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1 Disciplina: Políticas e Gestão na Educação Autores: M.e Jokasta Pires Vieira Ferraz Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva Revisão Ortográfica: Jaqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Jokasta Pires Vieira Ferraz Políticas e Gestão na Educação 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA FERRAZ, Jokasta Pires Vieira. Políticas e Gestão na Educação / Jokasta Pires Vieira Ferraz. – Curitiba, 2016. 47 p. Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Políticas e Gestão na Educação – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-5475-042-8 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, bem como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz. 5 Apresentação da disciplina Estudar políticas e gestão na educação é ir além da sala de aula e extrapolar os muros da escola para entender as questões macros, que embora pareçam distantes da escola, estão intimamente ligadas com diversas condições presentes na vida escolar dos alunos e dos profissional da educação. A fundamentação de três conceitos principais inicia a disciplina, elucidando os conceitos de: Estado, Política e Gestão. A compreensão sobre a administração e a gestão escolar faz com que as práticas sejam repensadas, por vezes a gestão da escola é feita de forma intuitiva ou buscando somente atender a demandas burocráticas, as que se executada sem a devida articulação, se distanciará o trabalho pedagógico. Além, das questões intraescolares, estudar as políticas à nível nacional fornece o panorama de como as políticas públicas para educação interferem no cotidiano da escola. O professor, quando estuda sobre políticas e gestão na educação pode vislumbrar fatores que são externos ao planejamento das aulas (elaboração de avaliações e correções atividades), e o gestor escolar quando busca estudar e fundamentar sua prática faz refletir sobre como a gestão da escola deve estar a serviço do trabalho pedagógico para garantia do direito a educação. 6 Aula 1 – Estado, política e gestão Apresentação Aula 1 Nesta aula serão discutidos alguns aspectos gerais e fundamentais para aprofundarmos na temática. Serão trabalhados os conceitos que estão ligados principalmente ao campo da sociologia (Estado e política) e com o conceito de gestão que pode transitar tanto pelo campo da educação como pelo empresarial, diferenciar esses conceitos é fundamental para as próximas aulas. 1. Estado e governo É usual, no senso comum, usar os termos Estado e Governo como sinônimos, mas faz-se necessário diferenciar os dois termos. O Governo é transitório e gere o Estado, que por sua vez, esta ligada a um Território. Na tipologia das formas de governo, leva-se mais em conta a estrutura de poder e as relações entre os vários órgãos dos quais a constituição solicita o exercício do poder; na tipologia dos tipos de Estado, mais as relações de classe, a relação entre o sistema de poder e a sociedade subjacente, as ideologias e os fins, as características históricas e sociológicas. (BOBBIO, 1987. p.104). Portanto, Estado e Governo não se constituem em sinônimos. Ví deo Assista o vídeo O que é Estado e Governo, de Luiza Blocker, o qual explica de maneira direta as diferenças entre o Estado e o Governo. Link: https://www.youtube.com/watch?v=iy5VB-GgI9A https://www.youtube.com/watch?v=iy5VB-GgI9A 7 1.1 Conceituando Governo Pode-se listar vários tipos de governo, mas iremos tratar apenas dos regimes de Monarquia e República e das formas de governar autoritária e democrática. A Monarquia, está ligada a ideia de hereditariedade, e a República pode ter duas variáveis da figura central governamental, podendo ser um sujeito ou eleito mediante voto ou um grupo. Outra forma de governo é o Autoritarismo, onde a participação popular é negada, e ao contrário desta tem-se o governo Democrático, que preza a participação da população nas decisões, onde temos governantes eleitos e a iniciativa popular deve ser ouvida e leva em consideração nas decisões para condução da gestão do Estado. A Democracia pode adotar formar de condução, a Democracia pode ser direta, por exemplo, com decisões coletivas, onde todos os indivíduos tem participação ou indireta, quando por meio de colegiados, constituídos por representantes de diversos segmentos, onde ações e decisões são tomadas. O Estado Brasileiro, já passou por diferentes configurações quanto aos tipos de governo, como podemos observar na imagem abaixo, que relaciona as constituições que o Estado Brasileiro já teve e suas respectivas formas e sistemas de governo. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A FORMA E SISTEMA DE GOVERNO CONSTITUIÇÃO FORMA E SISTEMA DE GOVERNO 1824 Monarquia hereditária constitucional e representativa 1891 República presidencialista 1934 República presidencialista 1937 República presidencialista 1946 República presidencialista (1961/1962) – Parlamentarismo 1967 Ditadura Militar 8 1988 República presidencialista Fonte: Elaborada pelo DI (2016). O Governo enquanto algo transitório e depende das conjecturas políticas presentes na sociedade, porém este governo não pode agir em discordância com a constituição vigente, e deve preservar os fundamentos do Estado Brasileiro, enquanto um estado democrático de direito. Segundo o artigo primeiro da Constituição Federal de 1988, a República Federativa do Brasil: formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988). CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 [...] TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livreiniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. [...] Disponível na integra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm 1.2 Conceituando Estado 9 Assim como o Governo é caracterizado por relações políticas, o Estado também o é, com a estrutura mais sólida e de difícil alteração (quando estabilizada), justamente por ser uma construção social de período amplo de consolidação. Curiosidade O Estado é uma forma de organização política que surgiu na Europa na época moderna (entre o século XIV e o século XVIII). Certas sociedades da antiguidade conheceram formas de organização política muito aperfeiçoadas, mas os Estados europeus e americanos caracterizavam-se, ao fim de um ou dois séculos, por traços comuns e específicos que permitem dar um conteúdo preciso à noção de Estado. Este não deve ser confundido com governo, isto é, com órgão central de decisão de uma coletividade. (CAPUL, Jean-Yves; GARNIER, Oliver. 1998. p. 163). Maquiavel faz uma leitura importantíssima sobre as disputas políticas no âmbito do estado. A obra “O Príncipe” é, nesse sentido, uma reflexão sobre o poder político que permeia o Estado. Todo Estado é, fundamentalmente, constituído por uma correlação de forças, fundada na dicotomia que se estabelece entre o desejo de domínio e opressão, por parte dos grandes ou poderosos, e do desejo de liberdade, por parte do povo, que, em síntese, compõe as relações sociais. A virtù, diz Maquiavel, consiste na compreensão desta realidade e determina a ação política do príncipe. (WINTER, 2006. p. 118). Vocabula rio Virtù: Habilidade de agir da maneira certa no momento certo. Para Maquiável a vìtu é o único modo de se chegar a glória da história, agindo corretamente diante de uma situação. Winter (2006), relata no trecho acima citado, as disputas presentes no Estado, onde o que estava em jogo na visão do autor era a tomada de poder, para governar o estado. 10 Bobbio (1987) também apresenta uma ideia próxima, a esta que Winter (2006), apresenta citando Maquiavel: O Estado, ou qualquer outra sociedade organizada onde existe uma esfera pública, não importa se total ou parcial, é caracterizado por relações de subordinação entre governantes e governados, ou melhor, entre detentores do poder de comando e destinatários do dever de obediência, que são relações entre desiguais. (BOBBIO, 1987. p.15). O discurso crítico de Maquiavel e Bobbio (1987), possuem elementos, os quais aparecem em alguns outros discursos, a ideia de subordinação dos governados aos seus governantes, mas Bobbio (1987) vai além e comenta também das relações patriarcais que o Estado pode estabelecer: [...] o direito público europeu que acompanha a formação do Estado constitucional moderno considerou privatistas as concepções patriarcalistas, paternalistas ou despóticas do poder soberano, que assimilam o Estado a uma família ampliada ou atribuem ao soberano os mesmos poderes que pertencem ao patriarca, ao pai ou ao patrão, senhores por vários títulos e com diversa força da sociedade familiar. (BOBBIO, 1987. p.16). Segundo Capul & Garnier (1998), o Estado caracteriza-se por três principais elementos: Posse e monopólio do poder de coação sobre um determinado território e a sua população; Administração de regras estáveis (leis, regulamentos, princípios jurídicos) que não mudam segundo a vontade das autoridades políticas; Constituição de uma classe dirigente específica. Apesar dessas três características o Estado assim como o Governo, podem ter diferentes configurações, por exemplo, o Estado Unitário e o Estado Federal. Vocabula rio Estado Unitário: É aquele que, no seu território possui apenas uma única organização política, administrativa e jurídica, dispondo do conjunto das competências do Estado. 