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sistema somatossensorial O sistema sensorial somático geral (ou sistema somatossensorial) é o responsável pelas experiências sensoriais detectadas nos órgãos sensoriais que não pertencem ao sentido especial. Enquanto, os receptores sensoriais dos sentidos especiais (visão, audição, gustação, olfação e equilíbrio) estão restritos à cabeça, os do sentido somático geral estão espalhados pelo corpo todo. O sentido somático geral do corpo (=somestesia) evoca as seguintes modalidades perceptuais: Tato: Embora o tato, a pressão e a vibração sejam tratados como sendo sensações diferentes, é evocado por mecanorreceptores da pele; Propriocepção: evocados pela estimulação de receptores mecânicos presentes dos músculos, tendões e articulações; Dor: sensação desconfortável evocada por receptores que detectam estímulos mecânicos e químicos muito intensos (ameaçam uma lesão) ou decorrentes de lesões teciduais em curso. Sensação térmica: eliciado por receptores térmico para o calor e frio. Há receptores somestésicos em praticamente todas as partes do corpo. Uma exceção curiosa é o próprio sistema nervoso, cujo parênquima não possui receptores. Um canal mecanoativado se abre ou se fecha em resposta a um estímulo mecânico na forma de vibração (como as ondas sonoras), toque, pressão ou estiramento tecidual. A força desloca o canal de sua posição de repouso, abrindo sua comporta. Exemplos de canais mecanoativados são aqueles encontrados nos receptores auditivos, nos receptores que monitoram o estiramento de órgãos internos e nos receptores táteis e de pressão da pele. Receptores sensoriais somáticos Mecanorreceptores: são subdivididos em diferentes tipos de receptores, dependendo do tipo de pressão ou qualidade proprioceptiva que codificam. Tabela 3.3: Tipos de Mecanorreceptores Tipo de Mecanorreceptor Localização Adaptação Sensação evocada Corpúsculo de Pacini, são encapsulados Subcutânea, intramuscular Muito rápida Vibração de alta frequência, batida leve Corpúsculo de Meissner, são encapsulados Derme da Pele sem pelos (glabra) Rápida Discriminação de pontos, batidas leves, ondulações, vibrações de baixa frequência Folículos pilosos, conjuntos de fibras nervosas ao redor da raiz pilosa Pele com pelos, terminações nervosas livres Rápida Velocidade, direção do movimento Corpúsculo de Ruffini Derme da Pele com pelos, da glabras nas capsulas articulares Lenta Estiramento, rotação articular, pressão Receptores de Merkel Pele sem pelos (Glabra) Lenta Indentação vertical da pele Discos táteis Pele com pelos Lenta Indentação vertical da pele Terminações nervosas livres: derivam de fibras amielinicas muito finas que se ramificam profusamente. As terminações nervosas livres da derme superficial e da epiderme estão relacionadas com estímulos dolorosos, de temperatura e de deslocamento da pele e do pelo. Terminações com expansões: corpúsculo de Merkel. Terminações nervosas encapsuladas: Corpúsculo de Pacini, corpúsculo de Meissner, orpúsculo de Ruffini, corpúsculo de Krause (menos conhecidos, localizados no limite entre mucosa e pele, sensíveis a estímulos mecânicos, sua função é incerta, embora alguns os considerem termorreceptores sensíveis ao frio) Nos músculos estriados esqueléticos e nos tendões, existem muitos receptores sensoriais encapsulados, além de terminações nervosas livres. Os receptores encapsulados dos músculos são os fusos neuromusculares; os dos tendões, os órgãos neurotendinosos de Golgi. Termorreceptores Os termorreceptores são receptores de adaptação lenta que detectam alterações na temperatura cutânea. As duas classes de termorreceptores são os receptores de frio e os receptores de calor (Figura 3.10). Cada tipo de receptor funciona em uma ampla gama de temperaturas, com alguma sobreposição em temperaturas moderadas (p. ex., a 36° C, ambos receptores são ativos). Quando a pele é aquecida acima de 36° C, os receptores de frio se tornam quiescentes e, quando a pele é resfriada a menos de 36° C, os receptores de calor se tornam quiescentes. A transdução de temperaturas quentes envolve canais de potencial receptor transiente (TRP) da família dos receptores vaniloides (ou seja, TRPV). Estes canais são ativados por compostos da classe vaniloide, como a capsaicina, um ingrediente de comidas condimentadas. (Este fenômeno explica por que as pessoas descrevem o sabor das pimentas como “quente”.) A transdução de temperaturas frias envolve um canal TRP diferente, chamado TRPM8, que também é aberto por componentes como o mentol (que dá uma sensação fria). Nociceptores Os nociceptores respondem a estímulos nocivos que podem produzir dano tecidual. Existem duas classes principais de nociceptores: os nociceptores térmicos ou mecânicos e os nociceptores polimodais. Os nociceptores térmicos ou mecânicos (canais TRPV ou TRPM8) são supridos por fibras nervosas aferentes A-delta finamente mielinizadas e respondem a estímulos mecânicos, como a dor aguda e puntiforme. Os nociceptores polimodais são supridos por fibras C não mielinizadas e respondem a certos estímulos químicos e a estímulos mecânicos ou quentes ou frios de alta https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151642/epub/OEBPS/Text/B9788535290349000036.xhtml?favre=brett#f0055 intensidade. Os mastócitos próximos ao local da lesão liberam histamina, que ativa diretamente os nociceptores. Além disso, os próprios nociceptores liberam substâncias que sensibilizam nociceptores vizinhos a estímulos que antes não eram nocivos ou dolorosos. Este processo de sensibilização, denominado hiperalgesia, é a base de diversos fenômenos, inclusive a redução do limiar de dor. Vias Somatossensoriais O neurônio de primeira ordem da via somatossensorial é o neurônio aferente primário. Os corpos dos neurônios aferentes primários se localizam na raiz posterior ou em gânglios de nervos cranianos. O neurônio de segunda ordem está localizado na medula espinal (sistema anterolateral) ou no tronco encefálico (sistema da coluna dorsal), recebem informações de neurônios de primeira ordem e as transmitem ao tálamo, neurônios de segunda ordem cruzam a linha média, esta decussação faz com que as informações somatossensoriais de um lado do corpo sejam recebidas pelo tálamo contralateral. O neurônio de terceira ordem está localizado em um dos núcleos somatossensoriais do tálamo. O neurônio de quarta ordem está localizado no córtex somatossensorial, denominado S1 e S2. SISTEMA DA COLUNA DORSAL–LEMNISCO MEDIAL 1. Sensações táteis que requerem alto grau de localização do estímulo 2. Sensações táteis que requerem a transmissão de graduações finas da intensidade 3. Sensações fásicas, como as sensibilidades vibratórias 4. Sensações que sinalizam movimento contra a pele 5. Sensações de posição das articulações 6. Sensações de pressão relacionadas à grande discriminação das intensidades da pressão As fibras nervosas que entram nas colunas dorsais seguem sem interrupção até a porção dorsal do bulbo, onde fazem sinapse com os núcleos da coluna dorsal (os núcleos grácil (membros inferiores) e cuneiforme (membros superiores) ). Esses núcleos originam os neurônios de segunda ordem, que cruzam imediatamente para o lado oposto do tronco cerebral e ascendem pelos lemniscos mediais até o tálamo. Nesse trajeto, pelo tronco cerebral, os lemniscos mediais recebem fibras adicionais, provenientes dos núcleos sensoriais do nervo trigêmeo; essas fibras conduzem as mesmas informações sensoriais que as fibras da coluna dorsal, as primeiras, provenientes da cabeça, e as últimas, provenientes do corpo. No tálamo, as fibras do lemnisco medial terminam na área de retransmissão sensorial talâmica, chamada complexo ventrobasal. Do complexo ventrobasal, fibras nervosasde terceira ordem se projetam, em sua maior parte, para o giro pós-central do córtex cerebral, que é referido como área somatossensorial primária (essas fibras também se projetam para uma área menor, no córtex parietal lateral, chamada área somatossensorial secundária). núcleo posterior ventral do tálamo SISTEMA ANTEROLATERAL 1. Dor 2. Sensações térmicas, incluindo tanto a sensação de calor quanto a de frio 3. Sensações de tato e pressão grosseiras, não discriminativas, capazes apenas da localização grosseira na superfície do