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Resumo das Obras - Dra Amanda Medeiros

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Resumo das Obras 
Dr. Amanda Medeiros 
 
Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis 
Linguagem direta, descrição bem detalhada, fidelidade à realidade, personagens com detalhamento 
psicológico e valorização da ciência como melhor forma de se obter conhecimento. 
A obra tem início com a declaração da morte de Brás Cubas, cujo narrador e protagonista relata suas memórias depois de ter 
sido vítima de pneumonia. Pertencente a uma família abastada do século XIX, Brás Cubas narra primeiramente sua morte e 
enterro onde apareceram onze amigos. Por conseguinte, ele relata diversos momentos de sua vida. 
A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época, é marcada por privilégios e 
caprichos patrocinados pelos pais. O garoto tinha como “brinquedo” de estimação o negrinho Prudêncio, que lhe servia de 
montaria e para maus-tratos em geral. Na escola, Brás era amigo de traquinagem de Quincas Borbas, que aparecerá no futuro 
defendendo o humanitismo, misto da teoria darwinista com o borbismo: “Aos vencedores, as batatas”, ou seja: só os mais fortes e 
aptos devem sobreviver. 
Na juventude do protagonista, as benesses ficam por conta dos gastos com uma cortesã, ou prostituta de luxo, chamada Marcela, 
a quem Brás dedica a célebre frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. Essa é uma das marcas do 
estilo machadiano, a maneira como o autor trabalha as figuras de linguagem. Marcela é prostituta de luxo, mas na obra não há, 
em nenhum momento, a caracterização nesses termos. Machado utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor capte o 
significado. Brás Cubas não diz, por exemplo, que Marcela só estava interessada nos caros presentes que ele lhe dava. Ao 
contrário, afirma categoricamente que ela o amou, mas fica claro que, naquela relação, amor e interesse financeiro estão 
intimamente ligados. Apaixonado por Marcela, Brás Cubas gasta enormes recursos da família com festas, presentes e toda sorte 
de frivolidades. Seu pai, para dar um basta à situação, toma a resolução mais comum para as classes ricas da época: manda o 
filho para a Europa estudar leis e garantir o título de bacharel em Coimbra. 
Brás Cubas, no entanto, segue contrariado para a universidade. Marcela não vai, como combinara, despedir-se dele, e a viagem 
começa triste e lúgubre. Em Coimbra, a vida não se altera muito. Com o diploma nas mãos e total inaptidão para o trabalho, Brás 
Cubas retorna ao Brasil e segue sua existência parasitária, gozando dos privilégios dos bem-nascidos do país. 
Em certo momento da narrativa, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor. Enamora-se de Virgília, parente de um 
ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no casamento com ela um futuro político. No entanto, ela acaba se casando com 
Lobo Neves, que arrebata do protagonista não apenas a noiva como também a candidatura a deputado que o pai preparava. O 
casal se encontra às escondidas numa casa alugada para esse própósito. Nesse momento podemos notar a presença de Dona 
PLácida, empregada de Virgília e que encobre todos os encontros da adúltera. Por fim, Brás Cubas entra para a política e mesmo 
desenvolvendo um trabalho medíocre essa posição lhe oferece certo “status”, num mundo onde a aparência era o mais louvável. 
 
