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Genética e Câncer Essa imagem é do Hospital do Câncer do Rio de Janeiro localizado na Praça da Cruz Vermelha. Ele faz parte do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e é o hospital de referência para tratamento do câncer no Rio de Janeiro, fazendo parte da rede de alta complexidade do SUS. ● O INCA é o órgão auxiliar do Ministério da Saúde no desenvolvimento e coordenação das ações integradas para prevenção e controle do câncer no Brasil, estando equipado com o mais moderno parque público de diagnóstico por imagem da América Latina. Câncer De�nição Há várias de�nições para o câncer. ● Pode ser de�nido como um complexo de doenças que afetam uma grande variedade de células e tecidos; ● Também representa um agregado de células, todas descendentes de uma célula inicial aberrante. Uma característica comum entre os diversos tipos de câncer é a apresentação de mutações que alteram o genoma celular ou a expressão gênica - Como explicar a ligação entre câncer e as mutações? Ciclo Celular x Câncer Repetindo: o câncer é uma consequência fenotípica importante da mutação. Uma das características da célula cancerosa mutante é a falta de controle da sua divisão, por este motivo, o câncer também pode ser de�nido como sendo uma doença causada por divisão celular descontrolada, portanto, é de se esperar que mutações inter�ram nos mecanismos de regulação do ciclo celular, ocasionando o surgimento do câncer. - Mas qual é a relação entre o controle do ciclo celular e surgimento do câncer? Lembre- se que, no ciclo celular, há pontos de secagem ou checkpoint que visam corrigir e impedir o prosseguimento de qualquer tipo de erro ou dano a célula em processo de divisão. O não funcionamento destes checkpoints , pode resultar na incorporação dos erros à célula que pode transmiti- lo para a geração de células subsequentes, perpetuando a mutação. Nota: ★ = checkpoints . Os checkpoints ocorrem ao �nal da fase G1 e, quando há replicação do DNA, ocorre o segundo ao �nal da fase G2 e, o último, ocorre após a formação das �bras do fuso na fase M. Se algum dano é identi�cado o ciclo celular é interrompido para que possa ser corrigido. Se não puder ser corrigido, o ciclo celular é interrompido até que o erro seja reparado, podendo até mesmo induzir a célula à apoptose se o dano não foi invertido. - Como é feita a checagem do ciclo celular? Expressão de Ciclina no Ciclo Celular As ciclinas são um grupo de proteínas que estão entre os mais importantes reguladores do ciclo celular. Existem quatro tipos básicos encontrados em seres humanos e na maior parte dos outros eucariontes: Ciclinas G1, Ciclinas G1/ S, Ciclinas S e Ciclinas M. Como os nomes sugerem, cada ciclina está associada a uma determinada fase, transição ou conjunto de fases no ciclo celular, e ajuda a conduzir os eventos dessa fase ou período conforme já vimos. Os níveis das diferentes ciclinas variam consideravelmente em todo ciclo celular como mostrado no diagrama. Uma ciclina típica está presente em níveis baixos na maior parte do ciclo, mas aumenta acentuadamente no estágio em que for necessária. A ciclina M, por exemplo, atinge o pico de forma acentuada na transição entre as fases G2 e M; o mesmo acontece para as Ciclinas G1/ S e S. As Ciclinas G1 são incomuns pois, pelo fato de serem necessárias a maior parte do ciclo celular, elas apresentam níveis aproximadamente constantes durante todo ciclo. As ciclinas desencadeiam as etapas do ciclo celular associando-se à uma família de enzimas chamadas Quinases Dependentes de Ciclinas ou CDKs, componentes com atividade catalítica no ciclo celular. Elas regulam a atividade de outras proteínas dentro da célula, transferindo grupos fosfatos para elas; a transferência desses grupos fosfatos para as proteínas ou fosforilação das proteínas, inicia uma cadeia de eventos que ativa fatores de transcrição de genes cujos produtos são necessários para sequência do ciclo celular. No entanto, para exercer esta atividade de fosforilação, as CDKs dependem da ligação às ciclinas, ou seja, sozinhas são inativas. Quando, por exemplo, a Ciclina G1/ S liga-se à CDK, a fosforilação ou transferência do grupo fosfato para as proteínas alvo dentro da célula, acontece e, assim, a fase S é iniciada. ● Uma CDK sozinha �ca inativa, mas a ligação com a ciclina a ativa, transformando- a em uma enzima funcional. As CDKs transferem fosfato do ATP para outras proteínas, geralmente ciclinas, gerando aumento ou diminuição dessas, permitindo que ela modi�que