corpo 4. Sensações de cócegas e prurido 5. Sensações sexuais Os terminais axônicos dos neurônios de primeira ordem formam sinapse com os neurônios de segunda ordem, cujos corpos celulares estão localizados no corno posterior da medula espinal. Os axônios dos neurônios de segunda ordem atravessam para o lado oposto da medula espinal. As fibras anterolaterais cruzam imediatamente na comissura anterior da medula espinal, para as colunas brancas anteriores e laterais do lado oposto, por onde ascendem em direção ao encéfalo, por intermédio dos tratos espinotalâmicos anterior e lateral. A terminação superior dos dois tratos espinotalâmicos ocorre principalmente em dois locais: (1) difusamente, nos núcleos reticulares do tronco cerebral; e (2) em dois complexos nucleares diferentes do tálamo, o complexo ventrobasal e os núcleos intralaminares. Em geral, os sinais táteis são transmitidos principalmente para o complexo ventrobasal, terminando em algum dos mesmos núcleos talâmicos, onde os sinais táteis da coluna dorsal terminam. Daí os sinais são transmitidos para o córtex somatossensorial com os sinais das colunas dorsais. Ao contrário, apenas pequena fração dos sinais de dor se projeta diretamente para o complexo ventrobasal do tálamo. Em vez disso, a maioria desses sinais termina nos núcleos reticulares do tronco cerebral, de onde partem projeções para os núcleos intralaminares do tálamo, onde os sinais de dor são processados adicionalmente. VIA TRIGEMINAL Os impulsos nervosos para a maior parte das sensações somáticas (táteis, térmicas e dolorosas) provenientes da face, da cavidade oral, da cavidade nasal e dos dentes ascendem para o córtex cerebral através da via trigeminotalâmica. A via trigeminotalâmica consiste em três conjuntos de neurônios. Os neurônios de primeira ordem se estendem dos receptores sensitivos somáticos na face, na cavidade nasal, na cavidade oral e nos dentes para a ponte através dos nervos trigêmeos (V). Os corpos celulares desses neurônios de primeira ordem se encontram no gânglio trigeminal. Os terminais axônicos de alguns neurônios de primeira ordem formam sinapses com neurônios de segunda ordem na ponte. Os axônios dos outros neurônios de primeira ordem descem para o bulbo, formando sinapses com neurônios de segunda ordem. Os axônios dos neurônios de segunda ordem atravessam para o lado oposto da ponte e do bulbo e, então, ascendem como o trato trigeminotalâmico para os núcleos ventrais do tálamo. No tálamo, os terminais axônicos dos neurônios de segunda ordem formam sinapses com neurônios de terceira ordem, que projetam seus axônios para a área somatossensorial primária e secundária no córtex cerebral no mesmo lado do tálamo. inervação motora destinada à musculatura mastigatória. O nome ‘“trigêmeo” deriva de sua ramificação em três ramos principais: oftálmico, maxilar e mandibular. Áreas corticais A Figura 48-5 é um mapa do córtex cerebral humano, mostrando que é dividido em cerca de 50 áreas distintas, chamadas áreas de Brodmann, com base em diferenças estruturais histológicas. Em geral, os sinais sensoriais de todas as modalidades sensoriais terminam no córtex cerebral, logo posterior ao sulco central. Em geral, a metade anterior do lobo parietal está relacionada, quase inteiramente, com a recepção e interpretação dos sinais somatossensoriais. Mas a metade posterior dos lobos parietais promove níveis ainda maiores de interpretação. Os sinais visuais terminam no lobo occipital, e os sinais auditivos, no lobo temporal. Ao contrário, a porção do córtex cerebral, anterior ao sulco central e que constitui a metade posterior do lobo frontal é chamada córtex motor, e está relacionada quase inteiramente ao controle das contrações musculares e dos movimentos corporais. Parte significativa desse controle motor https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151567/epub/OEBPS/Text/cap-48.xhtml?favre=brett#fig-48-5 ocorre em resposta aos sinais somatossensoriais recebidos das porções sensoriais do córtex, que mantêm o córtex motor informado, a cada instante, sobre as posições e os movimentos das diferentes partes do corpo. Áreas Somatossensoriais