11 Estado Federal: Um estado que se reúne sob a sua bandeira vários Estados membros federados. Isso significa que o Estado federal reparte as sua competências com outros Estados membros. É diferente de confederação onde os Estados associados permanecem soberanos. (CAPUL E GARNIER, 1998.) Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro O Príncipe, de Maquiavél, de autoria de Nicolau Maquiavel é um clássico da literatura, o qual sintetiza o pensamento político de Maquiavél, aprofundando a discussão sobre Estado e Poder. 1.2.1 O Estado Brasileiro e a Constituição Federal de 1988 Não é raro ler ou escutar que se vive em um Estado democrático de direito e que o Brasil se constituí em uma República Federativa. Primeiramente é necessário entender no que consiste o Estado Democrático de Direito: A expressão Estado Democrático de Direito vai além do somatório das duas abordagens verificadas (Estado Liberal e do Estado Social) durante os séculos XVIII e XIX. Trata-se de um modelo que, obviamente, respeita os direitos proclamados pelos dois momentos históricos abordados, mas, mais do que isto, permite uma interpretação do Direito que ainda precisa de muito amadurecimento em uma sociedade como a brasileira, que continua buscando a democracia social. Isso porque a democracia política, ou seja, a participação do cidadão na vida pública é apenas um dos aspectos do conceito de democracia hodiernamente. Grifos da autora. (XIMENES, 2012. p. 2). Ximenes (2012) aponta que, o Estado Democrático de Direito, pressupõe o respeito aos direitos proclamados e mais que isso, que estes ainda estão em aperfeiçoamento. 12 Quanto à estrutura do país em uma república federativas, pode-se destacar que: [...] as características do federalismo que mais interessam são a autonomia dos entes, a divisão de responsabilidade e o regime de colaboração, bem como a relação destes no financiamento da educação. A divisão de responsabilidades e o regime de colaboração são descritos na Constituição Federal de 1988 (CF), em seu artigo 211, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei Federal 9394/96, nos artigos 8º, 9º, 10 e 11, os quais delimitam as responsabilidades de cada ente federado. (FERRAZ, 2013. p.20). Então pode-se afirmar que no Brasil, tem-se como entes federados todos os Municípios, Estados e Distrito Federal, e nessa organização todos eles possuem autonomia, cuja União não pode feri-la, entretanto a Constituição Federal deve ser respeitada por todos. Segundo Ferraz (2013), em referência a Cruz (2009) apresenta as principais características do federalismo: Cruz (2009) apresenta várias abordagens, definindo as seguintes características do federalismo: a) ter um conjunto de governos que têm autonomia para realizar ações independentes dos outros (RIKER, 1975 apud CRUZ, 2009, p. 48); b) possuir uma constituição que expresse a organização de um sistema federal; c) garantia da divisão federal básica de poder: Câmara Federal para representar as regiões e Constituição que apresente dificuldades para realizar emendas (LIGPHART, 2003 apud CRUZ, 2009, p. 49); d) possuir uma divisão territorial, onde as unidades têm soberania para elaboração de leis e um poder legislativo nacional eleito pela população do Estado (STEPAN, 1999 apud CRUZ, 2009, p. 40). (FERRAZ, 2013. p. 19). Para Martins (2007): [...] sendo a Educação um dever do Estado e a forma de Estado adotada no Brasil a federativa, há que se buscar na Constituição qual ou quais as esferas do poder público responsáveis, para se saber qual a autoridade competente. A competência é tanto de estados e Distrito Federal (art. 211, § 3º, CF) como de municípios (art. 211, § 2º, CF). Esta responsabilidade dá-se na mesma medida. É o que se denomina competência concorrente. Por este motivo a Carta Magna prevêque estados e municípios definam formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório (art. 211, § 4º, CF). (MARTINS, 2004. p. 7). A política é um conceito amplo e polêmico, estando presente na vida de todos, de uma forma ou de outra, fazendo parte das relações cotidianas em suas diferentes formas. Vale a importância da superação do senso comum, e dentre 13 todos os conceitos trabalhados na disciplina, a “política” é a qual possui o maior número de senso comum presente no discurso da população. Para Refletir Reflita: Nós enquanto profissionais da educação, sujeitos de direito e cidadãos, o que sabemos sobre política? Capul e Garnier (1998), o conceito da palavra “política”, possui diversos conceitos, destacando dentre eles: partidos políticos; eleições; Estado; governo. Porém, faz-se necessário o entendimento da etimologia da palavra, para que se possa compreender a sua origem e estabelecer as relações com a forma que a mesma conceitua-se na atualidade. A política é primeiramente a tradução de um termo grego que significa “o regime da cidade, isto é, o modo de organização da autoridade considerando como característico do modo de organização da coletividade do seu todo”, segundo o politólogo Raymond Aron. Assim a política corresponde ao conjunto de regras que uma coletividade impõe a si própria a fim de viver em segurança. (CAPUL; GARNIER, 1998. p. 307). A política, então, é uma prática de organização da sociedade, sem a qual, viveríamos em desordem, a política organiza as relações, a estrutura e a forma de vida de uma sociedade. Bobbio (1987), exemplifica a importância da política 14 e a exista dela em sociedades que chegaram a ter a estrutura de Estado e governo. Na verdade, depende de uma convenção inicial a respeito do significado de termos como "política" e "Estado" a escolha entre estas duas afirmações: existem sociedades primitivas sem Estado na medida em que não têm uma organização política e existem sociedades primitivas que embora não sendo Estados têm uma organização política. Mais uma vez o que importa é a análise das semelhanças e das diferenças entre as diversas formas de organização social, como se passa de uma a outra, e quando é que se chega a uma formação que apresenta características tão diferenciais com respeito à precedente que nos induz a atribuir-lhe um nome diverso ou uma especificação diversa do mesmo nome. Para dar um exemplo: quando um estudioso distingue três tipos de sociedade sem Estado, e as chama de "sociedades com governo mínimo", "com governo difuso" e "com governo em expansão", não exclui que estas sociedades possam ser consideradas sociedades políticas, como o uso do termo government deixa entender (Lucy Mair). (BOBBIO. 1987. p. 75). Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Estado, governo e sociedade, de autoria de Norberto Bobbio, a obra apresenta considerações valiosíssimas sobre os conceitos de Estado, governo e política. O autor trabalha com a ideia de diversos autores clássicos e amplia suas teorias, na perspectiva de discutir a teoria geral da política. 1.3 Gestão Se os conceitos: Estado, governo e política são fundamentos para toda disciplina de Políticas e gestão na educação, o conceito de gestão é essencial não só para esta disciplina como para todo curso de especialização em gestão escolar. 