exclusiva.
	A Emenda 45/04 ampliou as competências da Justiça do Trabalho (art. 114), como ações de legitimidade para representar os trabalhadores, ações de indenização que envolvam relação de trabalho.
	Na Justiça Federal a competência é especificada no artigo 109.
Art. 109 → “os juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os "habeas-corpus", em matériacriminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte.
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.”
	Julga causas que se relacionam à União. Ressalta-se a indenização por acidentes de trabalho, que são causa específica da Justiça Comum Estadual, mesmo se referindo ao INSS. Os demais incisos envolvem sempre interesses da União.
Obs.: as competências são em razão da pessoa (ratione personae) ou da matéria (ratione materiae)
STF
	O STF, assim como o STJ, é órgão de cúpula. Poder-se-ia adicionar a esse rol o CNJ, que exerce o controle administrativo. O STF e o STJ sobrepairam toda a estrutura. O STJ preserva o direito federal, zelando pela uniformidade de aplicação do direito federal e julgando recursos dos Tribunais de Justiça em relação a decisões que violem legislação federal (recursos especiais). O STF faz o mesmo, mas guardando a Constituição (recursos extraordinários).
	O STF então, é o guarda da Constituição, e suas competências estão no art. 102:
Art. 102 → “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente- Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; 
d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; 
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
§ 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. 
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. 
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.”
	Há a competência originária (ações processadas e julgadas apenas no STF), no inciso I; a competência para julgar recursos ordinários (STF como 2º grau de jurisdição em ações julgadas em 1ª instância nos órgãos superiores), no inciso II; e a competência para julgar recursos extraordinários, no inciso III. Neste caso, o STF serve como um 4º grau de jurisdição, caso haja matéria constitucional. Não visa a um segundo julgamento (motivo de apelação), pois pressupõe que a ação já foi debatida em 2º grau e o que será debatido é matéria constitucional. O tribunal vê se há cabimento do recurso (ofensa direta à Constituição) para depois julgar o mérito (a causa). O problema é ser Corte que analisa a causa, pois integra o Judiciário, enquanto as Cortes de outros países não julgam as causas por não estarem integradas ao Judiciário (julgamentoem abstrato). Por isso acaba apreciando questões de menor importância que deveriam ficar nas instâncias de base.
	A redação do regime do Recurso Extraordinário é parecida com a da Constituição de 1891. Ocorre quando se contraria a Constituição, requisito que é bem amplo, mas possui certos pressupostos: matéria pré-questionada (preocupação técnica), ser ofensa direta (não cabe ofensa reflexa), etc. Também cabe se a decisão julgar inconstitucional tratado ou lei federal, assim como julgar constitucional lei local em face de lei federal – desde a EC 45/04 é apreciado pelo STF porque é problema de competência à luz da Constituição.
	Quanto às competências originárias, a mais importante é o controle abstrato de constitucionalidade – que não seria concentrado porque todos os órgãos o fazem (é misto quanto ao modo de ser feito). O controle é feito pela ADI e a ADC, com possibilidade de medida cautelar na ADI e também de ADI por omissão. Também há competências que são julgadas em razão da pessoa, como as infrações penais comuns ou crime de responsabilidade de certas autoridades, os atos de coação praticados por autoridade, os litígios que envolvem União e Estados estrangeiros, extradição, etc.
	Uma competência relevante é a reclamação (alínea l): vale como recurso ou como ação, servindo para decisões do STF descumpridas por tribunal inferior (há um julgado contrariado pelas instâncias de base). Começou a ser usada em litígios entre partes (recursos desrespeitados), estendendo-se para o descumprimento pela autoridade e, por fim, descumprimento de ADI. Quem podia entrar com a reclamação, no início, eram os legitimados à ADI, mas hoje cabe a qualquer interessado. Cabe também para contestar juiz que aplica a súmula quando não deveria ou que deixa de aplicá-la quando deveria. É tão relevante que pode ser pedida até com medida liminar.
	Também julga causas com interesse direto da magistratura (questões corporativas), e ações contra o CNJ (impugnação de atos administrativos).
	