I e II. A Figura 48-6 mostra duas áreas sensoriais distintas no lobo parietal anterior, referidas como área somatossensorial I e área somatossensorial II. A razão para essa divisão é que, em cada uma dessas áreas, existe orientação espacial separada e distinta, representativa das diferentes partes do corpo. Entretanto, a área somatossensorial I é tão mais extensa e tão mais importante que a área somatossensorial II. A área somatossensorial I apresenta alto grau de localização das diferentes partes do corpo, como mostrado pelos nomes de quase todas as partes do corpo na figura. Ao contrário, a localização é pobre na área somatossensorial II, embora, grosseiramente, a face esteja representada anteriormente, os braços centralmente e as pernas posteriormente. Muito pouco se sabe sobre a função da área somatossensorial II. Sabe-se que os sinais entram nessa área vindos do tronco cerebral, conduzindo informações de ambos os lados do corpo. Além disso, muitos sinais provêm secundariamente da área somatossensorial I, como também de outras áreas sensoriais corticais, como as áreas visuais e auditivas. Projeções da área somatossensorial I são necessárias para a função da área somatossensorial II. Entretanto, a remoção de partes da área somatossensorial II não tem efeito aparente sobre a resposta dos neurônios da área somatossensorial I. Assim, muito do que sabemos a respeito da sensação somática parece ser explicado pelas funções da área somatossensorial I. O córtex somatossensorial (ou somestésico), situado na porção anterior do lobo parietal, constitui-se de áreas citoarquitetonicamente distintas. O córtex somatossensorial primário (SI) localiza-se no giro pós-central, apresentando quatro áreas funcionais: as áreas 1, 2, 3a e 3b de Brodmann. As projeções talâmicas para SI são organizadas somatotopicamente, e se originam principalmente do núcleo ventral posterior. O córtex somatossensorial secundário (SII), localizado na borda superior do sulco lateral, recebe projeções de SI e projeta-se sobre outras regiões corticais https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151567/epub/OEBPS/Text/cap-48.xhtml?favre=brett#fig-48-6 somatossensoriais da região insular. A porção posterior do lobo parietal, que também recebe aferências somestésicas, participa da integração de diferentes submodalidades somatossensoriais e também de outras modalidades além da somestésica, integração que é necessária a processos que levam à percepção e também à organização da motricidade. A área somatossensorial I se situa imediatamente atrás da fissura central, localizada no giro pós-central do córtex cerebral humano (nas áreas de Brodmann 3, 1 e 2). Observe, entretanto, que cada lado do córtex recebe, quase exclusivamente, informações sensoriais vindas do lado oposto do corpo. Algumas áreas do corpo são representadas por grandes áreas no córtex somático — a área dos lábios é a maior de todas, seguida pela da face e do polegar — enquanto o tronco e a parte inferior do corpo são representados por áreasrelativamente pequenas. As dimensões dessas áreas são diretamente proporcionais ao número de receptores sensoriais especializados, em cada área periférica respectiva do corpo. Por exemplo, grande número de terminações nervosas especializadas é encontrado nos lábios e no polegar, enquanto apenas poucas estão na pele que recobre o tronco. Deve ser observado também que a cabeça está representada na porção mais lateral da área somatossensorial I e a parte inferior do corpo está representada medialmente. Tato protopático do tato epicrítico O tato fino (epicrítico, na nomenclatura clássica) é o que conhecemos intuitivamente de nossa experiência pessoal. Capacita-nos a reconhecer estímulos muito suaves e pequenos com grande precisão. Permite localizar e descrever as características táteis de um objeto. Testa-se tocando a pele simultaneamente com as duas pontas de um compasso e verificando-se a maior distância entre dois pontos tocados que é percebido como se fosse um só (discriminação de dois pontos). Segue a via ascendente do funículo posterior da medula. Principais características do tato