Grandes Sertões Veredas – Guimarães Rosa 
Durante a primeira parte da obra, o narrador em primeira pessoa, Riobaldo, faz um relato de fatos diversos e aparentemente 
desconexos entre si, que versam sobre suas inquietações sobre a vida. Os temas giram em torno das clássicas questões filosóficas 
ocidentais, tais como a origem do homem, reflexões sobre a vida, o bem e o mal, deus e o diabo. Porém, Riobaldo não consegue 
organizar suas ideias e expressa-las de modo satisfatório, o que gera um relato bastante caótico. Até que em certo ponto aparece 
Quelemén de Góis, que o ajuda em parte, e Riobaldo dá início à narrativa propriamente dita. 
Riobaldo começa a rememorar seu passado e conta sobre sua mãe e como conhecera o menino Reinaldo, que se declarava ser 
“diferente”. Riobaldo admira a coragem do amigo. Quando sua mãe vem a falecer, ele é levado para viver com seu padrinho na 
fazenda São Gregório, onde conhece Joca Ramiro, grande chefe dos jagunços. Selorico Mendes, o padrinho, eu depois ele 
descobre eu é seu verdadeiro pai, coloca-o para estudar e após um tempo Riobaldo começa a lecionar para Zé Bebelo, um 
fazendeiro da região. Pouco tempo depois, Zé Bebelo, que queria por fim na atuação dos jagunços pela região, convida Riobaldo 
para fazer parte de seu bando, ele aceita. Assim começa a história da primeira guerra narrada em “Grande Sertão: Veredas”.. 
A amizade entre Riobaldo e Reinaldo se fortalece com o passar do tempo e Reinaldo o confidencia em segredo seu nome 
verdadeiro: Diadorim. Em certo momento dá-se a batalha entre o bando de Zé Bebelo e de Joca Ramiro, onde Zé Bebelo é 
capturado. Então, ele é julgado pelo tribunal composto dos líderes dos jagunços, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Após 
longo período de paz e bonança no sertão, um jagunço chamado Gavião-Cujo vai até o grupo de Titão informar que Joca 
Ramiro foi traído e morto por Hermógenes e Ricardão, que ficam conhecidos como “os judas”. Os jagunços se reúnem para 
combater “os judas” e assim começa a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, 
assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, os jagunços liderados por Zé Bebelo, que retorna para vingar a morte 
de seu salvador. Quando o grupo de Zé Bebelo chega às Veredas-Mortas, em dado momento Riobaldo faz um pacto com o 
diabo para que possam vencer o bando de Hermógenes. Sob o nome Urutu-Branco, ele assume a chefia do bando e Zé Bebelo 
deserta do grupo. O bando liderado por Riobaldo (ou Urutu-Branco) segue em caça por Hermógenes, chegando até sua fazenda 
já em terras baianas. Há uma grande e sangrenta batalha. Diadorim enfrenta Hermógenes em confronto direto e ambos 
morrem. Riobaldo despindo o corpo de Diadorim, descobre, então, que é na realidade é uma mulher a filha de Joca Ramiro, e se 
chama Maria Deodorina da Fé Bittancourt Marins. Ali, ele se acalma, por saber que ele tinha realmente se apaixonado por uma 
mulher, já que antes, tentava reprimir esse sentimento por se tratar de homossexualismo. 
Dom Casmurro – Machado de Assis 
Muita ironia e sarcasmo nas críticas às hipocrisias da sociedade em que vivia. Pessimismo, espírito 
crítico e reflexão sobre a temática da traição. 
O romance inicia-se numa situação posterior a todos os seus acontecimentos. Bento Santiago, já um homem de idade, conta ao 
leitor como recebeu a alcunha de Dom Casmurro. A expressão fora inventada por um jovem poeta, que tentara ler para ele no 
trem alguns de seus versos. Como Bento cochilara durante a leitura, o rapaz ficou chateado e começou a chamá-lo daquela 
forma. Na infância de Bentinho, quando ele vivia com a família num casarão da rua de Matacavalos. Bentinho escuta uma 
conversa entre José Dias e dona Glória: ela pretende mandá-lo ao seminário no cumprimento de uma promessa feita pouco 
antes de seu nascimento. A mãe, que já havia perdido um filho, prometera que, se o segundo filho nascesse “varão”, ela faria dele 
padre. Na conversa, dona Glória soubera da amizade estreita entre o menino e a filha de Pádua, Capitolina. 
Bentinho expõe a situação a Capitu. A menina ouve tudo com atenção e começa a arquitetar uma maneira de Bentinho escapar 
do seminário, mas todos os seus planos fracassam. O garoto segue para o seminário, mas, antes de partir, sela, com um beijo em 
Capitu, a promessa de que se casaria com ela. No seminário, Bentinho conhece Ezequiel de Souza Escobar, que se torna seu 
melhor amigo. Em uma visita a sua família, Bentinho leva Escobar e Capitu o conhece. Enquanto Bentinho estuda para se tornar 
padre, Capitu estreita relações com dona Glória, que passa a ver com bons olhos a relação do filhocom a garota. Dona Glória 
ainda não sabe, contudo, como resolver o problema da promessa e pensa em consultar o papa. Escobar é quem encontra a 
solução: a mãe, em desespero, prometera a Deus um sacerdote que não precisava, necessariamente, ser Bentinho. Por isso, no 
lugar dele, um escravo é enviado ao seminário e ordena-se padre. 
Bentinho vai estudar direito no Largo de São Francisco, em São Paulo. Quando conclui os estudos, torna-se o doutor Bento de 
Albuquerque Santiago. Ocorre então o casamento tão esperado entre Bento e Capitu. Escobar, por seu lado, casara-se com 
Sancha, uma antiga amiga de colégio de Capitu. Depois de alguns anos, Capitu finalmente tem um filho, e o casal pode retribuir 
a homenagem que Escobar e Sancha lhe haviam prestado: o filho é batizado com o nome de Ezequiel. Os casais passam a 
conviver intensamente. Bento vê uma semelhança terrível entre o pequeno Ezequiel e seu amigo Escobar, que, numa de suas 
aventuras na praia – o personagem era excelente nadador -, morre afogado. 
Bento enxerga no filho a figura do amigo falecido e fica convencido de que fora traído pela mulher. Resolve suicidar-se 
bebendo uma xícara de café envenenado. Quando Ezequiel entra em seu escritório, decide matar a criança, mas desiste no 
último momento. Diz ao garoto, então, que não é seu pai. Capitu escuta tudo e lamenta-se pelo ciúme de Bentinho, que, segundo 
ela, fora despertado pela casualidade da semelhança. Após inúmeras discussões, o casal decide separar-se. Arruma-se uma 
viagem para a Europa com o intuito de encobrir a nova situação, que levantaria muita polêmica. O protagonista retorna sozinho 
ao Brasil e se torna, pouco a pouco, o amargo Dom Casmurro. Capitu morre no exterior e Ezequiel tenta reatar relações com ele, 
mas a semelhança extrema com Escobar faz com que Bento Santiago o rejeite novamente. O destino de Ezequiel é infeliz: ele 
morre de febre tifóide durante uma pesquisa arqueológica em Jerusalém. Triste e nostálgico, o narrador constrói uma casa que 
imita sua casa de infância, na rua de Matacavalos. 
 
