Buscar

5 - ESTADO E SEUS TIPOS

Prévia do material em texto

ESTADO E SEUS TIPOS - Prof. Augusto Lewin
O que é o Estado?
O Estado vem a ser um ente fictício aprimorado pela Filosofia ao longo da História humana, no intuito de atender aos anseios de bem-estar de uma coletividade de indivíduos com peculiaridades em comum, através de regras para o efetivo exercício do poder emanado pela vontade dessas pessoas ou de determinado grupo. 
Elementos do Estado
População – união de indivíduos dentro de um mesmo território regidos sob um mesmo poder (povo). Ex.: Catalães (Barcelona), bascos e demais espanhóis se submetem ao poder do Estado Espanhol, localizado em Madrid, porém os dois primeiros não se julgam espanhóis, mas sim catalães e bascos, pois nem o idioma que utilizam no cotidiano é o mesmo de Madrid. Em que pese o sentimento de catalães e bascos, eles fazem parte da população do Estado Espanhol. 
Todavia, quando há união por afinidades em comum, tais como religião, idioma, cultura num mesmo território, além do sentimento em comum de união, há a noção de nação, que transcende a de mera população (povo). Ex.: povo brasileiro independentemente do Estado. Muitas pessoas em diferentes Estados do Brasil não acompanham uma mesma novela por possuírem em comum os mesmo hábitos, ideais, idioma e particularmente um mesmo mau gosto para TV???
Território – Espaço geográfico em que se localiza uma população de um Estado. Ex.: todo território brasileiro, todo território espanhol e da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte)..
Soberania – a mais lídima manifestação de poder para o exercício interno e externo das diretrizes do Estado. Pode também ser chamada de autodeterminação do Estado. Ex.: Indonésia no exercício de sua soberania aplica pena de morte aos traficantes que assim procederem em seu território, independentemente da nacionalidade. Lembrar dos brasileiros executados por tráfico pela Justiça daquele país.
Obs.: Povo palestino não possui território, logo não é reconhecido como um Estado soberano, principalmente pelos Estados Unidos e Israel.
Tipos de Estado
Estado Unitário ou Simples – formado por um todo homogêneo, com o exercício do poder realizado por esse único “ente”, tal como ocorre na França, Vaticano, Espanha, Luxemburgo, Portugal e no Brasil Império (Constituição de 1824), etc.
Estado Federado ou Composto – formado por um todo heterogêneo, com divisão do exercício do poder entre diversos “entes”. A República Federativa do Brasil (União) é formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal – art. 1º, caput da CF. Ex.: Estados Unidos da América, Canadá, México, Rússia, Índia, Alemanha e Brasil atual (Constituições de 1891 a 1988), etc.
Características do Estado Federal
A definição clássica das características do Estado Federal, segundo Dalmo de Abreu Dallari, na obra Teoria Geral do Estado, são as seguintes:
1) Caráter indissolúvel do vínculo federativo - firmado o Estado Federal, não mais é permitido a qualquer dos entes partícipes da Federação separar-se dela, tendo em vista seu caráter permanente (não há direito de secessão/separação).
2) Formalização de uma Constituição Federal - o Estado Federal é firmado por uma Constituição, a denominada Constituição Federal, que estabelece o pacto federativo.
3) Repartição de competências entre o poder central e os entes parciais - a Constituição Federal estabelece as bases da repartição do poder, inclusive fixando as competências de cada um dos entes 
4) Soberania do Estado federal - o poder conferido ao Estado Federal, a independência na ordem externa, permite a ele não se sujeitar, jurídica ou politicamente, a quaisquer imposições de Estados estrangeiros ou organismos internacionais.
5) Autonomia dos entes federativos - poder conferido aos diversos entes da Federação (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), que lhes permite graus variáveis de auto-organização, autogoverno, autoadministração e também de arrecadação de receitas próprias, nos termos e limites fixados pela Constituição federal.