epicrítico: Estereognosia: capacidade de reconhecer objetos exclusivamente através do tato; Grafestesia: capacidade de perceber a escrita de palavras ou números escritos sobre a pele estando de olhos fechados (Ex: se o indivíduo fecha o olho e alguém escreve uma letra ou um símbolo na mão dessa pessoa, ela é capaz de reconhecer o que foi escrito). Discriminação entre dois pontos: nas costas, a resolução espacial é bastante pequena (42mm) ao contrário do dedo indicador e polegar (2,5mm). O tato grosseiro (protopático) não é preciso, e pode ser um remanescente evolutivo das primeiras tentativas da natureza em estabelecer um sistema somestésico entre os mamíferos. Percebe estímulos de pressão e tato de forma imprecisa. Segue a via ascendente do funículo anterior da medula. O tato fino e o tato grosseiro permanecem separados até o tálamo, constituindo vias ascendentes distintas, e isso é verdade tanto para a sensibilidade do corpo como para a da cabeça. No caso do tato fino, as fibras que emergem dos núcleos da coluna dorsal cruzam para o lado oposto reunindo-se com as que derivam do núcleo principal do trigémeo. Os dois conjuntos permanecem lado a lado, formando um feixe achatado localizado perto do plano mediano do tronco encefálico, chamado lemnisco medial. O lemnisco medial termina no núcleo ventral posterior do tálamo (VP), de onde emergem as radiações talâmicas, cujas fibras deixam o diencéfalo pela cápsula interna, penetrando na substância branca cortical para terminar no giro que margeia o sulco central, no lobo parietal (por isso mesmo chamado giro pós-central). Nessa região cortical é encontrada a área somestésica primária ou Si. Bem mais lateralmente, quase na borda do sulco lateral, uma segunda área cortical recebe fibras talâmicas e de S 1: é a chamada área somestésica secundária ou S2. No caso do tato grosseiro, as fibras que compõem os feixes espinotalâmicos reúnem-se com as que emergem do núcleo espinhal do trigémeo para formar o lemnisco espinhal, vizinho do lemnisco medial que descrevemos acima. As fibras táteis do lemnisco espinhal terminam também no núcleo ventral posterior do tálamo e, após esse estágio sináptico, as informações são enviadas a SI. No lemnisco espinhal trafegam também as fibras que conduzem as sensibilidades térmica e dolorosa. O sistema da coluna dorsal processa as sensações de tato fino (epicrítico), pressão, discriminação entre dois pontos, vibração e propriocepção (posicionamento de membros). O sistema anterolateral processa as sensações de dor, temperatura e tato grosseiro (protopático). Correlação entre sensações de tato, pressão e vibração Embora o tato, a pressão e a vibração sejam frequentemente classificados como sensações distintas, todas elas são detectadas pelos mesmos tipos de receptores. Existem três diferenças principais entre elas: 1. a sensibilidade tátil resulta geralmente da estimulação dos receptores para o tato na pele ou nos tecidos imediatamente abaixo da pele; 2. a sensação de pressão resulta geralmente da deformação dos tecidos mais profundos; e 3. a sensação de vibração é resultado da ocorrência de sinais sensoriais repetitivos e rápidos, porém são usados alguns dos tipos de receptores para o tato e pressão. Os núcleos associados a tato, pressão, vibração e propriocepção consciente estão localizados na região posterior do bulbo: são os núcleos grácil e cuneiforme. Tato: A sensação de tato é resultante geralmente do estímulo dos receptores táteis localizados na pele ou na tela subcutânea; corpúsculo de Meissner, discos de Merkel, cospúsculos de Ruffini, plexos das raizes pilosas Pressão: sensação prolongada sobre uma área maior do que a sentida pelo tato, ocorre com a deformação dos tecidos mais profundos; corpúsculo de Meissner, discos de Merkel e cospúsculos de Pacini. Vibração: as sensações de vibração, são resultantes dos sinais sensitivos que se repetem rapidamente nos receptores táteis; corpúsculo de Meissner e corpúsculo de Pacini. Lesão medular Lesão Medular se caracteriza pela interrupção parcial ou total do sinal neurológico através da medula resultando em paresia (paralisia incompleta; diminuição