Vidas Secas – Graciliano Ramos 
Fabiano é um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Sem ter frequentado a escola, não é um homem com o dom das 
palavras, e chega a ver a si próprio como um animal às vezes. Empregado em uma fazenda, pensa na brutalidade com que seu 
patrão o trata. Fabiano admira o dom que algumas pessoas possuem com a palavra, mas assim como as palavras e as ideias o 
seduziam, também cansavam-no. Sem conseguir se comunicar direito com as pessoas, entra em apuros em um bar com um 
soldado, que o desafiou para um jogo de apostas. Irritado por perder o jogo, o soldado provoca Fabiano o insultando de todas as 
formas. O pobre vaqueiro suporta tudo calado, pois não conseguia se defender. Até que, por fim acaba, insultando a mãe do 
soldado e sendo preso. Na cadeia, pensa na família, em como acabou naquela situação e acaba perdendo a cabeça, gritando com 
todos e pensando na família como um peso a carregar. 
Sinha Vitória é a esposa de Fabiano. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora. Além de cuidar dos filhos e da casa, ajudava o 
marido em seu trabalho também. Esperta, sabia fazer contas e sempre avisava ao marido sobre os trapaceiros que tentavam tirar 
vantagem da falta de conhecimento de Fabiano. Sonhava com um futuro melhor para seus filhos e não se conformava com a 
miséria em que viviam. Seu sonho era ter uma cama de fita de couro para dormir. 
Nesse cenário de miséria e sem se darem muita conta do que acontecia a seu redor, viviam os dois meninos. O mais novo via na 
figura do pai um exemplo. Já o mais velho queria aprender sobre as palavras. Um dia ouviu a palavra “inferno” de alguém e 
ficou intrigado com seu significado. Perguntou a Sinhá Vitória o que significava, mas recebeu uma resposta vaga. Vai então 
perguntar a Fabiano, mas esse o ignora. Volta a questionar sua mãe, mas ela fica brava com a insistência e lhe dá um cascudo. 
Sem ter ninguém que o entenda e sacie sua dúvida, só consegue buscar consolo na cadela Baleia. 
O Natal chegou e a família inteira foi à festa da cidade. Fabiano ficou embriagado e se sentia muito valente, só pensando em se 
vingar do soldado que lhe colocou atrás das grades. Fabiano vê o estado em que se encontrava Baleia, com pelos caídos e feridas 
na boca, e achou que ela pudesse estar doente. O vaqueiro resolve, então, sacrificar a cadela. Sinhá Vitória recolhe os filhos, que 
protestavam contra o sacrifício do pobre animal, mas não havia outra escolha. O primeiro tiro acerta o traseiro de Baleia e a 
deixa com as patas inutilizadas. A cadela sentia o fim próximo e chega a querer morder Fabiano. Apesar da raiva que sentia de 
Fabiano, o via como um companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da visão de uma espécie de paraíso dos cachorros, 
onde ela poderia caçar preás à vontade, Baleia morre sentindo dor e arrepios. 
E assim a vida vai passando para essa família sofredora do sertão nordestino. Até que um dia, com o céu extremamente azul e 
nenhuma nuvem à vista, vendo os animais em estado de miséria, Fabiano decide que a hora de partir novamente havia chegado. 
Partiram de madrugada largando tudo como haviam encontrado. A cadela Baleia era uma imagem constante nos pensamentos 
confusos de Fabiano. Sinhá Vitória tentava puxar conversa com o marido durante a caminhada e os dois seguiam fazendo 
planos para o futuro e pensando se existiria um destino melhor para seus filhos. 
 
