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1 Disciplina: Políticas educacionais Autor: M.e Marcus Quintanilha da Silva Revisão de Conteúdos: D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional: Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Marcus Quintanilha da Silva Políticas educacionais 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r Jefferson Zeferino / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Parecerista Técnico Leandra Felicia Martins / Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA SILVA, Marcus Quintanilha da. Políticas Educacionais / Marcus Quintanilha da Silva. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 129 p. ISBN: 978-85-5475-447-1 1. Estado moderno. 2. Política. 3. PNE. Material didático da disciplina de Políticas Educacionais – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós- Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ...................................................................................................... 08 Aula 1 - O Estado Moderno: surgimento, consolidação e algumas concepções................................................................................................. 09 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 09 1.1 Do surgimento às características do Estado Moderno e suas concepções................................................................................................. 09 1.2 Algumas concepções de Estado............................................... 16 Conclusão da aula 1.................................................................................... 21 Aula 2 - Política, poder e democracia......................................................... 21 Apresentação da aula 2.............................................................................. 21 2.1 Política e poder - uma relação indissociável............................. 22 2.1.1 Democracia............................................................................ 25 2.1.2 Possibilidades de discussão democrática na gestão dos sistemas de ensino e das escolas............................................................... 27 2.3 Rotatividade no quadro de dirigentes da Escola........................ 31 2.3.1 Constituição Federal de 1988 e a Democracia...................... 32 Conclusão da aula 2.................................................................................... 33 Aula 3 - A organização do Estado brasileiro e sua relação com a estrutura da educação brasileira ................................................................ 34 Apresentação da aula 3.............................................................................. 34 3.1 Organização do Estado brasileiro.............................................. 36 3.1.1 Estrutura da educação no Brasil e as responsabilidades educacionais dos entes federados.............................................................. 38 3.1.2 Síntese da estrutura educacional do Brasil............................. 39 3.2 Responsabilidades educacionais dos entes federativos............ 40 Conclusão da aula 3.................................................................................... 46 Aula 4 - Conceitos de regime de colaboração, municipalização, descentralização e desconcentração.......................................................... 47 6 Apresentação da aula 4.............................................................................. 47 4.1 Regime de colaboração entre os entes federados.................... 48 4.1.1 Constituição, LDB e o regime de colaboração........................ 48 4.1.2 Regime de colaboração no financiamento da educação........ 51 4.1.3 Municipalização, descentralização e desconcentração.......... 52 4.1.4 Municipalização....................................................................... 53 4.5 Descentralização e desconcentração........................................ 57 Conclusão da aula 4.................................................................................... 59 Aula 5 - O Plano Nacional de Educação: metas para a educação brasileira...................................................................................................... 60 Apresentação da aula 5.............................................................................. 60 5.1 Plano Nacional de Educação: aspectos gerais.......................... 61 5.1.1 Metas do Plano Nacional de Educação.................................. 66 5.1.2 Educação básica no PNE........................................................ 66 5.1.3 Educação Superior no PNE.................................................... 69 5.1.4 Demais tópicos do PNE.......................................................... 70 Conclusão da aula 5.................................................................................... 73 Aula 6 - Financiamento da educação, divisão de responsabilidade e fundos públicos........................................................................................... 73 Apresentação da aula 6.............................................................................. 73 6.1 Constituição Federal e LDB – financiamento como premissa para a qualidade da educação....................................................................75 6.1.1 Financiamento e educação de qualidade na LDB................... 77 6.1.2 Breve histórico do financiamento da educação no Brasil e a política de fundos........................................................................................ 78 6.1.3 Manutenção e desenvolvimento do ensino............................. 84 Conclusão da aula 6.................................................................................. 85 Aula 7 – Reformas educacionais no Brasil.................................................. 86 7 Apresentação da aula 7.............................................................................. 86 7.1 Reformas educacionais – histórico da política educacional até 1988............................................................................................................ 86 7.1.2 Reformas educacionais dos anos 1990.................................. 93 Conclusão da aula 7.................................................................................... 98 Aula 8 - Qualidade da educação e atuais políticas educacionais para a Educação Básica e Superior....................................................................... 99 Apresentação da aula 8.............................................................................. 99 8.1 O que é qualidade?.................................................................... 100 8.1.1 Preceitos legais da educação de qualidade............................ 100 8.1.2 Qualidade em educação – linhas gerais................................. 105 8.1.3 Dimensões históricas da qualidade em educação.................. 105 8.1.4 Breve histórico do surgimento das avaliações em larga escala.......................................................................................................... 107 8.1.5 Avaliações em larga escala no Brasil...................................... 107 8.1.6 Indicadores da educação brasileira......................................... 110 8.1.7 Surgimento da prova Brasil e do índice de desenvolvimento da Educação Básica.................................................................................... 110 8.1.8 Formulação do Ideb e crítica da literatura acadêmica…......... 112 8.2 Outros indicadores..................................................................... 114 8.2.1 Alguns resultados do Ideb....................................................... 115 8.2.2 Outras políticas educacionais na atualidade........................... 116 Conclusão da aula 8.................................................................................... 120 Índice Remissível........................................................................................ 121 Referências................................................................................................. 