da motricidade) ou paralisia (abolição da motricidade) e ausência de sensibilidade do nível da lesão para baixo, assim como outras alterações nos sistemas: urinário, intestinal e autônomo. Dois fatores irão influenciar no grau de limitação de cada indivíduo: O nível de lesão: altura da lesão, se esta é mais alta ou mais baixa. Uma lesão de nível mais alto resulta numa maior área corporal comprometida: o Cervicais: comprometimento dos membros superiores, tronco e membros inferiores. Lesões de C1-C3 comprometem os movimentos do pescoço e cabeça. São eles: C1, C2, C3, C4, C5, C6 ou C7. o Torácicas: comprometimento do tronco e membros inferiores. São eles: T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9, T10, T11 ou T12. o Lombares: comprometimento dos membros inferiores. São eles: L1, L2, L3, L4 ou L5. o Sacrais: comprometimento leve dos membros inferiores. São eles: S1, S2, S3, S4 ou S5. A extensão (tamanho) da lesão: se esta é completa ou incompleta. o Completa: perda sensitiva e motora completa abaixo do nível da lesão. Não há atividade motora voluntária nem sensibilidade do nível da lesão até o segmento Sacral S4-S5. o Incompleta: há alguma função sensitiva ou motora preservada distalmente à lesão. Há atividade motora voluntária parcial e sensibilidade parcial até o segmento sacral S4-S5. Desta forma podem existir tanto lesões altas incompletas como lesões baixas completas. Portanto: Níveis de lesão cervicais: o Tetraplégico: indivíduos portadores de grande comprometimento dos membros superiores para baixo; o Tetraparético: indivíduos portadores de comprometimento leve dos membros superiores para baixo. Níveis de lesão torácicos ou lombares: o Paraplégico: indivíduos portadores de grande comprometimento dos membros inferiores. o Paraparético: indivíduos com comprometimento leve dos membros inferiores. Cada nervo percorre um trajeto definindo o território cutâneo que recebe o nome da raiz que o inerva. Assim, identificamos a raiz nervosa responsável pela sensação e movimento da região do corpo segundo o dermátomo. Exemplo: Uma lesão na oitava vértebra torácica compromete a partir da nona raiz nervosa torácica. Vale salientar que a avaliação neurológica é que define o nível da lesão. Vale ressaltar que a lesão medular não compromete necessariamente a parte intelectual: raciocínio, memória, compreensão. Caso o cérebro seja afetado, podem-se observar alterações na parte intelectual, além de comprometimentos na face (língua, boca, olhos etc), dependendo da gravidadeda lesão cerebral. Dependendo do local e da extensão da lesão medular, pode ocorrer paralisia. Monoplegia é a paralisia de apenas um membro. Diplegia é a paralisia de ambos os membros superiores ou ambos os membros inferiores. Paraplegia é a paralisia de ambos os membros inferiores. Hemiplegia é a paralisia do membro superior, tronco e membro inferior de um lado do corpo, e a tetraplegia é a paralisia dos quatro membros. A transecção da medula espinal significa que a medula foi seccionada de um lado ao outro, seccionando, assim, todos os tratos sensitivos e motores. Isso resulta em perda de toda a sensibilidade e dos movimentos voluntários abaixo do nível da lesão. C1-C3: nenhuma função abaixo do pescoço; indivíduo necessita de ventilação mecânica e de cadeira de rodas controlada por dispositivos conectados à cabeça ou aos ombros (ver a Figura A) C4-C5: diafragma, que permite a respiração espontânea C6-C7: alguns músculos dos membros superiores e do tórax, o que permite algum grau de independência para se alimentar e se vestir, bem como a utilização de cadeira de rodas manual (ver a Figura B) T1-T3: função dos braços preservada T4-T9: controle do tronco acima do umbigo T10-L1: maior parte dos músculos da coxa, o que possibilita a deambulação com muletas longas (ver a Figura C) L1-L2: maior parte dos músculos dos membros inferiores, o que permite a deambulação com muletas curtas (ver a Figura D). Hemissecção é a secção parcial direita ou esquerda da medula espinal. Após este tipo de lesão, três sintomas principais, conhecidos em conjunto como síndrome de Brown-Séquard, ocorrem abaixo do nível da