A hora da Estrela – Clarice Lispector 
Romance intimista, psicológico, com denuncia social, presença de narração masculina pela primeira 
vez e drama de linguagem. 
O narrador conta a história de Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro. Órfã, mal se lembrava dos pais, 
que morreram quando ela era ainda criança. Foi criada por uma tia muito religiosa e moralista, cheia de superstições e tabus, os 
quais ela passou para a sobrinha. Depois de uma infância miserável, sem conforto nem amor, sem ter tido amigos nem animais 
de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia. Apesar de ter estudado pouco e não saber escrever direito, Macabéa 
faz um curso de datilografia e consegue um emprego, no qual recebe menos que o salário mínimo. Após a morte da tia, deixa de 
ir à igreja e passa a repartir um quarto de pensão com quatro balconistas de uma loja popular. Macabéa cheirava mal, pois 
raramente tomava banho. À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em virtude do café frio que 
tomava antes de se deitar — e da fome, que ela disfarçava comendo pedacinhos de papel. 
Era muito magra e pálida, pois não se alimentava direito. Basicamente vivia de cachorro-quente com Coca-Cola, que comia na 
hora do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou no escritório em que trabalhava. Não sabia o que era uma refeição 
quente. Seus luxos consistiam em pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando recebia o salário, 
ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema, como Marilyn Monroe, seu grande sonho. 
Certo dia, o chefe de Macabéa, Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava, com textos datilografados cheios de 
erros de ortografia e marcas de gordura, resolve despedi-la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado, 
acaba desarmando Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.Num dia 7 de maio, Macabéa mente dizendo que 
arrancaria um dente e falta ao trabalho para poder aproveitar a liberdade da solidão e fazer algo diferente. Assim que as colegas 
saem para trabalhar, ela coloca uma música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se dá ao luxo de se entediar. É nesse dia 
que conhece Olímpico de Jesus, único namorado que teve. Não foi um namoro convencional. Olímpico também havia migrado 
do Nordeste, onde matara um homem, fugindo para o Rio de Janeiro. Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá delírios 
de grandeza em Macabéa.. Mau-carátere ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e almejava um 
dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se em bancos 
de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava 
constantemente a se desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos. Certo dia, admitindo que ela nunca lhe 
dava despesa, Olímpico decide pagar um cafezinho para Macabéa no bar da esquina. Avisa, porém, que se o café com leite fosse 
mais caro, ela pagaria a diferença. Macabéa, emocionada com a “bondade” do namorado, acaba enchendo o copo de açúcar 
para aproveitar, ficando enjoada depois. Em um passeio ao zoológico, Macabéa fica com tanto medo do rinoceronte que urina 
na roupa e tenta disfarçar para não desagradar ao namorado. Um dia, vendo que só o chefe e sua colega de escritório, Glória, 
recebiam telefonemas, Macabéa dá uma ficha telefônica para que Olímpico ligue para ela. Ele se recusa, dizendo que não queria 
ouvir as “bobagens” dela. Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua amiga. O 
rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira (oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa 
confortável, tinha três refeições por dia e, o mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico. 
Após esse episódio, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não entende muito bem a gravidade da doença. 
Sente-se bem só por ter ido ao consultório e não acha necessário comprar o medicamento receitado. Com dor na consciência 
por ter roubado o namorado de Macabéa, Glória a convida para lanchar em sua casa. MacabéA. Finalmente, aconselhada por 
Glória, Macabéa vai até uma cartomante para saber de sua sorte. Lá, é recebida pela própria, Madama Carlota, que impressiona 
a pobre moça pelo “requinte” de sua residência, lê as cartas para Macabéa, que, emocionada, pela primeira vez vislumbra um 
futuro e se permite ter esperança. Afinal, iria se casar com um estrangeiro rico, que daria todo o amor de que ela precisava. 
Inebriada com as previsões da cartomante, Macabéa atravessa a rua sem olhar e é atropelada por uma Mercedes-Benz. Caída na 
calçada e sangrando, seu fim é testemunhado por inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela, sem que nenhum 
ofereça socorro. Por fim, a garota tosse sangue e morre. Havia chegado a hora da estrela. 
 
Iracema – José de Alencar 