	O STF é composto por 11 ministros (já foram 15 e até mesmo 16), mas não parece ser um número confortável para o volume de competências e causas. Os requisitos para ingressar estão no artigo 101:
Art. 101 → “O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.”
	Exige-se um máximo de 65 anos de idade para que o ministro fique no mínimo 5 anos no STF (aposentadoria compulsória é com 70 anos). O notável saber jurídico e a reputação ilibada deveriam ser requisitos mais exigidos pelo Senado. Seria o caso de escolher pelo histórico de notas ou menos rejeições em concurso, bem como ausência de processos por improbidade. A grande falha da análise, porém, é não examinar a política judiciária que se propõe o ministro a realizar no STF (interpretações e valores do candidato). As pessoas mais radicais seriam mais afastadas. Num Parlamento fracionado, como o brasileiro, seriam aprovadas pessoas com pensamento médio. Os procedimentos estão no parágrafo único. Talvez fosse melhor um quorum mais elevado.
	
	Quanto às novidades trazidas pela EC 45/04, há um novo requisito para os recursos extraordinários: a repercussão geral. Presume-se, nas ADIs, que já haja essa repercussão. Esse requisito está no art. 102, §3º. A repercussão geral é necessária para o conhecimento do recurso (assim como o prazo correto, o recolhimento das custas, a matéria constitucional, etc.). O recorrente deve prová-la para que haja o conhecimento (admissibilidade do julgamento de mérito). A causa não deve interessar apenas às partes envolvidas, mas deve ter repercussão mais ampla, seja na ordem social, na ordem econômica, política ou jurídica. A lei que regulamenta é a 11.428/06. O que interessa é o convencimento de 4 ministros, pois não pode ser rejeitada por 2/3.
	A repercussão geral não é julgamento de mérito, mas pressuposto de admissibilidade (conhecimento). Os procedimentos estão no CPC. Busca-se diminuir o volume de Recursos Extraordinários, mas não desafogará o STF tanto quanto se imagina, pois o volume de causas é muito grande.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
	Criado pela EC 45/04. Envolve o controle “externo” do Judiciário. A discussão que envolveu a criação foi a administração do Judiciário (matéria administrativa: órgãos gastam como querem) que deveria ser fiscalizada pelo Parlamento. Porém, este não exerce a mesma pressão política sobre os juízes como o faz com o Executivo. Qualquer tentativa de fiscalização pelos parlamentares poderia ser julgada inconstitucional. O Judiciário, então, não prestava contas nem para o Legislativo nem para o povo. Era preciso um órgão que controlasse eficazmente os gastos realizados pelos tribunais quanto ao mérito (legitimidade, qualidade dos gastos). É a função do Conselho Nacional de Justiça.
	O CNJ não é órgão jurisdicional. Suas decisões não têm definitividade, tanto que podem ser impugnadas judicialmente perante o STF. Não há recurso à decisão do CNJ na esfera administrativa, mas há apreciação pelo Judiciário.
	O presidente do CNJ é o presidente do STF, mas a composição é bastante ampla (art. 103-B), de forma que o STF não mandaria no CNJ. É órgão que pratica decisões administrativas e suas competências estão no artigo 103-B.
Art. 103-B → “O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:
I - um Ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pelo respectivo tribunal;
II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal; 
III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; 
IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; 
V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; 
VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; 
VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; 
VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; 
IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República; 
XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. 
§ 1º O Conselho será presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, que votará em caso de empate, ficando excluído da distribuição de processos naquele tribunal. 
§ 2º Os membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal.
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: 
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providênciasnecessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; 
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.”
Em resumo, suas competências são:
- poder regulamentar: está muito ligado à estrutura hierárquica (regras para os subordinados sobre o cumprimento da lei). O Executivo não pode fazê-lo para o Judiciário, de modo que é o CNJ que faz em matéria de interesses do Poder. Regulamenta a administração (normas de nível secundário).
- aprecia a legalidade da administração do Judiciário: é feito de ofício ou por provocação.
Ex.: nepotismo nos tribunais → O CNJ editou uma resolução (norma administrativa) proibindo.
- recebe reclamações contra membros do Judiciário: é a competência disciplinária, que é competência administrativa (inclusive com processo disciplinar).
- pode avocar processos: pode apreciar processo administrativo ocorrido em âmbito estadual, neutralizando interesses e pressões na localidade, principalmente se os problemas dizem respeito aos tribunais (corporativismo). Com juízes não há tanto problema, pois a corregedoria já é suficiente.