lesão. (1) A lesão do funículo posterior (tratos sensitivos) causa a perda da propriocepção e do tato discriminativo ipsolaterais. (2) A lesão do trato corticospinal lateral (trato motor) causa paralisia ipsolateral. (3) A lesão dos tratos espinotalâmicos (tratos sensitivos) causa a perda das sensibilidades térmica e dolorosa contralaterais. A escala de restrições da ASIA utiliza os achados do exame neurológico para classificar os tipos de lesão dentro de cinco categorias: A = Lesão Completa. Não existe função motora e sensitiva nos segmentos medulares abaixo da lesão, incluindo os segmentos sacrais; B = Lesão Incompleta. Sensibilidade (total ou parcialmente) preservada com extensão através dos segmentos sacrais S4-S5, sem função motora abaixo do nível neurológico; C = Lesão Incompleta. Função motora preservada abaixo do nível da lesão com a maior parte dos músculos-chave abaixo do nível neurológico apresentando um grau de força muscular menor que 3; D = Lesão Incompleta. Função motora preservada abaixo do nível da lesão com a maior parte dos músculos-chave abaixo do nível neurológico apresentando um grau de força muscular maior ou igual a 3; E = Função Normal. Função motora e sensitiva normais termos consciente e inconsciente A consciência é o perfeito estado do conhecimento de si próprio e do ambiente, bem como a responsividade específica a variados estímulos internos e externos. Chama-se consciência o conhecimento que temos de nós mesmos e do mundo externo. O ciclo vigília-sono encerra as variações normais, fisiológicas, da consciência. Nos extremos estão o sono profundo sem sonho (no qual há ausência de consciência) e o estado acordado pleno, denominado lucidez. Como níveis intermediários, há o sono com sonho (quando existe contato com o mundo interior) e a sonolência do despertar e do acordar. Inconsciência quer dizer ausência de consciência. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA A percepção consciente do mundo exterior e de si mesmo caracteriza o estado de vigília, resultante da atividade de diversas áreas cerebrais, coordenadas pelo sistema reticular ativado ascendente. Entre o estado de vigília, em que está inteiramente consciente, e o estado comatoso, no qual o paciente perde a capacidade de identificar seu mundo interior e os acontecimentos do meio externo, é possível distinguir diversas fases intermediárias em uma graduação cujo principal indicador é o nível de consciência, assim esquematizado: ■ Obnubilação: quando o nível de consciência é pouco comprometido, permanecendo o paciente em estado de alerta ainda que algo diminuído ■ Sonolência: o paciente é facilmente despertado, responde mais ou menos apropriadamente, mas logo volta a dormir ■ Confusão mental: configura-se por perda de atenção, o pensamento não é claro, as respostas são lentas e não há uma percepção temporoespacial normal ■ Torpor ou estupor: quando a alteração de consciência for mais pronunciada, mas o paciente ainda é capaz de ser despertado por estímulos mais fortes e tem movimentos espontâneos ■ Coma: quando o paciente não for despertado por estímulos fortes e não tiver movimentos espontâneos. COMA Coma é um estado de inconsciência, habitualmente prolongado (com duração de horas, dias ou meses), do qual o paciente pode ou não emergir. Esse estado de inconsciência não pode ser revertido pelos estímulos externos comuns, critério que torna possível distinguir o coma do estado de inconsciência do sono fisiológico. O coma é a expressão de falência das funções encefálicas, podendo ser determinado por lesões estruturais do parênquima encefálico, disfunções metabólicas e intoxicações exógenas com repercussão no sistema nervoso central. Métodos de avaliação dos níveis de consciência ESCALA DE COMA DE GLASGOW A escala de coma de Glasgow, instrumento mais utilizado para determinar alterações de nível de consciência, consiste na análise de três parâmetros: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora (Quadro 8.1). Os extremos da escala, ou seja, valores próximos a 15 ou 3 pontos, caracterizam a normalidade (15 pontos) ou o estado de coma grave (3 pontos). Entre os dois