Nacionalismo, exaltação da natureza, religiosidade cristã, indianismo e sentimentalismo exagerado. 
A narrativa inicia-se em 1608, quando Martim Soares Moreno é indicado para regularizar a colonização da região que mais 
tarde seria conhecida como Ceará. Os índios potiguaras (habitantes do litoral) eram aliados dos portugueses, enquanto os 
tabajaras (habitantes das serras cearenses) eram aliados dos franceses. 
ENREDO 
A primeira cena antecipa o fim do livro, o que reforça a unidade da obra: Martim e Moacir deixam a costa do Ceará em uma 
embarcação, quando o vento lhes traz aos ouvidos o nome de Iracema. 
No segundo capítulo, a narrativa retrocede no tempo até o nascimento de Iracema. A personagem é então apresentada ao leitor: 
“Virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”. A 
índia é descrita como uma linda e excelente guerreira tabajara, “mais rápida que a ema selvagem”. Por isso mesmo, sua reação 
ao avistar o explorador Martim é desferir-lhe uma flechada certeira. Essa é também uma referência à flecha de cupido, já que, 
desde o primeiro olhar trocado pelos personagens, se percebe o amor que floresce entre os dois. 
Martim desiste de atacar a índia assim que põe os olhos nela. Iracema, por sua vez, parece ter atirado a flecha por puro reflexo, 
pois logo depois se arrepende do gesto e salva o estrangeiro, levando-o até sua aldeia. Martim é recolhido à aldeia pelo pajé 
Araquém, pai de Iracema, e apresenta-se a ele como um aliado de seus inimigos potiguaras que se perdera durante uma caçada. 
O pajé o trata com grande hospitalidade e garante hospedagem, mulheres e a proteção de mil guerreiros. 
Iracema oferece mulheres a Martim, que prontamente as recusa e revela sua paixão por ela. O amor de Martim é cristão, 
idealizado. O de Iracema também, mas por motivo diverso: ela guarda o segredo da jurema, por isso precisa manter se virgem. 
Esse é o estratagema que Alencar utiliza para transpor o amor romântico europeu às terras americanas. Uma índia, criada fora 
dos dogmas cristãos, não teria motivos para preservar sua virgindade. 
AMOR PROIBIDO 
As proibições reforçam ainda mais o amor entre a índia e o português. São as primeiras de muitas provações que tal união terá 
de enfrentar. Em linhas gerais, o romance estrutura-se no embate entre tudo o que une e o que separa os dois amantes. Irapuã é 
o chefe guerreiro tabajara e funcionará, no esquema narrativo da obra, como um antagonista de Martim. Na primeira 
desavença entre os dois, o velho pajé Andira, irmão de Araquém, intervém em favor do estrangeiro. Iracema pergunta ao amado 
o motivo de sua tristeza e, percebendo que ele tinha saudade de seu povo, pergunta se uma noiva branca espera pelo seu 
guerreiro. “Ela não é mais doce do que Iracema”, responde Martim. Irapuã nutre amor não correspondido pela virgem e logo 
reconhece no português um inimigo mortal. 
Iracema conduz Martim ao bosque sagrado, onde lhe ministra uma poção alucinógena. O guerreiro branco delira, e a índia 
adormece entre os seus braços. Enquanto isso, Itapuã continua alimentando planos para se livrar do estrangeiro. O amor entre 
os protagonistas parece impossível de se concretizar, por isso Martim é coagido por Iracema a voltar para sua terra. Caubi, 
irmão de Iracema, acompanha-os. No caminho de volta, porém, são atacados por guerreiros liderados por Irapuã. Martim, 
Iracema e Caubi refugiam-se na taba do pajé Araquém, que usa de um truque para salvar o português da ira do chefe guerreiro. 
Sucede-se o encontro amoroso entre Martim e Iracema, ele está inconsciente por ter ingerido a bebida da jurema e a índia 
deita-se ao seu lado. Acontece a guerra entre potiguaras e tabajaras. Martim escapa de seus inimigos tabajaras e une-se aos 
vencedores potiguaras. Iracema, porém, sente-se profundamente triste pela morte dos entes queridos e não suporta viver na 
terra de seus inimigos. 
O casal muda-se então para uma cabana afastada, localizada numa praia idílica. Com eles vai Poti, o grande amigo de Martim. 
Lá vivem um tempo de felicidade, culminando com a gravidez de Iracema e o batismo indígena de Martim, que recebe o nome 
de Coatiabo, ou “gente pintada”. Com o passar do tempo, contudo, o português se entristece por não poder dar vazão a seu 
espírito guerreiro e por estar com muita saudade de sua gente. A bela índia tabajara também se mostra cada vez mais triste. 
Numa ocasião em que Martim e Poti saem para uma batalha, nasce o filho, Moacir. Quando os dois amigos voltam da guerra, 
encontram Iracema à beira da morte. O corpo da índia é enterrado aos pés de um coqueiro, em cujas folhas se pode ouvir um 
lamento. Daí vem o nome Ceará, canto de sua jandaia de estimação, uma ave que sempre a acompanhava. 
Iracema, por amor a Martim, abandona família, povo, religião e deus. É uma clara referência à submissão do indígena ao 
colonizador português. Alguns dizem que o nome Iracema é também um anagrama de América 
 
