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Introdução As cavidades de classe III são todas aquelas preparadas nas faces proximais dos dentes anteriores, sem o envolvimento do ângulo incisal (com o envolvimento do ângulo passa a ser classe IV). O diagnóstico das lesões de classe III pode ser feito de várias formas: Inspeção visual – Através da inspeção visual, lesões de classe III que já avançaram um pouco para a vestibular ou palatina/lingual são facilmente visualizadas; Inspeção com fio dental – Através da visualização da condição do fio dental após ser passado na face proximal (se está íntegro ou não); Radiografia periapical ou interproximal; Separação interdental – Pode ser mediata (48 horas antes, de preferência com elástico) ou imediata. Lesões Em Esmalte As lesões que se restringem ao esmalte são muito facilmente identificadas, pois clinicamente se observa uma mancha branca. Nesses casos não se deve fazer um tratamento invasivo, mas tentar remineralizar a lesão antes de que ela evolua até atingir a dentina. Esse tratamento, que é tido como não invasivo, consiste em: Adequação do meio bucal; Controle do biofilme; Aconselhamento dietético; Fluorterapia; Proservação – É de extrema importância. Lesões Em Dentina Quando as lesões atingem a dentina, promovendo cavitações que podem ou não comprometer a estética (a depender da localização na face vestibular ou palatina), deve-se realizar os procedimentos restauradores, pois é preciso devolver forma (anatomia), função e estética. Seleção do Material Restaurador As resinas compostas, como visto anteriormente, são classificadas em microparticuladas, híbridas, microhíbridas, nanoparticuladas e nanohíbridas. A escolha do material restaurador, não somente para as cavidades de classe III, depende dos seguintes fatores: Localização da lesão; Extensão da lesão; Resistência; Estética. Especificamente no caso das classes III, ao analisar a localização da lesão e a sua extensão deve-se identificar a necessidade de resistência, haja visto que as lesões que se estendem à face palatina devem considerar a oclusão com o dente antagonista. Além disso, esses fatores servem para identificar a necessidade de estética na restauração. Dessa forma, nas restaurações de classe III pode-se utilizar: Resinas microhíbridas – Possuem estética satisfatória e resistência boa para ser utilizada na face palatina; Resinas microparticuladas – nos casos em que se trabalha apenas com estética esse tipo de resina é mais indicado, pois possui um melhor polimento e, consequentemente, uma melhor estética; Resinas nanohíbridas ou nanoparticuladas – São as melhores resinas disponíveis, mas possuem um custo mais elevado. Seleção da Cor Para que se consiga fazer restaurações imperceptíveis é preciso reproduzir os efeitos ópticos de nuances de cor em esmalte e dentina. Para isso, é muito importante ter conhecimento de: Conceitos fundamentais da cor em odontologia; Características ópticas dos dentes naturais; Métodos de avaliação e seleção de cores. Dimensões da Cor O processo de produção de esmalte e dentina não é feito de uma única vez. O processo de deposição de esmalte e dentina é feito em camadas e em vários momentos da formação da coroa do elemento dental ainda internamente. Esse processo de produção e deposição de esmalte e dentina faz com que o dente se torne policromático, ou seja, faz com que o dente tenha várias nuances de cor, o que pode dificultar a seleção da cor em alguns casos. Diferente da estrutura dental, as resinas são monocromáticas. Para que se possa trabalhar a reconstrução de um elemento dental, que é policromático, com as resinas, que são monocromáticas, é preciso, muitas vezes, lançar mão de várias resinas compostas. Nesse contexto, devemos ter conhecimento dos concentos de: Matriz; Croma; Valor; Translucidez. O termo matriz se refere ao nome da cor. A matriz indica o nome do grupo do qual a cor faz parte. Por Restauração de Classe III exemplo, existem várias tonalidades de verde, mas a matriz de todas é verde. Na odontologia existem quatro principais matrizes, que são sinalizadas pelas letras A, B, C e D. No matriz A engloba as tonalidades que variam entorno do