extremos, encontram-se vários graus de comprometimento de nível de consciência, sendo que abaixo de 8 pontos, corresponde ao estado de coma. Quadro 8.1 Escala de coma de Glasgow. Abertura ocular Espontânea 4 Ao comando verbal 3 À dor, pressão, do musculo trapézio 2 Sem resposta 1 Resposta motora Ao comando verbal, obedece 6 À dor – localizar 5 Flexão normal do membro estimulado 4 Flexão anormal 3 Extensão anormal 2 Sem resposta 1 Resposta verbal Orientada 5 Confusa 4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527734998/epub/OEBPS/Text/chapter008.html#qua8_1 Inapropriada, palavras soltas 3 Incompreensível, grunnidos 2 Sem resposta 1 ESCALA DE COMA DE JOUVET Foi criada para avaliação de consciência em pacientes em estado vegetativo persistente, todavia algumas pesquisas mostraram a utilização da ECJ em estados agudos. É ideal para acompanhamento de pacientes em recuperação funcional após quadros neurológicos graves. A ECJ é bastante sensível e avalia flutuações do nível de consciência em estados próximos do normal. A ECJ avalia as funções corticais (a consciência) e as funções do tronco cerebral. As funções corticais são verificadas por meio da perceptividade, um marcador clínico fidedigno, prático, não invasivo. As funções do tronco cerebral são avaliadas por meio da reatividade específica, inespecífica e autônoma. No exame neurológico do paciente comatoso, avaliam-se fundamentalmente o nível da consciência, os reflexos oculares e as funções motoras. A avaliação do nível da consciência é feita pela exploração da perceptividade (que depende de mecanismos nervosos adquiridos, com integração cortical) e da reatividade (que depende de respostas menos elaboradas, com integração subcortical e no tronco encefálico) (Quadro 174.2). Quadro 174.2 Escala da consciência vígil (segundo Jouvet e Dechaume). Perceptividade 1. Execução de ordem escrita 2. Orientação temporoespacial 3. Execução de ordem verbal 4. Reação de piscamento à ameaça Reatividade à dor 1. Mímica facial e vocalização 2. Reação de alerta 3. Retiradado membro Reatividade inespecífica 1. Reação de orientação 2. Reação de alerta Reatividade autonômica 1. Variações respiratórias 2. Variações do ritmo cardíaco https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527734998/epub/OEBPS/Text/chapter174.html#qua174_2 3. Variações vasomotoras 4. Variações pupilares A perceptividade pode ser analisada pelos seguintes testes: (1) resposta a uma ordem escrita (“feche os olhos, mostre a língua”); (2) orientação no tempo e no espaço (o indivíduo deve dizer onde se encontra e que dia é); (3) execução de um cálculo mental simples; (4) pede-se ao paciente que nomeie seis flores – em geral, nos quadros de dissolução progressiva da consciência, os pacientes conseguem citar apenas uma flor, comumente a rosa; (5) execução de uma ordem verbal simples (“mostre a língua”); (6) reação de piscamento à ameaça. A reatividade inespecífica pode ser avaliada pelo reflexo cocleopalpebral. Um ruído intenso determina um piscamento. A reação de orientação (quando o paciente permanece com os olhos abertos) pode ser explorada pela execução de um estímulo sonoro, podendo ocorrer a rotação dos olhos na direção da fonte sonora. Quando os olhos estão fechados, deve ser observado se a mesma manobra é capaz de provocar a abertura dos mesmos. Essas duas manobras exploram a atividade do tronco encefálico. A exploração da reatividade à dor é feita pela aplicação de estímulos dolorosos. Nessa pesquisa, três tipos de resposta devem ser considerados: (1) mímica reacional de dor (fazer careta ou contrair as pálpebras), acompanhada ou não de vocalização; (2) reação de despertar (abertura dos olhos); (3) reatividade motora (pela retirada de um segmento do membro estimulado). A exploração da reatividade autonômica é realizada por meio de estímulos dolorosos, que podem determinar variação do ritmo respiratório e cardíaco ou desencadear o aparecimento de modificações vasomotoras (sudorese, rubor) e/ou pupilares. Essas modificações dependem de comprometimento da porção baixa do tronco encefálico.
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