Capitães da Areia – Jorge Amado 
Foco era a condição humana , a crítica social: banditismo gerado pela marginalização, a mídia 
sensacionalista e o socialismo que os meninos vivem entre si no Trapiche. 
O chefe do grupo Capitães da Areia é um jovem chamado Pedro Bala, um menino loiro e filho de um grevista morto no cais. 
Tinha ido parar na rua por volta dos cinco anos de idade e desde jovem já se mostrava corajosoe o mais capacitado a se tornar o 
líder das crianças. O grupo ocupava um trapiche abandonado na praia e era formado por mais de cinquenta crianças, sendo 
que algumas vão sendo apresentadas aos poucos durante a narrativa. Um deles era o Professor, que sabia ler e passava as noites 
lendo livros à luz de vela. Algumas vezes ele lia as histórias para os outros do grupo ou então criava as suas próprias narrativas 
a partir do que lera. Outra personagem que compõe o grupo é Gato, conhecido assim por ser tido como um dos mais bonitos ali. 
Quando entrou no grupo um dos meninos tentou se relacionar com ele, mas Gato não quis. Sendo muito vaidoso, tentava andar 
arrumado na medida do possível e de acordo com sua realidade de menino de rua. Gato se apaixona por uma prostituta 
chamada Dalva, que irá ter um romance com o jovem após ser abandonada por seu amante. Outro personagem que merece 
destaque é Sem Pernas, um menino que uma vez fora pego pela polícia e por isso passou a ser um jovem amargo e que odiava a 
tudo. Por ser manco, às vezes era usado nos assaltos a casas: ele batia nas portas das casas dizendo que era um órfão aleijado e 
pedia ajuda. Ganhando confiança dos moradores, ele descobria o que tinha de valor na casa e depois relatava aos Capitães da 
Areia. Por fim, outras personagens são: Volta Seca, que se dizia afilhado de Lampião e sonhava integrar o bando desse; Pirulito, 
um menino de forte convicção religiosa e que irá abandonar o roubo; Boa Vida, jovem esperto e que se contenta com pouco; e o 
negro João Grande, que tinha o respeito dos demais do grupo por sua coragem e tamanho. Ao lado dessas personagens centrais 
que formam o grupo, encontra-se ainda o Padre José Pedro, que era amigo dos meninos e procurava cuidar deles da forma que 
considerava mais correta, e a mãe-de-santo D. Aninha. 
Em certo momento da narrativa, a varíola passa a assustar os moradores da cidade. Um dos meninos do grupo contrai a doença 
e é internado. Nessa altura, surge Dora e Zé Fuinha, cuja mãe também morreu por causa da varíola, e eles passam a integrar o 
bando. No início alguns jovens tentaram se relacionar com Dora, mas são impedidos por Pedro Bala, Professor e João Grande. 
Porém, Dora e Pedro Bala passam a ter certo envolvimento amoroso. 
Certo dia alguns dos meninos foram pegos em um assalto, mas foram protegidos por Pedro Bala e somente ele e Dora foram 
levados presos. Ela foi levada para um orfanato, enquanto Pedro Bala foi torturado pela polícia e mantido preso em uma solitária 
por oito dias. Algum tempo depois, os meninos conseguem ajudar Pedro a se livrar do reformatório e partem para libertar Dora 
também. Porém, encontram-na muito doente e ela passa apenas mais alguns dias com os meninos antes de morrer. 
Após a morte de Dora o grupo vai sofrendo algumas alterações. Pirulito parte com o Padre José Pedro para trabalhar com ele na 
igreja, Sem Pernas acaba morrendo em uma fuga da polícia e Gato vai para Ilhéus com Dalva, de quem é cafetão. Já Professor 
conseguiu entrar em contato com um homem que lhe oferecera ajuda e tornou-se pintor no Rio de Janeiro retratando as 
crianças baianas. Por fim, Volta Seca conseguiu se tornar um cangaceiro de seu “padrinho” Lampião. Após cometer muitas 
mortes e crimes, a polícia prende Volta Seca e ele é condenado. Cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista 
que morrera em uma greve, Pedro Bala passa a se envolver em greves e lutas a favor do povo. Assim, movido por ideais 
comunistas e revolucionários, Pedro Bala passa o comando do bando para outro menino e parte para se tornar um militante 
proletário. 
 