6) Direito de participação das vontades parciais na vontade central - para um Estado ser considerado efetivamente uma Federação, os entes parciais também devem ter o direito de participar da formação da vontade central, por meio de representantes no Poder Legislativo.
7) Possibilidade de intervenção federal - o texto constitucional deve prever a possibilidade da União agir em nome dos demais entes federativos, não só para a garantia da indissolubilidade do vínculo federativo, como também para o respeito à repartição das competências. 
Origem histórica do Estado Federal 
A noção de Estado Federal surge nos Estados Unidos com a guerra de independência contra o Reino Unido. As 13 colônias uniram-se pelo objetivo comum de declarar a independência do domínio britânico no ano de 1776. Vencida a guerra pelos norte-americanos, formaliza-se a união dos Estados Unidos da América, sob a égide de uma Constituição Federal (1787), porém respeitadas as peculiaridades locais de cada Estado organizado de forma autônoma e independente, desde que respeitado o pacto federativo. 
Cumpre ressaltar que o Estado Federal rege-se por uma Constituição Federal, inexiste secessão dos Estados Membros, enquanto na Confederação, os Estados participantes unem-se através de tratados internacionais, podendo vir a deles declinar em razão de sua soberania. 
Origem e evolução do Federalismo no Brasil
Por sua vez, o Brasil permaneceu um Estado Unitário durante todo o Império sob a CF de 1824, vindo por se tornar um Estado Federativo a partir da CF de 1891 até os dias atuais. A inspiração da CF de 1891 era tão notadamente norte-americana, que o Brasil era denominado Estados Unidos do Brasil.
Vale a pena ressaltar a existência de algumas diferenças cruciais entre o federalismo norte-americano e o brasileiro. Os americanos primaram pela maior autonomia política e administrativa dos entes Estaduais, chamada de federalismo por agregação. Já no Brasil, os Estados apesar de autônomos, submetem-se a um poder altamente centralizador da União, sendo por esse motivo denominado de federalismo por segregação.
Ex.: Nos Estados Unidos há Estados com pena de morte, enquanto em outros não. No Brasil, legislar sobre Direito Penal é de competência privativa da União (art. 22, inciso I da CF), havendo uniformidade do Código Penal e demais leis esparsas por todo território nacional.
Estrutura dos entes da Federação na CF/88
O Federalismo brasileiro atual, situado pela Constituição de 1988, encontra sua lídima expressão na introdução da Carta Magna, cuja reprodução vale a pena repetir: 
“A República Federativa do Brasil (União) é formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal – art. 1º, caput da CF.” – observações e grifos nossos
Não fosse suficiente a clareza do artigo supra citado, o art. 18 da Constituição Federal ratifica e pormenoriza a organização político-adminstrativa dos entes da federação brasileira:
“Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.”
Dessas duas linhas de definição do Brasil como Estado, verifica-se a existência do federalismo como organização estatal, além da divisão de competência autônoma por 3 (três) entes distintos na divisão do exercício do poder na República: União, Estados e Municípios, com a agregação de mais 1 (um), o sui generis (anômalo) Distrito Federal, o qual circunvizinha a ilha da Capital Federal – Brasília (art. 18, § 1º CF), sendo um ente da federação híbrido com características ora de Estado e ora de Município. 
O DF possui um governador, mas não pode possuir em sua área territorial municípios, de outro lado não possui uma constituição estadual, mas uma lei orgânica para organização político-administrativa como se município fosse (art. 32 CF).
Obs: Os Territórios Federais não gozam de autonomia político-adminstrativa, pois estão sob o domínio da União (art.18, § 2º CF).
Dica: No Brasil atualmente NÃO há territórios sob a égide da CF/88. Fernando de Noronha foi incorporada ao Estado de Pernambuco (art. 15 ADCT) , Amapá e Roraima foram transformados em Estados (art. 14 ADCT).
Repartição de competências e rendas dos entes da federação brasileira
No exercício de suas atribuições, cada ente da República possui sua própria atribuição ou competência, como também renda própria para o livre exercício de sua autonomia administrativa.
 
