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FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 1 CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Aula 1: Revisão de Termodinâmica Bibliografia recomendada L. E. Reichl, A Modern Course of Statistical Physics, Jonh Wiley & Sons, 2nd Ed. (1998), §2.A- 2.C. Introdução e conceitos básicos Termodinâmica A termodinâmica é uma teoria fenomenológica universal que descreve o comportamento ma- croscópico de sistemas físicos de muitas partículas em equilíbrio térmodinâmico. Os conceitos e leis da termodinâmica são muito gerais e obtidos diretamente de observações experimentais, i.e. independentes de modelos físicos específicos, tendo grande aplicabilidade em muitos campos da Física e das ciências aplicadas e engenharia. As leis da termodinâmica são decorrentes das propriedades de simetria da natureza, i.e. de suas leis de conservação. Estado Termodinâmico Denomina-se de estado termodinâmico o comportamento macroscópico de um sistema de muitas partículas, resultante dos processos de interação entre os graus de liberdade de seus componentes microscópicos, quando observado em escalas de tempo suficientemente lon- gas para que quaisquer efeitos de coerência locais sejam perdidos ou dissipados. O estado termodinâmico é caracterizado pelo conjunto de valores dos parâmetros termodinâ- micos (ou variáveis de estado) necessários para descrever o comportamento macroscópico do sistema. O exemplo mais simples e tradicional1 no estudo da termodinâmica é o de um gás composto por N moléculas, confinado em um volume V , sob pressão P e à temperatura T . Nesse caso, {N , V , P, T } são os parâmetros termodinâmicos que especificam cada estado do gás. Variáveis de Estado É o conjunto reduzido de variáveis ou parâmetros – mensuráveis e definidos experimental- mente – que descreve completamente o estado macroscópico de um sistema em equilíbrio 1De grande importância histórica. Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 2 termodinâmico. O equilíbrio termodinâmico ocorre quando as variáveis de estado não variam no tempo2. As variáveis de estado podem ser classificadas de forma conjugada em extensivas e intensivas, Extensivas: Variáveis que são proporcionais ao tamanho do sistema, i.e. ou volume, área, comprimento, número de graus de liberdade etc. Intensivas: Variáveis independentes do tamanho. Veja exemplos na tabela 1, abaixo. Tabela 1: Variáveis extensivas e intensivas conjugadas Extensivas Intensivas Observações Volume V Pressão P Associadas a deslocamentos ou forças generalizadas. Comprimento L Tensão TL Área A Tensão superfícial TA Polarização ~P Campo Elétrico ~E Magnetização ~M Campo magnético ~B Entropia S Temperatura absoluta T Associada com a energia térmica. # de partículas N Potencial químico µ Associadas com propriedades químicas. # de moles N Potencial químico molar µN massa M Potencial químico por uni- dade de massa µM Potenciais termodinâmicos Os potenciais termodinâmicos são grandezas usadas para descrever o comportamento e a estabilidade dos sistemas termodinâmicos, dependendo dos vínculos ou restrições impostas. 2i.e quando observado em escalas de tempo suficientemente longas para que os efeitos de coerência tenham se dissipado. Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 3 São funções das variáveis de estado. Exemplos: • Energia interna: U • Entalpia: H • Energia livre de Helmholtz: F • Energia livre de Gibbs: G • Grão-potencial: Ω • etc. Funções resposta Grandezas experimentalmente acessíveis que medem variações em algum parâmetro provo- cadas por variações controladas em outros parâmetros. Exemplos: • Capacidades caloríficas: C • Susceptibilidades isotérmica e adiabática: χ • Compressibilidade isotérmica e adiabática. κ • Expansividade térmica: α • Etc. Equações de Estado As equações de estado são relações matemáticas funcionais entre as variáveis de estado de um sistema em equilíbrio. São deduzidas a partir de modelos e comprovadas experimentalmente. Em geral, as equações de estado permitem deixar apenas 2 ou 3 variáveis livres ou indepen- dentes, as quais são acessíveis experimentalmente. Por exemplo, no caso e um gás a equação de estado tem a forma f (P, V , T , N ) = 0 que reduz o número de variáveis independentes de 4 para 3. Exemplos tradicionais: 1. Gás Ideal P V = n R T → ¨ n = # de moles , R = 8.314 J/mol K. (1) Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 4 P é a pressão em Pascals, V é o volume em m3. Outra forma comum é escrever P V =N kB T (2) onde N é o número de moléculas e kB =R/NA = 1.38×10 −23 JK−1 (no S.I.) é a constante de Boltzmann e NA ≃ 6.022×1023 mol−1 é o número de Avogadro. T Gás Ideal 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 V0 2 4 6 8 10 P Figura 1: Gráfico P ×V para o gás ideal, para diversos valores de T com o sentido de cresci- mento indicado pela seta. 2. Gás Imperfeito P V = n R T � 1+B2(T ) � n V � +B3(T ) � n V �2 + . . . � ︸ ︷︷ ︸ expansão em (n/V ) (3) onde Bi (T ) são os coeficientes viriais que dependem apenas da temperatura e podem ser calculados em termos do potencial inter-partícula. Obs: • No gás ideal Bi (T ) = 0 ∀ i ≥ 2. • No gás ideal quântico Bi (T ) 6= 0 ∀ i ≥ 2 devido aos efeitos quânticos. 3. Gás de van der Waals � P +a � n V �2�� V − b n � = n R T (4) Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 5 Obs: • o termo a � n V �2 descreve um decréscimo na pressão devido à parte atrativa do po- tencial. � n V �2 ∝ à probabilidade que duas moléculas (interagentes) estarem vizi- nhas próximas. • O termo b n indica o volume ocupado pelas moléculas. O limite P →∞ corres- ponde a V → b n . • Tem importância histórica e descreve a transição líquido-gás. 2000 5000 1´104 2´104 5´104 1´105 -0.2 -0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 LogV P Figura 2: Gráfico P ×V para o gás de van der Waals, para diversos valores de T . 4. Gás Imperfeito 5. Sólidos 3d ν= ν0 (1+αP T −κT P ) ν= V /n volume molar, αP = 1 ν ∂ ν ∂ T � � � P coeficiente de expansão térmica. κT =− 1 ν ∂ ν ∂ P � � � T compressibilidade isotérmica (5) 6. Superfícies TS =TS 0 � 1− t t ′ �η t temperatura em graus Celsius, t ′ determinada experimentalmente ® Tc . η Contante experimental 1<η< 2. (6) TS 0 é a tensão superficial em t = 0◦ C. Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE FIS 715 Mecânica Estatística - 2016.1 - Notas de Aulas 6 7. Fio elástico ou varreta TL = A(T )(L − L0) Lei de Hooke no limite elástico. (7) onde A(T ) = A0 + A1 T + A2 T 2 + . . . é um coeficiente dependente da temperatura. Em geral A1 6= 0 e pode ser positivo ou negativo. L0 é o comprimento natural na ausência de tensão. 8. Polarização elétrica ~P = � a + b T � ~E (8) válida para temperaturas não muito baixas e campos elétricos gerados por fontes exter- nas e cargas superficiais. 9. Magnetização ~M = n D T ~H (9) onde n é o número de moles e D é uma constante experimental dependente do material. Prof. Sérgio Coutinho Departamento de Física – UFPE
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