125 8 Prefácio Olá, estudante, seja muito bem-vindo! É um grande prazer ter você em uma caminhada em busca do conhecimento. A disposição em ser, em um futuro próximo, um educador ou educadora exige bastante dedicação e muita responsabilidade. Afinal de contas, qual é o papel do professor? E o do pedagogo? Claro que o papel social da escola teve um crescente aumento nas últimas décadas, fruto de vários sujeitos de direito que, anteriormente, não tinham pessoas com acesso à educação em suas famílias, consequentemente, não criaram uma cultura escolar que, aliada a uma série de outros fatores intraescolares e extraescolares, culminaram na instituição de ensino, principalmente pública, cujas atribuições vão além de ensinar. Nesse sentido, o novo profissional de educação precisa estar ciente de que, apesar das outras funções delegadas ao atual sistema de ensino, permanece a nossa principal função: que o aluno aprenda. Eis, então, a nossa grande responsabilidade: ensinar. Então, em que uma disciplina de Políticas Educacionais pode nos ajudar? No contexto da era dos direitos, estes são comumente regulados por legislações e regulamentados por uma série de outros documentos normativos. Soma-se a isso a análise da ação do Estado para garantir o direito à educação da nossa atividade profissional. Portanto, estudar Políticas Educacionais significa, acima de tudo, avaliar como o Estado age (ou não) perante a demanda educacional, que, como se sabe, vai além de apenas ofertar a vaga. Mais do que isso, o acesso sem permanência e condições de qualidade é um direito dado pela metade. Convido você a conhecer a Política Educacional e, apesar das dificuldades que advirão, ter resiliência e foco para, juntos, fazermos esta caminhada, na certeza do sucesso e do aprendizado. Bons estudos! 9 Aula 1 – O Estado Moderno: surgimento, consolidação e algumas concepções Apresentação da aula 1 Olá, estudante! Seja bem-vindo (a) à primeira aula da disciplina de Políticas Educacionais. Nela, veremos o histórico do surgimento do Estado Moderno e as concepções que orientam os governantes na administração dele. O Brasil é, segundo a Constituição Federal de 1988 (CF/88), um Estado Democrático de Direito. Em outras palavras, de acordo com a referida Carta Magna, todo poder emana do povo, por intermédio da eleição de seus representantes. Para o entendimento do Estado Moderno, faz-se necessário fazer um breve histórico de como ele se constituiu e conhecer as concepções que orientam os governantes na sua administração. Também vamos estudar as características do atual modelo de Estado da grande maioria dos países, que têm aspectos em comum. 1.1 Do surgimento às características do Estado Moderno e suas concepções Em políticas educacionais, todo e qualquer assunto terá o Estado como seu terreno de atuação. É ele que incentiva as políticas públicas e a sua complexidade dá-nos um importante campo de análise. Max Weber vai aliar o capitalismo ao surgimento e fortalecimento do Estado Moderno. Para o autor, um não surgiria, tampouco sobreviveria, sem o outro, pois o capitalismo que conhecemos atualmente deriva de uma racionalidade técnica, organização burocrática e contábil que só o Estado poderia regular. 10 Vocabulário Racionalidade técnica: está relacionada às relações de poder, interesses e hábitos específicos e baseia-se no treinamento das habilidades. Não existe uma data precisa sobre a consolidação do Estado, mas é certo que, olhando para a cronologia, podemos observar alguns momentos em que essa instituição foi se construindo. Primeiramente, a unificação de principados, ocorrida ainda na Idade Média, reduz uma série de povoados governados autoritariamente por um príncipe, em um Estado com um território, mas em constante disputa com outros Estados pela anexação de outras terras. Posteriormente, esse Estado absolutista, em que era central a figura do governante, e somente os nobres eram considerados cidadãos, começa a ser pressionado pela nova classe social, a burguesia, formada de pequenos comerciantes e camponeses que passam a ter maiores condições financeiras e, nesse sentido, a se diferenciar economicamente de boa parte da população. Essa nova classe passa a entender que, pela sua condição econômica, teria os mesmos direitos que a nobreza. Aliado ao descaso das cortes dos príncipes, que gastavam muito dinheiro do Estado na manutenção de sua luxúria, esse conflito é simbolizado pela Revolução Francesa de 1789, que culmina na decapitação de seu monarca absolutista e inspira os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. Vocabulário Luxúria: atração pelos prazeres carnais;comportamento desmedido em relação aos prazeres sexuais; lascívia. Monarquia absolutista: forma de governo monárquico ou monarquia, na qual o monarca ou rei exerce o poder absoluto, isto é, independente e superior ao poder de outros órgãos do Estado. 11 É nesse percurso, que não é necessariamente linear, que o Estado se solidifica e, com as revoluções marxistas do século XIX, a necessidade de que o Estado intervisse em políticas sociais, entre elas a educação, culminam, em particular no século XX, em algumas concepções de Estado, aliadas diretamente ao modelo político-partidário, à medida que este se funda, em particular no caso brasileiro. Gianfranco Poggi faz uma discussão interessante em sua obra A Evolução do Estado Moderno. Em primeiro lugar, porque não trata a “evolução” de forma cronológica e linear. Em segundo lugar, ao relacionar política de Estado externa e interna, confrontando pontos de vista diferentes (Schmidt e Easton), cria um ponto de vista próprio. Sobre o ponto de vista externo, para Poggi (1981, p. 97), “todo e qualquer Estado existe, em primeiro lugar, na presença de outros Estados como ele e em competição com ele”. Essa ideia leva a dois conceitos: o de preservação de integridade e autonomia, por meio da segurança externa, interna e competição nas diversas áreas internas (social, econômica, educacional, bélica, entre outras). Essa competição era constante, em particular, na anexação de territórios, o que influenciou diretamente a necessidade de armamento e força militar para a manutenção da sua soberania. Sobre o ponto de vista interno, Poggi (1981) se baseia em Easton ao projetar a concepção do processo político de alocação de objetos valiosos limitados como caracterização de Estado. Consideram-se três modos básicos de estruturação desse processo: Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). O de costume, em que existe uma compreensão universal de prioridades. O de troca, em que se trocam objetos valiosos. O de ordem, em que a alocação é um movimento com expressiva ordem de alguém. 12 Assim, a política “trata da alocação e manipulação de um recurso”, resumida em prioridades. Mas, o que é esse Estado? Pierre Bourdieu tem como um dos pilares na sua teoria a ideia de campo. De fato, o Estado necessita de um povo vivendo em sociedade, a qual, segundo Bourdieu (2008), tem a característica de um espaço social, uma estrutura de diferenças. Essas estruturas têm um princípio de distribuição das formas de poder, e somente com esse entendimento se consegue entrar na ideia de espaço social como campo. Segundo Bourdieu (2001), os campos não são estruturas fixas, são produtos históricos resultantes do modo como foram constituídos. Bourdieu descreve o espaço social global como campo, Ao mesmo tempo como um campo de forças, cuja necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos, e como um campo de lutas, no interior do qual aos agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados, conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para conservação ou transformação da sua estrutura (2008, p. 50). O Estado também é um espaço social, logo, um campo. Ainda que Nicos Poulantzas não se refira a campo com a mesma definição científica de Bourdieu, esse autor relaciona o Estado com o conjunto do campo de lutas (POULANTZAS, 1985, p. 55), condensação, lugar de encontro de forças, onde se gera política, o que nos leva a uma ideia de tensão, um espaço de disputa. Poulantzas (1985) relaciona o Estado a uma “ossatura material própria que não pode de maneira alguma ser reduzida à simples dominação política”. Esse autor retrata bem esse tensionamento no interior do Estado, ao relatar que: É preciso abandonar definitivamente uma visão de Estado como um dispositivo unitário de alto a baixo, fundamentado numa repartição hierárquica homogênea dos centros de poder, em escala uniforme [...] A homogeneidade e a uniformidade do exercício do poder estariam garantidos pela regulamentação jurídica interna ao Estado [...]