 
O Cortiço – Aluísio de Azevedo 
Determinismo social: o meio define como será o comportamento das pessoas. Essa é a tese de que o mais 
forte sobrevive. Além disso vê-se zoomorfismo (pessoas tratadas como animais) e realismo. 
 O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e 
se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua 
amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. 
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o 
taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento 
provisório de relações entre os dois. 
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações 
para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o 
título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social 
reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente 
da vida burguesa. 
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, 
Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do 
português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no 
português trabalhador, que muda todos os seus hábitos. 
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade 
garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora 
ostenta ares aristocráticos. O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na 
Vila João Romão. O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. 
Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige 
usufruir os bens acumulados a seu lado. Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a 
denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, 
deixando o caminho livre para o casamento de Romão. 
 
 
A Cidade e as Serras – Eça de Queirós 
Sebastianismo, idealização da vida rural, crítica aos problemas da vida urbana. O autor tem marcas de 
socialismo utópico também. 
ENREDO 
A narrativa inicia-se com a história de dom Galião, grande proprietário que, ao escorregar numa casca de laranja, é socorrido 
pelo infante dom Miguel. Desse dia em diante, o rechonchudo velho torna-se partidário fanático do príncipe. Em 1831, dom 
Pedro retorna do Brasil para assumir o trono português, destronando seu irmão, dom Miguel. Indignado, dom Galião muda-se 
de Portugal para Paris, levando consigo Grilo, futuro criado de Jacinto. Em Paris, o filho de dom Galião, Cintinho, torna-se uma 
criança doente e tristonha. Quando adulto, seu aspecto não melhora. Em sua única decisão mencionada no livro, prefere ficar 
em Paris e casar-se com a filha de um desembargador a ir tratar-se no campo. Conclusão: morre três meses antes de nascer 
Jacinto, seu único filho. Jacinto cresce como um menino forte, saudável e inteligente. Na faculdade, seu colega Zé Fernandes (o 
narrador) o apelida de “Príncipe da Grã-Ventura”. Em Paris, andavam em voga as teorias positivistas de Augusto Comte, das 
quais o protagonista se revela entusiasta. Jacinto elabora uma filosofia de vida: “A felicidade dos indivíduos, como a das nações, 
se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da erudição”. 
Zé Fernandes, então, também se deixa levar por Paris, ao ser dominado por uma paixão carnal pela prostituta Madame 
Colombe. O caso contraria as teorias de Jacinto, expostas no começo do livro, segundo as quais o homem se tornava um 
selvagem no campo. Nesse caso, foi a cidade deParis que transformou Zé Fernandes num escravo de seus instintos. Jacinto 
torna-se entediado, doente, chega a lembrar seu pai, Cintinho. Então ocorre uma reviravolta: a igreja onde estavam enterrados 
os avós de Jacinto vem abaixo durante uma tormenta. Ele manda que se reconstrua tudo, sem se importar com os gastos. 
Na viagem de volta a Portugal, ele se casa com Joaninha, camponesa e prima de Zé Fernandes.. 
CAMPO E CIDADE 
A temática do campo versus cidade. na tradição da literatura ocidental, o gênero bucólico ou pastoral sempre tratou da oposição 
entre a vida tranquila do campo, tendo a verdadeira sabedoria e simplicidade e a vida urbana, cheia de agitação fútil. 
MODERNIDADE 
No romance, um exemplo de como a questão aparece está na cena em que Zé Fernandes, após ter passado sete anos em Portugal, 
reencontra Jacinto em Paris. Depois de verificar que o amigo parecia mais magro e abatido e admirar-se com as inovações do 
202 (número da casa de Jacinto na capital francesa), Zé Fernandes observa espantado o funcionamento de um telégrafo, que 
transmite a Jacinto a informações. A informação, porém, estabelece um falso vínculo entre ambos os eventos. Jacinto assiste a 
tudo, mas não pode tomar nenhuma atitude. A constatação é que o homem informado assiste a um jogo complexo de 
acontecimentos que se desenrolam por todos os lugares do mundo, muitos sem nenhuma relação aparente entre si, e fica como 
Jacinto diante do telégrafo: agoniado e entediado... 
 A temática tratada, campo versus cidade, vem de uma longa tradição literária e é recorrente na obra do autor. Nesse romance, 
ele se dedica a mostrar a futilidade reinante em Paris e a satirizar as ideias positivistas que deslumbravam a juventude 
intelectual da época. 
O Príncipe – Nicolau Maquiavel 
Os meios de conquistar e manter o poder são de vital importância para um príncipe. Pois são estes fatores que 
garantirão o funcionamento de seu governo. Primeiramente as conquistas, que hoje não é necessariamente 
territorial, mas sim do povo. A força de um Príncipe se nota pelo amor e carisma que nutre pelo seu povo, além de 
saber (necessita ter a força de um leão e a astúcia de uma raposa). 
O príncipe teria que ter VIRTU E FORTU (QUALIDADES E OPORTUNIDADES) 
“ É melhor ser temido eu amado?o amor torna as pessoas muito próximas e um dia esse amor pode derrubá-lo, deve 
ser temido então, mas com cuidado, para não se deixar ser odiado” 
 Podemos considerar o povo como o maior elemento de defesa do Estado. Portanto, é impossível governar sem sua 
amizade. Caso isso não seja possível, pelo menos o seu apoio. Porque independente de fazer-se amado ou temido, o 
príncipe nunca deve ser odiado pelo povo. Isto é observado quando o príncipe necessita deste. Pois justamente 
quando o Estado necessita de seus cidadãos, encontra poucos. É fácil persuadir o povo, difícil é mate-lo persuadido. 
Concluindo assim que é no povo que o governante encontra a manutenção, as colunas de seu poder. Os meios de 
conquistas não são muito importantes. Pois atualmente são poucos os embates armados, e não possuem fins 
territoriais, mas sim econômico e políticos. Onde não envolvem exércitos e fortificações, mas sim especulações e 
protecionismo. Apesar de cinco séculos terem se passado os preceitos descritos por Maquiavel ainda valem. Sua 
visão é altamente moderna, porque somente houve a transferência do poder do príncipe, de um único ser, para o 
Estado, que é o ápice atingido pela organização entre os homens. Não obstante as grandes mudanças ocorridas com 
os sistemas de organização dos atuais Estados uma coisa é certa: um bom Governo só é possível com um bom 
governante. 
 