- levanta estatísticas: o CNJ levanta os números e faz uma análise dos problemas, realizando estudos para melhorar o desempenho (política judiciária).
	Enfim, é órgão político-administrativo e já provou a sua importância.
SÚMULA VINCULANTE
	Também criada pela EC 45/04, está prevista no artigo 103-A.
Art. 103-A → “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. 
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.”
	O bom funcionamento do Judiciário pode ser medido por três parâmetros: acesso à Justiça, celeridade e uniformidade das decisões. No Brasil, há problemas nos três: no acesso, as custas judiciárias são altas (ex.: custas para perícia), falta serviço de defensoria pública e, quando há, não é abrangente o suficiente; na velocidade, a situação é de lentidão total, fruto de um sistema recursal que propicia o prolongamento das causas (sempre deve haver uma revisão), da prolixidade, de aspectos culturais e de organização; quanto à uniformização, cada juiz julga de uma maneira.
	A súmula vinculante visa a uniformizar a jurisprudência e, com base nas orientações, aumentar a velocidade pela previsibilidade que ela geraria.
	Autores dizem que deriva do stare decisis (precedente vinculativo). O problema é que é instituto natural do sistema anglo-saxão: o direito da Common Law é direito jurisprudencial, com normas fixadas por precedentes. Funciona com uma lógica própria. É importante saber se o precedente foi superado, se os casos são idênticos (fundamentos relevantes para se identificar). É sistema indutivo a partir de casos (normas gerais a partir de casos concretos), donde difere do sistema adotado aqui, que usa normas gerais para o caso concretos.
	O precedente vinculante, porém, não serve para explicar a súmula. Não há um órgão que edite uma norma geral: as decisões são tomadas e formam o precedente. Difere do sistema aqui adotado, que segue a lógica do direito romano-germânico (norma abstrata).
	A verdadeira origem estaria nos assentos da Casa de Suplicação, do direito português. Isso já vinha sendo feito pelos tribunais superiores anteriormente, para ser aplicado sob pena de sanção disciplinar. Esse poder normativo é semelhante ao regulamentar (estaria no mesmo nível dos decretos regulamentares do Executivo). Em Portugal, não foi recepcionado pela ordem jurídica desde 1995, mas o Brasil ressuscitou.
	A principal objeção à súmula é de natureza estrutural: no sistema anglo-saxão se trabalha com pouca legislação (direito estatutário) e mais precedentes jurisprudenciais. A lei serve para proteger matérias novas, mas a legislação mais estável (direito civil, por exemplo) se forma pela jurisprudência. No direito romano ocorre o contrário: há um excesso de lei. A jurisprudência serve para interpretar e adaptar a lei. Lá, a jurisprudência normativa torna o direito mais rígido; aqui, a jurisprudência serve para flexibilizar. Porém, a súmula vem a enrijecer mais ainda o sistema. Além disso, ela será interpretada e aplicada de diversas maneiras.
Obs.: não seria uma lei interpretativa, pois não está no nível das leis, sendo comparada a um decreto regulamentar (embora precise de precedente).
	A matéria das súmulas está no art. 103-A também. Refere-se à matéria constitucional e à validade das leis frente à Constituição (súmula como decisão abstrata com eficácia erga omnes, funcionando como ADI); pode determinar se a norma foi ou não recepcionada pela Constituição; estabelece a interpretação da lei frente à Constituição e das próprias normas constitucionais também. Difere do Supremo americano, pois os precedentes lá não vinculam a Suprema Corte, enquanto a Súmula aqui vincula o STF.
	Do ato que contraria a súmula caberá reclamação. As súmulas diminuirão o número de recursos e aumentarão o número de reclamações diretas, que não passam pelo mesmo filtro dos recursos (não há necessidade de passar pelos tribunais de base).
	A súmula melhora a uniformidade das decisões, mas não o volume das causas. 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
	Partindo-se de uma hierarquia constitucional é fácil imagina que o vício de inconstitucionalidade presente num ato legislativo inferior gera uma sanção (conseqüência) do ordenamento. É semelhante, por exemplo, aos vícios do negócio jurídico: o Estado pratica um ato que visa a certos efeitos e deve ser lícito. A lei é um negócio jurídico num sentido amplo, e seus vícios são observados em face da Constituição. Trata-se da (in)compatibilidade com ela.
	A sanção é a conseqüência.No plano do direito privado, ela é diversificada (nulidade ou anulabilidade). No ordenamento jurídico, por outro lado, a inconstitucionalidade acarreta um tipo de sanção, que pode ser de nulidade ou anulabilidade.
	O controle serve para a efetivação da sanção. A sanção é de invalidade (nulidade ou anulabilidade). As sanções não são necessariamente negativas: podem ser positivas (premiais).
	O controle de constitucionalidade é, portanto, a verificação da adequação de um ato jurídico à Constituição (especialmente a lei). Essa verificação se dá tanto com os requisitos formais, como com os requisitos substanciais. 
	