proteínas-alvos dentro da célula. O complexo CDK em alta concentração, por exemplo, na fase G1/ S vai permitir, como dito, o prosseguimento do ciclo celular. Se, por acaso, a célula não cresceu o su�ciente ou houve algum dano ao DNA, a concentração de CDK é baixa e o ciclo, interrompido. A Ciclina M, também chamada de fator de promoção de maturação, esse nome data da década de 70, quando pesquisadores descobriram que células na fase M continham um fator desconhecido que podia forçar os óvulos de rã a entrar na fase M. Nos anos 80, descobriu-se que esta molécula é misteriosa, chamada MPF, é uma CDK ligada a sua parceira Ciclina M. Como uma ciclina típica, a Ciclina M mantém- se em níveis baixos durante a maior parte do ciclo celular, porém acumula-se no momento em que a célula se aproxima da transição para a fase M. Conforme a ciclina se acumula, liga- se às CDKs já presentes na célula, formando complexos que estão preparados para ativar a fase M. Assim que esses complexos recebem um sinal adicional, essencialmente um “tudo ok”, con�rmando que o DNA da célula está intacto, eles se tornam ativos, iniciando a fase M que é caracterizada pela formação das �bras do fuso, condensação dos cromossomos e rompimento da membrana nuclear. O complexo CDK-ciclina regula as transições do ciclo celular, mas nem sempre está no comando, em vez disso, ele responde a pistas que vêm de dentro e de fora da célula. Essas pistas in�uenciam a atividade dos principais reguladores para determinar se a célula avança ou não no ciclo celular. ➔ Pistas positivas, como fatores de crescimento, normalmente aumentam a atividade de CDKs e de ciclinas. ➔ Enquanto as negativas, como os danos ao DNA, normalmente diminuem ou bloqueiam a atividade desses complexos. Danos podem acontecer e acontecem em várias células do corpo durante a vida de uma pessoa, por exemplo, devido aos raios UV emitidos pelo sol. As células devem ser capazes de lidar com esse dano, corrigindo sempre que possível e impedindo que a divisão celular ocorra caso não seja possível corrigir o erro ou a mutação ocorrente. A chave para resposta ao dano é uma proteína codi�cada por um gene de mesmo nome, proteína P53 codi�cada pelo gene P53. Esse gene é o famoso supressor tumoral, comumente descrito como Guardião do Genoma. A proteína P53 trabalhaem vários níveis para garantir que as células não transmitam DNA dani�cado através da divisão celular. ● Primeiro ela para o ciclo celular no ponto de checagem, desencadeando a produção de proteínas inibidoras de CDK. Essas proteínas se ligam aos complexos CDK-ciclinas e bloqueiam sua atividade, ganhando tempo para o reparo do DNA; ● A segunda função da P53 é ativar enzimas de reparo do DNA; ● Se o dano não é reparável, a P53 vai desempenhar sua terceira e última função, ativar a morte celular programada para que o DNA dani�cado não seja transmitido. Genética e Câncer ● Mais frequentemente, as mutações promotoras do câncer surgem em células somáticas e, por isso, não são passadas para gerações futuras. ● Algumas vezes as mutações herdadas podem ser acompanhadas de mutação no locus homologo, gerando homozigose. Conceito Atual O câncer atualmente é considerado então uma desordem genética ao nível celular. Fator Hereditário x Fator Ambiental - Qual é a relação entre fator hereditário e fator ambiental no caso do câncer? ● 80 a 90% dos casos de câncer estão associados a fatores ambientais, ou seja, não são hereditários. ○ Entre estes: carcinógenos químicos, físicos, agentes infecciosos e estilos de vida interferem e podem promover o surgimento do câncer. ● Apenas 5 a 10% dos tipos de câncer são hereditários, provenientes de mutações na linhagem celular germinativa, nas gônadas. Mutações ● Mutações são alterações aleatórias que ocorrem na sequência de bases no genoma celular. Essas alterações envolvem mutações em pequena escala como substituição, por exemplo, de um único nucleotídeo, e eventos também em larga escalas que incluem rearranjos cromossômicos, como troca de segmentos ou de partes entre cromossomos; ganho ou perda de cromossomos inteiros ou mesmo integração do genoma viral em sítios nos cromossomos. ○ A maioria das mutações observadas nos tumores humanos apresentam alterações em larga escala, caracterizadas por alterações cromossômicas visíveis Nomenclatura Em relação a nomenclatura, pode- se dizer que: ● Um tumor é qualquer lesão que tem como consequência o aumento de volume pode ser, por exemplo, uma in�amação localizada, um edema. ● Já o câncer é um termo empregado para identi�car