. Essa imagem é inteiramente falsa: o que não quer dizer, certamente, que o Estado atual não possua 13 uma trama hierárquica e burocrática. (POULANTZAS, 1985, p. 153-154). Ainda que Poulantzas não reduza a existência de Estado a um corpo burocrático, ele não descarta que o tenha. Poggi (1981) trata o assunto, ainda que de forma mais simples, falando do Estado como um corpo que “está internamente estruturado com uma organização formal e complexa”, cuja complexidade não está só nas relações sociais, mas também nas práticas burocráticas do aparelho estatal. Vocabulário Aparelho estatal: conjunto dos órgãos que representam o poder de um Estado. Max Weber (1994) descreve algumas características de um quadro administrativo burocrático, como pessoas livres e dedicadas ao ofício, nomeadas, com competências funcionais fixas, qualificadas profissionalmente, remuneradas em dinheiro, com perspectiva de carreira e submissão a um sistema rigoroso de disciplina e controle do serviço. É claro que, quando Weber fala em burocracia, ele se refere a um tipo ideal, de ordem impessoal, que seria o pilar da forma mais racional de dominação com níveis de rendimento e desempenho superiores, em decorrência da “precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiabilidade” (WEBER, 1994, p. 145). Ferraz (2011) destaca o papel do Estado Moderno como um “locus privilegiado de poder e uma função gerencial, reguladora ou política de fixação dos parâmetros de igualdade, assim como das ações para melhor promovê-la”. Ainda que Weber (1994) tenha colocado o Estado como possuidor do monopólio da violência legítima e formado por um corpo de servidores especializados (burocratas), o Estado Moderno evolui a ponto de que essas características, fundantes como poder social, não sejam únicas como 14 espaço de disputa. Poggi (1981) relaciona cinco características gerais do processo político dentro do Estado: Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Em resumo: A civilidade representa o controle do aparelho opressor e, consequentemente, a paz no Estado; A pluralidade de focos remete para a alocação de valores; As metas irrestritas conduzem aos alvos a ser legitimamente revisados pelo aparelho estatal; A controvérsia é em relação ao confronto de interesses e às prioridades pela pluralidade de focos; A centralidade das instituições representativas refere-se ao parlamento e à vida de negociações, enfatizando que o Estado só faz o que a lei permite. Essas características revelam a pluralidade do Estado, como prioridades, metas, o direito positivado e o conflito de ideias, ou em uma arena pública de debate institucionalizada e regulamentada, ou não. É nessa arena de disputa que a educação está inserida. Ainda que no caso brasileiro o direito à educação tenha sofrido um processo de evolução não linear e a conquista de sua declaração seja resultado de muita luta, de fato, hoje, a educação está na agenda de discussão, quando se discute os rumos da prioridade governamental. Além disso, a observação e a análise jurídica nos permitem sintetizar, conforme o Quadro 1.1, as características básicas do Estado Moderno. Pluralidade de focos M etas irrestritas Controvérsia Centralidadedas instituições Civilidade 15 Quadro 1.1 – Características do Estado Moderno Função Objetivo Território Delimitação dos limites territoriais e, consequen- temente, da autonomia do Estado nesses territórios. Monopólio da violência legítima e controle do aparelho opressor Um corpo especializado de forças auxiliares e militares, com objetivo de proteger a soberania do Estado, externamente, e o cumprimento das leis e da ordem pública, internamente. Aparato legal e jurídico Poder apartidário responsável pela interpretação das leis. Pluralidade de focos e metas irrestritas Pela complexidade do Estado, várias são suas prioridades, que perpassam desde a regulação da economia, às políticas sociais e ao atendimento da demanda social nas diversas esferas. Espaço de disputa e controvérsia A disputa pelo fundo público, pelas prioridades, pelo Poder e a divergência de ideias sobre as prioridades do Estado estão sempre na agenda de discussão. Regulação É o Estado que elabora e sanciona as leis, que devem ser cumpridas. Corpo burocrático especializado O funcionamento do Estado necessita de um corpo burocrático que, por meio de sua especialização, administre as finanças e gerencie todas as atividades. Diversidade e diferenciação Um Estado Moderno é marcado pelas diferenças, que demandam ações diferentes. Além disso, no caso brasileiro, a desigualdade demanda ações que visam diminuir esse abismo, exigindo políticas públicas. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Não é uma definição que se esgota por aqui, pois, devido à complexidade do Estado, é difícil defini-lo apenas em um quadro. Todavia, as funções listadas indicam como é complexa a referida instituição. A seção seguinte visa discutir as concepções que possam delimitar a administração e o gerenciamento do Estado Moderno. 16 1.2 Algumas concepções de Estado Conforme foi dito anteriormente, o surgimento e a consolidação do Estado Moderno trouxeram consigo algumas concepções de como a instituição lida com a administração e as prioridades do Estado. A Teoria Geral do Estado costuma atribuir três tipos de concepções: organicista, contratualista e formalista. Concepção organicista Coloca o Estado como superior e anterior ao indivíduo e funciona como um corpo, com órgãos que não podem ser separados entre si, com origem grega (Platão e Aristóteles). Concepção contratualista Alega que o Estado é obra humana, ou seja, suas características foram concebidas pelos indivíduos, é a concepção própria dos estóicos, filósofos que se utilizavam da lógica. Concepção formalista Difere das duas anteriores concepções, pois entende que o Estado não passa de um ordenamento jurídico centralizado, e a ordenação coercitiva é baseada no direito. Fonte: elaborado pelo autor (2017), adaptado pelo DI (2019). As duas primeiras concepções, apesar de conceituadas filosoficamente de forma diferente, reconhecem que o Estado tem soberania, povo e território, ou seja, há um aspecto sociológico reconhecido em ambas as concepções. No Estado moderno, existe uma série de correntes teóricas. No entanto, aqui, abordaremos as duas correntes mais contemporâneas: o Estado de Bem-Estar Social e o Neoliberalismo. Observamos que o aumento da complexidade do Estado sempre foi uma caraterística marcante (POGGI, 1981). Como exemplo dessa abordagem, há a corrente teórica de Estado, dominante até o final da década de 1970, denominada de Welfare State, ou Estado de Bem-Estar Social ou, em algumas nomenclaturas, de social-democrata. 17 Essa corrente teórica do Estado de Bem-Estar Social consistia em dar uma resposta à demanda por políticas voltadas para o fornecimento de serviços sociais (ARRETCHE, 1995). No entanto, tanto a corrente social-democrata quanto a neoliberal são baseadas em políticas que surgem aos poucos como resultado da necessidade de sobrevivência dos pobres, que são intensificadas desde o final do século XIX até sua grande abrangência, após 1960, em boa parte dos países. Na concepção social-democrata defendida pelos social-reformistas e trabalhistas, o Estado não deveria ser destruído, como pregavam os anarquistas, por exemplo, e sim deveria haver uma reorientação com vistas à implementação de políticas públicas que visassem ao bem comum, combatendo a desigualdade social e a pobreza. Isso seria o que, atualmente, conhecemos como programas sociais, voltados à urbanização, educação, saúde, habitação, alimentação, buscando, a longo prazo, a redução da miséria. Essa concepção começou a ser questionada em meio à crise do petróleo de 1979. A Teoria Geral do Estado costuma atribuir três tipos de concepções: organicista, contratualista e formalista. A expansão dos gastos na área social. O possível déficit dos Estados. A forma de organização e de financiamento dos programas sociais. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Em decorrência disso, a crise financeira, que não poderia suportar o financiamento dos programas sociais, a burocratização e a centralização excessiva, levou à perda de eficácia social e ao aumento dos conflitos sociopolíticos por causa da baixa capacidade de resistência da opinião pública. (DRAIBE; HENRIQUE, 1988). Nisso, surge o neoliberalismo com maior ênfase, e Ball (2014), com uma visão mais contemporânea, se fundamenta em autores que discutem o 18 neoliberalismo, no sentido de se pensar a respeito das novas redes políticas, do imaginário neoliberal e das suas implicações na educação. Na definição proposta por aquele autor, com base em outros pesquisadores, o neoliberalismo é definido como: Nem como doutrina econômica nem como um conjunto definido de projetos políticos. Pelo contrário, eu trato o neoliberalismo como um conjunto complexo, muitas vezes incoerente, instável e até mesmo contraditório de práticas que são organizadas em torno de certa imaginação do “mercado” como base para a “universalização das relações sociais baseadas no mercado, com a correspondente penetração em quase todos os aspectos de nossas vidas, do discurso e/ou das práticas de mercantilização, de acumulação de capital e de geração de lucros”. (WOOD apud BALL, 2014, p. 25). Ball (2014, p. 25) descreve que tal visão “reconhece tanto as relações materiais quanto as sociais envolvidas que são, ao mesmo tempo, o foco neomarxista sobre a economização da vida social e a criação de novas oportunidades de lucro”. Moraes (2002) refere que, em determinado momento, a burocracia como um empecilho à agilidade e eficiência, o desprezo pelos resultados, a morosidade, a busca por mais poder, o isolamento perante a cobrança por eficiência, entre outras, acabou por se transformar em características atribuídas ao serviço público. Em paralelo, a desqualificação do Estado, em relação ao seu controle fiscal e à oferta de serviços, ganhou popularidade. Concomitantemente, a descentralização de operações do Estado ganhou importância, o que não impediu de ele manter o poder normativo, a formulação de regras paramétricas de políticas públicas, a distribuição de recursos e as políticas de avaliação de desempenho. Vocabulário Paramétrico: tudo aquilo que contém um ou mais parâmetros a serem seguidos. 19 Na prática, a ideia dos neoconservadores era desqualificar os serviços puramente estatais e fundamentar o conceito do serviço privado como prática mais eficiente e de maior qualidade. Assim, para a teoria neoliberal, não era o capitalismo que estava em crise, e sim o Estado. Para as autoras Peroni, Oliveira e Fernandes (2009), a estratégia, portanto, era reformar o Estado e diminuir o tamanho de sua atuação para superara crise. Para os neoliberais, ao mercado coube a função de superar as falhas do Estado, baseadas nos gastos excessivos com políticas sociais e a regulamentação da economia, que restringiu a livre iniciativa. Assim, nos anos de 1980, o tatcherismo e o regganismo, referências a Margaret Thatcher e Ronald Reggan, respectivamente como Primeira- Ministra da Inglaterra e Presidente dos Estados Unidos da América na década de 1980 por dois mandatos, consolidaram as políticas neoliberais, com a intenção de reduzir o papel do Estado por meio da criação de quase mercados nos serviços públicos (entre eles a educação). A mudança de postura política do Estado passa a propor o que se chama de Estado Mínimo, ou seja, a prestação de serviços mínimos à população, reduzindo o investimento em políticas sociais, com incentivo evidenciado à iniciativa privada. (BARROSO, 2005). As duas potências mundiais, EUA e Inglaterra, influenciaram uma série de outros países em sua nova política econômica. Nesse processo de expansão das ideias neoliberais, em 1986, aconteceu o encontro denominado “Consenso de Washington” (BARROSO, 2005), onde as ideias propostas pelos países participantes foram adotadas como modelos, por organizações internacionais importantes, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BM) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Assim, surgiram propostas de financiamento por parte desses órgãos, mediante o cumprimento de metas por eles propostos. Segundo Moraes (2002), esse neoliberalismo, que tem como princípio inicial a ação na economia, acaba por aumentar o domínio do mercado, sendo o condutor 20 da realocação de recursos, distribuição de serviços, bens, rendas, além de financiador de engenhos, da ciência e entre outros. Portanto, resume-se essa discussão em duas vertentes: uma histórica e outra conceitual. Sobre a histórica, pudemos perceber, ainda que de forma pouco aprofundada, que o neoliberalismo teve influência nas políticas sociais e, consequentemente, educacionais. Sobre a conceitual, trabalhamos em duas frentes de conceito: Estado de Bem-Estar Social e Estado Neoliberal. O primeiro tem por objetivo atribuir ao Estado o papel de provedor das políticas sociais, entre elas a educação e, nesse sentido, o Estado age com maior influência. Além disso, como interventor, atua na regulação da economia com maior ênfase que a segunda concepção estatal. O segundo atribui à instituição o conceito de Estado Mínimo, com menor influência nos serviços públicos, mais privatizador e que deixa o aspecto econômico ser regulado pelo mercado. Ressalta-se que existem outras correntes teóricas de Estado, mas que, atualmente, poucos países adotam esse modelo, como o Totalitarismo, conduzido por um líder máximo, na perspectiva do Estado Total, ou seja, em que um líder é o centro e toda a massa se submete a ele, assim como todo o aparato da sociedade, que está sob seu comando. Como exemplo, temos o fascismo, o nazismo e o Stalinismo, que, apesar de ideologias diferentes, foram exemplos desse modelo estatal. Absolutismo é uma perspectiva na qual havia a necessidade de um Príncipe, um monarca, que seria o centro das leis e de toda a sociedade. Há autores, como Thomas Hobbes, que escreveram que a sociedade era regida por contrato, onde se comprometia a ser submissa ao soberano. Nicolau Maquiavel, no século XVI, defendia um Estado forte, amoral, e como um Príncipe absolutista no comando. Já Anarquismo defende a ausência do Estado. Para os anarquistas, o Estado não passa de uma fonte de opressão, seja ela comandada pela elite ou pelo proletariado. Por fim, o liberalismo via o Estado como um mal necessário e que deveria ficar longe dos negócios e dos mercados, defendendo a separação 21 dos três poderes autônomos (Executivo, Legislativo e Judiciário). O liberalismo democrático, em que, basicamente, fundamenta a democracia, e o marxismo, doutrina trabalhada por Karl Marx, que entendia que esse modelo de Estado só atendia à classe dominante, devendo ser substituído por uma Ditadura do Proletariado e, posteriormente, à medida que o comunismo fosse instaurado e as classes abolidas, o Estado também seria extinto. Conclusão da aula 1 Percebe-se que a densidade dos Estados Modernos é caracterizada pela complexidade das funções que foram adquiridas historicamente. Além disso, as concepções e teorias do Estado são importantes, pois é a partir delas que um determinado grupo de governantes orientará suas ações. Atividade de aprendizagem Nesta aula, estudamos duas concepções de Estado complexas: o Estado de Bem-Estar Social e o Neoliberal. Nesse sentido, como você avalia a questão de a educação pública ser ofertada com mais qualidade? Escreva sobre isso. Aula 2 – Política, poder e democracia Apresentação da aula 2 Olá, estudante! Seja bem-vindo (a) à segunda aula da disciplina de Políticas Educacionais. Nela, veremos os três conceitos da política educacional. 22 São três os conceitos fundamentais para o entendimento da política educacional: Política, Poder e Democracia. Apesar de haver uma série de definições, faz-se necessário que a nossa disciplina adote algumas delas, de modo a nos permitir conhecer um pouco sobre as ações do Estado na execução das políticas públicas. Quem faz política tem por objetivo o Poder e, neste sentido, se faz necessária a compreensão de como se dá essa relação. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 2.1 Política e poder - uma relação indissociável A política está diretamente relacionada às relações de disputa de poder, conceito que, para Weber (2002, p. 97), se define como “a oportunidade existente dentro de uma relação social que permite a alguém impor a sua própria vontade mesmo contra a resistência e independentemente da base na qual esta oportunidade se fundamenta”, ou seja, exercer o poder significa impor sua vontade a outrem, independentemente da vontade do outro. Nem sempre o poder é exercido com legitimidade, e as ações políticas são definições mais abrangentes, pautadas nas negociações governamentais, sejam em reivindicações individuais, sejam coletivas 23 (associações, sindicatos, e entre outros), ou na manutenção da ordem e estabilidade estatal. Weber (2011, p. 67) define política como “o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado”. Em suma, segundo o autor, “todo homem que se entrega à política aspira ao poder”, em outras palavras, fazer política é “sentar-se à mesa”, coloquialmente falando. Nesse sentido, o poder, definido por Weber, pode ser melhor explicitado, tendo em vista que, até para o próprio autor, fazer o que as pessoas querem que você faça, independentemente da vontade delas, não é a única forma de exercer o poder. Em Weber (2002, p. 97), entende-se o conceito de dominação como um tipo particular de poder, como “a oportunidade de ter um comando de um dado conteúdo específico, obedecido por um dado grupo de pessoas”. Weber (1994) descreve dominação como a probabilidade de conseguir obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas. A relação de dominação se faz na crença da legitimidade, e a natureza desta define o tipo de obediência e o quadro administrativo que a vai manter. Ainda segundo Weber (1994, 2008), existe uma dominação do Estado em relação aos seus habitantes. Para ele, o Estado só pode existir sob a condição de que “os homens dominados se submetam à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores”. (WEBER, 2011, p. 67-68).Apesar de se limitar a três tipos puros de dominação, racional-legal, carismática ou tradicional, o autor declara que as dominações raramente se encontram em tipos puros. Uma vez que a natureza da legitimidade define o tipo de dominação, Weber (1994, p. 141) apresenta três fundamentos de legitimidade, considerando que os tipos puros legitimam a dominação e a obediência: De caráter racional: baseada na crença da legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal). De caráter tradicional: Baseada na crença cotidiana da santidade das tradições vigentes desde sempre e na 24 legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade (dominação tradicional). De caráter carismático: baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heroico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por ela reveladas ou criadas (dominação carismática), (WEBER, 1994, p. 141). Portanto, esse tipo “especial” de poder é interessante para se pensar no Estado Moderno, já que a sociedade, de modo geral, vive sob regras estabelecidas por ele e, consequentemente, costuma segui-las. Quando isso não acontece, a dominação deixa de ser o poder exercido, o instrumento legal, jurídico do monopólio da violência que age de forma a obrigar o sujeito a seguir as normativas do Estado, culminando no tipo de poder de mando. Ainda que a dominação não seja um tipo de poder coercitivo, e sim legitimado, não é a única forma de poder. Como bem define Souza (2007, p. 137), há uma “face obscura, sempre presente, e legítima, mas de percepção menos evidente”, que Pierre Bourdieu define como Poder Simbólico. Para o sociólogo francês Bourdieu (2004, p. 7-8), o referido termo se define como “esse poder invisível, que só é exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Souza (2007) comenta esse tipo de poder, particularizando questões como o coletivo de professores e suas ideias para os pais/responsáveis das crianças, e a imposição de ideias de uma diretora que, eventualmente, não é contestada pelo Poder Simbólico, indo até questões de gênero, como a frequente masculinização das posições de chefia, como resultado do papel construído pela sociedade em relação à posição do homem e da mulher. No conceito de Bourdieu, o Poder Simbólico é pouco aplicável à disputa política no interior do Estado, pois tais disputas visam a um lugar de destaque no poder de mando e, eventualmente, de dominação legítima. Ainda assim, esse poder se manifesta em algumas relações entre técnicos de secretarias de educação e professores, uma vez que não há um poder de mando específico, mas invisível, que alguns docentes não fazem questão de saber quem o exerce. 25 Ademais, compreendendo essa relação entre política e poder, passaremos a ver o que é democracia e como ela se dá no Estado Moderno. 2.1.1 Democracia Inicialmente, a democracia formal envolve o pressuposto do respeito à maioria. Todavia, a assunção de determinado sujeito, por meio da democracia ou não, envolve política e busca o poder, o que não é tão simples assim. O princípio democrático é o diálogo, a alteridade, pensar e refletir sobre a opinião dos outros, buscar argumentos para defender a sua, ou seja, em um contexto onde as pessoas são pouco politizadas, eventualmente, elas se reúnem em defesa de uma ideia e, por meio da força da maioria, conseguem seus objetivos, que é o poder. A democracia pode se tornar mais “violenta” que um poder ditatorial, por exemplo. Vocabulário Alteridade: circunstância, condição ou característica que se desenvolve por relações de diferença, de contraste. Pensar democraticamente é, inicialmente, entender que o diálogo, o debate, é condição para que esta se efetive. Souza (2007) utiliza a expressão “mais ou menos democrático”, no sentido de que, no caso de sua discussão, a gestão de uma escola, por exemplo, pode ter um maior ou menor nível de democracia. Norberto Bobbio, citado por Souza (2007, p. 147), define a democracia como algo instrumental: Um conjunto de regras e procedimentos para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada mais ampla possível dos interessados”, ou ainda “a democracia é caracterizada por um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos. 26 Nesse sentido, não existe democracia sem regras e procedimentos, sem um corpo especializado de funcionários que possam definir e controlar os respectivos procedimentos. Considera-se, então, que a burocracia em Weber (1994), tida como o tipo mais efetivo de dominação, tem como base um corpo técnico especializado que domina e segue à risca um conjunto de regras, sem envolvimento político, e uma estrutura fundamental para efetivar a democracia, pelo menos em termos de organização. Voltando-se para a obra de Bobbio (2000), ele entende a democracia como um tipo de relação social que se construiu no interior do Estado Democrático de Direito, no entanto, apesar de seu caráter de representação, apresenta uma série de problemas, como, por exemplo, a sua efetivação em termos de rotatividade de dirigentes ou de grupos políticos. Ao se observar os grupos políticos que comandam a administração pública e o legislativo em nosso país, nota-se que eles se mantêm e se repetem no poder e, dificilmente, são renovados, o que caracteriza uma espécie de poder simbólico, uma vez que, mesmo em um quadro político que dificilmente se transforma, os cidadãos votam nos mesmos que há anos estão no poder. Souza (2007) dialoga com Bobbio e comenta sobre o tema, dizendo que, em uma democracia real, ela deveria ter como ponto de chegada a diminuição e, eventualmente, a superação das desigualdades sociais. Afinal, segundo aquele autor, são essas desigualdades que fazem com que a democracia seja menos efetivada, uma vez que, apesar do voto universal, o menor capital cultural e a reduzida educação política acabam por diminuir a vontade política do sujeito. O histórico da democracia no Brasil deve ser levado em consideração. 