Diferença entre nulidade e anulabilidade
Nulidade → opera de pleno direito, isto é, é imposta automaticamente pelo ordenamento (aplicada pela norma). Ela dispensa uma ação judicial e também retroage até os inícios dos efeitos. A sanção é aplicada na hora em que o ato é feito e já existe antes da sentença. Portanto, a sentença apenas declara a existência da nulidade (ato declaratório).
Anulabilidade → depende de um ato judicial. Ela é potencialmente nula. A sanção se encontra no plano factual (decisão judicial). No momento em que ocorre o ato, pergunta-se sobre a retroatividade: no Brasil, ela pode retroagir até um certo momento.
	A lei pode ter apenas uma parte anulada ou pode ter uma determinada interpretação declarada inconstitucional.
	O ordenamento, geralmente, escolhe um sistema sancionatório. Não há uma resposta unívoca (depende do regime jurídico). Para o sistema brasileiro, o ato inconstitucional é nulo.
	O controle (operacionalizador da sanção) diverge conforme o sistema adotado: se o sistema for de nulidade, o controle é feito por atos declaratórios; se for de anulabilidade, o controle é feito por atos desconstitutivos.
	O controle de inconstitucionalidade é necessário porque sempre há diferenças de interpretação sobre o defeito do ato legislativo e sobre a incidência ou não da sanção.
Origem Histórica
	
	Após a criação da idéia de supremacia hierárquica da Constituição, não demorou muito a surgir esse controle. Cronologicamente, assim que surgiram as primeiras constituições rígidas e superiores, surgiu o controle de constitucionalidade. Começa nos EUA, em que o controle não é expressamente previsto na Constituição, a partir do caso Marbury versus Madison, em que o Juiz Marshall deduziu essa idéia de controle em seu argumento.
	Na época do caso, os EUA viviam um grande clima de instabilidade política por causa da mudança de presidentes. O novo dirigente sempre podia reformular os quadros de funcionários públicos. Marbury, um federalista correligionário do então presidente John Adams, foi escolhido como juiz de paz, mas não pôde tomar posse do cargo. Quando Thomas Jefferson chegou ao governo, destituiu todos os juízes que haviam sido nomeados pelos últimos atos de Adams, inclusive Marbury. Este, então, entrou com uma ação na nova Corte Suprema contra o Secretário de Justiça, Madison. Era um tempo em que a Corte ainda se afirmava após um período de subordinação aos tribunais ingleses.
	Marshall, um dos julgadores do caso e ex-secretário de Justiça, começou a relatar o caso a partir do mérito da questão: de fato, Marbury tinha todo o direito de tomar posse e, como a cada direito corresponde um remédio legal, ele poderia exigir isso na Justiça. Porém, Marshall diz que a Corte Suprema não poderia julgar esse caso, uma vez que a competência para isso havia sido concedida por um ato legislativo que não era uma emenda da Constituição. Claramente, disse ele, essa competência era inconstitucional (a Constituição estabelecia que as competências da Corte eram restritas e só podiam ser alargadas com emenda à Carta).
	Essa decisão foi tomada para, ao mesmo tempo em que reconhecia o direito de Marbury, ser favorável ao novo presidente, Thomas Jefferson, que tinha um grande apoio popular. Foi o início do controle de constitucionalidade.
	Como conclusão, se uma lei entrasse em conflito com a Constituição, caberia ao juiz decidir se aplicaria a lei, violando a Constituição, ou, como é mais lógico, se aplicaria a Constituição, recusando a lei.
Classificações do controle
	Podem-se criar sistemas mais gerais a partir das características semelhantes. Há três modelos de controle: o americano, o europeu e o francês (exceção). Para estudá-los deve-se saber quais as classificações do controle:
- critério do momento em que foi feito: pode ser preventivo ou repressivo. O preventivo previne a inconstitucionalidade enquanto o ato está em elaboração (processo legislativo). O repressivo tem em vista atos normativos prontos e acabados. Ocorre após a lei já ter sido publicada (momento decisivo), mesmo que esteja em vacatio leges.
Ex.: preventivo → comissão de constituição e justiça / veto
 repressivo → declaração do STF
Obs.: não cabe falar em controle repressivo de proposta de lei ou emenda, a menos que o legislador delibere sobre a alteração de cláusulas-pétreas. Porém, nesse caso é o ato do legislador que será declarado inconstitucional. Uma proposta de lei, enquanto na fase de elaboração, é passível apenas de controle preventivo.
	