15 Vocabula rio Gestão: deriva do latim gestĭo, no qual o conceito de gestão consiste à ação e ao efeito de gerir (realizar diligências que conduzem à realização de um negócio ou de um desejo qualquer) ou de administrar (consiste em governar, dirigir, ordenar ou organizar). Neste contexto a “gestão” envolve um conjunto de ações, as quais são balizadas de maneira resolutiva um assunto ou a concretização de um projeto. Ao buscar pelo conceito de gestão, a maioria das referências são direcionadas para o contexto empresarial, entretanto nem todas as escolas se constituem em empresas e mesmos pertencem a iniciativa privada (possuem um trabalho com a natureza diferenciada das demais empresas), porque a escola, enquanto instituição educativa trabalha com o conhecimento e com a formação dos sujeitos. O conceito de gestão está muito ligado à administração, entretanto, no que tange a Educação, a mesma deve servir a gestão escolar visando a garantia do direto à educação. Os processos geridos pela escola e os tramites que envolvem a sua organização, servem exclusivamente para garantia do direito à educação, mesmo no caso das escolas particulares, pois a existência delas é só permitida por concessão do Estado. No caso da educação nas escolas públicas cabe ainda lembrar que a escola, meio para garantia à educação é um bem público, conforme o Código Civil Brasileiro. LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. [...] CAPÍTULO III Dos Bens Públicos [...] Art. 99. São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; 16 III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. Disponível na integra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm O “Bem Público” segundo o código civil: do art.99 ao art.103, subdivide- se em: Bens de uso especial: São aqueles destinados a uma finalidade específica (Exemplo: Bibliotecas, teatros, escolas, fóruns, quartel, museu, repartições públicas em geral); Bens de uso comum; Bens dominicais. Portanto gerir a educação pública é também administrar um espaço que consiste em um bem público. A dicotomia entre Gestão Escolar e a gestão de outros espaços é uma constante, a ideia de qualidade total, um exemplo disso foram as diretrizes oriundas do meio empresarial e fabril, a qual esteve presente nas práticas de gestão escolar. A avaliação da qualidade e o incentivo a qualidade total nas empresas torna-se um meio para melhor situá-las numa hierarquia de mercado cada vez mais competitivo. De acordo com Gentilli (1997) “na terminologia do moderno mercado mundial ‘qualidade’ quer dizer ‘excelência’ e ‘excelência’, ‘privilégio’, nunca ‘direito’” (p. 174). Este conceito de qualidade, transportado para outras esferas sociais, por exemplo, a educacional, gera uma grande problemática, pois este é o espaço onde a qualidade deveria ser um direito e não um privilégio. (DRABACH,2013. p. 58). Neste contexto é necessário a compreensão de que os elementos fundantes da Política e Gestão da Educação, dizem respeito as ações governamentais de um Estado. 17 Resumo da Aula 1 O objetivo geral desta aula foi elucidar os três conceitos fundamentais (Estado, política e gestão), os quais permeiam-se em subdivisões e teorias diversas. Evidenciou-se que o Estado constitui-se na forma de organização política. Ao tratar do conceito de Estado, evidenciou-seo conceito de governo e a importância do entendimento do conceito de política, o qual é permeado pelo ato político e essencial para o entendimento da Política Escolar. Atividade de Aprendizagem A palavra “política” possui diversos contextos. Discorra sobre a divergência entre os seus conceitos, analisando como os diferentes sujeitos podem compreender esta terminologia estabelecendo um conjunto de relações necessárias para mediação das relações e decisões na sociedade. Aula 2 – Administração educacional e gestão escolar Apresentação da Aula 2 Nesta aula o foco será a administração educacional e a gestão escolar, em que objetiva-se o entendimento do conceito, da natureza e do objeto da Gestão Escolar, levantando as hipóteses de como legislação vigente normatiza a gestão escolar, promovendo uma análise e reflexão sobre as práticas de gestão escolar. 2. Administração educacional e Gestão Escolar 2.1 Conceito, natureza e objeto da Gestão Escolar Diferente dos conceitos abordados na aula anterior aqui será trabalhado exclusivamente com a gestão na perspectiva da educação. 18 É recorrente a dúvida se gestão e administração escolar são a mesma coisa, vários teóricos da área optam por usar entre um termo e outro e cada qual tem suas justificativas e escolhas metodológicas, fazendo-se identificar as singularidades desses dois termos. Ví deo Assista p vídeo Gestão Escolar Democrática, no qual Vitor Henrique Paro, fala sobre os equívocos na administração escolar e sobre gestão escolar democrática, evidenciando assim as suas particularidades. Link: https://www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs Com as reflexões proporcionadas pelo vídeo, conforme, citado por Paro (2013), administração e gestão escolar pressupõem mediação e, portanto não são conceitos antagônicos, o autor afirma em sua opinião que a administração e gestão são conceitos que se relacionam em formato unívoco (que só tem um significado). Paro (2013) reforça a sua opção crítica, como autor e pesquisador da área, em usar os dois termos como sinônimos. A contradição entre os termos administração e gestão tem raiz, nas reformas da década de 90 com a prática do modelo gerencialista na administração pública, que chega também na educação. Em 1995, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), partindo da premissa de que o Estado era o responsável pela crise na economia foi criado o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), comandado pelo ministro Bresser- Pereira, o qual "apoiava-se fortemente no estudo e tentativa de aprendizado em relação à experiência internacional recente, marcada pela construção da nova gestão pública" (ABRUCIO, 2007, p.71). A Reforma do Estado e, particularmente, a reforma da Administração Pública tinham como objetivo construir uma nova prática no campo da administração. Essa nova prática, de acordo com Bresser-Pereira (2006), se baseava na abordagem gerencial, que tinha o propósito de substituir a perspectiva burocrática que caracterizava o modelo anterior. A abordagem gerencial "parte do reconhecimento de que os Estados democráticos contemporâneos não são simples instrumentos para garantir a propriedade e os contratos [...] mas formulam e implementam políticas públicas estratégicas" (BRESSER- 19 PEREIRA, 2006, p.7). Dessa forma, justifica-se a adoção de um modelo administrativo moderno para o Estado que são as práticas gerenciais, inspiradas na administração das empresas privadas. (DRABACH, 2013. p. 18). Saiba Mais Gerencialismo: a perspectiva gerencial é um modelo de administração desenvolvido na esfera privada a partir da organização do trabalho na empresa Toyota, no Japão, o chamado Toyotismo. O Toyotismo foi criado pelo japonês Taiichi Ohno, engenheiro industrial da Toyota e se desenvolveu a partir dos anos 1950. Este modelo de organização da produção aparentemente previa a descentralização das decisões através da participação dos trabalhadores no processo produtivos, visando aumentar a produtividade. Diferencia-se, portanto do modelo Taylorista/Fordista que previa a centralização das decisões e a divisão pormenorizada, que neste caso não era das decisões, mas sim do trabalho. (DRABACH, 2013. p.18). Para a referida reforma da década de 90, a Constituição Federal de 1988 apresenta artigos importantes para normatização da gestão escolar, o artigo 206, lista os princípios sob os quais a Educação Pública fundamenta-se, contemplado a Gestão Democrática do Ensino Público. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I DA EDUCAÇÃO Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; 20 VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm Parece contraditório coexistirem conceitos diferentes de gestão da educação pública, e sequencialmente após a promulgação da Constituição Federal ocorreu uma reforma na perspectiva gerencialista à ser operada, as quais são as tensões políticas existentes. O debate entre a perspectiva conservadora de administração, baseada nos princípios da administração geral e a perspectiva crítica e progressista se ampliaram e fortaleceram o discurso em torno da construção da gestão democrática. A partir daí, de acordo com Rosar (1999) se elege: a temática da democratização da educação e a sua gestão democrática, como eixo fundamental das ações políticas das diversas entidades que constituíram o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, durante e após o Congresso Constituinte (ROSAR, 1999, p. 167). Esse movimento pela democratização da educação resultou na inserção do princípio constitucional de gestão democrática da escola pública. De acordo com Camargo (1997) nenhuma Constituição anterior a de 1988, fez menção a esse princípio e sua inclusão estava associada ao fato de existirem, no início dos anos 1980, “grandes movimentos nacionais na perspectiva da redemocratização do país” (CAMARGO, 1997. p. 100) Para Refletir Reflita de que forma pode-se conceituar a natureza e objeto da gestão escolar? Para esta elucidação é necessário buscar a teoria de alguns autores, com o a perspectiva da abordagem da gestão escolar (democrática), conforme é contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e na Constituição Federal de 1988. A gestão democrática é aqui compreendida, então, como um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre a escola identificam problemas, discutem, deliberam e planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca da solução daqueles problemas. Esse processo, sustentado no diálogo, na alteridade e no reconhecimento às especificidades técnicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas 21 coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acessoàs informações aos sujeitos da escola. (SOUZA, 2009, p. 125). Para