27 Importante Ferraz (2011, p.15) considera que nem com muita boa vontade os períodos Imperial e colonial podem ser chamados de democráticos. Posteriormente a isso, na fase da Primeira República, não houve a conclusão dos mandatos de praticamente nenhum presidente, pois, mesmo sendo eleitos, seus votos eram obtidos à base da força, o que a história chamou de “voto de cabresto”. E essa cultura brasileira, de pouca intimidade com a democracia, estendeu-se durante boa parte do século XX. Ferraz (2011) dialoga em seu texto com Francisco de Oliveira e percebe que, entre golpes e ações antidemocráticas de assunção do poder, o Brasil se caracteriza em seu percurso histórico como um país desacostumado à democracia. De fato, se pensarmos desde 1937 até 2000, o nosso país tem apenas 27 anos de democracia na eleição do Presidente da República, por exemplo, visto que, nesse período, tivemos duas ditaduras militares, somando 29 anos; um mandato de 5 anos por eleição indireta; e um mandato de 2 anos, com o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Com isso, resta-nos entender como é que a democracia pode ser um fator agregado à discussão das políticas educacionais, seja no interior da instituição de ensino, seja fora dela. 2.1.2 Possibilidades de discussão democrática na gestão dos sistemas de ensino e das escolas A gestão democrática do ensino é regulada pelo artigo 14 da LDB, que estabelece a necessidade da participação dos profissionais do magistério na construção da proposta pedagógicae da comunidade escolar, em conselhos escolares ou equivalentes. Uma vez que a gestão democrática do ensino é um princípio da educação no país, prevista no art. 206 da Constituição Federal de 1988 e no 28 art. 3º da LDB, entende-se a democracia como possibilidade de diminuir as desigualdades sociais e aumentar o diálogo acerca dos problemas e possibilidades de solução, em um sistema de ensino ou em uma escola, seja do ponto de vista da qualidade da educação, seja da sensação de pertencimento do cidadão à escola e ao município/estado. Nesse sentido, nesta aula, discutimos possibilidades de explorar instrumentos de gestão democrática no ambiente educacional. Souza et al. (2005) propõem cinco instrumentos que, para os autores, são considerados fundamentais para a democratização dos sistemas. São eles: Conferência da Educação; Conselho Municipal de Educação; Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundef (atualmente, Fundeb); Orçamento Participativo (na educação); Eleições de dirigentes escolares. A Conferência de Educação, por meio da organização de um grupo ou de um gestor, reúne-se em encontros anuais ou bienais com toda população, para debater questões importantes, voltadas para os temas que envolvem a política educacional. Ainda que os autores tenham trabalhado com a perspectiva municipal, atualmente a grande conferência de educação no país é a Conferência Nacional da Educação – CONAE–, que reúne não somente a comunidade acadêmica, mas vários fóruns e setores da sociedade civil, para discutir a efetividade do Plano Nacional de Educação e traçar prioridades da política educacional para o futuro. Já o Conselho Municipal de Educação, formado por um grupo fechado, cujos componentes, eleitos ou indicados, representam diversos segmentos sociais, reúne-se mais frequentemente e, dependendo das atribuições propostas por legislação complementar, podem deliberar, orientar e fiscalizar os sistemas de ensino. 29 Conselho Nacional de Educação Fonte:https://lh3.googleusercontent.com/eayr2m- aXFQkjtnvNjj_ty2zRLi5PhfDNOGs9 7t8tATqxVeNkoOhjNi1lesf-fnNUFQp=s128 O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb busca a fiscalização dos gastos do respectivo fundo, o que ainda é um problema, uma vez que esse conselho deveria ser composto por conselheiros com um conhecimento técnico em financiamento da educação, o que acontece pouco. O orçamento participativo visa reunir a população para debater sobre os gastos, em particular educacionais, que excedem o mínimo que a lei estabelece para gastos em manutenção e desenvolvimento do ensino. 30 Sessão do orçamento participativo Fonte:https://lh3.googleusercontent.com/b96MTZPK1S6tur1RV_lDL02f1Nexgn02nQ94Iw kvqrkM2KnVX6X2PwKGhIw8SvlykwM5hpM=s127 Por fim, a eleição direta para a escolha dos dirigentes é importante em termos de democracia participativa nas escolas. Souza et al. (2005), a respeito da democracia nas escolas, listam outros cinco instrumentos, a saber: Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Conferência local da Comunidade Conselho de Escola Rotatividade no Quadro de dirigentes da Escola. Associação de Pais Grêmio Estudantil 31 2.3 Rotatividade no quadro de dirigentes da Escola A Conferência Local da Comunidades Escolar equivale à Conferência de Educação, pelo seu intuito de reunir toda a comunidade escolar em busca de uma discussão coletiva acerca dos problemas da escola e do seu entorno. Já o Conselho de Escola tem por objetivo coordenar a gestão escolar, por meio do estudo, planejamento, debate, deliberação e acompanhamento do dia a dia da instituição de ensino, seja na parte pedagógica e administrativa, seja na financeira. Esse conselho é uma representatividade que, teoricamente, deveria ser eleita, mas, normalmente, é uma indicação da direção. A efetividade do conselho, assim como a das suas discussões, precisa de pesquisas aprofundadas e de um maior entendimento da comunidade escolar a respeito dos processos decisórios coletivos. A rotatividade do dirigente é descrita, pelos referidos autores, como favorável ao ambiente escolar. A cadeira do diretor escolar como um trono eterno não é interessante, pois, além de distorcer o caráter democrático, também não renova as ideias acerca da gestão da instituição. Por fim, a associação de pais e o grêmio estudantil são consideradas relevantes para o processo de gestão democrática. Para que os instrumentos de gestão dos sistemas tenham maior efetividade, o que significa haver mais diálogo acerca dos problemas e das soluções em matéria educacional, é necessário que haja a vontade política dos governantes e o amplo debate com a comunidade, buscando maior politização da população e, consequentemente, uma ampliação qualitativa da democracia. Não menos importante na gestão em escolas, é importante o diálogo e aproximar a comunidade do local de ensino, possibilitando a formação política da população local e a consciência de pertencimento à escola. Com isso, é possível ampliar a democracia nos processos decisórios e nas discussões acerca dos problemas locais em termos educacionais. 32 O tópico que se segue resume, de forma sintética, o contexto democrático da nossa Constituição Federal de 1988, no sentido de entendermos o Estado Democrático de Direito e como ele se efetiva. 2.3.1 Constituição Federal de 1988 e a democracia Constituição federal Fonte:https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSd5H8oVidX8-v- NBn1RVIjBSvJ7zjkzHGuaGtnAc3ZaZLiaMne4aSF A intencionalidade da CF/88 se inicia logo no preâmbulo, quando define que: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (BRASIL, p.10,1988). A Constituição Federal do Brasil tem uma série de contradições, como, por exemplo, ao citar no preâmbulo a proteção de Deus, mas estabelece a laicidade do Estado no art. 19. Todavia, pensando no tema de que estamos tratando nesta aula, no conteúdo de tal citação, percebem-se traços democráticos e de liberdade, além da intenção de instituir um Estado Democrático. 33 Posteriormente, o artigo 1º indica que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em um Estado Democrático de Direito, o que define, de forma direta, o modelo de Estado brasileiro. Além disso, ainda nesse artigo, o parágrafo único descreve que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, o que caracteriza a democracia representativa. A ameaça contra o Estado Democrático de Direito também constitui crime inafiançável, conforme prescreve o art. 5º, no seu inciso XLIV. Com respeito à criação de partidos políticos, faz-se uma ressalva para que tal criação não seja contra o regime democrático estabelecido pela Constituição. A autonomia dos estados e municípios é resguardada na Constituição Federal, entretanto, o artigo 34 discorre que“A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para casos como a garantia de princípios constitucionais, como a forma republicana, o sistema representativo e o regime democrático”. O Conselho de Defesa Nacional, normatizado na CF/88, tem como uma de suas premissas a defesa do Estado Democrático de Direito, assim como o Ministério Público. Além disso, ainda na forma da lei, os princípios de gestão democrática, no que se refere à matéria educacional, assim como à cultura, compõem outras questões na nossa Constituição, que se caracteriza em matéria de democracia como uma Carta Magna que normatiza um Estado Democrático de Direito. Conclusão da aula 2 Nesta aula, vimos que política, poder e democracia são questões que se intercomunicam. Não há como se chegar ao poder sem fazer política, pois fazer política é aspirar ao poder. 34 Em uma democracia, é necessária uma organização formal, burocrática, que possibilite a sua construção. Nesse sentido, vimos que os processos de decisão coletiva criam um ambiente mais democrático do que simplesmente a eleição de um líder político por parte da maioria. Atividade de aprendizagem Se a democracia exige, para seu êxito, que os cidadãos tenham formação política e consciência democrática, certamente há uma falta delas em nosso país, por algumas razões já trabalhadas nesta disciplina. Assim sendo: 1. Qual a percepção que você, como cidadão, tem a esse respeito? 