amarelo amarronzado; no matriz B temos as tonalidades amareladas; no matriz C temos as tonalidades amarelo- acinzentadas; no matriz D temos as tonalidades que variam do cinza ao alaranjado. O croma é o grau de saturação, ou seja, é o quanto a cor é mais ou menos clara (quanto de pigmento da cor tem). Na odontologia, o croma é sinalizado pelos números 1, 2, 3, 3,5 e 4. Por exemplo, o matriz A pode possuir o grau de saturação (croma) 1, sendo sinalizado como A1. Outra dimensão da cor é o valor. O valor está relacionado ao brilho/luminosidade. Dessa forma, ele descreve o quanto de pigmentos brancos (pigmentos mais claros) existe no matiz. Para analisar o valor do elemento dental é necessário analisar o quão branco o dente é, através de uma escala de cinza. Por exemplo, na imagem a seguir é possível observar 3 casos diferentes, em que cada um é mais branco que o outro, ou seja, possui maior valor. É justamente o valor que é trabalhado no processo de clareamento dental, onde se quebra e remove os pigmentos mais escuros, fazendo com que o dente fique mais claro (tenha maior valor). Quando o paciente deseja realizar o clareamento, o ideal é que primeiro se faça o procedimento clareador, depois as restaurações e por último, se for o caso, os procedimentos protéticos. Por fim, outra dimensão da cor, que surgiu mais recentemente, é a translucidez. A translucidez é definida como um fenômeno no qual a luz incidida sobre um corpo consegue atravessa-lo totalmente. No entanto, um corpo pode ser mais opaco, onde parte da luz pode ser absorvida/refletida e outra parte consegue atravessar. À medida que um corpo é saturado com pigmentos, ele irá se tornar menos translúcido (mais opaco). Em um elemento dental se observa zonas de alta translucidez e zonas de baixa translucidez. As zonas de baixa translucidez são aquelas localizadas do terço cervical a médio (menor espessura de esmalte e maior espessura de dentina), enquanto que as de alta translucidez são aquelas localizadas nas bordas incisais e proximais (maior espessura de esmalte e menor espessura de dentina). No processo de seleção de cor, utiliza-se a escala de cor (escala vita) para determinar o matriz e, em seguida, são feitos pequenos incrementos de resina da matriz selecionada (para determinar o croma), sem sistema adesivo, na região incisal e no terço médio da face vestibular do dente, de forma que se determina a cor de dentina (terço médio) e a de esmalte (terço incisal). Trauma Oclusal Deve-se tomar muito cuidado com o trauma oclusal, verificando sempre a oclusal ao térmico da restauração. Os contatos oclusais exagerados levam a uma sobrecarga no dente restaurado, o que estimula o periodonto e pode promover o aumento de pressão intrapulpar (o paciente passa a ter uma sensibilidade pós- operatória com variações térmicas e com a mastigação). Por conta disso, é preciso remover até mesmo os pequenos excessos oclusais. Quando em continuidade, as alterações oclusais podem levar a injúria pulpar de maior ou menor intensidade, inflamação pulpar e, até mesmo, necrose pulpar. No processo de escolha da cor também é muito importante conhecer as características de esmalte e dentina em cada um dos terços da coroa dental (cervical, médio e incisal). No terço cervical, que fica mais próximo à raiz do dente, existe uma grande espessura de dentina, o que faz com que o croma seja mais alto nessa região, e uma espessura de esmalte muito fina, o que faz com que o valor seja baixo (o valor está relacionado com o esmalte). Dessa forma, no terço cervical a expressão cromática é muito pouco influenciada pelo esmalte, já que ele é bem fino. Issofaz com que a região do terço cervical para o terço médio seja a melhor para a seleção de cor da dentina. O esmalte fino é translúcido e, quando se está diante de um corpo translúcido é possível enxergar o que tem atrás. Ao caminhar do terço cervical para o terço incisal, passamos pelo terço médio. No terço médio começa-se a ter uma variação no volume dos tecidos dentais. No terço médio ainda se observa uma grande camada de dentina, mas nota-se que a espessura de esmalte é bem maior. Quanto mais essa camada de esmalte vai se tornando mais