Souza (2009), a gestão democrática é um processo Político. Souza (2009), apresenta mais alguns apontamentos sobre a gestão escolar democrática: [...] a gestão democrática é um fenômeno político, de governo, que está articulado diretamente com ações que se sustentam em métodos democráticos. Mas, mais do que isso, para o autor, não se trata apenas de ações democráticas ou de processos participativos de tomada de decisões, trata-se, antes de tudo, de ações voltadas à educação política, na medida em que são ações que criam e recriam alternativas mais democráticas no cotidiano escolar no que se refere, em especial, às relações de poder ali presentes. (SOUZA, 2009. p. 126). Para Drabach e Ferraz (2012), apresentam as relações mais amplas as quais envolvem a gestão democrática escolar: [...] a gestão democrática da educação se situa no contexto social mais amplo, ou seja, na luta pela transformação da sociedade capitalista e de classes. (PARO, 1999. apud DRABACH; FERRAZ, 2012. p.2). [...] Machado (2001), fazendo referência ao pensamento de Anísio Teixeira (1957) destaca que a escola enquanto instituição social possui como função primordial o ensino. Assim, todas as práticas nela desenvolvidas devem ter no horizonte este propósito fundamental. Portanto, a gestão escolar como uma função desenvolvida na escola deve estar subordinada ao ensino, devendo atuar em seu favor. A gestão é entendida aqui como um meio para que o processo de ensino- aprendizagem aconteça na escola e para que o direito a educação seja garantido. A formação dos sujeitos vai além dos conteúdos e do currículo formal, a formação está em todas as relações que se estabelecem na escola. Anísio Teixeira (1957) em seu livro “Educação não é Privilégio” relaciona a ação democrática dos sujeitos com o conhecimento, ou seja, o acesso ao conhecimento e a educação dá ao sujeito condições necessárias para protagonizar ações democráticas. Além disso, a democracia também se constrói na prática, é no cotidiano das escolas e na reflexão crítica sobre a prática que os sujeitos são capazes de discernir e implementar processos que contribuam para a construção da democracia. A gestão de uma instituição pública, sendo conduzida por interesses e concepções individuais ilustra a ausência de conhecimento e consciência da função social da escola pública. (DRABACH; FERRAZ, p. 11, 2012.) Amplie Seus Estudos 22 SUGESTÃO DE LEITURA Para ampliar seus conhecimentos leia as obras Administração escolar/Introdução crítica; e Gestão democrática da escola pública, de autoria de Vitor Henrique Paro. As obras trazem a elucidação de forma clara sobre as singularidades entre a gestão e a administração dentro do contexto escolar. Leia o artigo A gestão democrática da escola pública e suas implicações para as práticas escolares e o financiamento da educação no Brasil, das autoras Jokasta Ferraz e Nadia Pedrotti Drabach, as quais discorrerem sobre o conceito de gestão democrática e suas implicações para o financiamento da educação e a prática escolar. O artigo reforça o entendimento da construção coletiva com parte integrante da Gestão Democrática. O fragmento abaixo traz considerações pertinentes a esta disciplina aplicada. Disponível na integra no acesso: isapg.com.br/2012/ciepg/down.php?id=2812&q=1 2.2 Gestão democrática e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Conforme citado anteriormente, a Gestão Democrática da Educação é uma determinação constitucional, a qual deverá ser cumprida, direcionando para uma gestão escolar, a qual deverá ser democrática. É sabido que não se faz democracia por decreto, entretanto é importante que esse pressuposto esteja expresso em lei, pois é uma forma de pautar que existam ações em prol da organização democrática da escola. Os princípios da gestão democrática segundo a LDB 9394/96, estão expressos em seu artigo nº.14, onde se prevê que os Estados e Municípios definirão suas normas de gestão democrática, com base em apenas dois princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996. S/p.). Estes dois princípios ainda necessitam ser muito exercitados no ambiente escolar, para que de fato tornarem-se parte do cotidiano escolar, tendo como princípio da gestão democrática, a qual é prerrogativa para gestão do ensino 23 superior, conforme o artigo 56 da LDB, reforçando que a gestão escolar democrática é uma determinação constitucional, portanto, deve atender a prerrogativa legal. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Legislação educacional brasileira, de autoria de Carlos Roberto Jamil Cury, esta obra é um ótimo referencial para o melhor embasamento teórico e entendimento da legislação educacional. A legislação além de tratar da gestão democrática, também aborda as obrigações do Estado para com a educação, conforme a emenda constitucional n° 14 de 1996, o art. 208 da Constituição Federal determina que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de do acesso ao ensino obrigatório, sendo ele um direito público subjetivo e gratuito. Fazendo uma relação com a primeira aula pode-se evidenciar que o Estado brasileiro, independe do governo, atendendo aos pressupostos da CF/88 deve priorizar e garantir a educação. Entretanto, como o Brasil é organizado de forma federativa, os seus entes federados tem responsabilidade para com a educação, que não fica somente a cargo da União, pelo contrário, na divisão de responsabilidades, onera mais os estados e municípios, como podemos observar no art. 211 da CF/88. Considerando a participação da União na gestão da educação no Brasil, com a Constituição Federal de 1988, a qual define seu papel como Função Redistributiva e Supletiva. 24 Fonte: http://www.cartilhatransparencia.rs.gov.br/static/img/frame-photos-1988.png CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I DA EDUCAÇÃO Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. [...] Disponível na integra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm Ví deo Assista o vídeo Gestão Democrática, sobre a organização do tempo na escola e as práticas nela desenvolvidas, a animação traz reflexões e questionamentos sobre como construir uma gestão democrática e quais serão as contribuições dentro do cenário apresentado. Link: https://www.youtube.com/watch?v=AgfiBJyAMKs A gestão educacional no Brasil, tanto no ensino fundamental, médio ou superior, devem atender ao pressuposto da gestão democrática, não sendo vista como uma opção, mas como dever. A participação dos profissionais da educação e da comunidade escolar na gestão da escola é parte integrante fazem-se de extrema importância no cumprimento da lei, não sendo apenas uma alternativa aos gestores escolares e sistemas de ensino. Conhecer como a legislação trata do assunto é fundamental, para aperfeiçoar a prática, e conhecero direito de todos, os quais podem e devem, participar das decisões no âmbito escolar. https://www.youtube.com/watch?v=AgfiBJyAMKs 25 Resumo da Aula 2 O foco desta aula foi evidenciar a singularidade da administração educacional e da gestão escolar, objetivando o entendimento dos seus conceitos, analisando a legislação vigente a qual contempla normativas pertinentes a aplicabilidade da gestão escolar de maneira democrática. Atividade de Aprendizagem Mediante ao conteúdo desta aula, discorra sobre a contemplação da Gestão Democrática na Constituição, e qual o seu papel e importância na aplicabilidade na gestão educacional. Aula 3 - As políticas educacionais para a educação básica e ensino superior e seu impacto na gestão educacional e escolar Apresentação da Aula 3 Nesta aula serão discutidas as Políticas Educacionais para a educação básica e ensino superior e o seu impacto na gestão escolar. O objetivo desta aula é a compreensão do conjunto de Políticas Educacionais, as quais influenciam diretamente na gestão educacional, no que tange a gestão dos sistemas de ensino, e na gestão escolar. 3. As políticas educacionais para a educação básica e ensino superior e seu impacto na gestão educacional e escolar As políticas educacionais são de diversas ordens, na educação básica, por exemplo, a organização do ensino fundamental de nove anos, a obrigatoriedade da educação dos 4 aos 17 anos, a regulamentação do piso salarial das professoras e professores, políticas para ampliação do tempo na escola, entre outras. E no ensino superior as principais políticas dos últimos anos são as políticas de bolsas para acesso ao ensino superior, Programa 26 Universidade Para Todos ( PROUNI), o Fies, política de financiamento e as diferentes organizações da política de cotas. 