2. Como o sistema educacional poderia contribuir para que, gradualmente, a sociedade fosse mais politizada e, consequentemente, tivéssemos a democracia mais consolidada? Aula 3 – A organização do Estado brasileiro e sua relação com a estrutura da educação brasileira Apresentação da aula 3 Olá, estudante! Seja bem-vindo (a) à terceira aula desta disciplina. A organização do estado brasileiro, como República Federativa, tem relação direta com a estrutura da educação brasileira. Tal relação é importante, na medida em que é por meio dela que se caracteriza a pluralidade de sistemas/redes de ensino e consequentemente formas de administração, gestão da educação. 35 Mapa do brasil com estados e capitais Fonte: http://www.baixarmapas.com.br/mapa-do-brasil-estados-e-capitais/ Além disso, as condições financeiras, permeadas pelo financiamento da educação, se diferenciam, já que cada ente federativo tem um potencial de investimento no que se refere à educação e nas demais políticas sociais. Vocabulário Entes federativos: são formados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O Brasil tem um histórico legal de avanços e retrocessos, em particular, quando se analisa o direito à educação estabelecido na lei. Todavia, alguns estados e municípios, em decorrência da evolução econômica desigual, acabaram adquirindo maior potencial de investimento em educação que outros. http://www.baixarmapas.com.br/mapa-do-brasil-estados-e-capitais/ 36 Nesse sentido, é importante entender a organização do Estado brasileiro e sua relação com a estrutura educacional, buscando entender essa desigualdade. 3.1 Organização do Estado brasileiro A esse respeito, Tavares e Zander (2011, s/p.) abordam que a: “Constituição dos Estados nacionais incluiu, como tarefa do Estado, a organização de sistemas públicos de ensino”. Quando se olha a evolução do direito à educação no Brasil, é possível concluir que tal responsabilidade sofreu avanços e retrocessos ao longo do seu percurso histórico. Ao analisar a história da educação na constituição, podemos observar que a caminhada do Brasil, como país periférico, não foi linear e tampouco igual em todos os seus territórios. Esta desigualdade territorial marca o desenvolvimento da educação no nosso país. Vejamos, então, como ele se organiza. A Constituição Federal estabelece, em seu art. 1º, que somos uma República Federativa que, “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito”. O Brasil é formado por 26 estados, um Distrito Federal e 5571 municípios distribuídos por esses estados. No decorrer dos 17 artigos posteriores, o documento constitucional detalha essa ideia, e nos artigos 18 ao 22 estabelece as competências dos entes. Assim, a União detém determinados poderes e mantém a autonomia de estados e municípios sobre outras competências, principalmente administrativas. Isso, teoricamente, ajuda no controle estatal da complexidade do Estado moderno e nos diversos serviços por ele prestados à população, entre eles a educação. Os estados e os municípios possuem três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, com exceção dos entes federativos municipais que, por não terem esse último poder, por vezes, são questionados pela literatura 37 acadêmica, em particular pelo Direito Constitucional, pela sua posição como entes federados. O Poder Executivo tem por objetivo a administração/gestão dos recursos e das instituições públicas do ente federativo municipal, estadual ou União, sendo os seus respectivos chefes o Prefeito, o Governador e o Presidente da República, funções que são normatizadas pela Constituição Federal. Eles são responsáveis por proteger as leis, mas suas funções são limitadas e moderadas pelos demais Poderes. O Poder Legislativo, presente nas três dependências administrativas: federal, estadual e municipal, que são responsáveis pela elaboração e discussão das leis, sendo que sua constituição varia de acordo com o tamanho da população do ente federativo. O objetivo básico desse Poder é elaborar as leis que regulam o Estado, as organizações privadas/públicas e a conduta dos cidadãos, no caso de leis estaduais e municipais, para os estados e municípios. O Poder Judiciário tem por função básica a interpretação da lei. É ele que, por intermédio dos seus juízes, tem o poder-dever de estabelecer, mediante normativas legais, os direitos aos cidadãos brasileiros, mediando possíveis conflitos. Ele não deve se envolver em qualquer filiação político- partidária, o que, teoricamente, o torna um poder apartidário, sem envolvimento político. Há, entretanto, uma tendência centralizadora no Brasil, considerando que a União controla a distribuição de recursos e normatiza algumas formas de investimento, por exemplo. Nessa organização, com entes federativos autônomos para legislar e administrar seus recursos, não se pode perder de vista as normativas constitucionais e, no caso dos municípios, as leis estaduais. A CF/88 é a Carta Magna que rege todas as demais normativas legais do país, pois ela serve como um modelo de Estado Democrático de Direito e, baseado em sua intencionalidade, as demais normativas, sejam elas federais, estaduais ou municipais, não podem entrar em conflito com a referida Constituição, sendo o mesmo válido em relação à educação. 38 3.1.1 Estrutura da educação no Brasil e as responsabilidades educacionais dos entes federados Dois assuntos precisam ser explorados nesta aula: a composição da estrutura educacional brasileira e a quem compete a responsabilidade pela oferta da educação. Como já vimos anteriormente, o artigo 6º da CF/88 estabelece que a educação é um direito social. Além disso, ela é de Direito Público Subjetivo, conceito definido no artigo 208 da CF/88 e no art. 5º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Vocabulário Direito Público Subjetivo: significa poder; é o conjunto de faculdades que as pessoas têm, conferido pela regra de direito. É prerrogativa de que uma pessoa é titular. É a faculdade reconhecida à pessoa pela lei e que lhe permite realizar determinados atos. É a faculdade do ser humano deinvocar a lei na defesa de seus interesses. Fonte:<https://www.arquer.com.br/educacaoe-cultura/qual-a-diferenca- entre-direi to-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ >. Tal conceito é importante, na medida em que estabelece que a não oferta da escolarização obrigatória, pelo ente federativo responsável, obriga a autoridade competente a responder criminalmente. Além disso, a compulsoriedade da educação, que consiste em uma responsabilidade de mão dupla que obriga o Poder Público a ofertá-la e os pais ou responsáveis das crianças e adolescentes a matricular e a zelar pela frequência deles à escola, auxilia a entender a importância que o tema educacional adquiriu a partir de 1988. https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ https://www.arquer.com.br/educacao-e-cultura/qual-a-diferenca-entre-direito-publico-subjetivo-e-objetivo-e-na-educacao/ 39 3.1.2 Síntese da estrutura educacional do Brasil A Constituição Federal, no seu texto, não estabelece as etapas da educação básica e superior, ainda que o art. 208 estabeleça os deveres do Estado relativamente à oferta educacional. As definições sobre as etapas de ensino estão delineadas no Capítulo I da LDB, em particular no Título V, no que se refere aos níveis e modalidades da educação e ensino, estabelecendo diretamente a composição dos níveis escolares. O art. 21 menciona que a educação escolar no Brasil é composta pela educação básica, que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, e a educação superior. Tais níveis são tratados de forma distinta na LDB. Na educação básica, há uma série de artigos que tratam dessa matéria, de forma a estabelecer o perfil da organização da educação pública no Brasil, em um modelo que oferece autonomia aos sistemas/redes de ensino no país, e deixar em aberto as diversas formas de organização de calendários, avaliações, progressões, entre outros. Em relação à Educação Superior, composta pela graduação e a pós- graduação (Lato Sensu e Stricto Sensu), as normativas são no sentido