A República – Platão 
Nos livros I e II o texto se concentra numa tentativa de definição do que seria realmente a aplicação da justiça 
perante a comunidade. Sócrates começa a dialogar com Gláucon e Adimanto, definindo o ato de governar como 
estar a serviço dos governados, que a justiça é superior à injustiça e é preferível sofrer a injustiça do que praticá-la. 
Onde houver justiça, aí está a felicidade. Nos livros II a V os diálogos evoluem para a definição dos princípios da 
justiça, ou seja, o que constitui a verdadeira justiça administrada à população. O primeiro princípio da justiça seria a 
solidariedade social, forma pela qual a pessoa contribui para o bem estar coletivo. O segundo é o desprendimento, 
dever consciente de pessoas realmente dispostas a prover o bem comum. Deste princípio surgiria a necessidade de 
uma classe social distinta das atividades econômicas, a dos guardiões, reis-filósofos que sustentariam a felicidade do 
Estado. A sociedade então, ficaria dividida em três classes: os chefes dos guardiões, os próprios guardiões, ou 
militares, e os produtores e artesãos. A classe dos guardiões seria constituída por homens e mulheres, em iguais 
condições, mantidos pelo estado, sem direito à riqueza, não poderiam constituir família. 
 
Livro I 
O primeiro dos dez livros da obra A República, que consiste em um diálogo socrático. Céfalo, um velho comerciante 
"no limiar da velhice", que vivia comodamente em Atenas, é o anfitrião do encontro. Ao ser questionado, afirma que 
a justiça é dizer a verdade e restituir o que é do outro. Sócrates refuta essa definição. Céfalo se retira e deixa o debate 
com seu filho, Polemarco. Este, depois de algum debate, define a justiça como o ato de dar benefícios aos amigos e 
prejuízos aos inimigos. Novamente, a definição é refutada por Sócrates, que afirma que o mal nunca será um ato de 
justiça. Portanto, o prejuízo não é um ato positivo como exige a justiça. Após esse debate, Trasímaco, um dos sofistas, 
acusa Sócrates de não querer encontrar definição nenhuma e apenas jogar com as palavras e discordar sem 
apresentar soluções. Trasímaco diz ter uma boa resposta e afirma que a justiça é o que é vantajoso para o mais forte. 
No caso, o governo. Sócrates, novamente, discorda e mostra que todo o debate foi desvirtuado do caminho sobre a 
natureza da justiça. Ele diz que as discussões foram acerca do que é vantajoso: a justiça ou a injustiça e que 
permanece sem nada saber sobre o tema. 
Livro II 
Glauco, faz uma apologia à injustiça, citando o Mito do Anel de Giges. Com ele, Glauco mostra que as pessoas sofrem 
pelas injustiças praticadas contra elas, mas se beneficiam pela prática da injustiça e pela corrupção. Desse modo, 
todas as pessoas que têm oportunidade se corrompem e praticam injustiças em benefício próprio. No Mito do Anel 
de Giges, um pastor de ovelhas em meio à tempestade encontra um cadáver que usa um anel. Ele toma para si esse 
anel e ao regressar à cidade, percebe que esse anel lhe dá o dom da invisibilidade. Giges, o pastor, entra no palácio, 
seduz a rainha e conspira com ela a morte do rei. Após o assassinato do rei, ele assume seu lugar e governa 
tiranicamente. A partir do mito narrado, Glauco espera ter convencido Sócrates de que a justiça não é em si uma 
virtude, mas sim o parecer ser justo, já que todos são corruptíveis. Entretanto, a refutação a esse argumento, desta 
vez, não parte de Sócrates, mas do irmão de Glauco, Adimanto. Ele afirma que se pode pensar de forma diferente da 
que pensa o irmão, que a justiça é uma virtude (não em si mesma, mas nos efeitos que ela gera), e que, por fim, os 
justos são recompensados, seja pelos deuses ou pelo reconhecimento dos que ficam após sua morte. 
Somente no Livro IV, Sócrates parece chegar a uma definição de justiça como sendo o equilíbrio e a harmonia entre 
as partes da cidade. 
 
Os livros VI e VII tratam da necessidade da justiça em si. Aqui é apresentado a famosa Alegoria da Caverna, 
procurando mostrar que a verdade pode ser atingida por meio do conhecimento. 
 
Mito da Caverna 
 
Trajetória de um prisioneiro em uma caverna, que insatisfeito com sua condição, rompe as correntes e sai do local 
pela primeira vez na vida. Esse prisioneiro, agora livre, depois de contemplar o mundo no exterior da caverna, sente 
compaixão pelos demaisprisioneiros e decide regressar para tentar libertá-los. Ao tentar se comunicar com os 
outros prisioneiros, ele é desacreditado, tido como louco e finalmente, morto por seus colegas de aprisionamento. 
Com essa metáfora, Platão buscou demonstrar o papel do conhecimento, que para ele seria o responsável por 
libertar os indivíduos da prisão imposta pelos preconceitos e pela mera opinião. A saída da caverna representa a 
busca pelo conhecimento, e o filósofo é aquele que mesmo após se libertar das amarras e alcançar o conhecimento, 
não fica satisfeito. Assim, ele sente a necessidade de libertar os outros da prisão da ignorância, mesmo que isso possa 
causar a sua morte. 
 
A seguir, nos livros VIII e IX, o tema é a decadência da cidade, decorrente da concentração do poder nas oligarquias 
e o surgimento da tirania. 
 
A Cidade Ideal de Platão 
Definem que a cidade deveria ser dividida em três partes, e que a perfeição estaria na integração harmônica entre 
elas. A primeira classe de cidadãos, mais simples, seria dedicada ao sustento da cidade, como o cultivo da terra, o 
artesanato e o comércio. . Os cidadãos de uma segunda classe, de acordo com Platão, seriam um pouco mais hábeis: 
chamados de guerreiros, protegeriam a cidade e constituiriam o exército e seus auxiliares na administração pública. 
A terceira classe de cidadãos, mais nobres, estudaria por cinquenta anos, se dedicaria à razão e ao conhecimento, e 
constituiria a classe dos magistrados. A estes caberia a responsabilidade de governar a cidade, pois só eles teriam 
toda a sabedoria que a arte da política exige. Somente a atuação em conformidade com a determinação natural da 
alma pode trazer o equilíbrio e a harmonia entre as partes. 
 
Finalmente, o livro X faz uma crítica à poesia como meio educativo. Sócrates dá a entender que a poesia deva ser 
substituída pela filosofia, como meio educativo, pois somente esta pode diferenciar a realidade de fato. O restante do 
livro traz uma exortação à prática da justiça e demais virtudes. 
 
A Educação na República 
Na república, a educação ficaria ao encargo do Estado e as famílias não teriam participação sobre a criação. O 
Estado seria o responsável por educar os indivíduos e direcioná-los às atividades mais adequadas ao seu tipo de alma 
É nesse momento que Platão faz uma dura crítica à educação grega, sobretudo à poética. Para ele, a poesia 
desvirtuaria os indivíduos a partir da ideia de que os deuses seriam detentores de características humanas como: 
compaixão, predileção, inveja, rancor, etc. Esses deuses, humanizados pela poética, serviriam de modelo de 
corrupção aos indivíduos. A humanização faria com que os deuses questionassem o seu papel dentro da sociedade e 
tivessem como objetivo uma transformação social. Platão propõe que todos os indivíduos recebam uma educação 
geral baseada nos valores da cidade. Essa educação moldaria o caráter de cada um de seus alunos, conscientizando-
os de seu papel dentro da sociedade. Platão mostra que somente os mais esclarecidos podem governar de maneira 
justa, baseados na razão.

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