qualquer neoplasia ou um nova formação no tecido de comportamento maligno, ou seja, invasivo e danoso ao organismo. Há vários tipos e estágios de alteração no tecido e, logicamente, nas células que fazem parte do mesmo. ● A hipoplasia é caracterizada pela redução do número de células do tecido. ● A hiperplasia é o aumento do número de células no tecido. ● A metaplasia já há uma conversão de tipo celular, ou seja, uma alteração na diferenciação da célula, modi�cando a sua forma que deveria se assemelhar àquela das outras células que estão localizadas no mesmo tecido. ● A displasia muda o fenótipo celular, ou seja, há di�culdade em atribuir o tecido original ao qual uma determinada célula pertence ● Na anaplasia a célula perde totalmente a diferenciação celular ● E a neoplasia é caracterizada por essas alterações na diferenciação e, além disso, há proliferação celular anormal. As neoplasias podem ser classi�cadas em: ➔ Benignas - crescem de maneira localizada e circunscrita. Nesse caso, não são letais nem causam grandes transtornos ao hospedeiro, podem evoluir despercebidas por muito tempo. ➔ Malignas - têm crescimento muito rápido; in�ltram tecidos vizinhos, de modo que não é possível delimitar onde começa e onde termina o seu crescimento; podem se deslocar em se desenvolver em órgãos à distância, processo chamado de metástase, provocando, inclusive, perturbações homeostáticas graves que podem levar à morte, pois, nessa capacidade de in�ltração, podem in�ltrar ou se inserir entre as células dos vasos sanguíneos, promovendo alteração na parede dos vasos e sujeitando com maior facilidade a ocorrência de hemorragias e, logicamente, agravando o estado do paciente. Metástase Metástase é a formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, mas sem continuidade entre as duas. As células neoplásicas se desprendem do tumor primário e são levadas a outro local onde formam uma nova colônia neoplásica. Quando as células cancerosas se disseminam na corrente sanguínea ou linfática e formam colônias em outros locais, as colônias são chamadas metástases. Tal condição agrava muito a situação da doença e di�culta o processo de cura, apenas 1 em cada 1.000 células que se desprendem do tumor primário formam uma metástase, isso porque elas precisam de habilidades especí�cas para transpor as barreiras celulares e se disseminarem; é comum células “encalharem” ou �carem retidas em algum gânglio e ali originar um novo tumor. Nomenclatura dos Tumores Em relação a nomenclatura dos tumores, temos que: ● Recebem o nome da célula, tecido ou órgão + o su�xo -oma, quando é qualquer neoplasia maligna ou benigna. ○ No caso, Sarcoma é neoplasia maligna de células de origem mesenquimal: osso, cartilagem, gordura, músculo, tecido vascular; este tipo de tumor é mais raro e ocorre em torno de 1% dos casos. ○ Carcinoma é denominada neoplasia maligna de tecido de epitélio de revestimento. ○ Linfoma, células sanguíneas que maturam na medula, o tumor do tecido linfóide. ○ Leucemia são denominadas as neoplasias células sanguíneas que maturam na circulação, tecido mielóide. Assim, temos: Característica da Célula Cancerosa - Que propriedades distinguem uma célula cancerosa de uma célula normal? - Que genes controlam essas propriedades? ● Rápida taxa de divisão, ou seja, se dividem constantemente; ● Habilidades de invadir novos territórios celulares; ● Alta taxa metabólica, assim, se é um tumor de glândulas, produzirá uma maior quantidade hormônios, de acordo com o tipo celular; ● Apresentam forma anormal devido a alteração na diferenciação celular. Mutações Promotoras de Câncer ● Aumentam a habilidade de uma célula se proliferar; ● Diminuem a suscetibilidade de uma célula à apoptose; ● Aumentam a taxa geral de mutação da célula ou sua longevidade. ○ Em geral, as mutações aumentam a taxa de mutação da célula, pois estando com uma proliferação acelerada, os sistemas de checagem tornam -se menos e�cientes e as mutações acabam se perpetuando. Além disso, por escaparem da apoptose, também terão sua longevidade aumentada. Dois principais tipos de mutações ocorrem em dois grandes tipos de gene: Os proto-oncogene e os genes supressores tumorais. Mutações Oncogênicas Mutações que ocorrem nos proto-oncogene são denominadas oncogênicas, Em geral, elas são mutações dominantes com ganho de função. - De que modo? Neste caso, os proto-oncogenes, genes que normalmente atuam na divisão celular, ou seja, necessario para as mitoses e meioses; quando sofrem mutações dominantes de ganho de função, �cam constantemente