de orientar a abertura e o credenciamento de universidades, assim como a estrutura do nível de ensino de forma ampla. Para cada etapa da Educação Básica, algumas normativas são reguladas, como carga horária mínima, formas de classificação e progressão, organização por classes, turmas, séries, ciclos, avaliação educacional, obrigatoriedade de recuperação paralela, controle de frequência pela instituição de ensino e a emissão de documentos oficiais escolares. Outras questões também são tratadas, como a especificidade da Educação Especial, algumas características como o ensino da história afro- brasileira e indígena, valores incutidos nos currículos escolares, o trabalho transversal com Direitos Humanos, tendo como documento norteador o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), assim como definições para a 40 modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Técnica Profissional, entre outras. Ressalta-se, ainda, a obrigatoriedade da escolarização básica na faixa etária dos 4 aos 17 anos, o que compreende, em progressão regular de ensino, a Educação Infantil (Pré-escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Outras questões são reguladas durante os 92 artigos da referida normativa, como a discussão acerca da necessidade de insumos mínimos para a garantida de um padrão de qualidade, a regulação sobre os profissionais da educação, assim como sobre gastos em manutenção e desenvolvimento do ensino. No que se refere à educação superior, a referida lei aborda as responsabilidades da União e, eventualmente, dos estados, na regulamentação das instituições de ensino e cursos, assim como outras características que são inerentes à graduação e pós-graduação. Em relação à estrutura da educação no Brasil, há que se considerar que é necessário o entendimento de quem são as responsabilidades educacionais. Ao compreender essa questão, também é possível caracterizar o envolvimento dos entes federativos na oferta da educação, assunto que veremos a seguir. 3.2 Responsabilidades educacionais dos entes federativos Após a Promulgação da Constituição Cidadã de 1988, a educação passou a ser um direito social (art. 6º), e o status de entes federados dos municípios contribuiu para o aumento das responsabilidades deles, inclusive em matéria educacional. 41 A Constituição, modificada pela Emenda Constitucional n. 14/96, em seu art. 211, define as ofertas prioritárias dos entes da seguinte maneira: § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva esupletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na Educação Infantil; § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente nos ensinos Fundamental e Médio. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Nesse sentido, a União entra como um caráter complementar e, eventualmente, suplementar. Esse papel é regulado em uma série de legislações brasileiras, como na própria LDB, no Plano Nacional de Educação, na lei n. 11. 494/07, que regula a redistribuição de recursos via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais do Magistério (Fundeb), entre outros. Existe um conflito de prioridades nos parágrafos 2º e 3º, que prevê que a oferta do ensino fundamental seja, prioritariamente, da competência dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Na prática, a Educação Infantil é de responsabilidade dos municípios e o Ensino Fundamental é compartilhado com os estados, em que a estratégia para a oferta e o atendimento da demanda educacional de forma integral é o regime de colaboração, o qual veremos posteriormente. Alguns municípios optam por priorizar os anos iniciais da educação básica, enquanto os anos finais ficam a cargo dos estados. Em vários municípios, onde a municipalização (conceito que também será abordado nesta disciplina) é mais forte, a oferta do Ensino Fundamental, em todas as suas etapas, é de responsabilidade municipal. 42 Há municípios onde a arrecadação e as condições financeiras ainda não estão preparadas para iniciar a administração de um sistema de ensino, neste caso, caberá aos estados assumirem a responsabilidade pela oferta educacional, com exceção da Educação Infantil. Como vimos, a Constituição Federal reforça o caráter complementar da assistência técnica e financeira da União aos estados, municípios e Distrito Federal. No entanto, existe uma série de obrigações legais do ente maior (União) para com a educação. Segundo o art. 8º da LDB, cabe à União a “coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais”. Assim, o art. 9º descreve as obrigações da União da seguinte forma: I - Elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - Organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; III - Prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva; IV - Estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; V - Coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - Assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, 43 em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; VII - Baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós- graduação; VIII - Assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; IX - Autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. É interessante referir que aspectos relacionados ao financiamento da educação são fundamentais para o entendimento do potencial financeiro de investimento em educação no Brasil. Por ora, apenas importa enfatizar o papel complementar que a União tem nesse processo. Apesar de não estar definido com exatidão, o conceito de regime de colaboração é importante, pois é por meio dele que os entes federativos com menor capacidade de investimento têm regulamentado a possibilidade de serem auxiliados pelos estados e pela União, em relação à assistência técnica, financeira e supletiva. Como responsabilidade principal, cabe a esses entes federados assegurar a oferta de ensino fundamental e atender a demanda de ensino médio. A universalização do Ensino Fundamental, antigo 1º grau, é política pública desde a lei n. 5.692/71. No entanto, após 1988, tal etapa de ensino é descrita como obrigatória no texto constitucional, sendo substituída pelo texto da Emenda Constitucional n. 59/09, que estende a obrigatoriedade de ensino dos 4 aos 17 anos. Isso implica mais responsabilidade para os estados, pois, estudantes que antes não tinham obrigação de frequentarem a escola, agora devem ser atendidos prioritariamente, em particular os do Ensino Médio. 44 A universalização do Ensino Médio é um grande desafio. Os dados de 2013, por exemplo, indicam que apenas 53% dos jovens de 15 a 17 anos frequentam a referida etapa. Segundo o Plano Nacional de Educação, lei n°. 13.005/14, a universalização do atendimento educacional a essa faixa etária teria o ano de 2016, como prazo. Os dados educacionais, combinados com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o cumprimento dessa meta está longe de acontecer na prática. O art. 10 da LDB sintetiza as responsabilidades dos estados e Distrito Federal com respeito à educação da seguinte forma: I Organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II Definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do Ensino Fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; III Elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios; IV Autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V Baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; VI Assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei. VII Assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. Parágrafo único Ao Distrito Federal, aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios. O artigo 10 da LDB Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 45 Chamo a atenção do estudante para o inciso VI, que referencia o art. 38. Ele trata da Educação de Jovens e Adultos, uma oferta que ainda mantém um status marginal no país e tão importante para boa parte da população que não teve oportunidade de se escolarizar na idade certa. Além disso, o art. 69 da referida lei estabelece o investimento mínimo de vinte e cinco por cento da receita de impostos e transferências constitucionais, em particular do Fundeb, para manutenção e desenvolvimento do ensino. Os municípios, reconhecidos como entes federados na CF/88, tiveram um aumento em suas responsabilidades
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