3.1 O ensino fundamental de nove anos Recente mudança na organização do ensino fundamental causou mudanças diretamente na organização das turmas nas escolas, esse elemento foi o mais perceptível, é comum escutar-se questionamentos como: “mais agora a 4ª série é 5º ano? Como pode a pré-escola ser o 1º ano, eles são tão pequenos!”, esses questionamentos expressam o desconhecimento dos indivíduos sobre organização e natureza do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Nesta mudança do ensino fundamental para 9 anos, a pré-escola passa a integrar o ensino fundamental. O Ministério da Educação em um dos documentos orientadores sobre o ensino de nove anos, apresenta o panorama da matrícula escolar das crianças de seis anos de idade. Conforme recentes pesquisas, 81,7% das crianças de seis anos estão na escola, sendo que 38,9% frequentam a Educação Infantil, 13,6% as classes de alfabetização e 29,6% já estão no Ensino Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000). Esse dado reforça o propósito de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, uma vez que permite aumentar o número de crianças incluídas no sistema educacional. (MEC, 2016, p.17). Como pode-se observar os dados levantados demonstram que o acesso das crianças de 6 anos não estava no período pesquisado, universalizado e, além disso, elas estavam distribuídas em distintas classes. Para o dado demográfico coletado pelo censo do ano 2000, a ampliação de mais um ano no ensino fundamental era meta do último Plano Nacional de Educação. Conforme o PNE, a determinação legal (Lei nº 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental) de implantar progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, pela inclusão das crianças de seis anos de idade, tem duas intenções: “oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade”. (MEC, 2006, p.14). 27 Fonte: http://www2.camara.leg.br/documentos-e- pesquisa/publicacoes/edicoes/imagens-capas-labels-200px/copy_of_pne_200px.jpg Portanto, a política de mudança do Ensino Fundamental para 9 anos, veio a ser instituída para atender a uma medida legal estipulada no Plano Nacional de Educação, cuja lei que o institui pode ser lida abaixo, e acessando o link é possível conferir anexa a lei todas as metas e estratégias do referido plano. LEI No 10.172, DE 9 DE JANEIRO DE 2001 [...] Art. 1o Fica aprovado o Plano Nacional de Educação, constante do documento anexo, com duração de dez anos. Art. 2o A partir da vigência desta Lei, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com base no Plano Nacional de Educação, elaborar planos decenais correspondentes. Art. 3o A União, em articulação com os Estados, o Distrito Federal, os municípios e a sociedade civil, procederá a avaliações periódicas da implementação do Plano Nacional de Educação. 28 § 1o O Poder Legislativo, por intermédio das Comissões de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados e da Comissão de Educação do Senado Federal, acompanhará a execução do Plano Nacional de Educação. § 2o A primeira avaliação realizar-se-á no quarto ano de vigência desta Lei, cabendo ao Congresso Nacional aprovar as medidas legais decorrentes, com vistas à correção de deficiências e distorções. Art. 4o A União instituirá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos necessários ao acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação. Art. 5o Os planos plurianuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão elaborados de modo a dar suporte às metas constantes do Plano Nacional de Educação e dos respectivos planos decenais. Art. 6o Os Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios empenhar-se-ão na divulgação deste Plano e da progressiva realização de seus objetivos e metas, para que a sociedade o conheça amplamente e acompanhe sua implementação. Art. 6o-A. É instituído o ‘Dia do Plano Nacional de Educação’, a ser comemorado, anualmente, em 12 de dezembro. [...] Disponível no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm Vale reforçar que o Plano Nacional de Educação vigente em 2016 é o PNE 2014-2024, instituído pela Lei nº 13.005/2014. Saiba Mais Para saber mais sobre o PNE vigente e os seus novos desafios, conhecê-lo e acompanhar os planos estaduais e municipais, acesse o site de olho nos planos. Link: http://www.deolhonosplanos.org.br 29 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Plano Nacional de Educação: construção e perspectivas, organizado por Ana Valeska Amaral Gomes e Tatiana Feitosa de Britto, o mesmo analisa a construção e as expectativas de cumprimento das metas estabelecidas no documento nacional. Disponível no acesso: http://www2.camara.leg.br/documentos-e- pesquisa/publicacoes/estnottec/livros- eletronicos/plano-nacional-de-educacao-pne É certo que o ensino fundamental de 9 anos instituiu-se, e entre inúmeras ideias controversas o que permeia a ideia de alguns profissionais da educação e da comunidade é a preocupação de que, como crianças tão pequenas irão adaptar-se ao (novo) primeiro ano de escolaridade. Para o MEC a reorganização e adequação do espaço para atender essas crianças, é de extrema importância, a qual visa a melhor forma e para recebê- las no ambiente escolar, o qual: [...] necessita reorganizar a sua estrutura, as formas de gestão, os ambientes, os espaços, os tempos, os materiais, os conteúdos, as metodologias, os objetivos, o planejamento e a avaliação, de sorte que as crianças se sintam inseridas e acolhidas num ambiente prazeroso e propício à aprendizagem. É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra da forma mais natural possível, não provocando nas crianças rupturase impactos negativos no seu processo de escolarização. (MEC, 2006, p. 22). Como pode-se observar a orientação do MEC não aponta para ideia de escolarização (no sentido negativo da palavra) dessas crianças, comentando de forma clara a importância dessa passagem acontecer da melhor forma possível (de forma com que o estudante não sofra nenhum desgaste e seja prejudicado pela implementação dessa política). Em entrevistas efetuadas com diversos professores, Arelaro (2011), observa na prática como estava se dando o processo de ampliação do ensino fundamental de 8 para 9 anos, conclui: 30 As entrevistas e questionários indicam que o currículo do primeiro ano do ensino fundamental reflete somente uma adaptação simplista do antigo currículo da primeira série, com pequenas adequações metodológicas para garantir momentos de brincadeiras, porém com limitações devido à ausência, nessas escolas, de espaços físicos que contemplem parques e brinquedotecas. (ARELARO, 2011, p.47). Arelaro (2011), ainda comenta: As falas das professoras sobre a necessidade de realização de um trabalho que dê conta da alfabetização da criança ainda no primeiro ano parecem refletir o anseio dos pais e da sociedade em torno de uma alfabetização cada vez mais precoce, que desconsideram as diferenças culturais, sociais e de ritmo de aprendizagem das crianças. Menos do que oferecer oportunidade de desenvolvimento saudável e prazeroso às crianças brasileiras, essa organização escolar pode sugerir uma tentativa subliminar de acelerar ou reduzir os tempos da infância. (ARELARO, 2011, p.48). O que a autora apresenta é a dificuldade na implementação de uma política, onde a regulamentação e orientação do Ministério da Educação não se efetiva, de fato, conforme o relatado pelos professores, com quem a autora conversou. O primeiro problema é a falta de uma adequação curricular adequada, mas cabe ponderar que os Municípios tem autonomia para o regramento dos encaminhamentos curriculares, portanto, a falta de adequação curricular, não representa, necessariamente, uma falha da docente, mas sim um possível problema de orientação e formação com foco no atendimento desse estudante. Outro problema que aparece na entrevista é a inadequação do espaço físico e dos materiais disponibilizados para o atendimento a essas crianças tão pequenas. As escolas de Ensino Fundamental, de fato não foram planejadas para atender crianças, cuja a idade, anteriormente correspondia a Educação Infantil. Apesar das dificuldades encontradas para efetivação dessa política, cabe mencionar que a ampliação de um ano ao Ensino Fundamental, a qual foi pensada com vistas a garantir maior acesso à escola (para as crianças estavam dispersas, fora da escola, na Educação Infantil e algumas já no Ensino Fundamental). 31 3.2 A educação obrigatória dos quatro aos dezessete anos “No Brasil, esta obrigatoriedade do ensino tem aumentado, passando da obrigatoriedade do Ensino Primário, em 1934, elevando o número de anos e determinando faixas etárias” (CURY; FERREIRA, p. 125, 2010), a legislação atual brasileira determina que a educação obrigatória e gratuita é dos 4 aos 17 anos de idade, conforme a lei nº 12.796 aprovada em 2013, a qual altera o artigo 4º da LBD nº 9394/96. Esta ampliação do direito à educação é um processo histórico e já apresentou diversas mudanças ao longo da história e da constituição das leis brasileiras. Mudanças legais determinaram a elevação do ensino fundamental para quase toda a educação básica, implicando em iniciativas públicas e ações pedagógicas, com apoio legal para a sua efetiva implementação. Decorre desta sistemática a necessidade de se analisar a responsabilidade pela oferta do ensino obrigatório e, por outro lado, a responsabilidade do aluno e pais quanto à infrequência. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 125). Portanto, não bastam leis para efetivar o direito à educação, é necessário uma série de Políticas Públicas para que a ampliação desses direitos de fato se concretizem, de forma que os sujeitos possam ter acesso a elas, usufruindo do que lhes é por direito. No entanto, este processo histórico é recente, pois somente a partir da Constituição de 1988 é que se passou a dar um tratamento diferenciado à educação, como um direito e um dever, não obstante a normatividade internacional. Nessa evolução, a educação obrigatória que se limitava ao ensino fundamental acabou sendo ampliada para abranger não mais uma etapa do ensino, mas uma determinada faixa etária – dos 04 a 17 anos de idade. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 141). Ferraro (2008) aborda a ideia de dívida educacional quando se trata de sujeitos que tiveram direitos negados ao longo da história, e que por esse motivo possuem uma dívida educacional acumulada. Segundo uma provocação do autor, o povo não cobra (referência ao título do artigo Direito à Educação no Brasil e dívida educacional: e se o povo cobrasse?). Para Ferraro (2008): Falar em dívida educacional pública significa duas coisas: primeiro, que a Educação se transformou num serviço público; segundo, que o Estado deixou de assegurar a determinadas pessoas ou grupos de pessoas o serviço público chamado Educação. É a conjunção dessas duas condições — a Educação entendida como serviço público e a não 32 universalização ainda desse serviço — que coloca o Estado na condição de devedor e o cidadão na de credor de escolarização. Por escolarização, se deve entender não só o acesso, mas também a continuidade bem-sucedida na escola. (FERRARO, 2008, p. 275). Diversos fatores podem influenciar na continuidade bem sucedida da vida escolar, a qual, Ferraro (2008) comenta, a respeito de que atualmente com diversas pesquisas referentes à reprovação, é fato que, ser retido em alguma série não agrega melhor desempenho ao estudante, além disso, condições sociais e violação dos direitos das crianças e adolescentes também impactam negativamente na frequência escolar, por exemplo, a exploração do trabalho infantil. Atitudes negativas que pertencem ao direito à educação da criança, também podem partir dos pais, mães e/ou responsáveis. Cury e Ferreira (2010), afirmam que: Caso os pais resistam à determinação judicial de matricular o filho na escola, podem ainda ser responsabilizados administrativamente, pois estabelece o artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. A educação é um dever imposto aos pais e decorre do poder familiar, pois assim determina o artigo 22 do ECA: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais”. Logo, se os pais ou responsáveis não cumprem com o dever de educação e não atendem às determinações judiciais, poderão sofrer a penalidade prevista na infração administrativa referida. (CURY; FERREIRA, p. 138, 2010). Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o Estatuto da criança e do adolescente, comentado, de autoria de Luciano Alves Rossato, Paulo Eduardo Lépore e Rogério Sanches Cunha, obra a qual traz maiores detalhamentos do ECA. 3.3 Regulamentação do piso salarial dos professores A última e não menos importante Política Pública Educacional, a ser trabalhada nesta aula é a regulamentação do piso salarial dos professores. 33 Luta antiga dos profissionais da educação, o piso salarial, é uma conquista nova que além de mudança salarial, trouxe consigo, no teor do texto da lei que regulamenta o piso salarial, a carga horaria de trabalho destinadaao planejamento. LEI Nº 11.738, DE 16 DE JULHO DE 2008 [...] Art. 2° O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. § 1° O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. [...] § 4° Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos. [...] Art. 5o O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009. [...] Disponível no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm Abicalil (2008) evidencia uma informação técnica que faz diferença no momento de compreensão da remuneração dos professores, a diferenciação de salário, vencimento e remuneração profissional. O Piso Salarial Profissional Nacional PSPN não é o salário, o vencimento, ou a remuneração do profissional de educação numa determinada carreira, seja federal, estadual, municipal ou de empresa privada. É o valor mínimo abaixo do qual não pode ser fixada a remuneração de início de carreira de um determinado profissional, em regime de trabalho de tempo integral. Para todos os trabalhadores brasileiros, existe o salário-mínimo que, se corresponder a um regime de 44 horas, deve ser suficiente para a vida digna do cidadão e de sua família, de acordo com o Art. 7º, inciso IV da Constituição Federal. (ABICALIL, 2008, p. 71). 34 Os autores, Camargo; Gouveia; Gil; Minhoto (2009), detalham mais ainda os conceitos chaves para discussão da remuneração: Assim, só o montante pago pelo empregador a título de retribuição é considerado “salário” – nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Já o termo “vencimento” é definido legalmente (lei n. 8.112, de 11/12/1990, art. 40) como “retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor fixado em lei”. Os vencimentos dos cargos efetivos são irredutíveis e, para cargos de mesma atribuição ou de atribuição semelhante na mesma esfera administrativa, é garantida isonomia. O conceito de “remuneração”, por sua vez, pode ser definido como o montante de dinheiro e/ou bens pagos pelo serviço prestado, incluindo valores pagos por terceiros. A remuneração é a soma dos benefícios financeiros, dentre eles o salário, acordada por um contrato assinado entre empregado e empregador. O salário é, assim, uma parte da remuneração. (CAMARGO; GOUVEIA, GIL; MINHOTO, 2009, p. 342). O piso salarial é válido em todo território brasileiro e apresenta-se como uma forma (ferramenta) para corrigir as disparidades salariais existentes, tanto na esfera pública como nas instituições privadas de ensino. No caso do magistério público, a remuneração é composta pelos vencimentos do cargo, acrescida de vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, em outras palavras, o salário (que chamaremos adiante de “salário base”) mais as vantagens temporais, as gratificações, o auxílio transporte, etc. Portanto, são estes os significados dos termos “salário base” e “remuneração” presentes no trabalho. (CAMARGO; GOUVEIA, GIL; MINHOTO, p. 342, 2009) Conforme a legislação citada, a qual visa regulamentar o piso salarial, é esperada uma correção anual dos valores inicialmente apontados na lei. Saiba Mais PISO NACIONAL DOS PROFESSORES SOBE PARA R$ 2.135 Por: Portal Brasil Publicado: 14/01/2016 Reajuste de 11,36% vale em todo o País já neste mês; piso salarial é pago para profissionais de Nível Médio com jornada de 40 horas semanais. Disponível na integra no acesso: http://www.brasil.gov.br/educacao/2016/01/piso-nacional- dos-professores-sobe-para-r-2.135 35 Conforme citado acima, tem-se uma atualização, no ano de 2016, na qual o piso nacional dos professores sobe para R$ 2.135, o que representa um reajuste de 11,36%, esse aumento vale para todo território brasileiro, e o piso salarial é calculado para profissionais de Nível Médio para uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Entretanto, além de estipular valores a “lei do piso”, avança em outros aspectos, além dos salariais, a qual destina que 1/3 da carga horaria de trabalho deverá ser destinada somente ao planejamento, conquista que reflete positivamente nas condições de trabalho dos professores. 3.4 Políticas Educacionais para o ensino superior Quanto às Políticas Educacionais para o acesso ao Ensino Superior, cabe destacar o papel do Enem, o qual recebeu ao longo dos anos, e passou de uma avaliação nacional do Ensino Médio para pré-requisito para entrada no Ensino Superior, seja por meio de bolsas ou como nota complementar (ou integral) dos vestibulares, ganhando um status de teste de equivalência, no qual o candidato que apresentar rendimento (nota) suficiente no exame poderá requerer a equivalência (certificação) de Nível Médio. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) propõe mensurar modalidades estruturais da inteligência, denominadas competências (Brasil, 1998, 2000, 2001). São cinco as modalidades da inteligência focadas pelo Enem que, sucintamente, correspondem à capacidade das pessoas em: 1) operar mentalmente diversas linguagens abstratas e fazer uso delas; 2) utilizar e manipular conceitos e procedimentos específicos para compreender os fenômenos; 3) resolver problemas; 4) discutir e analisar estruturas argumentativas; 5) transformar a teoria em propostas e aplicações prático-concretas (Condeixa et al., 2005; Machado, 2005a,b; Macedo et al., 2005; Martino et al., 2005; Menezes et al., 2005; Murrie, 2005). (GOMES; BORGES, 2009, p. 75). Diretamente ligado ao Enem, há o Prouni (programa de bolsas, integrais ou parciais para o acesso ao Ensino Superior), mas muito criticado por direcionar recursos públicos para instituições privadas de Ensino Superior. O Prouni é comumente visto como mais uma Política Pública, particularmente por abrigar o preceito das cotas, mas destaca-se o fato de manter um sistema de ensino nos moldes privatizantes traçados durante os anos 1990. Nesse sentido, traz uma noção falsa de democratização, pois legitima a distinção dos estudantes por camada social de acordo com o acesso aos diferentes tipos de instituições (prioridade para a inserção precária dos pobres no espaço privado), ou 36 seja, contribui para a manutenção da estratificação social existente. O comentário do presidente da Abmes fala por si mesmo: “A proposta não saiu como pretendíamos, mas é razoável e favorece as instituições privadas” (MENA, 2004). (CATANI; HEY; GILIOLI, p. 136, 2006). Diferentemente do Prouni, o qual oferta bolsas, o Fies é um programa de financiamento do ensino superior, o qual não prioriza o acesso, pois para o aluno pleitear um financiamento ele precisa estar matriculado em superior. Não é possível falar de políticas para o ensino superior, sem falar a políticas de cotas, tema extenso e que exige muito estudo e debate. No Brasil, a tendência recente é de consolidação – legal e prática – das políticas que levam em conta cor ou raça. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal votou, unanimemente, a favor da constitucionalidade de ações afirmativas raciais como meio legítimo de correção de desigualdades sociais. Outro passo importante rumo à consolidação das cotas raciais materializou-se no decreto assinadopela presidente brasileira, em outubro de 2012, determinando que todas as universidades federais passem a reservar vagas segundo distintos critérios, os quais incluem atributos raciais. (JUNIOR; WALTENBERG, 2015, p. 232). Neste do documento, publicado pelo IPEA, Junior e Waltenberg (2015) fazem uma análise sobre a ampliação do acesso dos autodeclarados pretos. Os resultados mostraram-se ambivalentes. A política color-blind definida revelou-se capaz de aumentar a proporção dos autodeclarados pretos na universidade. Porém, não foi possível, pelo menos diante da porcentagem definida, elevar de forma suficiente a proporção deste grupo em cursos de alto prestígio. Como era de se esperar, as políticas raciais são as que mais aproximariam a presença dos autodeclarados pretos na universidade da sua composição na população fluminense. Porém este benefício não é homogêneo entre as carreiras. Em todas as simulações, os autodeclarados pretos concentram-se em cursos de baixo prestígio social. (JUNIOR; WALTENBERG, 2015. p. 253). O material do IPEA é recente e mostra um dado preocupante, pois mesmo com as cotas o número de estudantes afrodescendentes, em cursos, considerados de alto prestigio social, não sofre alteração. Resumo da Aula 3 Nesta aula foram trabalhadas as Políticas Públicas Educacionais em duas diferentes etapas de ensino, no Ensino Fundamental (objetivando a discussão 37 das políticas de garantia e ampliação do direito à educação e de valorização profissional) e no Ensino Superior (as políticas de acesso). Conforme dados apresentado do MEC (2006), pode-se observar que o panorama do acesso ao ensino fundamental no ano de 2006, evidenciou que a maioria das crianças de 6 anos estava fora da escola. O universo das Políticas Públicas Educacionais é amplo e por esse motivo selecionaram-se algumas políticas vigentes de maior relevância. Atividade de Aprendizagem No que tangem as Políticas Educacionais de âmbito nacional, existem também as Políticas Municipais e Estaduais, as quais merecem estudo e importante atenção. A proposta desta atividade é elencar quais são as Políticas Educacionais locais e pensar na relação delas com o trabalho pedagógico escolar. Aula 4 - As reformas educacionais e seus desdobramentos na forma de gerir a educação Apresentação da Aula 4 Nesta aula o foco será aprofundar mais os assuntos que envolvem as reformas educacionais e seus desdobramentos na forma de gerir a educação. Discutindo especificamente sobre as reformas das décadas de 1920 e 1990 e suas implicações na educação, estabelecendo relações entre as reformas educacionais brasileiras e também contextualizá-las, cada qual em seu período histórico e contexto social. 4. As reformas educacionais e seus desdobramentos na forma de gerir a educação As reformas educacionais consistem em mudanças significativas na educação do país e os principais objetivos são a implementação de mudanças, demarcação de Políticas de Estado. 38 As principais características, de todas as reformas educacionais são a sua relação com posição política predominante, seja por parte do governo, de pesquisadores ou da sociedade civil organizada. 4.1 Reformas educacionais da década de 1920 Contextualizando a década de 1920, ela teve como marco, no campo da educação, o movimento escola novista, que consistia em uma forma inovadora de pensar a educação a relação da criança com o conhecimento. Década a qual a estrutura da educação no Brasil, não era como conhece-se hoje, ainda não havia se estabelecido uma unidade e organização como a que possui-se na atualidade. A Fundação Getúlio Vargas organizou de maneira muito didática um material sobre as reformas da década de 1920, destacando-se os educadores, os quais foram fundamentais para o movimento da Escola Nova. Um dos movimentos mais importantes da época ficou conhecido com o nome de Escola Nova. Grandes temas e grandes figuras ficaram associados a esse movimento. A defesa de uma escola pública, universal e gratuita se tornou sua grande bandeira. A educação deveria ser proporcionada a todos, e todos deveriam receber o mesmo tipo de educação. Pretendia-se com o movimento criar uma igualdade de oportunidades. A partir daí, floresceriam as diferenças naturais segundo os talentos e as características de cada um. O ensino deveria ser leigo, ou seja, sem a influência e a orientação religiosa que tinham marcado os processos educacionais até então. A função da educação era formar um cidadão livre e consciente que pudesse incorporar-se ao grande Estado Nacional em que o Brasil estava se transformando. Entre os educadores que lideraram o movimento da Escola Nova estão Anísio Teixeira, da Bahia, Fernando de Azevedo (mais tarde diretor da Escola Normal) e Manuel Lourenço Filho, de São Paulo. (CAMPOS, 2011. S/p.). Trabalhando com a ideia de Anísio Teixeira sobre a gestão escolar, pode- se dizer que ela está subordinada ao Ensino. Ví deo Assista o vídeo, o qual traz algumas imagens da década de 20. Link: https://www.youtube.com/watch?v=-CHWW342xYo 39 A década de 20 foi a década conhecida por suas diversas reformas ligadas ao movimento escolanovista. Dentre as diversas reivindicações dos pensadores desta década, estava a escola laica. E essa transformação só veio a acontecer mais em 1961, com novas normas vigentes. Seguem alguns destaques das reformas de 1920-30. Várias reformas foram realizadas no Brasil na década de 1920: 1920 - Sampaio Dória realiza em São Paulo a primeira dessas reformas regionais do ensino. 1922-1923 - Manuel Lourenço Filho é chamado ao Ceará para realizar a segunda dessas reformas. 1924 - Anísio Teixeira traz para a Bahia a experiência que acumulou em cursos de educação nos Estados Unidos, onde foi aluno de John Dewey, o grande idealizador do movimento da Escola Nova norte-americano, que inspirou o do Brasil. 