ligados ou ativos e isso leva auma mutação oncogênica, pois ocasiona a proliferação celular desordenada Mutações nos Genes Supressores Tumorais Quando as mutações ocorrem nos genes supressores tumorais, em geral, elas são recessivas com perda de função. Os genes supressores tumorais, como o próprio nome está dizendo, identi�cam erros na célula em divisão e a induzem à apoptose para evitar que essa mutação se perpetue. Se a mutação é recessiva com perda de função, os genes �cam constantemente desligados e com isso as células mutantes não são induzidas ao reparo ou eliminação (apoptose). Esses genes são importantes, pois param o ciclo celular e induzem a apoptose no caso de mutações. Proto-Oncogenes ● Promovem a divisão celular ou inibem a via apoptótica; ● Podem estar ligados ou desligados; ○ Quando ativos promovem a divisão celular. ○ Para interromper a divisão celular, eles devem estar inativos. ● Se permanecerem constantemente ativos, por mutações dominantes com ganho de função, levam a proliferação celular desordenada, gerando os tumores malignos ou benignos. ● As formas mutantes dos proto-oncogenes são denominadas oncogenes e seu produto denominado oncoproteína. Tipos de Mutações nos Proto-Oncogenes ● Mutações dominantes de ganho de função. ○ O gene permanece constantemente ativo, estimulando a divisão celular descontrolada. Exemplos: GENE RAS ➔ Foi um dos primeiros genes mutantes descoberto; ➔ Faz parte da família de genes RAS que codi�cam proteínas de alto peso molecular denominada de P21; ➔ É responsável pela transmissão da informação da membrana celular para o núcleo e, por isso, é um elemento chave na regulação da proliferação e da diferenciação celular; ➔ Geralmente, a mutação que ocorre nesse gene é a substituição de uma base por outra,ou seja, uma mutação de ponto, gerando a troca de um par de bases por outra; ➔ Mutações nesse gene costumam estar associadas aos humores de pâncreas, tireóide e cólon; ➔ Em humanos, o gene RAS, está localizado nos cromossomos 11p15, H-ras; 12p12, K-ras; e 1p22. N-ras. GENES ABL/ BCR ➔ A translocação ou troca de segmentos entre o cromossomo 9 e 22 (cromossomo Philadelphia ), faz com que o proto-oncogene ABL �que em justaposição ao gene BCR, formando o gene quimérico BCR/ ABL, ou seja, resultante da junção dos dois que antes estavam em cromossomos separados. ➔ A proteína de fusão, provoca o aumento da atividade tirosina quinase, fator desencadeante para a leucemia mielóide crônica. GENE MYC ➔ Algumas vezes, este gene sofre uma translocação do cromossomo 8 para 14, �cando posicionado sob o controle dos elementos regulatórios do gene que codi�ca para as imunoglobulinas. Esses rearranjo provoca uma ativação transcricional exagerada do gene MYC, ou seja, aumenta a taxa metabólica, gerando uma grande quantidade de imunoglobulinas, por isso, ele é responsável por um tipo importante de câncer: o linfoma de Burkitt. ➔ Além deste, também é observado no carcinoma de cérvix, cólon, mamas, pulmão e estômago. ➔ O linfoma de Burkitt é um câncer de células B muito agressivo que pode duplicar de tamanho em apenas 24 horas, mas quando diagnosticado precocemente possui grandes chances de cura - quimioterapia. Afeta indivíduos jovens, imunodeprimidos e devido a presença de vírus Epsteinbarr. ➔ Sintomas: Aumento dos linfonodos do pescoço, virilhas ou axilas. Suores noturnos excessivos, febre, coceira na pele e emagrecimento sem causa aparente. Gene Supressor Tumoral O Gene P53 e o Ciclo Celular ● O gene P53 codi�ca uma proteína nuclear que age como um fator de transcrição. Normalmente, ele é um supressor tumoral que controla a passagem de G1 para S. Mutações nesse gene, como dito anteriormente, são recessivas com perda de função e, neste caso, esse controle é comprometido. ● São encontradas em vários tipos de câncer, incluindo seio, pulmão, bexiga e cólon. Acredita- se que metade dos cânceres estão associados a mutações no P53. Isso sugere que ele controla um evento chave na proliferação celular, assim como a passagem G1 para S, e não um tecido especí�co. ● Células normais, em geral, contém baixos níveis da proteína P53. ● É denominado guardião do genoma. ○ Tem também um papel importante na apoptose de células submetidas à luz UV, ou seja, evitando que células que sofreram mutações devido às radiações UV emitidas pelos raios solares, prossigam na divisão celular, caso a mutação ocorrida não seja reparada. ○ Em células sem o gene P53 funcional não há apoptose após irradiação UV.
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