Competência
	 	competência exclusiva (bens e ações) 		art. 20 e 21 da CF
União		competência privativa (legislar)			art. 22 da CF
		competência comum (ações)			art. 23 da CF
		competência concorrente (legislar)		art. 24 da CF
competência residual de matérias da União, bem como daquelas que não lhe são vedadas na CF 			art. 25, § 1º CF
Estados	competência exclusiva (bens e ações)	 arts 26 e 25, §2º CF
(DF)		competência comum (ações)			art. 23 da CF
		competência concorrente (legislar)		art. 24 da CF
	competência residual de suplementar as matérias federais e estaduais e assuntos de interesse local 	art. 30, I e II CF
Municípios 	competência exclusiva (ações)			art. 30, III, IV, V, VI 
(DF art. 32, § 1º CF) 							e VIII CF
		competência comum (ações)			art. 30, VII e IX CF
Tipos de competência de cada ente
Competência exclusiva – cabe o exercício única e exclusivamente àquele ente da federação, sem possibilidade de delegação. Ex.: emissão de moeda.
Dica!!!! Analogia doida: O seu pedaço de papel higiênico ou fio dental só pode se usado por você, logo ele é de competência exclusiva sua, não podendo ser exercido por mais ninguém.
Competência privativa – incialmente cabe apenas àquele ente da federação, com possibilidade de delegação. Ex.: Legislar sobre Direito Penal, Eleitoral
Dica!!! Analogia doida: o vaso sanitário (privada) do seu banheiro é usado por sua família apenas, mas pode ser concedido/delegado a uma visita em sua casa, logo ele é de competência privativa da sua família.
Competência comum ou ordinária – pode ser exercida a qualquer tempo por todos os entes da federação. Ex.: Saúde. Se alguém da sua família precisar de medicamento ou tratamento você poderá optar impetrar mandado de segurança contra uma das autoridades coatoras de qualquer um dos entes da Federação.
Competência concorrente – seu exercício cabe a cada ente da federação desde que limitado ao seu próprio campo de atuação. Ex.: Direito Penitenciário, Direito Tributário, etc.
Renda dos entes da Federação
A renda dos entes da Federação é matéria afeita ao Direito Tributário em razão de sua complexidade, apesar de inserta na Constituição Federal (arts. 145 a 160 da CF).
No intuito de tão somente ilustrar a competência arrecadatória de cada ente da Federação, usaremos apenas como exemplo impostos ante o gênero tributos.
União – Imposto de renda (IR), imposto sobre importação (II), imposto sobre exportação (IE), imposto sobre produtos industrializados (IPI), imposto sobre operações financeiras (IOF), imposto territorial rural (ITR), grandes fortunas (IGF - norma constitucional de eficácia limitada, lembra que até hoje não foi instituída lei complementar para regulamentação???).
Estados – Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS), imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA), imposto de transmissão causa mortis e doações (ITCMD).
Municípios - Imposto sobre propriedade territorial urbana (IPTU), Imposto sobre serviços (ISS) e imposto de transmissão onerosa de bens imóveis “inter vivos”.
Distrito Federal – todos os impostos estaduais e municipais (art. 18, II do CTN – Código Tributário Nacional e art. 32, § 1º CF). 
Obs.: A deformidade constitucional na arrecadação de impostos é absurda, pois o maior arrecadador vem a ser a União, depois os Estados e o Distrito Federal, e por último, os Municípios. Agora eu te pergunto e você reflita em casa: As pessoas de fato vivem e sobrevivem nos Municípios, então por que a União é o bicho papão dos impostos????? O que ela oferece em termos de contraprestação em saúde, transportes, educação, lazer, segurança, etc., para concentrar em suas mãos um valor tão vultoso e extenso de impostos????
INTERVENÇÃO FEDERAL 
Intervenção Federal vem a ser a medida excepcional adotada pela União (art. 21, V da CF), por intermédio de Decreto e execução do Presidente da República (art. 84 X da CF), sempre ouvido o Conselho da República (art. 90, I da CF), e aprovado ou rejeitado pelo Congresso Nacional no prazo de 24 horas (arts. 36, § 2º e 49, IV da CF), para interferir na autonomia e independência dos Estados membros e Distrito Federal, no intuito de assegurar integridade da unicidade da Federação brasileira, numa série de hipóteses numeradas pelo art. 34 da CF.
O decreto de intervenção federal deverá ter tempo determinado (prazo), localidade geográfica exata, condições de execução e, se necessário, a nomeação de um interventor (art. 36, § 1º da CF). Normalmente ocorre interventor apenas quando o órgão atingido pela intervenção é o Poder Executivo, pela quantidade de atribuições a ele inerentes. 
Cessada a intervenção federal, desde que não haja impedimento legal, as autoridades afastadas retornarão imediatamente ao cargo (art. 36, § 4º da CF). 
Hipóteses de intervenção Federal 
Segue hipóteses de intervenção federal da União nos Estados ou Distrito Federal.
Manter a integridade nacional. Ex.: Rio Grande do Sul quer sua independência;
Um Estado membro promove invasão contra outro. Ex: São Paulo decide invadir o Rio de Janeiro;
Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública. Ex.: Acabar com o tráfico de entorpecentes e violência incessante no Rio de Janeiro;
Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes de unidade da Federação. Ex.: Governador Alckmin, cansado dos deputados de oposição da Assembleia Legislativa de SP, decide fechar o Poder Legislativo estadual para governar livremente sem interferências positivas ou negativas a ele da Casa de Leis;
Reorganizar finanças de unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) que:
e.1) não pagou dívida fundada (financiamento para reequilíbrio orçamentário ou execução de obras e serviços) sem justo motivo por mais de 2 anos. Ex.: Governador pegou em banco privado ou no BNDES empréstimo para construção de metrô e não paga a dívida a dois anos, sem qualquer justificativa
e.2) deixar dentro do prazo legal, o Estado ou DF, de repassar receitas tributárias destinadas aos Municípios. Ex.: Estado que não repasse alíquota destinada ao Município de ICMS.
assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
f.1) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
f.2) direitos da pessoa humana;
f.3) autonomia municipal;
f.4) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
f.5) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
INTERVENÇÃO “ESTADUAL”
A intervenção estadual implica no Estado membro ou DF intervir em Município de sua área geográfica por determinado período, o mesmo poderá ocorrer se a União precisar intervir nos municípios de territórios de sua jurisdição (art. 35, caput, da CF).
O trâmite para decretação de intervenção estadual no município, tomando como exemplo um Estado membro, é o mesmo seguido no âmbito federal, pois o Governador decretará a intervenção, a Assembléia Legislativa aprovará, para que possa executar efetivamente os termos do decreto de intervenção do Estado membro, com uso ou não de interventor, naquele Município de sua área nas seguintes hipóteses (art. 35, I a IV da CF):
Deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
Não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimentodo ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
O Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
Cessada a hipótese de intervenção “estadual”, a autoridade retornará ao cargo de direito, desde que não haja impedimento legal.

Continue navegando