1925-1928 - José Augusto Bezerra de Menezes, no Rio Grande do Norte, dá continuidade ao movimento de reformas. Nos anos de 1927- 1928 é a vez do Paraná, com Lisímaco Costa. Nesses mesmos anos, Francisco Campos marca o estado de Minas Gerais com seu projeto de reforma. A mais importante de todas, no entanto, foi feita no Distrito Federal, então capital da República, liderada por Fernando de Azevedo nos anos de 1927-1930. - a introdução, no país, do ideário da Escola Nova que preconizava uma fundamental alteração nos processos de ensinar-aprender, com ênfase na observação e experimentação. Daí a grande importância atribuída aos chamados “estudos do meio” e às excursões escolares para que os alunos observassem os diferentes “cenários da natureza”; - o nacionalismo que imperava na época, com a defesa de valores cívicos, a “valorização do que é brasileiro”, o culto aos heróis nacionais, a criação de grupos de escotismo, a defesa do contato direto com a Natureza 1920. - Sampaio Dória realiza em São Paulo a primeira dessas reformas regionais do ensino. (CAMPOS, 2011. S/p.). Após 1930, damos destaque para as diretrizes do Estado novo, que estabeleceram a reforma do ensino com a lei orgânica do ensino secundário, nós temos aqui uma reforma, organizada por meio de um texto legal que busca reestruturar uma etapa de ensino. Também posteriormente a década de 1930, entre 1937 e 1945, durante o Estado Novo, temos reformas de ordem curricular, com a inclusão, por exemplo, com a inclusão da disciplina de educação moral e cívica. Por influência da Segunda Guerra Mundial, a lei instituiu também a educação militar para os alunos do sexo masculino. Reafirmou o caráter facultativo da educação religiosa e obrigatório da educação moral e 40 cívica, e recomendou ainda que a educação das mulheres fosse feita em estabelecimento distinto daquele onde se educavam os homens. Foram publicados ainda, decretos-leisque regulamentavam: - O ensino industrial (Lei Orgânica do Ensino Industrial – Decreto-Lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942); - O ensino comercial (Lei Orgânica do Ensino Comercial – Decreto-Lei 4.244, de 9 de abril de 1942); - A criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI (Decreto-Lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942). - A Lei Orgânica do Ensino Secundário permaneceu em vigor até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1961. (FONTENELE, 2005, S/p.). As mudanças, das disciplinas escolares, na educação durante o Estado Novo tiveram características de ordem política. Ví deo Assista o vídeo, o qual traz algumas observações sobre a educação no Estado Novo. Link: https://www.youtube.com/watch?v=7tJWvPz4Kqs 4.2 Reformas educacionais da década de 1990 Reforma educacional é a reformulação legal e/ou estrutural da organização da educação do país ou de uma região/Estado. Diferentemente dos anos 80, em que a mobilização política e social brasileira aspiravam e se posicionavam de forma a atingir um modelo democrático de Estado e consequentemente na gestão escolar brasileira, os anos 90, se mostram mais tímidos nesse sentido, e as políticas neoliberais emergem, mas então antes de discutirmos quais políticas e reformas são essas da década de 1990, cabe conceituar brevemente o que é o neoliberalismo: Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente da expansão da intervenção do Estado, antagônica à forma mercadoria, ainda que necessária para sustentá-la. Após alguns anos de diagnóstico e de tateações (Crozier et al, 1975), toma forma no final da década de 1970 como 'Reaganismo' e 'Thatcherismo', e consiste essencialmente em uma tentativa de recompor a primazia, e recuperar o âmbito, da produção de mercadorias. Renegando as formas social-democratas que acompanham o estágio intensivo, nega a crise estrutural e histórica do capitalismo e se volta às origens desse, do tempo do liberalismo - daí o nome de neo-liberalismo. 41 As políticas neoliberais perseguidas ao final dos anos 70 e no começo dos 80 por parte dos governos nacionais dos países centrais constituem precisamente uma tentativa (crescentemente desesperada) de 'remercadorização’ de suas economias. O Estado capitalista tem que tentar isso, uma vez que assegurar as condições da produção de mercadorias é sua própria razão de ser, mesmo se, assim fazendo, Ihe escapa inteiramente o fato de que a negação da negação da forma-mercadoria não pode restabelecer essa última: privatização não é o mesmo que mercadorização. (DEÁK, 1985, p.227). Uma das características que melhor ilustra o modelo neoliberal é a diminuição da atuação do Estado. Peroni (2006), também trabalha em suas pesquisas com o conceito de neoliberalismo e exemplifica muito bem a ideia principal dessa organização política e econômica. O papel do Estado para com as políticas sociais é alterado, pois com este diagnóstico duas são as prescrições: racionalizar recursos e esvaziar o poder das instituições, já que instituições democráticas são permeáveis às pressões e demandas da população, além de serem consideradas como improdutivas, pela lógica de mercado. Assim, a responsabilidade pela execução das políticas sociais deve ser repassada para a sociedade: para os neoliberais através da privatização (mercado), e para a Terceira Via pelo público não-estatal (sem fins lucrativos) (PERONI, 2006, p. 14). Uma política estrutura em uma perspectiva neoliberal, foca na eficiência, na redução de custos e na menor participação do Estado, e a ideia primordial é essa, “para a teoria neoliberal, não é o capitalismo que está em crise, mas o Estado. A estratégia, portanto, é reformar o Estado ou diminuir sua atuação para superar a crise”. (PERONI, 2006, p. 05). 42 Ví deo Assista a sequência de vídeos nos quais Gérard Duménil responde questionamentos relacionados ao neoliberalismo. Link 1: https://www.youtube.com/watch?v=ZJvIZN1Bvag&index=1&l ist=PLvxfYJw35usANW1CmGJGtp1a825ksBOrh Link 2: https://www.youtube.com/watch?v=ZJvIZN1Bvag&index=1&l ist=PLvxfYJw35usANW1CmGJGtp1a825ksBOrh Link 2: https://www.youtube.com/watch?v=nYwsqza75zY&list=PLvx fYJw35usANW1CmGJGtp1a825ksBOrh&index=3 Um exemplo, de política neoliberal, na América latina é o Chile, que adotando o sistema de vouchers, privatizou praticamente toda educação pública, mas hoje tenta reverter essa situação, entretanto a lógica de que “o privado é bom e o público é ruim” está presente e articulada com propostas meritocráticas, as quais dificultam a implementação das mudanças. No caso do Brasil, as reformas educacionais da década de 1990, advém especialmente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, que entre vários elementos, permite que recursos públicos sejam destinados à instituições privadas. Outro elemento importante a ser discutido é a organização da educação proposta pela LBD 9394/1996 e na Constituição Federal de 1988, as quais não tangiam as reformas da década de 20, não havendo estruturação à organização do ensino em todo pais, as quais são alcançáveis atualmente, entretanto na divisão de responsabilidades entre os entes federados, alguns autores comentam que essa organização onera o município e desresponsabiliza a União. O não-comprometimento efetivo com a melhoria da educação fundamental se manifesta pela descentralização autoritária dos encargos de manutenção da educação infantil e fundamental pelos municípios sem garantir, em sua maioria, condições mínimas de manter um atendimento qualitativo. (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003. p. 115). 43 Resumo da Aula 4 O objetivo desta aula foi elucidar alguns fatores de organização política da educação, os quais decorrem da década de 90, dentre eles as reformas educacionais desta década, as quais foram marcadas pelo modelo Neoliberalista. Aprovação da LDB 9394/96 foi um marco na reorganização da educação brasileira, na década de 90 , e traz reflexos os quais permearam-se durante a passagem dos anos sequencias ao ano 2000, até os dias atuais, pois torna- se perceptível a continuidade de algumas políticas e conceitos, permeando as duas décadas. Atividade de Aprendizagem Para sistematizar o que foi estudado, faça um quadro comparativo entre a educação disponibilizada na década de 20 e a educação na década de 90. 44 Resumo da disciplina Nesta disciplina forma estudadas as políticas e gestão na educação, enfatizando que faz-se necessário lançar o olhar além dos muros da escola para entender as questões macros, que embora pareçam distantes da escola, estão intimamente ligadas com diversas condições presentes na vida escolar dos alunos e dos profissional da educação. Deixando bem claro como o entendimento das diferenças ente o Governo e o Estado, pois o Governo é transitório e gere o Estado, que por sua vez, está ligado a um território. Fundamentaram-se de forma elucidativa os três principais conceitos (Estado, Política e Gestão), validando as suas interligações e que a compreensão sobre a administração e a gestão escolar são práticas que necessitam ser revistas, com o intuito de atender as demandas burocráticas. O professor, quando estuda sobre políticas e gestão na educação pode vislumbrar fatores que são externos ao planejamento das aulas (elaboração de avaliações e correções atividades), e o gestor escolar quando busca estudar e fundamentar sua prática faz refletir sobre como a gestão da escola deve estar a serviço do trabalho pedagógico para garantia do direito a educação. 45 Referências ABICALIL, Carlos Augusto. Piso Salarial Constitucional, legítimo, fundamental. 2008. Disponível no acesso: http://www.esforce.org.br/index.php/semestral/article/view/125/228
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