espessa, menor vai ficando a sua translucidez e maior será a dificuldade para selecionar a cor da dentina. A camada de esmalte mais espessa atenua a saturação da dentina, aumentando a luminosidade final. Quanto mais esmalte tiver, maior será a luminosidade. Chegando no terço incisal se observa o inverso do que foi visto no terço cervical. A quantidade de dentina nessa região é muito delgada, se limitando às projeções digitiformes. Por conta disso, nessa região do terço incisal se deve determinar a cor do esmalte, pois o croma dessa região é definido basicamente pelas características do esmalte. Resumindo: Na dentina há baixa translucidez e alta saturação, sendo o local adequado para a sua determinação do matriz e do croma; No esmalte há alta translucidez e pouca saturação, funcionando como um filtro que permite a visualização da cor da dentina e sendo responsável pelo valor dos dentes; O grau de translucidez dos tecidos dentais vai se modificando ao longo da vida, o que promove a alteração do matriz e do croma. Enquanto o dente tiver vitalidade, a dentina será sempre produzida, enquanto que o esmalte não é mais reposto. A translucidez do esmalte vai sendo reduzida ao longo do tempo, assim como a sua textura superficial e espessura também vão sendo perdidas. Isso ocorre tanto em função do desgaste fisiológico como em função da alimentação do paciente. Do mesmo que o esmalte vai sofrendo alterações, também a dentina sofre alterações cromáticas com o passar do tempo. O fato da dentina ser continuamente produzida e depositada leva a aumento da saturação da cor. Dessa forma, os dentes jovens são mais brancos e luminosos, enquanto que os dentes adultos são mais amarelados. Nos dentes jovens a maior espessura de esmalte atenua a percepção de saturação da dentina, enquanto que a textura superficial aumenta a dispersão e reflexão da luz. Nos pacientes adultos e idosos a diminuição da espessura do esmalte acentua o croma da dentina, enquanto que a lisura da superfície do esmalte promove uma menor dispersão e reflexão da luz. Resumindo: A determinação do matriz é feita no terço cervical (A, B, C ou D); O croma pode ser feito tanto no terço cervical quanto no início do terço médio (1, 2, 3, 3,5 ou 4); Se o paciente apresentar opalescência, halo esbranquiçado ou caracterizações da dentina, a determinação da cor é feita também no terço incisal. Considerações Nos dentes anteriores, na face vestibular, deve-se sempre confeccionar o bisel, que tem como finalidade fazer com que a restauração passe de uma forma mais suave da estrutura de resina para a estrutura dental. Isso implica dizer que a finalidade da confecção do bisel é estética (fazer com que não se veja uma linha separando a restauração da estrutura dental, em decorrência de um ângulo reto). A inserção da resina composta deve ser feita seguindo a técnica incremental, com espátulas e pincéis apropriados e com a fotopolimerização entre 20 a 40 segundos, a depender da recomendação do fabricante (normalmente é em torno de 20 segundos). A finalidade da utilização de resinas opacas é mascarar o fundo negro da boca, por meio de incrementos na parede palatina/lingual (parede de restauração de esmalte). Após a confecção da parede de esmalte na parede palatina/lingual, a resina de dentina é colocada em toda a espessura de dentina, confeccionando assim o corpo da restauração. Por fim, a resina de esmalte, que é mais translúcida, é aplicada sobre toda a espessura do esmalte vestibular. Algumas resinas compostas vêm com uma resina opaca para cada tonalidade, sendo sinalizadas, geralmente, pela letra O (ex.: OA1). A remoção dos excessos grosseiros com a utilização da lâmina de bisturi possui a vantagem de ser um corte único, mantendo o acabamento num mesmo padrão. No entanto, quando não se tem o domínio da técnica é mais indicado que se faça o acabamento com tiras de lixa ou pontas diamantadas. O acabamento e polimento deve ser feito com no mínimo 24 horas após a confecção do preparo. O objetivo dessa espera é propiciar a polimerização integral da resina, haja visto que nas primeiras 24 horas a expansão higroscópica continua.
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