	O controle preventivo tem a vantagem de impedir a prática da inconstitucionalidade; o repressivo tem como vantagem se basear na interpretação de um texto legal existente e em elementos fáticos relacionados a ele, entendendo-se melhor o texto e a intenção do legislador (concretização do sentido da norma). No preventivo há apenas uma intuição sobre os efeitos da lei em questão.
	No Brasil há o uso de ambas as técnicas, com uma maior importância para o repressivo. 
Ex.: as Comissões de Constituição e Justiça se formam pela proporcionalidade da participação política dos partidos para avaliar a constitucionalidade das propostas. Porém, por causa da composição política, a análise sai prejudicada (se o projeto interessa ao governo, a base de apoio tende a votar pela constitucionalidade). O mesmo ocorre com o Veto presidencial, pois ele raramente veta um projeto por ser inconstitucional. Diante dessa mistura entre questões políticas e o controle preventivo, o poder repressivo ganha mais destaque.
- critério da natureza da função de controle: pode ser jurisdicional ou político. A palavra “político” pode se referir tanto aos interesses de oportunidade, como à política partidária ou às repercussões. Por isso, é melhor pensar em controle jurisdicional e não-jurisdicional, porque esse tipo é muito mais estudado.
	O critério do agente que faz o controle não é o melhor, pois tanto Judiciário como Legislativo exercem diversas funções. É o caso do Legislativo, por exemplo, que pode julgar o presidente da República. O controle jurisdicional, portanto, refere-se ao controle exercido pelos órgãos que exercem a função jurisdicional, isto é, aplicam o Direito em litígios. Assim, há uma técnica jurídica, uma inércia (o controle deve ser invocado por um processo, um pedido) e a decisão tomada é a final (produz coisa julgada).
	O controle não-jurisdicional, por sua vez, estaria dividido em dois tipos:
- Função Legislativa: ocorre dentro do processo de elaboração da lei;
- Controle Político: ocorre fora do processo de elaboração da lei, embora ela ainda não tenha sido publicada.
Ex.: formação de um órgão à parte para verificar a constitucionalidade no processo de elaboração da lei, mas exterior a esse processo.
Obs.: o Conselho Constitucional Francês é um caso de função legislativa. É um poder à parte e os membros, geralmente juristas, são eleitos por mandato. A promulgação da lei deve esperar o parecer desse órgão (controle político preventivo), por isso ele está dentro do processo.
	
	O controle pode combinar as duas classificações: jurisdicional preventivo ou repressivo; político preventivo ou repressivo.
	
Esquematicamente:
	Função Legislativa
(no próprio processo 
de elaboração da lei)
	Fora da Função Legislativa 
(fora do processo de elaboração da lei)
	
CONTROLE POLÍTICO
	Critérios de conveniências 
e oportunidades
	Critérios técnico-jurídicos
	
	CONTROLE POLÍTICO
	CONTROLE

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